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HABEAS CORPUS
com pedido de ordem liminar
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Regional Criminal, Unidade Dipo, Av. Dr. Abrahão Ribeiro, nº 313, 2º andar, sala 439, São Paulo – SP.
I - DOS FUNDAMENTOS DE FATO E DE DIREITO
Apó s ser comunicado dos referidos fatos, o nobre Juízo de 1ª Instâ ncia
converteu a prisã o em flagrante em prisã o preventiva, com base, em suma, no argumento
principal de que o paciente teria praticado crime de extrema gravidade, fato este que tornaria
necessá ria a manutençã o da custó dia para garantia da ordem pú blica.
Com efeito, consta dos autos que, na data dos fatos, o paciente estaria parado
em determinada via pú blica, quando fora abordado por agentes policiais, sendo que em sua
posse teriam sido encontrados 44,5 gramas de cocaína.
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24.349/MG, 6ª Turma, Rel. Ministra Jane Silva, já se posicionou nesse sentido, assegurando
como pequena a quantidade 31 (trinta e um) invólucros de maconha, in verbis:
E, em se tratando de usuá rio, na pior das hipó teses, poderia o indiciado estar
incurso no delito previsto no Art. 28 da Lei n.º 11.343/06, cujo rol de penas não inclui a
privaçã o de liberdade, senã o vejamos:
Ressalte-se:
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3. Recurso provido. (STJ. HC 24185/MG – Rel. Min. Jane Silva – Sexta Turma –
DJ: 20/11/2008)
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As nulidades no processo penal, 11ª ed., São Paulo, RT, p. 76.
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b) Da ausência dos requisitos para a manutenção da custódia
Isto porque nã o se pode alegar ser a manutençã o da custó dia necessá ria à
garantia da ordem pú blica, da ordem econô mica, por conveniência da instruçã o criminal, ou
para assegurar a aplicaçã o da lei penal. E a nã o ser que tais critérios estejam demonstrados
pormenorizadamente quando da decretaçã o da prisã o preventiva, nã o se sustentaria a
assunçã o de sua existência pela simples alusã o ao fato típico que está sendo imputado ao
paciente. Nem caberia a esta a comprovaçã o da sua ausência. Nã o se pode inverter a presunçã o
de inocência prevista como princípio constitucional basilar.
No tocante à hipó tese de que deve ser assegurada a aplicação da lei penal,
cumpre ressaltar que o paciente possui residência fixa, conforme afirmou em sede
administrativa, nã o havendo motivos, portanto, para se afirmar que aquele se furtará à
eventual aplicaçã o da lei penal.
Inclusive a pró pria Corte Maior, guardiã de nossa Constituiçã o da Repú blica,
em caso semelhante, já decidiu que a falta de comprovaçã o de residência não é fator
indispensá vel à concessã o de liberdade provisó ria, nos seguintes termos:
Assim:
“Pensa-se, que, para o caso haveria de ser dispensá vel a custó dia preventiva. É
que, o douto Magistrado de origem, para recepcionar pleito de prisã o
preventiva, reportou-se apenas à garantia de ordem pú blica, a conveniência da
instruçã o criminal e a eventual aplicaçã o da lei penal, de maneira
absolutamente genérica. Afinal de contas, não se visualiza, no decisó rio que
deferiu a prisã o preventiva, fundamentaçã o adequada para a grave restriçã o
de liberdade. Fala-se em garantia da ordem pública, conveniência de
instrução criminal e aplicação da lei penal, sem se gastar uma linha
sequer para esclarecer a motivação, na exata diretriz da norma do artigo
312 do código de Processo Penal.”
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“A Turma concedeu a ordem de habeas corpus a paciente condenado pelo
delito de trá fico de entorpecentes a fim de garantir-lhe a possibilidade de
substituiçã o da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos, conforme
orientaçã o adotada pelo STF no HC 97.256-RS, julgado em 1º/9/2010, que
declarou a inconstitucionalidade dos arts. 33, § 4º, e 44 da Lei n. 11.343/2006”.
(HC 163.233-SP, Rel. Min. Napoleã o Nunes Maia Filho, julgado em 28/9/2010,
publicado no informativo 449, STJ, de 27 de setembro a 1º de outubro de
2010). (Grifou-se.)
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“Art. 33. (...)
Isso quer dizer que nem com eventual sentença o paciente, primá rio, terá sua
segregaçã o social decretada - revela, portanto, verdadeiro contrassenso a sua prisã o
processual, já que, nem ao fim será encarcerado.
Foi percebendo tal absurdo que o legislador editou a Lei 12.403/2011, que
altera, em parte, o Có digo de Processo Penal, especialmente no que se refere à prisã o
processual, fiança, liberdade provisó ria e outras medidas cautelares.
Com efeito, a lei 12.403/11, cujo propó sito principal é tentar corrigir os
excessivos e abusivos decretos de prisã o preventiva, encampou a idéia de que a prisã o, antes
do trâ nsito em julgado da sentença condenató ria, deve ser reservada à s situaçõ es em que, de
fato e devidamente comprovado e fundamentando, nã o for possível a substituiçã o por outra
medida cautelar, medidas estas previstas, agora, no artigo 319 do Có digo de Processo Penal.
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Ainda, de acordo com o jurista Luiz Flá vio Gomes, a prisã o preventiva nã o é
apenas a ultima ratio. Ela é a extrema ratio da ultima ratio. A regra é a liberdade; a exceçã o sã o
as cautelares restritivas da liberdade (art. 319, CPP). (Prisã o e Medidas cautelares –
Comentá rios à Lei 12.403/2011. Sã o Paulo: RT, 2011.)
Fernando Pereira Neto, por seu turno, traçando críticas positivas à nova lei,
afirma: “O que faz a nova lei, em apertada síntese, é simplesmente efetivar o tão badalado
princípio da presunção de inocência consagrado em nossa Constituição. A reforma da Lei
12.403 elimina a péssima cultura judicial do país de prender cautelarmente os que são
presumidos inocentes pela Constituição Federal, tendo como base, única e exclusivamente,
a opinião subjetiva do julgador a respeito da gravidade do fato.” (FERNANDO PEREIRA
NETO, http://rionf.com.br/archives/1187). (g.n.).
Por fim, imperioso observar que a vedaçã o imposta pelo art. 44 da Lei nº
11.343/06 nã o é também fundamento suficiente para se negar a liberdade provisó ria ao
paciente. Vem se entendendo continuamente, tanto em doutrina quanto em jurisprudência,
que o supracitado dispositivo feriria patentemente a presunçã o de inocência, a garantia do
devido processo legal e o pró prio princípio da proporcionalidade, consagrados na Constituiçã o
Federal Aliá s, vale mencionar recente julgado do STF, em que o Ministro Celso de Mello
reconhece a inconstitucionalidade da norma em questã o:
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Med. Caut. em HC 96.715-9/SP
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de não-culpabilidade. Precedentes. Da mesma forma, a invocação da
repercussão social do delito não se presta para a justificação da
constrição cautelar, sob pena de antecipação do cumprimento da
reprimenda, vedada pelo ordenamento jurídico pátrio notadamente
quando a quantidade de drogas encontrada em poder dos agentes não se
mostra expressiva. Precedentes. Unicamente a vedação legal contida no
artigo 44 da Lei 11.343/2006 é insuficiente para o indeferimento da
liberdade provisória, notadamente em face da edição da Lei
11.464/2007, posterior e geral em relação a todo e qualquer crime
hediondo e/ou assemelhado. Precedentes. Dado provimento ao recurso para
deferir ao recorrente os benefícios da liberdade provisó ria” (STJ – 6ª T. – RHC
24.349 – rel. Jane Silva – j. 11.11.2008 – DJU 01.12.2008)
Neste sentido3:
“O relator do caso, ministro Gilmar Mendes, afirmou em seu voto que a regra
prevista na lei ‘é incompatível com o princípio constitucional da
presunção de inocência e do devido processo legal, dentre outros
princípios’.
O ministro afirmou ainda que, ao afastar a concessã o de liberdade provisó ria
de forma genérica, a norma retira do juiz competente a oportunidade de, no
caso concreto, ‘analisar os pressupostos da necessidade do cá rcere cautelar em
inequívoca antecipaçã o de pena, indo de encontro a diversos dispositivos
constitucionais’.
Segundo ele, a lei estabelece um tipo de regime de prisã o preventiva
obrigató rio, na medida em que torna a prisã o uma regra e a liberdade uma
exceçã o. O ministro lembrou que a Constituiçã o Federal de 1988 instituiu um
novo regime no qual a liberdade é a regra e a prisã o exige comprovaçã o
devidamente fundamentada.
Nesse sentido, o ministro Gilmar Mendes indicou que o caput do artigo 44
da Lei de Drogas deveria ser considerado inconstitucional, por ter sido
editado em sentido contrá rio à Constituiçã o. Por fim, destacou que o pedido de
liberdade do acusado deve ser analisado novamente pelo juiz, mas, desta vez,
com base nos requisitos previstos no artigo 312 do Có digo de Processo Penal”.
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Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=207130, acesso 11/05/2012.
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Presentes, portanto, os requisitos autorizadores da medida liminar.
III. Do Pedido
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