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AVALIAÇÃO PARA A APRENDIZAGEM: A DIDÁTICA NA PRÁTICA

PEDAGÓGICA

Ivo José Both1 - UNINTER

Grupo de Trabalho – Didática: Teorias, Metodologias e Práticas


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O presente artigo tem por objetivo conceber a avaliação como reforço didático e pedagógico
importante em função da facilitação da aprendizagem na educação básica. A elaboração do
texto é resultado de pesquisa e de experiências vivenciadas ao longo de várias décadas no
exercício da docência e no desenvolvimento da linha de pesquisa avaliação educacional.
Resultados de pesquisa e experiências docentes dão a sustentação necessária ao tema deste
trabalho. Alguns dos autores consultados são Zabalza (1998), Perrenoud (2004), Luckesi
(2012) e Penna Firme (2012). Os principais resultados do trabalho são: os objetivos da
avaliação ao longo da educação básica são os mesmos, ainda que a sua prática varie entre os
níveis escolares: educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; a assimilação dos
efeitos de avaliação varia de aluno para aluno até mesmo no interior de cada nível escolar;
aprendizagem e avaliação ocorrem de forma cooperativa simultânea; a similitude
metodológica que caracteriza a implementação de ações de avaliação e de pesquisa permite
perceber com significativa clareza o teor científico presente em ambas as variáveis
pedagógicas; são justapostas avaliação e pesquisa como varáveis educativas que se
manifestam por meio de princípios científicos semelhantes no favorecimento de
aprendizagem e na busca de novos e renovados conhecimentos, respectivamente; a avaliação,
por si só, dá conta no desempenho da função de facilitação da aprendizagem;
metodologicamente avaliação e pesquisa mantêm significativas semelhanças, uma vez que
ambas vão à busca de informações importantes que enriqueçam os respectivos resultados que
se propõem alcançar; enquanto a avaliação recolhe e analisa informações a respeito do
desempenho do aluno, a pesquisa coleta e analisa informações com vistas à elaboração de
novos conhecimentos.

Palavras-chave: Avaliação da aprendizagem. Didática pedagógica. Educação básica.

1
Doutor em Educação na área de Política Educativa pela Universidade do Minho-PT. Professor Adjunto do
Centro Universitário Internacional-UNINTER. Professor do Programa de Mestrado em Educação e Novas
Tecnologias-UNINTER. Presidente do Conselho Editorial da Editora Intersaberes-UNINTER. E-mail:
ivo.b@uninter.com

ISSN 2176-1396
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Introdução

Avaliar é preciso, sempre, ainda que caiba ao docente o cuidado de respeitar as


variáveis de ação e de efeito com relação a cada nível escolar.
Veja-se que os objetivos da avaliação ao longo de toda a educação básica são os
mesmos, ainda que a sua prática varie entre os níveis escolares: educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio.
Por outro lado, a assimilação dos efeitos de avaliação manifesta variação de aluno para
aluno até no interior de um mesmo nível escolar. Assim sendo, é importante ao docente
prestar atenção de que avaliação e aprendizagem podem ocorrer entre si de forma cooperativa
tal que as providências a serem tomadas para diminuir essa variação acentuada de diferenças
na assimilação dos efeitos da avaliação de aluno para aluno possa ser contornada.
Neste contexto, o presente artigo pretende ensejar que o foco da avaliação é o de
propiciar melhoria de aprendizagem, sim, como também o de alertar que o seu enfoque exige
ser diversificado com base nas circunstâncias socioculturais de cada aluno, tendo em vista que
a qualidade de assimilação da aprendizagem é diversa com relação a cada aluno.
Com base nesses pressupostos cabe repetir que avaliar é preciso, sempre, mas que a
sua prática com obediência ao enfoque anteriormente referido não a torna tarefa fácil.
Em função dessa diversidade de efeitos que uma mesma avaliação cumpre
praticamente com relação a cada aluno, convém valorizar em sempre maior escala a avaliação
como processo, em detrimento da avaliação-prova, que apenas verifica o nível de desempenho
quantitativo de cada aluno, sem conseguir identificar a sua mudança comportamental em
termos qualitativos.
O presente trabalho encontra respaldo em resultados exarados tanto de pesquisas na
área de aprendizagem e avaliação, quanto em experiências docentes vivenciadas nos níveis
escolares desde a educação infantil até a programas de pós-graduação lato e stricto sensu.

Avaliação para a aprendizagem: roteiro pedagógico

Avaliação para a aprendizagem é expressão que revela roteiro pedagógico e


metodológico educacional ao longo do desenvolvimento dos diversos níveis escolares.
Esta expressão revela que a função avaliativa, acima dos resultados quantitativos que
dela possam decorrer, demonstra evolução gradual no processo educativo que favorece o
aluno em valores qualitativos, como:
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 a aprendizagem em função do conhecimento. A aprendizagem pela aprendizagem


não revela significativo valor educativo, mas, quando ela é elaborada e processada
em função do conhecimento, ela adquire qualidades que o tornam –o
conhecimento- essencial em abrangência e em profundidade de competências,
capacidades e habilidades, para fins de sucesso escolar e profissional. Entende-se
o estudante ou o profissional capaz, quando demonstra domínio lógico de
conhecimentos indispensáveis para o exercício de suas respectivas funções. A
capacidade do estudante e do profissional revela-se quando respectivamente
conseguem aplicar na prática os conhecimentos que dominam. Por outro lado,
demonstram habilidade estudante e profissional quando conseguem aplicar na
prática os conhecimentos que dominam, mas, de forma criativa, inovadora;
 revelação de caminhos que levam à aprendizagem. Por conta dos valores culturais
que cada estudante herdou em maior proporção e qualidade dos seus familiares e
da comunidade em que vive, ele consegue, em princípio, trilhar desde o início de
sua vida estudantil bons caminhos que o levam à boa aprendizagem. Mesmo
assim, à despeito do nível social de origem, cada estudante faz o seu caminho para
a aprendizagem, mesmo que não o conduzam aos melhores resultados. Por isso,
pais, familiares e professores são elementos essenciais para que a vida estudantil
se revista de boa qualidade para todos os estudantes, seja qual for a sua condição
social;
 revelação de respostas para a pergunta: a quantas anda a aprendizagem? O
processo de avaliação, por conta de sua condição formativa, revela aos educadores
e ao próprio estudante a quantas anda a aprendizagem, melhor dizendo, revela-
lhes em amplitude e profundidade a aprendizagem assimilada. Percebido desta
forma, o objetivo da avaliação afasta-se paulatinamente da condição quantitativa
da aprendizagem revelada pela nota ou pelo conceito, para assumir forma
prioritariamente pedagógica e metodológica a caminho da melhoria de
desempenho do estudante, agora com bom conhecimento de causa;
 estímulo ao reconhecimento de valores morais, éticos e culturais. A avaliação,
quando concebida como processo fomentador da aprendizagem por excelência,
ela se vale de todas as instâncias que lhe auxiliem na revelação e no
fortalecimento da mesma para todos. Assim sendo, pode ser considerada sempre
em boa hora a valorização de valores tais como morais, éticos e culturais herdados
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de familiares e assimilados do meio social. Nem sempre é comum conceder o


devido reconhecimento a tais valores, ainda que positivos, muito em função da
mutação que tendem a sofrer seguidamente por conta de outros “valores” com
apelos muitas vezes mais “atrativos” que os herdados, por se reproduzirem e se
disseminarem rapidamente pelos meios de comunicação social cada vez mais
velozes e coercitivos, por vezes;
 priorização pedagógica da aprendizagem acima do valor social que uma boa nota
até então vinha representando nos meios escolares. Boa parte da comunidade
acadêmica vem ansiosamente alimentando o desejo pela chegada do tempo em
que a aprendizagem e o conhecimento sejam reconhecidos como valores
pedagógicos formativos, acima de tudo, em substituição à exagerada
quantificação de conhecimentos como condição reveladora sine qua non para a
formação de um bom estudante ou profissional. Sabe-se que os valores
pedagógicos nos meios educacionais não visam ao conhecimento como matéria
bruta em si mesma, mas, como conhecimento com conteúdos metodologicamente
elaborados para usufruto de perenes valores que formam e dignificam o ser
humano quando desempenha as suas funções sociais e profissionais.
Avaliação para a aprendizagem é indicativo auspicioso de que o caminho para o
conhecimento passa por aí, sem que se tenha a necessidade de quantificar o rendimento e o
desempenho numericamente.
Entende-se ser o roteiro da “avaliação para a aprendizagem” um caminho pedagógico
e metodológico” em direção ao conhecimento, pelo fato de esse processo constituir fato
científico.
Pedagogicamente a avaliação segue, em parte, os caminhos de pesquisa científica,
quando tanto avaliação quanto pesquisa valem-se de coleta de dados e de informações para,
após a devida análise e o estabelecimento de comparações, concluírem por resultados que
permitam a tomada de decisões.
Metodologicamente a avaliação se pauta por caminhos igualmente científicos que
levem a um porto seguro, ou em outras palavras, utiliza-se de método científico que se vale de
passos e de etapas precisos para a sua implementação: após realizado o diagnóstico (coleta de
informações) do desempenho do aluno parte para o prognóstico (conclusões) e tomada de
decisões que visem à sustentação do bom desempenho do aluno ou a retomada para o retorno
ao desempenho desejado e necessário.
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Avaliação e aprendizagem: pressupostos didáticos, pedagógicos e metodológicos


indissociáveis.

A indissociabilidade entre avaliação e aprendizagem caracteriza fator didático,


pedagógico e metodológico permanente, não permitindo a existência de hiato de tempo entre
os três componentes.
Esse fator indissociável não constitui jogo de palavras, mas comprovada convicção
acadêmica, pelo fato de avaliação e aprendizagem formarem retaguarda e reforço didático,
pedagógico e metodológico consistentes, no sentido de almejar desempenho de muita
qualidade aos estudantes dos diferentes níveis escolares.
Indissociabilidade, aqui no caso, não constitui quebra de individualidade própria de
cada desses elementos, mas, união do compromisso pedagógico e metodológico inerente na
avaliação e na aprendizagem em função da melhoria de desempenho do estudante.
Para Perrenoud (2004, p. 57) existem três condições para aprender: situações não-
ameaçadoras, situações mobilizadoras e situações sob medida.
O fator indissociável entre avaliação e aprendizagem é tão forte e persistente, quanto o
é entre ensino, pesquisa e extensão. Enquanto o comprometimento entre avaliação e
aprendizagem visualiza bom desempenho do educando em qualquer situação de sua vida,
ensino, pesquisa e extensão conjugam esforços por criação e promoção de novos e renovados
conhecimentos.
Enquanto a “ensinagem” (ação de propiciar a aprendizagem) democratiza acesso a
conhecimentos, a pesquisa viabiliza novos e renovados conhecimentos, enquanto a extensão
coloca à prova real os conhecimentos, com vistas a testar as suas eficiência e eficácia.
Encarando a avaliação igualmente como processo didático em função da
aprendizagem, Rodríguez Diéguez (2001, p. 38) expressa que “a avaliação consiste no
processo e resultado da coleta de informação sobre um aluno ou um grupo de classe com a
finalidade de tomar decisões que afetem as situações de ensino”. Tal posicionamento
enquadra-se no passo a passo didático da aprendizagem.
Nesta mesma linha de pensamento em que a avaliação igualmente forma com a
aprendizagem um pacto didático, Castillo Arredondo (2002, p. 37) defende que:

a avaliação deve permitir, por um lado, a atuação educacional/docente às


características individuais dos alunos ao longo de seu processo de aprendizagem e,
por outro, comprovar e determinar se estes atingiram as finalidades e as metas
educacionais que são o objeto e a razão de ser da atuação educacional.
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Sabe-se que a ação avaliativa inspira e transpira atitude comportamental de mudança


no pensar e no agir didaticamente. Neste sentido, Zabalza (1998, p. 127) defende que “as
atitudes possuem um componente valorativo e constituem a cristalização dos valores
assumidos”. E nessa linha de pensamento, Valls (1993, p. 126) diz que “para entender e
concretizar melhor a avaliação dos procedimentos deve-se buscar um maior consenso entre os
professores”.
Enfatizam De Sordi & Ludke (2009, p. 314) que “avaliar os estudantes e o quanto
aprenderam é atividade inerente ao trabalho docente constituindo parte da cultura escolar já
incorporada pelos alunos e famílias”. Trata-se de atitude didática o trabalho docente de zelar
pela boa aprendizagem dos estudantes.

Avaliação nos níveis escolares: igualdade na concepção, diversidade na implementação.

O objetivo da avaliação de favorecer a aprendizagem dos alunos nos diferentes níveis


escolares é idêntico, ainda que a forma como tal se processa, difere, respeitados os ritmos e as
exigências de aprendizagem que caracterizam cada aluno.
Ainda que a educação infantil não constitua nível escolar formal, como pré-requisito
ao ensino fundamental, ela não deixa de propor à criança formas de aprendizagem e mudança
comportamental no contexto das orientações que recebe dos seus professores.
A lei n. 9394, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, indica que a
educação básica é formada pela educação infantil, pelo ensino fundamental e pelo ensino
médio (BRASIL, 1996). Trata-se da base onde estão assentados os alicerces que dão
sustentação fundamental e promissora às presentes e futuras iniciativas educacionais.
Como já foi anunciado anteriormente, o objetivo da ação avaliativa é idêntica em
todos os níveis escolares: de favorecer a aprendizagem. No entanto, a forma como tal objetivo
se processa com relação aos alunos em cada um desses níveis, varia, respeitados o ritmo e a
exigência de aprendizagem:
a) educação infantil: mesmo não constituindo nível escolar formal, o processo de
avaliação se faz bem presente, com objetivo peculiar e importante em acompanhar
as reações e as iniciativas das crianças, com vistas a lhes prestar as orientações
necessárias de convivência social.
O processo de avaliação na educação infantil compõe-se basicamente das seguintes
variáveis: observação, orientação e acompanhamento.
Observar a criança é:
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 perceber a capacidade de iniciativas que ela toma diante de fatos e acontecimentos


que necessitam de decisões a serem tomadas;
 verificar os tipos de reações que manifesta ante situações simples e embaraçosas;
 prestar atenção ao senso de responsabilidade que demonstra ante fatos que lhe
exigem decisões com relação a direitos e deveres;
 verificar o nível de curiosidade que manifesta na elucidação de dúvidas
relacionadas a fatos e a acontecimentos, bem como ao desvelamento do
significado de conhecimentos.
Orientar a criança é:
 considerar e viabilizar os resultados dos procedimentos elencados na variável
“observar”, quando for o caso;
 colocar à sua disposição atividades que lhe propiciem o desenvolvimento de
criatividade e a capacidade de decisão;
 incentivar desenvolvimento de espírito crítico e reflexivo com vistas à tomada de
decisões próprias;
 levar a perceber e a alargar a visão do mundo social em que vive e da
responsabilidade que lhe cabe em nele conviver.
Acompanhar a criança é:
 mediar o cumprimento dos procedimentos elencados nas variáveis “observar” e
“orientar”.
b) ensino fundamental: formalmente conhecido como primeira etapa da educação
básica, o nível de sua performance condiciona, por extensão, maior ou menor
qualidade aos demais níveis escolares.
Tal fato constitui verdade indesmentível, pois é do nível de consistência dos
conhecimentos e da capacidade de criação, de reflexão e de argumentação firmados no ensino
fundamental que os demais níveis escolares, como ensino médio e educação superior
conseguem se firmar ou não como patamares de sequência lógica de estudos.
O objetivo especial deste nível escolar prima pelo compromisso investigativo do aluno
por novos e renovados conhecimentos, em esforço conjunto com o corpo docente.
A criação e a assimilação de novos conhecimentos não mais constituem tarefa especial
e única do professor, mas, igualmente do aluno, que se torna corresponsável pela boa
qualidade educacional. A função da avaliação, nesse contexto, não é mais ocupar-se em
descobrir sobremaneira se o aluno domina suficiente gama de conhecimentos que compõem
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determinado tema, mas, visualizar os caminhos que ele percorreu para chegar a esse
conhecimento.
Muitas vezes se torna mais importante conhecer os caminhos que o aluno transitou na
busca e na assimilação de conhecimentos que dão sustentação científica a um determinado
tema, do que saber quantos e quais conhecimentos o aluno domina.
Nota-se que no ensino fundamental a avaliação, sempre em função da aprendizagem,
objetiva questionar e sensibilizar o aluno a:
 perceber que em cada nível escolar são muitos os conhecimentos que se
apresentam praticamente prontos, mas que outros tantos necessitam ser elaborados
e/ou reelaborados por ele, sob a orientação docente;
 amadurecer convicção de que formação consistente no ensino fundamental é o
pressuposto primeiro e o mais importante para lograr sucesso nos demais níveis
escolares.
Já se tornou voz quase que geral em meios acadêmicos confiar culpa maior à educação
superior pela reduzida qualidade de desempenho do processo educacional brasileiro,
genericamente, sem que se queira comungar verdadeiramente da convicção de reconhecer de
que tal responsabilidade cabe primeiramente ao fraco desempenho do ensino fundamental.
Veja-se que a própria expressão “ensino fundamental” leva à convicção de esta não ser
apenas a primeira etapa dos níveis escolares do sistema educacional brasileiro, como,
também, a fundamental.
É no ensino fundamental que são buscados e experienciados os primeiros fundamentos
formais de educação para cada brasileiro. E, não sendo tais fundamentos devidamente
consistentes, os níveis escolares subsequentes igualmente sofrerão do mal de inconsistência.
Tem-se por vivência que os níveis escolares que sucedem experiências de ensino
fundamental de insuficiente qualidade educacional, quando bem trabalhados por docentes de
reconhecido bom desempenho, conseguem suprir em parte lacunas deixadas por esse primeiro
nível escolar.
Mesmo assim, tal esforço por suprimento de lacunas deixadas pela então experiência
de ensino fundamental mal sucedida, jamais poderá ser plenamente elevado à categoria de
excelência, pelos seguintes motivos:
 os conteúdos a serem recuperados em outra instância escolar não estarão, naquele
momento, plenamente enquadrados em termos pedagógicos e circunstanciais no
contexto curricular do ensino fundamental;
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 mesmo que recuperados, em parte, tais conteúdos sempre ficarão à margem do


conjunto da formação do aluno, uma vez que se encontrarão descontextualizados
do mapeamento dos principais saberes que compõem o ensino fundamental.
Este entendimento ajuda a explicar a inestimável importância que um ensino
fundamental de boa qualidade tem sobre os demais níveis escolares.
Seguindo esta linha de pensamento, pode-se compreender o ensino fundamental
constituindo a plataforma para os demais níveis escolares, ou mesmo, fazendo-se alusão a
uma casa, poderão as paredes e o telhado estar bem constituídos, mas se o fundamento não
lhes garantir a devida sustentação, estará comprometida a estrutura de toda a edificação.
c) ensino médio: aqui não se trata de somente ser a última etapa da educação básica,
mas, como nível escolar importante no contexto do processo educacional, deveria
constituir a “ponte” que estreita a ligação entre o ensino fundamental e a educação
superior. No entanto, não é bem isso que ocorre, por dois motivos:
 por um lado, o ensino fundamental não lhe consegue legar a devida guarida e
fundamentação pedagógica e científica para cumprir o seu compromisso próprio
como nível escolar; e,
 por outro lado, trata-se de um nível escolar que ainda não conseguiu trilhar o seu
caminho por inteiro para cumprir a sua importante missão de incremento de
educação tecnológica básica, de domínio dos princípios científicos e de formação
pedagógica para fins de passagem qualificada entre o ensino fundamental e a
educação superior; é por este motivo, em especial, que este nível escolar está
merecendo estudos de reformulação em nível nacional.
A esta altura torna-se ainda fácil entender os motivos pelos quais o sistema
educacional brasileiro vem sofrendo de síndrome de baixa qualidade em cadeia: o ensino
fundamental pouca fundamentação básica consegue legar ao ensino médio e este, por sua vez,
contribui com reduzida bagagem tecnológica básica e com precária contribuição pedagógica
para que a educação superior possa desenvolver-se exemplarmente.
São de grande importância os objetivos da avaliação na circunscrição das funções
viabilizadoras de educação tecnológica básica, de domínio dos princípios científicos e de
formação pedagógica. Assim sendo, são essencialmente dois os objetivos da avaliação:
 um, é estar permanentemente atenta para que a aprendizagem de fato aconteça
para todos os envolvidos;
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 outro, é velar para que educação tecnológica básica, domínio dos princípios
científicos e formação pedagógica formem conjunto educacional indissociável.
Ainda que os três objetivos citados sejam de solidária preocupação da avaliação no
conjunto formativo do ensino médio, no entanto, dois deles sugerem especial interesse, ou
seja:
 domínio dos princípios científicos: ainda que o espírito criativo, reflexivo e
científico devam ser desenvolvidos de alguma forma já na educação infantil e no
ensino fundamental, é no ensino médio que tais atitudes devem ser incentivadas
no meio escolar com maior intensidade. O domínio de princípios científicos já
neste nível escolar favorece amplamente elaboração e domínio de conhecimentos
com avançado espírito crítico. Por outro lado, com bom domínio de princípios
científicos o aluno passa com maior propriedade do simples domínio de
conhecimentos para conhecimentos melhor elaborados, com conhecimento de
causa;
 formação pedagógica: normalmente há maior preocupação com formação
pedagógica em cursos de licenciatura, na educação superior. No entanto, tal linha
de pensamento merece sofrer mudança de circunscrição, privilegiando todo o
processo educacional, desde a educação infantil, passando pelos ensinos
fundamental e médio, bem como envolvendo a educação superior.
Dessa forma, percebe-se que os objetivos da avaliação vão muito além da preocupação
em facilitar boa aprendizagem e desempenho a todos os alunos, como, também, em
oportunizar formação pedagógica indistintamente a todos os níveis escolares.
Veja-se que formação pedagógica não deveria ser privilégio unicamente dos cursos de
licenciatura, mas, uma vez que assim é por força de norma educacional vigente, que então lhe
coubesse igualmente beneficiar com intensidades específicas a todos os cursos dos diversos
níveis escolares.
Senão, vejamos que a formação pedagógica envolve interesses com a organização
curricular dos níveis escolares, com a metodologia do seu desenvolvimento e com os
respectivos procedimentos de avaliação da aprendizagem e do desempenho.
A formação pedagógica igualmente manifesta preocupação com a relação teoria e
prática da aprendizagem, bem como procura privilegiar a formação de espírito crítico e
científico, com vistas à elaboração de novos e renovados conhecimentos pelos alunos,
segundo as possibilidades e exigências dos respectivos níveis escolares.
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Variação na assimilação dos efeitos de avaliação pelo aluno

Mesmo que o objetivo da avaliação nos diversos níveis escolares seja idêntico, com
vistas a facilitar o rendimento, o desempenho e a aprendizagem, no entanto, a percepção
funcional e o volume de assimilação desses resultados em cada um desses níveis processa-se
nos alunos com intensidade e valor pedagógico diversos com naturalidade, pelos seguintes
motivos:
 a capacidade de absorção dos resultados de avaliação pelos alunos varia
naturalmente na sequência dos níveis escolares, considerando-se a evolução do
ritmo de aprendizagem;
 o volume dos efeitos de avaliação é assimilado por aluno, segundo o interesse
manifestado por ele com relação a cada conhecimento apreendido.
Em educação não basta ao aluno tomar posse de um grande volume de conhecimentos,
se não souber o que fazer com alguns deles, ou melhor, se perceber que um bom número deles
não possui aplicabilidade.
É nesta instância da aprendizagem que a avaliação igualmente cumpre função
importante, a de levar o aluno a perceber de que se faz sempre mais necessário saber fazer
seleção dos conhecimentos de maior empregabilidade, ante a avalanche de conhecimentos que
se apresenta a cada dia.

Dinâmica de ação simultânea entre aprendizagem e avaliação

Já vai longe o tempo em que se decidia por “agora vou ensinar e depois avaliarei”.
Com a convicção da indissociabilidade pedagógica entre aprendizagem e avaliação, a
ação destes dois componentes educacionais está tão estreitamente comprometida, que a sua
forma de atuação revela-se simultânea.
Por isso mesmo, pode-se afirmar que ensina-se avaliando e avalia-se ensinando. Não
se trata de mero formalismo educacional, mas de dinâmica pedagógica real em que
aprendizagem e avaliação formam um conjunto operacional, cuja ação e efeito são
simultâneos.
Salienta Penna Firme (2010, p. 19) que a “avaliação nos moldes modernos não tem
mais de 30 anos de existência. Nesses 30 anos tivemos crescimento acelerado da avaliação,
que se tornou uma disciplina, uma área de conhecimento. Aliás, que não é nem disciplina, é
transdisciplinar”.
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Da permanente ação vigilante da avaliação em velar por boa aprendizagem, torna-se


fácil entender a supremacia pedagógica daquele dueto educacional (aprendizagem e
avaliação) em comparação com a ação simplesmente verificadora de prova.
Para Luckesi:

usualmente, no presente momento, as escolas e os professores usam como recurso de


uma suposta avaliação as “provas escolares”. Digo “suposta avaliação”, devido ao
fato de que, nas nossas escolas, não praticamos avaliação, mas sim exames. Os
exames são classificatórios e seletivos, portanto, antidemocráticos (2005, p. 37).

Para mais facilmente entender a diferenciação de objetivos e efeitos de avaliação e


prova, possivelmente seja comparando-os entre si:
 enquanto a avaliação transcorre processualmente, ou seja, da mesma forma como
o fermento age na massa sem interrupções, a prova ocorre de forma pontual, de
acordo com a programação regimental e as necessidades detectadas;
 enquanto a avaliação constitui processo de permanente facilitação da
aprendizagem, a prova é pontualmente seletiva, apontando quanto o aluno sabe e
não sabe;
 enquanto por meio da avaliação o aluno aprende a defender e a desenvolver as
suas ideias oral e discursivamente de forma ininterrupta, por meio da prova ele as
defende e desenvolve oral e discursivamente, mas, na eventualidade;
 enquanto a avaliação intensifica empenho por permanente melhoria da
aprendizagem, em que a qualidade sobre o domínio de conhecimentos prevalece
sobre a sua quantidade, a prova não exclui a boa qualidade de pensamento, mas,
não consegue imprimi-la de forma processual, do mesmo modo como ocorre na
avaliação.

Pensando bem, prova ainda tem razão de ser?

Sabendo-se que a avaliação da aprendizagem ocorre de forma processual, com


demonstração sobremaneira qualitativa dos seus resultados, e que a prova acontece de
maneira pontual, quantitativa, com demonstração numérica ou conceitual dos seus resultados,
esta última não tem razão de ser.
A avaliação, por si só, dá conta no desempenho da função de facilitação da
aprendizagem, bem como na identificação dos principais desvios que ocorrem na
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aprendizagem, tendo em vista a tomada de providências para que os mesmos sejam


superados.
No entanto, não é pretensão banir a prova de todo do contexto educacional, mas,
conceder-lhe função colaborativa que, de fato, justifique a sua razão de ser no âmbito da
educação.
A prova poderá exercer excelente colaboração no meio educacional, como, por
exemplo, com relação aos seguintes direcionamentos pedagógicos, contudo, abstendo-se de
concessão de nota ou de conceito no cumprimento de tais iniciativas:
 como pré-teste de plano de estudos que o aluno estabeleceu com relação à
assimilação dos principais conteúdos que dão sustentação a um determinado tema
curricular;
 como fator de incentivo ao aluno para que privilegie a avaliação processual como
principal agente de apoio à melhoria da aprendizagem;
 como um dos parâmetros para a constatação de que qualidade e quantidade em
educação podem conviver intercomplementarmente, mas, com reconhecimento
expresso de que o valor pedagógico da primeira sempre sobrepujará o da segunda;
 como na proposição de plano de aula pelo professor;
 como na elaboração de plano nacional, estadual e municipal de educação.
Talvez para reforçar ainda melhor a convicção de que o parco valor pedagógico de
prova escolar em quase nada se aproxima do elevado teor pedagógico de avaliação, quando se
trata de questões educacionais, pode-se equipará-la (a prova) tecnicamente com concurso
público, uma vez que ambos almejam a obtenção de resultados predominantemente
quantitativos, na essência.
Veja-se que tanto prova quanto concurso:
 visam à obtenção de notas ou conceitos pelos interessados, com o fim de serem
submetidos a eventuais procedimentos classificatórios;
 visam, ainda, à demonstração de desempenho a ser transformado em valores
numéricos.
Percebe-se por meio deste ensaio comparativo entre prova e concurso, a grande
distância pedagógica que ambos mantêm de avaliação, que se processa com fins pedagógicos
eminentemente educacionais.
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Avaliação e pesquisa: princípios científicos semelhantes

Metodologicamente avaliação e pesquisa mantêm significativas semelhanças, uma vez


que ambas vão à busca de informações importantes que enriqueçam os respectivos resultados
que se propõem alcançar.
Possivelmente avaliação e pesquisa, juntas, possam ser consideradas as colunas
mestras que dão origem, sustentação e viabilidade ao processo educacional. A orientação de
sua implementação baseia-se em princípios científicos que lhe propiciam a necessária
credibilidade acadêmica.
A similitude metodológica que caracteriza a implementação de ações de avaliação e de
pesquisa permite perceber com significativa clareza o teor científico presente em ambas as
variáveis pedagógicas.
Veja-se, por exemplo, que:
 avaliação e pesquisa vão em busca das melhores informações disponíveis para o
cumprimento dos seus respectivos objetivos; assim, enquanto a avaliação recolhe
e analisa informações a respeito do desempenho do aluno, para reorientá-lo, se
necessário for, a pesquisa coleta e analisa informações com vistas à elaboração de
novos conhecimentos, bem como à atualização e à renovação da “roupagem” de
conhecimentos já existentes;
 avaliação e pesquisa são variáveis educacionais indispensáveis ao progresso das
ciências; enquanto a avaliação almeja que os conhecimentos tomem forma prática
e consistente ao alcance da população, em geral, a pesquisa se esmera para que os
seus resultados possibilitem ciência e tecnologia a serviço de um maior número
possível de pessoas.
Avaliação, pesquisa, ciência e tecnologia são componentes educacionais que revelam
alguma diferença individual na sua forma de atuação, mas, quando considerados no seu
conjunto, visam a beneficiar o homem em sua totalidade e o mundo em que vive.

Considerações finais

O presente trabalho sobre “avaliação para a aprendizagem” como reforço pedagógico


e metodológico na educação básica permite apontar diversas variáveis positivas que decorrem
tanto do processo de avaliação da aprendizagem em si, bem somo da estreita interação entre
avaliação e aprendizagem. O resultado positivo maior que decorre da relação entre avaliação e
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aprendizagem por certo cria visibilidade efetiva no conhecimento que se torna explícito e
acessível.
Entre as variáveis que, talvez, mais contribuem para essa positividade pedagógica
educacional sejam as a seguir referenciadas.
Primeiramente parte-se da defesa de que avaliação e aprendizagem constituem
pressupostos pedagógicos indissociáveis. Além do mais, ainda que cada nível escolar seja
desenvolvido com base em conteúdos específicos, o objetivo de avaliação é idêntico: facilitar
a aprendizagem.
Outro fator importante a ser observado é o da diversificação dos tempos para a
assimilação dos efeitos da avaliação tanto de um para outro nível, bem como entre alunos de
um mesmo nível escolar.
Sabe-se que avaliação como processo e prova nunca tiveram convivência pedagógica
tranquila com vistas ao fomento da educação também como processo. Por isso mesmo é posta
em causa a permanência de prova no rol dos componentes pedagógicos que favorecem
diretamente a aprendizagem.
Por fim, são justapostas avaliação e pesquisa como varáveis educativas que se
manifestam por meio de princípios científicos semelhantes no favorecimento de
aprendizagem e na busca de novos e renovados conhecimentos, respectivamente.

REFERÊNCIAS

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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 07 abr. 2015.

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<http://www.luckesi.com.br/textos/entrevista_%20sec_est_edu_ba_2005.doc>. Acesso em:
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