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IMUNOLOGIA 2009-2010

Introdução (Cap. I)

O Sistema Imunitário (SI) foi desenvolvido pelo organismo para proteger o organismo da invasão
de microrganismos patogénicos ou cancro. Tem a capacidade de gerar uma variedade enorme de
células e moléculas capazes de reconhecimento específico e eliminação de uma variedade de
invasores estranhos. Funcionalmente, a resposta imunitária pode ser dividida em:
1. Reconhecimento: consegue reconhecer pequenas diferenças químicas que distinguem um
agente patogénico de outro; faz a discriminação entre moléculas estranhas e do próprio
organismo.
2. Resposta: uma vez reconhecido o agente estranho, variadas células e moléculas participam
na resposta efectora, que elimina ou neutraliza o organismo estranho; quando novamente
exposto ao mesmo agente estranho, o SI induz uma resposta memória, que é mais rápida,
forte e eficaz que a primeira.

Imunidade
 Específica / Adaptada / Adquirida
 Não especifica / inata

Imunidade Inata

 Barreiras anatómicas: são a 1ª linha de defesa durante o período crítico, prevenindo a


entrada de invasores no organismo.
 Pele
o Epiderme: várias camadas de células epiteliais, sendo a mais externa
constituída por células mortas e por uma cama impermeabilizante, a
queratina.
o Derme: com vasos sanguíneos, glândulas sudoríparas e folículos pilosos.
Estes contêm glândulas sebáceas, que produzem sebum. O sebum tem
ácidos lácticos e ácidos gordos que mantêm o pH da pele ácido (3-5),
inibindo o crescimento de microrganismos.
 Membranas mucosas: organismos de defesa aguda inata que tentam impedir a
entrada de microrganismos nas mucosas: saliva, lágrimas e secreções mucosas.
Possuem substâncias anti-bacterianas e anti-virais. No tracto respiratório há cílios.
Em células epiteliais superficiais existe a flora comensal, constituída por
organismos não patogénicos que competem com os patogénicos por superfícies de
aderência e alimento.
 Barreiras fisiológicas: temperatura + pH + Substâncias solúveis.
 Lisozimas: enzimas hidrolíticas presentes nas secreções mucosas e nas lágrimas,
capazes de clivar o peptidoglicano.
 Inteferon: grupo proteico produzido por células infectadas por vírus. Liga-se a
células vizinhas e despoleta um estado geral anti-vírico.

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 Sistema complemento: grupo de proteínas serosas que circulam em estado inactivo.
Quando activas, destroem as membranas dos organismos patogénicos.

 Barreiras fagocíticas: fagocitose induzida por células especializadas.


 Monócitos – sangue
 Neutrófilos – sangue
 Macrófagos – tecidos
As outras células conseguem, na sua maioria, realizar outras formas de endocitose,
como a endocitose mediada por receptores ou a pinocitose.
 Barreiras inflamatórias: 5 sinais cardiais de inflamação – Rubor + Calor + Tumor + Dor
+ Impotência funcional.
 Aumento do diâmetro dos vasos sanguíneos (vasodilatação) devido à vasoconstrição
na área inflamada – provoca rubor (aumento do fluxo sanguíneo) e calor
(proveniente do sangue).
 Aumento da permeabilidade capilar facilita o influxo de fluido e celulas dos
capilares para o tecido lesionado, acumulando-se – Tumor (edema).
 Movimento dos fagócitos:
o Marginação – aderência das células à parede endotelial dos vasos sanguíneos.
o Diapedese – emigração das células do endotélio para os tecidos.
o Quimiotaxia – migração pelo tecido até ao local lesionado.
Células fagocitárias acumulam-se na zona da lesão e iniciam a fagocitose das bactérias.
Libertam aí enzimas que danificam também as células vizinhas saudáveis. A acumulação
de células mortas, material digerido e fluidos forma o pus.
A vasodilatação e o aumento de permeabilidade permite a entrada no tecido de enzimas
do sistema de coagulação, que activam uma cascata enzimática, resultando na deposição
de filamentos insolúveis de fibrina. Esta parede de fibrina sobre a área infectada previne o
alastramento da infecção.
A resposta inflamatória é iniciada por uma série de eventos que envolvem mediadores
químicos que podem ser derivados de microrganismos invasores, libertados por células
danificadas, gerados por sistemas enzimáticos plasmáticos ou ainda produzidos por
leucócitos. São exemplos:
 Proteínas da fase aguda: proteína C reactiva, produzida pelo fígado após danos no
tecido hepático. Liga-se ao polissacarídeo C de bactérias e fungos, activando o
complemento.
 Histamina: liga-se a receptores de capilares e vénulas, causando vasodilatação e
aumento de permeabilidade.
 Quininas: presentes no plasma na forma inactiva. Causam também vasodilatação e
aumento de permeabilidade.

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Imunidade adaptada
Capaz de reconhecer e eliminar selectivamente moléculas e microrganismos estranhos. São reacções a
antigénios (Ag) específicos, que activam 4 atributos característicos:
 Especificidade antigénica: os anticorpos conseguem distinguir duas moléculas proteicas
que diferem em apenas um aminoácido (AAs).
 Diversidade: reconhece biliões de Ags diferentes.
 Memória imunológica: um segundo encontro com um mesmo Ag induz um tipo de
imunidade reactiva acentuado. Confere uma imunidade duradoura contra inúmeros agentes
infecciosos após o encontro inicial.
 Reconhecimento Self / Nonself: capacidade de distinção entre o que é estranho e o que é
próprio do organismo.

Células do sistema imune: APCs e Linfócitos.


Linfócitos: um dos tipos de leucócitos produzidos na medula óssea por hematopoiese. Saem da
medula óssea, circulam pelo sangue e pelo sistema linfático e são armazenados em órgãos linfáticos
secundários. São mediadores da definição imunológica, pois produzem e exibem receptores de Ags
à superfície.
 Linfócitos-B: produzidos e amadurecidos na medula óssea. Quando a deixam, cada um
expressa um único receptor de Ag na sua membrana – BCR. Quando um linfócito-B, que
ainda não reconheceu nenhum Ag, encontra pela primeira vez o Ag, este encaixa no seu
anticorpo membranar (BCR) e ocorre uma divisão rápida:
o Linfócitos-B Memória: têm maior tempo de vida e continuam a expressar BCR.
o Linfócitos-B Efectores: duram apenas alguns dias, não continuam a expressar BCR
e produzem Ac a ser secretados.
 Linfócitos-T: produzidos na medula óssea, sofrem maturação no Timo. Expressam TCR na
sua membrana. Este TCR só reconhece Ag se estes estiverem ligados a proteínas
membranares – MHC (major histocompatibility complex). Estas actuam no processo. Estas
actuam no processo de reconhecimento face à apresentação antigénica. São proteínas
polimórficas.
o MHC classe I (CD8+): expressas por todas as células nucleadas. Constituídas por
uma cadeia pesada ligada a microglobulina.
o MHC classe II (CD4+): expressas apenas por células apresentadoras de APC, como
macrófagos, linfócitos-B, células dendríticas, etc. Constituída por uma cadeia
glicoproteica α e β.
Tal como o linfócito-B, quando o linfócito-T encontra o Ag (ligado então a uma molécula
MHC), prolifera e diferencia-se:
 Linfócitos-T Memória
 Linfócitos-T Efectores:
o Linfócitos-T helper (Th) (com CD4 na membrana).
o Linfócitos-T citotóxicos (Tc) (com CD8 na membrana).

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1. Th + MHC II → Th activo – segrega citocinas
2. Citocinas + Tc + MHC I → Tc activo! – Eliminação de células tumorais e de células
infectadas por vírus.
A activação quer da resposta humoral, quer da resposta mediada por células requer citocinas
produzidas pelo Th.
Indivíduos não-imunes ou imunodeficientes podem obter imunidade humoral por administração de
Acs de um indivíduos saudáveis. O Ac ligar-se-á ao Ag, neutralizando-o e marcando-o como alvo.
Quando vários Ac se ligam a vários Ags, forma-se um complexo mais facilmente fagocitado
(imunocomplexos).

Epitopos: pequenas porções activas do Ag reconhecidas e integradas pelos linfócitos (não é o Ag


integral). Os linfócitos-B reconhecem epitopos livres, os linfócitos-T reconhecem-nos ligados aos
MHC. Linfócitos-T:
Linfócitos-B:
Moléculas responsáveis pelo reconhecimento:  TCR
 BCR
 CD4, MHC II
 CD8, MHC I
Especificidade: dos linfócitos B e T é gerada aquando da sua maturação na medula óssea e no timo
por rearranjos aleatórios no gene que codifica a molécula de Ac.
Como já foi explicado, para um Ag ser reconhecido por um linfócito-T, tem de ser processado e
combinado com MHC I ou II, dependendo de como entrou na célula:
 Antigénios exógenos: entram por fagocitose ou endocitose; são degradados; peptídeos Ag
ligam-se a MHC II; reconhecidos por Th.
 Antigénios endógenos: produzidos por células infectadas; expressos com MHC I;
reconhecidos por Tc.

Selecção clonal dos linfócitos: o Ag interage com o linfócito, o qual se divide repetidamente em
clones de células com a mesma especificidade antigénio da célula-mãe. Somente os linfócitos cujos
receptores são específicos para o dado Ag são clonados.

Antigénio Linfócito-B

Complexo Ag-LB
(Ag internalizado e expresso na membrana com MHC II, CD4)

MHC II + Th Th

Esta interacção gera um sinal que,


juntamente com sinal co-estimulatório de
APCs, leva à activação e proliferação de
Th + Citocinas linfócitos Th
Activa Activa
m m
Imunidade humoral Imunidade Celular (por citocinas)
Imunidade Inata
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Imunidade humoral
Os linfócitos-B maduros circulam no sangue e na linfa e estão nos órgãos linfáticos. A interacção
com o Ag conduz à activação, diferenciação e proliferação. Parte do Ag é internalizado (epitopo) e
depois expresso com MHC II, ao qual se liga Th e produz citocinas. Estas activam células Tc e
estimulam diferenciação dos linfócitos-B em memória e efectores.

Imunidade celular
Desencadeados pelas citocinas, que aqui activam também Tc e regulam a proliferação e a
diferenciação de inúmeros componentes de Imunidade Inata (macrófagos, NK, etc).

Por vezes, o SI falha, não protegendo o indivíduo, mas atacando-o, podendo surgir problemas como
asma, alergias, doenaças auto-imunes, imunodeficiências, rejeição de implantes, etc.
Num SI funcional, quando é feito um transplante, o órgão é reconhecido como estranho e é atacado:
Th libertam citocinas que activam Tc, e estes atacam e eliminam Altered Self-cells (apresentam
MHC I e Ag estranhos). Daí a ideia de que este problema se deve aos linfócitos-T. Para o resolver,
deve-se proceder à Imunossupressão pela administração de fármacos.

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Células e órgãos do Sistema Imunitário (Cap. II)

Noções de hematopoeise

Todas as células provêm de uma célula-mãe – hematopoietic stem cell (HSC). Esta é
indiferenciada, tem a capacidade diferenciação e de auto-renovação, sendo, portanto, pluripotente.
A célula-mãe dá origem a 2 linhagens celulares:
 Linha linfóide:
o Linfócitos-T e Linfócitos-B
o Células NK
 Linhagem mielóide:
o Eritrócitos
o Neutrófilos
o Basófilos
o Eosinófilos
o Monócitos
o Mastócitos
o Plaquetas
o Células dendríticas
São as citocinas que vão iniciar o processo de diferenciação. Para isso é necessário que as células
progenitoras tenham os receptores de membrana específicos para essas citocinas. É essa
especificidade da interacção citocinas-stem-cells que determina a linhagem e as células a originar.
A regulação da hematopoiese é feita de modo a manter constante o número dos diferentes tipos de
células. Por exemplo, em casos de hemorragia ou infecção, o processo hematopoiético aumenta o
número de células.
A regulação da hematopoiese é feita através de:
 Citocinas produzidas pelas stem-cells na medula óssea.
 Linfócitos-T activados e macrófagos.
 Regulação genética da expressão de determinados receptores de membrana.
 Remoção de células por indução de apoptose.

As células que sofreram apoptose tornam-se


Apoptose Necrose
corpos apoptóticos com organelos intactos no  ↓ Volume celular  ↑ Volume celular
interior. São fagocitados por macrófagos,  Condensação da  Lise celular com
impedindo assim a libertação de enzimas no cromatina e do libertação de enzimas
citoplasma líticas para o espaço
espaço extra-celular. Deste modo, a apoptose não  Deformação extracelular
provoca inflamação em tão grande escala, como a  Desfragmentação do  Conduz à inflamação
núcleo e do DNA
desencadeada pela necrose.
Genes indutores da apoptose: FAS (codifica caspases)
Genes inibidores da apoptose: Bcl-2 e Bcl-X. Estes 2 são importantes no desencadear de uma
infecção, pois o organismo pode não conseguir produzir células suficientes. Inibindo-se a apoptose,
o número de células aumenta. No timo, glucocorticóides também induzem a fase efectora da
apoptose.

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Células do Sistema Imunitário

 Linfócitos
 Linfócitos-B – são células não fagocíticas. Antes de interagiram com um Ag são
denominados Linfócitos Naive e permanecem em G0. Ao interagirem com o Ag, o
ciclo celular progride e as células aumentam consideravelmente de tamanho →
Linfoblastos. Estes podem dar origem a:
o Células Memória
o Células Efectoras: produzem 5 tipos de Ac. Todos os Ac produzidos pela
mesma célula são específicos para o mesmo Ag. A produção de Ac é o que
distingue os linfócitos-B dos restantes.
Apresentam MHC II na sua membrana, funcionando então como células
apresentadoras de Ac (APC). Possuem como receptores de membrana, além do
BCR, o CD21, CD32, CD35 e CD40 (responsável pela interacção com Th).
 Linfócitos-T – apenas reconhecem os Ags se estes estiverem ligados a um MHC.
Ocorrem em células apresentadoras de Ag, em células infectadas por vírus, em
células tumorais e em transplantes. O IL-2 dá origem a linfócitos-T efectores e a
linfócitos-T memória. Regra geral, linfócitos que expressam CD4 só reconhecem
Ag ligados a MHC II, enquanto que linfócitos que expressam CD8 só reconhecem
Ag ligado a MHC I.
o Linfócitos-T Helper – Activados pelo reconhecimento através de CD4
membranares de Ag a MHC II. Após a produção de citocinas há 3 tipos de
respostas:
 Resposta Th1 → FNT-β e FNT-γ → Activação de macrófagos →
Inflamação!
 Resposta Th2 → Activação de Linfócitos-B através de IL-4, IL-5,
IL-6 e IL-10.
 Resposta Th3 → Supressores: param a resposta imunológica.
o Linfócitos-T Citotóxicos – Activados quando interagem através de CD8
membranares com Ag ligados a MHC I. A sua diferenciação resulta em
células de memória e em mais linfócitos-T.
 Natural Killers (células NK) – Pequeno número de células linfocitárias que não apresentam
receptores ou moléculas de membrana características dos linfócitos-B ou T. Não produzem
Acs, não têm memória e não são específicos. Distinguem-se bioquimicamente de ambos os
linfócitos pela ausência de CDs iguais aos dos linfócitos. São importantes na defesa contra
células infectadas e tumorais. Não tendo receptores de membrana CD4, CD8 ou CD3
(possuem CD16 e CD56) e não sendo específicos, reconhecem o alvo por 2 processos:
 Pela baixa concentração de MHC I nas células e pelos padrões anormais de Ags.
 Pela ligação de Ags ligados à células-alvo, possível graças ao CD16.
 Monócitos – No sangue, são activados pela fagocitose de Ag e por citocinas.

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 Macrófagos – Existem nos tecidos. Provêm dos monócitos, aumentando de tamanho e
produzindo mais enzimas e factores que eles (factores inflamatórios, proteínas citotóxicas,
citocinas, IL-6, IL-1, TNF-α, factores de complemento). Assumem funções específicas
consoante o tecido em que se encontram. A sua actividade é aumentada pelo INT-γ
secretado por Th1 activados. Funcionam como APCs, no estado activo têm grande
quantidade de MHC II. Quanto maiores são, maior capacidade fagocitária exibem. O
processo de fagocitose é composto pelas seguintes etapas:
1) Atracção do macrófago para determinada zona por quimiotaxia.
2) Ag adere à membrana do macrófago.
3) Macrófago emite pseudópodes que envolvem Ag → Fagossoma
4) Fagossoma + Lisossoma → Fagolisossoma
Os macrófagos têm receptores de Ac e de factores de crescimento. Ac ligados a Ag também
podem ligar-se aos macrófagos por Opsonização – são necessários 2 Acs para cada
receptor. Ac
Ac
Ac
c c
c
Ac
Após serem fagocitados, os microrganismos são geralmente
c Macrófago
destruídos, a não ser que sejam resistentes e fiquem como
parasitas por fuga dos fagossomas. Passam a ser Patogéneos
Intracelulares.
Contra estes microrganismos há defesas mediadas por células, DTH (Delayed-type
hipersensitivity). Além disso, alguns peptídeos são combinados com MHC II que, com o
factor co-estimulatório B7, resultam na activação dos linfócitos Th.
 Neutrófilos – São os leucócitos mais abundantes (60%) e os primeiros a chegar ao local de
inflamação por quimiotaxia. Contêm grânulos primários (peroxidase, lisozima, enzimas
hidrolíticas) e secundários (colagenase, lisozima e lactoferrina).
 Eosinófilos – Contêm substâncias danificadoras da membrana dos parasitas.
 Basófilos – Contêm e libertam substâncias que têm muita importância nas reacções
alérgicas, como a histamina.

Fagocitose Citoplasma Núcleo Tipo de corante


Neutrófilos  Granulado Multilobolado Ácido e básico
Eosinófilos  Granulado Bilobolado Eosina (ácido)
Azul de metileno
Basófilos  Muito granulado Lobolado
(básico)

 Mastócitos – Diferenciação após abandono do sangue e penetração nos tecidos. Contêm


grânulos com histamina e outras substâncias activas importantes nas reacções alérgicas.
 Células dendríticas – classificados de acordo com a sua localização. Como APCs, têm altos
níveis de MHC II e do factor co-estimulatório. Funcionam mais eficazmente como APC do
que os macrófagos e que os linfócitos-B, pois não precisam de ser activados: após
capturarem os Ag, migram para órgãos linfáticos secundários, onde interagem com os Th.

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Órgãos do Sistema Imunitário

 Órgãos linfáticos primários (Timo + Medula Óssea) – ocorre maturação em células


imunoindependentes, que depois migram para:
o Órgãos linfáticos secundários (Gânglios linfáticos, Baço, MALT) – capturam Ags
e permitem interacção com linfócitos (apresentação antigénica).

Timo
Constituído por cápsula, córtex e medula. No córtex estão localizados os timócitos, linfócitos
imaturos, que são seleccionados:
 Positivamente – eliminados os que não reconhecem MHC self.
 Negativamente – eliminados os que têm demasiada afinidade para com peptídeos
desprovidos de MHC self.
Só os timócitos que reconhecem MHC self com Ag estranho é que sofrem maturação →
Linfócitos-T. O timo atrofia com a idade, tendo o seu tamanho e actividade máximos durante a
adolescência.

Medula Óssea
Células do estroma – microambiente ideal para diferenciação e maturação dos linfócitos-B. Estes
são escolhidos pela sua capacidade de reconhecerem o que é próprio e de não o atacarem. Os
linfócitos-B com Acs auto-reactivos são eliminados, evitando reacções de auto-imunidade (ex:
lúpus). É, portanto, uma selecção negativa.

Gânglios linfáticos
Grande quantidade de células fagocitárias e de células dendríticas.
Córtex – Linfócitos-B, macrófagos e células dendríticas.
Paracórtex – Linfócitos-B, células dendríticas, ↑[MHC II].
Medula – plasmócitos.
Ao entrar, Ag atravessa o córtex e paracórtex, activando o linfócito-B e Th → Plasmócitos
segregam IgM e IgG. Assim, o vaso linfático eferente é muito mais rico em células que o vaso
aferente. Os gânglios incham em consequência do aumento do número de linfócitos.

Baço
Especializado em filtração sanguínea, aprisionamento de Ags circulantes no sangue e retenção e
eliminação de eritrócitos defeituosos/velhos (hemocaterese).
Polpa vermelha – rede de sinusóides, macrófagos e eritrócitos.
Polpa branca – em torno da artéria esplénica, povoada por linfócitos-T.
Zona marginal (em torno da polpa branca) – linfócitos-B.
1) Ag na artéria esplénica.
2) Ag capturados por células dendríticas são transportados até às PALS, na polpa branca.
3) Ocorre activação inicial de linfócitos-B e T.
4) Ocorre activação de Th → activação de linfócitos-B
5) Linfócitos-T e linfócitos-B migram para folículos primários, na zona marginal
6) Folículos primários alteram-se → Folículos secundários, com centros germinativos de
linfócitos-B e plasmócitos.

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Mucosa-associated lymphoid tissue (MALT)
Presente no tracto respiratório (BALT) e no tracto digestive (GALT). Contêm linfócitos-B,
linfócitos Th activados, macrófagos e plasmócitos.
1) Células epiteliais da membrana mucosa transportam pequenos peptídeos de Ag através de
MCells para o MALT.
2) No MALT, Ags activam linfócitos-B, nos folículos linfáticos → Plasmócitos, que
abandonam folículos → IgA (Ac), interagem com Ag.

Pele
É uma barreira anatómica que contêm queratinócitos – segregam citocinas e contêm MHC II.
Existem também as células de Langerhans que, assim como os queratinócitos, activam Th. A pele
contém também linfócitos-B e macrófagos.

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Antigénios (Cap. III)

Imunogenicidade: capacidade de induzir uma resposta imunitária humoral ou mediada por células.
Imunogénios e antigénios são as substâncias que induzem essa resposta. Todos os imunogénios são
antigénios, mas o inverso não se aplica (Haptenos!)
Antigenicidade: capacida de de ligação aos produtos finais da resposta imunitária (Acs e TCRs)
O SI reconhece os microrganismos por proteínas ou polissacarídeos ligados aos Ags. Na imunidade
celular, por exemplo, os imunogénios são as proteínas e alguns lípidos e glicolípidos após
processamento e apresentação a MHC.

Factores que influenciam a imunogenicidade:


 Por parte do Ag:
o Tamanho (ideal é 100000 Del).
o Composição química (heteropolímeros são mais imunogénicos que homopolímeros).
o Complexidade (quanto maior for, maior a imunogenicidade).
o Capacidade do imunogénio ser processado e apresentado a MHC (moléculas grandes
e solúveis são mais facilmente fagocitadas).
 Do sistema biológico que o Ag encontra:
o Genótipo do organismo hospedeiro (resposta imunitária depende de genes TCR e
MHC).
o Dose e sítio de administração do Ag (dose muito baixa ou muito alta não
desencadeia resposta).
o Presença de adjuvantes (prolongam a vida do Ag e amplificam sinais co-
estimulatórios

Epitopos
As células do SI não reconhecem a totalidade do Ag, mas apenas algumas regiões activas
imunologicamente – epitopos.
Existem vários epitopos no mesmo Ag e são reconhecidos consoante a célula do SI com que
contactam.
Um epitopo pode não ser sequencial e pertencer a vários locus da molécula, mas, pela conformaçao
desta, aproximam-se. A confirmaçao do epitopo é condicionada pela enovelado da molécula e
podem perder-se se ocorrer desnaturação dessa por quebra de pontes S-S.
Os Linfócitos-B só reconhecem epitopos bastante acessíveis, flexíveis e móveis e não reconhecem
epitopos de proteínas desnaturadas. São geralmente compostos por AAs hidrofílicos na superfície.
As ligações são mais fortes quando o sítio de ligação do Ac (BCR) e o epitopo têm formas
complementares que os aproximam. Em proteínas globulares, o sítio de ligação do Ac liga-se ao
epitopo na superfície, enquanto que pequenos peptídeos se dobram em estruturas compactas que
cabem na reentrância do BCR.
Os Linfócitos-T reconhecem epitopos no interior da molécula, pois esta é processada e o epitopo
ligado ao MHC. Além disso, como reconhecem peptídeos antigénicos processados, são a única
resposta activada em proteínas desnaturadas. Há a formação de complexos trimoleculares:
Epitopo – Antigénio – Agretopo

TCR (no paratopo) MHC


 MHC I – 8 a 10 AAs
 MHC II – 12 a 25 AAs 11
Haptenos
São moléculas antigénicas não imunogénicas. Para desencadearem imunização, têm de se ligar a
transportadores, onde são produzidos Ac contra os transportadores, os haptenos e o epitopo! Daqui
o interesse de substâncias que funcionem como haptenos – podem obter-se Ac contra elas próprias.
É útil para pesquisar substâncias específicas, como hormonas em kits de gravidez. Se em diferentes
haptenos a configuração total for mantida e só variar o derivado não-iónico, um mesmo Ac liga-se a
todos eles.
Imunodominantes: epitopos mais imunogénicos de uma proteína num organismo.

Choques anafiláticos
Reacções alérgicas muito fortes causadas pela formação de complexos entre medicamentos e
proteínas → colapso dos sistemas respiratório, circulatório e gastrointestinal.
O tratamento passa pela injecção de adrenalina, que aumenta a pressão arterial e impede a libertação
de substâncias causadoras do choque como a histamina por parte dos mastócitos e dos basófilos.

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Anticorpos (Cap. IV)

Imunoglobulinas (Ig): proteínas globulares com função imunitária


 4 cadeias polipeptídicas – 2 cadeias leves + 2 cadeias pesadas
o Gama = IgG
o Alfa = IgA
o Mim = IgM
o Epsilon = IgE
o Delta = IgD
 Região de charneira

Ligações: ligam as duas combinações idênticas de cadeias H-L, formando estruturas de 4 cadeias
das Ig – dímero (H-L)2.
Cada cadeia L está ligada a uma cadeia H por uma ponte dissulfito S-S (ligação covalente forte) e
por uma combinação de interacções não covalentes: pontes de hidrogénio, pontes hidrofóbicas, etc.
O número e a posição das S-S difere entre as as classes e subclasses de Ig.
Regiões V: primeiros 100-110 AAs da região amino-terminal de uma cadeia H em L constituem
uma região de sequência altamente variável e são outro factor de distinção de classes de Ig. Deve
ser capaz de identificar e interagir especificamente com um epitopo.
 CDRs (complementarity determining regions) – sítio de ligação Ac-Ag, no Fab.
 FRs – domínio de regiões V que sofre menos variações quando comparados com CDR ou
com HV (hipervariable regions).
Regiões C: restante sequência de AAs onde são encontradas poucas diferenças entre as classes de
Ig. São regiões constantes – CL e CH. São o sítio de ligação de HC, que são variantes alélicas entre
indivíduos de uma espécie que determinam diferenças nas sequências de AAs localizadas nas
regiões C.

Glicosilação de Ig afecta a taxa à qual são eliminadas pelo fígado e aumenta a solubilidade das
mesmas.

Região de charneira: Fab (cadeia H + cadeia L) + Fc (cadeia H)


É rica em resíduos de Pro e flexível (em IgD, IgG e IgA).
Os dois braços Fab podem apresentar diversos ângulos relativamente um ao outro quando há
ligação do Ag. Podem mover-se, alinhando as CDRs com os epitopos à superfície celular.
Fc movem-se para maximizar funções efectoras. Ligam-se a receptores da superfície celular por
uma região Fc específica. Devido à riqueza de Pro e Cys, é uma zona mais susceptível à acção da
papaína e pepsina.

Idiotopo: região da Ig que determina ligação ao Ag.


Idiotopo ↔ Epitopo
Ac ↔ Ag

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Classes de Imunoglobulinas

 IgG
 Constitui 80% do total, é a mais abundante.
 Possui 2 cadeias H + 2 cadeias L
 4 subclasses, devido a:
o Diferenças na sequência de AAs da cadeia pesada, mas são 90-95%
homólogos
o Diferenças nas características estruturais
 Tamanho
 Número e posição de pontes SS entre cadeias H
Estas diferenças têm repercussões na actividade biológica da molécula:
 IgG1, IgG2, IgG3 rapidamente atravessam a placenta → imunidade do
feto.
 IgG3, IgG1, IgG3 activam complemento (por ordem de eficácia).
 IgG1, IgG3 ligam-se com alta afinidade a receptores Fc nas células
fagocíticas, mediando a opsonização.
 Produção de IgG necessita de linfócitos-T.
 Vida mais prolongada, 23 dias.
 Monómeros
 Digestão de IgG:
o Papaína → 2 fragmentos de Fab + 1 fragmento de Fc. Cada um tem um sítio
de ligação ao Ag. Fc não se liga ao Ag, mas é responsável pela activação do
complemento e pela ligação de uma molécula ao FcR nos macrófagos, NK e
linfócitos-T. Cliva acma das pontes SS que se ligam cadeias H.
o Pepsina – 2 F(ab)2, com 2 sítios de ligação ao Ag. Fc degrada-se pois é
clivado em múltiplos fragmentos. Cliva abaixo das pontes SS que se ligam
cadeias H.

 IgM
 5-10% do total.
 Monomérica, expressa como Ac ligado à membrana dos linfócitos-B.
 Pentomérica, secretada pelas células do plasma. 5 unidades monoméricas unidas por
pontes S-S. Cada pentâmero contém uma cadeia adicional ligada a Fc → Cadeia J
(joining).
 É a 1ª a ser produzida na resposta imunitária a um Ag.
 É a 1ª a ser produzida pelo recém-nascido.
 É a mais eficiente na ligação de Ags multidimensionais, como partículas virais ou
glóbulos vermelhos – não é necessária tanta IgG como IgM para neutralizar uma
infecção viral.
 Baixas concentrações nos fluidos tecidulares intercelulares, pois, graças ao seu
tamanho, não difunde bem.
 Tem um papel acessório no processo de secreção.

14
 IgA
 10-15% do total.
 Monómero, mas também existem dímeros, trímeros e tetrâmeros, todos estes com
cadeia J.
 Classe predominante nas secreções externas, como o leite materno, saliva, lágrimas,
secreções intestinais, respiratórias e do tracto genito-urinário.
 IgA secretora: dímero/tetrâmero com cadeia J + componente secretora. Componente
secretora produzida por células epiteliais das membranas mucosas.
o O dímero/tetrâmero IgA liga-se a um receptor poli-Ig na membrana
basolateral de uma célula epitelial por uma ponte S-S.
o O complexo é transportado pela membrana até ao lúmen.
o Poli-Ig é clivada enzimaticamente, mas deixa a sua componente secretora
ligada à IgA → IgA secretora.
 O leite materno contém IgA secretora, benefício imunitário, que ajuda a proteger o
recém-nascido contra infecções no 1º mês de vida.

 IgE
 Baixa concentração sérica, mas com actividade biológica potente.
 Medeia reacções de hipersensibilidade tipo I – hipersensibilidade imediata:
o IgE ligada aos mastócitos e basófilos nos FcR, servindo como um receptor de
alergénios e de Ags.
o Quando uma quantidade suficiente de Ag se liga à IgE sobre o mastócito,
ocorre desgranulação → Libertaçao de histamina e prostaglandinas – factor
de activação de plaquetas e citocinas.
o Manifestações alérgicas.
o Defesa antiparasítica.
 Vida média: 2,5 dias.

 IgD
 0,2% do total.
 Actua em receptores de Ag nas membranas dos linfócitos-B em fase inicial de
desenvolvimento → activando crescimento de linfócitos-B, ajuda a iniciar respostas
do Ac.
 IgD e IgM são os únicos receptores expressos pelos plasmócitos.

15
Funções dos Anticorpos

 Receptores membranares de linfócitos-B (IgD e IgM). BCR: uma Ig + heterodímero (Igα e


IgB) – associação necessária pois a cauda de Ig é muito pequena para transmitir sinais por si
só.
 Neutralização de Ags.
 Regulação da resposta imunitária.
 Iniciação da resposta a um Ag:
 Formação de imunocomplexos.
 Activação do complemento (IgG1, IgG2, IgG3, IgM).
 Opsonização (IgG1, IgG3, IgG4)
 Citoxicidade mediada por Ac:
o IgG – macrófagos, monócitos, neutrófilos, NK, linfócitos-T.
o IgE – eosinófilos.
 Imunidade das mucosas (IgA)
 Imunidade neonatal (IgG)
 Hipersensibilidade imediata (IgE)

Anticorpos Monoclonais

A maioria dos Ag tem vários epitopos e por isso causa a activação de vários linfócitos-B, sendo o
soro constituído por uma mistura de Ac para os vários epitopos – resposta Policlonal. Querem-se
Ac monoclonais que sejam específicos para um determinado Ag.
Produção de Ac monoclonais:
1) Fusão de linfócito-B com célula de mieloma → hibridoma. Mas as fusões nem sempre têm
êxito ou podem ser indesejadas.
2) Selecçao por meios de cultura com HAT
 Células de mieloma não sobrevivem
 Linfócitos-B não sobrevivem por muito tempo
 Hibridomas sobrevivem.
3) Após obtenção de hibridomas, ocorre a selecção do Ac pretendido por técnicas de ELISA ou
RIA (rádio-imuno-análise).
4) Após isolamento, há obtenção de clones → Ac monoclonais.
Dificuldades técnicas na obtenção de Ac monoclonais humanos:
 As poucas técnicas de mieloma humano que demonstram crescimento imortal são
susceptíveis à selecção por HAT, não contribuindo com a secreção de Ac nos hibridomas.
Alternativa: confere-se imortalidade às outras células (linfócitos-B) acrescentado á cultura o
Ag EBV (vírus), mantendo activa a secreção de Ac.
 Os hibridomas humanos são preparados a partir do sangue periférico humano, que tem
poucas células B activas devido aos Ags presentes nas vacinas. Mas os voluntários humanos
não podem ser imunizados com o espectro do Ag administrados em animais. Alternativa:
células humanas in vitro.
 O microambiente normal não pode ser recriado completamente in vitro, e os linfócitos-B só
produzem aí IgM de baixa afinidade. Alternativa: transplantar as células necessárias à

16
resposta imunitária para ratinhos. Após imunização de ratinhos, os quais contêm linfócitos-
B e T humanos, há isolamento de linfócitos-B → produção de Acs monoclonais.
Imunoporinas: futuro dos medicamentos contra tumores. Compostas por: Acs monoclonais
específicos para tumores + toxinas letais. Ac monoclonal distribuiria a toxina letal especificamente
pelas células tumorais, causando a sua morte por inibição da síntese proteica.

Abzimas: Acs monoclonais catalíticos + enzimas. A ligação de Ac-Ag = enzima-substrato, com a


excepção de que o Ac não altera o Ag, enquanto que a enzima catalisa reacções químicas do
substrato. As abzimas deram esse poder aos Acs, estabilizando o estado de transição das substâncias
ligadas → ↓ Energia de activação necessária.

17
Interacção Antigénio-Anticorpo (Cap. VI)

A ligação Ag-Ac é reversível e é feita por ligações não-covalentes (Epitopo-CDR)


 Pontes de hidrogénio.
 Ligações iónicas.
 Ligações hidrofóbicas.
 Forças de Van der Waals.
As ligações não covalentes são fracas e por isso são necessárias em grandes quantidades,
dependendo, da complementaridade entre o epitopo e os sítios da ligação no Fab dos Acs (onde
estão CDRs).
Afinidade – traduz a força de ligação entre o epitopo e o CDR, ou seja, a força da ligação não
covalente. Os complexos com baixa afinidade são facilmente dissociáveis.
Avidez – traduz a força total de ligação entre Ac multivalente (1 valência = 1 sítio de ligação) e um
Ag (com vários epitopos). Em sistemas biológicos, a avidez traduz melhor a realidade que a
afinidade, pois, por vezes, a alta avidez compensa a baixa afinidade (Ex: IgM).
Tal como numa reacção química, há um equilíbrio entre Ag e Acs livres ↔ complexo Ag-Ac, e por
isso, uma constante de equilíbrio. ↑ Constante de associação → + forte a ligação.

Reactividade cruzada
Embora a reacção Ag-Ac seja muito especifica, o Ac pode reagir com outros Ags quando:
 2 Ags partilham um epitopo.
 1 Ac se liga a um epitopo semelhante ao qual com que é específico.
Exemplos:
o Polissacarídeos antigénicos com grupos oligossacáridos semelhantes → sistema sanguíneo
AB0 baseado nas glicoproteínas expressas nos glóbulos vermelhos:
 Grupo B – tem anticorpos anti-A.
 Grupo A – tem anticorpos anti-B.
 Grupo AB – não tem anticorpos.
 Grupo 0 – tem anticorpos anti-A e anti-B
Por reactividade cruzada, Ag microbianos induzem a formação de Ac em indivíduos que
não os têm – nunca estiveram em contacto com esse Ag.
→ Reacções auto-imunes: Acs dirigidos a um microrganismo atacam epitopos do
organismo portador semelhantes aos epitopos daquele microrganismo.
→ Vacinas, como a da varíola.

Reacções de Precipitação Reacções de Aglutinação


 Hematoaglutinação
 Imunodifusão  Aglutinação bacteriana
o Radial
o Dupla  Inibição da aglutinação
 Técnicas com Ags marcados
o RIA
 Imunoelectroforese o ELISA
o IF
o Citometria de fluxo

18
Reacções de Precipitação

Ac que precipitam Ag solúvel são Precipitinas. Formaçao do precipitado depende da valência do


Ac e do Ag → têm de ser pelo menos bivalentes.
Reacções de precipitação podem ocorrer:
 Em líquidos (fluidos):
o Pequena quantidade fixa de Acs numa série de tubos.
o Adicionam-se quantidades crescentes de Ag em cada tubo.
1) Pró-zona – excesso de Ac.
2) Zona de equivalência – Ac=Ag, com precipitado.
3) Pós-zona – excesso de Ag.
 Em gel (matriz do agar) – à medida que Ag e/ou Ac se difundem, forma-se uma linha
visível de precipitação → zona de equivalência.

Imunodifusão
 Radial
1) Ag num poço em agar que contém Ac já difundidos.
2) Ao difundir, Ag cria um gradiente ao longo do agar.
3) Na zona de equivalência, há precipitação visível, formando um anel. [Ag] é
determinada por curvas-padrão, consoante o diâmetro do anel.
 Dupla
1) Ag num poço de agar, Ac noutro poço de agar.
2) Difusão de Ag e do Ac um em direcção ao outro, estabelecendo um gradiente de
concentração.
3) Na zona de equivalência há precipitação visível, formando uma linha. Se se
colocarem 2 poços com Ag e 1 poço com Ac, é possível pesquisar se os epitopos são
semelhantes consoante as reacções que ocorram:
 Identidade – o epitopo é Ag c/ epitopo A Ag c/ epitopo A
partilhado pelos Ags, formando- Ac anti-A
se uma só linha de precipitação
curvada
 Não identidade – epitopos são Ag c/ epitopo A Ag c/ epitopo B
diferentes, formando-se 2 linhas
Ac anti-A e anti-B
de precipitação que se
intersectam
 Identidade parcial – alguns dos Ag c/ epitopo A e B Ag c/ epitopo B
epitopos são partilhados,
formando-se uma linha de Ac anti-A e anti-B
precipitação fundida.

19
Imunoelectroforese
Combina electroforese com imunodifusão dupla.
1) Ag submetido a electroforese.
2) Em direcção paralela ao sentido de migração é adicionado antisoro.
3) As substâncias difundem uma em direcção à outra, deixando linhas de precipitação nos
pontos onde se encontram.
Técnica qualitativa. Faz-se com uma mistura de 1 Ag ou do soro humano (muitos Ags). Utilidade:
detectar a ausência/presença de uma dada substância (Ex: doentes com mieloma múltiplo, que têm
um padrão anormal de Ig (↑).
Electrophoresis: o Ag sofre electroforese num meio com Ac, formando uma linha de precipitação
com a forma de foguete → altura proporcional à [ ].

Reacções de Aglutinação

Ac que causam aglutinação são Aglutininas. Acs e Ags têm de ser, pelo menos, bivalentes. Pró-
zona: excesso de Ac e Ac policlonais ocupam sítios activos impedindo aglutinação.

Hematoaglutinação
A aglutinação dos GV presentes no sangue é feita por tipagem sanguínea: adiciona-se anti-soro A
(Acs A) e anti-soro B a duas gotas de sangue.
 Se aglutinar anti-soro B → é tipo B (pois tem Ac A)
 Se aglutinar anti-soro A → é tipo A
 Se aglutinar os 2 → é tipo AB
 Se não aglutinar nenhum → é tipo 0

Aglutinação bacteriana
Determina o nível de Acs que o indivíduo tem contra essa bactéria, adicionando-se bactéria (Ag)
aos tubos que têm cada vez menor [soro]. No tubo em que ocorrer aglutinação (zona de
equivalência, [Ac] = [Ag adicionado].

Inibição da aglutinação
Técnicas muito sensíveis, só para pequenas quantidades. Este método serve para testes de gravidez,
detecção da presença de drogas e para saber se o individuo já esteve em contacto com o Ag.
Ex: teste da gravidez por pesquisa de HCG (hormona só presente na urina de uma mulher grávida).
Kit gravidez contém: anticorpos anti-HCG e partículas de látex carregadas com HCG.
HCG presente na urina compete com partículas de látex pela ligação ao Ac, impedindo que
aglutinem.
Inibição da aglutinação → Reacção positiva → Gravidez

HCG na urina Ac anti-HCG Látex com HCG Não há aglutinação!

Se ocorrer aglutinação → Reacção negativa → Não há gravidez

20
Ac anti-HCG Látex com HCG
Há aglutinação!
Técnicas com Ags marcados
Baseiam-se na ligação entre 2 moleculas com afinidade estrutural, Binder + ligante, que podem ser:
 Ag + Ac
 Hormona + proteína transportadora/receptora
 Fármaco + receptor
1) Junção das duas moléculas com grande afinidade.
2) Visualização da reacção
 RIA – radioactividade.
 ELISA – enzima que torna substrato corado.
 IF – flurocromo que é a activado por RUV
↓ Gasto de energia, pois são reacções amplificadas.
3) Comparação com reacção padrão (calibração) → reacção quantitativa. Utilidade:
doseamento de Ag, Ac, hormonas marcadoras tumorais, alergénios, IgE, vitaminas, etc.

 RIA (rádio-imuno-análise) – doseamento por contagemde radioactividade.


 Ag marcado ligado ao Ac numa mistura que provoque saturação dos sítios da ligação
do Ac.
 É adicionada à mistura amostra com Ag não marcado em quantidades crescentes,
este competindo pela ligação ao Ac.
A diminuição da quantidade de Ag marcado radioactivamente ligado ao Ac é
proporcional à quantidade de Ag não marcado na amostra. Antes da medição, é
necessário eliminar Ags livres (por precipitação). RIA de fase sólida – Ag ou Ac
ligados ao meio, facilitando a lavagem.
 ELISA (enzime-linked immunosorbet assay)
 Doseamento de Ac por coloraçao da reacção.
 Semelhante ao método anterior, mas usa enzimas em vez de marcação radioactiva:
uma enzima ligada a um Ac reage com um substrato, formando produto colorido.
 + seguro, + barato que RIA.
 Concentrações determinadas por comparação com curva-padrão.
o ELISA indirecta, doseamento quantitativo de Acs.
1) Mistura de Acs + Ags ligados a gel.
2) Lava-se e adiciona-se um segundo Ac – específico para domínio Fc
do primeiro – ligado a uma enzima.
3) Lava-se e adiciona-se substrato da enzima.
A quantidade de cor é proporcional à quantidade de Ac específico
para um determinado Ag (o presente no gel).
Usado para determinar se indivíduo é soro + ou soro – para HIV (HIV
+ / HIV –).
o ELISA de Sandwich, doseamento quantitativo de Ags: Ag que se quer
dosear está no meio de 2 Acs específicos – 1 fixo numa placa e 1 livre que é
marcado. A coloração da reacção é proporcional à quantidade de Ag.
 Placa sólida que fixa Ac específico.
 Adiciona-se o soro (com Ag).
 Retira-se excesso de Ag que não é fixado na placa com Ac.

21
 Junta-se o segundo Ac marcado com a enzima, adicionado sempre em
excesso para certificar saturação de Ags.
o ELISA competitiva, doseamento quantitativo de Ags: numa solução padrão
com complexos de Ag*-Ac (*=marcado), pode desfazer-se parte desses
complexos pela adição de Ag não marcado e livre. Pelo princípio da
reversibilidade, este último Ag consegue competir com Ag* pelos sítios de
ligação ao Ac, deslocando-o → ↓ Nº de complexos Ag*-Ac.
[Ag*-Ac] + Ag = [Ag*-Ac] + [Ag-Ac] + Ag* + Ac. Eliminando Ags livres, a
redução de [Ag*-Ac] é proporcional à quantidade de Ag adicionado.
Adiciona-se o composto enzima-anticorpo anti-Fc e o substrato. Quanto ↑ a
quantidade de Ag, ↓ a cor emitida.
o Técnica de ELISA modificada: útil para determinar o Nº de células que
produzem Acs para um Ag ou que produzem um dado Ag.
 Poço forrado com Acs para um dado Ag.
 Adicionadas células e aguarda-se (enquanto produzem o Ag).
 Removem-se as células e junta-se um Ac específico + enzima.
 Lava-se e junta-se substrato da enzima → Anel em torno de cada
célula secretora.
 IF (Imunofluorescência)
Se as moléculas de Ac são marcadas com um corante fluorescente ou com um fluorocromo,
podem ser detectados pela emissão de luz colorida quando excitadas por uma luz de
comprimento de onda apropriado. Os fluorocromos são conjugados à região Fc de uma
molécula de Ac, não afectando a especificidade desta. Os mais utilizados são a rodomina, a
fluoresceína e a ficoeritrina.
A coloração do Ac pode ser directa ou indirecta. Na coloração directa, o Ac é conjugado
com o fluorocromo. Na coloração indirecta, o Ac não é marcado, mas é detectado por um
reagente marcado por um fluorocromo. Um possível reagente é a proteína A do
Staphylococcus Aureus. A coloração de imunofluorescência indirecta tem duas vantagens
sobre a directa:
 A falta de Ac é muitas vezes um factor limitante, e a coloração indirecta evita a sua
perda de Ac que pode ocorrer na conjugação.
 A coloração indirecta aumenta a sensibilidade da coloração, pois as múltiplas
moléculas do reagente ligam-se a cada molécula de Ac, aumentando a quantidade de
luz emitida no local.
Esta técnica tem sido aplicada para estudar subpopulações de linfócitos-T CD4+ e CD8+,
populações bacterianas, complexos Ac-Ag em doenças auto-imunes, localização de produtos
celulares marcados in situ, etc. Fornece dados qualitativos.
 Citometria de fluxo
FACS (fluorescence-activated cell sorted) – aparelho que automatiza a análise e a separação
das células coradas com o anticorpo fluorescente. Utiliza um feixe de laser e um detector de
luz para contar as células únicas em suspensão. Quando uma célula passa pelo feixe de laser
do FACS, a luz do laser é deflectida a partir do detector, sendo esta interrupção registada.
Além disso, as células marcadas são excitadas pelo laser e também é registado o nível de
fluorescência que a célula emite. Depois disso, o aparelho coloca as células possuindo
padrões de reactividade diferentes em diferentes recipientes. Um uso clínico comum é

22
determinar o número de células sanguíneas brancas em cada população de amostras
sanguíneas de pacientes. Dados quantitativos.

23
Major Histocompatibility Complex (MHC) (Cap. VII)

São um conjunto de genes estritamente ligados cujos produtos desempenham papéis de


reconhecimento celular e de discriminação entre o próprio e o não próprio:
 Determina se o tecido transplantado é histocompatível/histoincompatível.
 Desenvovimento de resposta imunitária humoral e mediada por células.
Agem como estruturas apresentadoras de Ag, influenciando o espectro de Ags aos quais os
linfócitos Tc e Th podem responder. Por isso, estão profundamente relacionados com a
susceptibilidade individual à doença.

Localização e funções de MHC


Nos humanos, localizam-se no cromossoma 6. Estão organizados em regiões que codificam 3
classes de moléculas:
 MHC Classe I: codificam proteínas expressas na superfície de quase todas as células
nucleadas. Apresentação de Ag a células Tc.
 MHC Classe II: codificam proteínas expressas maioritariamente em células APCs.
Apresentação de Ag a células Th.
 MHC Classe III: codificam proteínas em funções imunitárias, como componentes do
complemento e moléculas envolvidas na inflamação.
Halótipos: a maior parte dos indivíduos herda os alelos codificados por loci na forma de dois
blocos – halótipos – um de cada progenitor. A descendência é geralmente heterozigótica no que diz
respeito a estes loci, e expressa-os em co-dominância (ambos).
Foram modificados geneticamente linhagens de ratos, de modo a serem idênticos excepto nos locus
de MHC. Assim, qualquer diferença fenotípica entre os indivíduos dever-se-ia a esta região
genética. A experiência permitiu a comparação das diferenças funcionais entre os animais e
esclareceu quais os meios pelos quais os MHC mantêm sua heterogeneidade.

Estrutura de MHC
 MHC Classe I:
 Cadeia α – grande cadeia ancorada à membrana plasmática. Possui 3 domínios
externos α1, α2 e α3, cada um com: domínio transmembranar (no qual diferem),
sequência de AAs hidrofílicos e âncora citoplasmática.
 Microglobulina β2 – 3 domínios externos semelhantes aos da cadeia α, mas sem
domínio transmembranar.
Domínios α1 e α2 interagem, formando um sulco de ligação de peptídeos situado no
topo da membrana: domínio α3 é altamente conservado, contendo uma sequência
que interage com a molécula membranar CD3+ do Tc. A microglobulina interage
com α1, α2 e α3 intensivamente.
 MHC Classe II:
 Contêm 2 cadeias polipeptídicas diferentes, α e β.
 Tal como MHC I, contêm segmentos transmembranares, segmentos de ancoragem
plasmática e domínios externos:
 α1 e α2 – homologia com Ig, local de ligação com Ag.
 β1 e β2.

24
A estrutura tridimensional de MHC I é semelhante à de classe II. A diferença é que na II
classe, o dímero está orientado de forma a posicionar os peptídeos em direcções opostas.
Tal como MHC I, α2 e β2 de MHC II apresentam homologia com a Ig.
Interacção peptídica
 MHC Classe I
Peptídeos transportados do citosol para RE, onde interagem com MHC I (via endógena).
Degradados em via citoplasmática.
Cada tipo de MHC I exprime apenas um conjunto de peptídeos que pode incluir mais de
2000 peptídeos diferentes. No entanto, cada célula exprime mais do que um tipo de MHC I
na superfície membranar. MHC de células normais exprimem peptídeos derivados de
citocromo c, histonas, etc. MHC de células infectados exprimem proteínas virusais.
Uma vez ligados aos peptídeos, MHC I apresenta-os a linfócitos CD8+.
Cerca de 100 complexos MHC-peptídeo são suficientes para marcar a célula como alvo para
linfócito-T CD8. CD8 tem entre 8-10 AAs, sendo a ligação mais forte quando tem 9 AAs. A
ligação é forte e estável devido à localização dos resíduos de ancoragem nas duas pontas do
peptídeo, uma na região amino-terminal e outra na carboxilo-terminal. Entre essas regiões, o
peptídeo faz um arco, permitindo a adaptação ao seu tamanho. Pensa-se que é nesta
sequência em arco que se dá a interacção com o TCR dos linfócitos-T.
 MHC Classe II
Degradam peptídeos por via endocítica, via exógena. A maioria deriva das proteínas da
membrana e tem entre 13-18 AAs. Este peptídeos não têm resíduo de ancoragem, a ligação
vai sendo feita ao longo de vários sítios e não só nas extremidades.

Polimorfismo de MHC
Dentro de uma espécie, as moléculas são muito diferentes pela presença de múltiplos alelos
poligénicos.
Linkage desiquilibrium: diferença entre a frequência esperada e a frequência observada. A
diversidade prevista é superior à verificada pois nem todas as combinações alélicas ocorrem com a
mesma frequência – não há distribuição aleatória:
 Não houve ainda um número de geração suficiente.
 Selecção natural.
 Alguns genes são mais propensos a sofrer crossing-over.
Mas apesar deste LD, o MHC humano é dotado de um polimorfismo considerável, o que dificulta a
compatibilidade em transplantes. A maioria das variações ocorre em pequenas porções,
especialmente na zona distal das moléculas. Quanto ao MHC III, várias proteínas diferentes em
termos estruturais e funcionais são aí codificadas. Esta classe difere das outras pois as proteínas
expressas não são de membrana e não têm estruturas semelhantes.

Regulação da expressão
A expressão de MHC II é diferencial, ocorre apenas em alguns tipos celulares, diferindo entre os
mesmos o grau de expressão. Ocorre regulação por:
 Citocinas, Interferões γ, β e α e INF → induzem formação de MHC II.
 Vírus provocadores de infecção (adenovírus, HBV, etc) → reduzem expressão de MHC II.
Não por diminuição da transcrição, mas por diminuição de proteínas transportadoras. A
diminuição da expressão de MHC II ajuda o vírus a fugir do SI pois diminui a capacidade
das células activarem Th.
25
Capacidade da resposta imunitária
Determinada pela expressão da MHC II.
Dois modelos para a variabilidade da resposta imunitária:
 Determinant select model (A): diferentes moléculas de MHC implicam diferentes modos
de ligar o Ag processado.
 Holes In The Repertorie Model (B): linfócitos-T que reconhecem Ag estranhos
semelhantes aos Ags próprios podem ser eliminados durante o processamento no timo.
Na ausência de uma molécula MHC II que consiga ligar o peptídeo apresentado (A) ou na ausência
de um linfócito-T capaz de reconhecer complexco MHC-peptídeo → Ausência de resposta
imunitária!
O modelo A afirma que a força de ligação da molécula de MHC a um dado Ag é determinada pela
estrutura do MHC. Devido ao polimorfismo destas moléculas, os indivíduos podem reagir mais ou
menos intensamente a um determinado Ag.
Há doenças directamente relacionadas com o MHC:
 Auto-imunes.
 Alterações do factor complemento.
 Alterações neurológicas.
 Alergias.
A variabilidade alélica em MHCs humanos de pessoas doentes costuma ser inferior à da população
em geral. A redução do polimorfismo do MHC entre espécies pode predispô-las a doenças
infecciosas também.

26
Processamento e apresentação dos Antigénios (Cap. VIII)

Para ser reconhecido por um linfócito-T, o Ag tem de ser processado e então formado um complexo
peptídeo-MHC para apresentação antigénica. As células intervenientes na apresentação antigénica
são:
 Células-alvo: apresentam Ags estranhos ligados a MHC I.
 APCs: apresentam Ags estranhos ligados a MHC II. Têm capacidade de produzir o sinal co-
estimulatório B7. Exemplos de APCs: macrófagos, células dendríticas, macrófagos,
linfócitos-B (quase todas as células nucleadas podem ter função de APC, mas para os
linfócitos-T, durante a resposta inflamatória).
Ag pode ser processado por via citosólica (Ag endógeno) ou endocítica (Ag exógeno). Este modo
de entrada na célula determina então se Ag vai ser associado a MHC I ou II, determinando por isso
a resposta imunitária, se são reconhecidos por Tc ou Th.

Via citosólica
Para Ag endógenos, como os produzidos por um vírus dentro da célula. É a via usada para o
turnover normal das proteínas intracelulares.
1) Ag endógenos degradados (processados) no citoplasma pelo complexo proteossoma
associada a ubiquitina. Para degradar Ag e AAs, são adicionados duas subunidades ao
proteossoma: LMP2 e LMP7, codificados pelo gene MHC. O aumento dos níveis de IFN-γ
induz produção de LMP2 e LMP7.
2) Peptídeos resultantes são transportados para RER através da TAP – dímero de 2 proteínas,
TAP1 e TAP2, com um domínio hidrofóbico (atravessa a membrana) e um sítio de ligação
para ATP (fica no citosol). As TAP têm maior afinidade para peptídeos com 8-13 AAs e só
transportam peptídeos que vão ligar a MHC I.
A montagem dos peptídeos na molécula MHC I exige:
 Um peptídeo no sítio de ligação.
 Participação de proteínas chaperons – caluexina, calreticulina e tapasina.
3) Complexo caluexina-cadeia-α (chaperon de membrana do RER) liga-se a β2-
microglobulina.
4) Dissociação da caluexina, ligação de calreticulina e tapasina (esta aproxima TAP da MHC).
5) Tapasina em associação com TAP fornece o peptídeo que estabiliza a estrutura.
6) Libertação das proteínas chaperons – MHC muito estável.
7) MHC I é levado pelo complexo de Golgi até à membrana. Aqui, ocorre a apresentação
antigénica aos Tc.
Existe uma linha de células mutantes, RMA-S, que só expressa 5% de MHC I na sua membrana.
Estas células sintetizam níveis normais de cadeias α e de β2-microglobulina, mas estas estruturas
permanecem no interior da célula. Quando são fornecidas as moléculas necessárias à expressão dos
restantes 95% dos genes de MHC, inclusive um gene funcional para o transportador, as células
tornam-se normais, deixando de ter defeito no transporte de peptídeos processados no citoplasma
para o RER, onde MHC são sintetizados.

27
Via endocítica
Para Ags exógenos internalizados por APC por fagocitose, pinocitose ou endocitose.
1) Endocitose/Fagocitose do Ag, sendo conduzido até ao RER.
2) No RER, cadeias α e β ligam-se a cadeia invariável → liga-se ao peptídeo no sítio de ligação
impedindo a ligação de peptídeos endógenos no interior do RER. A cadeia invariável é
necessária para células APC que têm dois tipos de MHC (I e II), e é preciso que peptídeos
derivados de Ags endógenos se liguem a MHC II produzida no RER.
3) Complexo sai para o complexo de Golgi.
4) Transporte por compartimentos de acidez crescente:
Endossomas recentes → endossomas tardios → lisossomas (↑ pH), ao longo dos quais vai
sendo degradado até só restar apenas o AA do sítio de ligação – CLIP.
5) HLA-DM catalisa a troca do CLIP por peptídeo do Ag exógeno. HLA-DO bloqueia HLA-
DM.
6) MHC II transportada até à membrana.

28
T-Cell Receptor (Cap. IX)

TCR BCR
 Liga a forma ligada a receptores de
membrana, MHC. ≠  Liga forma solúvel de Ag.
 Associado a Igα e Igβ.
 Associado na membrana a CD3.

Só Ag apresentados por MHC são reconhecidos – AutoMHC restrição, com 2 modelos explicativos:
 Modelo do Duplo Receptor – TCR teria um receptor para o Ag + um receptor para o MHC.
 Modelo de Altered-Self – TCR teria um só receptor capaz de reconhecer um Ag estranho
ligado a um MHC.

Estrutura do TCR
NH2 NH2

Vα Vβ

Cα Cβ
Sequência conectora
– S-S –
+ + Região transmembranar

Cauda citoplasmática
COOH COOH

 Heterodímero α β com regiões constantes e regiões variáveis.


 Cada cadeia contém dois domínios, contendo uma ligação dissulfeto dentro de cada domínio
dentro de cada cadeia.
 Variabilidade das cadeias presente no domínio amino-terminal, o resto é conservado.
3 regiões hipervariáveis equivalentes ao CDR das Igs, mas não se consideram iguais pois há
uma 4ª região hipervariável.
o CDR 1 – da cadeia β liga-se à região carboxilo-terminal e da cadeia α liga-se à
região amino-terminal.
o CDR 2 liga-se a MHC.
o CDR 3 das cadeias α e β ligam-se ao centro do peptídeo.
o CDR 4 não contacta com complexo MHC-peptídeo.
 Cauda extracelular + domínio transmembranar (com AAs carregados positivamente
permitindo interacção com CD3) + cauda citoplasmática.
 CDR 1, CDR 2, CDR 3 orientados no domínio variável de modo a formar sítio da ligação do
Ag, sendo CDR 3 o centro desse sítio de ligação.

29
Diversidade dos TCR
Rearranjos por combinações dos genes com regiões variáveis:
 Flexibilidade funcional.
 Paragem da produção de codões STOP (quando não acontece temos TCR defeituosos).
Esta variabilidade não pode afectar o reconhecimento de MHC, por isso:
 CDR1 e CDR2 → variabilidade limitada.
 CDR3 → grande variabilidade.
O CDR3 participa na transdução do sinal, mas não interfere na interacção com o Ag. É necessário
para a expressão membranar de dímeros αβ (TCR).

CD3 → 2 heterodímeros + 1 homodímero em 90% dos casos (10% → 3 heterodímeros)


Complexo CD3-TCR → 3 heterodímeros + 1 homodímero.
Dímeros de TCR → especificidade da natureza de ligação.
Dímeros de CD3 → transdução do sinal.
NH2 NH2

– S-S –
Resíduos de Ácido Aspártico que interage com TCR

ITAM (transdução do sinal)

COOH COOH

CD4
 Monomérica, glicoproteína membranar.
 4 domínios extracelulares (β2 de MHC II) + porção transmembranar + cauda citoplasmática.
 Só reconhece peptídeos ligados a MHC II.

CD8
 Heterodímero α,β e δ.
 1 domínio extracelular (α1, α2, α3 de MHC I) + porção transmembranar + porção
citoplasmática.

A afinidade dos TCR pelos MHC é fraca/moderada, depende da adesão entre a célula linfocitária e
a outra. Esta adesão é feita por moléculas membranares que interagem com complexo peptídeo-
MHC.
 Ligação de moléculas membranares dos LT às de outras células.
 ↑ Distância intercelular.
 Activação.
 ↑ Distância intercelular.
 Separação celular.

30
TCR
Complexo Ternário
 TCR + MHC + Peptídeo antigénico 1
2

 Epitopo2 + Agretopo3 3

→ Paratopo1 (na região variável do Ac) MHC

 MHC próprio – Alogénico.


 MHC estranho – Aloantigénico.

Aloreactividade dos LT: explicada pela reactividade cruzada dos TCRs com MHC estranho,
apesar de serem específicos para um determinado MHC próprio.

31
Maturação, activação e diferenciação dos Linfócitos (Cap. X)

1. Maturação
 No timo.
 Envolve rearranjos dos genes TCR e expressão de vários marcadores de membrana.
 Selecção + : preservação apenas dos linfócitos que reconhecem MHC próprio.
 Selecção - : eliminação dos linfócitos que têm demasiada afinidade para com MHC próprio,
que reagem contra ele.
 Fase 1 – células duplamente negativas (DN):
o LT ainda não tem TCR nem outras moléculas de membrana, como CD4 ou CD8,
pois ainda não sofreram rearranjos nos genes TCR (ainda não houve a expressão das
proteínas necessárias ao rearranjo – RAG1, RAG2).
o LT vão alterando o seu fenótipo devido às mudanças ao nível da membrana.
o C-Kit: receptor para o factor de crescimento.
o DN: cadeia β + cadeia pré-α + CD3. DN transmite um sinal através do CD3 que
activa C-Kit que pára os rearranjos na cadeia β e amplifica os na cadeia α.
 Fase 2 – células duplamente positivas (DP).
o DP: cadeia β + cadeia α + CD3
TCR
o Células também já expressam CD4/CD8 por proliferação dos DP.
No timo, a selecção positiva e a negativa fazem-se por interacção com as células APC e com
as do estroma que têm MHC I e II.
Selecção positiva (protecção)
 No córtex.
 Interacção dos timócitos com as células epiteliais do córtex.
 LT recebem sinal protector que impede a apoptose.
 Rearranjos na cadeia α do TCR.
 Sobrevivem só as células que se ligam às moléculas de MHC próprio.
Selecção negativa (eliminação)
 Na medula do timo.
 Interacção dos timócitos com APC.
 Eliminação de células com elevada afinidade para com MHC próprio ou MHC
próprio + Ag.
Hipóteses explicativas para as selecções:
 Hipótese da avidez: apenas os TCR que se ligam às moléculas MHC com ligações
fracas sobrevivem. Os factores de escolha são se se ligam ou não e a avidez dessa
ligação.
 Hipótese da sinalização diferenciada: o TCR emite um sinal quando se liga ao
complexo MHC-peptídeo. Só os timócitos que enviam um sinal sobrevivem na
selecção positiva; só os timócitos que enviam um sinal parcial (a revelar numa
ligação fraca) sobrevivem na selecção negativa; os que enviam um sinal completo
(ligação forte) são eliminados.

32
Como se originam linfócitos Tc e Th a partir de células DP?
 Modelo instrucional: o sinal produzido por (TCR+MHC II+CD4) ≠ (TCR+MHC I+
CD8). Ligações diferentes → sinais diferentes.
 Modelo Stochestic: a expressão de um dos COs é desligada aleatoriamente,
sobrevivendo apenas os timócitos cujo TCR e cujo co-receptor continuem a
reconhecer a mesma classe de MHC.

2. Activação
Exemplo: activação de Th.
1) Interacçao do TCR com MHC II ligada a peptídeos antigénicos (ligação estabilizada por
moléculas membranares que aproximam as duas células).
2) Como se inicia o processo de sinalização?
 Fyn (cauda citoplasmática do TCR) e Lick (domínio intracelular do co-receptor),
tirosinas cinases, associam-se ao complexo TCR-CD3. Fyn e Lick fosforilam ITAM,
presente na cauda citoplasmática de CD3. São reguladas por fosforilaçao em 2 sítios,
um de activação com outro de inactivação.
3) Transdução do sinal efectuado por CD3 acoplado ao TCR.
 Receptores. Progressão do ciclo celular
 Segundos mensageiros. +
 Proteínas ligases e fosfatases. Activação de 3 categorias de genes:
 Componentes essenciais.  Genes imediatos (codificam factores de transcrição).
 Cascatas  Genes rápidos (codificam receptores celulares).
 Proteína G  Genes tardios (codificam proteínas de adesão).

Imunossupressores: inibem a activação do linfócito, levando a uma diminuição da resposta


imunitária. Contêm cicloesporina A e FK506.
A activação de linfócitos-T requer 2 sinais:
 Sinal 1 (TCR+CD3+Ag+MHC) – já descrito: interacção do peptídeo antigénico com o
complexo TCR-CD3.
 Sinal 2 (CD28+B7) – não é específico para o Ag. Gerado pela alteração de CD28 no LT e
membros da família B7 em APC.
B7:
o 1 domínio variável + 1 domínio constante.
o Existem dois tipos que variam essencialmente nos domínios citosólicos.
o Nos macrófagos, linfócitos-B, células dendríticas.
o CD28 – activador → sinal có-estimulatório (+).
o CTLA4 – inibidor → sinal có-estimulatório (–).
o Induz produção de IL-2 e a proliferação linfocitária.
O reconhecimento efectuado pelos linfócitos-T resulta em (dependendo da presença/ausência do
sinal có-estimulatório de B7):
 Activação e expansão clonal.
 Anergia clonal: estado de não resposta, incapacidade de as células proliferarem em resposta
ao complexo peptídeo-TCR.

33
2.1. Activação Policlonal por Superantigénios
 São proteínas virais ou bacterianas que se ligam ao domínio Vβ de TCR e à cadeia α de
MHC.
 Ligam-se noutro sitio que não o de ligação, por isso qualquer linfócito-T que expresse uma
cadeia Vβ com uma sequência específica vai ser activado pelo determinado Ag →
Activaçao policlonal.
 Pode conduzir a uma reacção massiva contra os Ags → sobre produção de citocinas →
toxicidade sistémica (ex: intoxicação alimentar)
 Induzem selecção negativa (–) de todos os LT que se liguem a ele, influenciando a
maturação.
 Superantigénios endógenos: proteínas codificadas por vírus que infectam as células.
 Superantigénios exógenos: proteínas secretadas por bactérias.

2.2. Recirculação
LT naive circulam entre o sangue e a linfa.
Timo → linfa → gânglios linfáticos → sangue → linfa → Timo (quando não há activação).
A recirculação constante aumenta a probabilidade dos LT encontrarem os Ag para os quais são
específicos e serem então activados. Existem duas vezes mais CD4+ (Lth) que CD8+ (Ltc) em casos
normais. Num sistema imunodeprimido, CD8 > CD4.
Linfócitos-T γS:
 Ligam epitopos de modo semelhante aos Ac.
 Têm função na mediação da lise celular tumoral de modo não restritivo a MHC e respondem
a um Ag microbacteriano chamado PPD → grupo de proteínas heat-shock que aumentam
quando aumenta a temperatura ou há resposta inflamatória a infecções virais.
 Presente dos epitélios, são a 1ª Linha de Defesa contra a propagação do cancro ou infecção
viral.

34
Geração, activação e diferenciação dos Linfócitos-B (Cap. XI)

Maturação
Estado embrionário: na medula óssea, no saco vitelino, no fígado.
Resto da vida: na medula óssea.
Células estaminais (stem cells)

Células B progenitoras (pro-B cells): marcadoras na superfície celular – CD45R (tirosina


fosfatase), Ig-α, Ig-β, CD19, CD43, CD24, C-Kit. Proliferam na medula óssea, onde existe um
microambiente criado pelas células do estroma. A interacção destas células com os linfócitos-B faz-
se por moléculas de adesão celular. VLA-4 em pro-B cells e VCAM-1 em células do estroma.
Após interacção inicial, receptor de células progenitoras – C-Kit – liga-se a SCF (stem cells factor).
C-Kit – SCF → Activaçao de C-Kit → células B expressam receptor para IL7.

Células B precursoras (pré-B cells): IL-7 (citocina secretada pelas células do estroma) induz a
regulação (↓) das moléculas de adesão → libertação das pré-B cells das células do estroma. Tem
marcadores da superfície celular: Ig-α, Ig-β, CD19, CD24, CD25, pré-BCR.
Pré-BCR
A pré-cadeia α de um receptor de linfócitos-B é associado a uma Surrogate Light Chain. Este
complexo, quando associado a Ig-α ou Ig-β constitui pré-BCR.
Pré-cadeia α + Surrogate Light Chain + Ig-α/Ig-β → pré-BCR.
Só as células que apresentam pré-BCR podem prosseguir maturação. Cada pré-B cell com pré-BCR
multiplica-se em 32/64 células-filha. Cada uma tem arranjos nas cadeias leves, o que aumenta a
diversidade.
Factores de transcrição: E2A, EBP, BSAP
Linfócitos-B imaturos: surge Ig de superfície. Não há expressão de CD25 nem de pré-BCR.
Selecção negativa (90% dos linfócitos eliminados)
Linfócitos-B naive: exportados para a periferia. IgD associa-se à IgM da superfície membranar.

Subpopulações B1 e B2
 B1 com o marcador CD45; em pequenas quantidades nos órgãos linfóides secundários mas
muito presente no peritoneu; pouca variedade → baixa afinidade; liga-se pouco a Ag
peptídeos, mas liga-se a Ag com hidratos de carbono.
 B2 a mais comum.

35
Activação
Após exportação de linfócitos-B para a periferia ocorre activação, proliferação e diferenciação.
Todas estas fases de desenvolvimento requerem Ags, caso contrário, as células morrem em poucas
semanas por apoptose. Dependendo da natureza do Ag, a activação dos linfócitos-B processa-se
dependente/independentemente de linfócitos Th.
A resposta de linfócitos-B a Ag TD (timo-dependentes) requer contacto directo com linfócitos-T.
Ag que dispensam este contacto são TI (timo-independentes).
 TI 1: funcionam com alguns componentes da parede bacteriana (LPS). Activa LB
independentemente da sua especificidade.
 TI 2: moléculas altamente repetitivas, com proteínas poliméricas. Necessitam de citocinas
para activação de LB.
A resposta desencadeada por AgTI ≠ da de AgTD. A primeira é mais fraca, não se formam células
memória e IgM é o tipo de Ac mais predominante.

Origem dos sinais de activação/transdução:


1) Ligação Ag-Linfócito-B naive inicia transdução do sinal.
2) Igs de membrana têm cauda citoplasmática curta, a transdução tem de ser feita pela
associação a um complexo Igα/Igβ, formando-se BCR.
3) Fosforilação do ITAM, presente na cauda citoplasmática da nIg.
4) Activação de proteína cinase SRC.
5) Desfosforilação de SCR por CD45.
6) Alteração da expressão génica.

No linfócito-T, B7 estava no comando dos sinais estimulatórios, sendo activada por CD28 e inibida
por CTLA-4. No linfócito-B são B-cell correceptors que têm essa função. As B-cell correceptors
são um complexo de 3 proteínas – CD19, CD21 (receptor C3d, do factor complemento) e CD81 –
que serve para amplificar o sinal transmitido através do BCR.
Juntamente com o B-cell correceptor, existe CD22, que produz um sinal inibitório em células B em
repouso, tornando a activação mais difícil. Ainda assim, linfócitos-B naive expressam nIg com
baixa afinidade para as Ag, mas que são capazes de reagir com baixas concentrações de Ag.

Os linfócitos-B naive estão em fase G0. A activação desencadeia o ciclo celular que, na passagem
até à fase S, origina dois sinais:
 Sinal 1 – ligação dos mIg ao Ag, processado por via endocítica e ligação do produto a BCR.
 Sinal 2 – CD40L-CD40
Quando Th reconhece um Ag associado a MHC II num linfócito-B, forma-se um T-B conjugate.
Os linfócitos Th têm o aparelho de Golgi virado na direcção dos linfócitos-B, o que facilita a
libertação de citocinas na sua direcção. A interacção induz a expressão de CD40L nos Th, que
interage com CD40 nos B.
Sinal 1 + Sinal 2 → avanço do ciclo celular até G1.
Uma vez activado, o linfócito-B expressa receptores para várias citocinas – IL2, IL4, IL5 – que
sustentam o processo de proliferação, de diferenciação:
 Formação de plasmócitos.
 Formação de células memória.
 Mudança de classe (mudança de isótopo no Ac produzido).
 Maturação por afinidade (avanço progressivo de afinidade pelo Ac ao longo da activação).
36
Diferenciação (resposta humoral)
O 1º contacto de um Ag exógeno com um indivíduo dá origem a uma resposta humoral primária →
plasmócitos + células memória.
Resposta primária (IgM)
 Lag phase – células B naive sujeitas a selecção clonal, expansão clonal e diferenciação em
plasmócitos e células memória.
 Aumento logarítmico do nível sérico de Ac, atingindo valor máximo, estabilizando e
voltando a descer.
As células memória param a divisão em G0 e têm tempo de vida variável. A capacidade de
desenvolver uma resposta humoral secundária depende da existência de células memória B e
T.
Resposta secundária (IgD)
 Lag phase – mais curto, resposta mais rápida.
 Maior intensidade.
 Maior duração.
 Secreção de Ac com maior afinidade para Ag.
 Predominância de outros isotipos que não IgM.
 A resposta é mais rápida e de maior amplitude, pois a população de células memória para
um dado Ag é muito maior que a de linfócitos-B naive.

Resposta humoral a Hapten-Carrier Conjugates


Quando um animal é imunizado com um hapteno e um transportador (é necessária esta associação),
são produzidos Ac contra o hapteno e contra o transportador. A resposta humoral requer que sejam
reconhecidos diferentes epitopos no mesmo Ag pelos linfócitos Th e B. Se é usado um
transportador que não seja específico para o hapteno em causa, não ocorre resposta secundária →
Efeito do Transportador.

Assim sendo, conclui-se que tanto os linfócitos Th como os B têm de reconhecer epitopos de uma
mesma molécula para que surta a activação dos linfócitos-B → Reconhecimento Associativo.

Após a activação, alguns linfócitos-B e T migram para folículos primários, que então se
desenvolvem em folículos secundários. Aí, há um microambiente favorável à interacção entre os
linfócitos e as células dendríticas:
 Têm grandes extensões com receptores para a porção Fc dos Ac → complexos Ag-Ac
importantes na resposta secundária.
 Libertam pequenas partículas revestidas com células imunes – Iccossomas.
Durante a resposta secundária, estes iccossomas são libertados e ligados à nIg nos linfócitos-B, que
tenham especificidade para esses complexos imunes, sendo depois fagocitados.

37
Diferenciação nos centros germinativos
Linfócitos B activados em proliferação

Centroblastos: grande tamanho, citoplasma expandido, cromatina difusa, falta de nIg

Centrócitos: com mIg; movem-se da zona escura para a zona clara, onde contactam com Ag
apresentados pelas células dendríticas e com linfócitos-T

Células B memória
Plasmoblastos: migram para medula do gânglio linfático → Plasmócitos

A maioria dos centrócitos não se consegue ligar aos Ags apresentados pelas células foliculares
dendríticas, morrendo por apoptose e sendo fagocitado por macrófagos.
Ao longo do processo de diferenciação nos centros germinativos ocorre:
 A – Mudança de classe.
 B – Maturação por afinidade.
Tendo como resultado final a formação de células memória e plasmócitos. As células memória, a
não ser pelas mIg, não se distinguem de linfócitos-B naive pelas moléculas de membrana. Como
sofreram mudança de classe, apresentam todos os isotipos de mIg. Os plasmócitos não têm mIg e
secretam Ac.
A – Mudança de classe: este processo permite que a especificidade do Ac se mantenha constante
(preservação do domínio V), podendo o isotipo adaptar-se às suas funções. Na resposta humoral a
Ag TD, há extensas mudanças de classe. Na resposta humoral a Ag TI, predomina IgM. Para que
ocorra este processo é preciso a interacção entre CD40L-CD40.
B – Maturação por afinidade: fenómeno originado essencialmente por hipermaturação somática,
que gera alterações nas regiões variáveis das mIg.

A selecção das Ig é feita por Ag. É escolhido o Ac que tiver mais afinidade para com o Ag em
questão. As mutações geram BCR de baixa afinidade e de alta afinidade e as primeiras são
eliminadas por selecção negativa, isto na zona clara. Factores que determinam o tipo de selecção:
 Só o sinal gerado pela interacção dos linfócitos-B com os Th (CD40L-CD40) permite que os
linfócitos-B sobrevivam e prossigam o ciclo celular, diferenciação.
 Só os linfócitos-B cuja B7 e Ag apresentado às MHC II interajam com o CD28 e TCR dos
linfócitos Th sobrevivem.
 Só os centrócitos que se ligam bem aos Ags apresentados pelas FDC transmitem outro sinal
que lhes permite sobreviver. Os centrócitos têm de competir pela ligação às pequenas
quantidades de Ag. Só os que têm maior afinidade é que se ligam e geram tal sinal.
Na ausência de alguns destes sinais → Apoptose.

Regulação da resposta imunitária efectora


Dependendo do reconhecimento por linfócitos T ou B, quando o Ag é detectado pelo SI, pode
desencadear uma resposta imunitária ou não (tolerância).
→ Regulação mediada por Ag: competição antigénica → RI a Ag não seleccionado!
→ Supressão mediada por Ag: se ao indivíduo infectado por Ag for logo administrado o Ac, estes
competem com linfócitos-B específicos para esse Ac, diminuindo a activação de LB → menor

38
secreção de Ac. Daí os bebés não receberem certas vacinas. Se ainda estiverem imunizados com
IgG materna, levaria a ↓ da resposta humoral e à não produção de células memória adequadas.

39
Citocinas (Cap. XII)

São proteínas ou glicoproteínas de baixo peso molecular e com vida curta. São secretadas em
resposta a estímulos e medeiam a interacção entre as várias células do SI. Podem ter acção
autócrina, parácrina ou endócrina. Regulam a intensidade e duração da resposta imunitária,
estimulando/inibindo a activação, proliferação e diferenciação de células que regulam a secreaçao
de Acs e de outras citocinas. Características:
 Pleiotropia.
 Redundância.
 Sinergia.
 Antagonismo.
 Citostáticas.
 Indução de cascata.
 Citotóxicas
 Anti-víricas.
Classificação
 Activadoras de células do SI.
 Função
 Reguladoras de inflamação.  Hematopoiéticas.
 Estimuladoras de hematopoiese  Quimiocinas.
 Famílias  Interleucinas.
 Estruturas 2 Tipos de cadeias:  Factores de crescimento.
 α – cadeia curta e longa.  Factores de necrose tumoral.
 β – grupos CMS  Reguladoras do crescimento celular.

As citocinas actuam sobre numerosas respostas fisiológicas:


 Desenvolvimento da resposta imunológica, humoral ou celular.
 Indução da resposta inflamatória.
 Regulação da hematopoiese.
 Controlo na proliferação e diferenciação.
 Cicatrização de feridas.
Estas substâncias actuam indiscriminadamente sobre todas as células que encontram, desde que
estas apresentem o receptor que lhes é específico e estejam fisiologicamente aptas à resposta
celular.
Assim sendo, como é regulada a resposta? Para desencadear os seus efeitos, ela tem de se ligar a
receptores específicos, mesmo existindo estes em inúmeras células. Daí ser necessário caracterizar
os diferentes receptores. Existem, então, 5 famílias de receptores:
 Da superfamília das Ig.
 De citocinas de classe I (família hematopoiética).
 De citocinas da classe II (família interferão).
 De FNT.
 De quimiocinas.

A maioria dos receptores são da família hematopoiética – 4 níveis de cisteína + sequência de


triptofano-serina-AA-t.-s.. Os receptores da família interferão – 4 níveis de cisteína + não tem
sequência t-s-AA-t-s.

40
A maioria dos receptores destas duas famílias (classes I e II) são dímeros – 1 subunidade especifica
para a citocina + 1 subunidade de transdução do sinal. Também há receptores desta família de
estrutura trimética.
A ligação da citocina ao receptor induz a fosforilaçao de tirosinas cinases neste, embora este não
tenha essa acção. Supõe-se então que os receptores de citocinas estejam associados a moléculas de
tirosina cinase.

41
Sistema de Complemento (Cap. XIII)

No soro, existem 2 substâncias:


 Anticorpos (Acs) – resistentes ao aquecimento.
 Sistema de complemento:
o Sensível ao aquecimento.
o Responsável pela actividade de lise.
o Constituído por um conjunto de proteínas:
 Mais de 30 proteínas de membrana sintetizadas maioritariamente no fígado.
 Circulam no sangue de forma inactiva, até clivagem proteolítica, que remove
segmentos inibitórios.
Após activação inicial, os sistemas do complemento levam à:
 Lise de células bacterianas e virais.
 Opsonização.
 Resposta imunitária, por ligação destes às células antigénicas.
 Remoção de complexos imunes de circulação e sua deposição no baço e no fígado.
Existem 3 vias de activação do complemento:
 Via clássica
 Formação de complexos Ag-Ac, activação por IgM + 2 IgG.
 C1, C2, C3, C4 presentes no plasma na forma inactiva.
 Ag + Ac → mudanças na porção Fc de IgM expõe 3 sítios de ligação para C1.
 2 IgG, cada uma com um sitio de ligação, interagem com C1.
 Formação de C3b → associa-se a C4bC2a e difunde-se e cobre complexos imunes
(opsonização).
 Processo culmina com formação de C5b + C6 = MAC.
 Via alternativa
 Não necessita de Ac para formar C5b (imunidade inata).
 É desencadeada por moléculas estranhas ao organismo, como componentes da
parede de bactérias Gram positivas e negativas.
 C3b liga-se directamente ao Ag de superfície. O resto da via envolve C3, factor B e
factor D.
 Membranas de mamífero com ácido sicílico inactivam C3b.
 Via lectina
 Não necessita de Ac para formar C5b.
 Lectinas – proteínas que se ligam a hidratos de carbono.
 1ª fase – MBL (proteína de fase aguda produzida em respostas inflamatórias com
estrutura semelhante a C1, manose binding lactin) + resíduos de manose em
glicoproteínas ou na superfície do microrganismo.
 2ª fase – MBL + resíduos de manose + MASP (MBL associated serine protease) +
composto activo que cliva C4).

42
Os passos finais são iguais nas 3 vias:
MAC, complexo de ataque de membrana, formado pela interacção de C5b, C6, C7, C8 e C9.
MAC muda os fosfolípidos de lugar na membrana e forma um canal transmembranar.
 As 3 vias culminam na formação de C5b, que se liga à membrana da célula-alvo, criando
sítio de ligação para os restantes factores de complemento.
 C5b + C6 = C5b6.
 C5b6 + C7 = C5b67, estrutura que expõe região hidrofóbica da membrana, inserindo-se na
bicamada fosfolipídica.
 C5b67 + C8 = C5b678, alteração que expõe a membrana, criando um poro. Pode levar à lise de
GV, mas não de células nucleadas.
 C5b678 + C9 = C5b6789, aumenta o poro, e iões e pequenas moléculas passam livremente.
A célula torna-se incapaz de manter equilíbrio osmótico e é morta pelo influxo de água e saída de
electrólitos.

O Sistema Complemento não é específico, sendo portanto capaz de atacar o próprio. São precisos
mecanismos de defesa:
 Inactivação espontânea quando se afastam demasiado da célula (se C6 demora mais de 2
minutos a ligar-se a C5b, este é inactivado).
 Ligaçao de proteínas séricas a C5b67 para evitar lise de células vizinhas.
O Sistema Complemento é muito importante na defesa contra vírus, os que têm envelope são mais
susceptíveis à lise.
O MAC também participa na defesa contra bactérias, mas algumas Gram positivas, graças à sua
camada de protegoglicanos, impedem a ligação do MAC. Também algumas Gram negativas têm
aumentado a resistência à lise, pois a presença de lipossacarídeos de longas cadeias faz com que o
MAC se liberte em vez de formar poros.

Anafilotoxinas: peptídeos mais pequenos resultantes da clivagem de factores de complemento


durante a sua activação.
 Ligam-se a receptores de mastócitos e basófilos, provocando a libertação dos seus grânulos
de histamina.
 Causam a contracção do músculo liso e aumentam a permeabilidade vascular.
Deste modo, o Sistema Complemento aumenta o influxo que traz Ac e células fagocíticas para o
sítio de entrada do Ag. Só assim é possível a chegada ao local das células necessárias ao combate da
inflamação.

43
Respostas Efectoras (Cap. XIV)

É o ramo celular da resposta imunitária, que usa células específicas e inespecíficas. As


anafilotoxinas podem contribuir para a produção de células necessárias a este ramo. Pode ser
dividida em 2 ramos:
 Células efectoras com actividade citotóxica.
 Células efectoras de DTH (delayed-type hypersensibility).

Actividade citotóxica
Possui células específicas e células inespecíficas.
3 Tipos de células efectoras (≠ dos linfócitos T naive devido a A, B e C):
 CD8+ CTL
 CD4+ Th9
 CD4+ Th2

A – Maior sensibilidade.
A activação de linfócitos-T naive requer sinal emitido por TCR + (Ag-MHC) e sinal co-
estimulatório B7-CD28.
A activação de células efectoras apenas precisa do sinal emitido pela interacção do TCR com o Ag
ligado a MHC na célula-alvo (APC). Deste modo, as células efectoras e as células T memória são
mais sensíveis à activação, conseguem responder a células sem as moléculas de B7.
B – Maior quantidade de moléculas de adesão.
Os linfócitos-T efectores apresentam maiores quantidades de moléculas de adesão celular do que os
linfócitos-T naive. Níveis altos de CD3 e de LFA1 permitem ligações mais eficazes à célula-alvo,
que têm LFA-3 e ICAM (CD3-LFA3; LFA1-ICAM).
A interacção com APC é inicialmente fraca, enquanto TCR procura peptídeos ligados a MHC. Se o
TCR não os encontra, a célula solta-se, mas se os encontrar, é emitido um sinal que aumenta a
afinidade de LFA1 por ICAM, prolongando a interacção entre as 2 celulas.
Se CTL, sente a inactivação de células tumorais ou infectadas por vírus. Se Th 1, há activação de
macrófagos. Se Th2, activam-se os linfócitos-B.
C – Produção de moléculas efectoras.
As células efectoras, ao contrário de linfócitos-T naive, produzem moléculas efectoras solúveis:
 CTL → citotoxinas (porforinas e granzimas) e citocinas (IFN-α e TNF-β).
 Th1 → citocinas que participam em funções mediadas por células e na produção de IgG,
promotora de opsonização.
 Th2 → citocinas que participam na resposta inflamatória e humoral.

44
CTL
São CD8+, e portanto restritos a MHC I. São fundamentais no reconhecimento e eliminação de
células próprias alteradas. A sua resposta imunitária tem duas fases:
 1º – Activação e diferenciação de TC naive em CTL – requer 3 sinais, que são emitidos
por:
1) TCR + (Ag+MHC).
2) CD28 + B7.
3) IL2 + IL2R (receptor).
Quando ↓ IL2, ocorre apoptose de Th1 e CTL e pára a resposta imunitária.
 2º – Fase efectora – sequência orquestrada em eventos:
1) Formação de conjugado – TCR-CD3 reconhece Ag ligado a MHC I e LFA-1 e CTL
liga-se ao ICAM.
2) Ataque de membrana – O complexo de Golgi de CTL vira-se para a célula-alvo e
liberta grânulos por exocitose. Primeiro as porfirinas contactam com a membrana da
célula-alvo, provocando uma mudança estrutural (expõe o domínio anfipático) que
resulta na formação de poros. De seguida, as granzimas penetram na célula-alvo
através desses poros, indo activar a clivagem do DNA e então o processo apoptótico.
Além das granzimas, o FAS-L, também produzido por CTL, é capaz de induzir o
processo apoptótico. Os CTL usam as granzimas de FAS-L para mediar activação
proteolítica das caspases.
3) Dissociação de CDL.
4) Destruição da célula-alvo.

NK
São linfócitos CD4- e CD8- envolvidos na resposta imunitária contra vírus e tumores pela libertação
de citocinas como IFN-γ. A sua actividade é estimulada por IL12, IFN-α e IFN-β. Não sofrem
maturação no timo nem rearranjos nos genes que codificam receptores – são inespecíficas.
A resposta imunitária dos NK é semelhante à dos CTL, excepto nas seguintes características:
 Grânulos sempre presentes.
 Não têm TCR ou CD3.
 O reconhecimento não é restrito a Ag ligados a MHC.
 Não têm células memória.
Esta resposta imunitária é regulada pelo balanço entre receptores activadores e inibitórios, podendo
então ser responsável pelo reconhecimento de células tumorais ou infectadas e também de células
saudáveis. Os sinais de activação são produtos solúveis, como citocinas que são produzidas por
CD2, CD28 e por CD16:
 IFN-γ
 IFN-β
 FNT-α
 IL12
 IL15
Os sinais de inactivação são produzidos quando NK encontram células com altos níveis de MHC.
Inibitórios, evitam a proliferação, produção de citocinas e morte (ex: CLIR, ISIR).

45
ADCC (antibody dependent cell-mediated citotoxicity)
Várias células citotóxicas têm receptors para região Fc dos Ac, que então podem estar ligados a Ac,
por sua vez ligados a células-alvo. O Ac aproxima então a célula citototóxica da célula-alvo, e
sendo específico, leva as primeiras a determinado Ag.
São exemplos NK, macrófagos, monócitos, neutrófilos, eosinófilos. A morte por ADCC não
envolve a lise mediada por complementos, mas a participação de mecanismos citotóxicos, com a
produção de enzimas líticas.

DTH
Resposta inflamatória localizada induzida por citocinas secretadas por Th activados no encontro
com alguns tipos de Ag. É muito importante na defesa contra Ag extracelulares e Ag de contacto.
Ex: células de Langerhans – células dendríticas da epiderme que levam Ag para gânglios linfáticos.
Ex: macrófagos.

1º - Fase de sensibilização
Lt activados: CD4+ → TDTH
2º - Fase efectora
Desencadeada pela exposição ao Ag, TDTH passam a secretar citocinas que atraem macrófagos e
outras células inespecíficas inflamatórias, e activam-nas. Citocinas também induzem a passagem de
monócitos da corrente sanguínea para o sangue.
Esta fase só tem resultado prático passadas 24h da exposição ao Ag, o que reflecte o tempo
necessário à acção das citocinas (influxo e activação de macrófagos, que passam a expressar MHC
II em maiores quantidades e a apresentar níveis mais altos de fagocitose).
Citocinas envolventes: IFN-γ e INF-β → actuam nos tecidos, facilitando o extravasamento dos
monócitos e de outras células não específicas: MCAF (atrai macrófagos) e MIF (inibe migração
adicional de macrófagos, mantendo-as no local da DTH).
A DTH também é muito importante na eliminação de células infectadas com patogéneos
intracelulares. Mas sendo uma resposta inespecífica, pode causar danos teciduais, principalmente se
for prolongada.
Na DTH prolongada, pode ocorrer a formação de granulomas. A formação contínua de macrófagos
induz a aproximação e eventual fusão destes, originando células gigantes que destroem tecidos, pelo
aumento de enzimas líticas, e formam nódulos palpáveis.
DTH e SIDA
Em indivíduos seropositivos, CD4+ < CD8+.
↓ CD4+ → ↓ Th1→ ↓ Resposta retardada (pois hipersensibilidade) → Infecções por Ag
intracelulares.
Neles ocorrem reacções de hipersensibilidade muito mais facilmente através de DTH retardado,
mais cedo que em indivíduos normais.

46
Reacções de hipersensibilidade (Cap. XVI)

Geralmente, a resposta imunitária usa respostas efectoras que induzem respostas inflamatórias, as
quais então removem o Ag sem danificar o tecido. No entanto, podem surgir respostas inadequadas,
quer no decurso da resposta humoral, quer na mediada por células.
As reacções anafiláticas são imediatas. Há 3 tipos de hipersensibilidade imediata:
 Tipo I
 Tipo II
 Tipo III
Existe um tipo de hipersensibilidade retardada, dependente de células, iniciado por linfócitos TDTH.

Hipersensibilidade Tipo I (HI)


 Induzida por alérgenos.
 Características semelhantes à resposta humoral, o que as distingue é os plasmócitos aqui
produzirem IgE → liga-se com grande afinidade a receptores Fc dos mastócitos e basófilos,
que então se dizem sensibilizados. Uma 2ª exposição conduz à desgranulação, com
vasodilatação e contracção do músculo liso.

Componentes das reacções HI


 Alergéneos: são Ags, que não parasitas, capazes de estimular reacções HI. A maioria das
pessoas usa IgE como defesa contra os parasitas. Algumas pessoas apresentam atopia –
predisposição hereditária para o desenvolvimento da hipersensibilidade imediata contra Ags
comuns. Estes indivíduos atópicos têm altos níveis de IgE e de eosinófilos, sendo mais
susceptíveis a alergias, eczemas e asma. A maioria das reacções alérgicas por IgE ocorre nas
mucosas, em resposta a Ag que entram no organismo por inalação ou ingestão.
 Anticorpo – IgE: quando injectado em indivíduo sensibilizado, ocorre reacção P.K.
IgE tem 2 cadeias leves + 2 cadeias pesadas + domínio adicional, CH4, o qual contribui para
a ligação da porção Fc a receptores, FcR, na superfície de mastócitos e basófilos. A vida
média de IgE é de 2,5 dias, mas quando ligada a receptores, é estável durante várias
semanas.
 Mastócitos e basófilos: têm grânulos com substâncias farmacologicamente activas
(histamina e aminas tensoactivas).
 IgE-binding FcR: a actividade reagínica de IgE depende da capacidade de se ligar a
receptores específicos para a porção Fc das cadeias ε (pesadas). Existem dois tipos de
receptores: FcεRI e FcεRII. Os mastócitos e os basófilos expressam FcεRI, que se liga a IgE
com maior afinidade, permitindo que ↓ [IgE] se ligue a essas células.
1) Ligação cruzada de FcεRI.
2) Metilação de vários fosfolípidos.
3) ↑ Fluidez de membrana e formam-se canais de Ca2+:
 Formação de mtbs.
 Formação de ácido araquidónico: prostaglandinas e leucotrienos.
Então, medicamentos que bloqueiam o Ca2+ podem ser usados no tratamento de alergias.
AMPc bloqueia desgranulação.

47
Quando há uma invasão por parasitas, os mediadores libertados pelos mastócitos e basófilos
causam dilatação e aumento da permeabilidade vascular, o que então aumenta o influxo de
células inflamatórias que atacam o agente patogénico. Mas se os mediadores forem
libertados devido a um alergéneo, a inflamação desenvolvida é desnecessária e prejudicial.
 Mediadores:
o Primários: produzidos antes da desgranulação, armazenados em grânulos: histamina,
proteases, heparina, factor quimitóxico de eosinófilos.
o Secundários: sintetizados após activação da célula-alvo: factor de activação de
plaquetas, citocinas, leucotrienos, prostaglandinas, bradicinina.
 Histamina: actividade biológica sé é vista alguns minutos depois da activação dos
mastócitos. Liga-se a 3 tipos de receptores:
 H1: constrição intestinal e brônquica; ↑ permeabilidade de vénulas.
 H2: vasopermeabilidade; vasodilatação; estimulação de glândulas endócrinas;
ligação de histamina a receptores H2 inibe desgranulação: mecanismo de
feedback negativo.
 H3.
 Leucotrienos: broncoconstrição; vasopermeabilidade; produção de muco.
 Prostaglandinas: vasodilatação.
 Citocinas
 Regulam o microambiente, recrutando células inflamatórias.
 IL4 → ↑ produção de IgE.
 ↑ [FNT-α] por actividade dos mastócitos pode conduzir ao choque
anafilático.

Consequências das reacções HI


 Choque anafilático: falha dos sistema respiratório, circulatório e gastrointestinal.
Tratamento com epinefrina – relaxa o músculo liso, reduz permeabilidade vascular, aumenta
o débito cardíaco.
 Atopia: reacção limitada a um tecido ou ao órgão, no sítio de entrada do alergéneo.
o Rinite alérgica, asma, alergia a alimentos. Asma:
Fase precoce – histamina, leucotrienos, prostaglandinas.
Fase tardia: IL4, IL5, IL6, FNT-α, factor quimiotóxico de eosinófilos, factor activador de
plaquetas.

Regulação da resposta de HI
Níveis de IgE influenciados por:
 Constituição genética do animal.
 Dose de Ag.
o Doses pequenas → resposta contínua de IgE.
o Doses grandes → produção transitória de IgE, com mudança para IgG.
 Modo de apresentação do Ag.
o A Th1 → inibição da resposta devido à secreção INF-α (indivíduos normais).
o A Th2 → aumento da resposta por IL4, que induz mudança de classe para IgE e
regula a expansão clonal do linfócito-B (indivíduos atópicos).

48
Detecção de HI
Por testes cutâneos: rápidos e baratos mas podem causar alergias ou mesmo choque anafilático.
Terapia para HI
 Imunoterapia com doses crescentes e repetidas de alergéneos pode diminuir a gravidade das
reacções. Levam a que seja produzida IgG, Ac bloqueador, pois compete pelo alergéneo,
forma complexos fagocitários → Ag eliminados → ↓ ligação IgE → ↓ sintomas.
 Anti-histamínicos e cortisona.

Hipersensibilidade Tipo II (HII)


Hipersensibilidade citotóxica mediada por Ac.
Ac podem mediar destruição celular por activação do complemento, via clássica.
Ac podem participar no ADCC, células citotoxicas com receptores Fc que se ligam à região Fc dos
Ac, promovendo a aproximação das células e a morte das primeiras.
Reacções HII são típicas de transfusões sanguíneas:
 Várias proteínas e glicoproteínas são expressas na membrana dos eritrócitos → transfusão
→ resposta imunitária desenvolvida (em alguns casos já existiam Ac devido à exposição a
epitopos semelhantes de microrganismos).
Se um individuo do tipo sanguíneo A sofre uma transfusão de sangue tipo B, as
isohematoglutininas anti-B ligam-se a eles, mediando a sua destruição por lise mediada pelo
complemento → hemólise intravascular e hemoglobúria (hemoglobina → bilirrubina).
Via de acção retardada, com isotipo G predominante, que não é tão eficaz como IgM na
activação do complemento, e muitas vezes a lise das células não é completa.
 Doença hemolítica do feto: quando IgG materno específico para Ag do tipo de sangue do
bebé atravessa a placenta e destrói o GV do feto.
Pode ser detectada testando o soro maternal em busca de Ac anti-Rh. Se positivo, a mãe está
a criar Ac anti-Rh contra os GV do filho.
Tratamento depende do grau de severidade da situação:
Muito severo – transfusão sanguínea endovenosa para substituir os GV do bebé (Rh- por Rh+
ou o contrário).
Menos severo – à nascença, bebé exposto a baixos níveis de UV para destruir bilirrubina.

Hipersensibilidade Tipo III (HIII)


Hipersensibilidade mediada por complexos imunes.
A reacção de Ac com Ag gera complexos imunes, que facilitam a eliminação por células
fagocíticas, pois são maiores e mais facilmente identificadas.
Na hipersensibilidade HIII, estes complexos causam danos nos tecidos. A magnitude da reacção
depende da quantidade e da distribuição dos complexos: se junto ao local de entrada do Ag, reacção
local, se se formam no sangue, a reacção ocorre no local de deposição: rim, articulações sinoviais,
cérebro, etc.
A deposição dos complexos imunes atrai neutrófilos. O tecido envolvente é lesado pela libertação
de grânulos (edema + rubor).
Uma reacção de HIII ocorre se os complexos activam complemento → células imunes efectoras →
anafilotoxinas → desgranulaçao de mastócitos → ↑ vasopermeabilidade.

49
Reacção generalizada HIII: por administração de antitoxinas com soro estranho, formando-se Ac
contra proteínas do soro → formam complexos imunes com Ag do soro → Doença do soro.

Hipersensibilidade Tipo IIII (HIIII)


Hipersensibilidade mediada por TDTH
Activação de linfócitos TDTH (Th1 ou Tc) por APC
Secreção
Citocinas – IL2, IFN-γ, TNF-β, MIF.
Atracção e activação de
Macrófagos – promoção de fagocitose e libertação de enzimas líticas.
Esta reacção é retardada, demora 2-3 dias a ocorrer.
 Importante na defesa contra microrganismos intracelulares, fora do alcance dos Ac.
 Presença de enzimas líticas é prejudicial.
 Se o processo não é 100% eficaz, a presença crónica de patogéneo leva a DTH crónica → lesão
tecidular (ex: tuberculose, lepra, dermatites de contacto)

50
SIDA e outras imunodeficiências (Cap. IXX)

Quando o organismo falha na sua protecção, diz-se imunodeficiente:


 Primário – estado que resultou de um erro genético ou de desenvolvimento.
 Secundário (adquirido) – perda da função imune por exposição a diversos agentes (mais
grave → SIDA.

Imunodeficiências secundárias
 Hipogamaglobulinémia – doença de origem desconhecida. Infecções recorrentes, pois
↓[Ig], apesar de haver linfócitos.
 Exposição a agentes químicos e biológicos:
o Imunossupressores
o Radio e quimioterapia
 SIDA: descoberta em 1981 em LA, NY e S. Francisco. Doentes apresentavam doenças
oportunistas e diminuição de Th (<200/mm3).
Meios de transmissão:
o Mãe-filho, no canal de parto ou em aleitamento.
o Transfusões sanguíneas.
o Relações sexuais desprotegidas (a presença de outras DST aumenta o risco de
transmissão, pois originam feridas e activam LT, então mais susceptíveis).
HIV1 é um retrovírus: informação genética em RNA → transcriptase reversa → DNA, pré-vírus
→ integrado no genoma da célula, replicação → novos viriões → lise celular → infecção de outras
células.
[outro retrovírus semelhante ao HIV1 é o HTLV1 → leucemia e malopatia]
Os estudos em animais são dificultados pois o HIV1 não se replica. São infectados por HIV2,
menos patogénico em humanos.

51
Estrutura de HIV1
Transcriptase reversa (p64)

MHC

Protease p10

SS RNA p24

gp41
p17
gp120
Integrase p32

Cada virião expressa 72 glicoproteínas membranares compostas por gp41 e gp120 e proteínas MHC
I e II.
gp41: molécula transmembranar que atravessa a bicamada lipídica.
gp120: associada a gp41, é o receptor para CD4+.
No nucleocapsídeo, camada de p17 e outra, mais interna de p24. O genoma é composto por single-
stranded RNA associado a duas moléculas de p64 (transcriptase reversa).
Também presente está uma protease p10 e uma integrase p64.
CxCR4: correceptores nos linfócitos-T.
CCR5: correceptores nos macrófagos.
Percebe-se então porque algumas estirpes atacam preferencialmente uma outra população
leucocitária.
A infecção de linfócitos-T por algumas estirpes de vírus leva à formação de syncitic cells (células
gigantes) pela fusão de um grupo de células pela interacçao de gp120 na superfície de células
infectadas com o CD4 de outros, infectados ou não.
Syncitic cells evitados pelo uso de: Ac contra epitopos de CD4, frames solúveis de CD4, Ac contra
moléculas de adesão celular.
Algumas citocinas têm efeito positivo nos vírus, pois ↑ expressão de receptores de quimiocinas.
Algumas citocinas têm efeito negativo nos vírus, pois ocorre competição na ligação ao receptor.

52
Progressão do vírus HIV
Teste de infecção por HIV1 mais comum: determinar se existem Ac contra o vírus no soro → cerca
de 3 meses após infecção, o indivíduo possui Ac anti-HIV e diz-se seropositivo. Analisa-se também
a existência/ausência de doenças oportunistas e o número de linfócitos Th.
Fase aguda: no período entre a infecção e a doença grave, há poucos sintomas. ↑ HIV1 no plasma e
↓ Linfócitos Th são os primeiros sintomas. Mas infecção inicial causa disseminação do vírus para
órgãos linfóides → resposta imunitária forte → Ac e linfócitos Tc mantêm vírus sob controlo →
Diminuiçao da carga viral. Contudo, mesmo com níveis estabilizados, o vírus é constantemente
reproduzido e continua a infectar linfócitos Th.
O número de linfócitos CD4+/mm3 classifica doença em A, B e C, também consoante doenças dos
indivíduos. A evolução faz-se de A → C.
Fase crónica: após fase aguda, duração depende da carga viral. Linfócitos-T tentam manter carga
viral constante, mas a sua semi-vida é reduzida para 1,5 dias.

Anomalias associadas à progressão da doença


 Nódulos linfáticos
o Destruição de células dendríticas.
o Incapacidade de captar Ag e de activar linfócitos T e B.
 Th Cells
o Decréscimo de Th, incapacidade de resposta.
 Produção de Ac
o ↑ IgG e ↑ IgA (devido à falta de controlo sobre linfócitos-B pelas citocinas
produzidas por linfócitos-T) e ↓ IgM.
 Produção de citocinas
o Aumenta, sendo maior a produção por Th2 do que por Th1
 DTH
o ↓ de capacidade proliferativa de TDTH; ↓ reactividade em testes cutâneos.
o Eliminação de TDTH; ausência de reactividade em testes cutâneos.
 Tc Cells
o Actividade normal
o ↓ Actividade de CTL

Pesquisa da Vacina
O ciclo de vida de HIV1 pode ser bloqueado em vários pontos:
 Inibição da transcriptase reversa.
 Inibição da protease que cliva precursores que formarão novos vírus.
 Medicamento: A2T – eficaz em alguns pacientes, mas eficácia limitada pois o vírus torna-se
resistente e há muitos efeitos secundários. Além disso, transcriptase reversa humana também
incorpora A2T no DNA → destruição de células saudáveis → anemia.
 Terapia de combinação: HAART (highly active anti-retroviral therapy)
2 análogos de nucleósidos + inibidor da protease → vírus não desenvolve resistência.
Baixa carga viral → melhora qualidade de vida.
Polimedicamentação → muitos efeitos secundários e horário rígido.

53
Porquê a dificuldade em encontrar uma vacina?

 A maioria das vacinas previne contra a doença e não contra a infecção, o que no caso da
SIDA é inútil, pois o RNA viral é integrado no genoma por muito tempo, permanecendo em
latência.

 A maioria das vacinas são eficazes contra infecções por vírus que não sofrem muitas
variações. HIV1 tem um genoma muito instável e facilmente sofre mutações.

 A maioria das vacinas usa microrganismo mortos ou atenuados que sejam facilmente
eliminados por resposta imunitária, o que não é seguro em doenças provocadas por
retrovírus.

 A maioria das vacinas protege da infecção por via respiratória ou gastrointestinal. A via
de infecção pelo HIV1 é a via genital.

 A eficácia das vacinas é testada em animais. HIV1 não se replica em animais.

 Outro problema seria saber se o indivíduo está imunizado, pois os testes de diagnóstico
actuais diriam que um indivíduo vacinado (com Ac anti-HIV) seria seropositivo.

54
Imunologia dos transplantes (Cap. XXI)
Transplantação: acto de transferir células, tecidos ou órgãos de um sítio para o outro.
A necessidade de fazer transplantes vem do facto de muitas doenças poderem ser tratadas por
transplante de células, tecidos ou órgãos (enxerto) de um indivíduo (dador) para outro (receptor)
Limites:
 Falta de dadores e órgãos.
 O próprio sistema imunitário que protege o organismo de organismos estranhos (rejeição,
aguda ou crónica).
 Problemas técnicos ligados à implantação dos órgãos.

Tal como um microorganismo é reconhecido como não-próprio, também os transplantes o são e


desencadeiam resposta imunitária contra eles, o que leva à rejeição em todos os indivíduos excepto
num que seja geneticamente semelhante.
Nota: nos dias de hoje, o coração, os rins, os pulmões, o pâncreas, o fígado, a córnea e a medula
óssea podem ser transplantados entre indivíduos não-idênticos, usando técnicas
imunossupressoras.

A descoberta do Sistema ABO foi fundamental para o sucesso de muitos transplantes porque
permitiu descobrir que o SI reconhecia componentes geneticamente diferentes, desencadeando uma
resposta muitas vezes fatal.
Além da sua importância nas transfusões sanguíneas, o Sistema ABO é importante também nos
transplantes de órgãos e tecidos, pois o endotélio vascular também expressa Ag do Sistema
ABO, pelo que também podem ser atacados em caso de incompatibilidade.
Nota: O sistema RH não interfere porque os seus Ag são só expressos em glóbulos vermelhos.
Durante a 2.ª Guerra Mundial, verificou-se que transplantes de tecidos no mesmo organismo eram
bem sucedidos, mas transplantes entre 2 indivíduos não o eram, e ainda que um 2.º transplante feito
a partir do mesmo dador levava a uma rejeição mais rápida e violenta (resposta imunitária
secundária)
→ O 1.º transplante bem sucedido ocorreu há 50 anos entre gémeos.

O estudo da imunologia dos transplantes levou à descoberta do MHC (HLA nos humanos).
1. Descoberta de um complexo principal de histocompatibilidade em todas as espécies de
mamíferos.
2. As moléculas MHC humanas (HLA) são os Ag principais de histocompatibilidade.
3. As moléculas MHC têm um papel fundamental no SI (apresentação de peptídeos
antigénios).

55
Objectivo da Imunologia dos Transplantes:
Evitar a Rejeição

Foi conseguido através de fármacos imunossupressores, que protegem o órgão transplantado.

Estes fármacos apresentam um grande problema que é o efeito imunossupressor geral, o que leva a
que o indivíduo fique muito mais exposto a doenças.

O futuro é o desenvolvimento de medicamentos que provoquem tolerância ao transplante sem


provocar esse efeito no restante sistema imunitário.

Tipos de Transplantes:
a) Autólogos (Autograft) – transplante de tecidos dentro do mesmo indivíduo (geralmente
devido a queimaduras).
b) Singénicos (Isofraft) – transplante de tecidos entre indivíduos geneticamente idênticos,
como gémeos idênticos.
c) Alogénicos (Allograft) – transplante de tecidos entre 2 indivíduos da mesma espécie, mas
geneticamente diferentes.
d) Xenogénicos (Xenograft) – transplante entre indivíduos de espécies diferentes.

Os autólogos e os Singénicos são geralmente aceites. Os alogénicos são por vezes rejeitados e os
xenogénicos são os mais rejeitados, devido à diferença genética óbvia.

O grau de resposta imune varia com o tipo de “graft”

Estudos mostraram que os linfócitos CD4+ e o CD8+, estão envolvidos na rejeição de Alogénicos,
pois experiências mostraram que a remoção de ambas as populações linfócitárias, prolongavam
muito a sobrevivência dos transplantes.

Quais os antigénios em causa na resposta de Rejeição (para além dos Ag do Sistema ABO)?

 H-2 no rato
Sistema MHC
 HLA no humano

Características da resposta de rejeição:


→ Imunidade Específica
 Memória.
 Especificidade.
 Resposta Mediada por Linfócitos.

56
Complexo HLA
1) Contém genes muito próximos, pelo que são herdados como um conjunto completo de cada
progenitor, chamado haplotipo → Entre pais e filhos não há histocompatibilidade, pois um
dos haplotipos é materno e o outro é paterno.
2) Grandes quantidades de polimorfismos → Mesmo entre irmãos a probabilidade de serem
histocompativeis é de apenas 25%.
3) Poligénico.
4) Baixa taxa de recombinação (genes de 1 cromossoma herdado em conjunto).

Sistemas de tipagem dos tecidos para determinar a histocompatibilidade entre dador e receptor:
I. Compatibilidade do Sistema ABO
Anticorpo contra estes Ag levam ao desenvolvimento de Ac contra Ag do transplante e à
lise mediada por Ac e pelo Sistema Complemento.
II. Tipagem de HLA por testes de microtoxicidade
Os leucócitos de vários dadores são postos em poços com Ac contra MHC I e MHC II,
sistema complemento e corantes. As células que sofrem lise pelo complemento e coram têm
o MHC desejado.
III. Determinar os diferentes graus de compatibilidade através de mixed limphocyte reaction
(MLR).
Indicam o grau de activação dos linfócitos Th. Mas demoram vários dias.
Nota: A compatibilidade HLA não é o único determinante, pois mesmo em indivíduos compatíveis
no HLA ocorre, por vezes, rejeição, devido ao Minor Histocompatibility Complex (Minor HC)
MHC  os Ag são reconhecidos pelos linfócitos Th e Tc directamente, num fenómeno chamado
Aloreactividade
Minor HC  os Ag só são reconhecidos num contexto de moléculas MHC do próprio. Rejeições
menos vigorosas.

Complexo HLA
→ Compreende uma série de genes localizados no braço curto do cromossoma 6
Tem 3 regiões demarcadas:
 Classe I (mais telomérica).
 Classe II (próxima do centrómero).
 Classe III (entre as anteriores)
Em cada classe existem genes diferentes, sendo a Classe II a mais complexa.

Classe I Classe II Classe III


Locus DR, DQ e DP (mais
importa para a cadeira α e β).
Codifica factores de
Genes A, B e C (genes TAP1 e TAP2 (proteínas complemento, TNF e
clássicos). transportadoras de peptídeos). proteínas
inflamatórias.
LMP2 e LMP7 (codificam
proteases).

57
→ Qual a principal função do MHC?
MHC I
 Expressa à superfície de praticamente todas as células somáticas (maioria das células
nucleadas).
 Formados por uma cadeia α polimórfica (domínios α1 α2 α3) e uma cadeia β monomórfica
(β2 microglobulina).
 Nicho Peptídeo – entre α1 e α2, onde alojam os peptídeos.

MHC II
 Expressas constitucionalmente à superfície de macrófagos, linfócitos B e células dendríticas
(células APC).
 Induzíveis noutras células por acção de citocinas (ex: Células endoteliais).
 Constituída por 2 cadeias α e β polimórficas (α1, α2, β1 e β2).
 Nicho Peptídeo – entre α1 e β1 alojando peptídeos > 13 AAs.

A Rejeição é geralmente causada por respostas imunitárias celulares aos aloantigénios


(basicamente moléculas de MHC) expressos nas células do tecido transplantado.
Detectam-se respostas:
 DTH (delayed-type hipersensitivity).
 Citotóxicas mediadas por células.

As respostas têm 2 fases:

1.ª Fase de Sensibilização (proliferação de linfócitos específicos).


Os linfócitos CD4+ e os CD8+ reconhecem os aloantigénios nas células do transplante e proliferam.
Os CD4+ reconhecem Ag exógenos apresentados pelo MHC II e os CD8+ os Ag endógenos
apresentados pelo MHC I.
Os MHC e Minor HC são reconhecidos e a resposta aos Ag do MHC envolve o reconhecimento da
molécula MHC e do peptídeo acoplado:
 No caso de MHC I é um peptídeo sintetizado dentro da célula alogénica.
 No caso de MHC II o peptídeo é processado pela via endocítica, sendo por vezes,
fragmentos de moléculas MHC Alogénicas.
Um linfótico Th (receptor) fica activado quando interage com uma célula APC (dador ou receptor)
que expressa o Ag alogénico que fornece o sinal co-estimulatório. Isto pode ocorrer:
 No interstício dos aloenxertos.
 À superfície do endotélio.
 Nos tecidos linfóides periféricos.

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 Por Reconhecimento Directo
 Por Reconhecimento Indirecto
Dependendo do tecido transplantado, várias células podem funcionar como APC, no entanto, como
as células dendríticas estão presentes em quase todos os tecidos e exprimem MHC I e MHC II, são
as APC mais utilizadas pelos linfócitos.
Em alguns enxertos, uma população de APC do dador chamada Passenger Leukocytes (são células
dendríticas) migra para os gânglios linfáticos do receptor e estimulam o Sistema Imunitário,
levando à activação de Th sem necessidade de apresentação.
Desencadeiam respostas que culminam em:
 Linfócitos Tc.
 Células de hipersensibilidade.
 Produção de citocinas.

Locais Imunologicamente privilegiados:


Câmara anterior do olho, córnea, útero, testículos e cérebro, porque não têm vasos linfáticos ou
sanguíneos e sensibilização linfocitária.
Na maioria dos alogénios isto não acontece, pois assim que é reposta a vascularização, os linfócitos
são levados para os gânglios linfáticos, onde são gerados linfócitos efectores que migram de volta
para os tecidos transplantados e desencadeiam a resposta imunitária.
As células dendríticas e o endotélio vascular do tecido transplantado induzem a proliferação
linfocitária → Principalmente os CD4+ que induzem resposta imunitária aumentada em vários
mecanismos, pois os Th produzem citocinas que actuam sobre outras células do Sistema Imunitário.

2.ª Fase Efectora (destruição do transplante).


Participam vários mecanismos efectores:
 DTH (delayed-type hypersensivity).
 Resposta citotóxicas mediadas por CTL (Tc).
 Lise pelo complemento.
 Destruição por antibody-dependent cell-mediated cytotoxicity (ADCC).
É característica desta fase o influxo de linfóticos e macrófagos.
O reconhecimento de AloAg da classe I leva à resposta citotóxica pelos Tc e o reconhecimento de
AloAg MHC II (pelos CD4+) → produzem citocinas.
IL-2 → Promove a proliferação linfocitária e é necessária à diferenciação em Tc.
IFN-γ → essencial à DTH, influxo de macrófagos e sua activação em células mais destrutivas.
TNF-β → Efeito citotóxico directo.

Várias citocinas podem promover a rejeição, aumentando a expressão de MHC nas células do
transplante:
 TNF e Interferões – Aumentam a expressão de MHC I.
 IFN-γ aumenta a expressão de MHC II.

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Classificação Histopatológica da rejeição de um Enxerto

Rejeição Hiperaguda:
 Ocorrem em cerca de 24 horas.
 Tão rápidas que acontecem mesmo antes de o tecido ter vascularização novamente.
 Devem-se à existência de Ac específicos pelos Ag do tecido transplantado.
 Os complexos Ag-Ac que se formam activam o Sistema Complemento, o que leva a uma
grande migração de neutrófilos para o sítio do transplante.

A resposta inflamatória leva à formação de êmbolos nos vasos sanguíneos.

Impede a vascularização dos tecidos.

NECROSE
Rejeição Aguda:
 Ocorre algumas semanas após o transplante.
 Mediada por células.
 Grande infiltração de macrófagos e linfócitos no tecido conjuntivo.

Rejeição Crónica:
 Pode ocorrer vários meses após o transplante.
 Envolve resposta humoral e celular.

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Os Alogénicos necessitam de imunossupressão para sobreviverem.

Métodos imunossupressores
Azathioprine
 Potente inibidor mitótico, administrado antes do transplante, que impedem a proliferação
linfocitária, diminuindo a rejeição.
 Actua em todas as células, tendo graves efeitos secundários.

Corticoesteróides
 Potentes agentes anti-inflamatórios fornecidos juntamente com o inibidor mitótico para
evitar a rejeição.

Metabolitos Fúngicos
 Impedem a produção de citocinas, pela inibição da activação e proliferação linfocitária de
Th.
 Prolongam a sobrevivência dos transplantes.

Irradiação Total Linfocitária


 Exposição a raios-X, sendo eliminados os linfócitos do baço e gânglios linfáticos.
 Como a medula óssea não é irradiada, novos linfócitos são formados, que parecem ser mais
tolerantes ao tecido transplantado.

Estes imunossupressores inespecíficos apresentam o grave efeito secundário de expor o paciente a


várias doenças, porque:
 Diminuem a resposta a todos os Ag.
 Diminuem a velocidade de proliferação dos linfócitos activados.

“O ideal seria criar Imunossupressores Específicos”


→ Apenas diminuiria a resposta imunitária aos tecidos transplantados!
Ex.: Ac Monoclonais
 Para supressão da actividade de sub-populações específicas de linfócitos (Ac contra
moléculas da superfície de células do Sistema Imunitário).
 Para bloquear os sinais co-estimulatórios, bloqueando a activação dos Th.

Regulação da Resposta Imunitária em Transplantação


– Não específica dos AloAg → Imunossupressão.

– Específica dos AloAg → Tolerância.

A necessidade de órgãos faz pensar na possibilidade de xenotransplantação (transplante de órgãos


de outros animais).
A principal barreira é a rejeição hiperaguda, que vigora, mesmo usando imunossupressores.
Outro problema é a passagem de patogénicos do animal para o receptor.

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Nota: Microquimerismo – Permanência prolongada de células do dador (células dendríticas) sem
resposta do receptor. Indivíduos com sobrevidas longas de aloenxertos apresentam
microquimerismos com células do dador.

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