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GADET, Françoise; PÊCHEUX, Michel.

A língua
inatingível: o discurso na história da lingüística.
Campinas: Pontes, 2004.

Resenha

Denise Barros Weiss*

Muitos livros tratam que a via que se trata de encontrar entre os dois
da história da lingüísti- obstáculos do ‘logicismo’ e do ‘sociologismo’
ca, mas A língua inatin- nos levará ao discurso.” (Maldidier, 2003, p. 58).
gível é um texto ímpar. O livro tem como pano de fundo uma França
Em primeiro lugar, pelos autores. Michel ainda marcada pela revolução de 68, e consti-
Pêcheux e Françoise Gadet são parte de uma tuiu um marco da escola francesa da análise
geração de lingüistas que fundaram e depois do discurso.
recriaram a Análise do Discurso na França. São O que se pretende neste trabalho é registrar
não somente estudiosos muito respeitados em um olhar sobre esse texto, quase trinta anos
seu campo de trabalho, mas também observa- depois de ele ter sido escrito. Como todo tex-
dores argutos das diferentes vertentes teóricas to, este evocou em mim, como leitora, outros
em lingüística — tanto os da vertente socioló- textos. Por isso, entremeados às anotações
gica quando os da formalista. sobre A língua inatingível estão alguns frag-
Em segundo lugar, pelo ponto de vista ado- mentos — lembranças de casos, de outros tex-
tado. O texto expressa uma profunda insatisfa- tos —, pedaços de uma memória individual que
ção com ambos os modos de fazer lingüística foram reavivados com a leitura desse material
e explica esse desagrado, analisando como tão rico.
cada um dos grupos acabou por ignorar o fato Por isso penso que o resultado do trabalho
de que a língua não pode ser descrita de acor- não é exatamente um texto; parece mais um bor-
do com um sistema que constitui um “conti- dado — às linhas originais de Pêcheux e Gadet
nuum de níveis” (para usar a expressão de se misturam, em alguns pontos, uns enfeites...
Ferreira, 1999) e sim um complexo afetado pelo
inconsciente e pela história. Uma leitura do texto
Por último, pela época em que foi escrito. Nesta obra podemos ver como a noção de
Segundo Denise Maldidier1, La langue introu- equívoco trabalha a reflexão sobre a análise
de discurso, sem trégua. Mas não é só das
vable foi concebido entre 1976 e 77, mas publi-
noções discursivas que trata este livro. Seu
cado somente em 1981. A primeira divulgação nome já aponta para o que inquieta os auto-
das suas idéias básicas ocorreu em uma das res: a língua em seu real que, como diz J-C
sessões do seminário de que eram organiza- Milner, é o impossível. Para compreender isso,
dores, além de Pêcheux, P. Henry e M. Plon. e partindo da idéia de que há língua e há lín-
guas, os autores se dão a difícil tarefa de com-
Depois, em uma reunião do Centro de Estudos
preender a relação língua/discurso.2
e Pesquisas Marxistas, em uma exposição cujo
A teoria proposta por Gadet e Pêcheux passa
título era “Há uma via para a lingüística fora do ao largo do que seriam duas escolhas fáceis:
logicismo e do sociologismo?” “É fácil adivinhar Tanto evita as evidências ideológicas do que
seria uma linguagem clara, racional e unívoca,

* Doutoranda em Estudos da Linguagem na Universidade Federal Fluminense. Professora da Universidade


Federal de Juiz de Fora. dbweiss@terra.com.br.
1
MALDIDIER, Denise. A inquietação do discurso: (Re)ler Pêcheux hoje. Campinas: Pontes, 2003.
2
Disponível em www.submarino.com.br

1
quanto trata com cuidado os usos poéticos que Ao tratar da formação das línguas nacionais,
exploram os equívocos da linguagem. Para os Gadet e Pêcheux detalham esse fascínio pelo
autores, a língua(gem) é uma unidade cheia
poder da língua, “um poder nu, que não precisa
de furos.3
nem mesmo dizer o seu nome” (Milner, apud
Gadet e Pêcheux apresentam a história de
Gadet e Pêcheux, 2004, p.32). Mostram, parti-
como a lingüística persegue, de diversas ma-
cularmente, como, no movimento da ascensão
neiras e por diferentes caminhos, o ideal da lín-
da burguesia, houve, paralelamente às
gua, aquilo que, como explica o título, é “A lín-
(alegadas) mudanças sociais, dois movimentos
gua inatingível”, e de como esse real se lhe
contraditórios: de um lado, uma apropriação
escapa sempre por entre os dedos. É um texto
rápida e eficiente dos códigos usados até en-
longo e denso, estruturado em dois grandes
tão pelos nobres, desde o período feudal, o que
blocos, cada um composto por capítulos cur-
garantia a continuidade de muitas das condu-
tos, cujo conjunto forma como que um mosai-
tas valorizadas e legitimava a burguesia como
co de olhares.
classe social hegemônica; de outro lado, um
O objetivo desse trabalho, segundo Eni trabalho importante de afirmação da língua na-
Orlandi, em seu prefácio à tradução brasileira, cional como uma forma de expressar apoio e
é fazer “uma belíssima história da lingüística, respeito às diferenças, garantindo uma imagem
sem deixar de lado o sujeito do conhecimento, saudável e muito útil de novidade e de atenção
o político, a ideologia e a própria história”. com as classes desfavorecidas. Como se vê,
O livro começa com um olhar crítico sobre já na Revolução Francesa se pretendia ser “po-
os caminhos trilhados pela lingüística. Os auto- liticamente correto”...
res a apresentam como estando em um mo- Uma das características mais marcantes do
mento delicado, quase em um beco sem saí- livro é o uso constante que os autores fazem
da: por um lado, seguindo em direção às mani- das metáforas. Entre as muitas que merecem
festações externas da linguagem, embaralha- citação, destacam-se as do Direito e da Vida,
se em uma profusão de regras e em uma mis- que serão balizas na discussão teórica sobre
tura entre o social, o cultural e o lingüístico. Por os rumos da lingüística de cunho social (sob o
outro lado, caindo na eterna procura do Santo signo do Direito) e a de cunho biológico (sob o
Graal da Gramática Universal, chave que abriria signo da Vida). Segundo os autores, as duas
as portas para a compreensão de todo o me- vertentes da antropologia lingüística — social e
canismo das línguas e, por extensão, a língua. biológica — são tentativas constantes de apro-
Nos dois casos, afirmam os autores, a lingüís- priação da língua, seja pela ordem, pelas regras,
tica se perde, e perde de vista seu objetivo. pelo domínio do sistema, seja pelo reconheci-
A essa visão geral segue-se uma análise aten- mento de cada diferença na produção, de cada
ta e por vezes dura das tentativas feitas para deslize de sentido.
captar esse real fugidio: os caminhos da lingüís- A partir dessa análise, chega a uma descri-
tica, oscilando entre empirismo ou racionalismo. ção de outras tentativas de se atingir o cerne
Os autores apresentam, então, uma abertura da língua, por caminhos dos obcecados por ela,
para aquilo que será um dos pontos chave do em uma modalidade de loucura que Pierssens
livro: como o poder constituído tenta se apo- denominou logofilia — outra tentativa de dizer
derar e se apropriar da língua, torcendo-a se- o indizível. Os homens loucos por sua língua
gundo seus próprios objetivos, de modo a man- perseguem-na não só no teatro, na poesia, mas
ter sob controle as manifestações do povo. também na ciência. James Joyce, Guimarães

3
His theory of language and society refrains from all too easy choices: Pêcheux avoids the ideological self-
evidences of so-called clear, rational and univocal language. But he also treats with caution the poetic or mad
play that explores the equivocality of language to invoke change. Language is a unity full of breaks. HELSLOOT,
Niels. Disponível em http://www.nielshelsloot.nl/publications/1995a.htm

2
Rosa resvalaram nessa língua que é sempre de Milner, que o real da língua é mesmo o im-
outra coisa. Gilberto Gil fez uma bela tentativa possível. Falar é escolher, escolher é renunciar.
de explicar essa obsessão, fornecendo-nos ao Assim, tudo não se pode dizer. Como exemplo
mesmo tempo um exemplo e uma inspiração desse impossível, lembram aqueles que com-
para compreendermos essa logofilia do poeta: pararam a tentativa de apreender o caráter da
Uma lata existe para conter algo língua ao mito da completude do ser humano.
Mas quando o poeta diz: “Lata” Mais uma vez o impossível se impõe:
Pode estar querendo dizer o incontível Esse ponto de impossível surge do fato de que,
Uma meta existe para ser um alvo como dois sujeitos não se podem unir, ‘não há
Mas quando o poeta diz: “Meta” relação sexual (LI, 52)6.
Pode estar querendo dizer o inatingível
Por isso, não se meta a exigir do poeta Manuel Bandeira também nos fala dessa
Que determine o conteúdo em sua lata frustração, que poderíamos associar à que se
Na lata do poeta tudonada cabe sente quando não se é capaz de tocar o outro
Pois ao poeta cabe fazer
pela palavra:
Com que na lata venha caber
O incabível As almas são incomunicáveis.
Deixe a meta do poeta, não discuta Deixe o teu corpo entender-se com outro corpo,
Deixe a sua meta fora da disputa porque os corpos se entendem, mas as almas não.7
Meta dentro e fora, lata absoluta Ou podemos ainda recorrer a Fernando Pes-
Deixe-a simplesmente metáfora4
soa:
O sonho da onipotência sobre a língua se-
Como é por dentro outra pessoa
duziu não somente poetas e políticos, mas tam- Quem é que o saberá sonhar?
bém cientistas. Houve muitas tentativas de A alma de outrem é outro universo
mimetizar perfeitamente a significação em ono- Com que não há comunicação possível,
matopéias, aprisionando a língua como a uma Com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma
harpa mágica, dominada para tocar somente a
Senão da nossa;
canção que se deseja. Mas não é possível apri- As dos outros são olhares,
sionar o sentido. Aprender, talvez. Apreender, São gestos, são palavras,
nunca. Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.
Se as línguas já existentes não podem ser
Fernando Pessoa, 19348
presas, que tal construir a própria? Os espe-
rantistas continuam nessa empreitada ainda Se Milner propõe o real da língua, Gadet e
hoje. Ou quem sabe encontrar o ideal no passa- Pêcheux vão ainda além: propõem que há um
do, na língua mãe da humanidade? Ou talvez criar real da história. Portanto, por esse raciocínio,
máquinas obedientes e dóceis, que entendam até se não se pode apreender o real da língua, tam-
nossos pensamentos... Nesse ponto, ficção e bém não é possível apreender a história. A his-
ciência tentam a façanha, que contudo esbarra tória, como disciplina, será, então também uma
sempre na liberdade que a língua tem de assumir sucessão de desvios e escorregadelas, de mu-
sentidos imprevistos pelo seu “criador” 5. danças de olhares sobre os fatos.
Nesse ponto, os autores nos desanimam Os autores começam a entrelaçar as teorias
dessa busca: Assumem, tomando as palavras lingüísticas com o pano de fundo histórico em

4
GIL, Gilberto. Metáfora. Disponível em www.lumiar.com.br/songbook/s_gil.htm
5
Pode-se citar, como exemplo, filmes como o clássico “2001, uma odisséia no espaço”.
6
Usou-se nessa resenha a abreviatura LI para designar “A língua inatingível“.
7
BANDEIRA, Manuel. Arte de amar.
8
Insite. http://www.insite.com.br/art/pessoa/coligidas/809.html

3
que nasceram, mostrando como ciência e his- cientifica: el funcionamento entero de uma lín-
tória se interpenetram. Esse movimento come- gua consiste em el juego de identidades e di-
ferenças; valores y sus oposiciones.9
ça com Saussure.
Os textos de história da lingüística comu- Gadet e Pêcheux enfocam a obra de
mente destacam, ao tratar de desse autor, a Saussure sob a perspectiva psicanalítica, so-
noção por ele proposta de arbitrariedade do bretudo o trabalho de J – C Milner:
signo. Os autores de A língua inatingível, po- Depois de Galileu, Darwin, Marx, Freud... o que
rém, vão seguir outro viés, observando como, aparece com Saussure é da ordem de uma
em Saussure, surge a aparente contradição ferida narcísica. Um saber aí se libera, o qual,
sob o peso do que a ciência da linguagem acre-
entre o Curso de Lingüística Geral e os Anagra- ditava saber, a obcecava sem que ela aceitas-
mas — portanto entre a lógica fria do signo se reconhecê-lo: a língua é um sistema que
lingüístico e o deslizamento de sentidos des- não pode ser fechado, que existe fora de todo
ses jogos de palavras — o diurno e o noturno, sujeito, o que não implica absolutamente que
mais uma metáfora para o dualismo. ela escape ao representável (LI, 63).

Para nós [os autores], o saussurianismo não Entretanto, estranham que o próprio Milner,
se divide assim: o que faz aqui irrupção na lin- que reconhece a “indissociabilidade dos dois
güística (e que nela fica parcialmente entrava- Saussure”, deixe de perceber a importância do
do) refere-se precisamente à relação entre o conceito de valor como ponto central de sua
diurno e o noturno, entre a ciência e a poesia
obra, detendo-se apenas a considerar a poesia
(ou até a loucura) (LI, 57).
como lugar de cessação da univocidade de
Os autores advogam a tese de que a princi- sentido, sem perceber que essa cessação pode
pal contribuição de Saussure é a sua concep- ser estendida à língua como um todo.
ção de valor e criticam os que consideram
Apresentando as intercessões entre o real
Saussure “simples”. Evocando Benveniste, afir-
da língua e o real da história, os autores vão
mam que
então mostrar como, no decorrer dos movimen-
Colocar o valor como peça essencial do edifí- tos decorridos no Leste Europeu no século XX,
cio [da obra de Saussure] equivale a conceber tentou-se dominar a língua e, através dessa es-
a língua como rede de “diferenças sem termo
tratégia, dominar a história.
positivo”, o signo no jogo de seu funcionamen-
to opositivo e diferencial e não na sua realida- O que afeta e corrompe o princípio de
de; conceber o não dito, o efeito in absentia univocidade na língua não é localizável nela: o
da associação, em seu primado teórico sobre equívoco aparece exatamente como o ponto
a “presença” do dizer e do sintagma; o não- em que o impossível (lingüístico) vem aliar-se
dito é constituinte do dizer, porque o todo da à contradição (histórica); o ponto em que a lín-
língua só existe sob a forma não finita do “não- gua atinge a história (LI, 64).
tudo”, efeito da alíngua; é pelo papel
constitutivo da ausência que o pensamento Gadet e Pêcheux (p. 64) afirmam que “toda
saussureano resiste às interpretações desordem social é acompanhada de uma es-
sistêmicas, funcionalistas, gestaltistas e pécie de dispersão anagramática que constitui
fenomenológicas que, entretanto, elas não um emprego espontâneo das leis lingüísticas
cessam de provocar (LI, 58). do valor: as massas tomam a palavra”. Os au-
Amado Alonso, no prólogo à edição em es- tores vão apresentar mais tarde uma série de
panhol do Curso de Lingüística Geral, enfatiza exemplos desses acontecimentos, especial-
a importância dada por Gadet e Pêcheux à no- mente na revolução russa. Mas podemos evo-
ção de valor: car um exemplo bastante recente desse fenô-
Este concepto lingüístico de valor ha sido re- meno, ocorrido no Brasil na década de 90 — a
volucionário y de una incalculable fecundidad chamada “Era Collor”.

9
SAUSSURE, F. Curso de lingüística general. 4. ed. Buenos Aires, Editorial Losada, 1961. p. 9.

4
Naquela época, o sobrenome do então pre- Esse rastreamento começa com os “prota-
sidente da República contaminou, inicialmente gonistas do Outubro lingüístico e literário”, gru-
sob a forma de adjetivo, todos aqueles que fa- pos que, durante os últimos anos da década
ziam parte de suas comitivas ou que partilha- de 10, “mantiveram-se à frente na cena ideoló-
vam de seus ideais político-econômicos. Sua gica”. Em uma listagem que exibe muito conhe-
derrocada foi marcada por uma crescente de- cimento de nomes (e que por isso exige do lei-
preciação desse adjetivo, e culminou com uma tor muita informação prévia para ser devidamen-
associação entre cores (ou talvez até uma liga- te apreciada), narram como cada grupo atuou,
ção com a palavra em inglês para cor — língua ou tentou atuar, na revolução proletária, mos-
também associada à modernidade pregada pelo trando, com um lamento, como esse conjunto
político) feita pela população. O resultado des- de ações foi engolfado pelo sistema.
sa leitura foi um embate entre presidente e po- Dos movimentos literários, passam a anali-
pulação, em uma brincadeira séria com as me- sar os movimentos pedagógicos. O livro subli-
táforas contidas no nome e nas cores. O presi- nha a relação entre as lutas camponesas pelo
dente pediu que as pessoas saíssem às ruas poder após a revolução bolchevique e as políti-
em seu apoio, usando verde e amarelo a popu- cas lingüísticas concomitantemente adotadas.
lação deu sua resposta com sinal trocado: um Desde antes da Revolução Russa, já havia uma
eloqüente mar de roupas pretas. E “collorido” oposição, no campo das idéias, entre a visão
transformou-se, por muito tempo, em uma ex- urbana, caracterizada pelo gosto pelo progres-
pressão ofensiva. so e pela ocidentalização dos costumes, e a
Em A língua inatingível, esse tipo de traba- visão rural, marcada pelo tradicionalismo religi-
lho com a língua vai ser exemplificado com os oso e a fidelidade à cultura eslava. Essa contra-
movimentos paralelos ocorridos na Revolução dição marca o modo como se processou a cha-
Francesa e na Rússia de 1917. Os autores vão mada “educação das massas”. A questão era:
esmiuçar inúmeros jogos de palavras e desliza- Como conciliar as necessidades econômicas
mentos de sentido que refletem mudanças so- e políticas (difusão das técnicas agrícolas e in-
ciais nesses dois momentos da história. dustriais, estabelecimento da administração
soviética) com as formas nacionais e as heran-
Os autores assim resumem a relação entre
ças que elas veiculam? (LI, 78).
a lingüística e a política russa do princípio do
século XX: O reflexo dessa contradição está na tentati-
va dos teóricos de unir as vanguardas a temas
Nesse ponto em que começa a lingüística
(Moscou é um dos raros lugares em que ligados à tradição dos literatos, criando textos
Saussure tornou-se conhecido a partir de de ficção científica em que opunham a
1917), uma revolução cultural se prepara: o artificialidade das cidades humanas à naturali-
movimento das massas de Outubro traça, as- dade dos campos (não muito diferente do que
sim, entre os profissionais da linguagem (...) se tem hoje nos temas de filmes como Blade
uma linha de demarcação entre aqueles que
Runner e Matrix — que radicalizam as diferen-
dobrar-se-ão diante do risco da anarquia e do
caos no academicismo da tradição russa, ba- ças entre o artificial e o natural até o limite de
seado numa língua ao mesmo tempo litúrgica discutir o caráter do real).
e feudal, e aqueles que, de várias maneiras, Essa tensão vai tomar corpo também no
“escolherão o campo da revolução” (LI, 70).
pensamento leninista, “comprimido entre a ne-
Vão então apresentar como a língua foi utili- cessidade de uma liberdade de participação
zada no correr da Revolução Russa, quer pelos crítica na política por parte de todos os cida-
governantes, para manipular informações e di- dãos e a exigência de sua subordinação ‘técni-
vulgar um pensamento unívoco sobre o que ca’ no processo de trabalho organizado por
ocorria, quer pelos que, se rebelando contra o especialistas” (LI, 80).
regime totalitário, usavam essa língua para fa- Essas contradições podem ser observadas
lar de sua insatisfação. na obra de Maïakovski. Por um lado esse poeta

5
tomou a si a tarefa de divulgar as palavras de o modo como se articulou a “língua de Esta-
ordem dos bolcheviques, e se aproximou dos do”, trabalho de Stalin, cujo objetivo era dar con-
formalistas, propondo a “despoetização da na- ta da história, tornando-a mais de acordo com
tureza”. Por outro lado, o mesmo intelectual pro- seus objetivos e sua ideologia. Na falta de uma
duziu obras em que sobressaem “o humor, a potente máquina do tempo, o ditador conten-
fantasia desregrada, e a derrisão agressiva”. tou-se em usar meios mais corriqueiros de tra-
Maiakovski, como artista e como represen- balho — assassinatos, certamente, mas princi-
tante — porta-voz — de uma ordem, de uma palmente destruição de documentos, em uma
proposta, teve um destino curioso: apesar das enorme tarefa de reconstruir a história recente
provocações e do seu suicídio, o conformismo daquele país10. O que precisava fazer ia além
stalinista pôde reconstruir dele uma imagem da eliminação pura e simples das pessoas físi-
positiva do herói revolucionário. E, poderíamos cas. Era necessário apagar essa imagem
acrescentar, depois de muitos anos, em um país indesejada da memória coletiva. Todos os mei-
ao sul do equador, tornou-se uma estampa fa- os possíveis foram usados. Apagamento de
mosa, que adornou camisetas e quartos ado- fotos (o que ele não faria com um computador,
lescentes da chamada “contra-cultura”. Mais hoje...), de dados biográficos, a reescritura de
uma vez devorado pelo sistema, ainda que, pa- histórias, a remontagem dos fatos segundo a
radoxalmente, símbolo de resistência, tornou- ordem mais conveniente... Mas ele não sabia
se citação fácil para quem nada sabia de Revo- (nem tampouco os autores desse livro, na épo-
lução Russa, mas que achava “muito maneiro” ca de sua elaboração) que o passado voltaria,
ser moderno. bem mais tarde, para cobrar sua parte: suas
cidades, tão bem renomeadas, reassumiram
Mas a roda viva do movimento político vai
seus nomes originais; sua estátua, tão bem
girar, e com ela vão mudar os rumos e as idéi-
construída, foi derrubada do pedestal, as línguas
as. Aumentam as pressões do governo russo,
que ele supôs soterradas pelo russo voltaram
especialmente após a morte de Lenin, sobre o
em guerras fratricidas, ansiosas pelo reconhe-
pensamento lingüístico e literário.
cimento11... são as voltas da história.
... o C.C. de 1924 sobre a literatura continuará
a garantir politicamente a existência de dife- Onde está o ponto de ruptura de Stalin com
rentes correntes, escolas e movimentos; mas a ordem antes proposta por Lenin? Segundo
um processo se trava, no qual as armas de os autores, está na maneira pela qual as metá-
uns e de outros vão progressivamente voltar- foras utilizadas por Lenin foram lidas por Stalin:
se contra eles (LI, 87). ao pé da letra. O que se perdeu, para usar a
Começa então a “recriação soviética do linguagem de Pêcheux e Gadet, foi o humor: a
mundo” (LI, 93). O Estado russo adota a educa- capacidade de enxergar além das palavras,
ção das massas como meio de acabar com as além de um sentido unitário que se quer atribuir
contradições da luta de classes. Esse procedi- a elas. A linguagem deixou, mais uma vez, de
mento resulta, paradoxalmente, não em uma ser uma representação do real para se passar
uniformização do pensamento, mas em um acir- por ele.
ramento das contradições, ainda que abafadas A linguagem como imagem lógica da realida-
pelo recrudescimento do totalitarismo. de, reflexo do real e expressão da objetivida-
A atenção dos autores se volta, agora, para

10
O que, ao que parece, não foi privilégio dele. Conversas com uma família russa, há alguns anos, me revelaram
que uma das dificuldades de se estudar na Rússia dos anos 90 foi justamente desembaralhar os fios dessa
história reescrita tantas vezes – e que mudava a cada geração de alunos nas escolas oficiais.
11
Um aluno sérvio explicou que quando começou a guerra na antiga Iugoslávia, uma das primeiras providências
de cada um dos grupos envolvidos foi voltar a falar em sua língua, e houve um grande movimento de modifica-
ção dos nomes, atribuindo àquilo que só tinha um nome em russo um equivalente em sérvio.

6
de: o realismo socialista em literatura baseia- bela de Mendeleïev dos elementos fônicos” (LI,
se no mito de uma coincidência entre a lin- 109).
guagem e o real, impondo-se descrevê-lo ‘ob-
jetivamente’, tal como é... na ideologia stali- De Círculo em Círculo, chega-se ao de Viena.
nista, ou seja, de fato, transfigurar a realidade Seu chefe? Carnap. Seu propósito? Uma crítica
ao ‘refleti-la’ (LI, 103). da língua — “um saneamento científico da lin-
E as pesquisas lingüísticas durante esse tempo? guagem”. Segundo Pêcheux e Gadet, o círculo
de Viena realizou um trabalho paradoxal: ao mes-
Na Rússia de 1929, Voloshinov /Bahktin pro-
mo tempo em que confiavam no fato de que a
põe o viés sociológico de análise, em oposição
língua se purifica por si só, sendo capaz de re-
ao trabalho dos formalistas. Suas teses, em-
sistência contra as “impurezas”, desconfiavam
bora baseadas nas de Plekhanov, serão recha-
dos ardis que essa própria língua demonstra
çadas pela revolução soviética. A proposta lin-
ser capaz no cotidiano. Ao que parece, os teó-
güística de Stalin é a da tratar a língua como
ricos desse Círculo chegam a reconhecer os
ferramenta, “um instrumento de comunicação
“furões” da língua, mas os temem como excres-
homogêneo no conjunto da sociedade”. Passa-
cências que deveriam ser vigiadas atentamente.
va ao largo, portanto, de quaisquer considera-
ções que ligassem a língua e seu domínio à luta A análise dos eventos que marcaram o perí-
de classes. Esse modo de pensar já tinha sido odo da Segunda Guerra Mundial na lingüística
visto antes, no feudalismo, na revolução burgue- funciona como um ponto de ruptura no livro.
sa... Sintoma do poder? Até esse ponto, os autores acompanhavam os
movimentos lingüísticos na União Soviética.
Outros grupos também se dispuseram a
Agora vão migrar (provavelmente junto aos per-
pensar a língua no mundo soviético: os círcu-
tences de Jackobson) para a América.
los lingüísticos. Um olhar sobre as suas trajetó-
rias revela como se relacionaram poder consti- Não por acaso a segunda metade do livro12
tuído e pesquisas lingüísticas. começa com “A grande Travessia”. Nesse capí-
tulo, Gadet e Pêcheux mostram um apanhado
Primeiramente, o Círculo Lingüístico de Pra-
de como foi engendrada — por diferentes teó-
ga: sobrevivente do Círculo de Moscou, sofreu
ricos — a “conjunção astral” que possibilitou o
mudança não apenas de lugar, mas conforma-
advento do formalismo que culminará com o
ção teórica. Produziu a teoria fonológica de
trabalho de Chomsky13 e, por oposição, os fu-
Trubezköi, de Jackobson e de Karcevski. Influ-
turos trabalhos em lingüística de caráter socio-
enciados por Saussure e por Husserl, esses
lógico. A descrição dos autores começa com a
teóricos pouco se interessavam por sintaxe.
grande diáspora do século XX — um enorme
Dissolvido em 1939, o Círculo deixará como
contingente de intelectuais fugindo da Europa
herdeiro um Jackobson que transporá o mar e
nazista para o sonho de liberdade norte-ameri-
desembarcará com suas teorias nos Estados
cano. O pano de fundo filosófico é esmiuçado,
Unidos, onde fundará outro Círculo Lingüístico,
e mais um duplo é apresentado: Wittgenstein
o de Nova York. Esse grupo norte-americano
— opondo-se o Tractatus e as Investigações Fi-
nunca negou a herança formalista. Pelo contrá-
losóficas (ambos os trabalhos filiados à tradi-
rio, Jackobson vai tender sempre a procurar
ção neopositivista de Carnap) ao Wittgenstein
universais fonológicos: “ele sonha com uma ta-
dos “jogos de palavras” (LI, 123), que irá inspi-

12
Cabe aqui sublinhar a interessante simetria que subjaz não somente ao tema do livro – os duplos, as contradi-
ções, as visões especulares - mas também à conformação do próprio livro. O ponto de virada dos autores fica
exatamente na metade do livro, um número semelhante de capítulos de cada lado sugere não apenas uma
cisão, no nível do conteúdo do texto, mas também algo de uma visão especular da história da lingüística.
13
A importância dada a Chomsky nesse livro faz pensar em como era forte sua influência à época em que esse
livro foi escrito, e em como isso foi sendo relativizado no correr das décadas seguintes.

7
rar Austin e Searle. abstrata.
Percorrendo o caminho de Chomsky, os au- Se a influência de Popper fez com que
tores mostram a inserção desse estudioso em Chomsky adotasse o modelo da física, a influ-
uma linha teórica: ência de Carnap o faz lidar também com mode-
De Saussure ao C. L. P., do C. L. P. ao funcio- los matemáticos e, com o desenvolvimento de
nalismo, de Bloomfield a Harris e de Harris a sua teoria, ele avançará em direção ao modelo
Chomsky, um deslocamento teórico foi reali- biológico de linguagem, quando, em Aspects,
zado, conseguindo colocar no centro das pre- substitui a noção de recursividade pela de
ocupações lingüísticas a questão da constru-
criatividade.
ção sintática dos enunciados; no campo ame-
ricano, essa questão se colocará nas formas, Se há uma falha no raciocínio de Chomsky,
fazendo diretamente alusão às preocupações dizem os autores, essa falha está na sua tenta-
da lógica matemática (LI, 127). tiva de “brincar de Deus” — tentar propor uma
Apresentam a polêmica entre Bar-Hillel14 e teoria que, ao mesmo tempo em que dá conta
Chomsky, indicando nela os princípios da teo- do infinito na linguagem, seja verificável segun-
ria gerativo-transformacional. do padrões científicos.
Gadet e Pêcheux encontram em Chomsky A contradição do chomskianismo revela-se,
uma ligação com o materialismo. Mostram que aqui, entre o cuidado em construir protótipos
gramaticais (parciais, portanto experimentá-
Chomsky, ao recusar o logicismo puro, abre
veis) e a tentação de um recurso narcisista
espaço para essa distinção. infalsificável aos ideais totalizantes da biologia
A materialidade da língua só consente em se (LI, 143).
representar no materialismo de uma escrita
O lingüista vai se mostrar sempre antifuncio-
com a condição expressa de não se identificar
com ele (LI, 130). nalista: para ele a linguagem não é um instru-
mento de comunicação, mas uma propriedade
Os autores mostram a filiação de Chomsky biológica da espécie humana. Ele tenta provar
às idéias de Popper. Apresentam a ligação des- essa teoria mostrando a ambigüidade como
se teórico da filosofia da ciência com o positi- exemplo. Se a língua tem como função comuni-
vismo (“relações ambíguas de proximidade e car, como, argumenta Chomsky, permite um sis-
oposição”), mas chamam a atenção do leitor tema tal que se pode dizer coisas muito dife-
para as críticas de Popper a essa corrente — rentes com a mesma palavra ou a mesma ex-
especialmente no que diz respeito às posições pressão? É no mínimo antieconômico.
a respeito do tratamento dos dados em pes-
Mas a preocupação com a ambigüidade não
quisa e à teoria da indução.
é específica de Chomsky, e ele também não é o
Um elemento da teoria de Popper que se re-
único a tentar propor um sistema que dê conta
flete no trabalho de Chomsky é o do foco da
do que para ele é um problema. Gadet e
pesquisa, colocado não nos dados (no que es-
Pêcheux mostram isso cotejando a perspecti-
ses autores se opõem ao empirismo de Carnap),
va chomskiana com a de Ruwet. O primeiro ana-
mas no problema a ser levantado. Essa con-
lisa a ambigüidade e tenta resolvê-la no nível da
cepção abre caminho para um olhar mais racio-
estrutura profunda: “nesse domínio, a ambigüi-
nalista sobre o objeto (no caso de Chomsky, a
dade constitui apenas um fenômeno pontual e
língua).
idiossincrático considerado como puro sinto-
Configuram-se as hipóteses fundamentais da ma, uma conjuntura de discussão” (LI, 145).
teoria chomskiana: a pesquisa restrita ao nível Ruwet, por sua vez, trata a ambigüidade como
frásico, a dependência estrutural, a estrutura “critério de adequação das gramáticas” (LI, 145).

14
Yehoshua Bar-Hillel: filósofo, matemático e lingüista do MIT, conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da
tradução automática (machine translation). (Fonte: http://list-of-linguists.wikiverse.org/)

8
Gadet e Pêcheux explicam que o interesse ria. Um, em que mostra a homogeneidade ma-
da ambigüidade está no fato de que ela seria terial da língua e a impossível distinção, no âm-
um ponto de resistência ao tratamento lógico bito formal, entre o que é gramatical e o que é
da língua: “é um ponto essencial da diferença agramatical (O que diferencia “as incolores idéias
entre ‘língua natural’ e ‘linguagem artificial” (LI, verdes dormem furiosamente” de “as animadas
145). Bem diferente, portanto, da posição ado- crianças loiras correm furiosamente”?). No se-
tada pelos autores que resenharam. gundo momento, surge a aparente solução para
A preocupação com a resolução das ambi- esse impasse. Junto com o infalível sinal de
güidades revela a negação teórica das incerte- asterisco, a figura do falante ideal, capaz de dis-
zas na língua. Chomsky e Ruwet se igualam nas tinguir uma frase da outra intuitivamente, reco-
tentativas de resolução: ambos falham. A lín- nhecendo-lhes o sentido — ou a falta dele —
gua inatingível apresenta mais um paradoxo da sem recorrer a contexto (palavra que talvez nun-
teoria de Chomsky: ca tenha aparecido em sua obra).
A ambigüidade constitui, portanto, um ponto Assim, a “questão dos dados é imediatamen-
privilegiado da contradição chomskiana: nun- te considerada, na G.G.T., na sua relação com a
ca mais Chomsky terá semelhante intuição da questão do sujeito” (LI, 154). Um sujeito a-polí-
especificidade indiscutível da língua, mas tam- tico, a-histórico, descarnado, por assim dizer.
bém nunca mais ele ficará tão próximo de um
Talvez até muito semelhante ao marciano de
jogo lógico. É em termos lógicos, com argu-
mentos lógicos, que ele tenta escapar ao Pêcheux e Gadet.
logicismo: daí a paródia (LI, 147). O impossível na língua será objeto de mui-
Os autores seguem sua análise da teoria tas tentativas de contorno, na lingüística, pela
gerativa, apontando agora para outras “falhas” determinação do que é ou não gramatical, pelo
que vêm desfazer a regularidade do sistema estabelecimento de fronteiras, de balizas. O
naquilo que é dado como o seu centro: no nó impossível seria, então o que não se enquadra
da consistência/completude. Levantam os tra- nos parâmetros de gramaticalidade. Mas con-
balhos de outros autores (mais vez, destacan- tinua fugidio: há sempre um mundo possível em
do os de Milner) que mostraram os muitos pon- que o agramatical deixa de sê-lo; quando isso
tos da linguagem de que a teoria gerativa não não acontece ainda pode entrar em cena o hu-
dá conta: o sistema de pronomes, os indicado- mor, a brincadeira, o nonsense. Assim o impos-
res de dêixis são alguns exemplos. À página 152, sível continua sendo também o intangível.
um resumo do que significam esses ataques à Em Chomsky essas tentativas de apreensão
teoria: da agramaticalidade o farão classificá-la e ten-
tar propor escalas de aproximação entre gra-
Não é, portanto, no plano das propostas de
tratamento que reside, a nosso ver, o interes- matical e agramatical.
se das falhas, mas na “subversão” (termo de O que escapa à teoria chomskiana? Segun-
Milner) que elas fazem o modelo chomskiano do A língua inatingível, a noção de discursivi-
sofrer. Naturalmente, trata-se de um ponto em
dade, que substituiria a interpretação semânti-
que a lingüística encontra a psicanálise. (...)
Embora a lingüística não tenha nada a dizer do ca das sentenças por “uma prática de interro-
inconsciente, ela pode assinalar pontos da lín- gação dos textos referidos à sua posição em
gua em que o sujeito não pode ser apresenta- um campo histórico. (...) A tese que resulta dis-
do como um sujeito desejante. so é que o sentido não preexiste à sua consti-
A questão da presença do inconsciente na tuição nos processos discursivos” (LI, 158).
língua e de sua ausência na lingüística nos leva Toda a complicação está no fato de que não
ao próximo ponto abordado: a inconsistência se admite, na teoria gerativa, que há na língua
do objeto de que a lingüística pretende dar con- um caráter transgressor, do qual a metáfora é
ta. Chomsky apresenta, como encaminhamen- somente um exemplo.
to dessa questão, dois momentos em sua teo- Pêcheux e Gadet começam então a fazer o

9
longo caminho rumo ao “momento atual” — (...)
meados da década de 70. Segundo eles, “essa A posição construtivista pode ao contrário ser
interpretada como um empreendimento de
facilidade negligente, essa certeza de ter con-
recobrimento filogenético e ontogenético, no
tornado o obstáculo, sinaliza a prática da gera- ponto em que a história de cada “desenvolvi-
ção atual de lingüistas: nesse sentido, Milner mento” individual reproduz parcialmente a
tem razão em perceber aí alguma coisa da or- evolução das espécies e a história dos conhe-
dem de um desperdício, ou até de um assassi- cimentos científicos. (LI, 175)
nato: os especialistas da língua regulamenta- Em “Dois Chomsky?” Gadet e Pêcheux vão
ram sua relação com a língua” (LI, 163). investigar até que ponto realmente se distin-
Vão assim mostrar como as contradições guem o lingüista e o cidadão politizado, obser-
advindas dessa negligência afetam a teoria vando mais um duplo na história da lingüística.
chomskiana. Fecham o capítulo com um primo- Mostram que as relações entre ambos os pa-
roso resumo de suas preocupações: péis desempenhados por Chomsky são bem
mais profundas – assim como Chomsky se
Em uns vinte anos, passou-se de um horizon-
beneficia de seu renome como teórico para fa-
te filosófico (vago e relativamente acolhedor)
da prática lingüística ao sectarismo biopsicoló- lar dos problemas sociais, sua teoria também
gico. Da competência às estruturas mentais se beneficia do encontro de seu criador com a
inatas, e destas últimas aos universais, a se- realidade – é isso que a faz, em última análise,
mântica e a biologia selaram sua aliança: o avançar.
império dos sentidos e as evidências do órgão
mental. No trecho abaixo, os autores fazem uma crí-
A língua inatingível é a aparição no interior da tica curiosa a Chomsky.
lingüística de um espaço lógico regulamentan- Se o trabalho político do historiador consiste,
do as práticas dessa disciplina, levando o sujei- ao menos em parte, em reinterpretar, em fun-
to a se reconhecer nesse regulamento (LI, 168). ção da conjuntura presente, os elementos his-
A perspectiva biológica dotada por tóricos conhecidos, é certo que Chomsky rea-
Chomsky, que não admite referência a evolução liza um trabalho de historiador, sobre seu pró-
prio trajeto e sobre a história da lingüística. A
ou a aprendizagem com os próprios erros vai
seu modo, ele reescreve a história da Gramá-
ser contestada por Piaget, embora este último tica Gerativo-Transformacional e das ciências
tenha tentado se aproximar do gerativismo. A da linguagem... mas o faz “a seu modo”, ce-
fonte usada por Pêcheux e Gadet para retratar dendo a facilidades muitas vezes desconcer-
essas discussões foi Theories du langage, tantes. (LI, 183)
thorie de l’apprentissage, publicado em 1979. Fica a impressão de que Pêcheux e Gadet
No capítulo destinado a apresentar esse con- acabam, com esse comentário, de alguma for-
fronto entre a teoria inatista e a construtivista, ma comparando (equiparando?) o tratamento
os autores criticam ambas as correntes, mos- dado à história da lingüística por Chomsky com
trando que ambas ignoram a interferência da o modo pela qual foi tratada a história em ou-
história no indivíduo. tros momentos — quem sabe na Rússia de
Pode-se, com efeito, interpretar a posição Stalin?
inatista como a instauração de uma distância Se o gerativista reescreveu sua história e a
máxima entre o momento filogenético da reinscreveu em uma história da lingüística “livre-
constituição do cérebro humano e aquele de
mente adaptada”, por que o fez? Pêcheux e
seu emprego nas mais diversas atividades atu-
almente observáveis, daí o “comportamento Gadet consideram que essa explicação se en-
lingüístico”: a história da evolução das espéci- contra nas diferentes raízes da lingüística como
es não tem nada a ver, por exemplo, com a disciplina na Europa e nos Estados Unidos.
história transformacional de uma frase! (...) a Enquanto no velho continente a disciplina teve
perspectiva inatista tende, assim, a este olhar
como berço o estudo dos textos clássicos,
absoluto em que, objeto real e objeto de co-
nhecimento vindo a coincidir, o epistemólogo adotando as regras gramaticais desses textos
se instala no lugar do construtor. como referência para a elaboração de sua gra-

10
mática, a que se dá enorme atenção – e isso se pré-escrita. Nos EUA, trata-se de direito de ju-
reflete no sistema educacional europeu –, os risprudência. Em outras palavras, enquanto o
Estados Unidos têm uma história radicalmente francês segue regras programadas a priori, o
diferente, já que sua cultura é marcada por um americano estabelece as regras quando elas se
forte sentido do pragmático. fazem necessárias.
Nesse contexto, a língua deixa o espaço euro- Segundo os autores, essas duas formas de
peu do adestramento (...) e se torna um ór- raciocínio em termos legais — o espaço regu-
gão-instrumento do sujeito, um dos meios lamentar, base do sistema francês, e o espaço
pelos quais ele se exprime, se comunica com
da regra de procedimento, base do sistema
os que o cercam e age sobre eles (LI, 185).
norte-americano, têm diferentes repercussões
Em um ambiente em que a gramática tem em termos da coerção do indivíduo, já que
tão pouca importância e é tão pouco estuda-
nesses dois espaços, o trabalho de interpreta-
da, Chomsky cria justamente uma teoria da gra- ção é completamente diferente. No primeiro,
mática. De certa maneira isso o impele a mos- trata-se de trabalhar as fórmulas de um texto
trar que tem, sim, uma base, um berço, mas para nele incluir ou excluir tal ou tal caso. No
não exatamente o mesmo que os gramáticos segundo, é a forma, a estrutura lógica da situ-
europeus. Os autores têm palavras duras para ação que trabalha de alguma forma sobre si
mesma (LI, 191).
explicar a necessidade de filiação de Chomsky
a uma corrente teórica: Pêcheux e Gadet reconhecem que esses
dois sistemas jurídicos têm uma contrapartida
Era necessário inscrever essa descoberta (es-
sencialmente o itinerário teórico que vai do nas maneiras de enxergar e examinar os fatos
estruturalismo de Harris ao gerativismo da T.S.) lingüísticos segundo diferentes teorias: as gra-
numa história da lingüística suscetível de máticas européias, seguindo o primeiro mode-
prefigurá-la fornecendo-lhe títulos de nobre- lo: regras fixas e posterior tentativa de classifi-
za15 (LI, 186).
car os exemplo segundo elas; a lingüística ge-
Os autores sugerem então examinar o “fun- rativa, seguindo o segundo: olhar o modelo e ir
damento teórico da controvérsia filosófica ame- adaptando-o para conter os novos dados.
ricana que opõe o empirismo ao racionalismo As fórmulas humorísticas são também alvo
para tentar determinar a posição real da Gra- de comparação. Enigma, witz e joke são apre-
mática Gerativo-Transformacional, seu solo ide- sentados como mais um indicador das diferen-
ológico efetivo, sem se ater à palavra da inter- ças entre EUA e Europa. Os enigmas se basei-
pretação chomskiana” (LI, 187). am em classificações e regulamentos. Witz e
O ponto mais recalcado do trabalho de jokes, em jogos de absurdo.
Chomsky, segundo os autores, é a noção de Mostram as razões da incorporação da tra-
regra, que permeia a gramática e o direito. dição intelectual judia — que foi rechaçada du-
A explicação materialista para esse recalque rante tanto tempo na Europa — à ideologia
será ligada às condições histórias nas quais se WASP16. Tal identificação tem raízes não só na
organizou o Direito na América. Mais uma vez formação do povo americano, mas também na
recorrem à comparação, cotejando as configu- confluência de modos de expressão — à pai-
rações do direito na França e nos Estados Uni- xão dos norte-americanos pelo debate corres-
dos, como já haviam mostrado em relação à ponde a “argumentação talmúdica”, tão ao gos-
gramática. to do povo judeu. Mas essa identificação entre
O direito na França é baseado em uma lei modos de fazer humor norte-americano e judeu

15
Curiosa ironia – nobreza não foi o que os americanos tinham desprezado em sua própria história? Ah, sim, os
autores de La Langue são franceses...
16
White Anglo-Saxon Protestant – sigla que identifica o norte-americano característico, e que remete ao American
Way of Life.

11
não se dá sem contradição: Pêcheux e Gadet assim tratam esse tema,
A ambigüidade anglo-saxã é fundamentalmen- quem sabe prevendo o futuro:
te dicotômica: ela se inscreve nesse mundo Como se a ideologia W. A. S. P. tivesse se apro-
lógico reduzido, nesse modelo reduzido priado do espírito de perseguição da cultura
construído pelo raciocínio lógico. judia, transformando-o em delírio paranóico de
A relação do humor judeu com o absurdo é controle: nesse sistema, um ato de agressão
diferente: não se entrega nunca à pura lógica, torna-se um gesto de defesa e de autoprote-
mas supõe um desvio pela história, a língua, o ção do modo de vida norte-americano (LI, 204).
Texto (LI, 195).
Solução? Os autores não prevêem nenhuma,
A filosofia chomskiana trata a lingüística exceto talvez o escape pelo humor, espécie de
como parte da psicologia, e essa um setor da inteligência que foge ao controle das máquinas
biologia. Mas qual é o lugar do real nessa teo- oficiais (ou não?). Como é possível que a socie-
ria? Segundo Chomsky, nenhuma parte do co- dade norte-americana consuma como entrete-
nhecimento humano deveria escapar ao inatis- nimento críticas ferozes ao seu próprio modo
mo — portanto o real da história, assim como de ser — de “Os Simpsons” a “Beleza America-
o real da língua estaria imerso nessa “matriz”. na”, de “Edwards Mãos de Tesoura” a “Tiros em
O ser humano, inconsciente desse sistema, não Columbine”?). Desencanto, ironia. Fruto de uma
chegaria a esse conhecimento, que é inato. época? O que Pêcheux diria de hoje? O que di-
Assim, diz Pêcheux e Gadet, “compreendemos ria de nossos lingüistas, de nossa cultura? Fi-
então que o real histórico seja objeto de uma nalmente, o que diria dessa política internacio-
expulsão fora da esfera racional, em nome da nal?
luta contra o empirismo: da história como ór-
gão mental, não há grande coisa para dizer!” Um olhar sobre o texto
(p. 199) Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que
A descrição dos autores nos leva a conclu- se já passaram. Mas pela astúcia que têm cer-
sões chocantes sobre o ponto de vista tas coisas passadas — de fazer balancê, de se
remexerem dos lugares.
gerativista. O núcleo humano seria invariante.
Guimarães Rosa18
Nele residiria, como um programa residente, a
A perspectiva de escrever uma resenha de
gramática universal — a mesma para todos.
“A língua inatingível” me foi apresentada como
Esse raciocínio tem como conseqüência um to-
uma tarefa hercúlea. Ao abraçá-la, tive ampla
talitarismo de enormes proporções.
chance de perceber o quanto isso seria verda-
Tudo se passa como se, por uma espécie de deiro.
harmonia preestabelecida, a gramática univer-
sal guardasse as categorias, também “univer- A língua inatingível é um livro denso. Mais
sais”, do direito burguês: a responsabilidade do isso, é um livro cujas informações não se
própria ao direito das pessoas, a possessão li- pode apreender de uma vez, mas que se vão
gada ao direito sobre as coisas (LI, 200). revelando aos pedaços, com muitas idas e vin-
Nesse caso, talvez se pudesse dizer, então, das, outras tantas consultas a outros materiais
que a gramática universal seria... a língua de e – por que não admitir? – alguma frustração. O
Deus? Então Deus é ocidental, capitalista...17 e leitor chegará certamente à conclusão de que
em seu nome pode-se então dizer que o con- “tudo não se pode entender”, para brincar com
ceito de liberdade é universal, e aí matar em uma das frases que poderia servir de epígrafe
nome da defesa desse universal. Assustador. ao livro. Mas, afinal, não é esse o espírito do
Mas coerente. que diz o livro?

17
Os filmes norte-americanos sempre me impressionaram pelo fato de neles qualquer pessoa saber falar inglês.
Se por acaso não o fazia era certamente um inimigo que deveria ser aniquilado... mesmo se fosse um alienígena!
18
Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p.80.

12
Os autores elaboraram uma sofisticada aná- A quem interessaria tal leitura? À primeira vis-
lise da história da lingüística sob o viés da aná- ta, aos lingüistas interessados em compreen-
lise do discurso. Demonstram um conhecimen- der a obra de Pêcheux. Mas o modo como esse
to profundo tanto dos movimentos políticos, livro é escrito faz dele fonte interessante para
quanto das revoluções teóricas nos campos da quem quer compreender melhor, se aprofundar
filosofia e da lingüística ao longo do século XX, no estudo dos movimentos de linguagem do
a partir da visão do estado da lingüística no fi- século XX, principalmente em suas repercus-
nal dos anos 70 (a primeira edição surge na Fran- sões políticas.
ça em 1981). E é justamente esse conhecimen-
to enciclopédico que por vezes atordoa o leitor À guisa de conclusão
menos experiente ou menos informado. Após a leitura dessa obra, poder-se-ia suge-
rir um outro ponto de vista para a pesquisa so-
Apesar de o livro ser uma análise da história
bre as relações língua(gem) e poder: a religião.
da lingüística, nem sempre os autores vão se
Dos campos da vida humana, talvez seja aí o
pautar somente pela cronologia dos fatos. Nos
lugar em que melhor se percebe, por um lado,
(muitos) capítulos do livro, eles vão construin-
a não-univocidade da língua, e por outro as ten-
do um tecido de informações em que entremei-
tativas sangrentas de assegurar seu domínio e
am os dados da história com a sua visão, for-
sua leitura uniformizada, quer por interesses,
temente marcada por fontes da psicanálise —
quer por crenças — o que, afinal de contas, tal-
Freud, Lacan, Milner são presenças constantes
vez seja uma mesma coisa.
e por uma perspectiva marxista.
Gadet e Pêcheux trabalharam, como já se viu, Penso que um bom exemplo do que seria
sob duas grandes perspectivas: a da política, esse trabalho seja observar as discussões so-
através de seus líderes ou das massas em fa- bre o nome que se dá ao que se conhece como
ses de movimentação política, e da ciência, Deus. Um fragmento dessa discussão está no
notadamente a psicanálise de base freudiana, trecho a seguir, encontrado em uma das inúme-
perscrutando os movimentos na lingüística em ras páginas da Internet que tratam do tema:
sua busca pelo poder sobre a palavra. Os nomes de Deus
Segundo a teologia muçulmana, os nomes de
Outro ponto de destaque desse livro é a lei-
Deus são 4 mil: mil são conhecidos apenas
tura da obra de diferentes autores sob o ponto por Deus; mil por Deus e pelos anjos; mil, por
de vista da duplicidade: Dois Saussure, dois Deus, pelos anjos e pelos profetas; mil, por
Maiakovski, dois Chomsky... Aparecem sempre Deus, pelos anjos, pelos profetas e pelos fiéis.
os contrastes, mas também a ligação entre Desses últimos, 300 são citados na Torá; 300,
nos salmos; 300, nos evangelhos e 100, no
esses “duplos”.
Alcorão: desses, 99 são conhecidos pelos fiéis
Outra característica que chama a atenção é comuns; 1 está escondido, secreto e acessí-
o processo de composição dos nomes dos vel somente aos místicos mais iluminados.
capítulos. Ler o sumário desse livro sem conhe- Segundo os ensinamentos do profeta Maomé,
“existem 99 nomes que pertencem somente
cer o conteúdo é muito pouco esclarecedor.
a Deus: aquele que os aprende, que os com-
Geralmente só é possível entender esses títu- preende e os enumera entra no paraíso e al-
los retrospectivamente, após o leitor ter dado cança a salvação eterna”. De fato, entender “a
conta não apenas do que diz o capítulo, mas, essência” desses atributos é o primeiro passo
muitas vezes, das finas redes que ligam essas para enriquecer-se espiritualmente. Eis porque,
no plano estritamente prático, é costume do
informações ao jogo de palavras presente do
muçulmano, que se recolhe em oração, fazer
título. O que significa que alguém que queira uti- correr entre os dedos as 99 contas do seu ro-
lizar o livro como uma fonte de consulta rápida sário. Todavia, os nomes de Deus não são
provavelmente ficará bastante frustrado. Não é Deus, mas um simples símbolo da realidade
um livro que se possa folhear e fazer um comen- divina, adaptada aos limites da razão humana.
tário, mesmo geral. Há que se ler. Seriamente. Agenda latinoamericana mundial.

13
O trabalho de linguagem em torno do termo Fernando Pessoa, em seu heterônimo Alberto
que designaria Deus é sempre a tentativa de Caeiro.
“dizer o indizível”. Caeiro admira a Natureza e busca atingir a
O trabalho sobre um texto não se encerra, mesma impassibilidade dos elementos natu-
como bem sabe cada leitor que relê um livro rais. Para este heterônimo o mundo não en-
cerra mistérios: Deus, metafísica, “sentido úl-
depois de algum tempo. A cada leitura e a cada
timo das coisas”, nada disso importa, as coisas
leitor, o livro se fecha/se abre, em um jogo de são apenas as coisas. E é esta realidade pura,
evocações — explicações que lembra espelhos sem símbolos de qualquer espécie, que cons-
postos um diante do outro. Mas urge encerrar titui o alvo de sua criação poética.19
esta resenha. Para fazê-lo, recorro, como fiz tan- Sua filosofia pode ser assim resumida:
tas vezes ao longo desse material, a dois frag-
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
mentos de textos literários, que (como ainda
O único mistério é haver quem pense no mis-
estou convencida, apesar de tudo o que foi dito tério. 20
ao longo do texto de Pêcheux e Gadet) exem-
Talvez seja esse o paradoxo da língua. Tentar
plificam mais claramente que outros discursos
dar conta disso será, então, como nomear Deus
o jogo permanente de contradição de que nos
— a cada nome, outro fica de fora. Quem sabe,
fala “A língua inatingível”:
como as franjas de Machado de Assis21, indi-
O objeto da longa perseguição de Gadet e cando a eterna contradição humana...
Pêcheux talvez possa ser também a procura de

19
Disponível em http://educaterra.terra.com.br/literatura/poesiamoderna/2003/11/05/003.htm
20
CAEIRO, Alberto. (Fernando Pessoa). poema V de O Guardador de Rebanhos.
21
MACHADO DE ASSIS, A igreja do Diabo.

14
Bibliografia
AGENDA latino-americana mundial. Disponível em http://latinoamericana.org/2003/textos/
portugues/DeusNoAlcorao.htm. Acesso em 18/10/04.
BANDEIRA, Manuel. Arte de amar. Disponível em http://www.cin.ufpe.br/~ago/poesias/mbandeira.
Acesso em 04/10/04.
CAEIRO, Alberto (Fernando Pessoa). O Guardador de Rebanhos [poema V]. Obras Completas.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1977.
CHOMSKY, N. Théories du language théorie de l’apprentissage: le débat entre Jean Piaget e
Noam Chomsky. Paris: Editions du Seuil, 1968.
FERREIRA, Maria Cristina Leandro. Saussure, Chomsky, Pêcheux: a metáfora geométrica dentro
e fora da língua. Linguagem & Ensino, v. 2, n. 1, p.123-137, 1999.
GIL, Gilberto. Metáfora. Disponível em www.limiar.com.Br/songbook/s_gil.htm. Acesso em 04/10/04.
HELSLOOT, Niels ‘Having one’s nose in order. Towards a post-marxist theory of language’. Dis-
ponível em http://www.nielshelsloot.nl/publications/1995a.htm. Acesso em 02/10/04
MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. A Igreja do Diabo e outros contos. São Paulo: Scrinium,
1996.
MALDIDIER, Denise. A inquietação do discurso: (Re)ler Pêcheux hoje. Campinas: Pontes, 2003.
ROSA, Guimarães. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
SAUSSURE, F. Curso de lingüística general. 4 ed. Buenos Aires: Editorial Losada, 1961

15

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