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Relativismo epistemológico
Richard Feldman
Tradução de L. H. Marques Segundo
R1. Aquilo que uma pessoa sabe poderia diferir daquilo que outra
pessoa sabe.
R2. Aquilo que uma pessoa sabe num tempo pode diferir daquilo que
ela sabe noutro tempo.
R3. Aquilo que geralmente é conhecido numa sociedade poderia diferir
daquilo que geralmente é conhecido em outra sociedade.
R4. Aquilo que geralmente é conhecido numa sociedade num tempo
poderia diferir daquilo que é geralmente conhecido nessa mesma
sociedade num tempo diferente.
Aceitar (R8) é aceitar uma tese relevante. Talvez seja isso que os
defensores da possibilidade de desacordos razoáveis tenham em
mente. Pois (R8) é uma maneira de dizer “Tenho a minha crença,
você tem a sua, ambos estamos justificados, e as nossas situações
epistêmicas são comparáveis”. Isso permite o desacordo sem que os
discordantes pressuponham estar numa posição superior um em
relação ao outro.
C. Duas objeções
IV. Conclusão
Este capítulo examinou a Perspectiva Relativista e suas implicações.
Mostrou-se difícil formular com exatidão a posição relativista.
Algumas versões da doutrina, tais como (R1)–(R4), dizem meramente
que há diferenças nas coisas conhecidas por diferentes pessoas ou
grupos. Tais versões de relativismo são inteiramente inócuas. Outras
versões, tal como (R5), dizem que há diferenças nos princípios de
raciocínio que as pessoas podem razoavelmente usar.
Adequadamente interpretado, isso é verdadeiro e dificilmente
controverso.
Richard Feldman
Capítulo 9 de Epistemology (Upper Saddle River, NJ: Prentice Hall, 2003), pp.
177–190.
Revisão de Aluízio Couto.
Notas
1. A Perspectiva Padrão na epistemologia é a conjunção de duas teses: (I)
Temos conhecimento sobre uma variedade de coisas: (a) sobre o
ambiente circundante, (b) nossos pensamentos e sentimentos, (c) fatos
comuns sobre o mundo, (d) fatos científicos, (e) outras mentes, (f) o
passado, (g) a matemática, (h) verdades conceituais, (i) moralidade, (j)
futuro e (k) religião; e (II) as fontes primárias do nosso conhecimento
são: (a) a percepção, (b) a memória, (c) o testemunho, (d) a
introspecção, (e) o raciocínio e (f) o insight racional. Parte da
epistemologia tradicional trata de questões relacionadas ao
desenvolvimento da perspectiva padrão, e.g., a natureza do
conhecimento e da justificação, sua estrutura, etc. N. do T. ↩
2. Ao levantar essas questões retornamos à (Q6) do Capítulo 1: “Quais
são as implicações epistemológicas da diversidade cognitiva? Há
padrões universais de racionalidade, aplicáveis a todas as pessoas (ou
a todos os sujeitos pensantes) em qualquer tempo? Sob quais
circunstâncias pessoas racionais podem discordar umas das outras?”.
↩
3. Harvey Siegel, “Relativism”, em Jonathan Dancy and Ernst Sosa (eds.),
A Companion to Epistemology (Oxford: Blackwell, 1992), pp. 428-430.
A citação está nas páginas 428-429. ↩
4. Stephen Stich, “Epistemic Relativism”, Routledge Encyclopedia of
Philosophy Online, (2000). Editor geral: Edward Graig.
http://www.rep.routledge.com. ↩
5. Feldman defende no capítulo 4 que a teoria evidencialista do
conhecimento e da justificação mais promissora é o fundacionismo
modesto, cujas características principais são (i) a exigência de não
mais do que conexões não-dedutivas entre crenças básicas e crenças
não-básicas, (ii) a falibilidade sobre crenças básicas e (iii) a não
exigência de que as crenças básicas sejam crenças sobre estados
internos do sujeito. N. do T. ↩
6. Veja o princípio (ET) no Capítulo 8. ↩
7. Estou grato a Harvey Siegel pelos comentários proveitosos a este
capítulo, e especialmente a esta seção. Para uma excelente discussão
sobre o tópico, veja o seu “Relativsm”, em I. Niniluoto, M. Sintonen e J.
Wolenski (eds.), Handbook of Epsitemology (Dordrecht: Kluwer, 2001).
↩
8. B. Barnes e D. Bloor, “Relativism, Rationality and the Sociology of
Knowledge”, em M. Hollis e S. Lukes (eds.), Rationality and Relativism
(Cambridge, MA: MIT Press, 1982), pp. 27-28. ↩
9. É claro que pode haver uma combinação de fatores que causam a
doença. ↩
10. Alguns relativistas poderiam negar isso. Vimos na Seção II deste
capítulo, junto de (R6), que algumas pessoas defendem que nada é
realmente racional e que há apenas padrões locais sobre a questão.
Um relativista que estendesse esse ponto de vista a outros tópicos
poderia dizer que em todos os aparentes desacordos não há verdade de
fato e, portanto, nenhum desacordo real. ↩
11. Para uma discussão sobre essas questões, veja Philip L. Quinn e Kevin
Meeker (eds.), The Philosophical Challenge of Religious Diversity
(Oxford: Oxford University Press, 2000). ↩
12. Isso não é supor que a crença seja justificada o bastante para satisfazer
uma condição de justificação para o conhecimento. Ela tem algum
status epistêmico mais fraco, porém positivo. ↩
13. Vale notar que a evidência de falhas no estudo concorrente não é
evidência de que a droga X seja eficaz. É, ao invés, evidência que serve
para minar um anulador dessa proposição. O anulador é a informação
original sobre os outros estudos. ↩