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Título: O Caso dos Exploradores de Cavernas

Autor: Lon Luvois Fuller


Editora: Leud
Número de páginas: 75
Resenhista: Tiago Schuh Beck
Email: tiagosbeck@gmail.com

O autor, Lon Luvois Fuller foi um jurista estado-unidense e professor em diversas


universidades norte-americanas, com destaque para Harvard. Defendia uma visão moderada
de jusnaturalismo, indicando que o direito deixava de ser válido e correto sem uma análise
particular, devendo-se considerar o escopo de cada caso.
Fica evidente que o livro “O caso dos exploradores de cavernas” foi escrito para
estudantes que estão iniciando o curso de direito, uma vez que traz uma linguagem simples,
além de um conteúdo de profunda abordagem metodológica, imergindo em mundo próprio da
disciplina, com destaque para as argumentações e tentativas de persuasão dos juristas.
Ademais, o livro é importante para o direito, visto que traz noções propedêuticas do curso.
Também, as teses defendidas pelos juízes no decorrer da obra são embasadas em escolas que
até hoje influenciam o pensamento de diversos doutrinadores. Além disso, a confusão quanto
às funções dos três poderes – executivo, legislativo e judiciário - é constantemente debatida.
Esquematicamente, a obra foi organizada em duas partes: introdução e história. A
primeira destacou a importância das escolas de pensamento surgidas ao longo da história e
que serviram como base para uma sólida argumentação e interpretação das leis. Já, a segunda
parte, narrou a história do livro, sendo essa seguida da argumentação de quatro juristas, que
defendiam a condenação ou clamavam pela absolvição dos réus.
A história foi fundamentada em um caso fictício, no qual cinco membros, dentre eles
Roger Whetmore, de uma organização amadorística de exploração de cavernas, acabam por
ficar enclausurados no interior de uma caverna, decorrente de um desmoronamento de terra,
que bloqueou a única abertura. Não voltando para casa, as famílias dos exploradores
notificaram o secretário da sociedade, o qual imediatamente enviou uma equipe de socorro ao
local, já que os acusados, antes mesmo da expedição, deixaram indicações da localização da
caverna. No vigésimo dia foi descoberto que os exploradores levaram consigo um rádio. As
equipes de resgate estabeleceram comunicação e afirmaram que precisariam de pelo menos
dez dias para libertá-los.
Diante da situação de desespero e da certeza do pouco tempo de vida que lhes
restavam, em virtude de escassos recursos alimentícios, Whetmore fez uma proposta: a de
sacrificar um membro do grupo para a ingestão da carne humana pelos demais, em busca da
sobrevivência. A proposta foi aceita por todos. Whetmore trazia consigo dados e a sorte de
cada um foi depositada neles. Antes do lançamento dos dados, Whetmore hesitou em
participar, pois havia decidido esperar pela outra semana. Entretanto, seus companheiros não
aceitaram, alegando uma quebra de contrato. Whetmore acabou sendo traído pela própria
sorte e foi morto, o que levou a uma série de discussões e interpretações por parte de juízes
diante da Suprema Corte de Newgarth, já que os réus apelaram da decisão do Tribunal do
Condado de Stowfield, que lhes havia condenado à morte pela forca.
O primeiro juiz a fazer seu pronunciamento foi Foster. Este, defensor da escola
jusnaturalista, propôs a absolvição dos réus, uma vez que seguidores dessa corrente tinham
como pressuposto os valores de um ser humano e a busca por um ideal de justiça, devendo
cada caso ser analisado de acordo com suas peculiaridades, não devendo se ater apenas a
cálculos exatos. Nessa linha de raciocínio, Foster construiu sua argumentação, afirmando que
os acusados não se encontravam em um estado de sociedade civil, mas em um estado natural e
por isso a lei não podia ser aplicada. Além do mais, expõe a ideia de que os acusados fizeram
um contrato que serviria de lei dentro da caverna.
Criticando o pensamento de Foster, o juiz Tatting questionou o “estado de natureza”,
indagando o momento em que isso ocorreu. Entretanto, no final se mostrou confuso e
envolvido emocionalmente, pedindo afastamento do caso.
O terceiro juiz – Keen -, sendo um defensor do Positivismo, condenou os réus, haja
vista que essa escola defendia que o direito é posto pelo estado soberano, decorrente de
normas gerais e existentes no domínio das ideias. A lei era a fonte exclusiva do direito e não
deveriam existir influências externas, como valores, poder e moral, tampouco um estado de
natureza. Dessa forma, acusou o Juiz Foster usar furos na legislação para defender os
acusados. Além do mais, afirmou que não considerava o que era “justo” ou “injusto”, “bom”
ou “mau”, já que acreditava que esses quesitos eram meras questões de moralidade,
desconsiderando-os para a aplicação da lei positivada.
Por último, o juiz Handy questionou o porquê de ninguém ter levantado a questão da
natureza jurídica do contrato celebrado na caverna – se era unilateral ou bilateral -. Handy
criticou tanto a posição de Foster quanto a de Keen, uma vez que o caso teve repercussão até
mesmo no exterior e que uma pesquisa no país mostrou que 90% dos entrevistados opinaram
que os acusados deveriam ser perdoados ou deixados em liberdade. Assim, afirmou que devia
haver uma harmonia entre a opinião pública e a justiça e, por isso, votou pela absolvição dos
réus.
Estando a suprema corte igualmente dividida, já que o voto em primeira instância por
parte do presidente Truepenny foi pela condenação, a sentença do Tribunal de Apelações foi
mantida e os acusados foram levados à forca.
Destaca-se as argumentações por parte dos juízes Foster e Keen, uma vez que são
pautadas em escolas históricas que até hoje são estudadas e formaram o direito. Ademais, é
preciso observar as discussões quanto à delegação de funções relacionadas com os três
poderes, haja vista que frequentemente há uma confusão sobre qual parte do conflito é função
de um determinado poder solucionar.
Recomendo essa obra a todos os acadêmicos que estão no começo do curso de direito
ou pensam em fazê-lo, considerando que o livro traz à tona como é a realidade jurídica, como
os debates e argumentações são articulados e como que o direito constantemente busca que a
justiça seja igual para todos.

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