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Volumetria de Complexação

A volumetria de complexação ou quelatometria se baseia em reações que


formam compostos de coordenação. Os compostos de coordenação contêm
um único íon metálico central rodeado por um grupo de íons ou de moléculas
neutras. Os grupos ligados ao íon central são chamados de ligantes.
Exemplo: Hg+2 + 4 Br- → [HgBr4] -2
Ag+ + 2 CN- → [Ag(CN)2] -
Os ligantes podem ser classificados conforme o número de pontos em que se
prendem ao íon metálico. Assim, os ligantes simples, como os íons haleto, CN -
ou as moléculas H2O e NH3, são monodentados, isto é, o ligante é ligado ao íon
metálico num só ponto, por “doação” de um par de elétrons ao metal. Quando a
molécula ou íon tem dois pares de elétrons livres, isto é, pode formar duas
ligações coordenadas com o mesmo íon metálico, o ligante é chamado
bidentado. Os ligantes multidentados contêm mais de dois pares de elétrons
livres para formar ligações coordenadas. O EDTA por exemplo é hexadentado,
possui seis pares de elétrons livres.

EDTA

O ácido etilenodiaminotetracético – EDTA pertence a uma classe de


substâncias chamadas de complexonas ou quelões. Sendo um dos principais
complexantes, apresenta uma extensa gama de aplicações. A molécula é um
ácido tetraprótico com dois átomos básicos de nitrogênio. Apresenta, portanto,
6 posições ligantes possíveis quando os prótons são removidos.
O EDTA, como agente complexante, forma complexos estáveis de
estequiometria 1:1 com um grande número de íons metálicos em solução
aquosa.

Obs: Os ligantes (complexantes) também são conhecidos como agentes


quelantes. A palavra quelante é de origem do grego chele, que significa pinça
ou garra. Os agentes quelantes tem a propriedade então de formar quelatos,
ou seja, complexar íons metálicos.

Efeito de Tampões e Agentes Mascarantes

Substâncias indesejadas podem estar presentes na solução em análise,


podendo formar complexos com os íons metálicos. A consequência deste
fenômeno é a competição com a reação básica da titulação entre o titulante e o
analito desejado, apresentando um resultado equivocado ao final do processo.
Para evitar que ocorra esse tipo de interferência, muitas vezes são adicionados
propositalmente agentes chamados de mascarantes.
Por exemplo, o níquel forma um complexo de alta estabilidade com íons
cianeto, enquanto o chumbo não forma. Na prática, o chumbo pode ser titulado
com EDTA em presença de cianeto, sem sofrer interferência do níquel, esse
mascarado.
Tampões são soluções resistentes a variação de pH. Em muitos casos as
determinações complexométricas são feitas em faixas de pH definido, daí a
necessidade do tamponamento.

Indicadores Metalocrômicos

Basicamente, os indicadores Metalocrômicos são compostos orgânicos


coloridos de formam complexos com íons metálicos. O complexo tem uma cor
diferente daquela do indicador livre. Para se conseguir boa detecção do ponto
final de titulação, deve-se evitar a adição de grandes quantidades do indicador.
No processo, o indicador libera o íon metálico, que será complexado pelo
titulante, o mais próximo possível do ponto de equivalência.
Metal-indicador + Titulante → Metal-Titulante + Indicador.
complexo complexo

Exemplo

O cromo (III) reage lentamente com o EDTA, sendo por isso determinado
recorrendo a uma titulação de retorno. Uma preparação farmacêutica contendo
cromo(III) foi analisada por tratamento de 2,63 g de amostra com 5,00 mL de
0,0103 M de EDTA. A quantidade de EDTA que não reagiu foi titulada com
1,32 mL de solução de zinco 0,0122 M. Qual a percentagem de crómio na
preparação farmacêutica?

Determinação do número total de mol de EDTA adicionados:


Cr+3 + EDTA → Cr+3EDTA

Cromo complexado = 1:1

n = 0,005 L x 0,0103 M = 0,0000515 mol

Determinação do número de mol em excesso de EDTA


adicionados:

n = número de mol de Zn2+ necessário para a titular = 0,00132 L x


0,0122 M = 0,0000161 mol.

Determinação do número de mol de EDTA que realmente


reagiram com o cromo:

n = 0,0000515 - 0,000016 = 0,0000355 mol

Massa de cromo determinada pelo ensaio

g
m = 0,0000355 mol x 52 = 0,001846 g
mol

Porcentagem de cromo na preparação

0,001846 g
%= x 100 = 0,07%
2,63 g

EXERCÍCIOS

1) Porque o meio de titulação envolvendo a formação de complexos deve


ser tamponado?

2) Uma alíquota de 100,0 mL de água de consumo de uma cidade foi


tamponada a pH 10,0 com solução tampão de amônia-cloreto de
amônio. Após a adição de indicador calmagite, a solução gastou 21,46
mL de EDTA 5,149x10-3 mol/L. Calcular a dureza de água em mg/L de
CaCO3.

3) Uma amostra de 0,9755 g de zinco foi titulada com 23,20 mL de EDTA


0,01845 mol/L. Calcular a % de zinco na amostra.

4) Uma alíquota de 100,0 mL de um algicida comercial contendo um


composto organomercúrico foi tratada com HNO 3 concentrado e
evaporado até secura. O resíduo de nitrato mercúrico foi dissolvido em
HNO3 diluído a 250,0 mL com água. Uma alíquota de 50,00 mL desta
solução foi tratada com 20,00 mL de EDTA 0,04966 mol/L e agitada por
10 minutos. Após ajuste de pH em 10,0 e adição de negro de eriocromo
T, o excesso de EDTA foi titulado com 18,04 mL de MgCl 2 0,04711
mol/L. Calcular a concentração de mercúrio na amostra original em
mg/mL.

5) Uma alíquota de 25,00 mL de solução contendo Hg 2+ em HNO3 diluído


foi tratada com 10,0 mL de solução de EDTA 0,04882 mol/L e o pH foi
ajustado a 10,0 com solução tampão de amônia. Adicionou-se 2 gotas
de indicador NET e o excesso de EDTA foi titulado com 24,66 mL de
solução de Mg2+ 0,01137 mol/L. qual é a concentração de Hg 2+ em mol/L
nesta amostra?

6) Uma solução contém 1,694 mg de CoSO 4 (155,0 g/mol) por mililitro.


Calcular:
a) O volume de EDTA 8,640x10-3 mol/L necessário para titular uma
alíquota de 25,00 mL desta solução. (R = 31,63 mL)
b) O volume de Zn2+ 9,450x10-3 mol/L necessário para titular o reagente
em excesso após adição de 50,00 mL de EDTA 8,640x10 -3 mol/L
para uma alíquota de 25,00 mL desta solução.

Referências bibliográficas

Guenther, W.B., Química Quantitativa, Editora Edgard Blücher, São Paulo,


1972.
BACCAN, N., et al, Química Analítica Quantitativa Elementar, Editora
Edgard Blücher, São Paulo, 1990.
MATOS, S, P., Técnicas de Análise Química, Érica/Saraiva, São Paulo, 2015.

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