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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO

DIREITO E DO ESTADO

A
REALIZAÇÃO
UNIDADE V
DO DIREITO
05.01 - A RELAÇÃO
JURÍDICA
FATO, ATO, RELAÇÃO E NEGÓCIO NO DIREITO

- fato jurídico – o acontecimento na vida social (fato social) que


é regulamentado por norma jurídica.
- fato jurídico em sentido estrito – não dependem da vontade
humana (acontecimentos naturais).
- ato jurídico – são os fatos jurídicos gerados pela conduta
humana (ação ou omissão). Dividem-se em a) lícitos (conduta
aprovada pelo ordenamento jurídico); b) ilícitos (condutas
reprovadas e sancionadas pelo ordenamento jurídico).
- negocio jurídico - é o ato jurídico com a manifestação de
vontade qualificada (produzir efeito jurídico desejado)
"Definimos relação jurídica como relação
social que se realiza entre sujeitos de direito
(pessoas físicas ou jurídicas) ou assemelhados
(entes despersonalizados), sendo
regulamentada por meio de normas jurídicas.
(...) consiste em um vínculo entre dois ou mais
sujeitos de direito, segundo formas que são
previstas pelo ordenamento jurídico e geram
direitos e/ou obrigações para as partes"
(Dimoulis).
1 - Requisitos da Relação Jurídica
a) Material - a relação social ou vínculo
intersubjetivo. Somente "pessoas" podem ser
sujeitos da relação jurídica.
- Personalidade jurídica - é a capacidade (aptidão)
de adquirir direitos e contrair deveres, conforme a
ordem jurídica. Sujeitos de direito:
pessoa física (natural);
pessoa jurídica (empresa, associações simples);
o Estado - administração direta (União, Estados,
DF e Municípios);
1 - Requisitos da Relação Jurídica

Estado - administração indireta: autarquias,


empresas públicas e sociedades de economia
mista (criadas por lei);
entes despersonalizados - massa falida, espólio,
sociedade de fato, condomínio edilício.
b) Formal - reconhecimento pelo ordenamento
jurídico. É a correspondência ou adequação do
vínculo com uma hipótese normativa, gerando
consequências de obrigações para um e direito
(poder) para outro.
2 - Elementos da Relação Jurídica

2.1) SUJEITOS - são as pessoas vinculadas pela


norma jurídica. De acordo com a prestação
(obrigação) jurídica dividem-se em:
a) Sujeito ativo - é o credor da prestação principal, o
portador do direito subjetivo de poder exigir o seu
cumprimento.
b) Sujeito passivo - é o responsável ou devedor da
prestação principal
2 - Elementos da Relação Jurídica

2.2) VÍNCULO DE ATRIBUTIVIDADE - expresso na lei


ou no contrato, confere o poder de pretender ou
exigir algo determinado ou determinável. Gera um
"título legitimador" que afirma a posição dos
sujeitos na relação.
Ex. Para ser proprietário de um imóvel uma pessoa
tem um "título" de propriedade (registro de imóveis)
que o "legitima" à prática de atos nessa qualidade: o
uso, o gozo e o dispor do seu bem. Todas as pessoas
têm o dever de respeitar.
2 - Elementos da Relação Jurídica
2.3) OBJETO - é o elemento sobre o qual recai tanto a
exigência do credor como a obrigação do devedor. O
objeto pode ser coisa (ex. carro) ou uma prestação.
3 - Espécies de Relação Jurídica
- civil, penal, administrativa, empresarial, etc.
- contratual, institucional de coordenação (ex.
sócios da S/A), de de subordinação (Estado-
indivíduo) ou de integração (ex. marido e mulher).
- de direito público (subordinação) ou de direito
privado (coordenação).
RELAÇÃO JURÍDICA
SUJEITO 1 PRESTAÇÃO SUJEITO 2
(ATIVO) (OBJETO MATEIRAL OU (PASSIVO)
IMATERIAL)
OBRI GAÇÃO
DETÉM A J URÍ DI CA DETÉM A
QUAL I DADE DE PREVI STA NA QUAL I DADE DE
CREDOR ( PODER) NORMA DEVEDOR DE
DE UMA UMA PRESTAÇÃO
PRESTAÇÃO DAR J URÍ DI CA
J URÍ DI CA FAZER
NÃO FAZER

FATO JURÍDICO QUE VINCULA SUJEITO 1 E SUJEITO 2


05.02 - A tutela
jurídica: pública,
privada, coletiva e
difusa.
TUTELA JURÍDICA - o conjunto de mecanismos que visa
assegurar o cumprimento ou a realização do Direito.
- O termo "tutela" tem significado de defender,
amparar ou proteger alguém ou algum bem. A tutela
jurídica no Brasil é realizada principalmente pela
atividade estatal chamada jurisdição (exercida pelo
Poder Judiciário), cuja atribuição típica é dizer o
direito no caso concreto, mediante a composição de
uma relação jurídica processual, a fim de sanar
conflitos a ela submetidos.
1 - TUTELA JURÍDICA PÚBLICA
- Eminentemente, a tutela jurídica é realizada pelo
Estado (jurisdição), tendo em vista o princípio da
inafastabilidade do controle jurisdicional previsto no
art. 5º, XXXV, da CF/88: a lei não excluirá da apreciação
do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.

- É a atuação do Estado através da qual se permite


assegurar o cumprimento das normas jurídicas e
efetivar o respeito aos direitos dos indivíduos,
principalmente os previstos na CF (fundamentais).
1 - TUTELA JURÍDICA PÚBLICA
- Para a realização desse propósito, a CF/88 atribui à
jurisdição diversas prerrogativas ou garantias:
o julgador (juiz ou tribunal) deve ser imparcial e
decidir conforme a sua competência;
as decisão devem ser motivadas (fundamentadas)
juridicamente, são definitivas (coisa julgada) e
imperativas (executórias);
o processo deve atender aos requisitos legais
(devido processo), ter prazo de duração razoável,
atender às garantias do contraditório e ampla
defesa, igualdade, publicidade, etc.
1 - TUTELA JURÍDICA PÚBLICA
- Ações constitucionais (garantias fundamentais):
mandado de segurança - proteger direito líquido e
certo, individual ou coletivo, contra ato de ilegal de
autoridade pública;
Habeas corpus - voltado para a garantia da
liberdade física de locomoção;
Habeas data - viabiliza o acesso, a retificação ou
anotação de informação da pessoa em bancos de
dados públicos ou privados de caráter público
1 - TUTELA JURÍDICA PÚBLICA
- jurisdição constitucional - são as ações que
promovem a apreciação da constitucionalidade ou
inconstitucionalidade das lei e atos normativos. Visam
proteger a CF de normas inferiores que com ela
venham a se incompatibilizar. Ex. Ação declaratória de
inconstitucionalidade (ADI).
- Como, em tese, todas as pretensões podem ser
levadas à apreciação jurisdicional, o Código de
Processo Civil (CPC) regula, de maneira geral, como
isso se torna factível.
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE E
RECEPÇÃO DAS NORMAS INFERIORES

CONSTITUIÇÃO CONTROLE DE
RECEPÇÃO FEDERAL DE CONSTITUCIONA-
1988 LIDADE

ANÁL I SE DA ANÁLISE DA
COMPATI BI L I DADE DAS I NSTAUROU UMA COMPATIBILIDADE DAS
NORMAS NOVA ORDEM NORMAS
I NFRACONSTI TUCI ONAI S J URÍ DI CA A INFRACONSTITUCIONAIS
EDI TADAS ANTES DE PARTI R DE EDITADAS SOB A
05/ 10/ 1988 COM A 05/ 10/ 1988 VIGÊNCIA DA CF/88.
CF/ 88
1.1 - MODALIDADES DA TUTELA JURISDICIONAL
- Preventiva: atua em momento anterior à violação do
direito e procura evitá-la. São medidas necessárias ao
não perecimento do direito ou coisa, proteção à
coletividade, etc.

- Repressiva: atua em momento posterior à violação


do direito e traduz-se na aplicação de uma sanção ao
infrator, que consiste na privação de bens ou direitos.
Ex. condenação por danos morais, pena de reclusão,
multa, inelegibilidade, etc.
2 - TUTELA JURÍDICA PRIVADA
- A tutela privada é exceção, pois o direito em geral
não permite o uso da própria força e autoridade do
indivíduo para fazer valer os seus direitos.

- Tem caráter subsidiário à tutela pública (regra)


visando suprir insuficiências das autoridades públicas.

- O reconhecimento dos meios de autotutela permite


que atos supostamente ilícitos, se tornem lícitos.
2 - TUTELA JURÍDICA PRIVADA
- O uso da autotutela fora dos casos estabelecidos por
lei configura o crime de exercício arbitrário das
próprias razões - art. 345 do CP: Fazer justiça pelas
próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora
legítima, salvo quando a lei o permite.
- Exceções na legislação civil: o desforço imediato (art.
1.210, CC) e o penhor legal (art. 1470, CC).
- Exemplos de excludente de ilicitude (penal): estado
de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento
do dever legal (art. 23).
3 - TUTELA JURÍDICA COLETIVA/DIFUSA
- A existência de bens, direitos e valores que alcançam
uma classe, um grupo, uma categoria ou até mesmo
toda a sociedade, faz surgir no direito a necessidade
de sua proteção por instrumentos adequados, tendo
em vista o interesse transindividual que visa alcançar.
Coletivo: interesse dos consumidores, categorias
profissionais (OAB), indígenas e minorias sob
proteção do direito (ex. deficientes), idosos,
criança e adolescentes.
3 - TUTELA JURÍDICA COLETIVA/DIFUSA
Difuso - Meio ambiente equilibrado, patrimônio
público e social, desenvolvimento, ordem
econômica, bens e direitos de valor histórico, etc.
- Instrumentos processuais: microssistema da tutela
coletiva: ação civil pública, ação popular, ação coletiva
(CDC).
- Legitimidade para mover as ações: o cidadão (ação
popular), o Ministério Público, a Defensoria Pública e
as entidades representativas.
05.03 - Métodos de
interpretação do
direito e elementos
de integração.
HERMENÊUTICA JURÍDICA
- Teoria da interpretação (hermenêutica): Sendo o Direito ciência
da cultura, a perfeita compreensão normativa reclama a
aplicação de métodos teóricos de interpretação (técnicas,
processos ou procedimentos), que podem ser sistematizados.
- Sentido amplo de hermenêutica - realização do Direito.
Abrange:
a) a interpretação do direito – busca determinar o sentido (fim,
finalidade) e o alcance (fato ou circunstância, incidência) da
norma jurídica;
b) a integração do direito – busca suprir lacunas legislativas;
c) a aplicação do direito – é um exercício condicionado a uma
prévia escolha valorativa entre várias interpretações possíveis.
5.3.1 - MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO
A - Quanto à origem (sujeito ou fonte) da qual emana:
autêntica – realizada pelo mesmo Poder que emanou a lei.
Pode ser de maneira contextual, na própria lei (Ex. conceito
de servidor público para fins penais) ou pela edição de uma
“lei interpretativa” (posterior).
judicial (jurisprudencial) – interpretação realizada pelo Poder
Judiciário em sentenças, acórdãos e súmulas.
administrativa – Administração Pública emite pareceres,
despachos, portarias, decisões.
doutrinária – opinião de juristas em suas obras e pareceres.
5.3.1 - MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO
B - Quanto ao meio (método ou natureza) da qual emana:
literal (gramatical) – valoriza o texto da norma, os
significados das palavras, questões léxicas da norma.
lógico-sistemática – analisa a norma num contexto mais
amplo, no conjunto do ordenamento jurídico. Considera a
unidade e coerência do sistema.
histórico-evolutiva: o sentido da norma se altera com as
necessidades sociais do momento da aplicação.
teleológica (sociológica) – busca a finalidade a ser alcançada
pela norma, os valores que ela tenciona servir, que constitui a
chamada ratio legis.
5.3.1 - MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO
C - Quanto aos efeitos ou resultados:
extensiva – o texto expressa um conteúdo menor do que o
pretendido. O intérprete alarga o campo de incidência da
norma.
restritiva – O legislador diz mais do que queria dizer, cabendo
ao intérprete a eliminação da amplitude semântica.
declarativa (estrita) – o texto expressa a exata medida do
espírito da lei
5.3.2 - ELEMENTOS DE INTEGRAÇÃO
INTEGRAÇÃO DO DIREITO
- Conceito: é o preenchimento dos vazios de uma lei (lacunas). A
lacuna normativa surge da impossibilidade de previsão de todas
as condutas humanas ou de acompanhar a dinâmica social.
- Dogma da completude (plenitude) – O ordenamento jurídico
contempla respostas e soluções para todas as questões do meio
social. A lei apresenta lacunas, mas o ordenamento jurídico, não!
- Elementos clássicos de integração (visão positivista) - Art. 4º,
LINDB (1942) - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de
acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de
direito.
5.3.2 - ELEMENTOS DE INTEGRAÇÃO
A - ANALOGIA
- Conceito: É uma técnica por meio do qual se estende a um
caso (fato) semelhante, uma resposta normativa dada a
outro caso. Consiste em aplicar a uma hipótese não prevista
pelo legislador a solução (norma) por ele apresentada numa
outra hipótese fundamentalmente semelhante a não provida.
Não é uma fonte do direito, pois não cria o direito.
- É uma operação: a) lógico-formal (busca a verdade da
igualdade de casos); b) axiológica – busca alcançar uma
justiça (valor) na igualdade.
ANALOGIA LEGIS
- ANALOGIA JURÍDICA (IURIS/JURIS) - recurso mais amplo,
próprio da coerência do sistema jurídico, podendo o juiz
recorre aos princípios gerais do direito.
- Viabilidade da analogia (fundamento): o Direito é um
sistema de fins e casos semelhantes possuem identidade de
razões jurídicas.
- Elementos: i) semelhança material de casos (F1 é
essencialmente semelhante a F2), se houver distinções
essenciais não se poderá aplicar a analogia; ii) identidade de
razão – onde houver a mesma razão, haverá também a
mesma disposição de direito (ideia de justiça, igualdade e
coerência).
EXCLUSÃO DA APLICAÇÃO ANALÓGICA (ESTRITA LEGALIDADE)
Direito penal - não se aplica para criar crime e pena ou
fator de agravamento para o réu (in malam partem);
No direito tributário - não se aplica para impor cobrança
de tributo ou pena ao contribuinte;
No direito administrativo – o administrador público
vincula-se rigorosamente ao princípio da legalidade;
Com a intenção de restringir ou abolir direitos
fundamentais.
Aplicação supletiva e subsidiária do Código de
Processo Civil (CPC) nos demais ramos processuais:
CPC Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos
eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste
Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.

Obs. os costumes e os princípios gerais de direito como


espécies de integração do direito já foram estudados na
unidade anterior (fontes do direito)
INTERPRETAÇÃO
ANALOGIA
EXTENSIVA
É forma de interpretação – a
É método de integração do OJ –
norma existe, mas só se aplica
há falta de norma para o caso
por interpretação elástica do
concreto (lacuna)
texto

O intérprete tenta aplicar antes


Só se aplica se não for possível a
de recorrer a formas
interpretação extensiva
integrativas, como a analogia.
5.3.2 - ELEMENTOS DE INTEGRAÇÃO
B - EQUIDADE
- Conceito: “justiça amoldada à especificidade de uma
situação real” (Reale). Criação da “norma” para o caso
concreto com base no bom senso e no equilíbrio. Tem como
critério distintivo levar em conta o que há de particular em
cada caso concreto, em cada relação, para dar-lhe a solução
mais justa.
- Além da função de integração, a equidade funciona como
elemento de adaptação da norma às circunstâncias do caso
concreto (aplicação do direito). Exerce eventualmente um
papel corretivo decorrente da generalidade, abstração e
rigidez das leis em relação à dinâmica social.
5.3.2 - ELEMENTOS DE INTEGRAÇÃO
B - EQUIDADE
- A equidade não é uma licença para o arbítrio puro do
julgador, mas uma atividade condicionada às valorações
positivas do ordenamento jurídico. Exige-se uma
interpretação dentro do razoável e aceitável pelo senso
comum, não comprometendo a finalidade da norma jurídica.
- Para a maioria da doutrina, a equidade não seria fonte do
direito, mas um critério formal de decisão para dar solução
jurídica mais justa em determinado caso concreto.
- Exemplo de equidade: estipulação do valor na ação de
prestação de alimentos.
5.3.2 - ELEMENTOS DE INTEGRAÇÃO
C - AS DIVERSAS FORMAS DE INTEGRAÇÃO NA CLT
Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho,
na falta de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme
o caso, pela jurisprudência, por analogia, por equidade e outros
princípios e normas gerais de direito, principalmente do direito
do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito
comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de
classe ou particular prevaleça sobre o interesse público.
§ 1º O direito comum será fonte subsidiária do direito do
trabalho.
5.3.2 - ELEMENTOS DE INTEGRAÇÃO
D- VISÃO PÓS-POSITIVISTA DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
Art. 140 CPC (2015) - O juiz não se exime de sentenciar ou
despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei.
- Limitou-se a estabelecer o princípio da vedação do non
liquet, sem direcionar o aplicador do direito a elementos
específicos, como o fez a LINDB (1942). Por outro lado, aduz
o Art. 1º:
O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado
conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na
Constituição da República Federativa do Brasil ...
5.3.2 - ELEMENTOS DE INTEGRAÇÃO
E - HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL
- Supremacia hierárquica da Constituição Federal:
Consequência - fundamento de validade para as demais
normas jurídicas. A realização do direito positivo implica
dotar de eficácia as normas constitucionais em primeiro
plano. Daí a necessidade de se analisar a compatibilidade
formal e material das normas jurídicas inferiores com a CF, o
chamado controle de constitucionalidade das leis e atos
normativos. Com efeito, surgem diversos métodos e
princípios interpretativos que buscam dar à Constituição a
melhor aplicação possível, de forma a preservar sua natureza
unitária.
05.04 - A Lei de
Introdução às Normas
do Direito Brasileiro
LINDB (arts. 1º ao 6º).
A - Vigência das normas (Arts. 1º e 2º)
Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em
todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente
publicada.
§ 1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei
brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de
oficialmente publicada.
§ 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação
de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos
parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
§ 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei
nova.
A - Vigência das normas (Arts. 1º e 2º)
Diferença entre existência (a partir da publicação) e vigência
(produção de efeitos).
Para melhor conhecimento da lei, a regra é a vacatio legis,
com previsão expressa da data da vigência (vide art. 8º da LC
95/1998).

Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor


até que outra a modifique ou revogue.
princípio da continuidade - uma lei é revogada por outra lei
ou norma de hierarquia superior (Emenda Constitucional).
Um costume não revoga formalmente uma lei.
A - Vigência das normas (Arts. 1º e 2º)
Art. 2º, § 1º - A lei posterior revoga a anterior quando
expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou
quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei
anterior
revogação expressa e revogação tácita

Art. 2º, § 2º - A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou


especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei
anterior.
Convivência da lei geral e lei especial. Ex. o Estatuto da
Criança e do Adolescente - ECA (lei especial), não revoga o
Código Civil (lei geral).
A - Vigência das normas (Arts. 1º e 2º)
Art. 2º, § 3º - Salvo disposição em contrário, a lei revogada não
se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.
proibição geral de repristinação, exceto dos seus efeitos
quando expresso na lei nova
B - Obrigatoriedade da norma (Art. 3º).
Art. 3º Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a
conhece.
Princípio da presunção de conhecimento a partir da
publicação oficial. Exceções expressamente previstas em lei
(erro de direito). Presume-se boa-fé.

C - Integração da norma (Art. 4º)


Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo
com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
vedação do “non liquet”, significa que o juiz não pode se
eximir do dever de julgar alegando lacuna ou obscuridade da
norma. Deve ser interpretado de acordo com o NCPC.
D - Interpretação da norma (Art. 5º).
Art. 5º Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que
ela se dirige e às exigências do bem comum.
A interpretação é sociológica e teleológica. Deve-se buscar
em primeiro lugar o interesse geral (público) para a qual fora
criada a norma (impacto na comunidade).

E - Aplicação da lei no tempo (Art. 6º)


Art. 6º - A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados
o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada
.
APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO


Art. 5º, XXXVI, CF/88 a lei não prejudicará o direito adquirido,
o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
Em regra, a norma jurídica vige do presente (efeito imediato)
em direção ao futuro, ou seja, alcança fatos ou tem eficácia
para “frente” (efeito ex nunc).
A regra geral da irretroatividade dirige-se tanto ao legislador
(na criação da norma), quanto ao aplicador do Direito (julgador),
obrigando a ambos. Esse sistema produz a segurança jurídica
demandada pelo Estado Democrático de Direito.
APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

Entretanto, a garantia de irretroatividade cede espaço para a


retroatividade benéfica no campo penal material – CF/88,
art. 5º XL: a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o
réu.
A retroatividade deve ser expressamente prevista em lei,
determinando sua aplicação a casos pretéritos (o silêncio da
lei representa a irretroatividade). Obs. os casos de
revogação de norma proibitiva ou obrigatória também
produzem efeito benéfico para a retroatividade.
A retroatividade produz benefício ao réu ou o acusado
(direito penal), podendo também ser aplicada no direito
tributário em favor do contribuinte.
APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

- LINDB - Art. 6º - § 3º Chama-se coisa julgada ou caso


julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.
- A função jurisdicional do Estado visa a pacificação dos
conflitos gerados no meio social. Quando a decisão judicial
não cabe mais recurso (possibilidade de ser revista por outra
instância superior), diz-se que a ação ou o processo
transitou em julgado, isto é, alcançou o status de coisa
julgada – a decisão tornou-se definitiva. Mesmo que venha
legislação posterior, regulando a matéria de modo diverso ao
que fora julgado, não se aplicará ao caso concreto já
alcançado pelo trânsito em julgado.
APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

- LINDB - Art. 6º - § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já


consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se
efetuou.
- Ato jurídico é a manifestação da vontade humana que
produz a criação, modificação ou extinção de direitos (ex. um
contrato). Devem ser praticados em consonância com as
normas jurídicas vigentes na ocasião da sua celebração e
execução. Torna o ato imutável e inalcançável por norma
posterior que eventualmente regule a matéria respectiva.
APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

- Direito Adquirido - Art. 6º - § 2º Consideram-se adquiridos


assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa
exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo
pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio
de outrem.
- É o direito que já se incorporou definitivamente ao
patrimônio e/ou personalidade do indivíduo (ex. capacidade)
que não pode ser atingido pela nova norma jurídica.
Diferença entre direito adquirido e expectativa de direito.
APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

Leis temporárias: sua duração é determinada


expressamente no seu texto. Perde a vigência depois do
prazo. (ex. Lei da Copa - 2014).

Leis excepcionais: sua temporariedade decorre de aspectos


circunstanciais (ex. estado de calamidade).
APLICAÇÃO DA LEI NO ESPAÇO

- Em decorrência da soberania de cada Estado, as normas


jurídicas por ele produzidas devem ser aplicadas conforme
sua capacidade de imposição em determinados lugares, ou
seja, é o princípio da territorialidade (real ou ficta).
- Excepcionalmente, adota-se a extraterritorialidade. A
norma estrangeira pode ser aplicada no Brasil,
principalmente em matéria de Direito Internacional Privado
(família, sucessão contrato, etc.)
APLICAÇÃO DA LEI NO ESPAÇO
- "Estatuto pessoal" (regra de conexão) significa a situação
jurídica que rege o estrangeiro pela lei do seu país de origem
(o acompanha) adotando-se o critério da nacionalidade ou
do domicílio. O Brasil adota o domicílio (art. 7º E 10 da
LINDB). Exceções: imóveis, sucessão mais benéfica e
contratos internacional.
- A aplicação da lei e atos estrangeiros, porém, não pode ser
incompatíveis com a CF/88 e não terão eficácia no Brasil
quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e
os bons costumes (art. 17 da LINDB)
APLICAÇÃO DA LEI NO ESPAÇO

- O cumprimento no Brasil de decisão judicial estrangeira,


atendimento à carta rogatória ou aceitação de laudo arbitral
estrangeiro tem por condição a submissão de homologação
no STJ (exequatur), que irá determinar o cumprimento no
Brasil.

- Dessa forma, o Brasil adotou a teoria da territorialidade


moderada/mitigada.

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