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QUÍMICA DOS EXPLOSIVOS

UNIDADE 1 - QUÍMICA ORGÂNICA

Capítulo 1 - Carbono e suas características


Capítulo 2 - Principais funções orgânicas

UNIDADE 2 - EXPLOSIVOS

Capítulo 1 - Generalidades
Capítulo 2 - Explosivos Militares
Capítulo 3 - Propelentes Sólidos
Capítulo 4 - Pirotécnicos

UNIDADE 3 - AVALIAÇÃO DOS EXPLOSIVOS

Capítulo 1 - Testes de Sensibilidade


Capítulo 2 - Testes de Efeito Útil
Capítulo 3 - Estabilidade Química

UNIDADE 4 - MÉTODOS DE INSPEÇÃO

Capítulo 1 - Inspeção por Atributos

UNIDADE 5 - MANUSEIO DE EXPLOSIVOS

Capítulo 1 - Identificação de Situações de Risco


Capítulo 2 - Barreiras de Delimitação dos Efeitos

Elaborada por: Cap Esp Arm Jonas Nogueira de Sousa - Fevereiro/2006

Revisada por: Tem Cel Esp Arm Sérgio Xavier de Lima – Março/2011

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UNIDADE 1 - QUÍMICA ORGÂNICA

CAPÍTULO 1 - CARBONO E SUAS CARACTERÍSTICAS

1.1 - O Estudo do Carbono


Como o carbono é a unidade fundamental dos compostos orgânicos, torna-se
necessário um conhecimento mais profundo sobre esse elemento. Desse modo, podemos
saber o que ele tem de especial para formar tantos compostos.
A estrutura dos compostos orgânicos começou a ser desvendada a partir da segunda
metade do século XIX, com as idéias de Archibald Scott Couper (1831-1892) e Kekulé sobre
o comportamento químico do carbono. Dentre essas idéias, hoje conhecidas por postulados
de Couper-Kekulé, três são fundamentais.

1o. postulado: O átomo de carbono é tetravalente


Esse postulado nos mostra que o átomo de carbono pode estabelecer quatro pares
eletrônicos, ou seja, quatro ligações covalentes. Veja por que:
O átomo de carbono tem número atômico 6, o que significa que ele apresenta 6
elétrons distribuídos nas camadas K e L.
Por apresentar quatro elétrons na última camada (L), o carbono pode compartilhar
quatro elétrons com outros átomos, de modo a completar o octeto e, assim, se estabilizar.

Distribuição eletrônica:
C6 – 1s2 2s2 2p2

1ª Camada 2ª Camada
2 elétrons 4 elétrons

REGRA DO OCTETO:
O átomo estará estável quando sua última camada possuir 8 elétrons (ou 2, caso se
trate da camada K). Os átomos não-estáveis se unem uns aos outros a fim de adquirir essa
configuração de estabilidade.

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Observe a estabilização de um átomo de carbono com átomos de hidrogênio:

Então, não se esqueça de que o carbono apresenta quatro unidades de valência.

2o. postulado: As quatro unidades de valência de carbono são iguais entre si.
No composto de formula molecular CH3Br apresenta as seguintes fórmulas eletrônica
e estrutural plana:

Está provado que só existe um composto de fórmula CH3Br, o que nos permite dizer
que as quatro fórmulas acima representam um único composto. Este fato nos leva, então, à
conclusão de que as quatro valências do carbono são exatamente iguais entre si.

3o. postulado: Átomos de carbono ligam-se diretamente entre si, formando estruturas
denominadas cadeias carbônicas.
A capacidade que átomos de um mesmo elemento têm de se ligarem entre si é
característica de alguns elementos, tais como enxofre, nitrogênio, oxigênio e fósforo.

No entanto, essa capacidade, para o carbono, é tão pronunciada que já se conhecem


cadeias carbônicas com milhares de átomos de carbono ligados entre si. Devido a essa
acentuada capacidade do carbono em formar cadeias é que se conhece um número
extremamente grande de compostos orgânicos.
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Mas, como os átomos de carbono se ligam entre si?
Dois átomos de carbono podem se ligar entre si através de 1, 2 ou 3 pares
eletrônicos.
Observe:

Então, o que é cadeia carbônica?

Cadeia carbônica é a estrutura formada por átomos de carbonos ligados entre si, podendo
haver, entre dois carbonos, um átomo de outro elemento, que recebe o nome de
heteroátomo.

Veja:

Note que em qualquer cadeia carbônica cada carbono deve estabelecer sempre
quatro pares eletrônicos.

Exercício:

1 - (UEL) Na fórmula H2C .....x.....CH - CH2 - C .....y.....N, x e y são, respectivamente,


ligações:
a) simples e dupla
b) dupla e dupla
c) tripla e simples
d) tripla e tripla
e) dupla e tripla
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2 - Construa a fórmula estrutural do seguinte composto orgânico que possui: 5 carbonos
primários, 1 secundário, 1 terciário e 1 quaternário

3 - Verifique quais cadeias apresentam heteroátomos:

1.2 - Classificações das cadeias carbônicas


Como vimos, os compostos orgânicos apresentam como unidade fundamental o
elemento carbono, sendo que os átomos desse elemento aparecem ligados entre si,
formando as cadeias carbônicas que constituem o “esqueleto “dos compostos orgânicos.
De acordo com a localização do átomo de carbono na cadeia, ele pode ser primário,
secundário, terciário ou quaternário.
Observe:

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Com relação às cadeias carbônicas, existem três tipos: cadeia aberta, cadeia fechada
e cadeia mista.
 Cadeia aberta ou acíclica: Os átomos de carbono se ligam entre si de modo a terem
extremos livres.

 Cadeia fechada ou cíclica: Os átomos de carbono se ligam entre si de modo a formarem


um ciclo.

 Cadeia mista: Os átomos de carbono se ligam entre si de modo a terem extremos livres e
também formarem ciclo.

As cadeias abertas podem ser normais ou ramificadas, homogêneas ou


heterogêneas, saturadas ou insaturadas. Veja:

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As cadeias fechadas alicíclicas são classificadas em homocíclicas ou heterocíclicas e


saturadas e insaturadas. Veja:

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Exercícios:

1) Que tipo de ligação (simples, dupla ou tripla) se estabelece entre os carbonos dos
compostos abaixo?

2) A cadeia composta da fórmula:

classifica-se como:

a) aberta, normal, heterogênea e saturada.


b) aberta, ramificada, homogênea e saturada.
c) aberta, ramificada, heterogênea e saturada.
d) aberta, normal, homogênea e insaturada.

3) Na cadeia do composto da questão anterior, podemos dizer que existem:


a) dois carbonos secundários. c) dois carbonos terciários.
b) dois carbonos quaternários. d) sete carbonos primários.

4) Classifique a cadeia dos seguintes compostos:

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UNIDADE 1 - QUÍMICA ORGÂNICA

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES ORGÂNICAS

2.1 - Conceito
Função química é o conjunto de compostos que apresentam comportamento químico
semelhante. Essa semelhança no comportamento químico é reconhecida nas fórmulas
através de algumas particularidades comuns.
As funções químicas inorgânicas são ácido, base, sal e óxido, conforme já
conhecemos. Vamos, agora, ver as funções orgânicas.

2.2 - As principais funções orgânicas


Os compostos orgânicos, de acordo com a sua estrutura e, consequentemente, do
seu comportamento químico, são agrupados em muitas funções. Dentre elas, você precisa
conhecer agora as mais comuns: hidrocarbonetos, haletos orgânicos, álcoois, fenóis,
aldeídos, cetonas, ácidos carboxílicos, aminas, amidas e organometálicos.

a) Hidrocarbonetos

Hidrocarbonetos são todos os compostos formados unicamente por carbono e


hidrogênio.

Esta função é considerada, na Química Orgânica, a função fundamental, pois a partir


dela são teoricamente derivadas todas as outras funções.
Costuma-se subdividir a função hidrocarboneto em outros conjuntos, dos quais os
principais são: alcanos, alcenos, alcadienos, alcinos, ciclanos, ciclenos e aromáticos.

b) Haletos orgânicos

Haletos orgânicos são todos os compostos que apresentam um ou mais átomos de


halogênio ( F, Cl, Br ou I ) substituindo igual número de átomos de hidrogênio, de um
hidrocarboneto.

Os haletos orgânicos se classificam em monoaletos, dialetos, trialetos etc., conforme


apresenta, respectivamente, 1, 2, 3 etc. átomos de halogênio.

c) Álcoois

Álcoois são todos os compostos orgânicos que apresentam um ou mais radicais


oxidrila (-OH ) ligados a átomos de carbono saturado.

Costuma-se classificar os álcoois de acordo com dois critérios: posição do radical


oxidrila e quantidade de radicais oxidrilas.

d) Fenóis

Fenóis são os compostos orgânicos que apresentam um ou mais oxidrilas ou


hidroxilas (-OH ) ligadas diretamente ao anel benzênico.

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Várias formas de representar o Núcleo Benzênico:

Forma Estrutural Forma Geométrica

Representação estrutural do fenol

e) Aldeídos

O
Aldeídos são todos os compostos orgânicos que apresentam o radical -C .
H

O radical -CHO constitui o grupo funcional dos aldeídos e recebe o nome de


metanoíla ou formila.

f) Cetonas

Cetonas são todos os compostos orgânicos que apresentam o radical - C - ligado

O
a dois átomos de carbono.

O radical - CO - constitui o grupo funcional das cetonas e recebe o nome de


carbonila.

g) Ácido carboxílico ou carboxiácido

O
Carboxiácido são todos os compostos orgânicos que apresentam o radical - C .
OH

O radical - COOH constitui o grupo funcional dos ácidos carboxílicos e recebe o


nome de carboxila.

h) Aminas

Aminas são todos os compostos orgânicos derivados do NH3 pela substituição de um ou


mais hidrogênio por igual número de radicais monovalentes alquila, alquenila, alquinila ou
arila.

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Observações: Os radicais monovalentes citados anteriormente são conforme a seguir:

Alquilas ou alcoílas: o elétron livre pertence a carbono que apresenta somente ligações
simples: H3C─CH2─

Alquenilas: o elétron livre pertence a carbono que apresenta uma ligação dupla:
H2C═CH2─

Alquinilas: o elétron livre pertence a carbono que apresenta uma ligação tripla: HC C ─

Arilas: o elétron livre pertence a carbono do núcleo benzênico:

i) Amidas
Inicialmente vamos recordar o que é um radical acila:

Radical acila é o radical derivado de um ácido carboxílico pela retirada do grupo -OH
da carboxila.

Desse modo, temos:

Amidas são todos os compostos orgânicos derivados do NH3 pela substituição de um ou


mais hidrogênio por igual número de radicais acila.

j) Organometálicos

Organometálicos são compostos orgânicos que apresentam um ou mais átomos de


metal ligados a átomos de carbono.

Dentre os organometálicos, têm importância os compostos de fórmula geral:


R--MgX (X = halogênio) ou Ar--MgX, descobertos pelo francês Victor Grignard (1871-
1935) e hoje conhecidos como compostos de Grignard.

Resumo:

Como você viu, o reconhecimento de uma função está na dependência do grupo


funcional. Assim, reconhecemos:
O
1) um aldeído pela presença do grupo -C ;
H
2) uma cetona pela presença do grupo - C = O ;
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3) um álcool, um enol e um fenol pela presença do grupo OH , e assim por diante.

Além das funções que você estudou, existem muitas outras que são reconhecidas
através de um grupo que é característico a cada uma delas. Vamos, então, montar um
quadro onde constem as funções estudadas e mais algumas. Você deve sempre consultar
esse quadro e, na medida do possível, ir memorizando o grupo funcional característico de
cada função.

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Exercício:
1) Dadas as fórmulas estruturais, reconheça a função do correspondente composto:

2) Dê a estrutura dos seguintes radicais:

a) hidroxila b) carbonila c) carboxila d) formila

3) Por que a fórmula representa um álcool e não um fenol?

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UNIDADE 2 - EXPLOSIVOS

CAPÍTULO 1 - GENERALIDADES

1.1 - Histórico
Uma mistura explosiva, conhecida pelos chineses há muitos séculos, é a de enxofre,
carvão e salitre, a pólvora negra (PN); seu emprego, como propelente de mísseis, foi
demonstrado pouco depois de 1300 D.C. As descobertas da nitroglicerina e da nitrocelulose,
pouco antes de 1850 e, logo depois, a invenção das dinamites e da espoleta de fulminato de
mercúrio foram eventos marcantes da era dos alto explosivos. Os explosivos atômicos foram
detonados pela primeira vez em 1945, marcando o início de um terceiro estágio na história
dos explosivos. Durante anos, desenvolveram-se produtos de qualidade superior, como a
pólvora sem fumaça, feita pela primeira vez em 1867. A demanda de explosivos mais
numerosos, para os modernos programas espaciais, serve de estímulo contínuo aos
engenheiros químicos. Em tempo de paz, é grande a quantidade consumida de explosivos
industriais. Em tempo de guerra, as quantidades são imensas; por exemplo, entre janeiro de
1940 e agosto de 1945 foram fabricados, nos Estados Unidos, aproximadamente 25 bilhões
de quilogramas. São poucas as substâncias químicas usadas como explosivos, em virtude
das restrições críticas sobre a estabilidade, a segurança e o preço, embora um grande
número de compostos e de misturas seja explosivo.

1.2 - Conceitos básicos


a - Explosivo
Um explosivo é um material que, sob a influência de um choque térmico ou mecânico,
se decompõe rápida e espontaneamente com a evolução de uma grande quantidade de
calor e de gases. Os gases quentes provocam uma pressão muito elevada, quando o
explosivo está num espaço confinado. Os explosivos diferem muito quanto à sensibilidade e
à potência. Têm importância industrial ou militar apenas os de natureza insensível, que
podem ser controlados e têm um elevado conteúdo energético. Existem três tipos
fundamentais de explosivos: os mecânicos, os atômicos e os químicos.

b - Deflagração
É a transformação de uma substância com desprendimento de calor, e cuja
velocidade de reação permite a propagação de calor por condução, permitindo que o avanço
seja feito por camadas paralelas à sua superfície, em outras palavras, é uma combustão
rápida, consistindo de uma transformação química comparativamente lenta.
NOTA: As deflagrações normalmente ocorrem com propelente e pirotécnicos.

c - Detonação
É o processo de decomposição que se propaga pela associação de dois fenômenos:
Físico (onda de choque) e Químico (reação de oxidação), em outras palavras, é uma reação
extremamente rápida, não instantânea, iniciando-se num dado ponto e movendo-se em
todas as direções com alta velocidade, porém mensurável.

d - Onda de choque
É uma zona de variação brutal de pressão e temperatura, que se desloca com uma
velocidade superior a velocidade do som.
A onda de choque age sobre as partículas do material, produzindo uma grande
compressão e aquecimento brutal dessas partículas que por sua vez, se decompõem e
desprendem calor suficiente para manter a onda de choque.

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Na figura a seguir tem-se um caso ilustrativo dos efeitos de uma explosão (onda de choque).

Caso genérico ilustrativo das fases de uma explosão e seus efeitos sobre estruturas
alvos.
Inicialmente, uma situação normal (A.) sucedida pela detonação do explosivo,
acontece o chamado pico de sobrepressão, mostrado na fase (B.), significando um aumento
súbito de pressão acima da pressão atmosférica e que irá determinar a forma da onda de
choque.
Segue um decréscimo em forma similar à logarítmica até uma fase de pressão
“negativa”, fase (C.). Por fim, a tendência natural é a estabilização, atingindo novamente a
pressão atmosférica (D).
Este efeito de pressão “negativa” (sucção), na verdade, é a diminuição da pressão
abaixo da atmosférica, ocorrendo devido à contração dos fluidos que expandiram na
explosão para proporcionar o equilíbrio do sistema.

e - Velocidade de Detonação
É a velocidade com que se desloca a onda de choque no meio explosivo.
Considerando uma iniciação eficiente, a velocidade de detonação depende do grau de
confinamento no invólucro, da densidade de carregamento e do tamanho do grão do
explosivo. De um modo geral, a velocidade de detonação de explosivos convencionais, até
os mais recentemente desenvolvidos, situa-se na faixa de 2.000 até 9.000 m/s.
Cada explosivo tem uma velocidade de detonação máxima em uma dada densidade
de carregamento. Não se pode aumentar indefinidamente a velocidade de detonação de um
explosivo com o aumento da densidade de carga, porque a partir de um determinado valor a
iniciação do explosivo torna-se difícil, resultando em diminuição de sua velocidade de
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detonação, ou até mesmo em insensibilidade total do mesmo. Neste caso, diz-se que o
explosivo pereceu por compressão.

1.3 - Classificação
a - Quanto à velocidade de transformação
Como já sabemos, existem três tipos fundamentais de explosivos; os mecânicos, os
atômicos e os químicos. O objetivo primordial de nosso estudo é o dos explosivos químicos.
Quanto à velocidade de transformação, é conveniente situar os explosivos químicos em
duas divisões, de acordo com o respectivo comportamento.

1 - Explosivos deflagrantes ou baixo explosivos.


Pólvora sem fumaça (nitrato de celulose coloidal), pólvora negra, algodão pólvora -
empregados para cargas de projeção, artifícios pirotécnicos e, eventualmente, ruptura. Estes
queimam ou deflagram.

2 - Explosivos detonantes ou alto-explosivos.


(a) explosivos primários ou iniciadores (detonadores): azida de chumbo, fulminato de
mercúrio, estifinato de chumbo (trinitroresocinato de chumbo).
(b) secundários: TNT, TETRIL, PETN, RDX, HMX, picrato de amônia, ácido pícrico,
DNT (dinitrotulueno) - empregados em ruptura, arrebentamento, fragmentação, destruições,
etc. Estes explodem ou detonam.
O quadro a seguir mostra as principais diferenças entre as duas divisões:

CARACTERÍSTICAS BAIXO EXPLOSIVO ALTO-EXPLOSIVO


Modo de iniciação Chama ou centelha Onda de choque
Regime de reação Combustão lenta Combustão rápida
Resultado da reação Deslocamento ou projeção Ruptura ou brisância

A comparação feita acima, contudo não é absoluta, a Azida de Chumbo e o Fulminato


de Mercúrio, por exemplo, sendo alto explosivos são iniciados em alguns casos, por meio de
uma centelha. Por outro lado, a pólvora que é um baixo explosivo, pode queimar, deflagrar
ou explodir.

b - Quanto ao Estado Físico


1 - Sólidos
2 - Líquidos
3 - Gasosos

c - Quanto à forma
1 - Pulverizados ou Pulverulentos: em pó. (fulminato de mercúrio, pólvora
negra, etc...);
2 - Granulados: em grãos de diversos tamanhos e formas (pólvoras).
3 - Em palhetas: com escamas. (trotil em palhetas, etc.).
4 - Bastonetes: monos perfurados, multiperfurados ou sem perfuração e de
diversas espessuras. (pólvora de BD, etc.).
5 - Massas fundidas: fundido fora ou dentro dos recipientes onde são
empregados. (petardos, granadas de artilharia).
6 - Massas Plásticas: em blocos moldáveis a qualquer meio e fáceis de
empregar.

d - Quanto à Associação dos Elementos


Físicos ou mecânicos dos seguintes tipos:

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1- Por trituração: importa em triturar os elementos e mistura-los até conseguir o
máximo de homogeneidade (pólvora negra).
2- Por revestimento: importa em revestir os grãos de um explosivo com uma
substância inerte, protegendo-os contra a umidade, calor e atrito.

e - Quanto à aplicação
1 - Pólvora balística: para carga de projeção das munições.
2 - Explosivos brisantes: para produzir ruptura, arrebentamento ou
fragmentação (cargas de granadas).
3 - Explosivos detonadores (de escorvamento): para início da explosão (nas
espoletas, cápsulas, etc.)
4 - Misturas pirotécnicas: para produzir efeitos visuais ou auditivos (nos
sinalizadores).

f - Quanto à fabricação
1- Primários: são constituídos de um único explosivo - TNT, TETRIL, RDX, etc.
2- Derivados: são constituídos de uma mistura ou combinação de dois ou mais
explosivos - amatol, tritonal, etc.

Sendo a velocidade de transformação a principal classificação usada para os


explosivos, existem, ainda, subdivisões para estas categorias:

Alto explosivos - Iniciadores


Reforçadores
Rompedores

Baixo explosivos - Pólvoras


Propelentes

Alto-explosivos
1 - Iniciadores
São os empregados em mistos para iniciação ou excitação das cadeias
explosivas. Possuem grande sensibilidade à iniciação, sendo muito sensíveis ao atrito, calor
e choque, produzem pequeno volume de gases.
NOTA: Não são eficientes para iniciar cargas de alto explosivos.
Exemplos: fulminato de mercúrio e azida de chumbo.

2 - Reforçadores
São empregados como intermediários entre o iniciador e a carga explosiva
principal (rompedor). Podem ser iniciados pelo calor, atrito ou choque, podendo detonar
quando queimados em grandes quantidades.
Exemplos: - TETRIL, RDX, PETN, HMX.

3 - Rompedores
São os alto explosivos utilizados nas cargas principais. Desprendem, na sua
transformação, grande quantidade de calor e de gases e apresentam alta velocidade de
detonação.
Exemplos: TNT, Picrato de Amônia, AMATOL.

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UNIDADE 2 - EXPLOSIVOS

CAPÍTULO 2 - EXPLOSIVOS MILITARES

2.1 - Introdução
Os explosivos militares são, em geral, bastante diferentes dos explosivos industriais, e
precisam ter uma longa vida em armazenagem precária além de carecerem de mais atenção
quanto aos efeitos do manuseio pelo pessoal encarregado.
Os explosivos militares não atômicos mais poderosos são misturas aluminizadas,
como o Torpex e HBX (RDX, TNT, alumínio e cera). Em virtude de as exigências militares
serem muito severas, somente alguns poucos explosivos sobreviveram aos ensaios
competitivos, e ainda menos são os descritos nesta apostila.

2.2 - Classificação por função química


Em muitos ramos da química, tem-se procurado estabelecer uma relação entre a
estrutura molecular e as propriedades da substância. Em química orgânica, dividem-se os
hidrocarbonetos em três grandes famílias: cadeias abertas, fechadas e mistas. Cada uma
destas famílias é ainda subdividida, mas as substâncias pertencentes à mesma família
apresentam, de certo modo, algumas características semelhantes.
Na química inorgânica, temos as substâncias classificadas com sais, bases, óxidos e
ácidos, as quais apresentam características bem diferentes entre os grupos, mas
apresentam características semelhantes dentro de um mesmo grupo.
Por analogia, tem-se procurado relacionar o caráter de EXPLOSIVIDADE com a
estrutura molecular, isto é, existe uma propriedade ligada à estrutura molecular que faz com
que algumas substâncias com determinadas características singulares, comportam-se como
explosivo químico. Uma coisa é certa, um explosivo tem em sua própria composição o
oxigênio necessário a sua autocombustão.
Nesse caso, o explosivo poderá ter combustão completa (balanço de oxigênio  0) ou
combustão incompleta (balanço de oxigênio  0).
Em regra geral, as substâncias explosivas propriamente ditas, utilizam o radical NO2
proveniente do ácido nítrico que através do processo de nitração é introduzido na molécula
da substância a ser nitrada, tornando-a explosiva. Na verdade, o radical nítrico funciona
como doador de oxigênio.
Muitas substâncias orgânicas, como álcoois, aminas e os aromáticos, são utilizadas
no processo de nitração para produção de explosivos.
O radical NO2 , ao entrar na molécula orgânica, substitui um H, dando origem a
três funções químicas diferentes, dependendo se o hidrogênio substituído pertença a um
grupo hidroxila (OH ), esteja ligado a um carbono (C ) ou esteja ligado ao nitrogênio de um
grupo amina ( NH ), como veremos a seguir:

a) Ésteres nítricos

H2SO4 + SO3
ROH + HNO3 RONO2 + H2O

Exemplos: nitrocelulose, nitroglicerina, PETN.

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b) Nitroderivados

H2SO4 + SO3
RH + HNO3 RNO2 + H2O

Exemplos: TNT, ácido pícrico, picrato de amônio.

c) Nitroaminas

R H2SO4 + SO3 R
NH + HNO3 NNO2 + H2O
R R

Exemplos: RDX, TETRIL, HMX.

Normalmente, usa-se no processo de nitração para obtenção de explosivos uma


mistura fumegante de H2SO4 + HNO3 + SO3.

2.3 - Principais explosivos militares e suas características

a) Explosivos iniciadores
Enquanto os explosivos do tipo: ésteres nítricos, nitroderivados e nitroaminas são
essencialmente reforçadores ou de ruptura, os explosivos iniciadores não podem ser
divididos por função química. Também não podemos atribuir-lhes características químicas
bem definidas. Sabe-se, no entanto, que são explosivos que em contato com um filamento
ao rubro tomam rapidamente o regime de detonação, isto é, uma vez iniciados detonam. A
grande sensibilidade à detonação é uma propriedade comum a todos eles, podendo ser
atribuída, sem muito rigor científico, as seguintes propriedades:

- a molécula tem um excessivo comprimento;


- a molécula foi retorcida para ser adicionado um metal pesado;
- o metal pesado absorve energia e quebra a estrutura molecular.

Os explosivos iniciadores mais conhecidos são os seguintes:

 fulminato de mercúrio - Hg(ONC)2

O fulminato de mercúrio é tóxico e praticamente insolúvel em água. Quando seco, é


altamente sensível ao choque, impacto ou fricção, e é facilmente detonado por centelha e
chama. Pode ser dessensibilizado pela adição de óleo, gorduras ou parafina, e também
pode ser prensado em moldes sob altas pressões.
O fulminato de mercúrio é estocado em água. É secado à 40ºC (104ºF) momentos
antes do uso.

• estifinato de chumbo ou trinitroresorcinato de chumbo - PbO2C6H(NO2)3

O trinitroresorcinato de chumbo é praticamente insolúvel em água (0,04%), e é muito


solúvel em acetato e etanol, é insolúvel em éter, clorofórmio, tolueno e benzeno.

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O trinitroresorcinato de chumbo é muito empregado como explosivo iniciador na forma
de mistura com azida de chumbo formando a carga detonadora, é particularmente
apropriado para esse propósito, uma vez que possui alta sensibilidade a ignição e baixa
higroscopicidade. É também empregado como componente principal de carga “sinoxide” em
cápsulas de percussão não erosivas, essas cargas também contêm aditivos e uma baixa
percentagem de tetrazeno.
Obs - sinoxide – Tratamento dado aos produtos químicos com o composto de fórmula Si3N4-
SiO2-Si que evita o ataque corrosivo. A palavra “sinoxide” significa “sine” “oxide” – sem
corrosão.

 azida de chumbo

N
Pb  N 
N 2

Substitui parcialmente o fulminato de mercúrio como explosivo iniciador, ou primário,


em espoletas de percussão. O fulminato apresenta uma estabilidade menor que a desejável,
tem que ser fabricado em pequenas partidas e envolve um material raro, como o mercúrio.
Por outro lado, a azida de chumbo tem uma estabilidade notável, não envolve material
estratégico e pode ser fabricada em grandes partidas pela ação do acetato ou nitrato de
chumbo sobre a azida de sódio. A azida de chumbo pode ser obtida a partir da amida de
sódio e o óxido nitroso:

NaNH2 + N2O NaN3 + H2O

2NaN3 + Pb( C2 H3 O2 )2 Pb ( N3 )2 + 2Na ( C2 H3 O2 )

 diazodinitrofenol - (C6 H2 N4 O5 )

O diazodinitrofenol é praticamente insolúvel em água, solúvel em etanol e metanol e


muito solúvel em acetona, nitroglicerina, nitrobenzeno, piridina e ácido acético. Torna-se
rapidamente escuro quando exposto a luz solar.
É preparado pela diazotização do ácido pícrico com nitrato de sódio em solução de
ácido clorídrico, com o esfriamento adequado. O produto marrom escuro é purificado pela
dissolução em acetona aquecida e precipitado em contato com o gelo.
Nos Estados Unidos, este diazo-composto é usado como explosivo iniciador. É mais
potente que o fulminato de mercúrio e ligeiramente menos que a azida de chumbo.

 tetrazeno (C2 H8 N10 O)

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e/ou

Tetrazeno é classificado como explosivo iniciador, mas seu próprio efeito de iniciação
é fraco.
É praticamente insolúvel em água, álcool, éter, benzeno e tetracloreto de carbono. É
preparado pela reação entre sal de aminoguanidina e nitrato de sódio.
Tetrazeno é um iniciador efetivo cuja decomposição não deixa resíduos. É introduzido
como aditivo para diminuir a erosão nos iniciadores que têm como base o trinitroresorcinato
de chumbo e torna o iniciador mais efetivo. Sua sensibilidade ao impacto e fricção é
semelhantes a do fulminato de mercúrio.

 Mistura iniciadora

KClO3 + Pb (CNS)2 + Sb2S3 + TNT + vidro moído

A tabela seguinte mostra as propriedades de alguns dos mais comuns explosivos


primários.

Explosivo Velocidade de Potência Temperatura que Sensibilidade


Primário Detonação (m/s) Aproximada (em Ocorre a Eletrônica
dependendo da relação ao TNT) Detonação em (joules)
densidade usando o bloco 5s amostra não
de Traulz confinada
Azida de 4.500 – 5.400 40 315 – 345 0,01
Chumbo
Estifinato de
Chumbo 4.900 - 5.200 42 282 0,0009
Fulminato de
Mercúrio 4.000 – 5.400 37 – 50 210 0,025

Em aplicações típicas, explosivos primários são quase sempre misturados com outras
substâncias e combinados com outros explosivos mais potentes num pequeno tubo
(normalmente alumínio ou cobre) para formar um conjunto detonador ou cápsula detonante.
Estas são normalmente iniciadas por um dos quatros meios: diretamente por fonte de
calor, eletricamente, por percussão ou fricção. Deve ser também notificado que explosivos
primários podem ser muito sensíveis à energia eletrostática.
Durante a fabricação, o explosivo primário é prensado, a densidade do composto
prensado afeta as características, aumentando a potência, velocidade de detonação, mas
normalmente reduzindo a sensibilidade.

b) Explosivos Secundários ou Reforçadores / Rompedores

Esses explosivos são as mais potentes e estáveis substâncias usadas para o


enchimento de artefatos explosivos. O ácido pícrico (também conhecido como lidite) foi
usado extensamente como carga de morteiros até a I Guerra Mundial, mas foi quase que
totalmente substituído por TNT e Amatol (TNT + nitrato de amônia) durante a II Guerra
Mundial, usando tetril como reforçador. Durante a II Guerra Mundial, PETN, RDX e HMX
25
26
(substância altamente densa análoga ao RDX) ganharam reconhecimento e foram
incorporadas em algumas munições.
Esses explosivos são ainda usados na maioria das aplicações militares, contudo eles
são quase sempre encontrados em combinações (assim como RDX/TNT), ou misturados
com outras substâncias. Aditivos são também usados para alterar as propriedades ou
características de um explosivo para uma aplicação específica. Por exemplo, alumínio
aumenta a qualidade do efeito explosivo, enquanto plastificantes permitem a moldagem
manual e diminui a sensibilidade.

Ésteres nítricos

 Nitrocelulose
Há muito tempo foram detectadas as propriedades explosivas do algodão nitrado. A
descoberta de métodos de geleificar o material, transformando-o numa massa uniforme e
densa, de aparência resinosa, reduziu a superfície e a rapidez da explosão. Com a
descoberta de métodos apropriados de estabilização, para prolongar a vida em depósitos, a
nitrocelulose logo deslocou a pólvora negra como propelente militar.
A molécula de celulose é uma molécula muito complicada, com uma massa molecular
que vai até 300.000g/mol. Em qualquer amostra de celulose há uma ampla distribuição de
moléculas, todas com a fórmula empírica  C6 H7 O2 ( OH )3  n. Existem então três grupos
hidroxilas por unidade fundamental (glicose), que podem ser esterificadas pelo ácido nítrico,
alcançando um teor teórico de nitrogênio de 14%, que é mais elevado que o de qualquer
produto comercialmente existente. A reação pode ser formulada:

C6 H7 O2 (OH)3 + 3HONO2 + H2SO4 C6 H7 O2 (ONO2)3 + 3H2O + H2SO4

As celuloses que não são completamente nitradas ao trinitrato são usadas na forma
de vários nitratos de celulose industriais, conforme está ilustrado na figura 2.1.

Fig. 2.1 Fluxograma de fabricação da nitrocelulose (nitrato de celulose).

26
27
 Nitroglicerina
A nitroglicerina foi o primeiro alto explosivo a ser empregado em grande escala. A
nitração é efetuada lentamente pela adição de glicerina muito pura (99,9% ou mais), há uma
mistura com a composição aproximada H2SO4, 59,5%; HNO3, 40%; e H2O, 0,5%. O
produto é, na realidade, o trinitrato de glicerina, e a reação enquadra-se na classificação de
esterificação (nitrato).

CH2OH CH2O -NO2


 
CHOH + 3HNO3 + (H2SO4) CHO -NO2 + 3H2O + (H2SO4)
 
CH2OH CH2O -NO2

Fórmula Estrutural da Nitroglicerina

A nitroglicerina é um líquido com a aparência da glicerina original. É muito sensível ao


choque e congela a 13,3oC; o sólido é menos sensível. Para tornar a nitroglicerina mais fácil
e mais segura de ser manuseada, ela é usualmente transformada em dinamite. As dinamites
modernas usam, em geral, serragem, nitrato de amônio ou nitrato de sódio como o agente
de absorção da nitroglicerina, a que se adiciona um oxidante.

Observe a reação de transformação da Nitroglicerina:

C3H5(NO3)3(l) 7H2 + 3NO2(g) + 3CO(g)

Diagrama da dinamite:

A. Material absorvente poroso misturado à nitroglicerina


B. Capa cilíndrica que envolve o material explosivo
C. Ponta do detonador
D. Cabo elétrico que se conecta a ponta do detonador

27
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Fig. 2.2 Fluxograma da fabricação da nitroglicerina e dinamites.

 PETN , tetranitrato de pentaeritritol  C ( CH2ONO2 )4 .


É um dos alto-explosivos militares mais brisantes e mais sensíveis. É dessensibilizado
pela adição de TNT (denominado Pentolite) ou pela adição de cera, para ser usado como
explosivo reforçador, como carga de ruptura ou como explosivo plástico de demolição. O
PETN pode ser feito pela nitração do pentaeritritol com o ácido nítrico concentrado (96%) a
cerca de 50oC.

CH2OH CH2-O-NO2
 H2SO4 + SO3 
2 HOH2CCCH2OH + 4 HNO3 O2NO-H2CCCH2ONO2 + 4 H2O

0
| 50 C +
CH2OH CH2ONO2 (H2SO4)

Fórmula Estrutural mais real do PETN

Propriedades características dos ésteres nítricos:

- sensíveis ao choque mecânico;


- em geral, têm estabilidade química média ao calor;
- são muito potentes (brisantes).
28
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Nitroderivados

 TNT (trinitrotolueno)
Apesar do desenvolvimento de novos explosivos, o TNT simétrico continua a ser um
importante explosivo militar, particularmente misturado com o nitrato de amônio (amatol).
Seu baixo ponto de fusão (800C) permite que seja carregado fundido em bombas e obuses.
Não tem a tendência, que tem ácido pícrico, em formar sais metálicos sensíveis. O TNT é
obtido pela nitração em etapas múltiplas do tolueno, com uma mistura de ácidos sulfúrico e
nítrico. Antigamente, usavam-se três estágios de nitração, ao mono, ao di e ao
trinitrotolueno; atualmente, os reatores a fluxo contínuo, em tanques agitados, ou as
unidades tubulares com escoamento em contracorrente dos ácidos concentrados e do
tolueno, permitem que se tenham rendimentos maiores e custos menores.

Tolueno
Representação geométrica do Tolueno

CH3 CH3
O2N NO2
+ 3 HNO3 + ( H2SO4 ) + 3 H2O + (H2SO4)

NO2

TNT
Representação geométrica do TNT

 Ácido Pícrico ( 2,4,6 - trinitrofenol )


Não se fabrica pela nitração direta do fenol, em virtude de se formarem muitos
co-produtos. É obtido pela nitração de fenolsulfonatos misturados pela mistura sulfonítrica.

OH OH
O2N NO2
+3 HNO3 + ( H2SO4 ) + 3 H2O + (H2SO4)

NO2

Fenol Fórmula Geométrica do Fenol Fenolsolfonato


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 Picrato de Amônio ou Explosivo D
É obtido pela neutralização de soluções aquosas quentes de ácido pícrico pela
amônia aquosa. É usado em bombas perfurantes de blindagens graças à insensibilidade aos
choques.

OH ONH4
O2N NO2 O2 N NO2
+ NH3

NO2 NO2

Fórmula Estrutural mais real do Picrato de Amônio ou Explosivo D

Propriedades características dos nitroderivados:

- sensibilidade moderada ao choque;


- inércia a detonação pelo efeito do calor; e
- muitas vezes queimam sem detonar.

Nitroaminas

 RDX ou ciclonita, ou sim-trimetilenotrinitramina  (CH2)3 N3 (NO2)3 


(Research Department X)

É um dos mais poderosos explosivos conhecidos atualmente. O RDX é usado,


em mistura com o TNT e o alumínio, sob o nome de Torpex, em minas, cargas de
profundidades e em cargas de torpedos. Também é empregado como ingredientes em
explosivos de granadas e bombas e dessensibilizado por cera ou materiais oleosos. Os
ingleses desenvolveram o primeiro processo prático, que envolvia a nitração destrutiva da
hexametilenotetramina com o ácido nítrico concentrado:

NO2

N
C6H12N4 + 3 HNO3 + 3 HCHO + NH3
O2NN NNO2

Outra representação do RDX Fórmula Geométrica do RDX


30
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 TETRIL, 2,4,6-trinitrofenilmetilnitroamina,  (C6H2(NO2)3NCH3NO2 
É utilizado principalmente como carga básica em espoletas de detonação,
como explosivo reforçador em bombas de alto explosivos e como componentes de
explosivos binários (possuem dois explosivos). Prepara-se, em geral, pela ação de mistura
sulfonítrica sobre dimetilanilina, numa nitração em múltiplas etapas:

C6H5N(CH3)2 + 2 HNO3 + (H2SO4) C6H3N(CH3)2 NO2  NO2 + 2 H2O

CH3NCH3 O2NNCH3
NO2 O2 N NO2
+ 8 HNO3 + (H2SO4) + 6 NO2 + CO2 + 6 H2O

NO2 NO2

 HMX, Ciclotetrametileno tetranitramina ou Octogênio ( C4H8N8O8 )


(High Melting point eXplosive : explosivo com alto ponto de derretimento)

Octogênio aparece em quatro formas distintas, das quais somente a forma β


suporta alta densidade de carregamento, e por essa razão também apresenta alta
velocidade de detonação.
É praticamente insolúvel em água. Sua solubilidade em outros solventes é
similar ao hexogênio (RDX).
Em cargas de alta potência, especialmente naquelas com furo, octogênio
apresenta um melhor desempenho que o RDX.

A mistura explosiva constituída de 77% de HMX e 23% de TNT é conhecida como OCTOL.

Propriedades características das nitroaminas:


- são mais sensíveis aos esforços que os nitroderivados;
- têm boa estabilidade química ao calor;
- são mais potentes que os nitroderivados.

31
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Quadro a seguir apresenta um resumo das características dos explosivos descritos neste
tópico.
Quadro 2.1 - Resumo das características dos explosivos

Explosivo Velocidade de Pressão de Potência Brisância Temperatura


Secundário Detonação (m/s) Detonação Aproximada Relativa (em na qual a
dependendo da (Kbar) (em relação ao relação ao detonação
densidade TNT) TNT) ocorre (graus
usando o bloco Celsius)
de Traulz
HMX 9.110 392 159 -165 125 327
PETN 7.500 – 8.300 300 161 - 189 129 - 141 215
RDX 8.440 – 8.700 300 151 - 170 125 - 145 316
Tetril 7.160 – 7.850 192 125 - 145 113 - 123 257
TNT 6.800 – 7.000 190 100 100 475

c) Misturas Explosivas Rompedoras


Face a facilidade do TNT de fundir-se à 80-82o C, ser estável nessa temperatura (
fundido ) durante muito tempo e facilidade de carregamento, tudo isto fez com que esse
explosivo fosse utilizado como um componente ligante, em muitas misturas explosivas.

32
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 Amatol
Durante a II Guerra Mundial, tendo em vista o consumo exagerado de TNT, e
esforços para manter o nível de estoque deste explosivo, os ingleses desenvolveram duas
composições básicas de amatol. Uma mistura contendo 80 partes de nitrato de amônio e 20
partes de TNT fundido a 90o C, foi bastante produzida para enchimento de bombas. Como
havia dificuldades para carregamento dessa mistura, os fabricantes optaram pela mistura
50-50, que quando fundida e misturada até ficar bem homogênea, tem características de um
líquido moldável por gravidade.
Com a descoberta de explosivos mais potentes, manteve-se o TNT nessas misturas
binárias e substituiu-se o segundo componente.
Nessa mesma época, fizeram-se também misturas explosivas tipo amatol, que nada
mais é do que um a mistura de TNT + nitrato de amônio + alumínio.

 HBX
HBX é uma família de explosivos binários que são compostos de RDX, TNT, pó de
alumínio e cera de abelha D-2 com cloreto de cálcio.
Ele é usado para o enchimento de cabeças de guerra de mísseis e de munições
subaquáticas.
Dentro da família de HBX temos os seguintes explosivos:

HBX-1 e HBX-3:
Cor: Acinzentado

Composição do HBX-1: RDX ..................................39,6 %


TNT ..................................37,8%
Alumínio em pó.................17,1%
Desensibilizante................1%

Composição do HBX-3: RDX...................................31 %


TNT...................................29 %
Pó de alumínio.................35 %
Desensibilizante..............3,5 %
Temperatura de detonação: 185ºC a 260 ºC
Ponto de fusão: 81ºC
Efeito: 1,48 no ar e 1,68 quando submerso. O HBX-3 é 10 % a 15
% mais efetivo embaixo d'água.
Velocidade: 24.300 ft/s (7290 m/s)
Sensibilidade: Pouco mais que o TNT, comparável à composição B
Estabilidade: Boa. No entanto à temperaturas maiores que 65ºC
pode "suar" perdendo a cera (desensibilizante).
Estado: Sólido, tipo massa úmida.
Toxicidade: O TNT da composição é o ingrediente tóxico.
Emprego: Torpedos, minas, bombas, cargas de profundidade e
cargas de demolições.

 Tritonal
A composição contendo 80% de TNT e 20% de alumínio foi desenvolvida e
padronizada pelos USA durante a II Guerra Mundial sendo ela carregada na bomba
diretamente de forma fundida. Utiliza-se essa mistura principalmente em demolição, devido
ao grande efeito de sopro, sendo que o alumínio aumenta a eficiência de sopro dessa
mistura.
Para se produzir o tritonal industrialmente, aquece-se o TNT até 90o C. O outro
componente, o alumínio, é aquecido na mesma temperatura para remoção da umidade
33
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superficial e para evitar o resfriamento da massa de TNT na ocasião da mistura. Cuidados
especiais devem ser tomados no resfriamento da massa explosiva dentro do item bélico, que
devido a contração de passagem de líquido para sólido, poderá ocorrer o aparecimento de
vazios (bolhas), por isso o resfriamento deve ser feito de forma bem lente.

 Pentolite
Com a padronização da nitropenta (PETN) como explosivo militar, foram
desenvolvidas misturas TNT - PETN, chamadas pentolites. Dessas misturas, a composição
50-50 é a mais importante e utilizada em cabeças de guerra de efeito antipessoal e
anticarro.
Quando armazenada acima de 50oC poderá sofrer alguma exsudação, em virtude de
prováveis impurezas na PETN.

 Composição B (Hexodite)
Em virtude da menor estabilidade e maior sensibilidade da PETN (éster nítrico),
quando comparada ao RDX, existe uma tendência atual para substituir PETN por RDX nas
misturas explosivas de TNT.
Composições consistindo de RDX e TNT são chamadas de ciclotóis. Especificamente,
o ciclotol com 60% TNT + 40% RDX é chamada de composição B.

 Torpex
Mistura explosiva que tem 41% TNT + 41% RDX + 18% Alumínio, sendo notável
essa composição pelo efeito de sopro. É adequada para carregamento no item, quando
fundida.
Torpex é considerado mais sensível ao impacto mecânico que a Composição B.
Talvez por isso, modificações em sua composição tenham sido introduzidas, como nos
casos seguintes:
Componente em % HBX-1 HBX-3 HBX-6
RDX................................... 39,6 31,0 45,0
TNT.................................. 37,8 29,0 30,0
Alumínio............................ 17,1 34,5 20,0
D-2 *.................................. 5,0 5,0 5,0
Cloreto de cálcio.............. 0,5 0,5 -
* parafina + nitrocelulose

 Composição C-3 (Explosivo plástico)


Durante a II Guerra Mundial, os ingleses usaram um explosivo em demolições que
podia ser moldado pelas mãos e que tinha um grande poder. Os Estados Unidos
padronizaram essa composição explosiva como Composição C, que consistia de 88,3% de
RDX e 11,7% de óleo plastificante não explosivo. Essa composição, ainda que mantivesse a
forma plástica nas temperaturas de 0 a 40o C, era quebradiça e menos sensível a iniciação
quando abaixo de 0o C. Acima de 40o C, apresenta exsudação do óleo plastificante.
Posteriormente essa mistura foi substituída pela Composição C-3, que contém 77% de RDX
e 23% de um plastificante explosivo. Esse plastificante contém mononitrotolueno,
dinitrotolueno, TNT, tetril e nitrocelulose. Essa mistura tem forma plástica na faixa de -300 a
+52o C.

2.4 - Balanço de oxigênio de explosivos puros e misturas explosivas


Balanço de oxigênio é o cálculo do percentual de oxigênio existente em um explosivo,
para verificar se haverá uma transformação completa, parcial ou há excesso de oxigênio, em
relação ao peso deste material.
34
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a) Explosivos puros
O balanço de oxigênio é necessário para verificar se haverá formação de outros
produtos de combustão que não CO2, H2O e N2 ( não tóxicos ).

Combustão completa:

CxHyNzOk x CO2 + y/2 H2O + z/2 N2

Combustão parcial:

CHNO CO2 + CO + C + H2O + H2 + N2 + NO

Combustão com excesso de oxigênio:

CHNO CO2 + H2O + N2 + O2

Considerando-se somente o O2 da massa do explosivo, temos:

CaHbOcNd a CO2 + b/2 H2O + d/2 N2

Para combustão completa devemos ter: c = 2 a + b/2

Exemplo: Nitroglicerina  C3H5O9N3


a = 3  carbono
b = 5  hidrogênio c = 2 a + b/2
c = 9  oxigênio c = 2.3 + 5/2
d = 3  nitrogênio c = 6 + 2,5 = 8,5

Oxigênio disponível = 9
Oxigênio necessário = 8,5  Logo: combustão com excesso de
oxigênio.
Oxigênio em excesso = 0,5

Continuando o exemplo da nitroglicerina, vamos calcular o percentual em massa de oxigênio


em excesso: 0,5 x 16 = 8 u.m.a.

C 3 x 12 = 36
H 5x 1 = 5
O 9 x 16 = 144
N 3 x 14 = 42
227 g/mol

227 100%
8 x%  x = 3,52% em excesso de oxigênio, em massa.

b) Mistura de explosivos
Podemos tomar como exemplo, para fazermos o cálculo de oxigênio, a mistura de
TNT + Nitrato de amônia conhecida como AMATOL. Para isso fazemos o balanço de
oxigênio de cada um dos componentes da mistura separadamente e, então, calculamos as
quantidades de cada componente para que a mistura tenha combustão completa.

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Cálculos

NH4NO3

NaHbOc a/2N + b/2H2O


c = b/2
a=2
b=4
c=3 c = 4/2 = 2

Excesso = 3 – 2 = 1 Oxigênio
0 = 16 u.m.a.x 3 = 48
N = 14 x 2 = 28
H=1x4=4
Total = 80 80................100%
16.................x x = 20% Excesso de O2

Nitrato de amônio  NH4NO3  balanço de oxigênio = 20% em excesso, em


massa;( x )

TNT  C7H5O6N3  balanço de oxigênio = 74% em falta, em massa. ( y )

0,2x + (-0,74)y = 0
x + y = 1  x = 78,7% e y = 21,3%.
Portanto, para que tenhamos uma combustão completa do amatol é necessário que a
mistura seja composta de 78,7%, em massa, de nitrato de amônio; e 21,3%, em massa, de
TNT.

2.5 - Fundamentos do trem explosivo e dos ignitores

É sabido que, com relação a materiais explosivos; quanto mais energia armazenada
tem o material explosivo, mais difícil é sua iniciação e, portanto, mais difícil sua detonação.
Essa característica faz com que se inicie um material explosivo, supostamente menos
sensível, com pequenas quantidades de outros materiais mais sensíveis e adequadamente
seqüenciados, até se chegar a carga principal.

a) Trem explosivo
É um dispositivo composto de vários elementos explosivos montados na ordem
decrescente de sensibilidade á iniciação, e na ordem crescente de energia armazenada.
A função de um trem explosivo é promover o aumento gradual de energia, até se
chegar num impulso de energia suficiente para causar a detonação da carga principal.

1- Tipos de trem explosivo


Os trens explosivos podem ser divididos em dois tipos principais: alto trem explosivo e
baixo trem explosivo. O tipo de trem explosivo a ser empregado num determinado item,
depende da carga principal a ser detonada.
O alto trem explosivo é uma cadeia explosiva onde o explosivo principal é um alto-
explosivo.
O baixo trem explosivo é uma cadeia explosiva onde o explosivo principal é uma
carga propelente ou pirotécnica.
Basicamente, um alto trem explosivo produz uma onda de choque, enquanto um
baixo trem explosivo produz uma chama.

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2- Trem explosivo alinhado e desalinhado


Um trem explosivo alinhado está pronto para ser detonado, bastando para isso, que
haja uma energia (impacto ou calor) sobre o elemento iniciador.
Um item bélico, quando em manutenção, armazenado, em transporte e em vôo cativo,
deverá estar com o trem explosivo desalinhado.

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