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Design

Thinking
pela experiência dos especialistas ingleses
Gavin Ambrose e Paul Harris, e brasileiros Luis Alt e Bianca Martins

Começamos com os autores do livro Design Thinking, sétimo da coleção “Design


básico” (hotsite.artmed.com.br/designbasico), lançado este ano no Brasil pela
Bookman Editora (www.bookman.com.br), que concederam uma entrevista
exclusiva para a revista Wide. Em seguida, o sócio-diretor da live|work, Luis Alt, e
a coordenadora do MBA em Design Estratégico do Infnet, Bianca Martins, falam
sobre a metodologia e o impacto dela no Brasil.

Gavin Ambrose
Designer gráfico, nascido no Reino Unido e Master of Arts pela
Central St Martins (www.csm.arts.ac.uk).

Paul Harris
Escritor e editor freelancer, nascido em
Londres e pós-graduado em Printing &
Publishing pela London College of Printing Extras no eReader
(www.lcc.arts.ac.uk). Clique aqui para ler as primeiras páginas do livro
Design Thinking, de Gavin Ambrose e Paul Harris

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tecnologia ENTREVISTA

WIDE Como surgiu o Design Thinking?


GAVIN Para mim, o Design Thinking foi formalizado pela primeira
vez nas obras de Saul Bass (saulbass.tv), Ivan Chermayeff (www.
ivanchermayeff.com), Seymour Chwast (www.pushpininc.com) e
em alguns grupos de design, como Trickett and Webb, hoje Webb
and Webb (www.webbandwebb.co.uk), e Pentagram (www.penta-
gram.com). Todas essas pessoas foram, sem dúvida, influenciadas
pelo dadaísmo, surrealismo e pelas obras de René Magritte (www.
magritte.com) ou mesmo pelo construtivismo e outras disciplinas,
como poesia concreta. Acho que há uma ligação entre eles; todos
são artistas muito competentes, então suas ideias foram dissemi-
nadas. Outra grande influência, para muitos estudantes, foi o livro
Ways of seeing, de John Berger (www.johnberger.org). Hoje parece
óbvio, mas, na época, mostrar as diferentes maneiras de ver as coi-
sas, diferentes significados e códigos, foi bastante surpreendente.
Livro Design Thinking,
E isso acontece muitas vezes no design. Os designers acham que de Gavin Ambrose e Paul Harris
estão transmitindo uma mensagem, mas o público pode interpre-
tá-la de uma forma completamente imprevisível. Um designer possíveis. A palavra-chave é “pensar” como isso transmite a reali-
pode pensar que está fazendo algo parecer “legal”, enquanto o dade de que o design é um processo. Concordo com Gavin sobre
público pode interpretar o trabalho como arrogante ou exage- muitas vezes as pessoas se concentrarem na criação de artifícios
rado. Atualmente, muitos designers que também têm ideias inte- gráficos em vez de pensar completamente em um projeto. O
ressantes sofrem de uma falta de habilidade em articulá-las. Design Thinking é um processo que tem diferentes etapas, e cada
PAUL O John Berger ter escrito sobre vários aspectos diferentes etapa possui ferramentas distintas para ajudar o designer no
de design gráfico na década passada, quando estávamos focados desenvolvimento de soluções criativas para o problema. O livro
nisso e explorando elementos específicos em livros específicos, é exatamente sobre isso.
foi crucial. Então, nos pareceu natural combinar os elementos GAVIN Decidimos escrever esse título porque percebemos que
individuais em um livro sobre Design Thinking. há muitos livros focados no “olhar” dos designers, em tipografia,
cores, formas, layout etc., mas não há um olhar para os “pensa-
WIDE Como o Design Thinking se tornou parte da sua vida? Em mentos” e “conceitos” do design. Exemplos disso são todas as
quais projetos você tem aplicado o Design Thinking e onde busca minhas grandes influências, como Bob Gill (www.bobgilletc.com),
referências? em seu livro Graphic design as a second language, que é sobre
GAVIN Na faculdade e nos primeiros contatos de trabalho. Tenho ideias. O trabalho dele nesse livro é ótimo, muito bem executado,
me dedicado em alguns livros e trabalhos promocionais para mas ainda sem aquele “polimento”. Ele pensou sobre o problema
o Alan Fletcher (www.alanfletcherdesign.co.uk) e para o Morag e ofereceu uma resposta. Outro livro-chave que sempre volto a
Myerscough (www.studiomyerscough.com). Ambos têm uma olhar é o Smile in the mind, de Beryl McAlhone e David Stuart.
maneira de enxergar as coisas de um modo que talvez você nunca Eles também se basearam em ideias, apesar de se aprofunda-
teria visto. É importante que você questione o que está fazendo, rem na arte do design. Há outras ótimas referências, como The
em vez de apenas produzir mais design. Tenho me interessado art of looking sideways, de Alan Fletcher, e os livros de Edward
muito também pelos designers contemporâneos, da Europa de Bono (www.edwdebono.com), em particular seu contexto de
Central, como, por exemplo, o sérvio Slavimir Stojanovic (www. Lateral Thinking e Vertical Thinking.
slavimir.com). O trabalho dele tem uma liberdade e um humor que
muitas vezes falta no design. É inteligente, envolvente e não lhe WIDE Quais são as grandes diferenças entre o design tradicional e o
aliena. Ele diverte, mas também lhe desafia. Design Thinking?
PAUL O Design Thinking visa encontrar uma solução adequada
WIDE Por que vocês decidiram escrever o livro Basic design: Design para um problema, um processo que em geral começa com o
Thinking? trabalho de achar qual é realmente o problema. Sempre volta a
PAUL Gavin e eu começamos escrevendo livros sobre design questão do porquê de você achar que precisa do que você acha
gráfico em 2002, pois percebemos que muitos livros disponí- que precisa. A questão é: O que você finalmente está tentando
veis na época eram bastante focados na teoria sem o elemento alcançar?
visual, ou no elemento visual sem a teoria. Nossos livros sempre GAVIN Para mim, design é arte, e isso é ótimo. Projetar é controlar
tiveram um equilíbrio maior, com mais prática, usando melhor o tipos, ser preciso e intencional com cores e imagens. Trata-se de
elemento visual para mostrar a teoria. O livro Design Thinking foi ser capaz de selecionar trabalhos e estilos e, finalmente, ser capaz
um projeto interessante porque ele realmente nos deu a oportu- de entregar algo, seja um cartão de visitas ou um site. É sobre O
nidade de explorar diferentes formas de gerar soluções para pro- QUE você está fazendo. O Design Thinking, em contraste, é sobre
blemas e apresentá-las como uma gama de diferentes abordagens o PORQUÊ de você estar fazendo. Muitas vezes, o cliente dirá:

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tecnologia

“Preciso de um novo site”, mas seria mesmo esse o caso? Nem daquilo que ele inicialmente pensava que precisava. O Design
sempre. Às vezes, o que ele realmente precisa é repensar o que Thinking procura identificar isso para dar ao cliente o que ele
está fazendo, em vez de refazer coisas repetidamente, tentando realmente precisa. É como o que o Gavin criou para a Eric Parry
manter o design. Hoje, isso é particularmente interessante devido Architects. Ele questionou o que a empresa queria alcançar com
às mudanças na tecnologia. Acabamos de desenvolver um site um folder e achou que a melhor maneira de fazer aquilo seria via
para a Eric Parry Architects (www.epawestminster.co.uk) que con- website com pequenos filmes. Quantos designers teriam apenas
tém uma série de filmes. Ele foi feito dessa maneira em vez de criado os folhetos — como inicialmente solicitado pelo cliente — e
produzir uma espécie de folder, como o cliente havia pedido. É teriam falhado em atender à real necessidade do cliente?
simplesmente uma forma de repensar a forma como você está se
comunicando com as pessoas, e o que você está dizendo. WIDE Quando uma agência recebe um projeto para lançar um ser-
viço, como ela deve começar a aplicar a metodologia do Design
WIDE O design é baseado em pesquisas para oferecer um produto Thinking no desenvolvimento?
que atenda às necessidades de seus consumidores. Então, de que PAUL Conversando com o cliente. Obtendo qualquer informa-
forma o Design Thinking é inovador em comparação com o método ção relevante e realmente o entendendo, para, então, ser capaz
tradicional de design? de apresentar o que ele acha que seria o objetivo final do projeto.
GAVIN O pensamento imaginativo não é uma resposta às neces-
sidades de um produto, ele é o produto, é o questionamento de WIDE Em sua opinião, qual deve ser a principal característica de um
um produto. Isso é visível no design de embalagens, em que mui- design thinker?
tos produtos são essencialmente os mesmos. Por exemplo: Qual GAVIN Não pensar que se sabe a resposta para tudo.
é a diferença entre uma garrafa de água mineral e outra? Muito PAUL Tenha uma mente aberta para não tomar conclusões pre-
pouca, provavelmente. Então, a embalagem é onde o pensa- cipitadas. Foque em gerar muitas ideias, mesmo que elas pare-
mento e a inovação estão. çam “loucas” inicialmente. “Loucura” pode ser a solução, a que
PAUL O que um cliente realmente “precisa” pode ser um serviço pode vencer o jogo, e esse é um dos princípios do processo de
em vez de um produto, ou qualquer coisa que seja diferente brainstorming.

Esse diagrama lhe força a tentar compreender a síntese, os requisitos, e ter um conjunto lógico de etapas a
serem seguidas. Os passos estão brevemente explicados a seguir.

WIDE O Design Thinking propõe alguns passos a serem seguidos? 3 Idealizar é a etapa em que as motivações e as necessidades
Quais seriam estes passos? do usuário final são identificadas e as ideias, que geralmente
GAVIN Para alguns estudantes e praticantes, sim, existem fases podem ser definidas por meio de um brainstorming, são gera-
estritas a seguir. Para outros, esse não é o caso. Mas, acredito no das para atendê-lo;
argumento de pensar o design como uma disciplina pragmática.
Isso quer dizer que existem ferramentas que você pode aplicar 4 A prototipagem tenta resolver ou trabalhar essas ideias, que são
para facilitar o pensamento. Existem várias abordagens para isso, apresentadas para a análise de um grupo de usuários e das partes
mas um dos caminhos é pensar no processo de design como interessadas, antes de serem apresentas para o cliente;
sendo feito em sete etapas:
5 A seleção revê as soluções propostas contra o objetivo do pro-
1 Primeiramente, precisam ser definidos o problema do projeto jeto. Algumas soluções podem ser práticas. Ideias poderosas pare-
e o público-alvo. Um entendimento preciso do problema e suas cem mais arriscadas, mas podem ser as mais bem-sucedidas;
restrições permitem soluções mais precisas a serem desenvolvi-
das. Esta etapa determina o que é necessário para que o projeto 6 A implementação é o desenvolvimento do projeto e a sua
seja bem-sucedido; entrega final para o cliente;

2 A fase de pesquisa coleta opiniões sobre o problema do pro- 7 A aprendizagem ajuda os designers a melhorarem seus desempe-
jeto. São pesquisas com o usuário final e entrevistas com líde- nhos, e, então, a empresa deve procurar os clientes para obter o fee-
res de opinião, as quais geram a identificação de potenciais dback do público-alvo e determinar se a solução atingiu as metas.
obstáculos; Isso pode identificar melhorias que podem ser aplicadas no futuro.

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tecnologia

serviços que utilizou — quem sabe até na última hora. Estamos


em um novo mundo de possibilidades, e levar soluções inteligen-
tes a um mercado competitivo e que sejam realmente feitas para

Luis Alt serem (bem) utilizadas nunca foi tão importante.


Você deve estar se perguntando: “E o que o Design Thinking
Engenheiro de produção e de-
tem a ver com tudo isso?”. Tudo. O Design Thinking parte do
signer. Sócio-diretor da live|work
(www.liveworkbrazil.com),
princípio que, sempre que se inicia um projeto, a primeira e
consultoria global de inovação mais fundamental tarefa é entender as pessoas. Quais as neces-
em serviços, e cofundador do primeiro curso de Design Thinking da sidades dos meus clientes? Quais as barreiras de uso ou adoção
América Latina, na ESPM (www.espm.br) de São Paulo. do meu produto ou serviço? Como eu faço para tornar a jor-
nada desses meus usuários o mais agradável possível? Como
eu me torno relevante para essas pessoas; ou melhor, o que é
Empatia, colaboração e experimentação relevante para elas? Mas não paramos aí. Tão ou mais impor-
Design Thinking não é exatamente algo novo. Cunhado no tante do que conhecer a fundo as pessoas que utilizarão deter-
começo dos anos 1990, a abordagem tem ganhado cada vez mais minado serviço ou produto é conhecer quem será responsável
atenção no cenário nacional e internacional, tendo sido destaque por entregá-lo. Um balconista em uma loja, um assistente de voo
em grandes publicações de negócios, como as revistas Harvest em uma linha aérea, um agente de atendimento telefônico. Ter
Business Review e Fast Company, nos últimos anos. Popularizado uma noção clara de como é o trabalho dessas pessoas e envol-
recentemente graças à consultoria americana IDEO, o termo vem vê-las na criação de novas propostas é fundamental. Afinal de
crescendo e cada vez mais vemos grandes empresas mundo contas, as pessoas que estão diariamente em contato com os
afora procurando incorporar aos seus processos esse olhar cen- clientes e, principalmente, com os processos de que chamamos
trado no ser humano que a abordagem defende. Aqui no Brasil “linha de frente” de um serviço sabem melhor do que ninguém
não é diferente e temos gigantes do setor bancário — como Itaú o que funciona e o que está definitivamente errado. Elas sabem
e Bradesco — utilizando metodologias de inovação baseadas nos o que causa desconforto para as pessoas que utilizam um pro-
três pilares fundamentais do Design Thinking: empatia, colabo- duto ou serviço e, sobretudo, quais processos existem apenas
ração e experimentação. Pequenas e médias empresas também para gerar custos e atrapalhar o desempenho de sua função. Ao
têm se interessado pelo assunto e incorporado essas lentes para envolver esses dois lados — clientes e prestadores — na criação
levar ao mercado produtos e serviços mais inteligentes e real- de algo novo, garantimos não apenas algo melhor para todos,
mente pensados para as pessoas. Deixo aqui, então, minha per- mas uma solução com maior probabilidade de aceitação, até
gunta inicial: Por que isso tem acontecido? E por que tudo isso porque ela foi criada por elas e para elas.
parece que tem acontecido tão de repente em nosso país? Um problema que muitas empresas enfrentam ao criar novos
A primeira constatação a que podemos chegar, dado o cená- processos, por exemplo, é a dificuldade no treinamento e na
rio aqui exposto, é que vivemos em um mundo no qual cada vez adoção por parte dos funcionários que deverão desempenhar
as coisas são supostamente mais fáceis graças a novas formas de essas novas funções, utilizar os novos sistemas. Agora, imagine
comunicação e ferramentas que possibilitam a simples imple- que esse usuário esteve envolvido desde o começo no desen-
mentação de soluções que, até pouco tempo atrás, eram inima- volvimento dessa solução. Ele não apenas estará satisfeito com o
gináveis. No entanto, todos esses avanços tecnológicos não têm resultado, ele será um incentivador da adoção da nova forma de
sido realmente utilizados para o benefício das pessoas que estão fazer. E esse é um ponto fundamental do qual o Design Thinking
do outro lado do balcão, os clientes. E o que temos cada vez mais parte. Entender e envolver as pessoas. Isso é Design Thinking. Ser
é uma complexidade absurda para fazer coisas que antes eram mais empático. Ser mais colaborativo.
bastante simples. É a evolução pela evolução. Vemos novas tec- Outro aspecto importante dessa abordagem é a experimentação.
nologias facilitando os processos das empresas e dificultando Os negócios precisam ser mais rápidos para colocar novas solu-
as jornadas dos usuários. Isso acontece porque a maioria dos ções no mercado e ser, também, mais assertivo com suas inova-
produtos e serviços atuais são construídos de fora para dentro, ções. Uma inovação cega, ou seja, aquele projeto que só é testado
por pessoas que nem sequer saem de suas salas e muito menos em sua fase final ou quando já está disponível no mercado, é uma
se colocam no lugar dos clientes, que, no final das contas, são os roleta-russa, algo muito pouco inteligente a ser feito e que pode
que pagarão e utilizarão o serviço. Fica claro que as coisas não
estão funcionando quando, por exemplo, queremos ligar para
nossa empresa de telefonia móvel pedindo um simples ajuste de “Tão ou mais importante do que
endereço ou quando precisamos acessar nosso banco pela inter-
net e não conseguimos graças a alguma atualização no sistema
conhecer a fundo as pessoas que
de segurança que acaba de se tornar incompatível com nosso utilizarão determinado serviço ou
computador. Todos nós, em algum momento, nos vemos nesse
tipo de situação e, tenho certeza absoluta, cada um de vocês que
produto é conhecer quem será
agora lê este texto tem algum relato de péssimos produtos ou responsável por entregá-lo”
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significar muito dinheiro jogado fora. Vemos todos os dias novos trazer essas pessoas para nos ajudar a testar as soluções, dizer o
produtos, serviços, modelos de negócio sendo lançados no que funciona e o que não funciona, mesmo que essa apresenta-
mercado como “inovação”, para depois de alguns meses serem ção seja feita de maneira muito rudimentar ainda. O que importa
tachados como fiascos. Exemplos não faltam. Mas por que esse é que estamos no começo do processo, e as opiniões dessas pes-
tipo de coisa acontece e ninguém faz nada para impedir? A res- soas nos ajudarão a entender comportamentos que comumente
posta é simples. A maioria das empresas ao desenvolver novas acabam por mudar o rumo do projeto.
soluções concentra-se tanto em seu processo interno de desen- O Design Thinking não é uma nova religião ou algo que veio
volvimento que, quando a nova “solução” está quase pronta, já se para substituir tudo o que já existe. Certamente não é a única
gastou muito dinheiro para não lançá-la no mercado. Alguns tes- forma de fazer as coisas e trazer resultados para as empresas.
tes são feitos nessa fase final e, muitas vezes, preparados para que Comprovadamente, várias empresas que não usam a aborda-
sejam intencionalmente aprovados e “voilá”. Eis que surge uma gem deram e continuam dando certo. O que o Design Thinking
nova proposta de serviço ou produto neste mercado saturado de traz como grande diferencial é a garantia de que o resultado do
soluções inúteis e de péssimo funcionamento. processo de criação de um serviço ou produto será muito mais
A abordagem do Design Thinking nos obriga a estar constan- desejável para quem o utiliza e sempre chegará ao seu final
temente tentando visualizar e testar novas ideias, quando ainda com a garantia de que será possível de ser implementado e com
estão em fase inicial. Esses protótipos, muitas vezes feitos com enormes chances de ser financeiramente viável. Quando que
papel, bonecos de brinquedo e massa de modelar, nos servem ser mais empático, colaborativo e disposto a experimentar dei-
para entender como a solução poderá se materializar, qual a jor- xou de ajudar na hora de criar soluções relevantes para o con-
nada que desejamos para esse novo produto ou serviço e, tam- sumidor? Por isso, apesar de parecer novo, o Design Thinking é
bém, pensar se a forma proposta está adequada ao que entende- apenas um termo que une essa mentalidade e ajuda empresas a
mos que seria desejável para aquelas pessoas que comentei no se tornarem protagonistas na cabeça das pessoas com soluções
começo deste texto. Muitas vezes, o que fazemos é exatamente melhores e mais criativas.

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precisamos projetar para além de um produto ou comunicação:


projetamos um momento, uma situação com duração no tempo/
espaço onde nosso usuário interage com o artefato explorando
significações e construindo impressões e conhecimentos em
uma sutil sintonia.

Bianca Martins Com isso, a própria abordagem de problemas se alterou em


direção à ressignificação e à aproximação do Design Participativo.
Coordenadora do MBA em Design
Chega-se a questionar qual é o limite da abrangência dos conhe-
Estratégico do Infnet (www.infnet.
edu.br), no Rio de Janeiro. Mestre
cimentos e da atuação do designer. É possível aplicar metodo-
em Design pela PUC-Rio, especia- logias do design à resolução de qualquer problema projetual?
lista em Ensino-aprendizagem das Artes Visuais pela Universidade Recentemente, é comum ver abordagens próprias do design
de Sevilla (Espanha) e graduada em Design pela UFRJ. sendo aplicadas e até mesmo descritas por profissionais de outras
áreas, como finanças, gestão de empresas, esporte, dentre outros.
O que se plasmou como o conceito de Design Thinking — concep-
Mudam os comportamentos, surgem novos ção do design que privilegia a sustentabilidade, o relacionamento
questionamentos entre atores de um projeto, pensamento abdutivo e integrativo
Parece inegável que durante as últimas décadas o design gráfico e autenticidade projetual, e a percepção de que design é uma
tenha conseguido se consolidar perante a sociedade brasileira metodologia cujo ponto central é a intenção de transformar uma
como fator que proporciona eficiência à comunicação, caracteri- realidade existente em uma realidade desejada — vem trazendo
zando-se como um diferencial competitivo entre empresas. certo frescor aos princípios da profissão: parece que uma grande
Nos últimos anos, acompanhamos o desdobrar de novas parte de profissionais de outras áreas passa a compreender que,
abordagens profissionais e acadêmicas sobre práticas do muito além de um resultado, design é um processo. Será que,
design influenciadas pelas mudanças de comportamento em finalmente, não mais precisaremos de um prólogo para discutir
face aos imperativos da vida contemporânea. Atualmente, em nossa atuação?
qualquer área do conhecimento, a preocupação com a temá- Não existe nada de novo na abordagem chamada Design
tica ambiental e com a manutenção da qualidade e da longevi- Thinking senão a percepção de que mudam os comportamentos,
dade da vida humana no planeta estão presentes em conver- surgem novos questionamentos. É uma abordagem que traz con-
sas prosaicas, como também perpassam os fundamentos de sigo o embrião do Design Social lançado por Victor Papanek que,
diversas pesquisas acadêmicas. Do mesmo modo, o avanço das na década de 1970, já anunciava certa distorção nas diretrizes da
tecnologias e dos meios de comunicação alterou certos traços profissão. Já era hora de utilizar os conhecimentos adquiridos
de nosso comportamento profissional e pessoal, possibilitando para o desenvolvimento de produtos e serviços com um foco
enriquecedoras experiências de colaboração, interatividade e mais relevante para a sociedade: as metodologias do design pode-
mais autonomia para uma participação ativa na construção de riam ser utilizadas na abordagem de problemas de saúde pública,
conhecimentos e/ou projetos que integrem pessoas dos lugares educação, transportes e tantas outras.
mais diversos e distantes.
Percebemos, paulatinamente, a valorização de processos de
comunicação em rede — mais dialógicos e interativos — e identifi-
camos que vêm sendo enfatizados tanto o estudo dos processos “Não existe nada de novo na
de recepção de mensagens como, ainda, a construção de sentido abordagem chamada Design Thinking
por parte dos sujeitos. Como exemplo da segunda, é possível citar
que se valoriza a aprendizagem colaborativa e procura-se enten-
senão a percepção de que mudam
der o que o sujeito já traz consigo como saber, e o professor passa os comportamentos, surgem novos
a ser um parceiro que mostra caminhos e incentiva a construção questionamentos”
de conhecimentos.
Nessa conjuntura, a própria função do designer no processo
produtivo pode ser discutida e ressignificada, aproximando-a ao
Design Participativo. Partindo da premissa de que ele é o profissio-
nal responsável por adequar o projeto visando a eficiência, fun-
cionalidade, produção em larga escala e rentabilidade, hoje sua
função assume maior complexidade. A percepção de que os arte-
fatos são portadores de significados que dialogam com públicos
específicos denota responsabilidade em realizar, com eficiência,
esse aporte de significações. Faz-se necessário conhecer profun- Confira alguns estudos de caso em
damente traços da cognição e das expectativas desse público, www.revistawide.com.br/CasesDesignThinking.pdf
as nuances de seus comportamentos e atitudes. Atualmente,

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