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Parashat Toldot – Uma oportunidade para compreender o comentário do

Rashi

O processo de canonização do Rashi

Rashi é o acrônimo do rabino Shlomo ben-Itzhak (1040-1105), o mais


famoso comentarista da Bíblia Hebraica e do Talmud. Seu comentário é
considerado, como o nível “Peshat” = Simples, dentre quatro níveis
interpretativos (Remez = Alusivo, Drash = homilético, Sod = Oculto).

Porém, no estudo avançado do seu material, fica evidente que tal


consideração não procede, posto que seu comentário nem sempre é
simples e, por vezes, é uma antologia do Midrash.
O rabino Professor Marty Lockshin observa que, o comentário do Rashi se
espalhou rapidamente para além do Norte da França Medieval, onde foi
produzido.

Como aponta o Professor Eric Lawee, professor de Bíblia Hebraica na


Universidade Bar Ian, no livro “Rashi’s Commentary on the Torah”, o
comentário dele esteve no centro da atenção judaica, no mundo todo, logo
após sua promulgação.

Tal comentário se tornou, por isso, “canônico”, no sentido de que, é tão


venerado que, houve quem declarasse que, Rashi comentou o texto sob
“inspiração divina”. Aqueles poucos Judeus que, não gostavam desta
tendência de “culto à personalidade”, não apenas ignoraram isso, mas,
sujeitaram seu comentário a múltiplos e vastos meios interpretativos
distintos.

Hoje em dia, se considera como padrão, que o comentário da Torá seja,


verso por verso e, no comentário de frases selecionadas, cita-se cada uma
das palavras para, com isso, se fazer um glossário terminológico em
Hebraico. Mas, como observa o rabino Lockshin, não se tem
conhecimento de um comentário da Bíblia Hebraica que siga, tal padrão
antes do Rashi.
Assim, Rashi teve poucos modelos nos quais basear a estrutura de seu
comentário. E já são 900 anos e que, seu método é o modelo padrão.

Todo comentário do Rashi, é do Rashi?

Alguns estudiosos argumentam que, jamais saberemos, qual a posição


exegética do Rashi de modo consistente, sobre assunto nenhum. Dado que,
não temos um texto confiável de sua autoria, sobre a Torá. O pesquisador,
Avraham Grossman, professor emérito de História Judaica da Hebrew
University, mostrou que, dezenas de “adições” foram feitas a seu texto, e
apenas algumas delas, foram definitivamente identificadas. O motivo é
que, não temos quaisquer manuscritos, que datem dos primeiros períodos
em que os comentários dele foram compostos.

[Grossman, The Early Sages of France, páginas 182 a 195]

Uma possibilidade mais radical foi levantada pelo estudioso das Parshanut
(ou seja, de comentários da Bíblia Hebraica), o Dr Elazar Touitou (1929–
2010), dizendo que, não apenas vários acréscimos entraram no comentário
de Rashi sobre a Torá, mas até o texto que temos atualmente, pode conter
apenas uma minúcia, relativamente pequena destes comentários, em
comparação com o que, na verdade, foi produzido pelo Rashi.

[Elazar Touitou
“‫”על גלגולי הנוסח של פרוש רש"י לתורה‬
[Concerning the Presumed Original Version of Rashi’s Commentary on the
Pentateuch], Tarbiz 56 (1987): páginas 211 a 242.]

Se for esse o caso, os chamados “estudos do Rashi” ocorrem apenas nas


entrelinhas.

No entanto, a maioria dos estudiosos ainda pensa que o texto que temos é
“suficientemente semelhante” ao que teria sido, o trabalho do Rashi. De
modo tal que, podemos fazer perguntas como: "Qual é o método exegético
do Rashi?" Mesmo com o fato de que, temos que nos preocupar, com os
tais “comentários individuais”, que foram encontrados, dentro dos
comentários do Rashi.

Rashi e o Peshat

O Rashi não escreveu uma introdução a seu comentário da Torá,


explicando seu método. Sua declaração mais clara sobre o método que
usava, surge em seu comentário a Bereshit 3: 8, aonde ele diz que, seu
comentário é “novo”, no sentido de que, tinha o compromisso com o
“Peshat” - que quer dizer, o sentido pleno, simples do texto:

‫ וכבר סדרום רבותינו על מכונם בבראשית רבה ושאר‬,‫יש מדרשי אגדה רבים‬
‫ ולאגדה המיישבת דבר המקרא‬,‫ ואני לא באתי אלא לפשוטו של מקרא‬.‫מדרשים‬
‫ושמועו דבור על אופני‬

Existem muitos Midrashim Agadáticos; nossos sábios já havia organizado


aquele material, de modo adequado, no Bereshit Rabá e, outras coletâneas
de Midrash. Eu, por outro lado, venho [escrever] apenas o <Peshuto Shel
Mikrá> - o sentido simples do texto – e, aquelas Agadot, que explicarem
palavras das Escrituras, cada uma no seu lugar adequado.

[Note que, o Rashi prefere o termo longo <Peshuto Shel Mikrá>, as vezes
abreviado como <Peshuto>, e não o termo que é usado hoje em dia,
<Peshat>. A expressão, <Peshuto Shel Mikrá> é uma tradução Hebraica do
termo Aramaico <Pashtei Dikera>, que aparece algumas vezes no Talmud
Bavli – por exemplo, em Eruvin 23b.
Note também que, o texto hebraico apresentado segue o texto do
comentário de Rashi encontrado no popular, Mikraot Gedolot Ha-keter, ed.
de Menahem Cohen. A redação precisa da frase final deste comentário foi
tema de debate entre estudiosos, de modo que seu sentido não é totalmente
claro. Veja o trabalho de Sarah Kamin
‫ פשוטו של מקרא ומדרשו של מקרא‬:‫רש"י‬
[Categorização exegética do Rashi em relação à distinção entre Peshat e
Derash] (Jerusalém: Magnes, 2007 [reimpressão de 1986]), páginas 71 a
77, 209 a 247.]

Cerca de duzentas vezes em seus comentários da Bíblia Hebraica, temos o


Rashi sustentando uma explicação textual, conforme o padrão de <peshuto
shel miqra>.

Às vezes, ele diz que uma interpretação tradicional específica, do texto não
é o [sentido] <peshuto>, e às vezes ele diz que se trata de sua própria
interpretação.

Mas ele nunca define exatamente o sentido de <peshuto shel mikra>, e os


estudiosos também não chegaram a um consenso, sobre como se deve
compreender esse termo.

A Dra Sarah Kamin (1938–1989), especialista em Parshanut medievais,


com muitos trabalhos especificamente sobre o Rashi, ofereceu uma análise
mais clara, argumentando que o Rashi via o contexto, como o fator
primordial (quase que, à exclusão de todos os outros) para decidir se uma
interpretação específica era <peshuto shel mikra> ou não.

Só que, mesmo assim, o sentido do que era considerado um "contexto"


para ele, precisa ser claramente definido.

O modo que o Rashi usa o Midrash

Uma questão mais complexa é a de que, se o Rashi realmente tinha alguma


abordagem consistente para distinguir entre <peshat> (o sentido simples,
claro ou contextual) e <Midrash> (que seria a, interpretação homilética).
Ele preenche seu comentário com <midrashim>, muitos dos quais, nos
parecem – se lidos com a devida atenção - totalmente incompatíveis com
qualquer definição de <Peshat>. Vejamos alguns exemplos:
Parashat Toldot: O “cansaço” de Essav

Em Bereshit 25: 29, Essav volta para casa, da caçada: ‫< עָ יֵף‬Aiêf>
(geralmente entendido como “cansado” embora, alguns traduzam
“faminto”). O Rashi comenta que, Essav estava “cansado” de cometer
assassinatos!

E alguns versos depois, Essav diz a seu irmão:


‫ִהֵּנה אָ נֹכִ י הֹולֵ ְך לָ מּות וְלָ ָּמ ה ֶּז ה ִלי ְּב כ ָֹרה‬
Eu estou morrendo, para quê eu quero a primogenitura?

O entendimento do Rashi é que, a primogenitura representava o direito de


se fazer o ritual de Oferta ao divino. Daí, ele explica o medo de morrer de
Essav, do seguinte modo:

‫ כמה אזהרות ועונשין ומיתות תלוין‬:‫ מה טיבה של עבודה זו? אמר לו‬:‫אמר עשו‬
‫ אם כן מה חפץ לי בה‬,‫ אני הולך למות על ידה‬:‫?בה… אמר‬
Essav disse [para Iáacov]: Em quê consiste este tal Serviço Divino? Iáacov
respondeu: Envolve muitas restrições, punições e até pena capital… Essav
disse: Mas, se eu for morrer por causa da primogenitura, para que eu iria
querer isso?

[Rashi, comentando Bereshit 25: 31, 32, baseado no Bereshit Rabá 63]

Este tipo de Midrash, certamente “ofende” nossa noção pós-moderna de


“sentido textual” - afinal, qual parte da história indica que Essav estaria
“assassinando” pessoas? Ou que, a conversa entre Iáacov e Essav, tivesse
alguma relação com o serviço ritual de Ofertas – algo completamente sem
sentido, já que tal serviço só seria iniciado séculos depois Iáacov e Essav
estarem mortos?!

Parecido com Peshat – a abordagem de Mizrahi


Para tentar entender tais características, alguns comentaristas disseram
que, o Rashi teria incluído comentários deste tipo, só porque “passavam”
num critério de que eram considerados “parecidos” com o Peshat. Por
exemplo, em seu comentário da mesma passagem, o rabino Eliahu Mizrahi
(1455-1525) enfatiza que, os Midrashim clássicos dos rabinos – que eram
a fonte principal do comentário do Rashi – fizeram uma “listagem” de
vários crimes, que – supostamente – Essav teria cometido, naquele mesmo
dia: relações com uma mulher desposada, e roubo. O Mizrahi não
menciona os “assassinatos”, e escreve:

‫ ומפני שהאגדה הזאת קרובה לפשוטו של מקרא‬. . . .‫והוא רעב' מיבעי ליה‬
‫ אין שדה אלא נערה‬- '‫ "'מן השדה‬:‫הביאה בפירושו והניח האגדה שאמרו‬
‫ לפי שאין האגדה ההיא קרובה לפשוטו של מקרא‬. . . ,‫מאורסה‬
[sobre o comentário do Rashi de que, a frase “ele estava cansado” foi dita
para aludir aos assassinatos] – posto que, o texto deveria ter expresso:
‫והוא רעב‬
“ele estava com fome”… Dado que este Midrash é mais próximo no
sentido pleno da Escritura, o Rashi o incorporou em seu comentário. Mas,
ele omitiu o Midrash que derivava das palavras “do campo” [no qual,
Essav teria cometido seus erros, com] uma mulher desposada...posto que,
aquele Midrash não é próximo no sentido pleno da Escritura…

Então, o Mizrahi argumenta que, quando o Rashi considerou a alegação


textual de que, haveria anomalia no texto; notando que aquilo existia,
como “prova” do Midrash, sobre os supostos “crimes” de Essav – crimes
não relevados no nível simples (peshat) do texto; ele não atribui tais
crimes a Essav, em seu comentário. Mas, o Mizrahi escreve então, que o
Rashi viu que o uso do termo “cansado” no verso, era também insuficiente,
para justificar a inclusão deste Midrash, e dizer que Essav era culpado de
assassinato – em seu comentário da Torá.

Só que, esta abordagem não se sustenta. Primeiro, porque o próprio


Mizrahi admite que, ele alega que o termo “cansado” é uma anomalia não
convincente. Segundo, que não existe este “padrão” comportamental
sugerido pelo Mizrahi, em toda a obra do Rashi.
Outro exemplo: A “mini-Inundação” dos dias de Enosh

Considerando o comentário do Rashi, sobre Devarim 32: 7 aonde se lê, na


primeira cláusula:
‫זְ כֹר יְמֹות עֹולָ ם ִּבינּו ְׁשנֹות ּדֹור־וָדֹור‬

Considere os dias passados: [o Rashi diz] A geração de Enosh, sobre o qual


Ele [a divindade] causou que as águas do oceano fluíssem, e [também] a
geração da Inundação [na época de Noah] que Ele [a divindade] afogou.

Então, o Rashi explica que há um paralelismo aqui, falando de “duas”


inundações: a inundação trazido na narrativa do Noah, e uma versão
“menor” dela, nos dias de Enosh.

[Talvez o Rashi estivesse relacionando esse Midrash com a duplicação do


termo:
"‫דור‬
“geração", na frase,
‫שנות דור ודור‬
que poderia ser traduzida como: "os anos, de geração após geração".]

A narrativa desta mini inundação, jamais é mencionada no texto da Torá.


Ela foi baseada num Midrash, bastante obscuro.

[Bereshit Rabá 23: 7]

E mesmo assim, o Rashi nem se sentiu compelido a mencionar que, “uma


mini inundação ocorreu nos dias de Enosh”. Ele simplesmente parece
considerar que, o leitor conhece esse Midrash e, faz uma alusão a ele – e
faz isso, duas vezes, em seu comentário. A outra é em Bereshit 6: 4.
Mesmo leitores fanáticos – os que atribuem mágica ao texto e aos
comentaristas – defendendo que o Rashi apenas explica o <Peshat> da
Torá, teria dificuldade de explicar, como é que tais interpretações, tem
qualquer tipo de relação com o “contexto” da narrativa.

Estudiosos acadêmicos e portanto, intelectualmente honestos, do trabalho


do Rashi sabem que existem dezenas, e talvez centenas de exemplos deste
tipo; aonde os Midrashim usados, não se encaixam de nenhum modo, no
contexto em que são citados.

A análise crítica do Rashi

O Rabino Avraham Ibn Ezra (1089-1167), era ainda jovem, quando Rashi
teria falecido. Um de seus trabalhos, o mostra reprovando as
inconsistências do Rashi:

‫כרב שלמה ז"ל שפירש התנ"ך ע"ד דרש והוא חושב שהוא על דרך פשט ואין‬
‫בספריו פשט רק אחד מני אלף וחכמי דורנו יתהללו באלה הספרים‬

...como o rabino Shlomo – de abençoada memória – que escreveu seu


<Derash> (comentário) da Bíblia Hebraica. Ele pensou que aquilo era um
comentário <Peshat> (simples), mas em seus livros, apenas um de mil
comentários, é [realmente] <Peshat>! Os estudiosos de nossa geração,
amam livros como esse!

[do livro de gramática de Ibn Ezra, Safah berurah, ed. por Gabriel
Lippmann (Fürth, 1839; reimpressão edição Jerusalem, 1967), página 5)]

Outros pensadores racionalistas, corroboram com tais observações. O


Rabino Iossef Ibn Kaspi (1280-1345) recomendava o estudo ocasional do
comentário do Rashi, só depois dos alunos terem aprendido seu próprio
comentário, dado que:
‫הדבר מתבאר היטב בידיעת הפכו‬
Você pode compreender algo melhor, se já houver sido exposto ao exato
contrário [do que ali é dito]

Ou seja, que a visão racionalista é o exato contrário, de tudo o que falam


os mistificadores, que leem Midrash de modo literal. O aluno deveria
aprender primeiro uma versão racional, para só depois ouvir uma versão
incoerente ou confusa.

[Sefer Parashat ha-kesef, Paris, ms. 184, página 4a., Citado por Avraham
Gross, no livro:
“‫”רש"י ומסורת לימוד התורה שבכתב בספרד‬
Spanish Jewry and Rashi’s Commentary on the Pentateuch, que aparece
no:
‫ עיונים ביצירתו‬: ‫רש"י‬
[em Rashi: Studies in his Creation [Rashi Studies], ed. Zvi Arie Steinfeld
(Ramat Gan: Imprensa da Universidade Bar Ilan, 1993), página 35. Gross
também cita outras críticas à dependência de Rashi de Midrash na página
36, 37, 44]

E não foram só rabinos de outras localidades que criticaram o Rashi, mas


até seu bisneto, o Rashbam (meados de 1080-1160), chegou a usar seu
comentário de Torá, para criticar a “concepção de Peshat” do Rashi, as
vezes usando uma linguagem bastante forte.

[Rashbam’s epilogue to his Torah commentary, que aparece no comentário


do Rabino Locksin: Rashbam’s Commentary on Deuteronomy, páginas.
205 a 207.]

Eric Lawee (Bar Ilan University) elaborou uma discussão detalhada de um


escritor judeu medieval difícil de identificação, e por isso chamado entre
acadêmicos de “pseudo-Rabad”, cujos comentários sobre o Rashi o
mostra, tão irritado, que o copista chegou a apagar, parcialmente, muitas
linhas de seu texto, mas estudiosos puderam reconstruir os insultos.

[Lawee, Rashi’s Commentary on the Torah, 150 – 195]


Essas críticas também não explicam realmente, qual era o empreendimento
do Rashi. Se o comentário dele não era Peshat, o que era?

Quando o Peshat não é o bastante

Estudiosos sugerem que, o Rashi não colocava a explicação Midrashica


em seu comentário, exceto nos casos em que, o Peshat fosse insuficiente
para se explicar um texto.

O rabino David Pardo (século XVIII) em seu comentário do Rashi, declara


que:
‫רבינו לא נחית לדרשה אלא מפני ההכרח‬
Nosso mestre usa o Midrash de modo redundante, apenas quando
compelidos a fazer isso.

[Literalmente: “nosso mestre “desce para o Midrash”, somente quando é


obrigado.” David Pardo, Sefer Maskil leDavid, (reimpressão: Jerusalém,
1986), introdução, página 5)]

De acordo com esta concepção, o <Peshat> continua a ser, o centro do


trabalho do Rashi; ao mesmo tempo em que, muitos comentários
Midráshicos do Rashi, são tentativas de resolver problemas, que o
<Peshat> não era capaz de resolver.

De fato, pode-se perceber algumas vezes, esse interesse no Peshat, na


forma pela qual o Rashi costuma usar Midrashim e adaptá-los, para
encaixá-los no sentido simples das Escrituras.
Por exemplo, o Rashi conhecia vários Midrashim que afirmam que, as
mulheres israelitas no Egito tiveram partos em múltiplos de seis, doze,
sessenta e até, seiscentos mil bebês. Alguns desses Midrashim apontavam
para as “seis palavras” sobre "crescimento" usadas em Shemot 1: 7:
‫) ְמאֹ ד וִַּת ָּמ לֵ א‬6( ‫) ִּב ְמאֹ ד‬5( ‫) ַוַּיעַ צְ מּו‬4( ‫) ַוִּי ְרּבּו‬3( ‫) ַוִּי ְׁש ְרצּו‬2( ‫) ָּפ רּו‬1( ‫ּובנֵי יְִׂש ָראֵ ל‬
ְ
‫הָ אָ ֶרץ אֹ ָתם‬

Os filhos de Israel era (1) férteis, e (2) prolíficos, eles (3) multiplicaram e
(4) aumentaram (5) muito, (6) muito, e a terra se encheu deles.

[Shemot Rabá 1, Midrash Tan’humá Shemot 6, Tan’humá Pekudei 9]

Percebe-se que o Rashi, meio que “aliviou” a sugestão absurda do


Midrash. Ele menciona apenas a opinião de que, sêxtuplos nasciam a cada
mulher israelita no Egito. E em vez de conectar a interpretação a contagem
de palavras – como o Midrash fez – ele, cita o termo:
‫וישרצו‬
como um termo que se refere apenas a animais, que em geral, dão à luz a
vários filhotes ao mesmo tempo. Daí o sentido “literal” do termo, dizendo
que os israelitas “encheram” a terra, fez Rashi considerar o nascimento de
Sêxtuplos como algo, supostamente comum, naquela época.

Outro lugar, em que o Rashi fez uma “subtração” do conteúdo do Midrash


é, Shemot 12: 12:

‫ֵּכיתי כָל ְּב כֹור ְּב אֶ ֶרץ ִמצְ ַריִם ֵמאָ ָדם וְעַ ד ְּב הֵ ָמה‬
ִ ‫וְעָ בַ ְרִּת י ְבאֶ ֶרץ ִמצְ ַריִם ַּב ַּל יְלָ ה הַ ֶּז ה ו ְִה‬
‫ּובכָל אֱ ֹלהֵ י ִמצְ ַריִם אֶ עֱֶׂש ה ְׁש פָ ִטים אֲ נִ י יְ־הוָה‬ ְ

Pois, nessa noite, eu passarei pela terra do Egito e matarei todos os


primogênitos dos homens da terra e também de todos os animais do Egito;
executarei meu juízo contra todos os elohim do Egito – Eu Sou Hashem.

O Midrash, que é popular graças a Agadá de Pessach, considera cada verbo


dado ali, como uma ideia que indica que, a Divindade agiu sozinha, sem
um intermediário:

‫ ובכל אלוהי‬.‫ אני ולא שרף‬,‫ והכיתי כל בכור‬.‫ אני ולא מלאך‬,‫ועברתי בארץ מצרים‬
‫ אני ולא אחר‬,'‫ אני ה‬.‫ אני ולא שליח‬,‫מצרים אעשה שפטים‬
“passarei pela terra do Egito” - Eu passarei, não um mensageiro! “matarei
todos os primogênitos” - Eu, não um Seraf! - “executarei meu juízo contra
todos os elohim do Egito” - Eu, não um intermediário! - “Eu Sou Hashem”
- Eu, nenhum outro é.

Enquanto o Midrash aplica este modo de ler o texto, por quatro vezes; o
Rashi usa apenas uma vez – só os últimos exemplos do Midrash:

‫אעשה שפטים אני ה' אני בעצמי ולא ע"י שליח‬


“executarei meu juízo contra todos os elohim do Egito, Eu sou Hashem”:
Eu mesmo farei isso! Sozinho! Não por meio de um intermediário.

O Rabino Shmuel Almosnino (século XVI), autor de um dos primeiros


comentários do Rashi, publicado em 1525 e chamado de <Perushim Le-
Rashi>; escreveu que, o Rashi apenas adotou parte do Midrash, a parte que
ele considerou que corroborava com o Peshat. As únicas palavras então,
que seria “difíceis” no verso, por causa da redundância, seriam “Eu sou
HaShem” , então, o Rashi só comenta estas.

As vezes, o Rashi era explícito ao descrever sua abordagem sobre o


Midrash, explicando o motivo de um específico Midrash “merecer” ou
“não merecer” inclusão em seu comentário. Por exemplo, em Shemot 2: 5
lemos:
‫וֵַּת ֶרד ַּב ת ַּפ ְרעֹ ה ִל ְרחֹ ץ עַ ל הַ יְאֹ ר ְו ַנ ֲער ֶֹתיהָ הֹ ְלכֹת עַ ל יַד הַ יְאֹ ר‬
A filha do Faraó desceu ao rio para banhar-se, enquanto suas
acompanhantes andavam pela margem do rio.

Ao que, o Rashi comenta:

‫ לפי‬,‫הולכות למות‬. ‫ כמו הנה אנכי הולך למות‬,‫ורבותינו דרשו הולכת לשון מיתה‬
‫ כי למה לנו לכתוב ונערותיה הולכות‬,‫ והכתוב מסייען‬.‫שמיחו בה‬

Nossos sábios disseram: “andavam” - ‫ – הולכות‬conota “morte”, como na


frase [de Bereshit 25: 32] “Estou prestes a morrer” - ‫ הולך למות‬- de modo
que, elas estavam prestes a morrer, pois tentaram impedir [que a filha do
Faraó salvasse Moshe]. A Escritura apoia tal explicação, pois, por qual
[outra] razão, deveria estar escrito “suas acompanhantes andavam”?

Aqui, o Rashi explica que, dado que o Midrash lida com o problema do
Peshat permitir perguntar – qual o sentido desta frase “desnecessária”
sobre as acompanhantes estarem caminhando? - há espaço para seu
comentário, mesmo que a resposta, não seja uma resposta de nível Peshat.

O que é que está incomodando o Rashi?

Como vimos, alguns textos permitem deduzir, qual era a consideração


contextual que levou o Rashi a incluir explicações de Midrashim em seus
comentários. As vezes, o Rashi mesmo se explicava. Estes fatores levaram
a opinião popular atual: Sempre devemos nos perguntar ao estudar este
material:
‫מה קשה לרש"י‬
O que é que está incomodando o Rashi?
Sobre o modo em que, a Escritura foi registrada.

Considere o comentário de Almosnino, ao que o Rashi disse sobre Shemot


12: 12:

‫הנה רש"י רדף אחר פשט הכתוב כי לפי הפשט אין מקום אל דרשת הסימנים‬
‫ רצוני ועברתי והכתי אעשה‬,‫האחרים‬

Perceba que o Rashi procurou o Peshat no verso. Seguindo as


considerações do Peshat, não há justificativa para outras comprovações –
da de que a divindade agiu sozinho – das frases: “eu passarei” e
“executarei meu juízo” e “matarei” - e, de acordo com isso, o Rashi não os
menciona em seu comentário.

Então, conforme Almosnino esclareceu, o método do Rashi é, mais ou


menos sólido, embora este exemplo, não seja o melhor para deixar isso
claro. O Rashi, pode não ter tido o conhecimento da leitura Midrashica,
que o Almosnino alega que o Rashi rejeita.

[para uma abordagem deste Midrash, ver o trabalho de Menachem Kasher,


chamado Torah Sheleimah, volume 11, páginas 117, 118]

Árvore ou Madeira?

Leibowitz seria um mestre moderno, do estudo do Rashi, e procurou


demonstrar a seus alunos, como ler o Rashi com a devida atenção. Por
exemplo, em Bereshit 18: 4, quando Avraham convida seus visitantes para
descansar
- ‫ תחת העץ‬-
o Rashi comenta:

‫תחת העץ – תחת האילן‬

“debaixo da <etz>” - debaixo da árvore.

Quem tiver um mínimo de noção em Hebraico, já entendeu.


O comentário parece desnecessário e obscuro. A palavra Hebraica ‫עץ‬
<etz> quer dizer árvore mesmo. E na Escritura, o termo já tinha aparecido
em Bereshit, bem antes do capítulo 18. E na primeira vez que o termo
apareceu, era o local de o Rashi comentar o “significado” do termo, se
achasse necessário, mas ele não fez isso.

Então, por qual motivo o Rashi está dizendo, a esta altura, que ‫< עץ‬etz>
quer dizer ‫< אילן‬Ilan> árvore?

O motivo é que, ‫< אילן‬Ilan>, é um termo emprestado do Aramaico. E tal


termo era usado, de modo popular para se referir a uma árvore. Só que o
termo ‫< עץ‬etz>, que é o padrão bíblico para árvore, passou a significar
popularmente Madeira. Portanto, o Rashi estava ilustrando a seu leitor, que
Avraham estava convidando os visitantes, para descansarem debaixo de
uma árvore, não debaixo de uma estrutura de madeira.

[Leibowitz, que foi também um biógrafo hebraico, relatou uma anedota


sobre uma aula que a jovem Nehama Leibowitz teria ministrado em Israel
no início de sua carreira, Nesta oportunidade, ela desafiou seus alunos a
descobrir qual a possível ambiguidade haveria, no breve comentário do
Rashi abordado aqui. Na ocasião, nenhum dos alunos conseguiu descobrir.
Mas, um imigrante recém-chegado a Israel da Alemanha, disse na tentativa
de pronúncia do Hebraico: ‫< לא מטריאל‬Lo Material>. Leibowitz ficou
encantado com o fato de que, o novo imigrante fez a descoberta: a palavra
‫< עץ‬etz> em hebraico é potencialmente ambígua; pode significar
“madeira” processada (material) ou “árvore”. [Nehama: The Life of
Nehama Leibowitz] página 83 e 84.]

Talvez, nada estivesse incomodando o Rashi

No final das contas, muitos dos estudiosos do Rashi ao longo dos tempos
concordam que, muitas vezes, o Rashi não estava reagindo a nenhuma
dificuldade de texto.

O rabino Isaac Horowitz (século XIX), autor do comentário “ao


comentário do Rashi”, chamado Be'er Yitzhak, argumentou que o Rashi
cita um Midrash, não por causa de qualquer dificuldade no texto, mas
porque o Midrash citado é considerado verdadeiro!

Como Leibowitz admite, o rabino Eliahu Mizrahi, que foi o mais famoso
comentarista do Rashi, adotou esta mesma posição – de que nem todo
comentário do Rashi era uma reação a uma dificuldade textual.

Essa posição também é usada pelo rabino Abraham Bokrat (séculos XV-
XVI) em seu comentário, Sefer Zikaron.
O Rashi - diz Bokrat - inclui frequentemente em seus comentários, um
Midrash que se opõe ao sentido <Peshat>, não por causa de uma
dificuldade textual com o Peshat, mas porque o Rashi preferia o sentido
dado pelo Midrash, e não desejava interpretar o verso, de acordo com o
que estava indicado no Peshat, pura e simplesmente.

[Veja por exemplo, o comentário do Rashi em Devarim 25: 6 , além de


outras fontes citadas por Moshe Filip em sua introdução ao Sefer Zikaron,
nas notas de rodapé nas páginas 29–34. Bokrat também tem uma teoria
fascinante de que o Rashi escolhia uma compilação Midrashica que servia
como seu texto “base” para cada livro da Torá. Ele costumava usar uma
interpretação midrashica dessa compilação, mesmo quando faltava uma
base textual para isso. Bokrat comentando Bereshit 4: 15:]

Bokrat ainda mostra ter uma “dificuldade religiosa” de aceitar a alegação


de que, o Rashi citava um Midrash específico, por causa de uma
redundância no texto.
As palavras da tradição rabínica, diz Bokrat, não exigiriam nenhuma
"ajuda" de teorias sobre supostas redundâncias no texto.

[Como ele diz, ao comentar Vaicrá 21: 3:


‫ שאין‬,‫ואין לסייע קבלתם ז"ל בשנאמר שאם לא כן הויא לה "לה יטמא" מיותרת‬
‫דברי קבלה צריכין חיזוק ולא סיוע‬
Não há necessidade de apoiar a tradição dos rabinos {de interpretação
deste versículo}, apontando que as palavras “para ela, ele podia se
contaminar” seriam desnecessárias [porque os versículos 2 e 3 já foram
introduzidos pela Torá, como a lista de parentes pelos quais o Kohen pode
se contaminar]; as palavras da tradição não requerem apoio ou
fortalecimento {de alegadas anomalias no versículo bíblico}]
O professor Avraham Gross, da Universidade Ben-Gurion, no Negev,
contrastou – e de modo intelignete - a abordagem de Bokrat, com a de
críticos clássicos do Rashi, como Ibn Ezra e Ibn Kaspi:

Eles menosprezam o abandono da abordagem Peshat da parte do Rashi,


bem como sua confiança no Midrash.

Bokrat, por outro lado, admira exatamente isso.

Essa mesma distinção pode ser encontrada entre os judeus do século XX e


XXI, que acreditam que o Rashi injetou Midrashim em seus comentários,
mesmo quando não havia dificuldade textual.

Maurice Liber (1884–1956; um estudioso e o principal rabino da França)


viu isso como evidência do fato de que, o Rashi ficou “aquém do
esperado” meste quesito, posto que, não conseguiu desenvolver uma
abordagem verdadeiramente científica de estudo.

[Liber, REJ 50 (1905), p. XLVIII e Liber, Rashi, traduzido por H. Szold,


página 111]

Já o tradicionalista contemporâneo, Moshe Filip, que atualmente está


publicando novas edições de muitos supra comentários do Rashi, vê essa
atitude ambivalente em relação ao Peshat, como uma parte crucial da
genialidade do Rashi.

[Veja a introdução dele, ao Sefer zikaron de Bokrat, página 53, nota 70.
Nesta introdução, Filip também critica aqueles que tentam reformular o
material do Rashi, como um exegeta comprometido com Peshat e escreve
que, uma análise cuidadosa das fontes do Rashi e seus comentários, leva às
conclusões que Bokrat chegou.]
O Rabino Lockshin acredita que o Rashi não limitava seus comentários
Midrashicos, a versos onde as explicações em nível de Peshat ficassem
devendo.

O Rashi seria, antes de tudo, um educador. Interpretar a Bíblia Hebraica


não era seu objetivo final; seu comentário era um veículo para ensinar o
povo Judeu de sua época, e ele encontrou muitas mensagens judaicas
importantes naqueles Midrashim.

Entendendo de modo diferente, a relação do Rashi com o Midrash

O Rashi mostrava um compromisso, tanto com o sentido Peshat, quanto


com o sentido do Midrash; ele usava de modo livre ambos os conceitos,
em seus comentários.

Essa conclusão parece óbvia, mas envolve uma série de dificuldades –


como, a insistência do Rashi em várias declarações programáticas de que,
seu objetivo era mesmo fornecer um Peshat sobre a Torá.
Uma solução criativa para essa dificuldade foi oferecida pela primeira vez
por Bokrat, que afirmou que:
‫אני לא באתי אלא לפשוטו של מקרא‬
A frase do Rashi: “eu vim [para escrever] apenas, sobre o <peshuto shel
mikra> não significava que, ele faria isso, por todo o comentário da Bíblia
Hebraica”. Em vez disso, era no sentido de: “eu [escrevo] apenas o
<peshuto shel mikra> no comentário desse verso em particular.”

Essa explicação pode parecer forçada, mas não pode ser descartada.

A construção usada ali,


‫ אלא‬... ‫אין‬
‫ אלא‬... ‫לא‬
nem sempre é usada para eliminar, declarações generalizadas.

[Muitos obsevaram, por exemplo, que a frase


‫אין נא אלא לשון בקשה‬
deve significar “‫< נא‬ná> no sentido de “por favor”, nesta passagem em
particular”, e não que o termo “ ‫< נא‬ná> sempre seja uma palavra de
solicitação.” Veja o que o Mizrahi comenta em Bereshit 22 : 2, Shemot 11:
2 e Devarim 3:25. O rabino Isaac Horowitz (conforme citado por N.
Leibowitz em Iyyunim hadashim besefer Shemot, página 130) expande
essa afirmação, dizendo que se aplica a todos os ditos, com uma
construção semelhante do hebraico rabínico:
‫)ודע שזה כלל גדול בדבריהם ז"ל‬.]

A mistura de Peshat com Midrash da parte do Rashi, poderia ser um sinal -


não de inconsistência, mas de genialidade.

O Rashi entendia, o que a maioria dos judeus queria, em um comentário da


Torá:

Algumas leituras cuidadosas do texto bíblico - algumas explicações


gramaticais e, principalmente, uma amostra de Midrashim interessantes,
edificantes ou até divertidos.

Acrescente a isso seu forte caráter pessoal - por exemplo, sua disposição
frequente de escrever humildemente:
“‫איני יודע‬
Eu não sei [o que isso quer dizer]” - algo que, comentaristas posteriores
raramente fizeram - e podemos talvez, começar a entender o que fez do
Rashi, o comentarista da Torá por excelência.

Rashi e as questões contemporâneas

Os acadêmicos discordam sobre se o Rashi às vezes fazia alusão a eventos


em sua própria vida, ou não.
Por exemplo, o Rashi comenta no primeiro versículo de Bereshit, que o
objetivo das histórias do Sefer Bereshit, era primeiramente, estabelecer a
legitimidade da reivindicação judaica da terra de Israel.
Estaria ele reagindo aos eventos, dos últimos nove anos de sua vida,
quando os Cruzados estavam lutando contra os Muçulmanos, pela
hegemonia na Terra Santa?

Ou seria mais correto dizer - como apontou Avraham Grossman - que o


Rashi começava seu comentário, em cada volume da Torá, enfatizando a
natureza especial do relacionamento da Divindade com o povo judeu?

Existe um debate semelhante sobre se o Rashi tentava refutar as alegações


cristãs, em seus comentários da Torá. Certamente, em alguns livros
bíblicos, especialmente no Sefer Tehilim, ele demonstra ciência e oposição
às interpretações dos cristãos. Por exemplo, o texto sem censura (pois a
Igreja havia censurado a versão original) sobre Tehilim 21: 2 ele diz:

‫ לתשובת‬,‫רבותינו פתרוהו על מלך המשיח; ונכון הדבר לפותרו עוד על דוד עצמו‬
‫המינין שפקרו בו‬

Os rabinos interpretaram esta canção, como uma referência ao rei


Mashiach – mas – o adequado é interpretar que, se refere ao próprio Rei
David, posto que, esta é uma refutação adequada aos <Minim> (aos
cristãos) que, apoiam-se nisso, para suas crenças incorretas.

Mas em seu comentário à Torá, não encontramos as referências explícitas à


interpretação cristã da Torá ou sequer de doutrinas cristãs. E os
argumentos que tentam encontrar, “polêmicas ocultas” contra o
Cristianismo ou contra a exegese cristã, são frequentemente fracos.

Cerca de duas gerações após o Rashi, argumentos anticristãos começam a


aparecer explicitamente nos comentários da Torá na Europa.

Mesmo assim, o rabino Lochshin acredita, conforme o argumento feito por


Shaye Cohen, de que o comentário de Rashi nunca abordava o
Cristianismo. Veja Shaye J.D. Cohen, no “Does Rashi’s Torah
Commentary Respond to Christianity? A Comparison of Rashi with
Rashbam and Bekhor Shor”, edição Hindy Najman e Judith H. Newman, e
também, The Idea of Biblical Interpretation: Essays in Honor of James L.
Kugel, 449-472. E também Daniel J. Lasker, “Rashi e Maimonides on
Christianity”, nas edições Ephraim Kanarfogel e Moshe Sokolow. E
também Between Rashi and Maimonides: Themes in Medieval Jewish
Thought, Literature and Exegesis, 3-21. Com tudo isso, a Dra Yedida
Eisenstat (York University) argumenta que, embora Rashi pudesse não ter
polêmicas diretas, contra o Cristianismo, seu comentário contém material
apologético neste sentido.

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