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1. Introdução e definições
O gasto energético total (GET) diário compreende o gasto energético basal, o efeito térmico
dos alimentos e o gasto da atividade física. Podemos assim definir que:
Gasto energético basal (GEB): O dispêndio basal representa a energia despendida por um
indivíduo mantido em repouso, em um ambiente termicamente neutro, pela manhã, ao
acordar após 12 horas de jejum, e depende da massa corporal magra e, em menor
extensão, da idade, do sexo e de fatores familiares. O dispêndio basal representa 60% a
75% do custo energético diário e inclui a energia gasta com a bomba de sódio-potássio e
outros sistemas que mantêm o gradiente eletro- químico das membranas celulares, a
energia em- pregada na síntese dos componentes do organismo, a energia necessária
para o funcionamento dos sistemas cardiovascular e respiratório e a energia despendida
pelos mecanismos termorregulatórios para manter a temperatura corporal;
Gasto energético em repouso (GER): A condição basal não é encontrada nas situações
clínicas habituais. É denominado GER o gasto energético despendido em repouso pelo
indivíduo, em um ambiente que não é termicamente neutro e enquanto recebendo
medicamentos ou tratamento suportivo incluindo o suporte nutricional. O dispêndio de
.
repouso costuma ser 10% maior do que o dispêndio basal;
Efeito térmico dos alimentos: refere-se ao gasto provocado pela digestão, absorção,
transporte, transformação, assimilação e/ou armazenamento dos nutrientes, que varia
de acordo com o substrato consumido. Em jovens eutróficos, com peso constante, a
ingestão de hidratos de carbono aumenta o gasto energético em 5% a 10%, a ingestão de
lipídios aumenta de 3% a 5% e a de proteínas aumenta aproximadamente 20%. Assim,
considera-se que, em uma dieta mista habitual, o efeito térmico do alimento em teoria é
de aproximadamente 5% a 7% do seu conteúdo energético.
Efeito térmico do exercício: é o dispêndio de energia referente à realização do trabalho
mecânico externo; este representa 15% a 30% do dispêndio energético diário, e varia
com o nível de atividade física, levando-se em conta a intensidade e a duração do esforço
físico realizado.
A CI mede a produção de energia a partir das trocas gasosas do organismo com o meio
ambiente. A denominação indireta indica que a produção de energia, diferentemente da
calorimetria direta que mede a transferência de calor do organismo para o meio ambiente, é
calculada a partir dos equivalentes calóricos do oxigênio consumido e do gás carbônico
produzido. Admitindo-se que todo o oxigênio consumido é utilizado para oxidar os substratos
energéticos e que todo o gás carbônico produzido é eliminado pela respiração, é possível calcular
a quantidade total de energia produzida. Essa “produção de energia” significa a conversão da
energia química armazenada nos nutrientes em energia química armazenada no ATP mais a
energia dissipada como calor durante o processo de oxidação.
3. Tipos de calorímetros
Circuito fechado: o VO2 e o VCO2 são medidos por alterações no volume dentro de um
reservatório fechado contendo oxigênio. Os aparelhos clássicos consistem de um
espirômetro de selo d’água contendo oxigênio a 100%, um filtro com cal-sodada para
absorver o gás carbônico e um circuito respiratório com válvula inspiratória e válvula
expiratória. O indivíduo respira continua- mente o gás contido no espirômetro por meio
do sistema de válvulas direcionais. A redução no volume do gás contido no espirômetro,
no período do exame, permite determinar o consumo do oxigênio. Apesar de ser
considerado padrão-ouro este equipamento é pouco utilizado (Figura 1).
Figura 1: Esquema de um calorímetro de circuito fechado
FIO2 ; FICO2
inspirado; FEO2 ; FECO2
.
O paciente deve permanecer em repouso em posição supina por pelo menos 30 minutos
antes do exame;
Pacientes recebendo alimentação intermitente (por exemplo, nutrição enteral in bolus ou
ciclíca) devem ser examinados 1 hora após a última alimentação no caso de se desejar
avaliar o efeito térmico dos alimentos ou após 4 horas da última refeição caso este dado
não seja de interesse de estudo;
Em pacientes recebendo nutrição contínua, a composição da nutrição deve estar estável
por pelo menos 12 horas antes do exame;
As medidas devem ser feitas em ambiente silencioso, com pouca iluminação e
temperatura estável em cerca de 20°C;
Todas as fontes de oxigênio suplementar (por exemplo cânulas ou máscaras de oxigênio)
devem ser retiradas, caso seja possível;
A fração de oxigênio inspirado (FiO2) deve permanecer constante durante o exame e não
estar superior à 60%;
O exame deve aguardar ao menos 90 minutos caso seja necessário ajustes nos
parâmetros ventilatórios;
Deve-se verificar se não há vazamentos nas cânulas do sistema;
O paciente não deve ter recebido anestesia geral nas últimas 6 a 8 horas antes do exame;
Se o paciente estiver agitado ou com queixas álgicas, analgésico e sedativos devem ser
administrados 30 minutos antes do exame, e sua administração deve ser considerada
para a interpretação do exame;
O estudo deve ser atrasado 3 a 4 horas após hemodiálise;
O estudo deve ser atrasado em 1 hora após procedimentos;
Procedimentos de cuidado de enfermagem devem ser evitados durante o exame.
5. Indicações
Existe comprovação científica de que a calorimetria indireta pode ser usada nos pacientes
com déficits ou riscos nutricionais, fatores de estresse físico ou situações em que o uso de
equações preditivas esteja prejudicado, como, por exemplo:
Trauma neurológico;
Paralisia;
Doença pulmonar obstrutiva crônica;
Pancreatite aguda;
Câncer com tumor residual;
Trauma múltiplo;
Amputações;
Pacientes nos quais peso e altura não podem ser medidos com acurácia;
Pacientes que não responderam ao tratamento previamente estimado;
Paciente que requerem uso prolongado de cuidado intensivo;
Sepse grave;
Pacientes extremamente obesos;
Pacientes com hiper ou hipometabolismo grave;
Pacientes em ventilação mecânica;
Doença de Chron;
Sobrepeso.
Caso o exame tenha sido realizado com o paciente em jejum ou com nutrição intermitente,
deve ser adicionado 5% ao valor do GER para consideração do efeito térmico dos alimentos. Caso
o paciente esteja em alimentação contínua o valor encontrado no exame já abrange o efeito
térmico do alimento, tornando-se desnecessário o acréscimo de 5%.
6.2. Interpretação do QR
Tabela 1: Interpretação do QR
Substrato utilizado QR
Etanol 0,67
Quando o paciente migra para a fase anabólica, a necessidade energética tende a aumentar
significativamente. A ênfase da intervenção nutrológica se volta para a recuperação do estado
nutrológico do paciente. Nesta fase os pacientes podem ser nutridos com até 130% do GER,
mantendo-se o agressivo aporte proteico (1,5 a 2,0 g/kg/dia).
Preferencialmente os substrados energéticos utilizados para alcançar o GER devem ser não
proteicos, sendo 15 a 20% das calorias provindas de proteínas, 50% de carboidratos e 20 a 30%
de lipídeos.
8. Estudo de caso
Paciente masculino, de 62 anos, sofreu uma colisão frontal com um carro, tendo sofrido
hemorragia subaracnoide com lesão axonal difusa, fratura de quadril e acetábulo esquerdo. De
antecedentes pessoais apresenta doença arterial coronariana, diabetes mellitus tipo 1,
dislipidemia, hipotireoidismo, artrite e demência vascular. Sua estatura é 1,90 m, peso atual de
87,7 kg (IMC: 24,3 kg/m2). Pela equação de Harris-Benedict seu GER é 1804 kcal e levando em
consideração o fator de correção de 1,2 seu GET é 2165 kcal.
CI: calorimetria indireta; GER: gasto energético em repouso; QR: quociente respiratório; DIH: dia
de internação hospitalar
Sobre os dados da CI apresentados, discuta:
b.2. Explique por que houve alterações dos valores de GER ao passar do tempo de internação;
b.3. Baseando-se nos dados da tabela a terapia nutrológica aplicada neste caso estava correta?
9. Bibliografia recomendada
DIENER JRC. Calorimetria indireta. Rev Ass Med Brasil 1997; 43(3): 245-53
Dias ACF, Silva Filho AA, Cômodo ARO, Tomaz BA, Ribas DF, Spolidoro J, Lopes AC,
Marchini JS. Gasto Energético Avaliado pela Calorimetria Indireta. Projeto Diretrizes
AMB
Haugen HA, Lingtak-Neander Chan, Li F. Indirect Calorimetry: A Practical Guide for
Clinicians. Nutr Clin Pract 2007 22: 377
Wooley JA. Indirect Calorimetry: Applications in Practice. Respir Care Clin 12 (2006)
619–633
Psota T, Chen KY. Measuring energy expenditure in clinical populations: rewards and
challenges. Eur J Clin Nutr. 2013 May ; 67(5): 436–442.