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TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL I

ANO LETIVO 2021/2022


SISTEMA JURÍDICO CIVIL

Direito

Sistema de normas correlacionadas entre si, Conjunto de normas reguladoras da conduta social segundo a justiça e assistidas de
formando uma ordem jurídica coercibilidade

Alteridade Relações jurídicas

Direito Público
Divisão fundamental do ordenamento jurídico Direito Privado
•Duplo fenómeno de publicização do Direito Privado e privatização do Direito Público

Critério do interesse prosseguido


Critérios de distinção Critério da natureza pública ou privada do sujeito da relação jurídica
Critério da posição dos sujeitos na relação jurídica ou do modo de relacionamento
DIREITO PÚBLICO E DIREITO PRIVADO

Critério do interesse prosseguido Critério da posição dos sujeitos na relação jurídica

• Interesse predominantemente público • Estado (ou outras entidades públicas) (por vezes)
• Interesse predominantemente privado intervém na vida jurídica no exercício de ius imperii
• Relatividade • Exercício deste poder de mando confere uma posição de
• Subjetivismo superioridade na relação jurídica
• Exemplo: regime imperativo de separação de bens; • Expropriação
escritura pública de compra e venda de imóveis • Concorrer com particulares na aquisição
• Distinção decorre, por referência às posições ocupadas
na relação jurídica, do exercício de um poder jurídico
atribuído que diferencia o Estado dos particulares
• Posição em que intervêm os sujeitos
• Equivalência e igualdade, como regra geral, nas situações
jurídicas de Direito Privado
DIREITO CIVIL COMO DIREITO PRIVADO COMUM

Direito Público
• Sistema de normas jurídicas que, tendo em vista a prossecução de um interesse coletivo, para esse efeito, conferem a um dos sujeitos
da relação jurídica poderes de autoridade sobre o outro
Direito Privado
• Sistema de normas jurídicas que não conferem a nenhum dos sujeitos da relação jurídica poderes de autoridade sobre o outro, mesmo
quando se pretende proteger um interesse público considerado relevante
Direito Civil
• Direito Privado Comum
• Rege as relações jurídico privadas não sujeitas ao regime de específico de outros ramos do Direito Privado e do Direito Público
• Contém os preceitos que funcionam como normas subsidiárias de regimes omissos ou incompletamente regulados noutro ramos do
Direito (Público ou Privado)
• Núcleo fundamental do Direito Privado
• Não esgota o Direito Privado
• Direito Privado Especial: Ex. Direito Comercial e Direito do Trabalho
• Relações jurídicas que, pela sua especial configuração, exigem princípios próprios de regulamentação e que, por isso, se autonomizam
do Direito Privado Comum
SISTEMA JURÍDICO CIVIL

Conceito e âmbito do Direito Civil

• Disciplina de ordem geral


• Comum às diversas áreas do Direito Civil
• Carlos Alberto da Mota Pinto
• «O Direito civil contém a disciplina positiva da actividade de convivência da pessoa humana
com as outras pessoas. Tutela os interesses dos homens em relação com outros homens nos
vários planos onde essa cooperação entre pessoas se processa, formulando as normas a que ela
se deve sujeitar». TGDC, P. 58.
• Autonomia da pessoa no Desenvolvimento da sua personalidade
• Sistematização clássica
• Relações jurídicas civis
• Sub-ramos do Direito Civil
• Direito das Obrigações
• Direitos Reais
• Direito da Família
• Direito das Sucessões
SISTEMA JURÍDICO CIVIL

 Classificação germânica
 Parte geral
 Quatro divisões
 Em função da estrutura
 Direito das Obrigações
 Determinada pessoa (credor) tem a faculdade de exigir de outra (devedor) certa conduta ou prestação
 Direitos Reais
 Estabelece o regime da repartição das coisas e da sua atribuição a determinada pessoa, reconhecendo a esta o poder jurídico de, mediante o aproveitamento das suas utilidades,
satisfazer necessidades próprias e prosseguir certos interesses

 Em função da fonte
 Direito da Família
 Relação jurídica familiar
 Casamento, filiação adoção
 Direito das Sucessões
 Morte da pessoa
 Realidades extrajurídicas ou pré-jurídicas

CONTEÚDO  Dados pré-legais


 Fundamento ôntico e ético
FUNDAMENTAL  Pessoas
DO DIREITO  Bens
CIVIL  Ações
SENTIDO DO DIREITO CIVIL

Sentido
• Autonomia da pessoa
• Igualdade ou paridade
• Disciplina da vida comum
Disciplina positiva das relações de alteridade entre pessoas humanas
• Tutela de interesses nos diversos planos em que a vida de desenvolve
• Formula normas a que as pessoas se devem sujeitar
• Paradigma de autonomia da pessoa no desenvolvimento da sua personalidade
Direito Civil
• Instrumental para a plena realização da pessoa na sua vida com as outras
• Não é o único mecanismo do Direito ao serviço do livre desenvolvimento da personalidade humana
• Direito Público reconhece direitos subjetivos ou faculdades indispensáveis ao desenvolvimento da personalidade e defesa da
dignidade da pessoa humana
• Direito à proteção da saúde
• Direito a obter tratamento hospitalar
 «(…) o direito civil (de cives = cidadãos) situa-se no núcleo
mais íntimo e fundamental da sociedade; disciplina as
relações sociais de pessoa para pessoa, que constituem o
cerne e o conteúdo necessário da vida na sociedade e ao
serviço de cuja possibilidade e desenvolvimento está toda a
organização social»
SENTIDO DO  Carlos Alberto da Mota Pinto – TGDC. P. 60.

DIREITO CIVIL
 Situações disciplinas pelo Direito Civil
 Exemplos: Nascimento, modos de ser da personalidade,
domicílio, ausência, a incapacidade, a morte, declarações de
vontade, contratos, vícios e elementos acidentais, direitos de
crédito (as fontes e modalidades), o casamento (celebração,
efeitos, dissolução), regime de bens, o parentesco.
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL

Teoria Geral do Direito Civil

• Teoria Geral do Ordenamento Jurídico Civil ou Teoria Geral da Norma Jurídica Civil
• Teoria Geral da Relação Jurídica

Duplo sentido de direito

• Direito objetivo
• Ordem jurídica globalmente entendida - ordem normativa
• Mais que um complexo de normas compreendendo outras realidades jurídicas
• Ordem de agir que compreende regras e critérios de atuação de acordo com a justiça numa determinada comunidade
• Abrange as normas e os princípios
• Direito subjetivo
• Respeita ao modo como uma pessoa concreta pode agir no contexto de uma determinada comunidade
• Manifestação da autonomia privada
• Liberdade da pessoa no seu agir jurídico privado
• Exercício livre
• Poder ou faculdade
 Caraterísticas
 Ordem material
 Fixa princípios de Direito Civil e não de Direito português
 Princípio da boa fé
PRINCÍPIOS  Ordem qualitativa

FUNDAMENTAIS  Princípios fundamentais


 Princípios de caráter mais específico
DO DIREITO  Ordem temporal
CIVIL  Atualidade
 Validade limitada à maneira de ser do ordenamento jurídico
juscivilístico num dado momento
 Produto histórico cujo resultado é o produto das opções
fundamentais do Estado onde se inserem e da conceção sobre a
Pessoa Humana
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO CIVIL

Carlos Alberto Mota Pinto Pedro Pais de Vasconcelos Luís Alberto Carvalho Fernandes

• Reconhecimento da pessoa • Personalismo ético • Personificação jurídica do ser


humana e dos direitos de • Autonomia humano
personalidade • Responsabilidade • Direitos de personalidade
• Autonomia privada • Confiança e aparência • Igualdade perante a lei
• Responsabilidade civil • Boa fé • Personalidade coletiva
• Boa fé • Paridade jurídica • Família como instituição
• Concessão da personalidade • Equivalência fundamental
jurídica às pessoas coletivas • Autonomia privada
• Reconhecimento da propriedade
• Propriedade privada e da sua função • Responsabilidade civil
• Relevância jurídica da família • Respeito pela família e pela • Propriedade privada
• Fenómeno sucessório sucessão por morte • Fenómeno sucessório
Hierarquia de
valores

Artigo 66.º CC

Art.º 12.º CRP –


art.º 15.º CRP
PRINCÍPIO DO Art.º 16.º n.º 2
RECONHECIMENTO CRP

DA PESSOA Art.º 6.º DUDH Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento em todos os
lugares da sua personalidade jurídica
HUMANA Limites
temporais

Art.º 66.º e art.º


68.º CC

Indisponibilidade
PRINCÍPIO DO RECONHECIMENTO DA PESSOA HUMANA

Subjetividade Implicações
jurídica teórico-práticas

Supõe a Supõe a
Personalidade
personalidade personalidade Recusa
humana
jurídica humana

Cur, quando e
Normativismo Normativismo Normativismo quantum da
criador distribuidor nivelador personalidade
jurídica
Personalidade Essencialidade
Personalidade jurídica depende da personalidade humana

jurídica é “Outras” personalidades jurídicas são instrumentais


projeção no
Direito da Existe, tanto e enquanto, a personalidade humana existir
Indissolubilidade
personalidade Irrecusabilidade

humana Inadiabilidade
Inexpropriabilidade ou indisponibilidade

Exclusão de gradações da personalidade


Ilimitabilidade
PRINCÍPIO DO Numerus clausus dos direitos de personalidade

RECONHECIMENTO
DA PESSOA Personalidade Qualidade de quem é sujeito
jurídica de direitos
HUMANA traduz-se em
subjetividade
Esse
jurídica

Poder-se ser abstratamente


titular de direitos e obrigações
 Personalidade jurídica
 Centro de decisão e de imputação
 Objeto de proteção
 Não tutela apenas a subjetividade qua tale
 «É esse ser a personalidade um objecto de protecção que leva aos
direitos de personalidade, em que a pessoa é, ao mesmo tempo,
sujeito e objecto de direitos (quer os direitos de personalidade se
construam como jura in se ipsum – direitos sobre aspectos da
personalidade –, quer como jus in se ipsum – direitos que são
aspectos de um único direito sobre a personalidade in totum ou
PRINCÍPIO DO formas descentralizadas da tutela jurídica da pessoa)»
Orlando de Carvalho – Teoria Geral do Direito Civil. P. 192.
RECONHECIMENTO 

DA PESSOA HUMANA  Subjetividade jurídica


 Reclama a capacidade jurídica
 Suscetibilidade concreta de se ser titular de direitos e deveres =
quantum
 Quantificável e variável de sujeito para sujeito de direito
 Instrumento da personalidade jurídica
 Capacidade de gozo = capacidade de ter direitos
 Capacidade de exercício = capacidade de os exercer
pessoalmente
 Pessoa humana
 Titular de direitos absolutos
 Incidem sobre bens fundamentais da própria pessoa
 Oponíveis erga omnes
 Incidentes sobre os vários modos de ser físicos ou morais da sua personalidade

Direitos de personalidade
 Círculo de direitos necessários
RECONHECIMENTO  Conteúdo mínimo ou imprescindível da esfera jurídica de cada pessoa

DE UM CÍRCULO DE  Conjunto mínimo de direito de que a pessoa se torna imediatamente titular, pelo
simples facto de o ser, ao adquirir personalidade

DIREITOS DE  Violação
 Facto ilícito criminal
PERSONALIDADE  Especial relevo para a coletividade
 Facto ilícito civil
 Responsabilidade civil do infrator
 Providências não especificadas adequadas às circunstâncias do caso:
art.º 878.º a 890.º a CPC
 Fim de evitar a consumação da ameaça ou atenuar os efeitos da
ofensa já cometida
 Artigo 70.º a 80.º CC
 Cláusula geral de tutela
 Direitos especiais da personalidade
Artigo 81.º CC
 Limitação voluntária dos direitos de personalidade quando não for contrária à ordem pública
Permite a revogação a todo o tempo dessas limitações
RECONHECIMENTO

 Aquele que se desvincula fica obrigado a indemnizar os danos que dessa desvinculação possam resultar

DE UM CÍRCULO
 Relacionamento entre o direito o direito subjetivo geral da personalidade e os direitos subjetivos
DE DIREITOS DE especiais
 Direito geral de personalidade
PERSONALIDADE  Defesa da dignidade da pessoa humana
 Integra no seu conteúdo um número não limitado de poderes que constituem a sua estrutura
 Poderes necessários, ou convenientes, para que o fim do direito geral de personalidade seja realizado com
êxito
 Tipificação dos designados direitos especiais
 Resultado da tipificação de específicos bens da personalidade cujas lesões se foram tornando
historicamente típicas
PERSONALIDADE COLETIVA

Personificação jurídica da pessoa Personificação jurídica de entes


humana – Pessoa jurídicas jurídicos autónomos – Pessoas N.º 2 do art.º 12.º CRP
singulares jurídicas coletivas
• Pessoas em sentido jurídico não • Meio técnico de configuração • Consagra a técnica de
são necessariamente seres orientada por modelos que personificação coletiva
humanos visam prosseguir determinados • Individualidade própria: gozam
• Caráter não exclusivista fins (interesses humanos) dos direitos e estão sujeitas aos
• Institutos são criados enquanto deveres compatíveis com a
meios postos ao serviço de fins sua natureza
e valores que ordenam o
Direito
• Atribuição de direitos e
deveres a entes jurídicos
autónomos funciona como
meio para realização daquele
fim
PERSONALIDADE COLETIVA

Artigo 157.º CC: Três modalidades


Pessoas coletivas Pessoas coletivas
fundamentais
• Coletividades de pessoas • Centros de esfera jurídica própria • Associações
• Complexos patrimoniais • Titulares de direitos e deveres jurídicos • Fundações
• Organizados em vista de um fim comum ou adquiridos através da prática de atos • Sociedades
coletivo a que o ordenamento jurídico jurídicos realizados em seu nome pelos seus
atribui a qualidade de sujeitos de direitos órgãos
• A pessoa coletiva resulta da existência de • Autónoma em relação ao conjunto de
interesses humanos duradouros comuns ou direitos e deveres imputados pessoalmente
coletivos, entendendo-se que a consecução aos seus membros
destes interesses exige o concurso de meios • Património próprio
e atividades de várias pessoas
• Personalidade coletiva é mecanismo técnico
jurídico de organização e realização de
interesses coletivos e duradouros
• Forma jurídica de concentração de certas
relações
 Natureza da personalidade coletiva
 Teoria da ficção
 A lei, ao estabelecer a personalidade jurídica das pessoas coletivas, estaria a proceder
como se as pessoas coletivas fossem pessoas singulares
 Teoria organicista ou realista
 As pessoas coletivas são uma realidade idêntica às pessoas singulares; não se trata de
concessão discricionária do legislador, mas consequência da natureza das coisas, da
existência de um organismo real
 Rejeição de ambas as propostas (Carlos Alberto da Mota Pinto)
 Personalidade jurídica é conceito jurídico

PERSONALIDADE  Criação do espírito humano no campo do direito


Mecanismo técnico-jurídico operativo das relações jurídicas ligadas à realização de um fim
COLETIVA

coletivo

 «A personalidade colectiva é pois, como a singular, uma realidade do mundo jurídico, mas tendo
subjacente uma realidade extrajurídica. Só que tal realidade é assaz diferente da que intervém nas
pessoas singulares. Quanto a estas, a personalidade jurídica tem como pedestal um ente corpóreo,
provido de individualidade físio-psíquica natural. Nas pessoas colectivas, o substracto da
personalidade jurídica é formado por organizações de homens, ou de bens e homens, dirigidos à
realização de interesses comuns ou colectivos, e interesses, por via de regra, com um carácter de
permanência mais ou menos acentuado»
 Manuel de Andrade, apud, Carlos Alberto da Mota Pinto
RESPONSABILIDADE CIVIL

Responsabilidade civil clássica Princípio de liberdade

• A atuação jurídica das pessoas pode • Assente na culpa: imputação


atingir o interesse de outrem, psicológica do ato ao agente
causando-lhe danos; quando tal • Agente: representou e quis o ato
aconteça, o causador do dano deve danoso ou não utilizou da diligência
reparar o mal sofrido pela vítima exigível para o evitar
• Responsabilidade civil faz emergir a • Pressupostos da responsabilidade civil:
obrigação de indemnizar facto/conduta lesiva + ilicitude +culpa
+ dano + nexo de causalidade
RESPONSABILIDADE CIVIL

Pressupostos da responsabilidade civil

Dano
• Patrimonial
• Pessoal ou Não Patrimonial
Conduta lesiva

Nexo de causalidade (imputação objetiva)

Ilicitude
• Violador de direito subjetivos ou interesses alheios tutelados por disposição legal
• Causas de exclusão da ilicitude
Culpabilidade (imputação subjetiva)
• Censura ético-jurídica ao agente atuante
• Componente subjetiva da conduta: dolo ou negligência
• Consciência da ilicitude - imputabilidade
• Exigibilidade
RESPONSABILIDADE CIVIL

Princípio geral de responsabilidade Responsabilidade objetiva –


Responsabilidade civil
pela culpa Responsabilidade pelo risco
• Instituto que rege as • Princípio da culpa – • Ex: acidentes de trabalho e
consequências dos atos ilícitos responsabilidade subjetiva acidentes de viação
que causem danos • Imputação psicológica do ato ao • Transferência da
• Reconstituição/Compensação, agente responsabilidade civil para o
através de indemnização, dos • Responde por ter querido o ato vetor do risco
danos sofridos em consequência danoso (dolo ou intenção) ou • Modalidade de imputação do
dos atos ilícitos praticados por não usado da diligência risco não assente na autoria e
exigível para o evitar (culpa stricto na culpa
sensu) • Responsabilidade do produtor
• Art.º 483.º + 562.º/496.º CC ou fabricante: Diretiva
85/374/CEE
RESPONSABILIDADE CIVIL

Responsabilidade civil independente da ilicitude – Afastamento do caráter meramente ressarcitório –


Responsabilidade por intervenções lícitas evolução da função reparadora para função sancionatória
• Ex: desvinculação em limitações voluntárias de direitos de • Indemnização limitada à compensação do dano
personalidade (n.º art.º 81.º CC); danos causados em • Pode ser inferior, mas não excedê-lo (art.º 494.º CC)
estado de necessidade (art.º 339.º CC); apanha de frutos • Admissão de função punitiva da indemnização
(art.º 1367.º CC)
• Punitive damages
• Critério de justiça e utilidade social: beneficiário da ação
• Indemnização pode exceder, em certos casos, os danos
danosa, ainda que lícita, indemniza os danos por ela
sofridos pela vítima, de modo a penalizar o agente e a
causados
prevenir futuras lesões
• Casos de ofensa à honra, à privacidade e à imagem
cometidos por ou em meios de comunicação social
• Forma eficaz de impedir que o autor da lesão
obtenha um enriquecimento muito superior ao valor
em que venha a ser condenado em indemnização
 Princípio de liberdade
 É lícito tudo o que não for proibido (dominante no Direito Privado)
 Contraposição
 Princípio da competência: só é lícito o que é permitido (dominante
no Direito Público)
 Direito Civil reserva um relevante papel à vontade individual na
produção de efeitos jurídicos enquanto instrumento de realização de
PRINCÍPIO DA certos interesses
 Liberdade de contratar
AUTONOMIA  Direitos subjetivos

PRIVADA  Poder de livre exercício dos direitos pelo seu titular


 Liberdade de os exercer ou não, de dispor, de renunciar
 Desvios da liberdade: limitações
 Poderes funcionais: direitos atribuídos no interesse de
outrem ou no exclusivo interesse de terceiros
 Exercício está condicionado pelo relevo atribuído ao
interesse da pessoa protegida
 Exemplo: art.º 1878.º CC
PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA

Princípio da autonomia privada


• Plano negocial
• Liberdade de contratar
• Liberdade contratual
• Art.º 405.º CC

Produção de efeitos jurídicos


• Constituição, modificação ou extinção de relações jurídicas
• Atos da vontade = Declarações de vontade
• «Os actos jurídicos, cujos efeitos são produzidos por força da manifestação de uma
intenção e em coincidência com o teor da declaração dessa intenção, designam-se
por negócios jurídicos»
• Carlos Alberto da Mota Pinto – Teoria Geral do Direito Civil. P. 102.
• Ex: Compra e venda, exigência ou não de um crédito.
 Princípio da tutela da confiança e da aparência
 Duas componentes
 Ético-jurídica
 Segurança no exercício

BOA FÉ E  Confiança na outra parte e confiança nas circunstâncias do


negócio e nas aparências
PRINCÍPIO DA  Direito não pode ficar indiferente à eventual frustração dessa

CONFIANÇA E 
confiança
Segurança necessária ao normal desenvolvimento do exercício

DA APARÊNCIA jurídico exige que as aparências fundadas sejam respeitadas

 Princípio da tutela da confiança e da aparência


 Exigência do sistema jurídico
 Razões de ordem pragmática, utilidade prática e funcional
BOA FÉ E PRINCÍPIO DA CONFIANÇA E DA APARÊNCIA

Princípio da boa fé
• Princípio de Direito Justo
• Vale por efeito da sua justiça própria e por efeito da sua positivação na lei

Boa fé subjetiva
• Conhecimento ou desconhecimento subjetivos por parte do agente de uma vicissitude ou de um vício da
situação jurídica

Boa fé objetiva
• Critério de ação correta
• Conformidade de uma atuação com as regras da boa fé

Boa fé subjetiva e objetiva


• Aferir da compatibilidade de atuações concretas com as coordenadas axiológicas do Direito
• Critério material é dado extrajurídico que o Direito vai recolher à Ética – janela do sistema
Boa fé é princípio fundamental da ordem jurídica, particularmente relevante
nas relações jurídico civis:
 Exprime a preocupação pelos valores ético-jurídicos
axiologicamente assumidos pela comunidade
 Particularidades do caso concreto
 Juridicidade social materialmente fundada que supera o positivismo

BOA FÉ E
No Código Civil
PRINCÍPIO DA

 Art.º 227.º, 239.º, 334.º, 243.º, 291.º, 437.º, 612.º, 762.º, 1260.º

CONFIANÇA E
Boa fé acompanha a relação contratual em toda a sua extensão
DA APARÊNCIA

 Formação do contrato: art.º 227.º CC
 Critério de interpretação: art.º 236.º CC
 Integração do negócio: art.º 239.º CC
 Exercício dos direitos: art.º 334.º CC
 Cumprimento das obrigações e extinção do vínculo contratual:
art.º 762.º CC
RECONHECIMENTO DA PROPRIEDADE E A SUA FUNÇÃO

Propriedade Caraterísticas do direito de propriedade

• Palavra polissémica • Poder que o proprietário tem sobre os bens


• Etimologicamente: é propriedade de alguém aquilo que lhe é próprio • Funcional e finalisticamente orientado para o aproveitamento da
• «Constitui, assim, missão fundamental do direito organizar, segundo os utilidade que potenciam
valores jurídicos, os poderes dos homens sobre as coisas e o conteúdo • Bens são meios/instrumentos para a prossecução dos fins das pessoas
das relações entre os homens a respeito das coisas». • Sentido técnico jurídico de direito real de gozo máximo
• Carlos Alberto da Mota Pinto – Teoria Geral do Direito Civil. P. 145. • Art.º 1305.º CC
• Artigo 62.º da CRP • Jus utendi, fruendi e abutendi
• A todos é garantido o direito à propriedade privada e à sua • Elasticidade
transmissão em vida ou por morte • A extinção de um direito real que limite a propriedade da coisa,
implica a reconstituição da plenitude da propriedade sobre ela
• Direitos reais limitados e limitadores
• Ex: art.º 1439.º CC
• Perpetuidade
• Não se extingue pelo não uso
• Transmissível mortis causa
Propriedade como direito real máximo

Direitos reais limitados e limitadores


•Categoria de direitos reais de conteúdo diverso e ao serviço de funções ou interesses diferenciados
•Não conferem a plenitude dos poderes sobre a coisa
•Direitos reais de gozo
•Conferem um poder, total ou parcial, de uma coisa
•Usufruto: art.º 1439.º CC
•Uso e habitação: art.º 1484.º CC

RECONHECIMENTO •Direito real de habitação periódica: Dec. Lei N.º 275/93, de 5 de agosto
•Direito de superfície: art.º 1524.º CC

DA PROPRIEDADE E •Servidões prediais: art.º 1543.º CC


•Direitos reais de garantia

A SUA FUNÇÃO •Direitos que conferem o poder de, pelo valor de uma coisa ou pelo valor dos seus rendimentos, um credor obter,
com preferência sobre todos os outros, o ‘pagamento da dívida
•Penhor: art.º 666.º CC
•Hipoteca: art.º 686.º CC
•Privilégios creditórios: art.º 733.º CC
•Direito de retenção: art.º 754.º CC
•Consignação de rendimentos: art.º 656.º CC
•Direitos reais de aquisição
•Direitos reais que conferem a determinado indivíduo a possibilidade de se apropriar de uma coisa ou adquirir uma
coisa
•Direito real de preferência
•Art.º 1409.º CC
•Art.º 1091.º CC
 As normas de Direito da Família são normas segregadas pela instituição familiar,
como uma ordem natural: são normas realizadoras de um sentido pré jurídico
 Tutela constitucional da família: art.º 36.º e 67.º a 69.º da CRP
 Fontes das relações jurídicas familiares
 Art.º 1576.º CC
 Fontes em sentido próprio

RELEVÂNCIA 
 Casamento e adoção
Fontes derivadas
JURÍDICA DA  Parentesco e afinidade

FAMÍLIA  Casamento
 Contrato: art.º 1577.º CC
 Dissolução do contrato: art.º 1788.º CC
 Modalidades
 Católico ou civil: art.º 1587.º CC
 Divórcio e separação judicial de pessoas e bens
 Art.º 1773.º e 1797.º CC
 Modalidades do divórcio
 Art.º 1773.º CC
 Mútuo consentimento: art.º 1775.º a art.º 1778.º - A CC
 Sem consentimento: divórcio litigioso – art.º 1779.º a art.º 1785.º
CC
 Desvio à dissolução do vínculo conjugal
 Simples separação judicial de bens: art.º 1767.º CC
RELEVÂNCIA  Separação judicial de pessoas e bens: art.º 1794.º CC

JURÍDICA DA  Efeitos: extingue deveres de coabitação e assistência, sem


prejuízo do direito a alimentos

FAMÍLIA  Parentesco
 Vínculo entre duas pessoas, resultante de uma delas descender da
outra (linha reta) ou de ambas terem um progenitor comum (linha
colateral)
 Principal modalidade de parentesco é a filiação (art.º 1796.º CC)
 Estabelecimento da maternidade: art.º 1803.º e seguintes CC
 Estabelecimento da paternidade: art.º 1847.º e seguintes CC
RELEVÂNCIA JURÍDICA DA FAMÍLIA

Afinidade

• Vínculo que liga um dos cônjuges aos parentes do outro


• Afinidade não gera afinidade
• Não há afinidade nem qualquer vínculo jurídico familiar entre um dos cônjuges e os afins do outro

Adoção

• Vinculo independente dos laços de sangue que se estabelece legalmente entre duas pessoas
• Art.º 1586.º CC
• Art.º 1973.º CC
• Constituído por sentença judicial
• Adotado adquire a situação de filho do adotante e integra-se com os seus descendentes na família deste
• Extinguem-se as relações familiares entre o adotado e os seus ascendentes e colaterais naturais
• Salvaguarda-se o conhecimento das suas origens (particular atenção ao conhecimento das origens genéticas): art.º 1990.º - A
 Fenómeno sucessório
 Artigo 2024.º CC
 Morte é o facto jurídico que determina a abertura do processo
sucessório; morte é pressuposto da sucessão
 Títulos de vocação sucessória: art.º 2026.º CC

 Sucessão legal: art.º 2027º CC


FENÓMENO  Legitima

SUCESSÓRIO 
 Legitimária
Sucessão voluntária
OU SUCESSÃO  Testamentária: art.º 2179.º CC

POR MORTE  Contratual: a título muito excecional (proibição geral de pactos


sucessórios)
 Classes de sucessíveis
 Art.º 2133.º CC
 Alíneas a) e b) – herdeiros legitimários
 Alíneas c), d) e e) – herdeiros legítimos
TEORIA GERAL DA RELAÇÃO JURÍDICA
TEORIA GERAL DAS SITUAÇÕES JURÍDICAS
RELAÇÃO JURÍDICA: CONCEITO E ESTRUTURA

Relação jurídica
• Sentido amplo
• Toda a relação da vida social relevante para o Direito, i.e., produtora de efeitos
jurídicos
• Sentido restrito
• Relação da vida social disciplinada pelo Direito mediante a atribuição a uma pessoa de
um direito subjetivo e a imposição a outra de um dever jurídico ou sujeição

Relação jurídica

• Vínculo que existe entre, pelo menos, duas pessoas, pelo qual uma delas tem o poder
jurídico de exigir de outra uma conduta, sendo certo que o Direito assegura a efetiva
realização do interesse em função do qual esse poder é atribuído
ELEMENTOS/PRESSUPOSTOS DA RELAÇÃO JURÍDICA: SUJEITOS,
OBJETO, FACTO JURÍDICO E GARANTIA

Sujeitos Objeto Facto jurídico Garantia

• As pessoas (singulares • Aquilo sobre que • Todo o facto, humano • Conjunto de


ou coletivas) entre as incidem os poderes do (atos jurídicos) ou providências coercitivas
quais se estabelece o titular ativo da relação evento natural (factos à disposição do titular
vínculo jurídico e as vinculações do jurídicos stricto sensu) ativo de uma relação
• Titulares do direito sujeito passivo que produz efeitos jurídica para satisfação
subjetivo e das posições • Binómio: direito- jurídicos do seu interesse
passivas vinculação (objeto • É condição de • Possibilidade de
correspondentes imediato) existência da relação reintegração da
• Objeto do direito • Facto jurídico situação
subjetivo: bem jurídico constitutivo correspondente ao
(objeto mediato) que o • Interferência na direito
Direito assegura ao relação jurídica • A impulso do titular do
sujeito ativo e por • Factos modificativos direito subjetivo violado
intermédio do qual e extintivos ou ameaçado
realiza o seu interesse
RELAÇÃO JURÍDICA: CONCEITO E ESTRUTURA

Crítica da teoria da relação jurídica

José de Oliveira Ascensão

• Insuficiência enquanto operador geral do Direito, designadamente no que respeita a direitos


absolutos
• Posição jurídica corresponde a uma situação jurídica que tanto pode ser relacional como não
relacional
• V.g. relação jurídica creditícia – relacional
• V.g. situação jurídica de titularidade de um direito absoluto
• P.e. situação do proprietário não se insere numa relação jurídica, mas pode envolver
relações jurídicas reais, como as de vizinhança; situação de titularidade de direitos de
personalidade
MODALIDADES DA RELAÇÃO JURÍDICA

Simples Complexas Próprias


• Só raramente as • Regra geral, as situações jurídicas • Quando nela
situações jurídicas são não são simples, são complexas concorrem todos os
puramente ativas e e integram componentes ativos seus elementos
puramente passivas e passivos

Impróprias Absolutas Relativas


• Podem ser diferentes as • Na posição do sujeito passivo encontra-se
impropriedades da relação jurídica • Uma ou mais pessoas
uma generalidade de pessoas a quem é determinadas, ou determináveis,
• Relações imperfeitas: falta de algum imposto o dever de se absterem de afetar
dos seus elementos o direito do sujeito ativo ou interferir no encontram-se adstritas à realização
• Anómalas: elementos revestem seu exercício: dever geral de respeito ou de uma conduta (determinada ou
caraterísticas não conformes ao obrigação passiva universal determinável), quer consista numa
modelo de relações próprias ação ou omissão
RELAÇÃO JURÍDICA: CONCEITO E ESTRUTURA

Relação jurídica é o conteúdo: vínculo que une os


sujeitos
• RJ é o vínculo estabelecido entre duas ou mais pessoas
• Atribuição de um poder de exigir de outra certa conduta; Direito
assegura a efetiva realização do interesse em função do qual o poder é
atribuído
• Sujeito ativo: a quem é atribuído o poder jurídico
• Posição jurídica ativa: traduz-se fundamentalmente em poderes
• Sujeito passivo: fica adstrito à adoção de uma conduta
• Posição jurídica passiva: traduz-se em deveres, vinculações ou
adstrições
ESTRUTURA DA RELAÇÃO JURÍDICA: DIREITOS SUBJETIVOS E
DIREITOS POTESTATIVOS

Conteúdo da relação jurídica

• RJ integrada por um direito subjetivo e um dever jurídico ou sujeição

Direito subjetivo

• Poder jurídico de livremente exigir ou pretender um comportamento positivo ou negativo de outrem ou poder
jurídico de por um ato livre de vontade , de per si, ou integrado por um ato de uma autoridade pública, produzir
determinados efeitos jurídicos que inevitavelmente se impõem a outra pessoa

Modalidades fundamentais

• Direito subjetivo stricto sensu


• Direitos potestativos

Direitos potestativos

• Poder jurídico de, por um ato livre de vontade de per si ou integrado por uma decisão judicial, produzir efeitos que
inelutavelmente se impõem à outra parte
ESTRUTURA DA RELAÇÃO JURÍDICA: DIREITOS SUBJETIVOS E
DIREITOS POTESTATIVOS

 Direitos subjetivos
 Estrutura: composto por poderes, e subordinadamente deveres, que o integram (poderes de gozo, poderes creditícios,
poderes potestativos)
 Substância: realização de fins do seu titular, com os meios (bens) que servem de instrumento a essa realização, modo como
se alcança o êxito na tarefa de conseguir que o titular do direito realize satisfatoriamente o seu fim
 Limites do direito subjetivo
 Abuso do direito (art.º 334.º CC)
 Contrariedade à boa fé (p.e. n.º 2 do art.º 762.º CC)
 Honeste agere
 Alterum non laedere
 Venire contra factum proprium

 Contrariedade aos bons costumes


 Desvio em relação ao fim social ou económico
ESTRUTURA DA RELAÇÃO JURÍDICA: DIREITOS SUBJETIVOS E
DIREITOS POTESTATIVOS

 Direitos potestativos
 Situação de sujeição do sujeito passivo
 Forçosa produção de uma consequência na sua esfera jurídica por mero efeito do exercício do direito pelo seu titular
 P.e. exercício do direito de preferência; interpelação do credor ao devedor colocando-o em mora; aceitação ou da herança

 Efeitos jurídicos
 Constitutivos: produzem a constituição de uma relação jurídica por ato unilateral do seu titular (p.e. direito de preferência
em regime de compropriedade)
 Modificativos: produzem uma simples modificação numa relação jurídica existente (p.e. separação judicial de pessoas e bens)
 Extintivos: produzem a extinção de uma relação jurídica existente (p.e. revogação da procuração ou mandato)
ESTRUTURA DA RELAÇÃO JURÍDICA: DEVER JURÍDICO OU
SUJEIÇÃO

 Dever jurídico ou sujeição (ação ou omissão)


 Direitos subjetivos stricto sensu: o sujeito do dever tem a possibilidade prática de não cumprir, expondo-se a sanções
 Deveres jurídicos (ação ou omissão) impendem sobre:
 Uma ou mais pessoas determinadas: direitos relativos (p.e. direitos de crédito)
 Deveres jurídicos de abstenção erga omnes: direitos absolutos (p.e. direitos de personalidade e direitos reais)

 Direitos potestativos: situação de necessidade inelutável, em que se encontra o sujeito passivos na relação jurídica com o
titular do direito potestativo (sujeito ativo), de suportar na sua esfera jurídica as consequências constitutivas, modificativas
ou extintivas do exercício daquele direito
 Sujeito passivo não pode violar ou infringir a situação jurídica
 Encontra-se necessariamente exposto à produção dos resultados do exercício do direito potestativo
TEORIA GERAL DOS
SUJEITOS DA RELAÇÃO
JURÍDICA
AS PESSOAS
PESSOAS JURÍDICAS

Pessoas como categoria jurídica: sujeitos de direito

• Pessoa jurídica como entidade que pode ser titular de poderes e estar adstrita a vinculações
• Ser pessoa, em Direito, significa ter um atributo de que advém a possibilidade de a certa
entidade se imputem situações jurídicas

Pessoas singulares e Pessoas coletivas

• Pessoa singular realidade extrajurídica que se impõe ao Direito


• Pessoa coletiva organismo social a que o Direito atribui a qualidade de pessoa jurídica
atendendo aos fins por ela prosseguidos
• Interesses coletivos e duradouros dignos de proteção jurídica
PERSONALIDADE – COMEÇO DA PERSONALIDADE

Personalidade jurídica

• Suscetibilidade de ser titular de direitos e estar adstrito a vinculações


• Conceito qualitativo

N.º 1 do art.º 66.º CC: requisitos

• Adquire se no momento do nascimento complete e com vida

Nascimento completo verifica-se com a separação total do


feto do útero materno
• Só o nado vivo é pessoa jurídica nos termos do art.º 66.º CC
CONDIÇÃO JURÍDICA DOS NASCITUROS

N.º2 do art.º 66.º CC

• Os direitos que a lei reconhece aos nascituros dependem do seu nascimento

Problema dos direitos sem sujeito

Nascituro

• Nascituro stricto sensu: entes não nascidos, mas já concebidos


• Conceturos: entes nem sequer concebidos no momento em que se coloca em causa a atribuição de direitos, mas que se espera que venha a nascer
de uma pessoa determinada
• Doações a nascituros lato sensu: art.º 952.º CC
• Capacidade sucessória a nascituros e conceturos: n.º 1 e 2 do art.º 2033 CC
• Equiparação a pessoas já nascidas: n.º 1 do art.º 1878.º (poder de representação); art.º 1847.º, 1854.º e 1855.º CC (reconhecimento de paternidade)

Direitos sem sujeito

Estado de vinculação

Obnubilação do sujeito
TERMO DA PERSONALIDADE JURÍDICA: ARTIGO 68.º CC

N.º 1 do art.º 68.º CC

• Lei n.º 141/99, de 28 de agosto


• Cessação irreversível das funções do tronco cerebral

Esfera jurídica

• Extinção dos direitos de natureza pessoal


• Transmitem-se os direito de natureza patrimonial (transmissão mortis causa)

Presunção de comoriência: n.º 2 do art.º 68.º CC

• Presunção iuris tantum impeditiva da produção de efeitos sucessórios entre os comorientes

Morte presumida: n.º 3 do art.º 68.º e art.º 114.º CC

• Derivada de uma ausência prolongada do indivíduo


• produz os mesmos efeitos da morte: exceção do art.º 115.º CC quanto ao casamento
AUSÊNCIA: ART.º 89.º A 121.º CC

 Sentido técnico: não presença, acompanhada da falta de notícias sobre o seu paradeiro, sem ter deixado um
representante legal ou voluntário
 Objetivo de providenciar a administração de bens do ausente
 Medidas de salvaguarda a prejuízos decorrentes da falta de administração de bens da pessoa ausente
 Curadoria provisória: art.º 89.º CC
 Curadoria definitiva: art.º 99.º CC
 2 anos sem se saber do ausente
 5 anos no caso de ter deixado um representante legal ou procurador
CAPACIDADE JURÍDICA E INCAPACIDADE

Capacidade jurídica

• Conceito quantitativo

Medida de direitos e vinculações de que uma pessoa é suscetível de ser titular

Compreende dois institutos que se colocam em planos fundamentalmente distintos

• Capacidade gozo: medida de direitos e vinculações de que uma pessoa pode ser titular e a que pode estar adstrita
• Capacidade de exercício: medida de direitos e vinculações que uma pessoa pode exercer e cumprir por si só, pessoal e livremente

Capacidade genérica, capacidade específica e capacidade particular

• Genérica (gozo e exercício): compreende a generalidade dos direitos e vinculações reconhecidos pela ordem jurídica – art.º 122.º + 130.º
CC
• Específica ou particular (gozo e exercício): compreende apenas certas categorias de direitos ou vinculações
• Determinada por referência a um direito ou vinculação em relação a uma pessoa concreta
• a) do art.º 1601.º CC – Capacidade de gozo
• Capacidade de exercício particular exige a verificação se determinada pessoa é admitida, por si, pessoal e livremente, a exercer certo
direito ou cumprir certa obrigação
INCAPACIDADE

Incapacidade

• De gozo: não admite suprimento


• De exercício: admite suprimento - viabiliza o exercício de direitos e o cumprimento de vinculações do incapaz;
permitem que as situações na titularidade do incapaz sejam atuadas mediante a intervenção de outra pessoa

Incapacidade de exercício

• Meios de suprimento: situações jurídicas atribuídas ao sujeito que vai viabilizar o exercício dos direitos ou o
cumprimento das vinculações do incapaz
• art.º 1877.º e ss CC artº 1921.º e ss; art.º 1967.º e ss CC
• Formas de suprimento: modos de atuação com vista ao exercício dos direitos e cumprimento das vinculações do
incapaz
• Representação legal: processo de substituição de vontades e é própria dos casos em que a pessoa não pode exercer
pessoalmente os seus direitos, precisando de alguém que a substitua
• Assistência: processo de conjugação de vontades do incapaz e do assistente
• Incapaz não pode exercer livremente os seus direitos
• Colaboração do assistente: autorização, comparticipação, ratificação ou aprovação
MENORIDADE: ART.º 122.º A 133.º CC

 Capacidade genérica de gozo


 a) art.º 1601.º e n.º 1 art.º 1850.º CC – cessa a incapacidade de gozo para a prática de determinados atos pessoais
 Incapacidade genérica de exercício: art.º 123.º CC
 Não podem exercer e cumprir por si só, pessoalmente e livremente, a generalidade de direitos de que são titulares ou a
generalidade das obrigações a que se encontram adstritos
 Cessação da incapacidade de exercício: maioridade (art.º 129.º) e emancipação
 Emancipação (art.º 132.º CC): casamento regular e casamento irregular – verificação dos pressupostos art.º 1612.º CC
 Casamento irregular: impede a produção da emancipação plena > emancipação restrita (art.º 1649.º CC)
 Incapacidade do menor restritamente emancipado é suprida pelo representante legal

 Formas de suprimento: representação leal (art.º 1877.º e 1878.º CC)


 Subsidiariamente: assistência (p.e. a) art.º 1601.º e 1649.º CC); art.º 70.º CT
 Meios de suprimento
 Responsabilidades parentais: conteúdo – art.º 1881.º CC
 Tutela: art.º 1921.º CC
 Administração de bens: art.º 1967.º CC
MENORIDADE: ART.º 122.º A 133.º CC

 Desvalor dos atos praticados por menor viciados por incapacidade de gozo e por incapacidade de exercício
 Incapacidade de gozo torna o negócio juridicamente impossível – regra geral o desvalor geral próprio deste vício é a
nulidade (interpretação resultante do disposto relativo à capacidade testamentária art.º 2190.º CC)
 Prática de atos pessoais e familiares – gera anulabilidade (a) art.º 1631.º; n.º 1 art.º 1861.º CC): sujeitos a confirmação após
a maioridade
 Incapacidade de exercício
 Anulabilidade dos atos praticados pelo menor: art.º 125.º CC (se o negócio ainda não estiver cumprido – n.º 2 do art.º 287.º CC)
 Anulabilidade é sanável mediante confirmação do menor, depois de se tornar maior ou emancipado, ou do representante legal

 Limites à incapacidade: de exercício


 Exercício de direitos de personalidade
 Atos previstos no art.º 127.º CC
MAIORES ACOMPANHADOS

 Acompanhamento: art.º 138.º a 156.º CC


 Medida introduzida no sistema jurídico português pela lei N.º 49/2018, de 14 de agosto
 Modelo monista e flexível que permite a adaptação às circunstâncias do caso concreto
 Primazia do acompanhado
 Limitação do acompanhamento ao mínimo necessário para suprir a incapacidade do acompanhado: art.º 145.º CC
 Fundamentos: art.º 138.º CC
 Natureza subsidiária ou supletiva: n.º 2 do art.º 140.º CC
 Representação a título excecional

 Processo: art.º 141.º e art.º 142.º CC


MAIORES ACOMPANHADOS

 Incapacidade
 Acompanhado: capacidade genérica de gozo
 Sentença pode instituir uma/s incapacidade/s específica/s de gozo

 Incapacidade de exercício é fixada na sentença


 Genérica
 Específica
INCAPACIDADE ACIDENTAL

 Artigo 257.º CC
 Âmbito subjetivo de aplicação quanto aos atos praticados:
 Maiores (art.º 122.º e 130.º CC)
 Maiores acompanhados antes do anúncio da propositura da ação
 Menores emancipados e não emancipados
 Maiores acompanhados

Incapazes para efeitos do art.º 131.º CC quanto aos atos que possam praticar pessoal e livremente
 Requisitos
 Situação do declarante é conhecida do declaratário
 Situação do declarante é notória (cognoscível para um homem médio)
TEORIA GERAL DO OBJETO
DA RELAÇÃO JURÍDICA

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