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Brasília, como outras cidades, registra casos daqueles que matam por ciúme a pessoa amada e cometem suicídio
Com crescimento desenfreado da população e com a urbanização feita de maneira caótica, novas doenças como o estresse
e a depressão passaram a fazer parte do rol dos grandes males que afligem as pessoas. Um dos piores frutos dessa
combinação moderna e perigosa é o crescimento do número de casos de obsessão, que nada mais é que o
aprisionamento do outro como um objeto de desejo incondicional.
Um dos sintomas da obsessão pode ser identificado pelos noticiários quando se vê casos de assassinatos entre
casais, ex-namorados ou amores platônicos desgovernados. E então, onde termina o amor e tem início o desejo insano?
O segurança Márcio Rogério Moreira dos Santos, que matou a ex-companheira, Márcia Martins Mascarenhas, e o
namorado dela, José Batista Pereira Caputo, na quarta, 9, e que suicidou-se no dia seguinte é exemplo de como o
amor pode transmutar-se e evidenciar seu lado possessivo e louco.
“A obsessão é um doença que faz com que a pessoa tome conta da vida do outro como se fosse a própria vida
dela, sem se preencher com nada mais. Amigos, diversão, família, trabalho. Nada disso importa para a quem é
obsessivo. Ela só vê a pessoa desejada”, explica a psicóloga Sheyla Aguiar.
De acordo com terapeutas, um dos pensamentos que está na origem dos crimes passionais é o que faz pensar que
pode-se ter tudo e todas coisas. Tal possessividade torna-se tão comum e aceita que, sem perceber, invade a relação
amorosa. Portanto, o amor excessivo a uma pessoa pode ser a capa de uma camuflagem perfeita que vira perseguição
neurótica, típica de alguém que não admite o fim da relação.
Outro motivo que causa obsessão é a grande pressão sofrida pelas pessoas por parte da família, mídia e amigos para
que tenham vida perfeita, bem-sucedida e feliz. Esse quadro provoca a perda de identidade própria e as pessoas ficam
perdidas num mundo de fantasias e, muitas vezes, tornam-se verdadeiras armas ambulantes.
A saída para o problema, de acordo com a psicóloga Lívia Borges, passa, necessariamente, por tratamento, que, inclusive
pode incluir a vítima da pessoa obsessiva.
“Alguém que sofre com o desejo insano de uma pessoa deve insistir para que ela se trate. Isso é fundamental.
Caso a sugestão para procurar uma psicoterapia individual não seja aceita, pode, então, fazer terapia grupal, incluindo
mesmo a pessoa desejada. Desta forma, o obsessivo pode, finalmente, reconhecer que tem a doença, o que é a porta
da cura”.
Se tais estratégias não derem certo, a saída está na Justiça. Entretanto, pequena parte desses casos chega às vias
judiciais para obrigar o paciente a submeter-se a tratamento.
Para alguns psicanalistas, terapeutas e advogados das vítimas desses tipos de crimes, o Estado deveria estar mais
preparado para julgar os casos e até mesmo intervir mais rápido.
Entre as providências que o Judiciário pode tomar está a interdição judicial da pessoa obsessiva. Com isso, ela é
considerada como doente mental e é obrigada a internar-se em manicômio para uma avaliação psiquiátrica.
Nas delegacias ou até mesmo na justiça muitas situações ficam paradas por anos à espera de audiência para tentar
resolver o assunto, mas, devido à burocracia dos tribunais e à falta de lei específica, a espera, mesmo com a recomendação
da sentença da justiça em relação ao tratamento do réu, acaba não passando da boa vontade do paciente para se tratar.