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Universidade do Estado de Santa Catarina

Centro de Educação Superior do Oeste


Curso de Engenharia Química

Relatório do experimento de Difusividade Térmica de líquidos1


Bruna Eveling Hochscheidt e Maria Luiza Paganini Maia

RESUMO: A habilidade de um material de conduzir e armazenar energia é conhecida


como difusividade térmica. Quanto maior a difusividade térmica mais rapidamente a
matéria responderá a transferência de calor. O objetivo do presente estudo é a
determinação da difusividade térmica do óleo de soja e do óleo de milho, através de
dados obtidos experimentalmente pela docente da disciplina, para posterior comparação
com dados da literatura. As experiências foram conduzidas por uma faixa de
temperatura de 10 - 45°C e utilizou-se o método de Dickerson (1965). Foram
encontrados os valores de 7,58x10-8 (m²/s) para o óleo de soja e 7,56x10-8 (m²/s) para o
óleo de milho, utilizando cálculos matemáticos e a ferramenta Excel. Os mesmos foram
comparados com a literatura concluindo que a faixa de temperatura é um fator que pode
influenciar diretamente na difusividade térmica do líquido. Não se observa uma
diferença significativa na taxa de aquecimento de ambos, sendo elas 0,0280 (K/s) e
0,0273 (K/s) para óleo de milho e óleo de soja respectivamente. Os resultados obtidos
não apresentam uma boa concordância com os valores disponíveis na literatura.

1. INTRODUÇÃO

Para o projeto de equipamentos de refrigeração, aquecimento e armazenamento de


substâncias ou alimentos é de extrema importância conhecer as propriedades termofísicas do
produto. As propriedades térmicas são de extrema necessidade para a simulação de processos como
congelamento no interior de um alimento, por exemplo, bem como seu aquecimento. Sem o
conhecimento de tais propriedades não seria possível calcular a transferência de calor das
substâncias e consequentemente impossível dimensionar equipamentos (TRES et al., 2011).
A difusividade térmica é conhecida como a habilidade de um material de conduzir e
armazenar energia. Quanto mais alto o valor de difusividade do material mais rapidamente ele
responde a mudanças térmicas e em consequência mais rapidamente alcançará um novo estado de
equilíbrio (INCROPERA E WITT, 2003).

1
Relatório apresentado como requisito parcial de avaliação da Disciplina de Laboratório de
Fenômeno de Transporte e Operações Unitárias A – Professora Heveline Enzweiler – Curso de
Engenharia Química
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Esta propriedade térmica é necessária para a modelagem e cálculos de transferência de


calor transiente em operações como secagem, resfriamento e congelamento. A difusividade térmica
é influenciada diretamente pela quantidade de água presente no material, pela temperatura,
porosidade e pela sua composição. Sabemos que estas características variam de acordo com o
material, portanto o valor de difusividade térmica também varia consideravelmente. Essa variação
se dá também pelo fato de muitos materiais não serem homogêneos e por consequência disso pode
haver variação da distribuição de temperatura de um local para outro dentro do mesmo material
(TRES et al., 2011). Pela difusividade térmica depender da umidade e da temperatura da amostra,
além da composição e porosidade, existe uma grande dificuldade para aproximações matemáticas
por não encontrar tais dados na literatura ou muitas vezes encontrar os valores de difusividade mas
não as condições em que os experimentos foram efetuados (OLIVEIRA, 2009).
Na literatura temos como método mais usual para a determinação da difusividade térmica
em alimentos o método do cilindro infinito, desenvolvido por DICKERSON (1965), que é baseado
na distribuição de calor transiente em que a temperatura da amostra aumenta linearmente com o
tempo.
Neste estudo, a difusividade térmica do óleo de soja e de milho foi estimada através de
dados experimentais obtidos pela professora da disciplina. Foi determinada a temperatura em
relação ao tempo e assim fez-se possível a realização de cálculos para determinar tal propriedade
bem como a elaboração de gráficos para melhor interpretação desta taxa de aquecimento, tendo
como objetivo também a comparação com dados da literatura e verificação da coerência dos
resultados obtidos.

2. METODOLOGIA

Os dados experimentais foram fornecidos aos acadêmicos pela docente. Os valores foram
obtidos experimentalmente seguindo o procedimento descrito em roteiro de aula prática. Utilizou-se
uma proveta de vidro de 50 mL para a colocação da amostra estudada, após, a mesma foi
mergulhada (aproximadamente até o nível de amostra na proveta) em um banho termostático a uma
temperatura baixa com o set point ajustado suficientemente elevado de 70 ºC para que o atuador
haja de forma constante durante o experimento, fazendo com que a temperatura se eleve a uma taxa
também constante. Dois termômetros foram acoplados ao sistema, um na superfície externa da
proveta (entre a parede e a cápsula) e o outro com extremo cuidado no centro do cilindro (proveta).
Ambos foram fixados a uma posição longitudinal igual. Após, iniciou-se o aquecimento do banho.
Monitorou-se as temperaturas até as mesmas se igualarem a do banho termostático (10,1ºC),
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atingido o equilíbrio térmico registrou-se os valores das temperaturas a cada minuto até os mesmos
atingirem aproximadamente 50 ºC.
Para o cálculo da difusividade térmica aplicou-se a equação 1 descrita por (DICKERSON,
1965).

(1)

Calculou-se a difusividade térmica a partir dos pontos que já se encontravam em regime


estacionário, foi utilizado as médias e desvio padrão para a comparação com a literatura. No
presente relatório, estudou-se a difusividade do óleo de soja e óleo de milho.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através de um ajuste de equação linear com base na temperatura externa da proveta em


função do tempo determinou-se a taxa de aquecimento de 0,0280 (K/s) e 0,0273 (K/s) para óleo de
milho e óleo de soja respectivamente.
Plotou-se os gráficos das temperaturas variando com o tempo, no centro e na parede
(externa), para ambas as amostras. Após foi indicado com um traço (em verde) o ponto aproximado
em que se dá o início do regime estacionário, como podemos ver nas figuras 1 e 2.
Figura 1. Gráfico da temperatura versus tempo para o óleo de soja.

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Figura 2. Gráfico da temperatura versus tempo para o óleo de milho.

Como observado na figura 1 após aproximadamente 720 segundos (12 minutos) de


experimento, o óleo de soja atingiu seu regime estacionário tendo uma taxa constante de
aquecimento por tempo. Para o óleo de milho, se atingiu este mesmo estado após 660 segundos (11
minutos) de experimento, aproximadamente.
A partir do ponto em que atinge-se o regime estacionário, calculou-se a difusividade
térmica através da fórmula descrita por (DICKERSON, 1965). Obtém-se então os valores para
difusividade do óleo de soja e de milho apresentados na Tabela 1 a seguir. Calculou-se também o
desvio padrão para ambos os ensaios, onde para o óleo de soja obteve-se o valor de 4,13x10-9 e para
o óleo de milho 6,836x10-9.

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Tabela 1. Resultados quantitativos obtidos para Óleo de Soja e Óleo de Milho comparados
com a literatura.

Amostra Difusividade Faixa de Observações do Fonte


térmica temperatura (°C) experimento

Óleo de soja 7,58x10-8 10 - 45 Conforme Este trabalho


procedimento
descrito por
Dickerson (1965)

Óleo de milho 7,56x10-8 10 - 45 Conforme Este trabalho


procedimento
descrito por
Dickerson (1965)

Óleo de soja 1,32x10-5 25 - 55 Conforme (TRES et al.,


procedimento 2011)
descrito por
Dickerson (1965)

Óleo de milho 1,00x10-4 20 - 70 Conforme (BROCK et al.,


procedimento 2008)
descrito por
Dickerson (1965)

Óleo de Soja 1,00x10-4 - Conforme (ARAUJO, 2008)


procedimento
descrito por
Dickerson (1965)

Podemos observar uma diferença significativa ao comparar os valores de difusividade


térmica determinados neste estudo em relação a dados apresentados na literatura. A faixa de
temperatura influencia diretamente no resultado obtido. É possível observar que quanto maior a
faixa de temperatura aplicada ao experimento, menor será a difusividade, ou seja, há uma maior
demora para o material responder a variação da temperatura. Neste estudo a temperatura inicial de
10°C é relativamente baixa em comparação com as temperaturas utilizadas nos experimentos de
comparação, este pode ser o fator que explica esta diferença de resultados.
Como citado anteriormente a difusividade térmica depende da temperatura entre outras
características e isso comprova-se ao observar que a diferença da faixa de temperatura ocasiona
uma difusividade térmica diferente mesmo sendo um produto muito semelhante. A difusividade
térmica é uma propriedade do material que se relaciona diretamente com o calor transiente,
representa a velocidade com que o calor se difunde através do material, portanto, pode ser entendida

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como a razão entre o calor conduzido através do material e o calor armazenado por unidade de
volume.

4. CONCLUSÃO

O método utilizado para a determinação da difusividade é confiável e muito utilizado, com


isso conclui-se que a variação da faixa de temperatura em que realiza-se o experimento influencia
grandemente no resultado obtido, tendo em vista a grande diferença dos resultados obtidos
experimentalmente neste estudo quando comparados com os resultados obtidos na literatura,
levando em consideração que a temperatura inicial difere mais de 10°C.
Comparando, por exemplo, o resultado de difusividade térmica obtido através deste estudo
temos 7,58x10-8 m²/s em uma faixa de temperatura de 10-40°C e do estudo realizado por TRES,
2011 1,32x10-5 m²/s em uma faixa de temperatura de 20-55°C pode-se perceber uma diferença
significativa no resultado e acredita-se que isto tenha ocorrido em consequência da diferente faixa
de aplicação do experimento. Levando em conta não encontrar dados nesta mesma faixa de
temperatura podemos assumir essa diferença na faixa de temperatura mas, pode também estar
relacionado a erros experimentais.
O objetivo do estudo foi alcançado com êxito pois permitiu a determinação da difusividade
térmica dos óleos de milho e de soja, comprovando a importância de uma boa faixa de aplicação
experimental.

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5. REFERÊNCIAS

ARAUJO, Lícia Amazonas de. ESTUDO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS,


QUÍMICAS E TERMOFÍSICAS DE ÓLEOS REGIONAIS E SUAS MISTURAS. 2008. 127 f.
Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Programa de
Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal do Pará, Belém,
2008.
BROCK, Josiane et al. Determinação experimental da viscosidade e condutividade térmica
de óleos vegetais. Ciência e Tecnologia de Alimentos, [S.L.], v. 28, n. 3, p. 564-570, set. 2008.
FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0101-20612008000300010.
CARBONERA, Leonardo et al. Determinação Experimental da Difusividade Térmica de
uma Massa de Tomate Comercial. Brazilian Journal. Florianopolis, p. 285-290. dez. 2013.
INCROPERA, F. P., DeWITT, D. P. Fundamentos de Transferência de Calor e Massa. 5ª
edição, LTC - Livros Técnicos e Científicos S.A., Rio de Janeiro, Brasil, 2003.
MONTORO, Dr Sérgio R, ENGENHARIA FÍSICA FENÔMENOS DE TRANSPORTE B,
p. 51, .
SAWADA, Lidia. DETERMINAÇÃO DA DIFUSIVIDADE TÉRMICA DE
CRISTAIS DE BaUF. PURO E DOPADO. 2000. 81 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestre
em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear-Aplicações, Instituto de Pesquisas Energéticas e
Nucleares Ipen - Cnen / Sp, São Paulo, 2000.
TRES, M. V., BORGES, G. R., CORAZZA, M. L., ZAKRZEVSKI, C. A. Determinação
da difusividade térmica de alimentos: medidas experimentais e simulação numérica. Perspectiva, v.
35, p. 43-56, 2011.
OLIVEIRA, Edilma Pereira. ESTIMAÇÃO DA DIFUSIVIDADE TÉRMICA DE
IOGURTES COMERCIAIS: aplicação do método flash. 2009. 120 f. Dissertação (Mestrado) -
Curso de Engenharia Mecânica, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009. Disponível
em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/tede/5326/1/arquivototal.pdf. Acesso em: 12 jul.
2021.

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6. APÊNDICES

6.1 Simbologia
∝ = Difusividade Térmica;
A = Coeficiente Angular;
R = Raio;
Ts = Temperatura de Externa;
Tc = Temperatura Interna;

6.2 Material suplementar

Dados experimentais e resultados.


Amostra 1 - Óleo de Soja Amostra 2 - Óleo de Milho difusividade difusividade
óleo de soja óleo de
(m^2/s) milho
Tempo T T Tempo T T
(m^2/s)
(s) (interna) (externa) (s) (interna) (externa)
(K) (K) (K) (K)

0 283,25 283,25 0 283,25 283,25 * *

60 283,35 285,75 60 283,45 285,35 * *

120 283,65 287,55 120 283,65 287,25 * *

180 284,25 289,45 180 284,25 289,25 * *

240 285,25 291,25 240 285,15 291,05 * *

300 286,65 293,05 300 286,55 292,95 * *

360 288,15 294,85 360 288,05 294,75 * *

420 289,75 296,65 420 289,55 296,55 * *

480 291,25 298,35 480 291,05 298,25 * *

540 292,45 300,05 540 292,55 300,35 * *

600 293,65 301,75 600 293,65 301,75 * *

660 294,55 303,35 660 294,85 303,55 * 9,49224E-08

720 295,45 304,95 720 295,75 305,25 8,69289E-08 8,69289E-08

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780 296,75 306,65 780 296,95 306,85 8,34167E-08 8,34167E-08

840 298,15 308,45 840 298,35 308,55 8,01772E-08 8,09632E-08

900 299,45 309,95 900 299,75 310,35 7,865E-08 7,7908E-08

960 300,85 311,65 960 301,15 312,05 7,64653E-08 7,57638E-08

1020 302,25 313,25 1020 302,65 313,65 7,5075E-08 7,5075E-08

1080 303,75 314,85 1080 304,05 315,35 7,43986E-08 7,30819E-08

1140 305,25 316,35 1140 305,65 316,95 7,43986E-08 7,30819E-08

1200 306,75 317,95 1200 307,05 318,45 7,37344E-08 7,24408E-08

1260 308,25 319,45 1260 308,55 320,05 7,37344E-08 7,18109E-08

1320 309,75 320,95 1320 310,05 321,65 7,37344E-08 7,11918E-08

1380 311,25 322,45 1380 311,55 323,15 7,37344E-08 7,11918E-08

1440 312,65 323,95 1440 313,05 324,65 7,30819E-08 7,11918E-08

1500 314,05 325,25 1500 314,45 326,05 7,37344E-08 7,11918E-08

1560 315,45 326,75 1560 315,85 327,55 7,30819E-08 7,05833E-08

1620 316,75 328,05 1620 317,25 328,95 7,30819E-08 7,05833E-08

1680 318,15 329,65 1680 318,55 330,35 7,18109E-08 6,99852E-08

média 7,58376E-08 7,56285E-08

DP 4,13395E-09 6,83326E-09

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Figura 3. Gráfico da taxa de aquecimento do óleo de milho.

Figura 4. Gráfico da taxa de aquecimento do óleo de soja.

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6.3 Problemas propostos

a) A geometria de cilindro infinito foi utilizada para encontrar a solução analítica da


equação diferencial do balanço de energia. Quais as características principais da transferência de
calor nesta geometria?
A transferência de calor por condução nesta geometria se dá de forma radial, ou seja, das
paredes para o centro, sem variação longitudinal. Sendo assim, quando mais próximo a parede do
cilindro mais próximo da temperatura externa o material vai estar em um intervalo de tempo menor.

b) Na sua opinião quais são as principais fontes de erro experimental encontradas? O que
poderia ser feito para reduzi-las?
Os erros experimentais podem estar relacionados a problemas com os equipamentos
utilizados como termômetros, o banho termostático, em relação ao seu mau uso ou não estarem
devidamente calibrados. Também a forma como as medidas de temperatura foram obtidas, já que
não se sabe ao certo se o termômetro estava posicionado no local onde expressa a difusividade de
forma mais precisa e homogênea. Outro fator que pode influenciar e ocasionar um erro é que nem
todo o cilindro (proveta) estava imerso no banho e não estava com a superfície superior tampada,
ocasionando assim uma transferência térmica e mássica indesejada para o ambiente. Para não
reduzir tais erros aconselha-se o cuidado com o manuseio dos equipamentos, seguir as etapas do
procedimento de tal forma que os efeitos das variações inerentes sejam reduzidos, ter conhecimento
da variedade de erros e suas origens para poder prevê-los e corrigi-los.

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