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A transição
É uma necessidade intrínseca ao ser humano explicar o mundo à sua volta, a origem das
coisas e de narrar a sua história, para que assim fosse possível dar sentido à sua própria
existência. De forma básica, os mitos apresentam as seguintes características:
Marilena Chauí. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo:
Brasiliense, 1999”
O uso da razão para a explicação de fenômenos naturais ocorre no Mundo Grego Antigo
– e não Grécia Antiga - devido a confluência dos seguintes fatores:
1. Surgimento da pólis
2. Caráter antropocêntrico da cultura e religião grega
3. Processo de Urbanização
O Mito
“O mito é o princípio da vida, a ordem eterna, a fórmula sagrada para a qual a vida flui quando
esta projeta suas feições para fora do inconsciente.”
Thomas Mann
O mito por não ser estruturado por uma lógica acaba perdendo espaço na mente adulta,
sendo restrito ao mundo infantil. O mito se torna coisa de criança e os adultos se tornam
incompletos e amputados das ferramentas necessárias para desenvolver autoconhecimento e
para se relacionarem de forma saudável com o pensamento racional. Inicia-se uma época de
desequilíbrio e culto à razão que permite a adoração da ciência, ocupante de um altar e
merecedora de sacrifícios. Tudo era permitido em seu nome, pois ela era o caminho para o
progresso.
Para Jung o inconsciente não é um depósito ou uma página em branco, ou seja, a visão
de inconsciente e consequentemente de psique (alma) é ampliada, pois para ele o inconsciente
era dividido em pessoal e coletivo. O primeiro é preenchido a partir das experiencias pessoais,
armazena tudo que foi esquecido, reprimido, percebido e sentido de subliminar.
E se os mitos, como afirmou Levi Strauss, não perde seu sentido por conta da tradução
ele pode se encaixar, mesmo com pequenas adaptações, em diferentes regiões geográficas. Isso
é possível por que o arquétipo é comum ao inconsciente do homem de diferentes lugares e de
diferentes tradições históricas, como afirmou Emma Jung acima.
O mito apesar de sempre se referir ao passado cria uma estrutura permanente utilizada
no presente e para caminhar em direção ao futuro. Assim, ao mito não há barreiras temporais
ou de espaço, ele é caro ao ser humano pois está presente em sua psique e porque permite que
o homem possa se relacionar melhor com lado racional de seu pensamento.
Jung conceitua que a psique opera basicamente de duas formas diferentes, mas
complementares: pelo inconsciente por meio da analogia e pela consciência por meio da lógica
ou raciocínio analítico, assim o pensamento analógico é a forma do inconsciente operar. Este
modo é visto nos sonhos, nas fantasias, no pensamento mítico por meio de imagens e símbolos,
não sendo possível interpreta-los dentro do campo da lógica analítica e linear.
Ainda segundo Jung, os arquétipos são utilizados pelo inconsciente – esse autônomo
em relação ao ego – para desenvolver uma sabedoria instintiva e automática. É possível que o
arquétipo se torne consciente, dessa forma o organismo consegue se controlar melhor e
direcionar o uso dessa sabedoria. Mas uma sociedade que se distancia dos mitos é composta
por indivíduos que não conseguem nomear essas figuras e muito menos preenche-las com
algum tipo de conteúdo, pois esse só consegue ser determinado quando o arquétipo se torna
consciente.
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Cibele e Atis
A grande deusa da terra, Cibele, criadora de todos os reinos da natureza, teve um filho a quem
chamou de Átis. Desde o momento em que ele nasceu, a deusa ficou extasiada com sua beleza
e graça, e não havia nada que não fizesse para deixá-lo feliz. À medida que ele foi crescendo,
o amor de Cibele aprofundou-se em todos os níveis e, quando Átis chegou à idade adulta, ela
tomou posse também dessa virilidade e se tornou sua amante. Além disso, fez dele sacerdote
de seu culto e o prendeu a um juramento de fidelidade absoluta. E assim viviam os dois,
fechados num mundo paradisíaco, onde nada podia macular a perfeição desse laço.
Mas era impossível manter Átis afastado do mundo para sempre, e um de seus maiores
prazeres era perambular pelos montes. Um dia, quando descansava sob a copa de um enorme
pinheiro, Átis ergueu os olhos e avistou uma bela ninfa; imediatamente, apaixonou-se e deitou-
se com ela. Porém, não se podia esconder nada de Cibele, e quando ela soube que seu filho-
amante fora infiel, teve um terrível acesso de ciúmes. Fez Átis entrar num transe delirante e,
em sua loucura, ele se castrou, para garantir que nunca mais tornasse a quebrar seu juramento
de fidelidade. Ao se recobrar do delírio, estava mortalmente ferido, e sangrou até a morte nos
braços de Cibele, sob o mesmo pinheiro em cuja sombra se havia deitado com a sua ninfa.
Entretanto, como Átis era um deus, sua morte não foi definitiva: a cada primavera o jovem
renasce para sua mãe e passa com ela o tempo rico e fecundo do verão; e a cada inverno, quando
o sol chega a seu ponto mais distante, ele torna a morrer, e a deusa da terra chora até que
finalmente chegue a primavera seguinte.