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O DIREITO CHINÊS

A concepção da ordem social sustentada pela tradição da China, e que se desenvolveu longe
de qualquer influencia estrangeira até o século XIX, difere totalmente da concepção ocidental.

As leis não constituem um meio normal de regular os conflitos entre os homens. A aversão pelo
direito deve-se a diferentes fatores, entre os quais figura em primeiro lugar a má organização.
Desta forma, a solução dada deve, em qualquer ocasião, ser conforme, independentemente de
um esquema jurídico, à equidade e ao sentimento de humanidade: as perdas e os danos, deste
modo, devem ser tais que o seu pagamento não prejudique o autor do fato danoso e não o
reduza, e à sua família, à miséria.

O tipo de sociedade que se procurou realizar e manter na China durante séculos foi aquele que
o confucionismo propunha. A célula de base era constituída pela família, organizada
hierarquicamente sob a autoridade quase absoluta do chefe de família. As coletividades
públicas e o próprio Estado eram concebidos sobre o modelo da família e evitavam imiscuir-se
no largo domínio reservado àquela. Nesta concepção essencialmente estática da sociedade, a
ideia de piedade filial, a de submissão aos superiores hierárquicos, a interdição de qualquer
excesso e de qualquer revolta eram os princípios básicos.

O ideal de uma sociedade sem direito pôde parecer posto em causa pela Revolução de 1911.
Aparentemente, o direito chinês foi, assim, europeizado e integrou-se na família de direitos
resultantes do direito romano. Assim, Códigos e leis apenas eram aplicados na China na
medida da sua conformidade ao consenso popular da equidade e das conveniências. A prática
ignorava-os quando eles atentavam contra a tradição.

Como na China tradicional, muitas das questões que seriam no Ocidente levadas aos tribunais
continuam a ser resolvidas, na China comunista, em um nível pré-judiciário.As sanções do
direito não devem ser aplicadas àqueles que, apesar das suas possíveis faltas, continuam a ser
bons cidadãos.

Tal como as leis, também não existe, na China, jurisprudência: poucos acórdãos do Supremo
Tribunal foram publicados e a noção de precedentes obrigatórios é desconhecida. Não existe
também doutrina.

Em 1954, constitui-se na China, no domínio das relações do comércio internacional, uma


Comissão de Arbitragem do Comércio Internacional, no seio do Conselho Chinês para a
Expansão do Comércio Internacional. Também nesse âmbito predomina a tradição chinesa;
procura-se a conciliação, e ninguém se resigna ao insucesso que representaria a aplicação do
direito. O próprio teor dos contratos concluídos e a incerteza do direito aplicável quanto ao
fundo suprimem, na verdade, em larga medida, na nossa matéria, as fronteiras, sempre
delicadas de traçar, entre a arbitragem e a conciliação; permanece, contudo, uma diferença
muito importante aos olhos dos chineses: o litígio é resolvido por um acordo concluído entre as
partes; a sua solução não resulta de uma sentença pronunciada pela autoridade do arbitro.

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