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Com a aprovação, pela Lei n.º 25/2019, de 26 de Dezembro, do novo CPP, o qual entra
em vigor, em atenção à data da publicação, constante da sua referência (25 de
Dezembro de 2019) e considerando a vacatio legis decorrente do art. 8 daquela Lei, no
dia 24 de Junho de 2020, com consequente revogação do CPP ora aprovado pelo
Decreto n.º 16489, de 15 de Fevereiro de 2019, estendido a Moçambique através da
Portaria n.º 19271, de 24 de Janeiro de 1931 e de grande parte da legislação processual
penal avulsa, julgamos oportuno tecer breves notas sobre alguns dos principais e, ao
nosso ver, relevantes marcos de evolução.
Abordamos aqui a nova estrutura do processo penal, com enfoque principal atribuído
às fases processuais, aos sujeitos processuais e algumas prerrogativas destes, sendo
que, o cerne da abordagem reside na demonstração, com referência às formas de
processo ordinárias, dos aspectos de destrinça entre o CPP de 1929 e o CPP de 2019
(Novo CPP), no concernente à intervenção judicial no processo, mormente a da
dicotomia Juiz de Instrução vs Juiz da Causa, a fase da audiência preliminar e a
supressão da instrução contraditória e, por último, a natureza processual do despacho
de marcação do julgamento.
A audiência preliminar é uma fase facultativa (art. 332, n.º 2), precedente do despacho
de pronúncia ou de não pronúncia (arrigo 353, n.º 1), caracterizada por grandes
factores de evolução, quando comparada com o regime do CPP de 1929, cuja
finalidade é permitir uma avaliação judicial da decisão de submissão ou não da causa
a julgamento através da comprovação da decisão de acusar ou de arquivar os autos
(art. 332, n.º 1).
Assim, a audiência preliminar pode ter lugar se requerida, nos termos da alínea a) do
n.º 1 do art. 333 pelo arguido, relativamente a factos constantes da acusação do MP,
nos crimes públicos ou semi-públicos ou em relação a factos constantes da acusação
do assistente, tratando-se de crimes particulares. Pode ainda, haver lugar a audiência
preliminar, a requerimento do assistente, nos termos da alínea b) do n.º 1 do art. 333,
em relação a factos pelos quais o MP não tiver acusado, tratando-se de crimes públicos
ou semi-públicos.
A redacção da supra referida alínea a) do n.º 1 do art. 333, pode sugerir, se lida de
forma não orientada pelo espírito, que independentemente de se tratar de acusação
do MP ou do assistente, o arguido apenas pode requerer a audiência preliminar em
casos de crimes particulares. Entendimento manifestamente oposto impõe-se, não
apenas por colher concordância de alguma doutrina (PIMENTA, José da Costa,
Código de Processo Penal Anotado, 2.ª Ed. p.629), mas sobretudo por corresponder
ao espírito subjacente à consagração da prerrogativa de requerimento da audiência
preliminar, enquanto mais uma garantia processual do arguido, no que se denota de
Finda a audiência preliminar, o juiz de instrução profere, nos termos dos art.s 353 e
354, despacho de pronúncia ou de não pronúncia, sendo o primeiro, por força do n.º
1 do art. 355, nulo na parte que pronunciar o arguido por factos que constituam
alteração substancial dos factos descritos na acusação do MP ou do assistente ou dos
constantes no requerimento de abertura da audiência preliminar.
Um outro notável marco de destrinça, trazido pelo Novo CPP é a fase de saneamento
do processo, na qual compete ao Juiz da Causa, nos termos do n.º 1 do art. 357,
Outro acto processual cuja análise se justifica, a luz do Novo CPP, é o despacho de
marcação do julgamento. Não se trata de um mero despacho de indicação de uma data
para a realização da audiência, estando-se em face de um acto de conteúdo legal
próprio, com elevada influência na marcha processual, constituindo, em termos de
natureza, o acto de aceitação da acção penal pelo tribunal que determina a efectiva
apresentação do arguido a julgamento.
O despacho de marcação da data do julgamento, o qual pode ter lugar sem que antes
tenha havido despacho de pronúncia, precisamente na circunstância de não ter havido
lugar a audiência preliminar, sob pena de nulidade, deve conter, dentre outros
referidos nas alíneas b) a d) do n.º 2 do art. 358, a indicação dos factos e disposições
legais aplicáveis, sendo permitida a remissão à pronúncia ou á acusação (art. 358, n. 2,