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Teixeira MG Et Al. Vigilância em Saúde No SUS - Construção, Efeitos e Perspectivas. Ciência Saúde Coletiva, 23 (6) 1811-1818, 2018
Teixeira MG Et Al. Vigilância em Saúde No SUS - Construção, Efeitos e Perspectivas. Ciência Saúde Coletiva, 23 (6) 1811-1818, 2018
09032018 1811
ARTIGO ARTICLE
Health surveillance at the SUS:
development, effects and perspectives
Abstract This article analyses the process of con- Resumo Este artigo analisa o processo de cons-
struction of Health Surveillance in Brazil con- trução da Vigilância em Saúde/VS no Brasil abor-
cerning the political, historical and organization- dando o contexto político, histórico e organizacio-
al context of this component of the Unified Health nal deste componente do Sistema Único de Saúde,
System (UHS), by means of its historical view por meio do resgate histórico e apresentação dos
and presentation of the advances, limits, setbacks avanços, limites, retrocessos e perspectivas. Ao
and perspectives. Throughout trajectory of Health longo da trajetória da VS, seus objetos de estudo
Surveillance, its objects of study and intervention e intervenção vêm se ampliando, fortalecendo a
have been expanded, strengthening the integra- integração entre as diversas áreas da vigilância,
tion among the different areas of surveillance, aumentando sua capacidade de predição e inter-
increasing its capacity for prediction and inter- venção. Evoluiu-se da vigilância das pessoas, para
vention. It evolved from surveillance of people, to a das doenças e agora para a de riscos à saúde. A
surveillance of diseases and now to surveillance of convocação da 1ª Conferência Nacional de Vigi-
health risks, promoting greater articulation of HS lância em Saúde, a ser realizada em 2018, oportu-
professionals with agents of endemics and Fami- niza revisão e formulação de proposições voltadas
ly Health Teams. The first National Health Sur- para o fortalecimento da VS, expansão do seu es-
veillance Conference, in February 2018, provided copo de ações e busca de alternativas adequadas e
opportunities for discussion and formulation of arrojadas, que garantam que a nova modalidade
1
Instituto de Saúde proposals aimed at strengthening HS, expand- de financiamento do SUS aprovada em 2017, de
Coletiva, Universidade ing its scope of actions with a view to achieving a fato, venha reforçar os avanços conquistados por
Federal da Bahia. R. Basílio comprehensive care model. Adequate and auda- este no campo da Saúde Coletiva.
da Gama s/n, Canela. 40110-
040 Salvador BA Brasil. cious alternatives are necessary so that there are Palavras-chave Vigilância em saúde, Vigilância
magloria@ufba.br no setbacks in the financing modalities in order em saúde pública, Sistema Único de Saúde, Brasil
2
Instituto Sul Americano de to maintain and expand the advances achieved in
Governo em Saúde. Rio de
Janeiro RJ Brasil. the field of Health Surveillance in Brazil.
3
Centro de Integração de Key words Health surveillance, Public health
Dados e Conhecimentos surveillance, Unified Health System, Brazil
para Saúde, Instituto
Gonçalo Moniz, Fiocruz.
Salvador BA Brasil.
4
Núcleo de Medicina
Tropical, Universidade de
Brasília. Brasília DF Brasil.
1812
Teixeira MG et al.
Ainda neste Seminário, foi aprovada a redefi- Assim, o componente de vigilância no SUS foi
nição das atribuições e estrutura do Cenepi que paulatinamente aprimorando seu desempenho e
tinha como objetivo alargar o escopo de atuação passando a ser reconhecido por organismos in-
deste Centro. Para tal, foram criadas três Uni- ternacionais, como uma experiência exitosa a ser
dades (Vigilância Epidemiológica, Unidade de considerada por outros países. Este avanço tor-
Informação e Vigilância da Situação de Saúde, nou-se possível porque, desde os primeiros anos
Unidade de Apoio ao Desenvolvimento da Epi- de sua fundação, o Cenepi como órgão central
demiologia no SUS), com a missão de contribuir de coordenação do SNVE, foi estabelecendo a
para o processo de descentralização e expandir cultura de trabalho conjunto, na perspectiva de
os objetos de interesse para além da vigilância de construção de um sistema em rede interligado e
doenças transmissíveis, incluindo a elaboração de transversal, tendo sido importante a participação
políticas e planos de ação visando reduzir riscos da comunidade acadêmica de epidemiologistas,
sobre outros problemas de saúde, a exemplo das em particular da Comissão de Epidemiologia da
doenças crônicas não transmissíveis, violências, Associação Brasileira de Saúde Coletiva/Abras-
saúde do trabalhador, etc.13. Em 1994, foi instituí- co15. Os resultados deste movimento podem ser
da a 1ª Comissão interinstitucional de epidemio- evidenciados pela construção, informatização e
logia14, que originou o atual Grupo de Trabalho disponibilidade de grandes bases de dados nacio-
de Vigilância em Saúde (GTVS), que assessora a nais de base epidemiológica (SIM, SINASC, SI-
Comissão Intergestores Tripartite (CIT). NAN, entre outros) que alavancou a produção de
Valendo-se das ferramentas computacionais, análises epidemiológicas sobre a situação de saú-
o Cenepi engendrou esforços para a construção de da população mais desagregadas e mais pró-
de novos sistemas de informações epidemiológi- ximas da realidade; a constituição da Rede Na-
cas, tendo como base o município. E assim nasce- cional de Informação para a Saúde-RNIS e Rede
ram os sistemas de base epidemiológica, Sistema Interagencial de Informações para a Saúde-RIP-
de Informação de Nascidos Vivos (SINASC) e o SA; a ampla capacitação de recursos humanos em
Sistema de Informação de Agravos de Notificação várias modalidades (atualização, especialização e
(SINAN), e foi aperfeiçoado o Sistema de Infor- mestrado profissional); e, o apoio à pesquisa es-
mação de Mortalidade (SIM). Por meio de convê- tratégica para o SUS, cujos resultados passaram a
nios com as Universidades e outras Instituições ser considerados na definição de algumas políti-
Públicas, foram sendo realizadas capacitações cas e intervenções públicas15.
para profissionais de saúde de todo o país. Os
conteúdos dos cursos eram afetos ao campo da Sistema Nacional de Vigilância em Saúde
vigilância, tais como epidemiologia voltada aos
serviços de saúde, uso de software para análises O protagonismo do Cenepi, Conass e Co-
epidemiológicas, implantação e manuseio dos nasems foi essencial no sentido de se proceder
novos sistemas de informação de base epidemio- à descentralização das ações de epidemiologia,
lógica nas SES e SMS, vigilância epidemiológica, que culminou em um exaustivo processo de ne-
análises de situação de saúde, dentre outros. gociação na Comissão Intergestores Tripartide
Durante toda a década de 1990, muitas difi- (CIT) e que gerou a Portaria 1399/99 -Minis-
culdades foram enfrentadas, especialmente aque- tério da Saúde, estabelecendo as atribuições de
las devidas à: a) modalidade de transferência de cada esfera de governo na área de epidemiolo-
recursos para as ações de epidemiologia na rede gia e definindo a sistemática de financiamento
de serviços que eram financiadas por meio de fundo-a-fundo para Estados e Municípios, em
convênios burocráticos firmados entre a Funasa acordo com o Teto Financeiro de Epidemiologia
e as SES e SMS, com prazos pré-estabelecidos, o e Controle de Doenças (TFECD); o elenco míni-
que muitas vezes resultavam em interrupção de mo de ações de vigilância e controle de doenças
ações e atividades que deveriam ser contínuas; b) a ser desenvolvidas por estas esferas de gestão do
ao grande atraso na transferência de reponsabi- SUS, que deveriam ser expressas na Programação
lidades e de servidores da Funasa para as SES e Pactuada Integrada de Epidemiologias e Con-
SMS11,12, como preconiza a Lei9 e a Constituição. trole de Doenças (PPI-ECD)16. Esta modalidade
No que pese estes obstáculos, muitos avanços fo- transferiu para estados e municípios do país as
ram imprimidos na conformação e atuação do responsabilidades e competências relativas ao de-
SNVE, na disseminação do uso da epidemiologia senvolvimento das ações de epidemiologia, após
nos serviços de saúde e, especialmente, na me- comprovação das exigências mínimas (técnicas e
lhoria de alguns indicadores de saúde da popu- operacionais) para obtenção da certificação para
lação brasileira. gestão das ações de epidemiologia e controle de
1815
Colaboradores Referências
MG Teixeira e MCN Costa fizeram a primeira 1. Brasil. Portaria GM No 1.378, de 9 de julho de 2013.
Regulamenta as responsabilidades e define diretrizes
versão do manuscrito; GO Penna fez a revisão e para execução e financiamento das ações de Vigilância
incluiu contribuições; EH Carmo e WK Oliveira em Saúde pela União, Estados, Distrito Federal e Mu-
contribuíram com novas sugestões e inclusões. nicípios, relativos ao Sistema Nacional de Vigilância em
Todos os autores leram e revisaram a versão final. Saúde e Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. Diá-
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Regulamenta a NOB SUS 01/96 no que se refere às to e a transferência dos recursos federais para as ações
competências da União, estados, municípios e Distrito e os serviços públicos de saúde do Sistema Único de
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ças, define a sistemática de financiamento e dá outras 32. Porto FSM. Pode a Vigilância em Saúde ser emancipa-
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Epidemiológica em Âmbito Hospitalar, define compe-
tências para os estabelecimentos hospitalares, a União,
os estados, o Distrito Federal e os municípios, cria a
Rede Nacional de Hospitais de Referência para o refe-
rido Subsistema e define critérios para qualificação de
estabelecimentos. Diário Oficial da União 2004; 23 nov.
19. Brasil. Portaria nº 3252/GM, de 22 de dezembro de
2009. Aprova as diretrizes para execução e financia-
mento das ações de Vigilância em Saúde pela União,
Estados, Distrito Federal e Municípios e dá outras pro-
vidências. Diário Oficial da União 2009; 22 dez. Artigo apresentado em 05/01/2018
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Diário Oficial da União 1975; 30 out. Versão final apresentada em 03/04/2018
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