Você está na página 1de 54

NOÇÕES FUNDAMENTAIS DE 

DIREITO
APOIO DE AULAS
Sumários

1
Programa da Disciplina

• I ‐ A ordem social
• I I ‐ A ordem jurídica

• A ordem jurídica como ordem normativa.


Confronto entre a ordem jurídica e as outras
ordens normativas: moral, religiosa e trato social

• (Sentidos) Direito em sentido objectivo e em


sentido subjectivo; direito positivo, direito vigente
e direito natural. 2
• Homem é um ser social;

• Nas relações intersubjectivas há conflictos, daí a necessidade de


regras de conduta, assistidas de protecção coactiva;

• Direito não é ordem arbitrária mas é a constante vontade de atribuir


a cada um o que é seu – ordem justa;

• Vida social exige um conjunto de regras que orientem


comportamento dos indivíduos e estabeleçam regras de organização
e as instituições que lhes servem de estrutura;

3
• REGRAS – conferem dtos e atribuem deveres
• Direito – IMPÕE,PERMITE ou PROIBE CONDUTA
(andar na rua; senhorio entregar a casa)

• Função primária do Direito – orienta condutas;


• Função secundária do Direito – organização social;

• Ex: pequeno almoço num café – dto de propriedade do café; dto de


iniciativa privada; celebração de contratos e fornecimento de bens.
4
1 ‐ DIREITO ‐ DOMÍNIO NORMATIVO DA ORDEM SOCIAL

• Sistema – conj. de normas correlacionadas que formam uma dada


ordem jurídica (interna; internacional; unionense);

• Norma – regras de comportamento humano, definidas pelo Estado;

• Coercibilidade – ameaça do uso da sanção. Normas garantidas pelo


poder e impostas pela força (não pela violência).

• Estado tem monopólio da coacção física e efectiva da aplicação do


direito
5
• Sistema de normas constituem um ordenamento (consideração
abstracta).

• Ordem articulada – ordem jurídica, cujo dever ser constitui o seu


princípio ordenador.

• Cada um pode exigir ao outro o cumprimento das suas obrigações –


natureza sancionatória. (exigibilidade e executoriedade)

6
2 – CARACTERÍSTICAS DO DIREITO

• Universal

• Humano

• Necessário

• Social – Sociabilidade é inata ao homem: indispensabilidade de


regras de conduta: “Ubi homo, ibi societas” e “Ubi societas, ibi ius”.

• Violável e evolutivo. Imperativo. (art. 6.º CC) e COERCÍVEL

• Consuetudinário(3.º e 7.º, 348.º ), legislado ou codificado.

• Sentidos: objectivo; subjectivo; ciência (objecto o fenómeno


jurídico); justiça (axiomático). Polissémico: frutos_ 212.º
7
Vários sentidos:

A – Direito objectivo

I ‐ NORMA DE AGIR – conjunto de regras ordenadoras que se


impõem aos outros como um dever ser, organizando a vida social.

Ex: Direito Civil

B‐ Direito subjectivo (com minúscula)

II ‐ PODER DE AGIR – poder ou faculdade de que goza a pessoa.


Titular do dto para fazer o que o dto objectivo lhe permite;

8
Dtos Subjectivos:

I ‐ DTOS DE DOMÍNIO:

• ABSOLUTOS – impõe aos outros um dever geral de respeito


Ex: dto à vida, propriedade, dto sobre a empresa ou universalidade,
propriedade intelectual, de propriedade industrial, dtos de monopólio
ou exclusividade, personalidade (temos por força do nascimento,
incidindo sobre a vida da pessoa: integridade física, honra, intimidade,
bom nome.)
• Dever geral de abstenção. Irrenunciáveis, intransmissíveis.
• Oponível erga omnes

‐ DTOS POTESTATIVOS: Dto de anulação, denúncia,


Ex: resolução, revogação.

‐ DTOS DE DIRECÇÃO: cuidados parentais, dtos de direcção da entidade


patronal (poderes funcionais)
9
II ‐ DTOS DE CRÉDITO (subjectivo propriamente dito):

RELATIVOS ‐ conferem ao seu titular o poder, juridicamente tutelado, de


exigir de outrem uma determinada conduta.

• Só existem face a determinadas pessoas: geram deveres jurídicos


concretos.

• Direitos obrigacionais ou de prestações:

Ex: dto de nos ser entregue, no dia convencionado e pelo preço


estabelecido, o automóvel encomendado, tal como prescreve o contrato.

10
• Dto subjectivo ‐ PODER DE AGIR: Dto como faculdade (right),
prerrogativa superiormente tutelada.
Ex: credor pode pedir o pagamento, dono da coisa pode usá‐la.

• Corresponde ao Lado activo da relação jurídica: titular do dto pode


fazer o que o dto objectivo lhe permite, se necessário, pela coacção
jurídica.

• Situação de vantagem: usar, fruir, alienar, arrendar, testar, casar, a


que corresponde um dever ou sujeição jurídica.

Ex: A celebra com B um contrato‐promessa de compra e venda da sua


casa, por X euros. A não cumpre; B tem o dto de exigir judicialmente que
A celebre o contrato e a obter sentença que produza os efeitos da
declaração de venda.

• Dto objectivo: normas sobre o contrato‐promessa.


• Dto subjectivo: poder de B para exigir de A a venda prometida.
11
• (A) ‐ «Poder jurídico de EGIXIR ou PRETENDER de outrem um
comportamento positivo (acção) ou negativo (omissão);
ou
• (B) ‐ de por um ACTO LIVRE DE VONTADE, só de per si ou integrado
por um acto de autoridade pública, PRODUZIR EFEITOS 
JURÍDICOS que, inelutavelmente, se impõem na esfera jurídica
da contraparte).»
Contrapõe‐se‐lhes

(A.A.)  ‐ o DEVER JURÍDICO da contraparte  (facere ou não facere): 


necessidade ou vinculação de realizar comportamento a que 
tem dto o titular activo;  
ou  

(B.B) ‐ a SUJEIÇÃO (situação de necessidade)  por mero efeito do
exercício do dto do seu titular.
12
• Violação do 1.º: titular solicita ao trib. medidas que lhe
proporcionem a mm vantagem ou equivalente.

• Violação do 2.º: titular pode, p/acto unilateral de vontade, só de per


si, ou integrado em decisão judicial, produzir efeitos jurídicos que se
impõem à outra parte.

• Constitutivos p/acto unilateral do seu titular: 
1550.º, 1370.º, 1380.º, 1409.º, 1535.º
• Modificativos:1568.º, 1794.º
• Extintivos: 1047.º, 265.º, n.º2, 1055.º,1773.º,1101.º

13
C – Direito natural ou supra‐positivo

• Conjunto de princípios (não escritos) superiores, universais e


intemporais derivados da natureza humana,.
• Reflecte a justiça fundada na essência humana. (DUDH, 1948)

D – Direito positivo

• Conjunto de leis que estão ou estiveram em vigor. Dto de criação


humana, contingente e variável, no tempo e no espaço. Provém da
vontade humana. Engloba direito vigente.

E – Direito Substantivo e adjectivo ou processual


14
3 ‐ OUTRAS ORDENS NORMATIVAS DA SOCIEDADE

I ‐ ORDEM MORAL – regras de conduta segundo as quais os actos são


bons ou maus – imperativo de consciência.

• Dto ‐ confere dtos e impõe deveres;


• Moral ‐ impõe deveres.

• Normas jurídicas ‐ impostas pelo poder político;


• Morais ‐ sancionadas ética e socialmente: incoercíveis.

• Dto ‐ atende à motivação externa do acto;


(dimensão intersubjectiva)
• Moral ‐ molda a conduta na perspectiva da sua motivação.
(dimensão intrasubjectiva)
15
• Moral Social – conj. de regras morais que vigoram numa sociedade.
(ex: é ético cumprir os contratos)

• Nem td o que é lícito é moral.


• Serão admisssíveis comandos jurídicos contrários à moral?
Ex: pena de morte; casamento entre pessoas do mm sexo;
efeitos civis por mudança de sexo; aborto; eutanásia.

• Obrigações naturais ‐ devedor não pode ser compelido judicialmente


ao cumprimento, se cumprir voluntariamente não pode exigir a
restituição. Ex: 402.º/ 304.º, n.º 2/403.º CC (jogo tolerado – 1245.º)

• Tb: 280.º/2; 334.º/255º/883.º/1; 919.º; 920.º; 921.º; 974.º/2034.º


CC. Tb 8.º/2, culpa, dolo, 244.º
16
II – ORDEM DO TRATO SOCIAL: ordem normativa formada por usos
sociais (urbanidade) cuja violação provoca reprovação. Moralmente
neutra; sem coercibilidade.

• Ex: gorjeta, banco para idosos, cumprimentos, respeito em templos,


agradecer gesto de cortesia. Ver art. 3.º CC

III ‐ ORDEM RELIGIOSA: transcendência com a divindade. Intra‐


individual. Fundamento na fé. Voluntariedade.

• Ordena condutas tendo em vista a posição do homem perante Deus.

• Sem coercibilidade material.

• Laicidade – princípio da lib. religiosa. Estado aconfessional (v. 41.º/1 a


5 e 288.º c)CRP) Secularização do Estado. Dd 1910.
17
IV – ORDEM JURÍDICA é ORDEM NORMATIVA:
regula relações inter‐subjectivas, mediante formulação de regras
imperativas.

• A norma jurídica IMPÕE e ORDENA


ex: preço do café sem gorjeta; se alguém não pagar – bens
apreendidos; vendidos para pagar dívida; se alguém matar ‐ prisão

• Recorre ao emprego da força física se a norma for infringida


(carácter societário e sancionatório).

• Garantia jurisdicional ‐ remédio ou meio de defesa.


• Coercibilidade ou garantia coactiva (meios sancionatórios)

NÃO HÁ DTO SEM SANÇÃO. 18


4 – FINS DO DIREITO

A – Justiça: vontade perdurável de dar a cada um o seu dto;


• Igualdade ‐ o tratamento igual de coisas iguais e o tratamento
desigual de coisas desiguais.
• Proporcionalidade ‐ necessidade, adequação e equilíbrio
• Art. 9.º/d/h; 81.º/b;53.º;103.º/1, CRP “DEVER‐SER”

B – Segurança: «É essencial que as palavras da lei despertem em


todos os homens as mesmas ideias». Paz social e Certeza.
• Art. 34.º; 37.º CRP; 80.º/1 CC; 1.º e cap. VII CONU
• Art. 6.º CC, caso julgado; A LEI DISPÕE PARA O FUTURO ‐ 12.º/1CC;
29.º.º/1/4CRP; prescrição

C – CERTEZA: estabilidade das relações sociais


• Bem‐estar económico e social – núcleo fundamental e
identificador do Direito ‐ Art. 81.º e Título III (art58.º a 79.º) CRP
19
CONTINUAÇÃO DO PROGRAMA DA DISCIPLINA:

A norma jurídica

• ‐‐ Noção

• ‐‐ Características das normas jurídicas

• ‐‐ A estrutura da norma jurídica

• ‐‐ A sanção jurídica 

• ‐‐‐ Espécies de sanções jurídicas
20
1 ‐ NORMA JURÍDICA

• Sentidos possíveis: lei; preceito; disposição; regra (qq


comando geral ou individual); prescrição; comando.

• Proposição prescritiva: definição de comandos que regulam


comportamentos: 406.º, n.º 1

• Não prescritivas: normas de qualificação (66.º, 67.º, 68.º,


202.º CC); as que produzem efeitos automáticos (1051.ºCC:
caducidade do contrato de locação por perda da coisa
locada); normas retroactivas (18.º/3 e 29.º/1 CRP); normas
sobre normas (repristinatória); normas instrumentais
(regulam funcionamento de órgãos): permissivas 1305.º e
1779.º/1

• Não são normas: sentenças, despachos, cláusulas negociais.


21
2 ‐ Princípio jurídico

• Critérios operativos de decisão num caso concreto.


• Traduzem valores fundamentais da Constituição.
• Indeterminação
• Flexibilização do quadro legal.
• Pode estar corporizado em norma jurídica: 266.º/2 CRP.
• Em caso de colisão implica ponderação e não declaração de
invalidade de regra.
• “Mandatos de optimização”
• Enunciado jurídico c/alcance mais geral – inspira soluções para
interpretação e qualificação das normas
Ex: boa‐fé; proporcionalidade; protecção da confiança; dignidade
humana; bons costumes (regras elementares de moralidade de conduta
social); ordem pública (nulidade) autonomia privada; pacta sunt
servanda; in dúbio pro réu. 22
• O Tribunal Constitucional anulou uma decisão judicial de
despedimento de uma funcionária de uma empresa por esta
recusar trabalhar após o pôr do sol de sexta‐feira até ao
crepúsculo de sábado, devido à religião que professa.

• Os juízes conselheiros da 3.ª Secção do TC entenderam


"conceder provimento ao recurso" apresentado pela
recorrente, funcionária de uma empresa de instrumentos
médicos, que alegou "o direito à liberdade religiosa",
consagrado na Constituição.
• O TC determinou ainda que o Tribunal do Trabalho de Loures,
primeira instância, proceda à revogação do "acórdão
recorrido, para que seja reformado".
• A decisão do 2.º Juízo do Tribunal do Trabalho de Loures,
datada de 19 de junho de 2011, considerou a "licitude" do
despedimento, porém a funcionária recorreu para a Relação
de Lisboa por entender que tinha o direito "de recusar a
prestação da sua actividade a partir do por do sol de sexta‐
feira até ao por do sol de sábado". 23
• No recurso para o TC, a profissional alegou "violação dos princípios
constitucionais da proporcionalidade e da igualdade" e sustentou
que a Lei da Liberdade Religiosa consagra "o direito de dispensa do
trabalho".

• Justificava com o facto de "a religião que professa observar esse


período como dia de descanso", pelo que recusou o "cumprimento do
horário integral às sextas‐feiras", quando o seu turno "terminava à
meia‐noite", ou "prestar trabalho suplementar ao sábado, quando
solicitado" pela empresa.

• A 15 de novembro de 2011, o Tribunal da Relação de Lisboa


confirmou a decisão da primeira instância, sublinhando que a
funcionária causou "prejuízos consideráveis à sua entidade
empregadora".
24
3 – CARACTERÍSTICAS

• A – IMPERATIVIDADE (permitir, proibir, declarar: 405.º, 67.º,1305.º).

• B ‐ VIOLABILIDADE
Ex: não pagar renda. Se A se recusa a entregar certa quantia em dívida a B,
viola factualmente. Juridicamente continua na posição de devedor, art. 1038.º
a), CC)

• C ‐ GENERALIDADE E ABSTRACÇÃO – comando destina‐se a uma


generalidade de pessoas (conj. indeterminado e indeterminável – 483.º e
135.º e 201.º/1 CRP); aplicando‐se a um tipo, mais ou menos, lato de
situações, factos ou pluralidade de casos.
(v. normas constitucionais sobre PR)

• D ‐ COERCIBILIDADE‐ confere especificidade à norma jurídica.


Susceptibilidade de imposição pela força mediante a aplicação de SANÇÕES
(pena, multa, restituição, indemnização).

25
4 ‐ ESTRUTURA

A – PREVISÃO – hipótese normativa; antecedente;


Formulada de forma geral e abstracta. Descrição de situação

Ex: 1368.º as árvores ou arbustos nascidos na linha divisória de prédios (204.º


CC) pertencentes a donos diferentes....

Consequência ou efeito jurídico associado à verificação


da situação anteriormente descrita:

B – ESTATUIÇÃO – injunção, consequente: efeitos prescritos


desencadeados pela verificação dos factos

Ex: presumem‐se comuns; qualquer dos consortes tem a faculdade de os


arrancar, mas o outro tem direito de haver metade do valor das árvores ou
arbustos, ou metade da lenha ou madeira que produzirem, como mais lhe
convier.
26
No 2.º momento (B) estabelece‐se a regulação ou conduta:
CONSTITUIÇÃO; MODIFICAÇÃO; EXTINÇÃO DE PODERES OU
DEVERES

EX: 483.º ‐ previsão: violação


estatuição: obrigação de indemnização.

V. 1323.º/1/1.ª parte (até pertence); 70.º (até


moral…); 280.º

• Ordem invertida: 1381.º; c/previsão pressuposta: 1671.º/1;


c/consequências noutras normas: 1672.º e 1779.º

• 133.º al. g) CRP: O PR só pode demitir o gov (E)///qd tal se torne


necessário para assegurar o regular funcionamento das
instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado(P) 27
• Facto jurídico – evento juridicamente relevante para a prática de
efeitos jurídicos: constitutivos, transmissivos, modificativos ou
extintivos.

• Situação jurídica – posição de um sujeito face ao direito: deveres,


obrigações ou faculdades.

28
5 ‐ SANÇÃO JURÍDICA

• Reacção da ordem jurídica à não observação da estatuição

• Há normas que não comportam este elemento.

• Elemento do sistema jurídico: as normas são jurídicas pq integram o


sistema: este é jurídico por comportar meios de coacção.
• Ex. de norma c/sanção coactiva: 1130.º

Silogismo judiciário:
• “Premissa maior (corresponde à norma): Todo aquele que causar
danos a outrem fica obrigado a indemnizar.
• Premissa menor (situação de facto): A causou danos no barco de B.

• Consequência jurídica: A constitui‐se na obrigação de indemnizar os


danos que causou a B.” 29
5.1. MODALIDADES DE SANÇÕES (podem ser cumulativas):

1 – COMPULSÓRIAS – Actuam sobre infractor constrangendo‐o à


conduta devida. Impõe‐se sacrifício, que cessa logo que cumpra. Apenas
para prestações de facto infugível.
• Entre a prevenção e a repressão.

Ex: dívidas de alimentos (não interessa castigar o infractor mas forçar o


cumprimento da obrig.); 829.º‐A CC –sanção compulsória pecuniária
p/dia de atraso ou infracção; dto de retenção – 754.º CC (compelir ao
pagamento, devendo restituir‐se a coisa c/ o pagamento, ou satisfação
da dívida) ‐ juros de mora ou agravamentos fiscais. ‐ cláusula penal nos
contratos.

30
2 – REPRESSIVAS – accionadas apenas DEPOIS da infracção.

2.1 – RECONSTITUTIVA

Repor a situação que existiria sem a violação: 562.º, 827.º ss

A deve 500 a B ‐ Tribunal vai buscar 500 ao património de A entrega‐os a B (prestação


fungível)

• Conduz ao mesmo resultado do cumprimento voluntário: RESTAURAÇÃO NATURAL


‐ realização de prestação igual àquela a que estava vinculado o devedor.
• Tenta‐se a reposição ou Reintegração in natura: situação que EXISTIA ANTES da
violação da norma
Quebrou‐se um vidro – põe‐se outro igual,

• Nos dtos de crédito o devedor deve realizar uma prestação em benefício do credor.
Este pode exigir judicialmente a prestação imposta pela norma ofendida. (entrega
de coisa ou do preço). 827.º,828.º e 829.º.

• A celebrou contrato‐promessa com B, segundo o qual este lhe devia entregar um


PC. B não o fez e A pode exigir em tribunal a apreensão do PC e a sua entrega.
(827.º) 31
MAS,
SE TAL NÃO FOR (materialmente) POSSÍVEL

2.2. INDEMNIZATÓRIA

REINTEGRAÇÃO POR EQUIVALENTE (sucedâneo pecuniário) ‐ constituir situação que,


embora diferente, é equivalente à situação visada pela norma infringida: 564.º, 566.º
Ex: retrato por pintor conhecido; cantar em espectáculo; partir prato antigo –
INDEMNIZÁVEL

SANÇÃO COMPENSATÓRIA ‐ opera mediante indemnização substitutiva de danos


emergentes ou imediatos (patrimoniais e não patrimoniais que mereçam a tutela do
direito): 496.º, n.º 1 (494.º).

Ex: atropelamento (danos patrimoniais e dores, sofrimento)

32
3 – PUNITIVAS (PENAS) – em domínios específicos

• Violações graves da ordem jurídica: variam em função da culpa

• Infligir SOFRIMENTO e CENSURA.


ou
Privação de bem (substituição por pena de multa, por dias livres ou
fins de semana, semidetenção, com saídas do estabelecimento
prisional)..

• No Dto Civil – cláusulas penais dos contratos – 810.º CC e 2034.º

• CRIMINAIS,CIVIS, ADMINISTRATIVAS e LABORAIS OU DISCIPLINARES

Ex: A, conhecido traficante, roubou um carro e atropelou duas pessoas,


tendo matado uma delas. O juíz aplicou‐lhe PENA de prisão efectiva
33
• PENAIS ‐ Previstas no Código Penal

• I ‐ Penas corporais – privativas ou não de liberdade individual:


pena de prisão, substituição p/multa ou outra não privativa de
liberdade. Cumprida em regime de permanência domiciliária,
ou vir a ser suspensa; prisão por dias livres; semi‐detenção;
trabalho a favor da comunidade, em substituição de prisão até 2
anos; admoestação.

• II – Penas pecuniárias

• III – Penas acessórias (exercício de profissão e condução)


• IV – Medidas de segurança privativas da liberdade
(inimputabilidade): internamento, tratamento de segurança.34
4 – PREVENTIVAS  

(MEDIDAS DE SEGURANÇA)

• 485.º,781.º – prevenir violações futuras (contrariar tendência do 
agente).  

• Ex: interdição de profissão. Internamento compulsivo de 
inimputáveis. Inabilitação para o exercício de funções públicas em 
consequência da prática de factos delituosos. Inibição de conduzir 

35
5 – CONTRA‐ORDENACIONAIS – Ilícito de mera‐ordenação social

• Facto ilícito que preenche um tipo legal para o qual se comina uma
COIMA. Socialmente intolerável mas sem dignidade penal.
• Cumulativas com sanções acessórias (perda de objectos,
encerramento de edifícios, selagem de equipamentos, suspensão de
laboração)

• Aplicadas por autoridades administrativas com poderes inspectivos e


sancionatórios, que devem remeter o processo ao M.P se se tratar de
crime.

• O arguido deve ser notificado do Auto de Contra‐Ordenação, e


assiste‐lhe o dto de ser ouvido, de se defender, de constituir
advogado e de recorrer (junto ao Tribunal do local onde se consumou
36
a infracção).
6 – CIVIS: negócios feridos de vícios formais ou substanciais.

I ‐ ILEGALIDADE
Desconformidade com a lei. Comportamento antijurídico.

II ‐ INEFICÁCIA – inadequado para produzir os efeitos pretendidos,


por falta de pressupostos legais: 268.º/1; 119.º/2 CRP

III ‐ INEXISTÊNCIA – casos mais graves de ilicitude


Para o dto nada há, a lei di‐lo claramente: 1628c) e 1630.º

IV ‐ INVALIDADE – acto contrário ao Direito, ilícito.


Implica inibição de efeitos jurídicos. O regime pode ser de:
37
• IV.1 ‐ NULIDADE – não produz efeitos dd logo. Ofende interesses públicos
(280.º). Não se sana c/decurso do prazo. Invocável em qq momento (286.º).
Declarada ex officio pelo tribunal, que se limita a verificar a total ineficácia

Ex: requisitos formais de transmissão: escritura pública, documento particular


autenticado, 219.º e 220.º, ou vícios na formação ou decl. da vontade, 240º,
n.º2. v. 294.º

• IV.2. ‐ ANULABILIDADE – produz efeitos como se fosse válido, mas pode ser
destruído. Invocável pelo interessado.
• Se não invocar (ex: 125.º,287,288.º e 289.º): vício sana‐se após
determinado período de tempo e efeitos tornam‐se definitivos:
convalidação ou confirmação (renúncia ao dto de anulação).

• Sanação c/efeito retroactivo.

• Dto de anulação por pronúncia judicial é potestativo.


38
7 – ESPECIAIS:

INDULTO:
• Abolição da execução da pena.
• Perdão – equidade, tolerância ou política geral,
• Dirige‐se a generalidade de delinquentes (já condenados)
• Acto do PR, ouvido o governo: 134.º f) CRP
• VISA A PENA aplicada, extinguindo‐a ou substituindo‐a
• Carácter pessoal (clemência)

AMNISTIA:
• Abolição da incriminação. Extingue o procedimento criminal.
• Esquecimento, APAGA O CRIME e consequências penais
• Não ficam prejudicados dtos cíveis de terceiros
• Acto da AR: 161.º f) e 166.º/3 CRP
• Carácter impessoal
39
8 ‐ DISCIPLINARES:

• Juntamente com o poder de direcção e de regulamentação


constitui o núcleo dos poderes patronais.

• Faculdade, poder discricionário (princ. da proporcionalidade, boa‐


fé, celeridade, contraditório, respeito dos dtos e garantias gerais
dos trabalhadores)

• Resulta da supremacia/sujeição da relação jurídico‐laboral, tem


conteúdo sancionatório – função punitiva – ordenador – função
preceptiva ‐ e preventiva.

• Assegurar disciplina nas empresas

• CT ‐ repreensão; repreensão registada; sanção pecuniária; perda


de direito de férias; suspensão do contrato, com perda de
retribuição e de antiguidade, despedimento s/qq indemnização.
40
6 ‐ CLASSIFICAÇÃO OU TIPOLOGIA DAS NORMAS JURÍDICAS:

I – NORMAS UNIVERSAIS, REGIONAIS E LOCAIS:


Critério de validade ESPACIAL de aplicação ou territorial

• I ‐ Universais – aplicam‐se em todo o território nacional (Portugal:


Estado unitário regional, com 2 regiões autónomas: 112.º/1 e
232.ºCRP. 2.º/6 CONU

• II ‐ Regionais – aplicáveis só numa dada região do Estado.


Ex: Estatuto da Região autónoma: 225.º e 161.ºb) da CRP).
• Assembleias legislativas regionais: 227.º e 232.º 56.º CRP.

• III – Locais – aplicam‐se em fracção do território, em zonas


delimitadas (municípios e freguesias)
• Poder local: 235.º e ss. CRP, posturas municipais e regulamentos
da administração local, não publicadas em DR. (348.º/1CC).
41
II – NORMAS INTERPRETATIVAS

• Fixam sentido de outras normas ou expressões legais já existentes.


• Definições legais (349.º, 874.º, 1022.º) e enunciações legais (1023.º
1363.º).
• Ex: 237.º, 1402.º, 2225.º e 2226.º, 2227.º, 2228.º,
• AUTÊNTICA, se feita pelo órgão criador da norma.
• DOUTRINÁRIA, se pelos estudiosos do direito.

III – NORMAS IMPERATIVAS E NORMAS DISPOSITIVAS ou FACULTATIVAS


Critério da relação com a VONTADE dos destinatários.

1‐ IMPERATIVAS ou INJUNTIVAS:
Aplicação não depende da vontade.

• PRECEPTIVAS ‐ impõem conduta positiva ou dever: pagar impostos,


escrituras 875.º, 1029.º, 406.º/1, 1323.º
• PROIBITIVAS – vedam conduta: 8.º/1; 877.º/1; 989.º; 1038,º alíneas c), d),
e),f), 1360.º, 1458.º do CC e regras penais.
42
2 – DISPOSITIVAS ou FACULTATIVAS:
Aplicação depende da vontade.

• DISPOSITIVAS ou PERMISSIVAS – concedem poderes, faculdades.


• Comando pode ser afastado: 1450.º, 1453.º 1698.º, 405.º, 223.º, 1356.º, 2188.º

• SUPLETIVAS OU INTEGRATIVAS ‐ suprem falta ou insuficiência de manifestação de


vontade nas declarações negociais.

• Só se aplicam se particulares não adoptarem outra solução:


172.º, 582.º, n.º 1, 772.º/1, 1698.º a 1716.º, 1717.º, e 878.º, 982º/1

43
Ex: de norma imperativa e supletiva:

• A vende seu imóvel a B. 
• Necessário escritura pública que é acto notarial pago.

• Partes podem regular quem deve pagar despesas.

• Quando não o fazem aplica‐se o 878.º CC:


• «na falta de convenção em contrário as despesas ficam
a cargo do comprador».

Fundamento:
• Vontade conjectural das partes; 
• Maior justiça da solução.  44
IV ‐ NORMAS GERAIS, EXCEPCIONAIS E ESPECIAIS:
Critério do ÂMBITO MATERIAL ou domínio de aplicação

• Qd não há excepcionais ou especiais, aplicam‐se as gerais.

• 1 ‐ GERAIS – Regime‐regra para generalidade de situações


(A lei geral não revoga a especial)
• 2 – ESPECIAIS ‐ Com desvios do regime‐regra. Ex: 1303.º/1
Regulam sector restrito de casos sem contrariar as gerais, antes as
completando ou complementando. Ex: compra e venda comercial e civil.

• 3 ‐ EXCEPCIONAIS ‐ consagram regulamentação oposta às normas gerais.


A disciplina geral é inadequada em sector restrito.
Confrontar o 219.º (regra geral) com o 875.º e 1143.º,
309.º e 310.º,127.º, 877.º, 947.º.

• Aplica‐se o art. 10.º e 11.º ‐ As lacunas devem, primeiramente, ser


reguladas pelas relações análogas. Não se admite aplicação analógica das
normas excepcionais, mas admite‐se interpretação extensiva 45
V ‐ NORMAS DETERMINADAS E INDETERMINADAS

• Critério da relação com o intérprete
• Determinadas – sentido claro e preciso
• Indeterminadas – elásticas ou aberta: conceito de dolo, culpa, fraude,
abuso de direito, boa fé, bons costumes, erro, facto notório, bom pai
de família.
VI – NORMAS PROGRAMÁTICAS, PRECEPTIVAS, EXEQUÍVEIS

• Critério de aplicabilidade das normas jurídicas
• Programáticas – Definem objectivos sob forma de resultados não 
imediatos. Aponta programa de acção: 65.º/1 e 66.º CRP
• Preceptivas ‐ Impõem comportamento: 406.º/1
• Exequíveis – auto‐suficientes
• Não–exequíveis ‐ programáticas ou preceptivas que necessitam  
complementação de outras: 38.º/3, 40.º/3 CRP 46
Modalidades de TUTELA JURÍDICA:

• PREVENTIVA
• REPRESSIVA
• COMPULSIVA (evitar prolongar situações).

• Institucionalizada ‐ não há justiça privada (CONU)

• Estadual negativa ou HETEROTUTELA – pena de prisão ou penhora de


bens. (agentes de execução)

• Estadual positiva ‐ dto a mais dias de férias como prémio de


assiduidade. (compensação e incentivo) Sanções premiais

47
1 ‐ Tutela privada ou AUTOTUTELA – excepcional.

A – LEGITIMA DEFESA – justifica um acto destinado a afastar


agressão ilegal, actual ou iminente, contra a pessoa ou
património do agente ou de terceiro: 337.º CC , 32.º CP.

• Natureza subsidiária da reacção: impossibilidade de recorrer à


tutela pública// proporcional: não provocar prejuízo superior ao
que procura evitar (usando moderadamente dos meios
necessários para repelir a agressão, senão é abuso de dto).
• Agressão – actual ou iminente (comportamento humano), ainda
em curso e antes de ter terminado a agressão.
• Defesa – necessidade e intenção defensiva (cfr intensidade da
agressão, perigosidade do agressor)

• Excluem a ilicitude.
48
B – ESTADO DE NECESSIDADE – situação em que se justifica
destruir ou danificar coisa alheia, devido a necessidade imperiosa
e afastar ou remover perigo actual ou iminente de ocorrência de
dano superior para a pessoa e/ou o património do agente ou de
terceiro: 339.º CC e 34.º CP

• Ex: introdução em casa alheia como refúgio em inundação ou


derrube de árvores para travar incêndio. A, para escapar às
chamas, arromba porta de habitação contígua. Indemnizável.
(só pode sacrificar bens patrimoniais)

• Exige‐se que o agente não seja responsável pela situação de


perigo//proporcionalidade.

• O perigo causado por comportamento humano, natural ou


animal MAS NÃO HÁ ILÍCITO A TRAVAR
• Exclui a ilicitude da conduta
49
C – ACÇÃO DIRECTA ‐ recurso à força para evitar inutilização do dto:
336.º CC.
• Apropriação//destruição//deterioração de coisa (derrubar muro e
entrar no jardim do vizinho para recuperar cavalo da nossa
propriedade que ele retirou sem autorização)//eliminação de
resistência irregularmente oposta ao exercício de um dto (empurrar
indivíduo para entrar em nossa casa; arrombamento de portão como
meio de defesa de servidão de passagem). Limites da LD e do EN.
• Impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos; não
exceder o necessário; violação efectiva do direito. Inevitável para
evitar inutilização prática do dto
D – DTO DE RESISTÊNCIA ‐ Art. 21º CRP – face a ordens que violem DLG.
Ex: dto de trabalhador desobedecer a ordem ilegítima para abandonar
posto de trabalho. Dto de obediência cessa face a comandos que
ofendam Dtos, liberdades e Garantias. Resistir a ordem de autoridade
policial ou entidade patronal. 271.º/3 CRP.
E – DTO DE RETENÇÃO – credor pode reter a coisa que deveria entregar
50
ao devedor para o obrigar a cumprir : 754.º e 755.º
2 ‐ TUTELA PREVENTIVA: dissuadir de práticas futuras desviantes;
minimizar riscos de práticas ilícitas ou perigosas (política sanitária,
polícia marítima, polícia de trânsito)

• Medidas de Segurança – expulsão de estrangeiro por razões de


ordem pública ou segurança nacional.
• Aplicam‐se àqueles que praticam crimes e que, por serem portadores
de doenças mentais, não podem ser considerados responsáveis pelos
seus actos e, portanto, devem ser tratados e não punidos.

• Medidas de Inabilitação – proibição do uso de cheques.

• Procedimentos Cautelares – requerimento do credor para apreensão


judicial de bens do devedor em caso de fundado receio de perder a
garantia patrimonial do seu crédito

51
Art. 381.º CPC:

Providências cautelares não especificadas

• «Sempre que alguém mostre fundado receio de que outrém


cause lesão grave e dificilmente reparável ao seu direito, pode
requerer a providência conservatória ou antecipatória
concretamente adequada a assegurar a efectividade do direito
ameaçado»

• A gravidade da lesão deve ser aferida tendo em conta a sua


repercussão na esfera jurídica do interessado.

• Evitar a persistência da situação lesiva.


52
3 ‐ TUTELA REPRESSIVA ‐ Sanção

• Tutela jurisdicional: incumbe aos Tribunais assegurar a defesa dos


direitos e interesses legalmente protegidos, reprimir a violação da
legalidade democrática e dirimir os conflitos de interesses públicos e
privados.

ART. 20.º CRP e 202.º


• 1 ‐ A todos é assegurado o acesso aos Tribunais Judiciais para defesa
dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a
justiça ser denegada por insuficiência de meios económicos.
• 2 ‐ Lei própria regula o acesso aos Tribunais Judiciais em caso de
insuficiência de meios económicos.
• Organização dos trib., qto à matéria: comuns ou de competência
especializada
• Hierarquia dos trib. Judiciais: 1.ª instância, 2.ª, e STJ
53
• Os Tribunais Judiciais encontram‐se hierarquizados para efeito
de recurso das suas decisões.

• Em regra, o STJ conhece, em recurso, das causas cujo valor


exceda a alçada dos Tribunais da Relação e estes das causas
cujo valor exceda a alçada dos Tribunais Judiciais de 1.ª
instância.
• Em matéria cível, a alçada dos Tribunais da Relação é de (euro)
30.000 e a dos Tribunais de 1.ª instância é de (euro) 5.000 Euros

• Dto Criminal: não há alçada.

• A admissibilidade dos recursos é regulada pela lei em vigor ao


tempo de instauração da acção 54

Você também pode gostar