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III Grupo

António Alberto Nhacundela


Artur Armindo Magomane
Clésia Abdul Mabote
Felícia Eulália Francisco
Félix da Clara Augusto
Gabriel Raul Rafael
Gonçalves Fernando Matimbe
Hérica Feliz Matanha
Jércia da Fina Matimbe
José Virgínia Herculano
Manuel Adriano Mazive
Rafaela Teles Neves

CULTURA SIMBÓLICA, IDEOLOGIA E PAPEL DA RELIGIÃO TRADICIONAL


AFRICANA EM MOÇAMBIQUE

Licenciatura em Física

Universidade Save
Massinga
2021
III Grupo
António Alberto Nhacundela
Artur Armindo Magomane
Clésia Abdul Mabote
Felícia Eulália Francisco
Félix da Clara Augusto
Gabriel Raul Rafael
Gonçalves Fernando Matimbe
Hérica Feliz Matanha
Jércia da Fina Matimbe
José Virgínia Herculano
Manuel Adriano Mazive
Rafaela Teles Neves

CULTURA SIMBÓLICA, IDEOLOGIA E PAPEL DA RELIGIÃO TRADICIONAL


AFRICANA EM MOÇAMBIQUE

Trabalho de pesquisa científica a ser


apresentado na Faculdade de Ciências Naturais
e Exactas, Departamento do Curso de
Licenciatura em Física, como requisito parcial
para o efeito de avaliação na cadeira de
Antropologia Cultural de Moçambique.

Docente: Prof. Dr. PhD. Carlitos Luís Sitoie

Universidade Save
Massinga
2021
Índice
Capítulo I.............................................................................................................................4
1.1.Introduҁão......................................................................................................................4
1.2.Objetivos........................................................................................................................4
Objectivo Geral:..................................................................................................................4
Abordar acerca da cultura....................................................................................................4
Objetivos específicos...........................................................................................................4
1.3. Metodologia..................................................................................................................4
Capitulo II............................................................................................................................5
2.Cultura Simbólica.............................................................................................................5
2.1. Ideologia.......................................................................................................................6
2.1.1. A Religião..................................................................................................................6
2.1.2.Expressões da religião................................................................................................7
2.1.3. Animismo..................................................................................................................7
2.1.4. Maná e tabu...............................................................................................................7
2.1.5. Magia e religião.........................................................................................................8
2.1.6 Ritos de transição ou de passagem.............................................................................8
2.1.7. O Totemismo.............................................................................................................9
2.1.8. Mitos..........................................................................................................................9
2.1.9. Lendas......................................................................................................................10
2.1.10. Conto.....................................................................................................................10
2.2. Religião e cultura........................................................................................................10
2.3. Monoteísmo................................................................................................................11
2.4. Religião e mudança....................................................................................................11
2.5. O Papel da Religião tradicional africana em Moçambique........................................11
Capitulo III........................................................................................................................14
3. Conclusão......................................................................................................................14
Bibliografia........................................................................................................................15
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Capítulo I
1.1.Introduҁão

O presente trabalho, surge No âmbito da cadeira de antropologia cultural de Moçambique.


Este, trata da realidade que nos rodeia, relacionando os diversos modos de vida das diferentes
sociedades em Moçambique mediante a descrição teórica comum a nós. Deste modo,
provavelmente mais fácil a descrição, a resolução e a compreensão das tarefas e problemas
relacionados com os conteúdos abordados.
1.2.Objetivos.
Objectivo Geral:
 Compreender o caracter simbolico da cultura;
 Conhecer o papel da religiao africana em Mocambique.

1.3. Objectivos específicos

 Explicar o caracter simbólico da cultura;


 Identificar as ideologia e os tipos de ideologia;
 Explicar a religião tradicional Africana;
 Identificar o papel da religião Africana em Moçambique.
1.3. Metodologia

Para a elaboração e materialização do presente trabalho recorreu-seás consultas bibliográficas


as quais estão referenciados na última página do mesmo. Como etapas começa-se pela
mobilização das obras, sua leitura crítica, elaboração do texto e correҁões finais do mesmo.
Adopta-se também o método analítico para que o trabalho possa a atingir seus objectivos,
desenvolvendo um raciocínio demostrativo, partindo do exame de conceitos, e conexões que
conduzirão as afirmações conclusivas a respeito do trabalho em pesquisa.
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Capítulo II – Fundamentação Teórica


2. Cultura Simbólica

Todos os grupos humanos tiveram e têm uma crença num ser sobrenatural ou têm um
conjunto de ideias que não são, necessariamente, objectos tangíveis, que fazem parte do
mundo de ideias, Se formos a fazer uma leitura sobre todos os povos iremos notar que notar
que eles têm um conjunto de ideias que se relacionam com a cosmovisão ou então existe uma
certa crença sobre um mundo sobrenatural, ou ainda, que os homens estabelecem um
relacionamento com o mundo invisível. Esse é o lado do imaginário do homem, da cultura
imaterial ou do aspecto ideológico. De facto, toda a sociedade humana tem, de certa forma,
uma ligação com o sobrenatural ou com o imaginário que pode não se situar necessariamente
ao nível do aspecto religioso. Por outro, quando falamos das características da cultura, vimos
que uma delas é o seu carácter simbólico, isto é, que para além de ser material, envolvendo
artefactos ou objectos, ela comporta também uma parte mental, resultante da actividade
psíquica, quer nos seus aspectos cognitivos, quer nos afectivos, significados, valores e
normas. Contudo, estes dois lados da cultura agem de forma recíproca, dado que, como
defende Maurice Godelier, o material da cultura pode se simbolizar e o simbólico da cultura
se pode materializar. Esse mundo simbólico precisa de ser descodificado pelo facto de os
símbolos formarem um sistema específico, porque transmite mensagens difíceis de captar à
primeira vista. Assim, a compreensão da cultura dos homens depende da percepção dos
símbolos, dado que estes tocam a cultura e a sociedade na sua globalidade. Por isso, alguns
estudiosos consideram o homem como “animal simbólico” e, outros autores, indicam ser
difícil separar as duas partes.

A cultura é simbólica porque é um conjunto de significados e valores transmitidos


necessariamente através dos símbolos e sinais.
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A cultura enquanto produção humana, compõe um universo simbólico cuja rede de relações e
significados lançam o Homem num mundo codificado e replecto de referentes não-arbitrários
(porque estabelecidos convencionalmente) mas cuja ambivalência (ou mesmo plurivalência)
de objectos e significados são constantimente interpretados.

Os factos sociais são simbólicos. Desta forma, a cultura é simbólica pois pode ser considerada
como um conjunto de sistemas simbólicos.

Neste sentido, integram o simbolismo: a linguagem verbal, os ritos, as instituições culturais,


as relações, os costumes, etc. Um exemplo prático ao nível do simbólico existente em África é
o totemismo. Este expressa um conjunto de seres, animais ou vegetais, usados para atribuir
nome a um clã, passando, a partir desse momento, a ser o nome pelo qual um determinado clã
se identifica. Na sequência dessa prática, um clã X passa a evitar o contacto, principalmente
por via de alimentação, com o animal ou a planta. Contudo, um dos elementos que congrega a
maior parte dos aspectos simbólicos é a Religião. O discurso religioso procura abarcar a
totalidade da experiência humana, ligando o material e o sobrenatural, o imanente do
transcendental, com o fim de classificar, ordenar, hierarquizar, construir uma moral e dar um
sentido à vida. A Religião tende para a Metafísica, tendo como característica o sacrifício,
supondo um intermediário de poderes sobrenaturais. Todas as religiões dividem o mundo em
duas partes: uma sagrada, que envolve objectos de culto, as pessoas do culto e os próprios
seres cultuados e outra profana, respeitante ao comum, ao secular. Segundo Martinez, (2004,
p. 115) todas as religiões, das diferentes sociedades, têm funções semelhantes, como a
essencialista, cujo objectivo é manter a identidade e a consistência da sociedade e a
funcionalista nos aspectos a) transcendental, na vinculação do Homem ao mundo
transcendental, ao Ser Supremo; b) integrador, para manter o grupo social unido através da
sua identidade cultural; c) ético, cuja finalidade é a de manter normas morais uniformes na
sociedade e d) função psicológica, com o objectivo de manter o equilíbrio e a harmonia. E
como acrescenta Rivière, “a pluralidade das religiões não autoriza, de forma nenhuma, que se
considere uma delas como a única verdadeira, não passando as outras de esboços ou
simulacros, apesar da nossa tendência para tratarmos como mitos e superstições as crenças a
que nós não aderimos” (Rivière, 2000, p. 143). O discurso religioso faz, de certa maneira,
parte da ideologia de um grupo social, esta definida como o conjunto das representações
colectivas (morais, filosóficas, religiosas...), através das quais os homens traduzem as suas
condições reais de existência adoptadas por exprimirem os interesses, reais ou imaginários, de
uma classe ou grupo social (Clémentetal. 1998, p. 190). Geralmente a ideologia permite e
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garante a manutenção das relações sociais, dado que é, através dela que estão prescritas, de
forma subtil, as relações, baseadas numa força exterior, reguladora das mesmas. Todas as
sociedades humanas apresentam um lado simbólico na sua cultura. Um dos aspectos mais
característicos da Cultura Imaterial é a Religião, a qual procura abarcar a totalidade da
experiência humana, ligando o material e o sobrenatural, com o fim de classificar, ordenar,
hierarquizar, construir uma moral e dar um sentido à vida. Esta cultura simbólica ou imaterial
veicula elementos agregadores num determinado grupo social.

2.1. Ideologia
2.1.1. Ritos de transição ou de passagem

O Rito designa “um conjunto de actos repititivos e codificados, por vezes solenes, de ordem
verbal, gestual ou de postura, com forte carga simbólica, fundado sobre a crença na força
actuante de seres ou de poderes sagrados, com os quais o homem tenta comunicar, visando
obter um determinado efeito” (Rivière, 2000, p. 154).

O Rito é endereçado a um Ser Sobrenatural, diferente dos demais e tem: uma sequência de
acções; representações; meios de comunicação, feitos por um pessoal especializado e meios
reais e simbólicos. Assim, envolve objectos, divindades, como as orações e oferendas,
sacrifícios, pessoal, como Oficiantes/Médiums/Padres.

Eles são feitos em locais próprios ou habituais, como numa árvore, junto de nascentes de rios,
nas bases das montanhas, numa Igreja, em função da sociedade. O Rito Religioso é público,
colectivo e social.
Nem todos os ritos de transição têm a ver com a religião, mas eles ajudam a compreender
melhor a religião como prática sociocultural. Um rito de transição é um costume relacionado
com a mudança de uma etapa a outra na vida. Por exemplo, os índios das pradarias (EUA)
separavam temporariamente os jovens da sua comunidade. Este período era acompanhado de
jejum e de consumo de drogas. Depois o jovem teria visões que se converteriam no seu
espírito protector. Depois disso voltava à sua comunidade como adulto.
Os ritos de transição das culturas contemporâneas são: baptizados, a queima dos "caloiros",
casamentos, etc. Estes ritos implicam uma mudança de estatuto social, e as suas fases são:
separação, marginalidade e agregação. A fase marginal é um período liminar no qual as
pessoas deixaram o estado anterior, mas ainda não entraram ou se uniram ao próximo estado.
Estas pessoas são liminares (Turner: 1974) e ocupam posições sociais ambíguas; separados
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dos contactos sociais normais. Entre os ndembu (Zâmbia) um chefe tem que sofrer um
período liminar no qual as pessoas ignoram o seu estatuto passado e futuro, incluso é
invertido esse estatus, insultado, ordenado e humilhado. Geralmente estes rituais são
colectivos.
Segundo Arnold VanGennep (1986) um ritual de passagem: “... implica uma mudança na
situação do indivíduo, nele podemos observar acções, reacções, cerimónias, etc. Os ritos de
passagem são transmissores de cultura, e representam a transição a novos papéis e estatutos.
Também representam uma integração, pois animam e reavivam sentimentos comuns que
mantêm unidos comprometidos com o sistema social os indivíduos. Neles afloram
sentimentos, desaparecem temporariamente algumas regras, mas afirmam por contraste a
justiça moral das normas.”
2.1.2. Mitos

O Mito refere-se a um tempo primordial, relatando acontecimentos das origens. As


personagens que aparecem nos Mitos são Seres Sobrenaturais, protagonistas de uma
actividade criadora, revelandose no Mito a sacralidade das suas obras. Segundo Lévi-Strauss,
o mito pode expressar uma contradição impossível de resolver. No mesmo diapasão, para
Copans e outros (1971, p. 319), embora o Mito encontre as suas causas nas estruturas sociais,
ele pertence à superstrutura, com a finalidade de atenuar contradições. Aponta ainda que toda
a mitologia submete, domina as forças da natureza no campo da imaginação e dá-lhes forma,
mas desaparece quando tais forças são dominadas realmente (Ibid., p. 320).

O Mito é uma história exemplar, dado que fornece modelos para a conduta humana,
orientando o Homem no seu comportamento com respeito a Deus e aos outros seres. Contudo,
mesmo situando-se nesse nível, o Mito não é de todo falso, dado que se refere a
acontecimentos, como a criação do mundo, as origens da espécie humana, das coisas, como
verdadeiros, como factos objectivos. Por isso, os Mitos têm as seguintes características:
tratam das origens; os seus protagonistas são os Seres Sobrenaturais; através deles entra-se em
contacto com o sagrado; são transmitidos nos Ritos por especialistas indicados pelo grupo
social.
Os mitos expressam crenças e valores culturais através dos seus relatos. Os relatos do mito
narram acontecimentos do passado remoto: a origem do mundo ou de uma povoaçao através
de factos extraordinários, os deuses, heróis com atributos humanos, seres sobrenaturais, etc.
Os seus relatos são que são cridos, narram factos trascendentes e/ou dogmas da comunidade,
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com o fim de ensinar e moralizar. Servem também para ilustrar crenças religiosas. Os mitos,
além de dar lições morais, oferecem esperança, emoção e evasão.
Em relação com os mitos, temos as lendas e os contos. Esta relação é importante para
perceber melhor o mito, que se pode transformar em lenda.
2.1.2.1. Lendas
As lendas narram acontecimentos do passado recente – já não remoto como nos mitos -, e
são protagonizadas normalmente por pessoas seculares, ainda que também possam intervir
nelas seres sobrenaturais com poderes extraordinários. Tal como os mitos, as lendas são
relatos tomados como verdadeiros, mas no caso da lenda, também a fonte do relato pensa-se
como verdadeira.
2.12.2. Conto
O conto é, a diferença dos anteriores, um relato de ficção construído não para se acreditar
nele. Narram algo quotidiano, sem localização concreta, intemporal e não transcendente.
Exemplo disso são os contos sobre animais. O objectivo do conto, como género narrativo que
é, é o de transmitir uma mensagem cultural profunda aos seus ouvintes: esperança, sucesso,
esforço, segurança, inteligência, habilidade, astúcia.
Os contos utilizam geralmente fórmulas introdutórias. Ex.: “Era uma vez que se era...” No conto a
fantasia é central, e geralmente sugerem a possibilidade de crescimento e de auto- realização, de ai a
sua importância para as crianças. Os seus protagonistas são heróis (plantas, animais, humanos...) que
utilizam inteligência, habilidade física ou astúcia para os seus fins. O herói deve passar uma série de
provas rituais para atingir uma meta. As crianças identificam-se geralmente com os heróis vencedores.
Os contos oferecem confiança na melhoria, ao mesmo tempo que dão segurança e satisfação
psicológica.

2.2. A Religião
A religião pode ser entendida como o sistema de crenças e rituais ligado com seres, poderes e
forças sobrenaturais. A religião é um universal da cultura, isto é, é um fenómeno inerente a
todas as culturas. Ela pode afirmar a solidariedade social de um grupo humano, mas também a
inimizade mais acérrima. A religião relaciona o homem com o sobrenatural, embora não seja
fácil distinguir-se o natural do sobrenatural. Diferentes culturas conceituam os entes
sobrenaturais de maneira diferente.
A origem da religião parece encontrar-se na procura de um sentido e um fim para a nossa
existência, que normalmente se acha em seres sobrenaturais. Na maioria das religiões os
crentes tentam honrar e influir nos seus deuses por meio de orações, sacrifícios, rituais,
comportamentos morais apropriados, etc. Longe de considerar estas práticas como
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“superstição”, conceito pejorativo e evolucionista, devemos entender estas como sistemas de


crenças que muitas vezes se entrecruzam e articulam culturalmente.

2.2.2.Expressões da religião
2.2.3. Animismo
Edward Burnett Tylor (1871-1958) foi o fundador da antropologia da religião. Segundo este
autor a religião nasceu quando o homem tentava compreender as condições e eventos que não
podia explicar por meio da referência à experiência quotidiana. O intento de explicação dos
sonhos e dos trances levou os primeiros humanos a crer que o corpo humano era habitado por
dois entes: um durante o dia e outro durante a noite. Estes dois entes ou seres são vitais um
para o outro. Quando a alma (“anima”) abandona o corpo de forma permanente a pessoa
falece. Tylor denominou a esta crença “animismo”.
Como evolucionista que era pensava que a religião tinha evoluído através de uma série de
etapas, e a inicial era o “animismo”, o “politeísmo” e o “monoteísmo” eram as seguintes. No
pensamento de Tylor estava a ideia de que a religião declinaria à medida que a ciência fosse
oferecendo explicações melhores sobre aquilo que o homem não entendia.
2.2.4. Maná
Os primeiros humanos entendiam o sobrenatural como uma força que não podiam controlar,
ou só em determinadas condições. Esta concepção era muito importante na Melanésia
(Pacífico sul, Papua Nova Guiné e ilhas de perto). Os Melanésia criam no maná, uma força
sagrada existente no universo, e o maná residia nas pessoas, nos animais, nas plantas e nos
objectos.
Esta noção de maná é muito similar às nossas noções de “sorte” e de "azar" (má sorte,
conotação negativa); os Melanésia atribuíam o sucesso ao maná (manipulável através da
magia), era assim que o uso de um objecto como amuleto podia mudar a sorte de alguém (um
caçador).
Entretanto, na Polinésia (Hawai) a noção de maná era diferente. Se na Melanésia o maná
podia adquirir-se por casualidade ou trabalhando duro, na Polinésia o maná estava vinculado
às responsabilidades políticas (os chefes e os nobres tinham mais poder que as pessoas
ordinárias). O contacto com estes chefes era perigoso para as pessoas comuns, porque tinha o
efeito de uma descarga eléctrica.
Os chefes, os seus corpos e as suas possessões eram "tabú" (proibição do sagrado); as não
chefes não podiam suportar tanta corrente sagrada, e quando contactavam com eles era
preciso realizar rituais de purificação.
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O interessante do maná Melanésia é a forma como explica o sucesso e o fracasso das pessoas,
através de questões sobrenaturais, mas também como explica os limites simbólicos da
autoridade. A crença em seres espirituais e em forças sobrenaturais tem a ver com a definição
de religião já abordada.
2.2.5. Magia
A magia é a capacidade de modificar o mundo através de actos de carácter ritual, é um
conjunto de técnicas de manipulação do sobrenaturais orientadas a alcançar propósitos
específicos. Na magia é costume a utilização de conjuros, fórmulas verbais, trance e
encantamentos. Podemos considerar dois tipos de magia:
a) Magia homeopática ou de imitação metafórica: para produzir o efeito desejado (ex.:
ferir a imagem de uma vítima à qual se quer causar dano).
b) Magia contagiosa ou metonímica: Qualquer coisa que se faça a um objecto crê-se que
afecta à pessoa que estivera em contacto com ele. Por exemplo: Como fazer que uma
mulher se apaixone por um homem? Resposta entre os quíchuas: Coser duas víboras
pelos olhos e tocar com elas uma prenda da mulher.
A magia pode estar associada com o animismo, o politeísmo ou o monoteísmo. E também é
associada com o perigo, por exemplo os trobriandeses utilizavam esta quando navegavam nas
suas canoas; isto é, não só serve para explicar lacunas do conhecimento. A religião também
tem o sentido de aliviar emoções fortes (quando as pessoas enfrentam uma crise vital:
nascimento, adolescência, matrimónio, morte...). Incide, portanto, em calmar temores,
ansiedades, e inseguranças. É esta uma explicação psicologista de funcionalistas como
Malinowski.
2.2.7. O Totemismo
Era a religião dos aborígenes australianos. Os totens podiam ser animais, plantas ou caracteres
geográficos. Cada tribo tinha o seu totem particular, e os membros dessa tribo acreditam-se
como descendentes do seu totem. Existia o tabu de não comer nem matar o totem, mas esse
tabu deixava-se uma vez no ano, quando a gente se reunia para as cerimónias dedicadas ao
totem. Existia a crença de que estes rituais anuais eram necessários para a sobrevivência e
reprodução do totem.
O totemismo é uma religião que utiliza a natureza como modelo para a sociedade, e a
diversidade na ordem natural é reproduzida na ordem social. Mas a unidade social humana é
estabelecida por um processo de associação simbólica e imitação da ordem natural. Os totem
são emblemas sagrados que simbolizam a identidade comum e o ritual serve para manter a
unicidade social que simboliza o totem.
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Um dos papéis dos ritos e das crenças religiosas é o de afirmar a solidariedade dos crentes e
participantes (ex.: a família que reza unida permanece unida). Os ritos transmitem informação
sobre os participantes e a sua cultura, a repetição dos mesmos gera mensagens, valores e
sentimentos em acção. Os rituais são actos sociais nos quais os participantes transcendem o
seu estatuto como indivíduos, independentemente dos seus pensamentos particulares e dos
seus graus de entrega.
O estudo antropológico da religião não se limita só aos efeitos sociais da religião, à sua
expressão em ritos e cerimónias. A antropologia estuda os relatos religiosos e quase
-religiosos sobre seres sobrenaturais, os mitos.
2.3. Religião e cultura
A religião é um universal cultural, mas a sua vivência tem diferentes expressões em cada
cultura. Wallace (1966) propõe 4 tipos de religião: xamanística, comunal, olímpica e
monoteísta.
Diferentemente dos sacerdotes, os xamanes são encarregados religiosos a tempo parcial que
medeiam entre as pessoas e os seres sobrenaturais, são especialistas mágico-médicos. Xamam
é o termo geral que une feiticeiros, médiuns, espiritistas, astrólogos, quiromânticos e outros
adivinhadores. As religiões xamanísticas são mais características das culturas de caça e
recolecção (ex.: esquimós). Os xamanes estão situados simbolicamente segregados das outras
pessoas, e têm um papel diferente.
As religiões comunais têm xamanes, rituais colectivos de colheita e ritos de transição,
também são politeístas (deuses que controlam diversos aspectos da natureza). São religiões
mais típicas dos produtores de alimentos.
As religiões olímpicas originaram-se com a organização estatal e já dispõem de sacerdotes
profissionais, organizados hierarquicamente. (Olimpo: nome do monte/lar dos deuses gregos
clássicos). Politeístas, com deuses antropomorfos poderosos e especializados (ex.: deuses do
amor, a guerra, o mar e a morte). Os panteões olímpicos (colecção e organização dos deuses)
eram abundantes em muitas religiões: incas, aztecas, gregos, romanos, etc.
2.3. Monoteísmo
O monoteísmo tem também sacerdócio, mas as manifestações sobrenaturais são
manifestações do único ser supremo, eterno, omnisciente, omnipotente e omnipresente.
2.4. Religião e mudança
A religião ajuda a conservar a ordem social, mas também pode ser um instrumento de
mudança ou de revolução incluso. Pode ser uma resposta a uma conquista ou um domínio. A
religião pode ajudar a viver num entorno cultural modificado.
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Max Weber (1969) argumentou a influência central dos valores religiosos, em especial os da
ética protestante de inspiração calvinista, para o desenvolvimento e a evolução do capitalismo
em Europa. Face aos factores estruturais, especialmente de base económica no materialismo
histórico, Weber introduz os factores socioculturais no centro mesmo dos processos de
mudança sociocultural, demonstrando a importância dos valores religiosos como factores da
origem do capitalismo. Por que o capitalismo originou-se em Europa e não em China (mais
tecnologia que em Europa)? Pela atitude face a riqueza (poupança do puritanismo calvinista).
2.5. O Papel da Religião tradicional africana em Moçambique

A Religião Tradicional em África envolve um conjunto de procedimentos, muitos deles


diferentes das religiões mais massificadas do Mundo: o Cristianismo e o Islamismo ou outras
que, mesmo ocupando um país ou uma região geográfica, são expressivas, como o
Hinduísmo, o Budismo. É uma religião que crê no culto aos antepassados, pelos quais os
vivos se endereçam ao Deus e esperam receber, deste, as boas graças, que podem passar pelos
antepassados ou podem ser “endereçadas” directamente.

Este culto resulta da crença numa segunda vida e da transformação dos mortos (antepassados,
um carácter entretanto atribuído a uma certa categoria de homens) em personalidades místicas
de ordem superior, contudo inferiores a Deus. De facto, há uma crença de que os antepassados
que tiveram uma óptima conduta em vida têm a possibilidade de ter uma relação directa com
Deus, podendo, para isso se constituir como um bom intermediário entre os vivos e Aquele.

O culto é realizado por meio de oferendas, preces, que varia de um grupo social para o outro.

É uma religião que não tem um calendário especificamente delimitado, podendo variar
segundo o momento em que se manifesta o factor de referência para o culto. Por exemplo, a
invocação da chuva só pode ocorrer quando houver a escassez da mesma. Nos anos em que há
abundância, esse processo não ocorre. Contudo, há períodos propícios para a sua ocorrência.
Assim, é uma religião mais prática, que procura resolver os problemas que aparecem
quotidianamente.

O comportamento religioso é, às vezes, associado às forças malignas, influenciáveis por


práticas específicas, como a magia. A magia, segundo Rivière, “... é uma operação visando
agir sobre a Natureza por meiosocultos, que pressupõem a existência quer de espíritos, quer
de forças imanentes e extraordinárias” (p. 144-145). A magia é um ritual prático,com
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finalidades maléficas ou benéficas. Embora assente em realidadessociais, a magia,


diferentemente da Religião, é, nos seus ritos, individual.

Contudo, há situações em que a magia é comunitária e aceite pelo grupo. Às vezes é


considerada anti-social. A magia põe em acção poderes externos, manipulados pelos símbolos
(objectos, fórmulas, gestos), visando modificar o curso dos acontecimentos em favor de
alguém e prejuízo do outro. A magia não se faz num templo ou no altar doméstico, mas às
escondidas ou isolado, longe do grande público. O acto e o actor envolvem-se em mistério.

Uma outra acção que se situa ao nível do espiritual é a feitiçaria, que é concebida como tendo
em vista prejudicar alguém. O acto é ofensivo, maléfico para um grupo social ou para
indivíduos. Contudo, ela pode influenciar para a manutenção da ordem social, na medida em
que alimenta o receio de desvios e de tendências nocivas à sociedade.

Essas práticas são concretizadas por actos repetitivos e codificados, de ordem verbal, gestual
ou de postura, com forte carga simbólica – os ritos.

Com os ritos espera-se que uma força actuante de um poder sagrado, sobrenatural para a
obtenção do efeito desejado. Um rito comporta uma sequência de acções, meios reais e
sombólicos, representações, meios de comunicação. Em determinadas ocasiões, tais ritos são
concretizados sob um estado de possessão, na qual “... um indivíduo se considera estar sobo
domínio de uma força sobrenatural, que o transforma num instrumentoda sua vontade, quer
com uma finalidade terapêutica pessoal, quer como mediação pelo possuído de uma
mensagem divinatória para a sociedade”

(Rivière, 2000, p. 160). Nessa situação, diz-se que a pessoa entrou em transe.

A um outro nível situa-se o tabu, que é um interdito sacralizado, ou porque foi consagrado ou
resulta do impuro. Acredita-se que a transgressão pode dar origem a uma desordem natural ou
social. O tabu é definido por membros séniores de uma comunidade, fruto de interpretações
de experiências desagradáveis, de sonhos, de visões ou de mito.

O sagrado é a concepção de uma força misteriosa, fascinante e temível, cujos atributos variam
de um grupo social para o outro: Deus, antepassados, forças superiores, etc. Ele pode situar-se
ao nível religioso e fora do religioso. No primeiro contexto, é a força que garante a segurança
e é uma totalidade que se responsabiliza por tudo que não somos responsáveis. Geralmente
posiciona-se ao nível da impotência de explicar certos aspectos. Quanto ao segundo contexto,
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fora da religiosidade, o sagrado pode situar-se ao nível do amor à Pátria, laços sagrados do
casamento, respeitos sagrados, prescritos no interior de um grupo social, como entre pai-filho,
genro-sogra, etc. Contudo, nos dois contextos, o sagrado é um dos fundamentos da circulação
do poder no interior de grupos sociais tradicionais. Aliás, este processo não é só atinente
àquelas sociedades, pois toca também as sociedades urbanas, ou as ditas desenvolvidas. Por
exemplo, o amor a uma bandeira, cujo simbolismo pode situar-se ao nível do sagrado, pode
constituir uma das bases da execução de uma tarefa governamental em situações delicadas, só
pelo simples facto de termos jurado defender a bandeira nacional até às últimas
consequências.

A Religião Tradicional Africana é fundamentalmente baseada no culto aos antepassados, que


são os elos de ligação entre os vivos e os mortos.

É uma Religião sem um caledário rígido, acompanhada pela prática da magia e adivinhação.
Geralmente o sagrado está associado à transmissão do poder ou ao estabelecimento de regras
ou prescrições que regulam a sociedade.

Capitulo III

3. Conclusão
Finda a realização do presente trabalho, chegamos a conclusão de que a cultura é simbólica
porque é um conjunto de significados e valores transmitidos necessariamente através dos
símbolos e sinais, pois a cultura enquanto produção humana, compõe um universo simbólico
cuja rede de relações e significados lançam o Homem num mundo codificado e replecto de
referentes não-arbitrários (porque estabelecidos convencionalmente) mas cuja ambivalência
(ou mesmo plurivalência) de objectos e significados são constantimente interpretados.
Compreendemos ainda, que a Religião Tradicional em África envolve um conjunto de
procedimentos, muitos deles diferentes das religiões mais massificadas do Mundo: o
Cristianismo e o Islamismo ou outras que, mesmo ocupando um país ou uma região
geográfica, são expressivas, como o Hinduísmo, o Budismo. É uma religião que crê no culto
aos antepassados, pelos quais os vivos se endereçam ao Deus e esperam receber, deste, as
boas graças, que podem passar pelos antepassados ou podem ser “endereçadas” directamente.

Portanto, podemos afirmar que os objectivos que previamente apresentados foram alcançados
comsucesso.
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Bibliografia

1. DELUMEAU, Jean. As grandes religiões do Mundo. 3ª. ed. Lisboa, Editorial


Presença, 2002.
2. BERNARDI, Bernardo. Introdução aos estudos Etno-Antropológicos. Perspectivas do
Homem. Lisboa, Edições 70, 1974.
3. HONWANA, A. M. (2002). Espíritos vivos, Tradições Modernas: possessão de
espíritos e reintegração social pós-guerra no sul de Moçambique. Maputo: Promédia.
4. COPANS, J. etal.Antropologia. Ciência das Sociedades Primitivas.Lisboa, Edições
70, 1971, p. 307-340.
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5. MARTÍNEZ. Pe. Francisco Lerma. Antropologia Cultural.SMSto. Agostinho da


Matola: S/Ed, 2004, p. 93-114.
6. MELLO, Luis Gonzaga de., Antropologia Cultural. Iniciação, Teorias e Temas.
Petrópolis, Editora Vozes, 2005, p. 386-420.
7. RIVIÈRE, Claude. Introdução à Antropologia. Lisboa, Edições 70, 2000, p. 139- 164

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