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O Luto Nas Diferentes Etapas Do Desenvolvimento Humano: Jessica Silveira Ana Almeida
O Luto Nas Diferentes Etapas Do Desenvolvimento Humano: Jessica Silveira Ana Almeida
Rayssa Rocha
UNAMA
10.37885/200700788
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre o impacto do luto
nas diferentes faixas etárias do desenvolvimento humano, sendo infância, adolescência,
adultez e velhice. Para isto foi realizado um levantamento de estudos publicados nas
bases de dados PePSIC e SciELO, entre os anos de 2006 e 2017. Os principais resultados
encontrados mostraram que o fenômeno luto é um processo ontológico e intransponível,
com nuances próprias a cada indivíduo, não sendo possível apontar uma etapa na qual o
impacto do luto seja mais intenso em detrimento de outras. Assim, concluiu-se que cada
pessoa lida com esse processo e seus significantes de modo único, de acordo com sua
história de vida e como foram elaboradas as perdas desde o seu nascimento.
Para melhor compreender a definição de luto, deve-se pensar na ideia de perda. Este proces-
so não está relacionado somente ao falecimento de uma pessoa, mas ao desligamento de algo ou
alguém que tenha valor afetivo ao sujeito. Muitos autores ocuparam-se em estudar o luto, e nos dias
atuais percebe-se uma pluralidade de manejos para melhor intervir e explicar, em uma perspectiva
ampla, abrangendo diversas abordagens na área da psicologia.
Um dos pioneiros no estudo do luto é Sigmund Freud. Na obra Luto e Melancolia, publicada
em 1917, o luto é definido como uma reação à perda de um ente querido, entendido como objeto no
qual houve investimento libidinal. Já para Worden (2013), o luto é classificado como um processo
universal resultante da perda de um objeto de apego, que produz diversos sentimentos e compor-
tamentos voltados ao restabelecimento da relação com o objeto perdido, como também é presente
em animais. Basso e Wainer (2011) salientam que o luto é um processo inevitável. A perda de algo
pode gerar no ser humano vários sentimentos. Os autores ainda abordam que a morte é um evento
que provoca sofrimento e diversas alterações, como: “(...) psicológicas, fisiológicas, comportamentais
bem como alterações no contexto social em que o enlutado está inserido” (p.42).
Simão et al. (2016, p. 70) afirma que segundo Heidegger (1989, 1989, 2000) o ser humano
está sempre procurando algo além de si mesmo. Heidegger afirma ainda que somos um ser que se
projeta para fora, objetivando o eu naquilo que ainda não é (devir existencial), submersos no mun-
do, do mundo e com o mundo, onde o eu e o mundo são completamente inseparáveis. Heidegger
salienta o sentimento da angústia no ser-para-a-morte, um movimento de inquietação produzido
pela percepção da terminalidade, da finitude, causando a sensação de completa desvalia (SIMÃO
et al. 2016, p. 71 apud HEIDEGGER,1989, 1989, 2000). Parkes (2009), em perspectiva semelhante
à de Worden (2013), afirma que “[...] para a maioria das pessoas, o amor é a fonte de prazer mais
profunda na vida, ao passo que a perda daqueles que amamos é a mais profunda fonte de dor.
Portanto, amor e perda são duas faces da mesma moeda” (p. 11).
A partir destas perspectivas, é possível inferir que um indivíduo pode estar enlutado pela perda
de uma pessoa, um emprego ou uma mudança de casa ou cidade. Diante dessa quebra de vínculo,
consequentemente será exigido uma reorganização gradual da vida do sujeito, a qual será experien-
ciada diversas reações consideradas integrantes do processo de luto (FUJISAKA, KOVÁCS, 2011).
O luto apresenta seus “sintomas” não apenas psicologicamente, mas em todos os aspectos da
vida do sujeito, afetando-o, inclusive, fisicamente. Diante disso, algumas pessoas, ao se depararem
com esse momento, preferem omiti- lo (negar a experiência).
O processo de luto deve ser vivenciado, por mais doloroso que possa ser, pois é através dele
que o indivíduo entra em contato com sua nova realidade sem a pessoa ou coisa amada. É nesse
processo que a vida se ressignifica, assumindo novos objetivos. Ele deve ser visto como cura. Tor-
res et al. (1990, p. 36) assegura que o importante neste processo é se permitir sofrer porque isto é
• A raiva: O fato da morte ser irreversível e não ser possível fazer nada para mudar
a situação causa angústia junto com uma carga emocional muito forte. O pensa-
mento de ‘por que a mim?’ surge nesta fase, como também sentimentos de inveja,
raiva e ressentimento. Essas emoções são projetadas para o ambiente externo e
relacionamentos, procurando sempre culpar algo ou alguém (exemplo: ‘’o médico
devia ter passado mais exames’’, ‘’ não deveria ter permitido que saísse de casa
naquele dia’’, etc.)
• A aceitação: Nesta fase a pessoa lida com a perda através de sentimentos de paz
e serenidade, sem desespero e negação. As emoções não estão mais tão à flor
da pele e a pessoa se prontifica a enfrentar a situação com consciência das suas
possibilidades e limitações.
Para Kübler-Ross (1998), nem todas as pessoas passam por estes estágios e algumas podem
passar por eles em sequência diferente, oscilando entre raiva e depressão, ou podem sentir ambas
ao mesmo tempo. As fases do luto não possuem um tempo pré-definido para acontecerem, pois
Portanto, ressalta-se que a experiência do luto é vivida de forma singular, levando em con-
sideração que cada pessoa sofre de uma maneira diferente. Considerando que é imprescindível
compreender o impacto de uma perda significativa no desenvolvimento humano, este trabalho teve
como objetivo compreender o luto nos quatro principais ciclos do desenvolvimento humano: Infância,
Adolescência; Adultez; Velhice.
Infância
Adolescência
Adultez
Na adultez Segundo Bee (1997), a fase jovem-adulta ocorre por volta dos 20 anos, com o final
Velhice
DISCUSSÃO
Observou-se que a temática morte e o luto são fenômenos inerentes ao ser humano. Basso e
Wainer (2011) salientam que o luto é um processo inevitável. A perda de alguém gera no ser humano
vários sentimentos. Os autores ainda abordam que a morte é um evento que provoca sofrimento e
diversas alterações, como: “(...) psicológicas, fisiológicas, comportamentais bem como alterações
no contexto social em que o enlutado está inserido” (p.42).
Neste sentido, o luto é vivenciado de forma singular. Cabe destacar que qualquer perda afeta
a todos de forma direta ou indiretamente. Com isso, implica do sujeito a expressão da dor, reco-
nhecendo, ajustamento de novos vínculos diante da perda. Segundo Parkes (1998) o luto normal
é uma resposta saudável a um fator estressante que é a perda significativa de um ente querido.
No que tange as diferentes etapas do desenvolvimento humano chegou-se à conclusão de que a
infância é um período do desenvolvimento humano em que muitas vezes é negada a explicação
acerca da morte, o que pode acarretar em grandes danos para a elaboração do luto pela criança.
Esta, independentemente da idade em que se encontra, necessita do cuidado das pessoas mais
próximas, para que se sinta protegida e, assim, possa construir uma relação terapêutica que vise o
melhor enfrentamento do luto.
Kovács (2002, apud Barbosa et al. 2011, pg 176) afirma que na adolescência, a capacidade
cognitiva é semelhante à do adulto, possibilitando a compreensão dos aspectos de irreversibilida-
de, não funcionalidade e universalidade da morte, tornando-a um evento mais real. Barbosa (2011)
ainda assegura que Kovács (2002) afirma que o adolescente, comumente, encontra-se em uma de
suas melhores condições físicas e cognitivas, ocupando-se em seu universo de descobertas sobre
si mesmo e sobre o mundo, rumo à construção de uma identidade pessoal.
Diante das fases do desenvolvimento humano, na vida adulta, de acordo com Kovács, (2002
apud Barbosa et al. 2011, pg 176) o indivíduo pode passar por crises, como a chamada “crise da
meia-idade”, caracterizada por um período em que vai se conscientizando da inevitabilidade da
CONCLUSÃO
Neste trabalho foi abordada a vivência do luto nas diferentes etapas do desenvolvimento hu-
mano, e conclui-se que não há uma etapa onde o impacto do luto seja mais intenso que em outras,
pois cada uma possui singularidades e especificidades que as diferenciam entre si. A vivência do
luto tem como funcionalidade a readaptação da vida frente as perdas e, sendo estas inerentes à
existência de qualquer sujeito, cada pessoa lida com esse processo de maneira muito individual,
de acordo com sua história de vida e como foram elaboradas as perdas desde o seu nascimento.
Como discorrido ao longo desta pesquisa, o luto é entendido como um processo natural em
virtude do rompimento de um vínculo significativo. Ademais os sentidos, significados, elaborações
e manifestações a respeito da perda, e mesmo acerca da vida e da morte, variam de acordo com
a sociedade e suas respectivas orientações culturais, cosmológicas e religiosas e conforme as cir-
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