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Seção I Abordagem do paciente com doença reumática

Exame físico do sistema


musculoesquelético

John A. Mills, MD
1
O conhecimento profundo da anatomia musculoesquelética TÉCNICAS ESPECÍFICAS DE EXAME
é essencial para a realização de uma análise precisa e significati-
va. Como uma referência rápida, um Atlas deve estar sempre à c Observação
mão (ou somente a alguns cliques do teclado do computador).
Manifestações provocadas objetivamente, como edema, calor, O examinador deve aproveitar a oportunidade para exami-
derrames ou uma limitação de movimento claramente percep- nar a postura e a mobilidade do paciente enquanto ele entra na
tível, devem ser diferenciadas de achados mais subjetivos, como sala de exame. Alternativamente, se o paciente já se encontra na
sensibilidade e dor ao movimento. sala de exame ou deitado na maca de exame durante o primei-
O sistema musculoesquelético representa uma parte im- ro contato, o examinador deverá solicitar, durante a avaliação,
portante do exame físico no que se refere ao conhecimento e que o paciente fique em pé, ande alguns passos e se sente nova-
ao tempo usado. O examinador hábil concentra esta tarefa fun- mente. Análise da marcha (para avaliar fraqueza) pode ajudar a
damental por meio de informações obtidas com uma história separar manifestações primárias antálgicas ou extra-articulares
cuidadosa. de doença musculoesquelética, como fraqueza. Esse exercício
também facilita a identificação de certas deformidades. O genu
varum, ou pé plano, por exemplo, torna-se mais evidente quando
OBTENÇÃO DA HISTÓRIA os membros inferiores suportam carga.
O médico pode obter a história do paciente fazendo-lhe
duas perguntas: (1) Os sintomas são de natureza articular? E (2) c Palpação
os sintomas se originam de uma localização musculotendínea? Se Uma comparação bilateral pode ser útil na avaliação de uma
a resposta a quaisquer dessas perguntas for “sim”, o examinador área edemaciada. A extensão anatômica do edema deve ser ve-
pode começar a concentrar seus esforços nas partes anatômicas rificada por meio de palpação, tendo em mente a anatomia do
específicas referidas pelo paciente na história, tendo em mente local. A presença de líquidos livres é determinada pelo desloca-
dois pontos: mento do líquido entre duas posições sobre a área edemaciada.
d Uma dor referida e a compreensão incompleta da anato- Derrames articulares são mais facilmente detectados sobre suas
mia podem afetar a localização da queixa pelo paciente. Por superfícies extensoras, onde não estão cobertos por um retiná-
exemplo, uma “dor no quadril” percebida sobre o lado late- culo flexor, nervos e vasos sanguíneos. As margens ósseas da ar-
ral, ao rolar na cama durante a noite, é mais provavelmente ticulação normal podem ser palpadas na superfície extensora. A
uma bursite troncatérica do que uma patologia da verdadei- incapacidade de palpar as margens articulares é uma evidência
ra articulação do quadril. de edema sinovial ou derrame articular. A comparação das arti-
culações metacarpofalangianas (MCF) ou metatarsofalangianas
d Queixas musculoesqueléticas são, às vezes, parte de distúr-
(MTF) dessa forma é um teste sensível para artrite reumatoide.
bios sistêmicos ampliados que afetam as articulações, os
Deve-se observar a presença de calor local ou eritema como
músculos, os ossos e os tendões.
sinais de inflamação. A temperatura do joelho, do tornozelo e das
A dor em repouso geralmente indica um processo infla- articulações do punho deve estar mais fria em relação à a pele
matório agudo, neurológico ou neoplásico. Além de determinar sobre os ossos longos vizinhos. Isto é avaliado de modo mais
quais são as estruturas musculoesqueléticas que originam os sin- eficaz colocando o dorso da mão do examinador sobre a porção
tomas do paciente, deve-se ter em mente quais são os objetivos do membro adjacente à articulação em questão e, em seguida,
gerais do exame, que são apresentados no Quadro 1-1. colocando o dorso da mão sobre a própria articulação. Uma tem-

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regiões dorsais. O examinador apoia a palma da mão em cada


Quadro 1-1 Objetivos gerais do exame físico dedo com ambas as mãos e palpa as margens articulares usan-
do os polegares. Quando existe edema por líquido sinovial, as
A. Definir a distribuição anatômica dos problemas. O processo é:
• Monoarticular? margens articulares serão menos distintas em comparação com
• Poliarticular? Se for, é simétrico ou assimétrico? a mesma articulação da mão oposta. A inflamação das articula-
• Envolve somente uma extremidade? ções interfalangianas distais (IFD) tem um diagnóstico diferen-
• É axial? cial limitado, que inclui osteoartrite (caracterizada por nódulos
• É complexo? de Heberden), gota (com tofos que frequentemente ocorrem
B. Verificar se há ou não sinais de um processo inflamatório. nos locais de nódulos de Heberden) e artrite psoriática. Artrite
séptica, traumatismo, sarcoidose e sífilis também fazem parte do
C. Determinar se existe uma interrupção anatômica, ou seja, instabi-
lidade articular, ruptura de tendão, fratura óssea ou deformidade. diagnóstico diferencial. A artrite reumatoide clássica raramente
envolve isoladamente a articulação IFP. A artrite psoriática das
D. Distinguir entre fraqueza muscular verdadeira em oposição à fa- articulações IFP comumente estimula o periósteo justa-articular,
diga ou atrofia por desuso.
conferindo-lhe uma aparência fusiforme eritematosa, denomina-
E. Estabelecer se os sintomas constitucionais, como febre ou perda da “dedo em salsicha”. A dor causada pela compressão lateral em
de peso, implicam um processo sistêmico ou a presença de ou- um grupo das articulações MCF é um bom teste de rastreamento
tros sintomas, que possam dirigir a atenção para outros órgãos.
para a poliartrite de pequenas articulações.
A contratura secundária dos músculos intrínsecos da mão
em um paciente com artrite reumatoide leva a uma deformida-
peratura mais quente sobre estas articulações sugere fortemente a de em pescoço de cisne, caracterizada por hiperextensão fixa das
presença de inflamação. articulações IFP e flexão das articulações IFD. O desvio ulnar e a
incapacidade de extensão das articulações MCF dos dedos são o
resultado da interrupção das ligações de tecidos moles que per-
c Dor ao movimento mitiram o deslizamento dos tendões extensores longos das cabe-
Quase todas as causas de dor articular, incluindo a artrite ças articulares. A incapacidade de extensão plena das articula-
reumatoide, permitem um movimento passivo relativamente ções IFP é um resultado da separação dos dois deslizamentos do
indolor. A dor provocada pelo menor movimento sugere articu- tendão extensor longo e sua subluxação para cada lado da articu-
lação séptica, gota, febre reumática, hemorragia intra-articular, lação. Isto leva à deformidade conhecida como deformidade em
tumor ou fratura articular. Também devem ser examinadas as boutonniere. A inflamação extensa das cápsulas e dos ligamentos
amplitudes passivas e ativas do movimento. A dor causada pelo articulares em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico pode
movimento ativo, mas não provocada pelo movimento passivo, resultar em frouxidão articular e deformidades diversas na au-
muitas vezes implica uma fonte extra-articular do problema, sência de erosão óssea.
como uma tenossinovite. Hipertrofia óssea das articulações IFD (nódulos de Heber-
den) é uma característica da osteoartrite hereditária e muitas
c Amplitude do movimento vezes não é acompanhada por alterações semelhantes nas arti-
culações IFP (nódulos de Bouchard). Esse processo, muitas ve-
Medir a amplitude do movimento nas articulações é útil zes, afeta a articulação carpometacarpiana, dando uma aparência
para documentar a evolução da artrite e o grau da incapacida- quadrada à base da articulação, incapacitando sua extensão com-
de. Vários sistemas de medição são usados. Um sistema simples pleta. As articulações MCF raramente ou nunca são afetadas pela
é usar um sinal positivo antes da medida em graus para flexão, osteoartrite, mas um aspecto semelhante da segunda e terceira
abdução, rotação interna ou pronação e um sinal negativo para o articulação MCF pode ser observado em pacientes com hemo-
movimento oposto, todos medidos a partir da “posição anatômi- cromatose. Um edema localizado do tendão, restringindo o mo-
ca”. Por exemplo, flexão do ombro –45 1 160, abdução –30 1 90. vimento dentro da bainha tendínea, pode ser percebido quando
Um formulário ou modelo economizam tempo. o examinador palpa sobre o tendão, junto à prega palmar distal,
estando o dedo fletido ou estendido.
O EXAME FÍSICO
c Punhos
c Mãos A artrite dos punhos em geral é causada por um processo
Observe a extensão completa da articulação dos dedos. As inflamatório. A exceção é a dor no punho relacionada com uma
superfícies volares das palmas e dos dedos devem fazer um con- subluxação ou fratura do carpo, que podem ser confiavelmente
tato completo quando colocadas juntas. Ao cerrar o punho, a detectadas apenas por meio de radiografia. A sinovite, radiocar-
ponta de cada dedo deve tocar a prega MCF. pal verdadeira ou das articulações intercarpais, é comum em pa-
Um edema sinovial das articulações interfalangianas proxi- cientes com doenças reumáticas. A ausência de dor no punho à
mais (IFP) e das articulações MCF pode ser detectado facilmente pronação ou supinação do antebraço sugere que o processo está
por meio da presença de edema de tecido mole em cada lado das restrito ao carpo. Quando o edema é importante na região dor-

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EXAME FÍSICO DO SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO CAPÍTULO 1 3

sal ou volar da articulação, deve-se suspeitar de tenossinovite dos A dor da articulação do ombro é percebida na região do
tendões extensores ou flexores, respectivamente, o que pode ser músculo deltoide. A dor proximal ao olécrano é mais frequente-
confirmado observando o movimento axial do edema durante a mente de origem cervical ou torácica alta. A cápsula da articula-
movimentação dos dedos. Edema e sensibilidade dolorosa sobre ção glenoumeral se estende medialmente para o processo cora-
o processo estiloide da ulna são comuns na artrite reumatoide e coide. Sensibilidade dolorosa neste local é a única localização na
podem ser seguidos por uma subluxação dorsal da cabeça da ulna. qual ela pode ser confiavelmente atribuída à articulação glenou-
Dor e sensibilidade dolorosa no processo estiloide radial são meral, porque o restante da área é coberto pelo manguito rotador.
frequentemente causadas por irritação do tendão extensor longo Edema da articulação glenoumeral pode ser mais bem apreciado
do polegar, no local onde este cruza a cabeça do rádio. Esse dis- na margem anterior do músculo deltoide, logo abaixo do acrô-
túrbio, conhecido como tenossinovite de De Quervain, é causa- mio, onde um derrame pode ser verificado, caso esteja presente.
do pela elevação repetida da palma, orientada verticalmente. O O sinal da queda do ombro é um bom teste para verificar
diagnóstico de tenossinovite de De Quervain pode ser confirma- patologia do manguito rotador. O ombro deve ser fletido passiva-
do pelo teste de Finkelstein. mente no plano sagital em 90 graus, de preferência com o cotove-
lo também fletido, para reduzir a sobrecarga. O úmero é apoiado
c Cotovelo enquanto está sendo rotado para o plano coronal e o antebraço é
estendido e pronado. Então, o apoio do braço é suavemente re-
As causas de inflamação da articulação do cotovelo in- tirado, e o paciente é instruído a manter o braço nessa posição
cluem artrite reumatoide, artrites soronegativas, artrites sépticas abduzida. O início da dor e da queda do braço é um sinal positi-
e gota. Edema e derrames nas articulações se apresentam junto vo. A sensibilidade dolorosa sobre a ponta lateral do ombro, logo
à cabeça do rádio, na região lateral da articulação radioumeral. abaixo do acrômio, é frequentemente atribuída a uma bursite
Pronação-supinação do antebraço frequentemente é dolorosa e subacromial, mas quase sempre é atribuível a uma patologia do
restrita. Um edema sinovial na fossa do olécrano impede a exten- tendão supraespinhoso. A inflamação da cabeça do tendão longo
são completa da articulação, limitando a entrada do processo do do bíceps junto ao sulco onde este cruza o úmero pode causar
olécrano. A inflamação aguda da bursa do olécrano sobre a ponta dor generalizada do ombro. Além da sensibilidade dolorosa situ-
do cotovelo geralmente é causada por gota ou infecção, mas um ada imediatamente sobre a fossa bicipital, o diagnóstico pode ser
edema benigno mais crônico também pode ser causado apenas confirmado pelo sinal de Yergason. O paciente deve sentar com o
por um traumatismo direto. A superfície extensora da ulna, logo cotovelo fletido e o antebraço pronado, repousando sobre a coxa.
abaixo do olécrano, é um local comum para o aparecimento de O examinador segura o punho e pede ao paciente para fazer uma
um nódulo reumatoide. supinação contrarresistência, o que causará dor na fossa bicipital.
A epicondilite é uma entesopatia do flexor comum do pu- A movimentação ativa ou passiva restrita e dolorosa do om-
nho junto ao epicôndilo medial (cotovelo de tenista) ou dos ex- bro em todas as direções é o diagnóstico de um ombro congelado,
tensores junto aos epicôndilos laterais (cotovelo do jogador de causado por inflamação capsular generalizada e constrição. Este
golfe). Uma sensibilidade dolorosa está presente acima ou ime- frequentemente é idiopático, mas também pode resultar de uma
diatamente abaixo do epicôndilo, e a dor é provocada por resis- lesão traumática. O paciente pode ser capaz de mover o braço
tência à flexão ou extensão do punho, respectivamente. somente por meio do movimento escapulotorácico. A inflamação
das articulações acromioclaviculares ou esternoclaviculares pode
c Ombro ocorrer na artrite reumatoide ou artrite séptica, sendo esta última
especialmente comum em usuários de drogas injetáveis. Sensibi-
O movimento do ombro é o mais complexo de todas as arti- lidade dolorosa e edema são facilmente observados no local. O
culações. Consequentemente, muitas vezes, é difícil determinar a encolhimento do ombro na posição deitada sobre o lado afetado
causa exata da dor no ombro. Na maioria das atividades, a articu- é doloroso.
lação glenoumeral se move em vários planos simultaneamente e a
transladação escapulotorácica pode aumentar de maneira errada
sua variação aparente. A articulação deve ser examinada durante
c Quadril
o movimento escapular ou com sua restrição, colocando uma mão A análise da marcha pode ajudar a definir a natureza da
sobre o ombro, na crista do trapézio. A amplitude do movimen- doença do quadril. O tempo de repouso no quadril afetado está
to da articulação glenoumeral impede a estabilização ligamentar, limitado em comparação com o lado oposto. Um cambaleio para
que é substituída pelo controle dinâmico proporcionado pela ação a frente com a perna estendida a cada passo indica uma flexão
conjunta dos quatro músculos do manguito rotador. Contrações fixa do quadril, que é causada por um estiramento da cápsula
dolorosas do ombro tendem a induzir uma dissinergia muscular do edemaciada ou inflamada do quadril. O movimento da parte su-
manguito rotador, que, por si só, é dolorosa e pode mascarar a cau- perior do tronco sobre o quadril que sustenta peso sugere uma
sa primária do problema. Movimentos passivos ou ativos que mini- fraqueza do adutor (glúteo máximo) ou sua inibição. A carga ar-
mizam a função do manguito rotador incluem a rotação do úmero ticular, por meio do aumento da pressão intra-articular, agrava
enquanto o braço é mantido pendurado verticalmente, orientado muitas causas diferentes de dor no quadril. Um sinal de Tren-
para flexão e extensão no plano sagital. Se esses movimentos pro- delenburg positivo pode ser detectado. Este sinal é demonstra-
duzirem dor, existe uma doença real da articulação glenoumeral. do com o examinador colocando as mãos em ambas as cristas

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ilíacas e solicitando ao paciente que levante uma perna ou a ou- muito tempo, ou ao subir escadas, normalmente indica uma ten-
tra. Quando o lado doloroso suporta carga, ocorre uma queda da dinite do glúteo médio.
crista ilíaca do lado oposto.
A restrição do movimento do quadril pode ser mascarada c Joelho
por um movimento compensatório da pele. Crianças com colu-
nas lombares muito móveis, por exemplo, são capazes de ocultar O joelho é a articulação mais comumente afetada pela dor,
quase completamente uma anquilose do quadril. Para restringir pois está sujeita a quase todas as causas de patologia articular. O
o movimento pélvico durante o exame, o paciente deve manter alinhamento do joelho deve ser observado enquanto o paciente
o quadril oposto completamente fletido. Qualquer movimento se encontra em pé. O desalinhamento, varo ou valgo, pode ser
pélvico será revelado pelo movimento do joelho fletido. A perda congênito ou adquirido. A erosão da cartilagem articular, a partir
do compartimento tibiofemoral medial ou lateral, é uma causa
de movimento causada pela doença do quadril reduz, primeira-
comum. O alinhamento valgo resulta em uma compressão anor-
mente, a extensão completa, seguida pela restrição da eversão e,
mal das superfícies laterais opostas da articulação patelofemoral.
então, da abdução. A incapacidade de manter a perna estendida
Em indivíduos assintomáticos, o deslocamento manual da pate-
sobre a maca de exame, enquanto o lado oposto se encontra total-
la em um joelho estendido causa desconforto. Isto é conhecido
mente fletido, indica alguma perda da extensão completa como
como sinal da apreensão. O ângulo lateral no joelho estendido, o
resultado de uma doença do quadril ou um problema periarti-
ângulo agudo, é medido ao longo do eixo femoral e por meio do
cular, tal como a tendinite do iliopsoas. O rolamento passivo da
ponto médio da patela até o tubérculo tibial. Os ângulos valgos
perna estendida enquanto o paciente se encontra na posição su-
inferiores a 20 graus em mulheres jovens podem ser ignorados
pina pode detectar precocemente uma defesa e restrição de mo-
e se corrigem com a maturação do esqueleto. Atividades que en-
vimento. A realização de uma manobra FABER (flexão, abdução
volvem carregar peso excessivo, estando os joelhos parcialmente
e rotação externa, em inglês flexion, abduction and external rota-
fletidos, causam condromalacia da superfície inferior da patela.
tion) é um teste para movimentação dolorosa, assim como limita-
Esta condição está associada com uma sensação de crepitação
ção de movimento. Como a articulação do quadril é suprida pelo
quando a mão é colocada sobre a patela enquanto o joelho é es-
nervo femoral, a dor que se origina da verdadeira articulação do
tendido contra a força da gravidade. Quando grave, pode ser a
quadril é percebida na virilha, região anteromedial da coxa e, fre- causa da dor. Uma crepitação também pode indicar a presença de
quentemente, no joelho. Em alguns casos, a dor do quadril é per- corpos livres “fragmentos osteocondrais” dentro da articulação.
cebida somente no joelho. Dor na nádega é mais frequentemente A maioria dos distúrbios do joelho é acompanhada de um
causada por um problema do nervo ciático. derrame sinovial, que pode ser mais bem detectado provocando
A dor na virilha ou região anterior da coxa, quando o quadril um sinal de abaulamento. O joelho deve estar o mais completa-
é ativamente fletido contra uma resistência ou passivamente esten- mente estendido possível. O derrame é demonstrando dirigindo,
dido, pode ser causada por uma tendinite ou bursite do iliopsoas. primeiramente, o líquido para dentro do recesso sinovial supra-
Lesões do iliopsoas devem ser diferenciadas de hérnias femorais e patelar, empurrando delicadamente para cima, sobre a articu-
entesopatia dos adutores da coxa. Nesse último caso, a sensibilida- lação patelofemoral medial. Então, os dedos são imediatamen-
de dolorosa está localizada no tubérculo púbico, mais medialmen- te dirigidos para baixo, a partir da fossa patelofemoral lateral,
te. Dor localizada na nádega, à rotação interna passiva e adução enquanto se observa cuidadosamente o vazio entre a patela e o
do quadril (como quando se inicia um balanço para jogar golfe), é côndilo medial, procurando por um abaulamento. Derrames crô-
sintomática para tendinite ou bursite piriforme. Quando percebi- nicos e relativamente indolores também podem protrair poste-
da profundamente dentro da pelve, a dor pode ser um sintoma de riormente para dentro do espaço poplíteo, produzindo um cisto
bursite do obturador, podendo ser confirmada por meio de palpa- de Baker. Embora tais cistos possam ter um tamanho razoável e
ção da margem do forame isquiático menor pelo reto. descer abaixo do músculo gastrocnêmio, eles frequentemente são
Uma discrepância aparente e verdadeira do comprimento da percebidos como um nódulo firme no espaço poplíteo. O joelho
perna pode refletir abdução fixa do quadril, abdução ou escolio- deve ser completamente estendido, pois mesmo uma ligeira fle-
se da coluna lombar. Pode ser diferenciada de um encurtamento xão pode aumentar a capacidade da articulação, e um derrame
verdadeiro do quadril por meio de mensuração de ambos os la- pequeno pode diminuí-la. Edema sinovial crônico, como em pa-
dos da espinha ilíaca anterior/superior até o platô tibial medial cientes com artrite reumatoide, produzirá um espessamento em
ou maléolo medial. O encurtamento verdadeiro da perna ocorre colar, imediatamente acima da patela, onde o recesso suprapate-
na subluxação superior do quadril ou com doença destrutiva gra- lar cria uma dupla camada de revestimento articular. Esse espes-
ve da articulação. samento frequentemente é sensível à palpação.
Dor sobre o trocanter maior aponta para uma bursite tro- Como o platô tibial é praticamente plano, a translocação dos
cantérica ou, igualmente comum, entesopatia glútea (em geral, côndilos femorais (rolando sobre a maca de exame) durante a fle-
do glúteo médio) ou uma ruptura do músculo glúteo. Como os xão-extensão é impedida pelos meniscos, que formam uma con-
tendões do glúteo se inserem dentro do trocanter, pode ser difícil cavidade rasa, e pelos ligamentos cruzados. Uma tendência inter-
diferenciar estes problemas por meio de palpação. A dor percebi- na do joelho a dar espaço sempre que suporta peso ou a bloquear
da enquanto se rola na cama é mais provavelmente decorrente de sugere a presença de lesão destas estruturas ou a presença de um
bursite. A dor trocantérica agravada pela posição em pé durante fragmento solto de tecido mole dentro da articulação. Meniscos

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EXAME FÍSICO DO SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO CAPÍTULO 1 5

deslocados podem ser palpados ao longo da margem do platô ti- do retináculo flexor sobre o colo do tálus. Geralmente existe um
bial, mas podem ser mais confiavelmente detectados por meio do edema em relação ao maléolo, que também é difícil de distinguir
teste de McMurray. O teste de McMurray é feito flexionando o daquele causado por uma lesão do ligamento ou tendão nesta área.
joelho quanto for possível, segurando o pé e mantendo a coxa com Dor e limitação de movimento relacionadas com a articu-
a outra mão, rotando a tíbia interna ou externamente enquanto lação subtalar são detectados segurando o calcanhar e aplican-
se exerce um deslocamento varo ou valgo. Durante a extensão do do uma tensão vara ou valga, segurando a tíbia. Uma amplitude
joelho, um fragmento de uma ruptura meniscal pode ficar preso normal de movimento é variável. O tornozelo e o pé também
na articulação, produzindo dor e perda de movimento. devem ser examinados enquanto o paciente está em pé, para de-
Classicamente, uma ruptura meniscal é oposta à direção da tectar eversão do pé posterior, manifestada por um desvio valgo
rotação tibial, embora isso não seja invariável. Uma prega (plica) do calcâneo e do tendão do calcâneo. Isto pode refletir uma in-
sinovial traumatizada, que está presa à depressão intracondilar, suficiência do ligamento deltoide ou uma fraqueza do músculo
pode resultar em sintomas semelhantes aos observados no rom- tibial posterior. O pé plano também é mais bem observado com
pimento do menisco, especialmente em atletas jovens. o paciente em pé.
Um alongamento traumático ou ruptura do ligamento cru- Uma inflamação das articulações ou bainhas tendíneas no
zado permite uma translocação anteroposterior anormal dos compartimento abaixo do maléolo medial pode comprimir o
côndilos femorais para o platô tibial, O ligamento cruzado an- nervo tibial posterior e causar dor crônica no pé e no tornozelo.
terior permite a translocação condilar posterior (ou seja, impede
o deslizamento anterior da tíbia) e o ligamento cruzado poste- c Pé
rior limita o deslocamento anterior do fêmur. O teste da gaveta
demonstra uma instabilidade anteroposterior da articulação na A dor ao redor do calcanhar pode ter várias causas possíveis.
tentativa de mover a tíbia proximal para trás e sobre os côndi- É uma manifestação comum de artrite reativa. A sensibilidade
los femorais. Como o ligamento cruzado anterior normalmente dolorosa próxima ao tendão do calcâneo reflete uma entesopatia
está relaxado pela flexão do joelho, qualquer frouxidão anormal ou inflamação da bursa, situada imediatamente acima do canto
desta estrutura deve ser testada dentro do joelho, estando este fle- superior do calcâneo e da inserção do tendão. A dor e sensibi-
tido em não mais de 20-30 graus de flexão. Quando o ligamento lidade dolorosa da superfície plantar do calcanhar geralmente é
cruzado posterior está danificado, espasmos isquiotibiais podem causada pela fasciíte plantar, um termo que inclui a entesopatia
deslocar a tíbia posteriormente. Isto deve ser minimizado por do ligamento plantar ou da origem do flexor curto dos dedos em
meio de flexão do joelho a 90 graus, quando se testa a integridade seu local de fixação ao calcâneo, imediatamente anterior ao co-
do ligamento cruzado posterior. xim do calcâneo. O coxim do calcâneo por si só pode se tornar
A dor causada por uma lesão ou insuficiência do ligamen- doloroso por ficar em pé por tempo prolongado sobre uma su-
to medial ou colateral é provocada apoiando o joelho em uma perfície dura, sem um amortecimento adequado do calcanhar. A
posição completamente estendida e pela aplicação súbita de um dor provocada pela compressão lateral do calcanhar distingue a
esforço valgo ou varo à tíbia. Um certo grau de frouxidão leve ge- talalgia da entesopatia plantar.
ralmente é observado, em especial em indivíduos jovens ou com A inflamação das articulações intertarsais e tarsometatarsais
articulações soltas. A comparação entre os dois lados é necessária. frequentemente é difícil de localizar. Existe uma intraconectivi-
Existem várias bursas ao redor do joelho. A inflamação des- dade variável das cavidades sinoviais no pé médio e esta região
sas bursas pode causar dor quando suportam peso. A bursa pate- pode se tornar difusamente edemaciada. Em pacientes com ar-
lar pode ser lesionada quando se fica de joelhos por tempo pro- trite reumatoide ou suas variantes soronegativas, as articulações
longado. Outra bursa sob o tendão patelar está sujeita à pressão MTF e IFP são mais afetadas que as mãos, devendo ser examina-
direta e tensão excessiva do quadríceps. A bursa anserina, que das da mesma maneira. A inflamação crônica, que resulta da le-
está localizada abaixo do platô medial, entre a tíbia e o tendão do são dos ligamentos metatarsais transversos, leva a deformidades
bíceps femoral, torna-se dolorosa em indivíduos com sobrepeso grosseiras dos pododáctilos e prolapso das cabeças metatarsais.
e que apresentam um alinhamento valgo do joelho. O arco metatarsal está achatado, e as cabeças metatarsais podem
ser percebidas como estruturas dolorosas e semelhantes a seixos
c Tornozelo na base dos pododáctilos. A compressão transversa dos metatar-
sais é um bom sinal para artrite de quaisquer articulações MTF.
Um exame cuidadoso é necessário para distinguir entre uma Essa manobra também pode identificar a dor proveniente de um
patologia talotibial verdadeira e uma patologia subtalar, assim neuroma de Morton em um dos nervos intraósseos.
como uma lesão do suporte ligamentar complexo destas articula- A rigidez da primeira articulação MTF (hálux rígido) ou o
ções. Além disso, os tendões para o pé podem ser lesionados quan- desvio valgo do pododáctilo podem estar associados ao posiciona-
do retornam bruscamente para trás dos maléolos. O exame por mento varo do metacarpal, podendo produzir dor crônica no pé.
meio de manobras sequenciais ativas, passivas e com resistência
isométrica geralmente é capaz de distinguir entre as possíveis fon-
tes da dor. Edema ou derrames sinoviais da articulação talotibial
c Coluna
são mais bem observados ao longo da linha articular anterior, em Para a detecção de deformidades escolióticas ou cifóticas, o
cada lado do tendão tibial anterior e sobre a prega sinovial abaixo paciente deve ser observado em pé, de preferência descalço. A va-

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6 SEÇÃO I ABORDAGEM DO PACIENTE COM DOENÇA REUMÁTICA

riação da lordose lombar normal é considerável, mas uma curva pício e a parede, enquanto o paciente se encontra em pé com os
de mais de 30 graus ou até mesmo de nenhum grau geralmen- calcanhares contra a parede, é uma boa maneira de documentar a
te é normal. Manter o paciente o mais inclinado possível para a deformidade em flexão do tronco superior e do pescoço.
frente. Uma deformidade rotacional será revelada por meio de A flexão lateral da coluna vertebral toracolombar é avalia-
torção do tórax. O índice de Schober – uma medida da perda da da com o paciente em pé. A coluna deve formar uma curva lisa
flexibilidade da coluna lombar – é útil na avaliação longitudinal a partir do nível lombar inferior até os níveis torácicos médios.
de pacientes com espondilite anquilosante. O índice de Schober Um segmento reto indica uma anormalidade daquele nível ou
é medido marcando a junção lombossacra (a primeira “escava- espasmo de músculo paraspinal. Isto pode ser uma manifestação
ção” detectada durante o exame para cima, em direção à linha precoce de espondilite anquilosante.
média sobre o sacro), medindo-se uma distância de 10-15 cm e As espondiloartropatias frequentemente afetam as articu-
fazendo uma segunda marcação. O paciente é, então, solicitado lações costovertebrais, limitando, assim, a expansão torácica. A
a fazer uma flexão para a frente, tanto quanto possível. A linha medida da expansão torácica ajuda a identificar e a seguir tais
deve separar por uma distância de aproximadamente 50% maior distúrbios. A inflamação das articulações sacroilíacas é uma ma-
do que a originalmente medida. O índice é mais útil para seguir a nifestação precoce das espondiloartropatias. Esta frequentemen-
progressão da doença do que para o diagnóstico inicial. A deter- te é assimétrica na artrite psoriática ou reativa. Dor local pode
minação da distância entre a ponta dos dedos e o chão, durante ser detectada sobre as articulações junto às “covinhas de Vênus”
a flexão completa, também é útil; no entanto, pode ser limitada que correspondem a área de projeção das espinhas ilíacas poste-
pela redução da flexão do quadril. rossuperiores. Um teste sensível para inflamação sacroilíaca é a
Observe a rotação, a flexão e a extensão do pescoço. Pacien- manobra de McCunnel. Esta é feita com o paciente deitado sobre
tes com uma flexão e extensão normal do pescoço são capazes o lado da articulação menos dolorosa, mantendo a perna depen-
de tocar a ponta da mandíbula no esterno e também conseguem dente completamente fletida, enquanto o examinador apoia e es-
estender o pescoço para formar uma linha reta entre a superfície tende a outra perna com uma das mãos. O examinador impede
do esterno até o ramo horizontal da mandíbula. A capacidade o movimento pélvico durante a extensão da perna, colocando a
de dobrar o pescoço no plano coronal (ou seja, inclinar a cabe- outra mão sobre a crista ilíaca. A manobra de McCunnel, que
ça) é variável, mas muitas vezes é o movimento mais doloroso causa um estiramento de torção por meio das articulações, deve
na presença de doença do disco intervertebral ou na presença de ser feita cuidadosamente, pois pode ser muito dolorida na pre-
compressão de raiz nervosa. A medida da distância entre o occi- sença de uma sacroileíte.

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