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PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO

Em um sistema produtivo, ao serem definidas suas metas e estratégias, faz-se necessário formular planos para atingi-Ias, administrar os
recursos humanos e físicos com base nesses planos, direcionar a ação dos recursos humanos sobre os físicos e acompanhar esta ação,
permitindo a correção de prováveis desvios. No conjunto de funções dos sistemas de produção aqui descritos, essas atividades são
desenvolvidas pelo Planejamento e Controle da Produção (PCP).

Normalmente, as atividades de PCP são desenvolvidas por um departamento de apoio a Produção, dentro da gerência industrial, que leva seu
nome. Como departamento de apoio, o PCP é responsável pela coordenação e aplicação dos recursos produtivos de forma a atender da melhor
maneira possível aos planos estabelecidos em níveis estratégico, tático e operacional.

Para atingir seus objetivos, o PCP administra informações vindas de diversas áreas do sistema produtivo. Da Engenharia do Produto são
necessárias informações contidas nas listas de materiais e desenhos técnicos, da Engenharia do Processo os roteiros de fabricação e os lead
times, no Marketing buscam-se os planos de vendas e pedidos firmes, a Manutenção fornece os planos de manutenção, Compras/Suprimentos
informa as entradas e saídas dos materiais em estoques, dos Recursos Humanos são necessários os programas de treinamento, Finanças
fornece o plano de investimentos e o fluxo de caixa, entre outros relacionamentos. Como desempenha uma função de coordenação de apoio ao
sistema produtivo, o PCP de forma direta, como as relações citadas dentro do parágrafo com os demais setores, ou de forma indireta,
relaciona-se praticamente com todas as funções deste sistema.

As atividades do PCP são exercidas nos três níveis hierárquicos de planejamento e controle das atividades produtivas de um sistema de
produção. No nível estratégico, onde são definidas as políticas estratégicas de longo prazo da empresa, o PCP participa da formulação do
Planejamento Estratégico da Produção, gerando um Plano de Produção. No nível tático, onde são estabelecidos os planos de médio prazo para
a produção, o PCP desenvolve o Planejamento-mestre da Produção, obtendo o Planomestre de Produção (PMP). No nível operacional, onde são
preparados os programas de curto prazo de produção e realizado o acompanhamento dos mesmos, o PCP prepara a Programação da Produção
administrando estoques, seqüenciando, emitindo e liberando as Ordens de Compras, Fabricação e Montagem, bem como executa o
Acompanhamento e Controle da Produção. Uma visão geral do inter-relacionamento das atividades do PCP é apresentada na Figura 1.5.

As informações dentro desses três níveis devem estar consolidadas, ou seja, o Plano-mestre de Produção gerado pelo Planejamento-mestre da
Produção só será viável se estiver compatível com as decisões tomadas a longo prazo, previstas no Planejamento Estratégico da Produção,
como a aquisição de equipamentos, negociação com fornecedores etc. Da mesma forma, a programação de fabricação de determinado
componente será efetivada de forma eficiente se a capacidade produtiva do setor responsável pela mesma tiver sido equacionada no
Planejamento-mestre da Produção, com a definição do número de turnos, recursos humanos e materiais alocados etc.

Uma questão importante na definição das atividades do PCP diz respeito aos horizontes de planejamento e programação da produção. Qual o
período de abrangência do longo, médio e curto prazo? Não existe um padrão, porém pode-se afirmar que os horizontes dependerão da
flexibilidade do sistema produtivo. Para aquelas empresas que conseguirem resolver melhor seus problemas de coordenação entre demanda e
produção, os períodos serão menores, já para as empresas com baixa flexibilidade de resposta às variações da demanda, os horizontes de
planejamento serão mais longos e as decisões serão tomadas com maior antecedência, aumentando a probabilidade de ocorrer problemas.
A seguir, será feita uma breve descrição das atividades desenvolvidas pelo PCP, que no decorrer dos capítulos futuros serão pormenorizadas.

Planejamento Estratégico da Produção: consiste em estabelecer um Plano de Produção para determinado período (longo prazo) segundo
as estimativas de vendas e a disponibilidade de recursos financeiros e produtivos. A estimativa de vendas serve para prever os tipos e
quantidades de produtos que se espera vender no horizonte de planejamento estabelecido. A capacidade de produção é o fator físico limitante
do processo produtivo, e pode ser incrementada ou reduzida, desde que planejada a tempo, pela adição de recursos financeiros. No
Planejamento Estratégico da Produção o Plano de Produção gerado é pouco detalhado, normalmente trabalha com famílias de produtos, tendo
como finalidade possibilitar a adequação dos recursos produtivos à demanda esperada dos mesmos.

Planejamento-mestre da Produção: consiste em estabelecer um Plano-mestre de Produção (PMP) de produtos finais, detalhado a médio
prazo, período a período, a partir do Plano de Produção, com base nas previsões de vendas de médio prazo ou nos pedidos em carteira já
confirmados. Onde o plano de produção considera famílias de produtos, o PMP especifica itens finais que fazem parte dessas famílias. Com
base no estabelecimento do PMP, o sistema produtivo passa a assumir compromissos de fabricação e montagem dos bens ou serviços. Ao
executar o Planejamento-mestre da Produção e gerar um PMP inicial, o PCP deve analisá-lo quanto às necessidades de recursos produtivos com
a finalidade de identificar possíveis gargalos que possam inviabilizar esse plano quando de sua execução a curto prazo. Identificado os
potenciais problemas, e tomadas às medidas preventivas necessárias, o planejamento deve ser refeito até chegar-se a um PMP viável.

Programação da Produção: com base no PMP e nos registros de controle de estoques, a Programação da Produção estabelece a curto prazo
quanto e quando comprar, fabricar ou montar de cada item necessário à composição dos produtos finais. Para tanto, são dimensionadas e
emitidas Ordens de Compra para os itens comprados, Ordens de Fabricação para os itens fabricados internamente, e Ordens de Montagem
para as submontagens intermediárias e montagem final dos produtos definidos no PMP. Em função da disponibilidade dos recursos produtivos,
a Programação da Produção encarrega-se de fazer o seqüenciamento das ordens emitidas, de forma a otimizar a utilização dos recursos. Se o
Plano de Produção providenciou os recursos necessários, e o PMP equacionou os gargalos, não deverá ocorrer problemas na execução do
programa de produção seqüenciado. Dependendo do sistema de produção empregado pela empresa (puxado ou empurrado), a Programação
da Produção enviará as ordens a todos os setores responsáveis (empurrando) ou apenas à montagem final (puxando).

Acompanhamento e Controle da Produção: o Acompanhamento e Controle da Produção, por meio da coleta e análise dos dados, busca
garantir que o programa de produção emitido seja executado a contento. Quanto mais rápido os problemas forem identificados, mais efetivas
serão as medidas corretivas visando ao cumprimento do programa de produção. Já estão disponíveis, tecnológica e economicamente falando,
coletores de dados automatizados, que aceleram as comunicações entre a Produção e o PCP. Por outro lado, os sistemas puxados de produção,
baseados na filosofia Just-in-Time, simplificam em muito a necessidade de acompanhamento da produção pelo PCP, visto que os mesmos são
auto reguláveis e projetados para apontar de forma imediata quaisquer problemas que ocorram. Além das informações de produção úteis ao
PCP, o Acompanhamento e Controle da Produção normalmente está encarregado de coletar dados (índices de defeitos, horas/máquinas e
horas/homens consumidas, consumo de materiais, índices de quebras de máquinas etc.) para outros setores do sistema produtivo.

EMISSÃO E LIBERAÇÃO DAS ORDENS

A última atividade do PCP antes do início da produção propriamente dita, consiste na emissão e liberação das ordens de fabricação, montagem
e compras, que permitirão aos diversos setores operacionais da empresa executarem suas atividades de forma coordenada, no sentido de
atender determinado PMP projetado para o período em questão.

Uma ordem de fabricação, montagem ou compras deve conter as informações necessárias para que os setores responsáveis pela fabricação,
montagem ou compras possam executar suas atividades. Basicamente, estas ordens contêm a especificação do item, o tamanho do lote, a data
de início e de conclusão das atividades. Dependendo do tipo de produção, junto com as ordens de fabricação e montagem, devem seguir
também os desenhos e instruções técnicas que informarão aos operadores como proceder suas atividades. Geralmente, em processos de
produção contínuos e repetitivos em massa estas informações são desnecessárias pois os equipamentos estão dispostos segundo o roteiro de
produção e a variedade de itens produzidos é pequena. Já nos processos repetitivos em lotes e nos sob encomenda, com a diversificação dos
roteiros e produtos, estas informações são de fundamental importância para o entendimento das ordens emitidas.

Convencionalmente, os softwares responsáveis pelo programa de produção emitem ordens "em papel" que são levadas aos setores
operacionais. Atualmente, com o desenvolvimento acelerado das redes internas de informação computadorizadas, conhecidas como "intranet",
estas ordens podem ser apenas mensagens no terminal de cada setor, autorizando o início das atividades. Dentro do conceito de CIM, o futuro
da programação da produção é passar diretamente para as máquinas de comando numérico todas as informações necessárias para a produção,
teoricamente sem a interferência humana.

Até serem emitidas e liberadas, as ordens são apenas planos que se pretendem cumprir. Uma vez formalizada a documentação e encaminhada
aos seus executores, estas ordens entram na esfera operacional do processo produtivo. Ações são tomadas e recursos alocados para sua
efetivação, fazendo com que seja difícil e antieconômico mudanças nesta programação. Desta forma, é conveniente que o PCP, antes de
formalizar uma programação da produção, verifique se todos os recursos necessários para o atendimento destas ordens estejam disponíveis,
evitando que ordens sejam emitidas e, por falta de recursos, não sejam atendidas.

Convencionalmente, as ordens de compra são encaminhadas ao Departamento de Compras, que se encarrega de contatar e transmitir estas
informações aos fornecedores, saindo, assim, da alçada do PCP. Já as ordens de fabricação e montagem, antes de liberadas, necessitam ser
verificadas quanto à disponibilidade de recursos humanos, máquinas e materiais.

A administração e verificação da disponibilidade de recursos humanos e máquinas fica, normalmente, a cargo dos encarregados dos setores,
haja vista que seu dimensionamento foi projetado em nível estratégico quando da elaboração do Plano de Produção e em nível tático no
Planejamento-mestre da Produção. O PCP, dado que programou as ordens dentro deste nível de capacidade produtiva, admite que existem
máquinas e funcionários treinados e capazes de cumprir as ordens emitidas. Caso algum problema grave ocorra, inviabilizando determinado
setor a trabalhar no nível planejado, o acompanhamento da produção, que veremos no próximo capítulo, deverá informar a programação para
que reprograme suas ordens.

Sendo assim, a verificação da disponibilidade de matérias-primas, peças componentes e ferramentas é função que cabe ao PCP realizar, antes
da liberação das ordens de fabricação e montagem. A verificação da disponibilidade destes itens é feita com auxílio dos registros de controle de
estoques e ferramentas, momento em que se procede a reserva dos itens e emitem-se requisições de materiais e ferramentas, que,
dependendo da sistemática empregada, podem seguir junto com as ordens para a montagem e fabricação, ou irem diretamente para o
almoxarifado e ferramentaria, que estarão autorizados a remeter os itens aos usuários.

Emitidas e liberadas as ordens, o sistema produtivo passará a etapa de execução do programa, e o PCP iniciará suas atividades de
acompanhamento e controle da produção, discutidas no próximo tópico.

ACOMPANHAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇAO

Este tópico tem por objetivo apresentar os conceitos associados aos sistemas de acompanhamento e controle da produção. Inicialmente será
dada uma visão geral das atividades de acompanhamento e controle executadas pelo PCP, passando-se em seguida a relatar as funções
empregadas neste processo de controle e acompanhamento, buscando enfatizar a utilização dos modernos conceitos de Controle da Qualidade
Total. Dentro deste aspecto, serão definidos os conceitos de "processo" e "controle" como forma de encaminhar as atividades de
acompanhamento e controle da produção por parte do PCP, bem como será comentado o "ciclo PDCA", mostrando como ele está relacionado a
estas funções de controle do PCP. Dentro desta lógica, complementa-se o Capítulo 7, apresentando alguns comentários sobre as medidas de
desempenho necessárias à avaliação dos processos produtivos.

INTRODUÇÃO

Fechando o ciclo de atividades desenvolvidas pelo PCP, temos a função de acompanhamento e controle da produção dando suporte ao sistema
produtivo no sentido de garantir que as atividades planejadas e programadas para o período sejam cumpridas. A Figura 7.1 mostra este
relacionamento, onde podemos ver que, dependendo da gravidade do desvio encontrado, as ações corretivas podem atingir o nível estratégico,
tático ou operacional.

O objetivo do acompanhamento e controle da produção é fornecer uma ligação entre o planejamento e a execução das atividades operacionais,
identificando os desvios, sua magnitude e fornecendo subsídios para que os responsáveis pelas ações corretivas possam agir. Apesar de
teoricamente os recursos necessários para a execução dos planos de produção terem sido planejados e programados pelo PCP, na prática,
infelizmente, a ocorrência de desvios entre o programa de produção liberado e o executado é a situação mais comum. Quanto mais rápido os
problemas forem identificados, ou seja, quanto mais eficiente forem às ações do acompanhamento e controle da produção, menores serão os
desvios a corrigir, menor o tempo e as despesas com ações corretivas.
A questão da velocidade com que devemos obter o feedback das informações está associada ao tipo de processo produtivo. Em processos
contínuos, ou de produção em massa, o feedback das informações deve ser rápido, com coleta de dados em tempo real e acompanhamento
on-line, pois em pouco tempo, devido à alta velocidade produtiva, os desvios serão grandes. No outro extremo, nos processos por projeto, o
feedback das informações produtivas pode ser semanal ou maior, visto que os ritmos de alterações nas tarefas produtivas são desta magnitude.
Entre estes dois extremos, temos os processos repetitivos em lotes, em que a freqüência de coleta das informações deve ser compatível com a
velocidade de produção dos lotes. Convencionalmente, com lotes grandes e dentro da lógica dos softwares baseados no MRPII, os feedbacks
são normalmente semanais, raramente diários. Já em sistemas mais modernos e automatizados, onde busca-se flexibilidade e lotes pequenos,
os softwares de planejamento fino da produção, como o PREACTOR, permitem acompanhamento até em tempo real, apesar de geralmente não
serem necessários.

Cabe ressaltar que, a não ser que os desvios sejam muito significativos, os replanejamentos devem ser evitados, sendo empregados como
último recurso pelo PCP, pois sempre vale a pena exercer esforços para fazer validar os programas preestabelecidos. Mudanças nos planos
implicam em alterações em todo o fluxo produtivo, com reflexo por toda a empresa. Desta forma, podemos dizer que um sistema de
acompanhamento e controle da produção eficiente é reflexo da elaboração pelo PCP de um programa de produção válido, baseado em um PMP
real, e sustentado por recursos equacionados estrategicamente no Plano de Produção. Um programa de produção deve ser realístico, as ordens
emitidas devem ter grandes possibilidades de serem executadas, pois, caso contrário, os programas de produção ficarão desacreditados e o
acompanhamento e controle da produção terá como função ficar "apagando incêndios", o que é desestimulante e improdutivo.

Uma questão importante quanto à validade do programa de produção diz respeito à exatidão e a amplitude dos dados empregados para
compor os planos produtivos. Engenharia, Marketing, Compras e o próprio PCP devem fornecer dados realísticos e exatos com relação a
tempos-padrões, demandas, lead times internos e externos, níveis de estoques etc. As variações na tolerância dos dados devem ser definidas,
permitindo que desvios maiores do que as mesmas gerem relatórios de exceção por parte do acompanhamento e controle da produção,
direcionando a atenção dos tomadores de decisão para aquelas ações que se façam necessárias.

Apesar do advento de computadores cada vez mais potentes e de softwares sofisticados, a essência do acompanhamento e controle da
produção pelo PCP diz respeito ao emprego de pessoas qualificadas para a identificação das exceções, planos de produção consistentes e
ambiente produtivo organizado e previsível. A máxima de que não devemos informatizar o "caos" é uma realidade, a simples geração de dados
não garante controles eficientes.

Cabe ainda ressaltar a questão da atribuição de responsabilidade pelo cumprimento do programa de produção e pelo seu acompanhamento.
Em sistemas convencionais, o PCP com sua função de acompanhamento e controle da produção, tem responsabilidade direta e exclusiva pela
identificação dos problemas que acarretem desvios com relação ao planejado, cabendo aos setores produtivos apenas "esperar" novas
instruções que corrijam estes desvios. Em sistemas modernos, baseados na administração participativa dentro da filosofia JIT/TQC, derivada de
treinamento adequado e envolvimento da mão-de-obra nas tomadas de decisões, esta responsabilidade pelo acompanhamento, controle da
produção e correção dos problemas no programa de produção é uma atividade conjunta entre o PCP e os participantes do processo produtivo,
principalmente quando se projeta o processo produtivo dentro da lógica de "puxar" a produção, empregando-se o sistema Kanban, que será
detalhado no próximo capítulo.

Feito estes comentários iniciais, vamos descrever a seguir as principais funções associadas ao acompanhamento e controle da produção visando
introduzir alguns conceitos modernos de controle sob a ótica da filosofia JIT /TQC.

FUNÇÕES DO ACOMPANHAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO


Basicamente, existem três grupos de recursos necessários ao atendimento de um programa de produção: máquinas, mão-de-obra e materiais.
Conforme colocamos no capítulo anterior, o PCP através da programação da produção, antes de liberar as ordens, verifica a disponibilidade
destes recursos e, uma vez identificada a existência dos mesmos, libera as ordens para os setores produtivos. A partir deste ponto, o programa
emitido é acompanhado e controlado pelo PCP através das seguintes funções:

 Coleta e registro de dados sobre o estágio das atividades programadas; Comparação entre o programado e o executado;
 Identificação dos desvios;
 Busca de ações corretivas;
 Emissão de novas diretrizes com base nas ações corretivas;
 Fornecimento de informações produtivas aos demais setores da empresa (Finanças, Engenharia, Marketing, Recursos Humanos etc.);
 Preparação de relatórios de análise de desempenho do sistema produtivo.

A coleta e o registro dos dados sobre o emprego de máquinas, homens e materiais é o primeiro passo na ação do acompanhamento e controle
da produção. As informações devem estar disponíveis tão logo o programa de produção seja liberado, acelerando a identificação de desvios
entre o programado e o executado. Conforme já frisamos quanto mais rápido os problemas forem detectados menores os desvios e os custos
associados a sua correção. O desenvolvimento de computadores e coletores de dados mais potentes e de softwares amigáveis permitem que a
coleta on-line dos dados produtivos seja uma realidade. Contudo, muita atenção tem que ser dada as questões ligadas a integridade dos dados
e a real necessidade de se coletar tal informação.

Tecnicamente, tudo sobre o que esta ocorrendo dentro do processo produtivo pode ser coletado e armazenado em bancos de dados, porém, se
nenhuma ação efetiva em benefício para a empresa resultar desta coleta, ela deve ser revista e eliminada. Por exemplo, a coleta e
armazenagem dos tempos de setup de uma máquina não serão de grande valia se os procedimentos de setup não estiverem racionalizados
dentro de uma rotina padrão. Da mesma forma, coletar on-line o consumo de materiais em uma ordem de fabricação pouco significa se o
processo de armazenagem e movimentação de materiais não garantir a integridade dos dados compatível com a qualidade e a quantidade de
itens armazenados e movimentados pela empresa.

Tendo os dados oportunos em mãos, o PCP pode, então, compará-los com o programa de produção emitido buscando identificar possíveis
desvios que demandem ações corretivas. Esta seqüência de atividades executadas pelo acompanhamento e controle da produção pode ser
desenvolvida segundo várias óticas de "controle administrativo". Vamos apresentá-la aqui, como parte integrante de uma filosofia empresarial
mais ampla, conhecida como Controle da Qualidade Total, a qual passaremos a descrever.

CONTROLE SOB A ÓTICA DO TQC

A globalização da economia e a crescente concorrência pelos mercados consumidores têm levado as empresas a repensarem seus processos
produtivos e a forma como os mesmos são administrados. Neste aspecto, o Just-in-time (JIT) para as questões estruturais da produção e o
Controle da Qualidade Total (TQC) para a identificação, análise e solução de problemas têm se mostrado como o melhor caminho para o
melhoramento contínuo das empresas.

As ferramentas empregadas pelo TQC podem e devem ser entendidas e empregadas pelo pessoal do PCP nas suas atividades, principalmente
na função de acompanhamento e controle do programa de produção. Nosso objetivo neste livro não é aprofundar os conceitos de TQC, pois já
existe farta bibliografia sobre o tema. Queremos apenas posicionar o PCP perante esta nova visão de sistema produtivo. Neste sentido, vamos,
inicialmente, definir o que é processo e o que é controle para chegarmos à definição de controle do processo produtivo dentro da ótica do TQC.

O TQC define um processo como a reunião organizada de seis fatores, ou causas, conhecidos como os "6M" (matérias-primas, máquinas, mão-
de-obra, métodos, medidas e meio ambiente), no sentido de gerar uma saída ou um efeito (em nosso caso, um produto). A representação
deste processo é feita através do diagrama de causa-efeito de Ishikawa, também conhecido como "espinha de peixe" devido a seu formato,
ilustrado na Figura 7.2.

Nesse diagrama os processos são representados por um conjunto de fatores que, quando acionados, resultam num efeito ou produto. O
diagrama de Ishikawa permite que processos complexos sejam divididos em processos mais simples e, portanto, mais controláveis. Por
exemplo, como mostrado na Figura 7.3, um produto, ao ser fabricado, é o resultado da ação de matérias-primas, máquinas, mão-de-obra,
métodos, medidas e meio ambiente em um processo produtivo. Este processo de fabricação, por sua vez, pode ser subdividido em vários
processos menores que o compõem, como por exemplo, dentro do fator "método", a programação da produção, a qual pode ser analisada
também como resultado da aplicação dos 6M.
O desempenho de um processo pode ser avaliado através de seus "itens de controle", os quais podem ser definidos como índices numéricos
relacionados com as quatro dimensões da qualidade (custo, qualidade, entrega e serviços) analisadas em cima do efeito do processo ou
produto. Por exemplo, o lead time de um lote, seu custo produtivo, o atendimento do prazo de entrega etc.

Por sua vez, olhando para dentro do processo, ou seja, para suas causas, podemos relacionar os itens de controle com os chamados "itens de
verificação" das causas, que são também índices numéricos estabelecidos sobre as causas que influem em determinado item de controle. Por
exemplo, para o índice de controle do custo produtivo de um lote temos os índices de verificação sobre o custo da mão-de-obra, o custo de
materiais, o custo de depreciação dos equipamentos, o custo de programação da produção etc.

Podemos dizer que um problema ocorre em um processo quando um índice de controle deste processo está fora do padrão esperado. Logo, a
idéia geral no TQC é de que para mantermos um processo sobre controle, devemos estabelecer itens de controle sobre seu efeito, e itens de
verificação sobre suas causas, de maneira que sempre que um problema ocorra, ou seja, o índice de controle esteja fora do padrão, o processo
seja analisado e identificado, através de seus índices de verificação, quais as causas que geraram este problema. Estas causas devem ser
atacadas e bloqueadas para evitar que problemas futuros desta natureza tornem a ocorrer.

Esta lógica do TQC é justamente o que se espera da função de acompanhamento e controle da produção realizada pelo pessoal do PCP, ou
seja, o PCP deve manter itens de controle relacionados ao desempenho do processo produtivo quanto à qualidade, custo, entrega e serviços do
programa de produção emitido. Sempre que ocorra um problema, ou seja, um item de controle fora do padrão, como, por exemplo, atraso no
prazo de entrega de um lote, este poderá ser identificado e solucionado através da análise dos seus itens de verificação sobre o processo,
como, por exemplo, prazo de entrega da matéria-prima ou tempo de setup da máquina, isolando assim suas causas fundamentais.
O método gerencial empregado para operacionalizar esta lógica do controle de processos é o chamado "ciclo PDCA", que será descrito a seguir.

O ciclo PDCA para controle de processos

O ciclo PDCA para controle de processos é o método de gerenciamento da qualidade proposto pelo TQC. Conforme podemos ver na Figura 7.4,
este método gerencial é composto de quatro etapas básicas seqüenciais, formando um ciclo fechado, que são: planejar (Plan), executar (Do),
verificar (Check) e agir corretivamente (Action). A proposta do TQC é de que cada pessoa na empresa, dentro da sua atribuição funcional,
empregue o ciclo PDCA para gerenciar suas funções, garantindo o atendimento dos padrões. O PCP, como co-responsável pela eficiência no
atendimento do programa de produção, deve atuar e apoiar os participantes da cadeia produtiva no gerenciamento do ciclo PDCA.

A etapa de planejamento, que inicia o giro do ciclo, tem por função estabelecer os objetivos a serem alcançados com o processo, ou, em outras
palavras, as metas sobre os itens de controle do processo, assim como decidir sobre os métodos a serem empregados para atingir estas metas.
O PCP deve atuar nesta etapa de planejamento, em conjunto com os demais participantes do processo produtivo, no sentido de estabelecer as
diretrizes de controle, ou seja, as faixas de valores-padrão para os itens de controle (custo-padrão, qualidade-padrão, entrega-padrão, serviço-
padrão), e os procedimentos-padrões de operação para que estes valores sejam atingidos.
A segunda etapa do ciclo é a execução destes procedimentos-padrões de operação pelos funcionários. Inicia-se esta etapa pela educação e
treinamento, segundo os procedimentos-padrão definidos, das pessoas que irão executar o trabalho, incluindo-se neste treinamento a função
de coleta de dados. Segue-se a execução do trabalho e a coleta dos dados. O PCP deve participar desta etapa dando suporte ao treinamento
dos funcionários no uso correto da documentação, emitida por ele, que autorizará a fabricação e montagem dos itens. Também apoiará com
treinamento nas técnicas de coleta de dados e preenchimento desta documentação.

Uma vez executado o trabalho e coletados os dados, a terceira etapa do ciclo PDCA é a verificação, comparando-se os resultados obtidos com
os padrões de controle estabelecidos. Esta etapa é a base da função de acompanhamento e controle, executada pelo PCP. O PCP deve manter
gráficos de controle dos itens de controle relacionados ao programa de produção, de forma que os problemas sejam rapidamente identificados.
Caso não existam problemas, a rotina de trabalho é mantida; caso surjam desvios, passamos ao quarto passo do ciclo.

A etapa de agir corretivamente dentro do ciclo PDCA visa eliminar definitivamente o problema, de maneira que o mesmo nunca mais se repita.
A ação nesta etapa se dá em dois momentos: sobre o resultado do problema, visando colocar o processo novamente em funcionamento, e
sobre as causas fundamentais que originaram este problema, visando evitar que ele se repita. Problemas no cumprimento do programa de
produção devem ter uma ação rápida por parte do PCP. Por exemplo, encontrada uma ordem de fabricação que esteja com sua data de
conclusão atrasada, devemos inicialmente apressá-la, fazendo um novo seqüenciamento, para colocá-la em dia. Em seguida, devemos
pesquisar qual a origem deste atraso, atuando em cima dos itens de verificação sobre os seis fatores (matéria-prima, máquina, mão-de-obra,
medida, método e meio ambiente) do processo produtivo responsável pelo atraso, para identificar a causa e iniciar novo ciclo PDCA
estabelecendo novas diretrizes de controle.

Em decorrência do método de gerenciamento proposto pelo ciclo PDCA, cada vez que um problema é identificado e solucionado, o sistema
produtivo passa para um patamar superior de qualidade. Desta forma, buscamos trabalhar dentro da ótica do melhoramento contínuo, em que
problemas são vistos como oportunidades para melhorar o processo.

O ciclo PDCA pode também ser usado para induzir melhoramentos, ou seja, melhorar as diretrizes de controle. Neste caso, na etapa inicial do
ciclo planejamos uma meta a ser alcançada, por exemplo, reduzir o lead time de um processo em 10%, e um plano de ação para se atingir esta
meta, por exemplo, alterar o layout das máquinas. Executamos a ação segundo a nova diretriz e verificamos se foi efetiva no atendimento da
meta. Em caso afirmativo, padronizamos esta nova sistemática de ação; em caso de não-atendimento da meta, voltamos à etapa inicial e
planejamos novo método. Este ciclo PDCA é conhecido como método de solução de problemas ou "QC Story".

Medidas de desempenho do processo

Conforme vimos na Figura 7.2, o desempenho de um processo deve ser avaliado através de seus itens de controle que, por sua vez, devem
estar relacionados com as quatro dimensões que a qualidade assume sobre o efeito deste processo.

No acompanhamento e controle da produção, o PCP incorpora a função de verificar como está o desempenho ou a qualidade do atendimento
do programa de produção projetado para o período, sendo este então o "processo" a ser acompanhado e avaliado. Desta forma, os itens de
controle ou as medidas de desempenho devem estar relacionados com o custo, qualidade, entrega e serviços do programa de produção em
andamento.

Cada empresa, dependendo do tipo de sistema produtivo que estiver empregando, terá sua lista de medidas de desempenho. Apesar de todas
as dimensões da qualidade de um programa de produção serem importantes, as empresas que trabalham sob regime de encomenda darão
prioridade aos itens de controle associados à entrega. Já as empresas com sistema de produção em massa deverão privilegiar os itens de
controle associados aos custos.

Uma forma de organizar seus itens de controle sobre o programa de produção consiste em montar uma tabela de verificação a partir de seis
questões a serem respondidas, conhecidas como os "5W1H" ( What, When, Where, Why, Who, How ), propostas pelo TQC. A Tabela 7.1
apresenta algumas sugestões de itens de controle para o programa de produção de uma empresa que trabalhe com lotes intermitentes.

Como regra geral, algumas considerações importantes quanto à definição de medidas de desempenho devem ser colocadas, entre elas
podemos citar:

 Dados visuais e físicos são mais fáceis de interpretar do que dados financeiros, principalmente quanto ao desempenho do programa
de produção;
 Medidas de desempenho agregadas são mais fáceis de se obter e usar do que dados individualizados, como, por exemplo,
indicadores sobre famílias de produtos ao invés de itens isolados;
 É mais importante obter valores oportunos do que exatos, ou seja, dados exatos podem demorar muito para serem obtidos enquanto
ações corretivas podem ser tomadas com informações aproximadas.

Tabela 7.1 Itens de controle.


Item de Calcular Atuar corretivamente
Porque usá-lo?
Controle Quem? Quando? Como? Quando? Onde?
(Why)
(What) (Who) (When) (How) (When) (Where)
Diferença entre a
Avaliar o padrão Lead time > Verificar os tempos de
Lead time da Acompanhamento e Ao completar data de liberação e a
de velocidade do 10 % lead time setup, movimentação e
OF Controle da Produção cada OF data de conclusão da
processo padrão fabricação da OF
OF
Quantidade
Diferença entre
Quantidade de Ao final de um fabricada
Avaliar o padrão de Acompanhamento e a quantidade de Verificar origem
itens programa de diferente da
qualidade Controle da Produção itens fabricados dos defeitos
fabricados produção quantidade
e a programada
programada

Tempo real> Verificar a rotina de


Calcular o tempo real
Consumo Avaliar os Acompanhamento e Ao completar 10% do Operações empregada
despendido pelo
de MOD custos produtivos Controle da Produção cada OF tempo-padrão de pelo
operador na OF
operação operador
RESUMO

O Capítulo teve por meta apresentar os conceitos associados aos sistemas de acompanhamento e controle da produção. Inicialmente foi dada
uma visão geral das atividades de acompanhamento e controle executadas pelo PCP. A seguir foram descritas as funções empregadas neste
processo de controle e acompanhamento, buscando-se enfatizar a utilização dos modernos conceitos de Controle da Qualidade Total (TQC).
Dentro deste aspecto, foram definidos os conceitos de "processo" e "controle", como forma de encaminhar as atividades de acompanhamento e
controle da produção por parte do PCP. Também apresentou-se o chamado "ciclo PDCA" para controle de processos, mostrando como ele está
relacionado as funções de controle do PCP. Complementando esta visão de TQC quanto ao controle do processo, foram apresentadas algumas
considerações sobre as medidas de desempenho necessárias à avaliação dos processos produtivos.

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

1. Qual a importância da função de acompanhamento e controle da produção?


2. Explique a relação entre velocidade de obtenção das informações para o acompanhamento e controle do programa de produção com
o tipo de sistema produtivo da empresa.
3. Quais as funções necessárias ao acompanhamento e controle da produção?
4. Defina o conceito de processo sob a ótica do TQC.
5. O que são itens de controle e itens de verificação?
6. Explique a lógica de trabalho do PCP dentro do ciclo PDCA?
7. Proponha um conjunto de itens de controle para empresas que trabalham sob projeto e monte uma tabela com os "5W1H" para estes
itens.
8. Repita a questão anterior para processos contínuos.

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