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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL PENAL

MÓDULO EXECUÇÃO PENAL E LEGISLAÇÃO PROCESSUAL PENAL ESPECIAL

1. Material pré-aula

a. Tema

Trabalho do Preso, Direitos e Deveres, Poder Disciplinar, Autorização


de Saída, Remição e Sigilo das Informações.

b. Noções Gerais

b.1. Direitos e Deveres dos presos

A Lei de Execução Penal pressupõe uma gama de direitos mínimos


que devem ser respeitados e garantidos pelo Estado e uma série
deveres taxativos que devem ser cumpridos pelos condenados.
Como pressuposto fundamental, a Lei de Execução Penal dispõe em
seu artigo 3º que “ao condenado e ao internado serão assegurados
todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei”. Nessa
interpretação, extrai-se que os direitos dos condenados serão
limitados na medida em que a sentença condenatória impor como
consequência da pena, assim como o é o direito de ir e vir.
No mesmo contexto, bem elucida ANDREUCCI:

aos condenados a pena privativa de liberdade estão restringidos os


direitos de ir e vir e o direito à intimidade, posto que são direitos
incompatíveis com a natureza dessa pena. Mas não estão, contudo,
suprimidos os demais direitos individuais passíveis de serem
exercitados com a pena imposta. Estão garantidos, conforme
previsão expressa da Lei de Execução Penal, os direitos à vida, à
integridade física, à alimentação, à liberdade de crença, ao sigilo de
correspondência, à propriedade, dentre outros.1

Os direitos dos presos estão garantidos, além da Constituição


Federal, também no artigo 40 e 41 da LEP:


1
ANDREUCCI, Ricardo Antonio Legislação penal especial. 12. ed. atual. e ampl. – São Paulo: Saraiva,
2017. p. 370.

Art. 40 - Impõe-se a todas as autoridades o respeito à integridade


física e moral dos condenados e dos presos provisórios.

Art. 41 - Constituem direitos do preso:


I - alimentação suficiente e vestuário;
II - atribuição de trabalho e sua remuneração;
III - Previdência Social;
IV - constituição de pecúlio;
V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o
descanso e a recreação;
VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e
desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da
pena;
VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e
religiosa;
VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;
IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;
X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias
determinados;
XI - chamamento nominal;
XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da
individualização da pena;
XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento;
XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de
direito;
XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência
escrita, da leitura e de outros meios de informação que não
comprometam a moral e os bons costumes.
XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da
responsabilidade da autoridade judiciária competente.
Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão
ser suspensos ou restringidos mediante ato motivado do diretor do
estabelecimento.

Art. 42 - Aplica-se ao preso provisório e ao submetido à medida de


segurança, no que couber, o disposto nesta Seção.

Art. 43 - É garantida a liberdade de contratar médico de confiança


pessoal do internado ou do submetido a tratamento ambulatorial, por

seus familiares ou dependentes, a fim de orientar e acompanhar o


tratamento.

Os arts. 53 e 54 da LEP dispõe a suspensão ou restrição dos direitos


dos presos como uma das modalidades de sanção disciplinar que
pode ser aplicada pelo diretor do estabelecimento. Porém, não são
todos os direitos que podem ser suspensos sem o crivo do judiciário,
mas apenas os direitos dos incisos V, X e XV.
Os deveres, de outra monta, então estabelecidos como um rol
taxativo nos artigos 38 e 39, bem como no 146-C da LEP que
estabelece um dever específico de zelo pelo aparato da monitoração
eletrônica:

Art. 38. Cumpre ao condenado, além das obrigações legais inerentes


ao seu estado, submeter-se às normas de execução da pena.

Art. 39. Constituem deveres do condenado:


I - comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentença;
II - obediência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem
deva relacionar-se;
III - urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;
IV - conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga
ou de subversão à ordem ou à disciplina;
V - execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas;
VI - submissão à sanção disciplinar imposta;
VII - indenização à vitima ou aos seus sucessores;
VIII - indenização ao Estado, quando possível, das despesas
realizadas com a sua manutenção, mediante desconto proporcional
da remuneração do trabalho;
IX - higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;
X - conservação dos objetos de uso pessoal.
Parágrafo único. Aplica-se ao preso provisório, no que couber, o
disposto neste artigo.

Art. 146-C. O condenado será instruído acerca dos cuidados que


deverá adotar com o equipamento eletrônico e dos seguintes
deveres:
I - receber visitas do servidor responsável pela monitoração
eletrônica, responder aos seus contatos e cumprir suas orientações;

II - abster-se de remover, de violar, de modificar, de danificar de


qualquer forma o dispositivo de monitoração eletrônica ou de permitir
que outrem o faça;
Parágrafo único. A violação comprovada dos deveres previstos neste
artigo poderá acarretar, a critério do juiz da execução, ouvidos o
Ministério Público e a defesa:
I - a regressão do regime;
II - a revogação da autorização de saída temporária;
VI - a revogação da prisão domiciliar;
VII - advertência, por escrito, para todos os casos em que o juiz da
execução decida não aplicar alguma das medidas previstas nos
incisos de I a VI deste parágrafo.

Observa-se que os deveres e os direitos em seu conjunto se tornam


como espécie de código de ética e de conduta do estabelecimento
prisional, tomando por base a condição mínima da pessoa humana.
Além dos direitos impostos expressamente nos artigos acima
mencionados, salienta-se a existência de outros direitos, como por
exemplo o direito ao sigilo da correspondência e o direito à visita
íntima.

b.2. Trabalho dos presos

Historicamente no Direito Penal e na Criminologia já se reconhecia a


importância do trabalho no sistema penitenciário. Lembra Alexis
Couto de Brito que Enrico Ferri, expoente da Escola Positivista
Criminológica, “depositava profundas confianças de que o trabalho
era o fundamento da vida penitenciária. Garantiria indenização ao
erário, às partes lesadas pelo delito, além de servir de educação
moral e técnica para um retorno mais seguro à vida normal”2.

O trabalho no ordenamento jurídico pátrio, além de ser compreendido


como um direito do preso, indiretamente, também constitui elemento
fundamental da política criminal, com finalidades educativa e
produtiva, que possibilitam ao condenado uma melhor desenvoltura
social para reintegração em sociedade, respeitando, assim, a
dignidade humana daquele que possui capacidade para exercer o
trabalho adequado.


2
BRITO, Alexis Couto de. Execução Penal. São Paulo: Editora Saraiva, 2019.

Com a entrada em vigor da Lei de Execução Penal, o trabalho


prisional passou a ser reconhecido e amparado pelo ordenamento
jurídico, sujeitando-se à dignidade da pessoa humana e das regras da
ONU para ser, inclusive, remunerado, respeitando a jornada diária de
6 a 8 horas, com descanso aos domingos e feriados, e o trabalho
ainda deverá dispor de tempo suficiente para os cursos, instruções e
outras atividades realizadas com vistas à readaptação e reinserção
social.
Assim dispunha a exposição de motivos da LEP:

49. No Projeto de reforma da Parte Geral do Código Penal ficou


previsto que o trabalho do preso "será sempre remunerado, sendo-
lhe garantidos os benefícios da Previdência Social".
50. A remuneração obrigatória do trabalho prisional foi introduzida na
Lei nº 6.416, de 1977, que estabeleceu também a forma de sua
aplicação. O Projeto mantém o texto, ficando assim reproduzindo o
elenco das exigências pertinentes dos danos causados pelo crime,
desde que determinados judicialmente e não reparados por outros
meios; na assistência à própria família, segundo a lei civil; em
pequenas despesas pessoais; e na constituição de pecúlio, em
caderneta de poupança, que lhe será entregue à saída do
estabelecimento penal.
(...)
53. Essas disposições colocam o trabalho penitenciário sob a proteção
de um regime jurídico. Até agora, nas penitenciárias onde o trabalho
prisional é obrigatório, o preso não recebe remuneração e seu
trabalho não é tutelado contra riscos nem amparado por seguro
social. Nos estabelecimentos prisionais de qualquer natureza, os
Poderes Públicos têm-se valido das aptidões profissionais dos presos
em trabalhos gratuitos.

O trabalho no sistema penitenciário diferencia-se entre os presos


condenados em definitivo e os presos provisórios. Para os
condenados em definitivo, o trabalho é obrigatório, o que não deve
ser confundido com trabalho forçado, que está vedada pela
Constituição Federal, conforme art. 5º, XLVII, c.

Para os presos provisórios, o trabalho se torna facultativo, podendo


apenas ser executado no interior do estabelecimento prisional.

Os presos definitivos que cumprem pena no regime fechado ou até no


semiaberto poderão realizar o trabalho externo, desde que
devidamente autorizados pelo Diretor do estabelecimento prisional, e
também se observado o artigo 36 da LEP:

Art. 36. O trabalho externo será admissível para os presos em regime


fechado somente em serviço ou obras públicas realizadas por órgãos
da Administração Direta ou Indireta, ou entidades privadas, desde
que tomadas as cautelas contra a fuga e em favor da disciplina.
§ 1º O limite máximo do número de presos será de 10% (dez por
cento) do total de empregados na obra.
§ 2º Caberá ao órgão da administração, à entidade ou à empresa
empreiteira a remuneração desse trabalho.
§ 3º A prestação de trabalho à entidade privada depende do
consentimento expresso do preso.

Quanto ao preso no regime fechado, a LEP impõe como requisito para


o trabalho externo o cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena
(LEP, art. 37).
O STJ editou a Súmula n. 40 no sentido deque “para a obtenção dos
benefícios de saída temporária e trabalho externo, considera-se o
tempo de cumprimento da pena no regime fechado”.
Como a lei não é clara quanto a esta mesma fração de 1/6 aos presos
no regime semiaberto, deve-se realizar uma interpretação pro reo, e
dispensar este requisito. “Desse modo, iniciando a pena em regime
semiaberto, o condenado poderá imediatamente se dedicar ao
trabalho externo”3.

Os idosos, doentes, deficientes físicos, a gestante e a parturiente,


estarão dispensados do trabalho, logo, o torna-se também
facultativo.

É importante notar que, para minimizar o preconceito que tem o


mercado de trabalho com relação ao condenado e ao egresso, foi
publicado o Decreto 9.450 em de 24 de julho de 2018, para instituir a
Política Nacional de Trabalho no âmbito do Sistema Prisional, bem
como para estabelecer diversas regras, dentre elas, o percentual de
contratações de presos e egressos que as empresas privadas
contratadas deverão admitir:


3
BRITO, op. cit.

art. 6º
I – três por cento das vagas, quando a execução do contrato
demandar duzentos ou menos funcionários;
II – quatro por cento das vagas, quando a execução do contrato
demandar duzentos e um a quinhentos funcionários;
III – cinco por cento das vagas, quando a execução do contrato
demandar quinhentos e um a mil funcionários; ou
IV – seis por cento das vagas, quando a execução do contrato
demandar mais de mil empregados.

Quanto à remuneração, a LEP dispõe que ao preso trabalhador será


devido um salário, proporcional ao período trabalhado, devendo ser
este valor equivalente a 75% do salário mínimo vigente, pagos pelo
poder estatal, se a condução do trabalho for plenamente estatal, ou
pela iniciativa privada, se o trabalho for por ela prestado.
Parte da doutrina, então, entende que esta regra da LEP não deveria
ser recepcionada pela CF:

O dispositivo merece uma interpretação à luz da Constituição Federal


de 1988 e ser assumido como não recepcionado pela nova ordem
constitucional. O direito ao trabalho é previsto constitucionalmente no
artigo inaugural do texto maior. O art. 1º da Constituição Federal
eleva à condição de valor fundamental do Estado brasileiro o valor
social do trabalho e da livre-iniciativa. Como direito fundamental é
exposto no art. 5º, XIII, como a liberdade do exercício de qualquer
trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais
que a lei estabelecer. Ainda que a Lei de Execução Penal afirme que o
trabalho é obrigação imposta ao condenado, na relação jurídica
penitenciária de mão dupla, não pode ser olvidado como um direito,
com todas as prerrogativas que recebe do texto constitucional. Por
isso, discordamos das incongruências quanto à retribuição aquém do
salário mínimo e do não cabimento de férias, remuneração
extraordinária, dentre outras prerrogativas assentes ao demais
trabalhadores. Muitas das regras previstas na Consolidação das Leis
Trabalhistas foram elevadas a preceitos constitucionais, com a Carta
de 1988. Entre elas, o salário mínimo. Inicialmente, descartamos o
argumento semântico de que o preso não se submete ao regime de
trabalho comum e, portanto, não recebe salário. Além da palavra
está seu significado pragmático, e o preceito constitucional visa

garantir uma remuneração digna, qualquer que seja o nome técnico


que se dê (salário, vencimento, pagamento etc.). Por tudo o que se
disse e se continuará dizendo sobre a importância do trabalho como
respeito à dignidade do preso, não vemos motivos plausíveis para
que o condenado seja remunerado com um estipêndio menor ao
colocado como mínimo em todo o território nacional (no mesmo
sentido, mas com fundamentos diferentes, ROXIN. Iniciación al
derecho penal de hoy, p. 85).
(...)
No Brasil, a Constituição do Estado do Rio de Janeiro é a única que
preconiza, em seu art. 27, § 3º, a remuneração igualitária entre o
preso e o mercado livre: “O trabalho do presidiário será remunerado
no mesmo padrão do mercado de trabalho livre, considerando-se a
natureza do serviço e a qualidade da prestação oferecida.4

Na linha deste argumento sustentado pelas doutrinas, foi ajuizada


uma Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 336),
pela Procuradoria Geral da República, sustentando esta
inconstitucionalidade nos seguintes termos: “o estabelecimento de
contrapartida monetária pelo trabalho realizado por preso em valor
inferior ao salário mínimo viola os princípios constitucionais da
isonomia e da dignidade da pessoa humana, além do disposto no
artigo 7º, inciso IV, que garante a todos os trabalhadores urbanos e
rurais o direito ao salário mínimo”.

Por fim, quanto à remuneração, dispõe o art. 29 da LEP, em seu § 1º,


que a remuneração do preso será destinada à indenização dos danos
causados pelo crime, desde que determinados judicialmente e não
reparados por outros meios, à assistência à família, a pequenas
despesas pessoais e ao ressarcimento ao Estado das despesas
realizadas com a manutenção do condenado, em proporção a ser
fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras anteriores. A
parte restante será depositada, para a constituição do pecúlio, em
caderneta de poupança, que será entregue ao condenado quando
posto em liberdade.

Sabe-se que a remição da pena é um direito do preso definitivo e


provisório que está estritamente ligado com a progressão de regime.
Em 2016, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula n. 562 para


4
BRITO, op. cit.

fixar o entendimento de que “é possível a remição de parte do tempo


de execução da pena quando o condenado, em regime fechado ou
semiaberto, desempenha atividade laborativa, ainda que
extramuros”. Ou seja, à luz do entendimento do STJ, qualquer
condenado, seja em regime fechado ou semiaberto, seja o trabalho
intramuros ou fora extramuros da unidade prisional, terá direito à
remição da pena (abatimento de parte da pena). Este tratamento,
porém, não é aplicado ao condenado que cumpre pena no regime
aberto (este poderá usufruir apenas da remição pelo estudo).

O Supremo Tribunal Federal, no informativo n. 860 decidiu pela


possibilidade de aplicação do instituto de remição por trabalho ainda
que a jornada seja menor do que a determinada na LEP:

A Segunda Turma deu provimento a recurso ordinário em “habeas


corpus” e concedeu a ordem para que seja considerado, para fins de
remição da pena, o total de horas trabalhadas em jornada diária
inferior a seis horas. O Colegiado anotou que o condenado cumpria
jornada de quatro horas diárias de trabalho por determinação da
administração do presídio. Ponderou que, nos termos da Lei de
Execução Penal (LEP) (1 e 2), a jornada diária não deve ser inferior a
seis nem superior a oito horas. Afirmou que, para computar os dias
de remição, a administração penitenciária somou as horas
trabalhadas e as dividiu por seis. A Turma concluiu que, ao fazer a
conversão matemática do cálculo da remição, a administração
penitenciária agiu dentro dos limites previstos na LEP. Asseverou que
o condenado não poderia ser apenado por um limite de horas imposto
pelo próprio estabelecimento penitenciário na execução de sua pena.
Por fim, deliberou que a obrigatoriedade do cômputo de tempo de
trabalho deve ser aplicada às hipóteses em que o sentenciado, por
determinação da administração, cumpra jornada inferior ao mínimo
de seis horas, ou seja, em que a jornada de trabalho não derive de
ato voluntário nem de indisciplina ou insubmissão do preso. (1)
LEP/1984: “Art. 33. A jornada normal de trabalho não será inferior a
6 (seis) nem superior a 8 (oito) horas, com descanso nos domingos e
feriados.” (2) LEP/1984: “Art. 126. O condenado que cumpre a pena
em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por
estudo, parte do tempo de execução da pena. § 1º A contagem de
tempo referida no “caput” será feita à razão de: (...) II – 1 (um) dia

de pena a cada 3 (três) dias de trabalho.” RHC 136509/MG, rel. Min.


Dias Toffoli, julgamento em 4.4.2017. (RHC-136509)

b.3. Poder disciplinar

Conforme já esclarecido acima, o conjunto de regras e direitos


impostos na Lei de Execução Penal tornam uma semelhança com um
código de ética que deverá ser seguido no interior do estabelecimento
prisional. Tratam estas regras de “disciplina”.

Disciplina significa a manutenção do conjunto de regras de conduta


dos diversos membros pertencentes a um agrupamento, para
proporcionar seu bem-estar e o bom andamento dos trabalhos. Por
meio da disciplina, a ordem do estabelecimento será mantida, o que
é indispensável ao cumprimento das finalidades da pena.5

Quando o condenado ou preso provisório ingressar no


estabelecimento prisional deverá ser comunicado de todos seus
direitos e deveres, vez que não se presume a LEP como lei de
conhecimento geral.

Submetendo-se ao novo sistema de comportamento e de regras, o


preso, para adquirir boa disciplina, deverá obedecer o disposto no
artigo 44 da LEP, qual seja, de colaborar com a ordem, obedecendo
às determinações das autoridades e seus agentes e ter um bom
desempenho do trabalho. No caso do preso se distanciar das normas,
estará a cometer falta disciplinar.

Todo o trâmite disciplinar ficará sujeito à via administrativa, ou


seja, de responsabilidade indelegável pelo Diretor penitenciário.
Assim, caso um preso vier a descumprir algum dever imposto pela
lei, ficará a cargo do diretor penitenciário aplicar a falta disciplinar e
suas consequências administrativas (sanções).

Tais faltas disciplinares são classificadas como leve, médias e


graves e devem estar expressamente previstas em lei ou regimento.
Em respeito ao princípio da legalidade e tipicidade, o art. 45 da LEP
que elucida que “não haverá falta nem sanção disciplinar sem
expressa e anterior previsão legal ou regulamentar”.


5
BRITO. op. cit.

As faltas graves são definidas e reguladas obrigatoriamente pela lei


federal, por conta de serem equiparadas à prática de fato definido
como crime, as demais ficam a cargo da legislação estadual.

De acordo com o art. 45, houve a mitigação do princípio da


legalidade, o que é comum no ramo administrativo do Direito. Assim,
a legislação preocupou-se apenas em tipificar as infrações
consideradas graves, relegando ao ato administrativo (regulamento)
a configuração das infrações médias e leves.6

São exemplos de falta disciplinar de natureza leve, definidas pelo


Regimento Interno dos estabelecimentos prisionais do Estado de São
Paulo a comunicação com visitantes sem a devida autorização,
transitar indevidamente pela unidade prisional, a improvisação de
cortina na cela, comprometendo a vigilância, estar indevidamente
trajado, etc.

Definem-se como falta de natureza média no mesmo regimento a


atuação inconveniente do preso, faltando com os deveres de
urbanidade perante as autoridades e funcionários, o induzimento ou
instigação para que outrem pratique falta disciplinar, e, o mais
interessante, a prática de autolesão como ato de rebeldia.

No que tange às faltas graves, por serem equiparados à cometimento


de crime, a autoridade administrativa deverá comunicar o juiz da
execução para decidir sobre a regressão do regime do condenado.
Nesse sentido, foi estabelecido na exposição de motivos da LEP:

80. Com relação às faltas graves, porém, o Projeto adota solução


diversa. Além das repercussões que causa na vida do
estabelecimento e no quadro da execução, a falta grave justifica a
regressão, consistente, como já se viu, na transferência do
condenado para regime mais rigoroso. A falta grave, para tal efeito, é
equiparada à prática de fato definido como crime (artigo 117, I) e a
sua existência obriga a autoridade administrativa a representar ao
juiz da execução (parágrafo único do artigo 47) para decidir sobre a
regressão.


6
BRITO. op. cit.

A regressão cautelar é inerente à função jurisdicional do poder geral


de cautela. Sua finalidade é do juiz determinar, de acordo com o caso
concreto, medidas emergenciais que visem “assegurar os fins e
também as atividades do processo executivo, visando assegurar os
fins e a efetividade do processo executivo, inibindo qualquer ato
atentatório aos destinos de execução”7.

A Súmula 533-STJ dispõe que “para o reconhecimento da prática de


falta disciplinar no âmbito da execução penal, é imprescindível a
instauração de procedimento administrativo pelo diretor do
estabelecimento prisional, assegurado o direito de defesa, a ser
realizado por advogado constituído ou defensor público nomeado”.
No que pertine especificamente à regressão, o art. 118, parágrafo 2º
da LEP regra que para a regressão em definitivo não é necessária a
sua prévia oitiva do condenado. No entanto, para a regressão
cautelar, conforme maioria doutrinária e jurisprudencial, não há
necessidade da realização da oitiva. Como exemplo de falta de
natureza grave de maior ocorrência, é a posse de aparelho de
celular:

EXECUÇÃO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


POSSE DE CHIP DE APARELHO CELULAR. FALTA DISCIPLINAR DE
NATUREZA GRAVE. PRECEDENTES. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. Há pacífico entendimento
jurisprudencial desta Corte Superior no sentido de que, "após o
advento da Lei n. 11.466/2007, a posse de aparelho celular bem
como de seus componentes essenciais, tais como chip, carregador ou
bateria, constitui falta disciplinar de natureza grave." (HC 300337,
Rel. Ministro ERICSON MARANHO, Desembargador convocado do
TJ/SP, SEXTA TURMA, DJe 30/06/15). 2. Agravo regimental
desprovido. (AgRg no REsp 1708448/RJ, Rel. Ministro JOEL ILAN
PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 07/06/2018, DJe
15/06/2018)

Além disso, também está disposto uma lista de condutas ensejadoras


de falta grave no artigo 50 da LEP:

Art. 50. Comete falta grave o condenado à pena privativa de


liberdade que:


7
MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. Ed.Saraiva: 2017.

I - incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a


disciplina;
II - fugir;
III - possuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a
integridade física de outrem;
IV - provocar acidente de trabalho;
V - descumprir, no regime aberto, as condições impostas;
VI - inobservar os deveres previstos nos incisos II e V, do artigo 39,
desta Lei.
VII – tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de
rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou
com o ambiente externo.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, ao
preso provisório.

Na apuração das faltas, para que seja aplicada as sanções, haverá a


necessidade de instauração de procedimento disciplinar, assegurando
ao preso o direito de defesa, contraditório e ampla defesa, inclusive
com o patrocínio de advogado. As decisões deverão ser sempre
motivadas, sob pena de nulidade. Assim, a aplicação da sanção
estará em conformidade com a Súmula 533 do STJ:

Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no âmbito da


execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento
administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado
o direito de defesa, a ser realizado por advogado constituído ou
defensor público nomeado.

A prática de falta grave influencia até mesmo no tempo de dias


remidos pelo trabalho ou estudo do condenado. Dispõe o artigo 127
da LEP que, “em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3
(um terço) do tempo remido, observado o disposto no art. 57,
recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar”.
Inclusive, no que se refere à perda, o informativo n. 571 do STJ,
entende que, se reconhecida falta grave, a perda de até 1/3 do
tempo remido poderá alcançar tanto os dias de trabalho como de
estudo que sejam anteriores à infração disciplinar e que ainda não
tenham sido declarados pelo juízo da execução no cômputo da
remição.

b.4. Saída temporária

No que diz respeito à saída temporária, salienta-se que não se deve


confundir a espécie de saída temporária com o gênero de
autorizações de saída.

A autorização de saída como gênero, possui também a permissão de


saída como subespécie, e que não podem ser confundidos.

A permissão de saída está prevista nos artigos 120 e 121 da LEP, e


pode ser concedida independentemente do regime em que o preso se
encontre. A autorização de saída, por ser uma decisão sinteticamente
emergencial, não há necessidade de autorização do juízo, podendo
supri-lo o diretor penitenciário. Assim, por exemplo, se um
condenado estiver com problema de saúde que deva ser avaliado no
ato, não precisará de autorização do juiz, vez que tal medida poderia
tornar inócuo e ineficaz a saída do preso.

Por outro lado, a autorização de saída é cabível apenas para o preso


que cumpre pena no regime semiaberto. É um instituto cuja
finalidade também é reinserir o condenado em sociedade
progressivamente, para reconquistar seus valores familiares e éticos-
sociais. Pode ser utilizado nos casos estabelecidos do artigo 122 da
LEP:

Art. 122. Os condenados que cumprem pena em regime semi-aberto


poderão obter autorização para saída temporária do estabelecimento,
sem vigilância direta, nos seguintes casos:
I - visita à família;
II - freqüência a curso supletivo profissionalizante, bem como de
instrução do 2º grau ou superior, na Comarca do Juízo da Execução;
III - participação em atividades que concorram para o retorno ao
convívio social.

Os requisitos impostos na lei art. 123 da LEP são parecidos com os


requisitos para obter a progressão do regime para o semiaberto.
Logo, deverá cumprir mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o
condenado for primário, e 1/4 (um quarto), se reincidente; possuir
comportamento adequado, e, por fim, a compatibilidade do benefício
com os objetivos da pena.

Além do mais, define o art. 124 que “autorização será concedida por
prazo não superior a 7 (sete) dias, podendo ser renovada por mais 4
(quatro) vezes durante o ano”.

Ponto reflexivo sobre a saída temporária é de que se o réu ingressar


no regime semiaberto após a progressão de regime advindo do
fechado, não será mais necessário cumprir mais 1/6 da pena para
que possa obter a saída temporária (jurisprudência pacífica).

No entanto, se o réu for condenado à pena privativa de liberdade no


regime semiaberto desde o início, deverá cumprir 1/6 da pena neste
regime, e tornar-se-á inócuo e sem sentido a saída temporária, vez
que poderia obter de prontidão o regime aberto, já que possui o
mesmo requisito objetivo de cumprimento de 1/6 da pena (este
entendimento já foi aplicado por alguns tribunais. Ver decisão de
liminar do TJSP exposta abaixo).

c. Legislação

- Lei de Execuções Penais (Lei nº 7.210/84)

d. Julgados/Informativos

- Informativo 621, STJ: Execução penal. Unificação das penas.


Superveniência do trânsito em julgado de sentença condenatória.
Termo a quo para concessão de novos benefícios. Ausência de
previsão legal para alteração da data-base.
As Turmas que compõem a Terceira Seção do Superior Tribunal de
Justiça, em consonância com a compreensão do Supremo Tribunal
Federal acerca do tema, possuíam o entendimento pacificado de que,
sobrevindo condenação definitiva ao apenado, por fato anterior ou
posterior ao início da execução penal, a contagem do prazo para
concessão de futuros benefícios seria interrompida, de modo que o
novo cálculo, realizado com base no somatório das penas, teria como
termo a quo a data do trânsito em julgado da última sentença
condenatória. Entretanto, da leitura dos artigos 111, parágrafo único,
e 118, II, da Lei de Execução Penal, invocados para sustentar o
posicionamento mencionado, apenas se conclui que, diante da
superveniência do trânsito em julgado de sentença condenatória,
caso o quantum de pena obtido após o somatório não permita a

preservação do regime atual de cumprimento da pena, o novo regime


será então determinado por meio do resultado da soma, de forma
que estará o sentenciado sujeito à regressão. Assim, sequer a
regressão de regime é consectário necessário da unificação das
penas, porquanto será forçosa a regressão de regime somente
quando a pena da nova execução, somada à reprimenda ainda não
cumprida, torne incabível o regime atualmente imposto. Portanto, da
leitura dos artigos supra, não se infere que, efetuada a soma das
reprimendas impostas ao sentenciado, é mister a alteração da data-
base para concessão de novos benefícios. Por conseguinte, deduz-se
que a alteração do termo a quo referente à concessão de novos
benefícios no bojo da execução da pena constitui afronta ao princípio
da legalidade e ofensa à individualização da pena, motivo pelo qual
se faz necessária a preservação do marco interruptivo anterior à
unificação das penas. Ainda que assim não fosse, o reinício do marco
temporal permanece sem guarida se analisados seus efeitos na
avaliação do comportamento do reeducando. Caso o crime cometido
no curso da execução tenha sido registrado como infração disciplinar,
seus efeitos já repercutiram no bojo do cumprimento da pena, pois,
segundo a jurisprudência consolidada desta Corte Superior, a prática
de falta grave interrompe a data-base para concessão de novas
benesses, à exceção do livramento condicional, da comutação de
penas e do indulto. Portanto, a superveniência do trânsito em julgado
da sentença condenatória não poderia servir de parâmetro para
análise do mérito do apenado, sob pena de flagrante bis in idem. No
mesmo caminho, o delito praticado antes do início da execução da
pena não constitui parâmetro idôneo de avaliação do mérito do
apenado, porquanto evento anterior ao início do resgate das
reprimendas impostas não desmerece hodiernamente o
comportamento do sentenciado e não se presta a macular sua
avaliação, visto que é estranho ao processo de resgate da pena. A
unificação de nova condenação definitiva já possui o condão de
recrudescer o quantum de pena restante a ser cumprido pelo
reeducando, logo, a alteração da data-base para concessão de novos
benefícios, a despeito da ausência de previsão legal, configura
excesso de execução, baseado apenas em argumentos extrajurídicos.
(REsp 1.557.461-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, por maioria,
julgado em 22/02/2018, DJe 15/03/2018)

- EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO


PENAL. FALTA DISCIPLINAR DE NATUREZA GRAVE. POSSE DE
ENTORPECENTES. LAUDO TOXICOLÓGICO. IMPRESCINDIBILIDADE.
INSURGÊNCIA DESPROVIDA. 1. A jurisprudência do STJ firmou "a
orientação no sentido da imprescindibilidade do laudo toxicológico
para comprovar a materialidade da infração disciplinar e a natureza
da substância encontrada com o apenado no interior de
estabelecimento prisional" (HC n. 373.648/MG, Rel. Min. JOEL ILAN
PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 16/2/2017, DJe
24/2/2017). 3. Agravo regimental desprovido. (STJ. AgRg no HC
448.115/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em
23/04/2019, DJe 07/05/2019)

- EMENTA: HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. EXECUÇÃO. PROGRESSÃO. REQUISITO
SUBJETIVO. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. FALTAS
GRAVES ANTIGAS E REABILITADAS. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM
CONCEDIDA, DE OFÍCIO. I - A Terceira Seção desta Corte, seguindo
entendimento firmado pela Primeira Turma do col. Pretório Excelso,
firmou orientação no sentido de não admitir habeas corpus em
substituição a recurso, o que implica o seu não conhecimento,
ressalvados casos excepcionais, onde seja possível a concessão da
ordem, de ofício. II - "A jurisprudência desta Corte se firmou no
sentido de que a gravidade dos delitos pelos quais o paciente foi
condenado, bem como a longa pena a cumprir não são fundamentos
idôneos para indeferir os benefícios da execução penal, pois devem
ser levados em consideração, para a análise do requisito subjetivo,
eventuais fatos ocorridos durante o cumprimento da pena" (HC n.
480.233/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Félix Fischer, DJe de
19/02/2019). III - "Esta Corte Superior tem se manifestado no
sentido de que faltas graves cometidas em período longínquo e já
reabilitadas não configuram fundamento idôneo para indeferir a
progressão de regime, como no caso. Precedentes" (HC n.
480.233/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Félix Fischer, DJe de
19/02/2019). Writ não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para
cassar o v. acórdão a quo, restabelecendo a r. decisão do d. Juízo da
Execução, caso não existam novas faltas graves supervenientes à
esta r. decisão. (HC 494.068/RS, Rel. Ministro LEOPOLDO DE
ARRUDA RAPOSO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PE),
QUINTA TURMA, julgado em 10/10/2019, DJe 16/10/2019)

- EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


EXECUÇÃO PENAL. FALTA GRAVE. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR. IMPRESCINDIBILIDADE. VIOLAÇÃO DE PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE. AGRAVO
IMPROVIDO. 1. É firme o entendimento, consolidado na Súmula 533
do STJ e no julgamento do REsp 1.378.557/RS, admitido como
representativo de controvérsia, de que, para o reconhecimento de
falta disciplinar na execução penal, é indispensável a abertura de
procedimento administrativo, assegurando-se o direito à ampla
defesa, sendo insuficiente a mera ocorrência de audiência de
justificação. 2. Não cabe a esta Corte manifestar-se sobre suposta
afronta a princípios constitucionais, sob pena de usurpação da
competência do Supremo Tribunal Federal. 3. Agravo regimental
improvido. (AgRg no REsp 1815080/MA, Rel. Ministro NEFI
CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 08/10/2019, DJe
11/10/2019)

- EMENTA: HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. FALTA GRAVE. NOVO DELITO NO
CURSO DA EXECUÇÃO. TRÂNSITO EM JULGADO DA CONDENAÇÃO.
PRESCINDIBILIDADE. SÚMULA N. 526/STJ. ALTERAÇÃO DA DATA-
BASE PARA NOVA PROGRESSÃO DE REGIME. POSSIBILIDADE.
HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. I - A Terceira Seção desta Corte,
seguindo entendimento firmado pela Primeira Turma do col. Supremo
Tribunal Federal, sedimentou orientação no sentido de não admitir
habeas corpus substitutivo de recurso adequado, situação que implica
o não conhecimento da impetração, ressalvados casos excepcionais
em que, configurada flagrante ilegalidade apta a gerar
constrangimento ilegal, seja possível a concessão da ordem de ofício,
em homenagem ao princípio da ampla defesa. II - De acordo com art.
52 da Lei n. 7.210/1984, constitui falta grave a prática de fato
definido como crime doloso no curso da execução. III - Segundo
dispõe o enunciado n. 526 da Súmula desta Corte Superior, "O
reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de fato
definido como crime doloso no cumprimento da pena prescinde do
trânsito em julgado de sentença penal condenatória no processo
penal instaurado para apuração do fato." IV - Reconhecida a prática
de falta grave, fica autorizada a alteração da data-base para fins de
benefícios, salvo para fins de livramento condicional (Enunciado

sumular n. 441/STJ), comutação de pena e indulto (Enunciado


sumular n. 535/STJ). Habeas corpus não conhecido. (HC 521.137/RS,
Rel. Ministro LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/PE), QUINTA TURMA, julgado em 01/10/2019,
DJe 08/10/2019)

- EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM HABEAS


CORPUS. SAÍDA TEMPORÁRIA. FREQUÊNCIA A CURSO SUPERIOR.
ORDEM CONCEDIDA PARA QUE O JUIZ REEXAMINE O PEDIDO.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. Os condenados que
cumprem pena em regime semiaberto poderão obter saída
temporária para frequência a curso supletivo profissionalizante, bem
como de instrução do segundo grau ou superior, na comarca do Juízo
da Execução. A autorização será concedida por ato judicial motivado
e dependerá da satisfação cumulativa dos requisitos objetivo e
subjetivo do art. 123 da LEP. 2. A concentração do Juízo da Execução
em local diverso daquele onde o condenado cumpre sua pena não
pode prejudicá-lo. O pedido de saída temporária deve ser
reexaminado, a fim de que o juiz averigue se o curso de graduação
será ministrado em instituição próxima, ou não, da unidade prisional.
3. Agravo regimental não provido. (AgRg no RHC 116.690/SP, Rel.
Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em
19/09/2019, DJe 30/09/2019)

-EMENTA: HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. SAÍDAS


TEMPORÁRIAS. APENADO EM PRISÃO DOMICILIAR POR AUSÊNCIA
DE VAGAS EM ESTABELECIMENTO PRISIONAL NO REGIME
SEMIABERTO. COMPATIBILIDADE. ART. 122 E SEGUINTES DA LEP.
CABIMENTO DO BENEFÍCIO. ORDEM CONCEDIDA. 1. Ao apenado em
regime semiaberto que preencher os requisitos objetivos e subjetivos
do art. 122 e seguintes da Lei de Execuções Penais, deve ser
concedido o benefício das saídas temporárias. 2. Observado que o
benefício da saída temporária tem como objetivo a ressocialização do
preso e é concedido ao apenado em regime mais gravoso -
semiaberto -, não se justifica negar a benesse ao reeducando que se
encontra em regime menos gravoso - aberto, na modalidade de
prisão domiciliar -, em razão de ausência de vagas em
estabelecimento prisional compatível com o regime semiaberto. 3.
Habeas corpus concedido para restabelecer a decisão do Juízo das
execuções que deferiu o benefício de saídas temporárias ao paciente.

(HC 489.106/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA,


julgado em 13/08/2019, DJe 26/08/2019)

- EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA.


DIREITO DO PRESO DE RECEBER VISITAS. LIMITAÇÃO DO GRAU DE
PARENTESCO DAS PESSOAS QUE PODEM SER INCLUÍDAS NO ROL DE
VISITANTES DO REEDUCANDO POR MEIO DE RESOLUÇÃO DA
SECRETARIA DA ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA DO ESTADO DE
SÃO PAULO. FALTA DE RAZOABILIDADE. DIREITO DA TIA DE
VISITAR O SOBRINHO. 1. A competência para dispor sobre direito
penitenciário é concorrente entre a União, os Estados e o Distrito
Federal (art. 24, I, da CF), tendo a LEP outorgado à autoridade
administrativa prisional o poder de regular a matéria, no que toca a
questões disciplinares. 2. O direito do preso de receber visitas,
assegurado pelo art. 41, X, da Lei de Execuções Penais (Lei
7.210/1.984), não é absoluto e deve ser sopesado, de acordo com a
situação específica vivenciada no caso concreto, em conjunto com
outros princípios, dentre os quais o que visa a garantir a disciplina e a
segurança dentro dos estabelecimentos prisionais, velando, por
consequência, também pela integridade física tanto dos reclusos
quanto dos que os visitam. 3. A administração disciplinar típica da
competência da autoridade prisional diz respeito, por exemplo, ao
número máximo de pessoas que podem efetuar visitas por vez (o que
se justifica plenamente diante da capacidade física do presídio de
acomodar um certo número de pessoas com um mínimo de conforto
e segurança), à organização dos cadastros para controle dos que têm
acesso ao estabelecimento prisional, os documentos, comprovantes e
trâmites administrativos que lhes são exigidos, necessidade (ou não)
de revista prévia do visitante, dia, local e duração das visitas,
restrição de transporte de bens para o presídio, zelo pela ordem e
atenção a regras durante o período de visita etc. 4. No entanto, ao
limitar o grau de parentesco das pessoas que podem ser incluídas no
rol de visitantes do reeducando a parentes de 2º grau, o art. 99 da
Resolução SAP 144, de 29/06/2010, que instituiu o Regimento
Interno Padrão das Unidades Prisionais do Estado de São Paulo,
desbordou de sua competência, tratando de matéria não afeta ao
poder disciplinar, na medida em que não cabe à autoridade prisional
pré-definir o nível de importância que os parentes têm para os
reeducandos, elegendo alguns que têm mais direito a visitá-los do
que outros. A regra não leva em conta a possibilidade de existência

de um vínculo afetivo significativo entre uma tia e um sobrinho que,


por exemplo, tenha ajudado a criar, ou mesmo que exerça a figura
de efetiva educadora do sobrinho em virtude da circunstancial
ausência dos pais. 5. Da mesma forma, ao restringir a possibilidade
de ingresso no rol de visitantes do preso de parentes mais distantes à
inexistência de parentes mais próximos, a Resolução (art. 101, § 1º)
desborda de sua competência e, sem nenhuma justificativa razoável
para tanto, impõe limitação não constante no art. 41, X, da Lei de
Execuções Penais (Lei 7.210/1.984). 6. Se podem ser incluídas até 8
(oito) pessoas no rol de visitantes do preso e, nos termos do art.
102, I, da Resolução, tal inserção depende da concordância, por
escrito, do executado, parece bem mais razoável seja o preso a
indicar aqueles parentes cuja convivência lhe é mais cara ao coração.
7. Essa particular forma de parametrar a interpretação da lei (no
caso, a LEP e resoluções dela decorrentes) é a que mais se aproxima
da Constituição Federal, que faz da cidadania e da dignidade da
pessoa humana dois de seus fundamentos (incisos II e III do art. 3º).
Mais: Constituição que tem por objetivos fundamentais erradicar a
marginalização e construir uma sociedade livre, justa e solidária
(incisos I e III do art. 3º). Tudo na perspectiva da construção do tipo
ideal de sociedade que o preâmbulo de nossa Constituição caracteriza
como "fraterna" (HC 94163, Relator Min. CARLOS BRITTO, Primeira
Turma do STF, julgado em 02/12/2008, DJe-200 DIVULG 22-10-2009
PUBLIC 23-10-2009 EMENT VOL-02379-04 PP-00851). 8. Recurso
provido, para determinar à autoridade apontada como coatora que
não crie óbices à inclusão do nome da impetrante (tia do detento) no
rol de visitas do reeducando em virtude de nele já constar o nome de
sua mãe e de sua companheira que o visitam frequentemente (ou
mesmo de outros parentes até 2º grau), se forem ditos óbices
fundados unicamente na restrição posta no caput do art. 99 e no § 1º
do art. 101 da Resolução SAP 144, de 29/06/2010. (RMS 56.152/SP,
Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA,
julgado em 03/04/2018, DJe 13/04/2018)

- EMENTA: EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DE


RECURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. APURAÇÃO DE FALTA GRAVE.
PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. APONTADA
ILEGALIDADE NA OITIVA DE TESTEMUNHAS SEM A PRESENÇA DO
REEDUCANDO. OITIVA JUDICIAL.DESNECESSIDADE. ATIPICIDADE
DA CONDUTA. "FATO DE TERCEIRO". PRINCÍPIO DA

INTRANSCENDÊNCIA. APLICÁVEL. NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DE


PERÍCIA. PERDA DO OBJETO. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM
CONCEDIDA DE OFÍCIO PARA ABSOLVER O PACIENTE DA PRÁTICA
DA FALTA GRAVE. I - A Primeira Turma do col. Pretório Excelso
firmou orientação no sentido de não admitir a impetração de habeas
corpus substitutivo ante a previsão legal de cabimento de recurso
ordinário (v.g.: HC n. 109.956/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, DJe de
11/9/2012; RHC n. 121.399/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de
1º/8/2014 e RHC n. 117.268/SP, Relª. Minª. Rosa Weber, DJe de
13/5/2014). As Turmas que integram a Terceira Seção desta Corte
alinharam-se a esta dicção, e, desse modo, também passaram a
repudiar a utilização desmedida do writ substitutivo em detrimento
do recurso adequado (v.g.: HC n. 284.176/RJ, Quinta Turma, Relª.
Minª. Laurita Vaz, DJe de 2/9/2014; HC n. 297.931/MG, Quinta
Turma, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe de 28/8/2014; HC n.
293.528/SP, Sexta Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro, DJe de 4/9/2014 e
HC n. 253.802/MG, Sexta Turma, Relª. Minª. Maria Thereza de Assis
Moura, DJe de 4/6/2014). II - Portanto, não se admite mais,
perfilhando esse entendimento, a utilização de habeas corpus
substitutivo quando cabível o recurso próprio, situação que implica o
não-conhecimento da impetração. Contudo, no caso de se verificar
configurada flagrante ilegalidade apta a gerar constrangimento ilegal,
recomenda a jurisprudência a concessão da ordem de ofício. III - Não
há que se falar em nulidade na oitiva de testemunhas no PAD,
acompanhada de Defesa técnica, de modo a garantir do apenado a
ampla defesa e o contraditório. Ademais, a defesa não arguiu as
nulidades no momento oportuno, ocorrendo a preclusão. IV - De
acordo com a jurisprudência deste Tribunal é desnecessária a
realização de audiência para homologação de falta grave, se a falta
foi apurada em regular procedimento administrativo, no qual foi
assegurado, ao reeducando, o contraditório e ampla defesa, com
efetiva a participação da defesa técnica. V - Esta Corte Superior de
Justiça firmou entendimento no sentido de que, em razão do princípio
da intranscendência penal, a imposição de falta grave ao executado,
por transgressão realizada por terceiro, deve ser afastada quando
não comprovada a autoria do reeducando, através de elementos
concretos. VI - No caso dos autos, o reeducando sequer chegou a ter
contato com as peças de celular que lhe foram enviadas por Sedex,
impedindo-se a entrada dos objetos na unidade prisional. VII - O fato
de as peças de celular terem sido encaminhados pela genitora do

paciente não indicam com a certeza necessária que ele as


encomendou. VIII - Não configurada a conduta "ter em sua posse"
aparelho telefônico, de rádio ou similiar, que permita a comunicação
com outros presos ou com o ambiente externo, descrita no art. 50,
VII, da LEP, a absolvição do paciente da falta grave imputada é
medida que se impõe. Diante do exposto, não conheço do presente
habeas corpus. Contudo, concedo a ordem de ofício para absolver o
paciente da falta grave que lhe foi imputada. (STJ. HC 399.047/SP,
Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
08/08/2017, DJe 15/08/2017)

- EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO


PENAL. FALTA GRAVE. APURAÇÃO. DETERMINAÇÃO DE
INSTAURAÇÃO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR.
PRESCRIÇÃO. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 109 DO CP. NÃO
OCORRÊNCIA. AGRAVO IMPROVIDO. 1. A decisão agravada deve ser
mantida por seus próprios fundamentos, porquanto, nos termos da
jurisprudência pacífica do STJ, a prescrição das faltas disciplinares de
natureza grave, em virtude da inexistência de legislação específica,
regula-se, por analogia, pelo menor dos prazos previstos no art. 109
do Código Penal, qual seja, 3 anos, nos termos do disposto na Lei n.
12.234/2010, não se aplicando, pois, prazo distinto previsto em
norma local, por invasão da competência reservada à lei federal. 2.
Agravo regimental improvido. (STJ. AgRg no HC 365.687/ES, Rel.
Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 16/03/2017,
DJe 23/03/2017)

- EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. EXECUÇÃO PENAL. AUTORIZAÇÃO PARA VISITA.
POSTULANTE QUE TAMBÉM CUMPRE PENA EM REGIME ABERTO.
CIRCUNSTÂNCIA QUE NÃO OBSTA O DIREITO DE VISITA.
PRECEDENTES DESTA CORTE SUPERIOR. INCIDÊNCIA DA SÚMULA
568/STJ. DECISÃO MANTIDA. Agravo regimental improvido. (STJ.
AgInt no AREsp 989.870/DF, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR,
SEXTA TURMA, julgado em 07/02/2017, DJe 16/02/2017)

e. Leitura sugerida

BRITO, Alexis Couto de. Execução Penal. São Paulo: Editora Saraiva,
2019.

ESTEFAM, André. Direito Penal. Parte Geral. Editora Saraiva. 7ª


Edição. 2018.

f. Leitura complementar

AVENA, Noberto. Execução Penal. Editora Gen. 5ª Edição. 2018.

MARCÃO, Renato. Curso de execução penal. 17ª ed. São Paulo:


Saraiva Educação, 2019.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução


Penal. 15ª Ed. Saraiva: 2018.

PRADO, Luiz Regis; el al. Direito de execução penal. São Paulo:


Revista dos Tribunais, 2013.

SÁ, Alvino Augusto de. Criminologia clínica e execução


penal: proposta de um modelo de terceira geração. 2. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2015.

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