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Escola Cidadã Integral Neir Alves Porto Disciplina: Língua Portuguesa

Professora: Valdinete de Queiroz Ribeiro. Série:


Aluno(a):

Atividade sobre variação linguística

Versos da canção Irônico, da compositora e cantora Clarice Falcão.


Queria te dizer que esse amor todo por você
Ele é irônico, é só irônico
A cada “eu te amo” que eu te mando, eu tô pensando:
Isso é irônico, e é irônico.

Só de pensar que cê pensou que era sério


Falando sério, eu quero rir
Que você acha que quando eu me descabelo
Ao som de um cello, eu tô aí.

Eu gosto de você como quem gosta


De um vídeo do Youtube de alguém cantando mal
Eu gosto de você como quem gosta
De uma celebridade “B”.
(www.vagalume.com.br)
Poema de Manuel Bandeira
Pousa a mão na minha testa
Não te doas do meu silêncio:
Estou cansado de todas as palavras.
Não sabes que te amo?
Pousa a mão na minha testa:
Captarás numa palpitação inefável
O sentido da única palavra essencial
− Amor.
(Lira dos cinquent'anos, 1940)
1- (Puccamp) É correto considerar

a) que são marcas da linguagem coloquial, na canção: o emprego alternado dos


pronomes te e você, com que o “eu” se refere ao mesmo destinatário da mensagem; e no
poema: o emprego do pronome te sem a correta concordância com a forma verbal
Pousa.
b) o verso Isso é irônico, e é irônico como exemplo de repetição positiva, por valorizar a
composição musical, mesmo considerando que não acrescenta traço algum de sentido à
frase.
c) como manifestação de traços irônicos de que trata a canção o que se lê na terceira
estrofe, porque é incomum, e até incoerente, expressar afeto por meio de referências a
vídeo do Youtubee celebridades de TV.
d) que em ambos os textos se confessa a incapacidade de traduzir o sentido da palavra
“amor”; a diferença de atitude afetiva entre os que se expressam deve ser atribuída às
determinações do contexto de produção, um, do século XXI, o outro, do século XX.
e) que, na segunda estrofe da canção, em que se entrevê o fingimento na arte, a autora
amplia as possibilidades de sentido explorando gírias e variações próprias do uso
informal da língua.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:

Norma e padrão

Uma das comparações que os estudiosos de variação linguística mais gostam de utilizar
é a da língua com a vestimenta. Esta, como sabemos, é bastante variada, indo da mais
formal (longo e smoking) à mais informal (biquíni e sunga, ou camisola e pijama). A
ideia dos que fazem essa comparação é a seguinte: não existem, a rigor, formas
linguísticas erradas, existem formas linguísticas inadequadas. Como as roupas: assim
como ninguém vai à praia de smokingou de longo, também ninguém casa de biquíni e
de sunga, ou de camisola e de pijama (sem negar que estas sejam vestimentas, e
adequadas!), assim ninguém diz “me dá esse troço aí” num banquete público e formal
nem “faça-me o obséquio de passar-me o sal” numa situação de intimidade familiar.

1Os gramáticos e os sociolinguistas, cada um com seu viés, costumam dizer que o
padrão linguístico é usado pelas pessoas representativas de uma sociedade. Os
gramáticos dizem isso, mas acabam não analisando o padrão, 2nem recomendando-o de
fato. Recomendam uma norma, uma norma ideal. Vou dar uns exemplos: se o padrão é
o usado pelos figurões, então deveriam ser considerados padrões o verbo “ter” no lugar
de “haver”; a regência de “preferir x do que y”, em vez de “preferir x a y”; o uso do
anacoluto (A inflação, ela estará dominada quando...); a posição enclítica dos pronomes
átonos. O que não significa proibir as mais conservadoras. Algumas dessas formas
“novas” aparecem em muitíssimo boa literatura, em autores absolutamente consagrados,
que poderiam servir de base para que os gramáticos liberassem seu uso – para os que
necessitam da licença dos outros.

3Vejam-se esses versos de Murilo Mendes: “Desse lado tem meu corpo / tem o sonho /
tem a minha namorada na janela / tem as ruas gritando de luzes e movimentos / tem
meu amor tão lento / tem o mundo batendo na minha memória / tem o caminho pro
trabalho. Do outro lado tem outras vidas vivendo da minha vida / tem pensamentos
sérios me esperando na sala de visitas / tem minha noiva definitiva me esperando com
flores na mão / tem a morte, as colunas da ordem e da desordem.”.

4Faltou ao poeta acrescentar: tem uns gramáticos do tempo da onça / de antes do tempo
em que se começou a andar pra frente.

Não vou citar Drummond de Andrade, com seu por demais conhecido “Tinha uma
pedra no meio do caminho...”, nem o Chico Buarque de “Tem dias que a gente se sente /
como quem partiu ou morreu...”.

Mas acho que vou citar “Pronominais”, do glorioso Oswald de Andrade: Dê-me um
cigarro / Diz a gramática / Do professor e do aluno / E do mulato sabido / Mas o bom
negro e o bom branco / Da nação brasileira / Dizem todos os dias / Deixa disso
camarada / Me dá um cigarro.

Quero insistir: 5ao contrário do que se poderia pensar (e vários disseram), não sou
anarquista, defensor do tudo pode, ou do vale tudo. Nem estou dizendo que “Nós vai” é
igual a “Tem muito filho que obedece os pais”. O que estou fazendo é cobrar coerência,
um pouquinho só: 6se o padrão vem da fala dos bacanas, se os mais bacanas são os
poetas consagrados, por que, antes das dez, numa aula de literatura, podemos curtir seu
estilo e em outra aula, depois das onze, 7dizemos aos alunos e aos demais interessados:
viram o Drummond, o Murilo, o Machado, o Guimarães Rosa? Que criatividade!!! Mas
vocês não podem fazer como eles.

POSSENTI, Sírio. A cor da língua e outras croniquinhas de linguística. Campinas:


Mercado de Letras, 2001. p. 111-112. (Adaptado).

2- (Ueg) O autor defende no texto a seguinte tese:

a) a norma gramatical, para ser coerente, deve ser baseada no padrão de uso de uma
língua.
b) a língua é variável e multiforme, razão pela qual as pessoas podem usá-la como
quiserem.
c) as normas de bom uso da língua garantem a quem fala e/ou escreve sucesso
comunicativo.
d) as formas linguísticas consideradas corretas são aquelas usadas na língua escrita
formal.
e) o padrão de uso de uma língua deve ser cuidadosamente preservado pelos gramáticos.

3- (Ueg) Considere o seguinte trecho:

“Os gramáticos e os sociolinguistas, cada um com seu viés, costumam dizer que o
padrão linguístico é usado pelas pessoas representativas de uma sociedade. Os
gramáticos dizem isso, mas acabam não analisando o padrão, nem recomendando-o de
fato. Recomendam uma norma, uma norma ideal”. (ref. 1).

Sírio Possenti apresenta nesse trecho uma caracterização da atividade dos gramáticos.
Para isso, o autor

a) define a sociolinguística como uma área da linguística que visa estudar as formas
linguísticas ideais e as formas linguísticas que de fato os falantes usam.
b) faz uma comparação entre a atividade proposta e a atividade efetivamente realizada,
que consiste na recomendação de uma norma idealizada.
c) apresenta diversos exemplos de usos cotidianos da língua que demonstram, de forma
evidente, o fato de que as línguas são inerentemente variáveis.
d) cita uma autoridade acadêmica da área dos estudos da linguagem a fim de validar as
propostas teóricas e analíticas relativas à variação linguística.
e) insere um quadro de definição dos vocábulos técnicos relacionados à área de estudos
sociolinguísticos a fim de facilitar a compreensão do leitor.

4- (Ueg) Em razão das características do gênero textual, o autor busca imprimir ao seu
texto um tom mais informal e próximo do uso cotidiano da língua. Essa escolha
estilística pode ser exemplificada pelo uso da seguinte construção:

a) “... nem recomendando-o de fato” (ref. 2).


b) “... ao contrário do que se poderia pensar...” (ref. 5).
c) “Vejam-se esses versos de Murilo Mendes...” (ref. 3).
d) “... se o padrão vem da fala dos bacanas...” (ref. 6).
e) “... dizemos aos alunos e aos demais interessados...” (ref. 7).
5- (Enem PPL)
Lisboa: aventuras
tomei um expresso
cheguei de foguete
subi num bonde
desci de um elétrico
pedi um cafezinho
serviram-me uma bica
quis comprar melas
só vendiam peúgas
fui dar a descarga
disparei um autoclisma
gritei "ó cara!"
responderam-me «ó pá»
positivamente
as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá.

PAES, J. P. A poesia está morta mas juro que não fui eu. São Paulo: Duas Cidades,
1988.

No texto, a diversidade linguística é apresentada pela ótica de um observador que entra


em contato com uma comunidade linguística diferente da sua. Esse observador é um

a) falante do português brasileiro relatando o seu contato na Europa com o português


lusitano.
b) imigrante em Lisboa com domínio dos registros formal e informal do português
europeu.
c) turista europeu com domínio de duas variedades do português em visita a Lisboa.
d) português com domínio da variedade coloquial da língua falada no Brasil.
e) poeta brasileiro defensor do uso padrão da língua falada em Portugal.

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