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Superior Tribunal de Justiça

AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1705385 - SP (2014/0345411-3)


RELATOR : MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
AGRAVANTE : LUIZ CARLOS FURQUIM VIEIRA - INTERDITO
AGRAVANTE : NILMA ROSANA FERNANDES DIAS FURQUIM
VIEIRA
ADVOGADOS : LUIZ CARLOS FURQUIM VIEIRA SEGUNDO -
SP256740
LAURINDA APARECIDA JANUARIO PERI - SP067527
AGRAVADO : CONDOMÍNIO EDIFÍCIO GRANDE SÃO PAULO
ADVOGADO : MARCO ANTÔNIO PINHEIRO MATEUS E OUTRO(S) -
SP150569

EMENTA
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL.
PROCESSO CIVIL. NULIDADE DA CITAÇÃO. REJEITADA.
INCAPACIDADE. SENTENÇA DE INTERDIÇÃO. NATUREZA
CONSTITUTIVA. PREJUÍZO. AUSÊNCIA. CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. REEXAME. SÚMULA Nº
7/STJ.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na
vigência do Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados
Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
2. O entendimento do Superior Tribunal de Justiça é no sentido
de que (i) a sentença de interdição produz efeitos ex nunc, salvo
expresso pronunciamento judicial em sentido contrário, e (ii) a
ausência de intervenção do Ministério Público nos processos
que envolvam interesse de incapaz não implica
automaticamente a nulidade do julgado, sendo imprescindível a
demonstração de prejuízo. Precedentes.
3. Rever as conclusões das instâncias ordinárias acerca da não
demonstração de prejuízo concreto à defesa do incapaz
demandaria o reexame de matéria fática e das demais provas dos
autos, o que é absolutamente inviável nesta via recursal,
consoante o óbice da Súmula nº 7/STJ.
4. Agravo interno não provido.

ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Paulo de Tarso Sanseverino, Marco
Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator. Presidiu o
julgamento o Sr. Ministro Moura Ribeiro.

Brasília, 14 de outubro de 2019 (Data do Julgamento)


Superior Tribunal de Justiça
Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva - Relator
Superior Tribunal de Justiça
AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.705.385 - SP (2014/0345411-3)

RELATOR : MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA


AGRAVANTE : LUIZ CARLOS FURQUIM VIEIRA - INTERDITO
AGRAVANTE : NILMA ROSANA FERNANDES DIAS FURQUIM VIEIRA
ADVOGADOS : LUIZ CARLOS FURQUIM VIEIRA SEGUNDO - SP256740
LAURINDA APARECIDA JANUARIO PERI - SP067527
AGRAVADO : CONDOMÍNIO EDIFÍCIO GRANDE SÃO PAULO
ADVOGADO : MARCO ANTÔNIO PINHEIRO MATEUS E OUTRO(S) - SP150569

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (Relator):


Trata-se de agravo interno interposto por LUIZ CARLOS FURQUIM VIEIRA -
INTERDITO e NILMA ROSANA FERNANDES DIAS FURQUIM VIEIRA contra a decisão
desta relatoria que negou provimento ao recurso especial ao fundamento de que o
acórdão recorrido estaria de acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
e que rever as conclusões das instâncias ordinárias acerca da não demonstração de
prejuízo concreto à defesa do incapaz esbarraria no óbice da Súmula nº 7/STJ.

Nas razões do presente recurso, os agravantes reiteram a tese de que há


nulidades processuais em virtude da citação de Luiz Carlos ter-se realizado mesmo
tendo a saúde mental debilitada e da ausência de intervenção do Ministério Público.

Afirmam que desde abril de 2003 a incapacidade mental do interdito estava


certificada pelo oficial de justiça e que o magistrado de primeiro grau deveria ter
determinado a citação do seu representante legal.

Argumentam que Nilma, a esposa de Luiz Carlos, o representava nos autos


na condição de procuradora, mas que o mandato foi extinto com a interdição do
agravante, o que também implicaria a nulidade da citação no processo executivo e da
penhora do imóvel.

Sustentam que não pretendem o reexame da prova, mas a sua revaloração,


o que é admitido conforme jurisprudência desta Corte Superior.

A parte contrária apresentou impugnação (fls. 404/410 e-STJ).

É o relatório.

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REsp 1705385 Petição : 650903/2018 C542452449029980416494@ C584584;00434032524122@
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AgInt no RECURSO ESPECIAL Nº 1.705.385 - SP (2014/0345411-3)

EMENTA

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL.


PROCESSO CIVIL. NULIDADE DA CITAÇÃO. REJEITADA.
INCAPACIDADE. SENTENÇA DE INTERDIÇÃO. NATUREZA
CONSTITUTIVA. PREJUÍZO. AUSÊNCIA. CONJUNTO
FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS. REEXAME. SÚMULA Nº 7/STJ.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do
Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e
3/STJ).
2. O entendimento do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que (i)
a sentença de interdição produz efeitos ex nunc, salvo expresso
pronunciamento judicial em sentido contrário, e (ii) a ausência de
intervenção do Ministério Público nos processos que envolvam interesse de
incapaz não implica automaticamente a nulidade do julgado, sendo
imprescindível a demonstração de prejuízo. Precedentes.
3. Rever as conclusões das instâncias ordinárias acerca da não
demonstração de prejuízo concreto à defesa do incapaz demandaria o
reexame de matéria fática e das demais provas dos autos, o que é
absolutamente inviável nesta via recursal, consoante o óbice da Súmula nº
7/STJ.
4. Agravo interno não provido.

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA (Relator): O


acórdão impugnado pelo recurso especial foi publicado na vigência do Código de
Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).

O inconformismo não merece prosperar.

Ao contrário do alegado pelos agravantes, não há nulidade processual,


tampouco violação dos arts. 82, II, 215, 218, parágrafo único, 243, 246, caput, e 247 do
Código de Processo Civil de 1973 e 682, II, do Código Civil no caso sob exame.

Como já assentado na decisão agravada, o entendimento do Superior


Tribunal de Justiça é no sentido de que (i) a sentença de interdição produz efeitos ex
nunc, salvo expresso pronunciamento judicial em sentido contrário, e (ii) a ausência de
intervenção do Ministério Público nos processos que envolvam interesse de incapaz não
implica automaticamente a nulidade do julgado, sendo imprescindível a demonstração
de prejuízo.
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REsp 1705385 Petição : 650903/2018 C542452449029980416494@ C584584;00434032524122@
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Confiram-se:
"RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL.
CITAÇÃO EM NOME DE INCAPAZ. INCAPACIDADE DECLARADA
POSTERIORMENTE. NULIDADE NÃO RECONHECIDA. INTERVENÇÃO DO MP.
NULIDADE. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DO PREJUÍZO. ESTATUTO
DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA. LEI N. 13.146/2015. DISSOCIAÇÃO ENTRE
TRANSTORNO MENTAL E INCAPACIDADE.
1. A sentença de interdição tem natureza constitutiva, caracterizada
pelo fato de que ela não cria a incapacidade, mas sim, situação
jurídica nova para o incapaz, diferente daquela em que, até então, se
encontrava.
2. Segundo o entendimento desta Corte Superior, a sentença de
interdição, salvo pronunciamento judicial expresso em sentido
contrário, opera efeitos ex nunc. Precedentes.
3. Quando já existente a incapacidade, os atos praticados anteriormente à
sentença constitutiva de interdição até poderão ser reconhecidos nulos, porém
não como efeito automático da sentença, devendo, para tanto, ser proposta
ação específica de anulação do ato jurídico, com demonstração de que a
incapacidade já existia ao tempo de sua realização do ato a ser anulado.
4. A intervenção do Ministério Público, nos processos que envolvam interesse
de incapaz, se motiva e, ao mesmo tempo, se justifica na possibilidade de
desequilíbrio da relação jurídica e no eventual comprometimento do
contraditório em função da existência da parte vulnerável.
5. A ausência da intimação do Ministério Público, quando necessária
sua intervenção, por si só, não enseja a decretação de nulidade do
julgado, sendo necessária a demonstração do efetivo prejuízo para as
partes ou para a apuração da verdade substancial da controvérsia
jurídica, à luz do princípio pas de nullité sans grief.
6. Na espécie, é fato que, no instante do ajuizamento da ação de rescisão
contratual, não havia sido decretada a interdição, não havendo se falar,
naquele momento, em interesse de incapaz e obrigatoriedade de intervenção
do Ministério Público.
7. Ademais, é certo que, apesar de não ter havido intimação do Parquet, este
veio aos autos, após denúncia de irregularidades, feito por terceira pessoa,
cumprindo verdadeiramente seu mister, com efetiva participação,
consubstanciada nas inúmeras manifestações apresentadas.
8. Nos termos do novel Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei n. 13.146 de
2015, pessoa com deficiência é a que possui impedimento de longo prazo, de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial (art. 2º), não devendo ser mais
tecnicamente considerada civilmente incapaz, na medida em que a deficiência
não afeta a plena capacidade civil da pessoa (conforme os arts. 6º e 84).
9. A partir do novo regramento, observa-se uma dissociação necessária e
absoluta entre o transtorno mental e o reconhecimento da incapacidade, ou
seja, a definição automática de que a pessoa portadora de debilidade mental,
de qualquer natureza, implicaria na constatação da limitação de sua
capacidade civil deixou de existir.
10. Recurso especial a que se nega provimento."
(REsp 1.694.984/MS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 14/11/2017, DJe 1º/2/2018 - grifou-se)

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REsp 1705385 Petição : 650903/2018 C542452449029980416494@ C584584;00434032524122@
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"CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. CONSUMIDOR. RECURSOS ESPECIAIS.


RECURSOS MANEJADOS SOB A ÉGIDE DO CPC/73. RESPONSABILIDADE
CIVIL. ERRO MÉDICO. DANOS MATERIAIS E MORAIS. PARCIAL
PROCEDÊNCIA. RECURSO ESPECIAL DO ANESTESISTA. INDEFERIMENTO
DE PROVA PERICIAL. CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTÊNCIA.
NULIDADE PELA AUSÊNCIA DE INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
PREJUÍZO NÃO CONFIGURADO. DECISÃO RECORRIDA EM CONSONÂNCIA
COM O ENTENDIMENTO DESTA CORTE. COMPROVAÇÃO DA CULPA.
REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N° 7 DESTA CORTE. CÔMPUTO INICIAL DOS
JUROS. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DA SÚMULA Nº 362 DO STJ.
IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE POR ESTA CORTE. RECURSO ESPECIAL DO
HOSPITAL SANTA LÚCIA S.A. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC/73. OMISSÃO,
CONTRADIÇÃO E OBSCURIDADE NÃO CONFIGURADA. CULPA DOS SEUS
MÉDICOS RECONHECIDA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO HOSPITAL.
DECISÃO EM CONFORMIDADE COM A JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE
DESTA CORTE. SÚMULA N° 568 DO STJ. VALOR INDENIZATÓRIO. REDUÇÃO.
DESNECESSIDADE. VERBA FIXADA COM MODERAÇÃO.
(...)
4. Esta Corte firmou o entendimento de que é necessária a demonstração de
prejuízo para que seja acolhida a nulidade por falta de intimação do
Ministério Público, em razão da existência de interesse de incapaz.
Precedente.
(...)
10. Recursos especiais não providos."
(REsp 1.679.588/DF, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA,
julgado em 8/8/2017, DJe 14/8/2017)

No caso, destaca-se que as alegações de nulidade foram afastadas pelo


juízo de primeiro grau pelos seguintes fundamentos:

"(...)
Destaco de início, que foi decretada a Interdição do executado
em julho de 2007, conforme faz prova o documento de fls. 297.
Não há que se falar em nulidade de citação. Primeiro
porque, diante da nova redação dada ao procedimento da Execução
Judicial, não há citação para esta fase, nos termos do artigo 475-J
do CPC. Assim, estando o executado regularmente representado nos
autos por seu advogado, os atos processuais dar-se-ão por meio de
intimação no DJE (art. 475-J, § 1º, do CPC e art. 659, § 5°, do CPC).
Segundo, em que pese a procuração de fls. 296 e as
alegações da representante do executado, frise-se, o qual é filho do
executado, a curadora ora nomeada é a mesma que vem
representando o executado desde a fase de conhecimento (fls. 141 -
junho de 2003) e, independentemente da declaração da Interdição,
tinha ciência de todo o processamento dos autos, inclusive que seu
constituinte, também seu marido, vinha passando por problemas de
saúde. No entanto, desde o início da execução do julgada (Nov/04),
jamais noticiou tal fato aos autos, só vindo manifestar-se quando da
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intimação da penhora, isto em dezembro de 2010. Ressalte-se que
desde 2007 o executado é interditado e, por óbvio, já tinha ela
ciência do fato.
De qualquer maneira a declaração de interdição não torna
inalienável os bens do incapaz.
Em outras palavras, cumpre ressaltar que considerando que a
capacidade é a regra e a incapacidade é a exceção, devendo esta ser
encarada restritivamente, é de se concluir que os atos processuais realizados
até penhora não são nulos, até mesmo porque, nenhum prejuízo teve o
executado, haja vista que em todo este tempo tentava-se a sua intimação para
a fase da execução.
Ora, é sabido que sentença que declara a interdição, em
que pese reconheça uma situação de fato preexistente, só está apta a
produzir efeitos a partir de sua prolação (artigo 1.773 do Código
Civil), sob pena de conferir extrema insegurança jurídica aos
terceiros de boa-fé, o que não é, por óbvio, o objetivo da Lei.
Nestes termos, não trouxe o executado elementos hábeis a
confirmar a sua tese de citação nula.
Poder-se-ia declarar nulidade processual após a
declaração da Interdição do Executado, mas como já dito, não há nos
autos atos que ensejasse a nulidade.
De fato, haveria nulidade a ser declarada após a
efetivação da penhora, posto que a intimação determinada a fls. 294
deveria ter sido realizada pessoalmente e na pessoa do curador,
repita-se, que é a mesma constituída para representar o executado
desde a fase do conhecimento.
Contudo, apresentada a Impugnação de fl. 300/307,
supriu a intimação ora mencionada.
Quanto à não intimação do cônjuge da penhora realizada, é de
ressaltar que tal fato não enseja a nulidade, mas tão somente irregularidade
da penhora, a qual pode ser regularizada a qualquer tempo.
Ademais, tal irregularidade não existe, haja vista que de acordo
com certidão do imóvel, o executado quando da aquisição do imóvel ora
constrito (1978) era desquitado (fl. 236), vindo adquirir núpcias
posteriormente, em 1980 (fl. 310) daí que não há que se falar em intimação de
sua cônjuge (fl. 293).
O único reparo a ser feito é no que se refere aos cálculos
do credor, haja vista que este fez inserir a multa de 20% para as
despesas condominiais vencidas a partir de janeiro/2003, sendo certo
que a partir da vigência do novo Código Civil aplicada é de 2%.
Ante o até aqui exposto, como já regularizada a
representação usual do executado, não merecem acolhidas as razões
da impugnação apresentada pelo executado.
Por fim, tem-se que é extreme de duvida a má-fé do
executado ora representado pela sua curadora, no sentido de protelar
o inevitável pagamento do crédito aqui perseguido" (e-STJ fls. 15-16 -
grifou-se).

Tal entendimento foi mantido pelo Tribunal de origem ao rejeitar o agravo


de instrumento interposto pela parte ora recorrente.
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No referido aresto, ficou consignado que as irregularidades processuais
apontadas não implicaram nenhum prejuízo concreto à defesa do incapaz, visto que foi
assistido desde o início pela esposa - primeiro como sua procuradora e depois como
curadora - e pelo filho, que também o representa em juízo, e que a apresentação de
impugnação após a realização da penhora supriu eventual nulidade em virtude da
ausência de citação na pessoa da curadora.
Transcreve-se, a propósito, o respectivo excerto:
"(...)
Anote-se que, desde o início, o réu teve sua esposa como
procuradora. Após a decretação de sua interdição em julho de 2007,
comunicada ao Juízo da ação principal somente em 2010, a esposa
foi nomeada curadora e o filho passou a ser seu procurador (fls. 27 e
37).
Portanto, durante todo o curso do processo, esteve
regularmente representado nos autos e seus representantes, cientes
dos atos processuais. Tanto é que ofereceram a impugnação de cuja
decisão ora se recorre, suprindo assim, possível irregularidade na
intimação.
Sendo assim, não há, nos autos, irregularidade a ensejar a
nulidade do processo a partir da penhora" (e-STJ fl. 173 - grifou-se).

Assim, constata-se que a interpretação adotada pelas instâncias ordinárias


se coaduna com a jurisprudência desta Corte a respeito da matéria de mérito, sobretudo
no que tange à inexistência de nulidade quando não demonstrado o prejuízo.

Ademais, a despeito das alegações dos recorrentes, rever as conclusões das


instâncias ordinárias acerca da não demonstração de prejuízo concreto à defesa do
incapaz demandaria o reexame de matéria fática e das demais provas dos autos, o que é
absolutamente inviável nesta via recursal, consoante o óbice da Súmula nº 7/STJ.
No mesmo sentido:
"AGRAVO INTERNO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. CITAÇÃO
POR EDITAL. DECLARAÇÃO DE NULIDADE. NECESSIDADE DE
DEMONSTRAÇÃO DO PREJUÍZO. REEXAME. SÚMULA 7. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO.
1. A declaração da nulidade dos atos processuais depende da
demonstração da existência de prejuízo à parte interessada (pas de
nullité sans grief).
2. Caso concreto em que derruir a conclusão a que chegou a Corte de
origem no sentido de que da irregularidade em questão não decorreu
qualquer prejuízo à defesa da parte recorrente demandaria o
revolvimento do arcabouço fático-probatório o que encontra óbice no
enunciado da Súmula 7 do STJ.
3. Na hipótese em exame, o dissídio jurisprudencial não foi demonstrado uma
vez que a parte recorrente não realizou o necessário cotejo analítico, em
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REsp 1705385 Petição : 650903/2018 C542452449029980416494@ C584584;00434032524122@
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desatenção ao disposto na legislação processual pátria e no Regimento
Interno do Superior Tribunal de Justiça.
4. Ainda no que diz respeito a interposição do recurso pela alínea "c" do
permissivo constitucional, importa consignar que não se pode conhecer do
recurso pela referida alínea, uma vez que pretende a parte recorrente discutir
idêntica tese já afastada, ficando prejudicada a divergência jurisprudencial
aduzida.
5. Agravo interno não provido" (AgInt no REsp 1.588.502/ES, Rel. Ministro
LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 11/6/2019, DJe
18/6/2019 - grifou-se).

"AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE


PATERNIDADE. CITAÇÃO DO PAI REGISTRAL. NECESSIDADE.
CONCORDÂNCIA EXPRESSA DOS HERDEIROS. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO.
NULIDADE AFASTADA. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1. A jurisprudência desta Corte é pacífica no sentido de que é essencial, sob
pena de nulidade, a integração à lide, nas ações de investigação de
paternidade, como litisconsorte necessário, do pai registral, ou de seus
herdeiros, caso já falecido.
2. Contudo, in casu, há que ser afastada a referida nulidade, tendo em vista
as peculiaridades do caso concreto, quais sejam, o fato de que os herdeiros do
pai registral, apesar de não citados, manifestaram por escrito sua
concordância com a pretensão do autor, a ausência de bens deixados pelo pai
registral e a existência de exame genético não refutado comprovando a
paternidade ora pleiteada.
3. Nos termos da jurisprudência do STJ, não deve ser declarada
nulidade processual se não houver demonstração de prejuízo às
partes (pas de nullité sans grief).
4. Agravo interno a que se nega provimento" (AgInt nos EDcl no REsp
1.734.515/RN, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em
7/2/2019, DJe 19/2/2019 - grifou-se).

Por fim, cumpre ressaltar que, embora os agravantes sustentem a nulidade


também pela falta de intervenção do Ministério Público, o parquet opinou pelo não
provimento dos recursos, rechaçando a tese de nulidade, tanto na origem (e-STJ fls.
165-167) quanto perante esta Corte Superior (e-STJ fls. 339-343).
Ante o exposto, nego provimento ao agravo interno.

É o voto.

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TERMO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
AgInt no REsp 1.705.385 / SP
Número Registro: 2014/0345411-3 PROCESSO ELETRÔNICO

Número de Origem:
5620120030005154 02141005920128260000

Sessão Virtual de 08/10/2019 a 14/10/2019

Relator do AgInt
Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MOURA RIBEIRO

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : LUIZ CARLOS FURQUIM VIEIRA - INTERDITO


RECORRENTE : NILMA ROSANA FERNANDES DIAS FURQUIM VIEIRA
ADVOGADOS : LUIZ CARLOS FURQUIM VIEIRA SEGUNDO - SP256740
LAURINDA APARECIDA JANUARIO PERI - SP067527
RECORRIDO : CONDOMÍNIO EDIFÍCIO GRANDE SÃO PAULO
ADVOGADO : MARCO ANTÔNIO PINHEIRO MATEUS - SP150569

ASSUNTO : DIREITO CIVIL - COISAS - PROPRIEDADE - CONDOMÍNIO EM EDIFÍCIO - DESPESAS


CONDOMINIAIS

AGRAVO INTERNO

AGRAVANTE : LUIZ CARLOS FURQUIM VIEIRA - INTERDITO


AGRAVANTE : NILMA ROSANA FERNANDES DIAS FURQUIM VIEIRA
ADVOGADOS : LUIZ CARLOS FURQUIM VIEIRA SEGUNDO - SP256740
LAURINDA APARECIDA JANUARIO PERI - SP067527
AGRAVADO : CONDOMÍNIO EDIFÍCIO GRANDE SÃO PAULO
ADVOGADO : MARCO ANTÔNIO PINHEIRO MATEUS E OUTRO(S) - SP150569

TERMO
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, decidiu negar provimento ao
recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Nancy Andrighi, Paulo de Tarso Sanseverino, Marco Aurélio Bellizze e Moura
Ribeiro votaram com o Sr. Ministro Relator.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Moura Ribeiro.

Brasília, 14 de outubro de 2019

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