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Delegação de Manica
Chimoio 2014
Fidel Joaquim Almeida Nota
Delegação de Manica
Chimoio 2014
Índice
Cultura.........................................................................................................................................5
O que é cultura?...........................................................................................................................5
Pluralidade e diversidade de definições e abordagens..................................................................5
Características da cultura.............................................................................................................6
Dinamismo cultural......................................................................................................................7
Enculturação................................................................................................................................8
Desculturação...............................................................................................................................9
Interacção da Cultura com a Natureza , Sociedade e Civilização.................................................9
Etnicidade e identidade étnica....................................................................................................10
A Cultura Material.....................................................................................................................11
Linhas teóricas de organização do trabalho................................................................................12
Circulação- Riprocidade.............................................................................................................12
A reciprocidade..........................................................................................................................13
A redistribuição..........................................................................................................................14
Intercâmbio de mercado.............................................................................................................15
Modos de produção....................................................................................................................15
Quais as motivações para produzir, distribuir, trocar e consumir?.............................................16
Evolução dos sistemas alimentares em Moçambique (sul de Moçambique)..............................17
Parentesco e filiação...................................................................................................................17
Parentesco e consanguinidade....................................................................................................18
Parentesco e alianças matrimoniais............................................................................................19
Linhagem...................................................................................................................................20
A Família...................................................................................................................................21
Família e Parentesco..................................................................................................................23
Variável família patriarcal e família paulista..............................................................................24
Contexto Social..........................................................................................................................24
Autoridade..................................................................................................................................24
Unidade Doméstica....................................................................................................................24
Papel Social................................................................................................................................25
Modo de Reprodução.................................................................................................................25
A Análise da Prática: Valores de Família e suas Negociações num Órgão de Justiça................26
A Difusão dos “Direitos” e o Controle da “família”...................................................................26
Parentesco e filiação.................................................................................................................27
Parentesco e consanguinidade....................................................................................................27
Parentesco e alianças matrimoniais............................................................................................28
Descendência e filiação..............................................................................................................29
Tipos de filiação.........................................................................................................................30
A filiação indiferenciada............................................................................................................30
A filiação matrilinear (ou uterina)..............................................................................................30
Filiação patrilinear (ou Agnática)...............................................................................................30
Filiação bilinear (ou dupla filiação unilinear).............................................................................31
Consanguinidade........................................................................................................................31
Parentela.....................................................................................................................................32
A residência matrimonial...........................................................................................................33
1 Sistemas de atitudes................................................................................................................34
1.2 Impacto na organização social da sociedade........................................................................36
Impacto na organização política das sociedades.........................................................................36
Conclusão:..................................................................................................................................38
Bibliografia................................................................................................................................39
Introdução
Objectivos :Gerais
Cultura
Definir o que é cultura não é uma tarefa simples. A cultura evoca
interessesmultidisciplinares, sendo estudada em áreas como sociologia, antropologia,
história, comunicação, administração, economia, entre outras. Em cada uma dessas
áreas, é trabalhada a partir de distintos enfoques e usos. Tal realidade concerne ao
próprio carácter transversal da cultura, que perpassa diferentes campos da vida
quotidiana. Além disso, a palavra “cultura” também tem sido utilizada em diferentes
campos semânticos em substituição a outros termos como “mentalidade”, “espírito”,
“tradição” e “ideologia” (Cuche, 2002, p.203).
O que é cultura?
1. Cultura é uma construção social e histórica capaz de produzir umaidentidade
colectiva inscrita numa relação social com “o outro”, resultantede miscigenações
variadas;
2. Modos de vida que caracterizam umacolectividade;
3. Obras e práticas da arte, da actividade intelectual e do entretenimento;
4. Factor de desenvolvimento humano.
Em suma:
Cultura é um conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, lei,
costumes, e varias aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como um membro de ma
sociedade. Inclui, pois todo o comportamento humano.
Características da cultura
Segundo texto de apoio a principal característica da cultura é chamada mecanismo
adaptativo: a capacidade de responder ou não de acordo com mudança de hábitos, mais
rápida do que uma possível evolução biológica. O homem não precisa, por exemplo,
desenvolver longa pelagem e grossas camadas de gordura sob a pele para viver em
ambientes mais frios.
A cultura é simbólica: toda realidade cultural pode ser considerada como um conjunto
de sistemas simbólicos, manifestados por meio de uma linguagem que é eminentemente
simbólica.
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Dinamismo cultural
A cultura pode ser dinâmica ou estável.
Ela é estável (identidade, tradição) enquanto se sublinha a tradição e a
institucionalização de padrões de comportamento. Tradição não significa repetição
(BOKA DI MPASI, 1986).
De acordo com (MARTINEZ, 2003;p.42), a cultura é dinâmica pois esta em constante
transformação, obedecendo os seguintes aspectos:
Lei da vida: a cultura munda, como um ser vivo (exemplo do corpo…); as mudanças
podem ser pequenas ou grandes, despercebidas ou violentas;
Mudanças despercebidas: a própria natureza de aprendizagem lhe determina uma
transformação lenta;
Mudanças violentas; encontros culturais; a mudança ocorre em razão de novas
necessidades provocadas pela situação.
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Enculturação
O processo cultural denominado pela Antropologia como endoculturação ou
enculturação é aquele por meio do qual os indivíduos aprendem o modo de vida da
sociedade na qual nascem, adquirem e internalizam um sistema de valores, normas,
símbolos, crenças e conhecimentos.
São, por assim dizer, condicionados a um padrão cultural. Endoculturação significa
interiorização, assimilação, apropriação, absorção, aprendizagem. É um processo social
que se inicia na infância mediado pela família, pelos amigos, posteriormente, a partir da
escola, da religião, do clube, do trabalho, do partido político e de tantos outros grupos
sociais.
b) Forçada – Quando é imposta por coerção, não há opção de escolha por parte da
sociedade que tem sua cultura suplantada. Podemos pensar em fatos do passado, como a
imposição do baptismo cristão aos índios na época da chegada do europeu ao Brasil.
Mas, hoje em dia, também temos exemplos de aculturação mediante violência:
c) Planejada – Quando a aculturação é previamente pensada, meticulosamente
elaborada com objectivos específicos a serem atingidos. Quando se planeja uma nova
função ou modificação na própria cultura ou em outra cultura. Um bom exemplo seria
as políticas públicas que visam promover transformações no modo de vida das pessoas.
Desculturação
Desculturacão é o processo da perda da identidade cultural de indivíduos ou grupos
sociais como resultado da degradação do tecido social em que a transmissão dos valores
morais e socioculturais fica afectada como consequência de factores tais como a
globalização e o urbanismo crescente.
Quando há uma mistura de culturas resultando na perda da originalidade da sua própria
cultura
A cultura é constituída pelo conjunto de textos produzidos pelo homem, não apenas
construções da linguagem verbal, mas também mitos, rituais, gestos, ritmos, jogos, entre
outros. Os textos da cultura são considerados, também, sistemas comunicativos que
obedecem às regras e normas preconizadas pela cultura vigente. O que não impede
culturas diferentes de se comunicarem. “A cultura é os macros sistema comunicativo
que perpassa todas as manifestações e como tal deve ser compreendido para que se
possam compreender assim as manifestações culturais individualizadas. A comunicação
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entre as diversas culturas permite que as criações do homem, como a música, o cinema,
as danças, os jogos e os brinquedos, atravessem fronteiras.
A etimologia do termo etnia situa-se na expressão grega ethnós, que significa povo.
Quanto ao termo étnico, procede do latim éthnicus. A partir do século XIX, o termo
passou a ser associado à terminologia raça como forma de distinguir as diferentes
populações humanas. Vários estudiosos propuseram, inclusive, a substituição do termo
raça pelo de etnia, embora essa proposição não tenha alterado as concepções
hierarquizados já consagradas pelo conceito de raça na distinção dos grupos humanos.
Essa perspectiva ajuda a formular uma possível
Segundo Frederich Barth (1998) afirma que os indivíduos têm de estar conscientes de
sua identidade étnica e com uma atuação dinâmica a seu favor. Isso significa que cada
indivíduo, dentro de um determinado contexto histórico e geográfico, contribui para a
etnicidade de seu grupo, servindo como ator da trama cultural. Nem sempre as pessoas
de um grupo participam da formação de sua identidade étnica conscientemente. Muito
do que aprendem a respeito de sua identidade étnica é inconsciente e faz parte de sua
educação desde seu nascimento.
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Sendo assim, identidade étnica implica cultura. Cultura faz parte da identidade étnica de
um grupo, e tal identidade transcende os aspectos culturais deste, porque é influenciado
Culturalização entre estes dois conceitos, utilizando os processos históricos distintos
que os forjaram.
A ideia de etnia deve ser introduzida em contextos sociais, políticos e econômicos, a fim
de situar e entender os fenômenos étnicos contemporâneos, tornando expressões como
movimentos étnicos, grupos étnicos, guerra entre etnias, etnia cigana, negra, afro-
americana, indígena, correntes em nosso cotidiano
A Cultura Material
A cultura material em Arqueologia, denomina-se de um conjunto de objectos - tecidos,
utensílios, ferramentas, adornos, meios de transporte, moradias, armas etc., que formam
o ambiente concreto de determinada sociedade.
Falar de CULTURA MATERIAL está relacionado com a finalidade que os objectos têm
para um povo numa cultura.
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Circulação- Riprocidade
A reciprocidade
A redistribuição
Esta forma de intercâmbio está geralmente associada a formas sociais assimétricas com
exercício de políticas coercitivas. Consiste em acumular produtos em um lugar central,
para logo ser distribuídos a produtores e não produtores. Os redistribuidores ganham
prestígio aos olhos dos redistribuídos.
Exemplos etnográficos:
Nenhum deles diz “obrigado!” quando recebe a carne de outro caçador. O animal
caçado é distribuído em porções para todo o grupo. Dizer “obrigado” ou expressar
agradecimento implica: que es pouco generoso porque calculas quanto das e recebes, ser
rude e bronco, que não esperavas que os outros fossem tão generosos, que pensas
reparar o doado por obrigação.
São festas de redistribuição entre as tribos com melhores e piores colheitas cada ano.
Aqui existe a obrigação da paridade, isto é, dar e receber devem ser proporcionais. Esta
obrigação é denominada “dádiva” por Marcel Mauss no seu “Ensaio sobre a dádiva”
(1923-24). A actividade económica movimenta assim uma série de actividades
socioculturais como são os rituais colectivos.
O “potlatch” era um ritual que se praticava na costa norte do Pacífico dos EUA, pelas
tribos “alingit” e “salish”, e pelos “kwakiutl” de Washington e a Columbia Britânica.
Era praticado em memória de uma pessoa falecida, para reconhecer o estatuto de um
membro da família ou para celebrar a criação de um “totem”. Nele encarnava-se a
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posição social dos seus participantes. Em 1885 foi proibido pelo governo canadiano e
legalizado de novo em 1950.
Intercâmbio de mercado
Modos de produção
Reprodução social: Processo de reiteração das relações entre as classes sociais, algo
necessário para a continuidade do modo de produção (Willis, 2003).
o caso de Lourenço Marques (nome com que era conhecida a capital de Moçambique,
Maputo, durante o período colonial).
Parentesco e filiação
Dois indivíduos são parentes se um descende do outro (laços de filiação directa) ou se
ambos descendem ou afirmam descender dum (ou duma) antepassado(a) comum. Neste
caso, o parentesco entre os dois indivíduos quer seja real (quer dizer, que o laço social
que se estabelece assenta num laço biológico de consanguinidade) ou fictício (dizem-se
parentes, consideram-se e comportam-se como tal mesmo se, de facto, nenhum laço de
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Parentesco e consanguinidade
O parentesco é, pois, uma relação social; nunca coincide completamente com a
consanguinidade, quer dizer, com o parentesco biológico. Se o parentesco fosse
considerado no seu sentido biológico, cada indivíduo teria, efectivamente, um número
muito elevado de parentes no fundo, e desde que se rebuscasse suficientemente longe,
todos os membros de uma dada sociedade (sobretudo quando pequenas) seriam, pois,
parentes. Assim diluído, indiferenciado e generalizado, o parentesco não poderia ser
uma base de classificação dos indivíduos no seio de grupos de parentesco diferentes e
até opostos e, consequentemente, não poderia ser um princípio de organização social.
Para que o parentesco possa ser um princípio lógico de classificação é necessário que
nem todos os consanguíneos sejam reconhecidos como tal; que certas categorias destes
sejam excluídas do parentesco:quer porque se considere apenas uma linha de
ascendência com exclusão das outras (filiação unilinear em linha paterna ou materna)
quer porque se considerem as duas linhas, mas atribuindo-lhes funções distintas (dupla
filiação unilinear) quer enfim, porque se reconhece ao mesmo tempo o parentesco do
lado paterno e do lado materno (filiação indiferenciada ou bilateral ou, então,
cognática),tratando-os de modo idêntico..., mas neste caso, o parentesco já não tem uma
função claramente distintiva o os grupos sociais já não se distinguem em função de uma
filiação específica mas em função de outros critérios que não os do parentesco:
comunidade de residência, de posse de terra ou de funcionamento socioeconómico, por
exemplo.Convém notar, no entanto, que não existe filiação unilinear pura: todas as
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sociedades admitem em certo modo o parentesco nas duas linhas; mas, em regime de
filiação unilinear, a tónica é posta numa das duas linhas, de modo que, neste aspecto, a
extensão do parentesco é muito mais importante: há um maior número de parentes que
são conhecidos como tal, porque o parentesco transmite-se de geração em geração, ao
passo que do outro lado vai caindo no esquecimento.O parentesco do lado não
predominante influi, além disso, no estatuto dos indivíduos (herança de bens,
transmissão de funções, ou ainda, valorização ou desvalorização do estatuto dos filhos,
em função do estatuto do cônjuge que não transmite o parentesco).Alguns autores
preferem, nestas condições, falar de sociedade "com predominância patrilinear" ou de
sociedades "com predominância matrilinear".
Linhagem
Grupo de filiação unilinear em que todos os membros se consideram como
descendentes, quer em linha agnática (patrilinhagem) quer em linha uterina
(matrilinhagem),dum(a) antepassado(a) comum conhecido(a) e nomeado(a), e são, em
princípio, capazes de descrever as ligações genealógicas que os ligam uns aos outros de
forma a remontar ao antepassado por uma linha genealógica ininterrupta (mencionando
todos os graus intermédios).O termo linhagem pode ser considerado como um conceito
genérico: conforme as sociedades, ou mesmo no seio de uma dada sociedade, grupos de
extensão ou de funcionamento diferente podem ser considerados como linhagens.
Porque todos têm em comum o facto de se comporem de indivíduos ou de subgrupos
relacionados com um antepassado conhecido e nomeado (que pode ainda ser definido
como antepassado histórico por oposição ao antepassado mítico e legendário do clã).
segmento destacado da linhagem original pode por sua vez, tornar-se ao fim de algumas
gerações, numa nova linhagem verdadeiramente autónoma.
Linhagem e grupo solidário de filiação: Para que uma linhagem possa ser considerada
como uma unidade social concreta,é não só necessário que seja um grupo de filiação
unilinear de genealogia contínua mas também “que possua uma estrutura de autoridade,
que constitua, face aos seus vizinhos, uma unidade indivisa,e que tenha um certo
número de actividades políticas, económicas ou rituais, levadas a cabo em comum por
todos os membros do grupo ou em seu nome por todos os seus representantes".
A Família
A família é uma instituição central da vida moderna. A família está em tudo e em todo o
lugar: há o direito de família, a educação familiar, o planeamento familiar, a Pastoral
familiar, a terapia familiar, a agricultura familiar, a medicina de família.Existem
profissionais para descobrir a nossa genealogia familiar que são capazes de descobrir
nossas mais longínquas filiações familiares, há testes modernos para descobrir a nossa
verdadeira família através do estudo de nossos genes, uma vasta literatura sobre família
e revistas e livros de auto-ajuda com importantes conselhos de como “viver em família”
e ter uma vida familiar saudável e perfeita. Há também núcleos de estudo sobre família,
programas assistenciais estatais para auxílio da família (como por exemplo, a bolsa
família), além de uma imensa produção de imagens sobre o assunto na literatura,
cinema e televisão: quem não lembra da família profanada, retratada por Nelson
Rodrigues? Ou do sucesso da sagrada família do seriado a “Grande Família”, que em
2005 fez 33 anos de existência na Rede Globo? Eu gostaria de reter esse título - “A
grande família” - para falar desse fenómeno da centralidade que a família assume na
vida moderna. Efetivamente, existe uma “grande família” – mas aqui não me refiro ao
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seu tamanho, mas a dimensão de grandeza e importância que a família passa a ter na
vida de todos nos. Temida ou amada, sacralizada ou profanada, a família e celebrada a
ponto de que parece ser, a um só tempo, a causa e a solução de praticamente todos os
nossos problemas.Mas o que e família? Que família e essa que todos falamos, tratamos,
pensamos,idolatramos, profanamos ou celebramos? Existe “uma” família? Ou são
vários tipos de família? E possível falar em família no singular? Para tentar abarcar
essas questões, vou abordar alguns aspectos da perspectiva antropológica sobre família
e parentesco, também tendo como subsídios algumas situações encontradas durante o
período de minha pesquisa de doutorado, a respeito do processo de mudanças legais
introduzidas com a promulgação Doutora em Antropologia Social. Pesquisadora
associada ao Núcleo de Antropologia e Cidadania da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (NACI/UFRGS) e professora da UNIFRA (Santa Maria).Do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), no que se refere especificamente as politicas socio-
educativas. Através dessa pesquisa, pude interagir com alguns mecanismos
institucionais dos órgãos de justiça, assim como presenciar as relações entre agentes
jurídico-estatais e juízes, defensores e promotores públicos, técnicos de
atendimento,funcionarios administrativos – e os adolescentes e seus familiares ou
responsáveis. O que me interessa problematizar nesse encontro, para uma plateia tao em
contacto com a questão do adolescente infractor, diz respeito a qual o modelo de família
que informa – mesmo que implicitamente - nossas acções em relação a essas pessoas e
como esse modelo interage e tem sentido para as pessoas que estamos trabalhando. O
meu intuito e trazer ao debate a diversidade dos modos de ser e estar em família,
ampliando nossa visão para alem do "ideal" que geralmente orienta nossas acções. As
questões que desejo introduzir para nossas reflexões são: ate que pontos estão
assumindo como regra e norma o nosso próprio modelo familiar ou um modelo "ideal",
com pouco significado para as pessoas com quem estamos interagindo? Ate que ponto a
fixação no "ideal" ou "modelo hegemónico" não acaba limitando as nossas próprias
alternativas de intervenção, no trabalho com os adolescentes e suas famílias? Sem
duvida, ao colocar essas questões não estou sugerindo que tudo e valido, bom e deve ser
corroborado - o que significaria um relativismo radical e ingénuo frente aos problemas e
questões que são parte do cotidiano do trabalho com os jovens e suas famílias
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Família e Parentesco
E é justamente uma atenção para a prática da vida social que tem caracterizado a
antropologia enquanto uma disciplina. A antropologia nasceu no berço do humanismo
iluminista do seculo XIX e tem se caracterizado pelo objectivo de reflectir a respeito de
diferentes modos de vida, de práticas sociais e de concepção de mundo. Fazemos isso
através do método etnográfico, que brevemente pode ser descrito como a produção de
conhecimento sobre as culturas humanas e a vida social através da descrição e
interpretação de praticas, valores e saberes de populações situadas local e
temporalmente. Diferentemente da maior parte das ciências, a antropologia não parte da
experiencia ocidental como o centro e a norma, mas busca entender cada contexto
estudado dentro de um mais amplo escopo de experiencias e formações sociais da
historia humana (Spencer e Barnard, 2002).Especificamente na questão da família, a
antropologia - como um saber comparativo e contextualizado - visa contribuir no debate
através da problematização de sua diversidade, estudando suas práticas, valores e
sentidos em contextos determinados, sem perder de vista que a família e também uma
categoria histórica, socialmente articulada e envolvida em lutas por definição de seus
significados legítimos.Esta posição tem alguns sentidos que eu gostaria de sublinhar:
a) Que a família e um produto social, não e um dado natural ou universal e não pode ser
pensada no singular, pois há uma pluralidade de modos de família;
b) Enquanto uma categoria social, a família articula e fundamenta um conjunto de
discursos na intersecção entre poder e de saber que fundamentam acções e projectos
com sentidos específicos e dirigidos para grupos diversos da população;
c) Um modo interessante de pensar a família e: de um lado, inseri-la como uma
categoria social formada em contextos sociais, políticos e económicos específicos que
contextualizam um conjunto de discursos hegemónicos sobre a família e, de outro lado,
também levar em conta os sentidos elaborados pelos próprios agentes das práticas de
família diversas, não completamente abarcados pelo modelo hegemónico. Para a
antropologia o que e produtivo e justamente descobrir como as noções de “família” são
construídas na prática, suas consequências e significados particulares em contextos
específicos.
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Contexto Social
Estrutura económica de base agraria, latifundiária e escravocrata;
Descentralização administrativa local,dispersão populacional;
Poucas mulheres brancas;
Sociedade do tipo paternalista,onde havia o primado das relações de caracter pessoal.
Influencia: de dentro (família) para fora (sociedade).Zona urbana em formação, com
enfase na mobilidade espacial;
Maior número de mulheres brancas. Sociedade paulista concentrou uma trama
complexa de relações fora do âmbito familiar. Influencia: de fora (sociedade) para
dentro (família).
.
Autoridade
Dependência da autoridade paterna e solidariedade entre os parentes. Hierarquia
interna.Pai importante, na medida em que a absorção da bastardia dependia da posição
socio-economica ocupada pelo pai. Por outro lado, nem sempre as mulheres se
adequavam aos padrões tradicionalmente aceitos.
Unidade Doméstica
Família e componentes de diversas origens,que mantinham diferentes tipos de relações
com o dono da casa, sua mulher e prole legítima. Congrega esposa e concubina,filhos e
bastardos.Nem sempre os membros de uma mesma família permaneciam unidos sob
mesmo teto, pois a maior parte dos filhos, quando casavam, constituíam sua família
num domicilio diferente; indivíduo solteiro cercava-se de escravos e agregados.
Celibato e concubinato eram práticas comuns,mas a absorção do concubinato era mais
aparente que real.
Estrutura Núcleo central: acrescido de membros subsidiários.Apesar da manutenção
das relações familiares e de laços de solidariedade,nao eram comuns a presença de
familiares, amigos ou afilhados junto as famílias locais.Também era incomum a
incorporação de membros subsidiários.
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Papel Social
Concentrava em seu seio as funções económico-sociais, alem de solucionar os
problemas de acomodação socio-cultural da população livre e pobre. Relações de ordem
afectiva,embora nas áreas de lavouras a falta do trabalho escravo estimulasse outros
tipos de relações de parentesco ou de trabalho.
Modo de Reprodução
Verticalmente, através da miscigenação e horizontalmente, pelos casamentos com elite
branca.Verticalmente,através de casamentos consanguineos.Os casamentos se
realizavam dentro de um mesmo grupo socio-economico e racial.Para a autora, as
características do formato da família paulista e da família patriarcal eram diferentes,
embora ainda na família paulista eram fortes as relações de solidariedade entre os
parentes, amigos ou afilhados. Os casamentos da família paulista,preferencialmente
consanguíneos, são um exemplo de que, a despeito das modificações, as sociedades de
parentes continuaram a actuar no meio urbano. O valor da família continuava em
evidência, mesmo que o formato da família fosse diverso. Conclui Samara: “E evidente,
portanto, que a família patriarcal deixou na sociedade resquícios da sua organização, o
que não significa que possa ser considerada ainda como o único modelo institucional e
valido que sirva para caracterizar a sociedade brasileira de modo geral”.
Parentesco e filiação
Parentesco e consanguinidade
O parentesco é, pois, uma relação social; nunca coincide completamente com a
consanguinidade, quer dizer, com o parentesco biológico. Se o parentesco fosse
considerado no seu sentido biológico, cada indivíduo teria, efectivamente, um número
muito elevado de parentes No fundo, e desde que se rebuscasse suficientemente longe,
todos os Membros de uma dada sociedade (sobretudo quando pequenas) seriam, pois,
parentes. Assim diluído, indiferenciado e generalizado, o parentesco não poderia ser
uma base de Classificação dos indivíduos no seio de grupos de parentesco diferentes e
até opostos e, consequentemente, não poderia ser um princípio de organização social.
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Para que o Parentesco possa ser um princípio lógico de classificação é necessário que
nem todos os consanguíneos sejam reconhecidos como tal; que certas categorias destes
sejam excluídas do parentesco:
Quer porque se considere apenas uma linha de ascendência com exclusão das outras
(filiação unilinear em linha paterna ou materna) quer porque se considerem as duas
linhas, mas atribuindo-lhes funções distintas (dupla filiação unilinear),
Nestas condições, é fácil compreender que "os laços estabelecidos sobre a dupla noção
parentesco-alianças são os laços-tipo e fornecem modelos para a interpretação de todas
as relações sociais" (P. Mercier). Parentesco por filiação e parentesco por alianças
matrimoniais fornecem, pois, modelos, princípios de organização e de expressão
simbólica aos participantes na vida social, por um lado, e, por outro, modelos e
princípios de interpretação aos teóricos autóctones, assim como ao investigador. Há
interesse em se dedicar à análise do sistema de parentesco sob um triplo aspecto: como
expressão directa de certas relações sociais (em especial, as relações entre
parentes),como modo de expressão metafórica das relações sociais (por exemplo,
políticas) directamente decalcadas sobre as relações de parentesco, Como modo de
formulação e de interpretação ideológica mais ou menos consciente de relações cuja
natureza real nem sempre corresponde à linguagem (utilizada) para as descrever e
explicar (por exemplo, as relações de produção).
Descendência e filiação
Sistemas de Filiação
Tipos de filiação
A filiação indiferenciada
A filiação indiferenciada, dita ainda bilateral ou cognática corresponde à modalidade
que conhecemos na nossa sociedade e grosso modo à maioria das sociedades ocidentais.
Nas culturas onde se pratica a filiação indiferenciada, ego pertence indiferenciadamente
à linhagem do seu pai e da sua mãe e desde logo às quatro linhagens ascendentes da
linha recta. Sendo assim, a terminologia do parentesco patrilateral e matrilateral é
exactamente a mesma em ambos os lados, como se viu nos diferentes tipos de
nomenclatura. Outro aspecto, consiste em as relações de parentesco de ego serem
idênticas tanto com o lado paterno como com o lado materno.
Para dar um exemplo, volto a citar as ilhas Trobriand, onde os filhos de uma mulher
pertencem ao seu clã, exclusivamente. Assim, os filhos do filho perdem este estatuto e
passam a pertencer ao clã da esposa e não ao seu (Malinowski.1929). Nestes sistemas,
um homem está reduzido ao papel de marido da mãe dado não ter nenhuma função na
atribuição do estatuto parental aos filhos. Assim, o parentesco biológico relativamente
ao pai é ignorado e simultaneamente o de pai social, cujo papel é desempenhado pelo
irmão da mãe. O pai desempenhará este mesmo papel em relação aos filhos da sua irmã.
Consanguinidade
Universalmente são aceite os seguintes símbolos:
Homem
Mulher
=O ou casamento
O clã, os seus membros dizem-se aparentados uns aos outros por referência a um
ancestral comum, mas na realidade são geralmente incapazes de estabelecer o laço que
afirmam ter com o ancestral epónimo, contrariamente, como se viu, à linhagem, ter uma
base territorial local ou encontrar-se disperso pela regra da exogamia. Seja como for, o
clã é dotado de um espírito de solidariedade e funciona como um todo em acto.
Parentela
A parentela consiste no grupo de parentes consanguíneos que ego reconhece como tal.
Nos casos em que a linha genealógica de descendência é indiferente – o que acontece na
maioria dos casos – a parentela é dita bilateral. Porém, existem sociedades em que o
recrutamento dos membros da parentela é feito numa única linha, agnática ou uterina.
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A residência matrimonial
Em Portugal, em meio especialmente rural, é comum a residência ser de tipo matrilocal
entre aldeias, sempre que eventuais impeditivos não se interponham. Porem, outros
tipos de residência existe no nosso País, os quais também – sempre que os elementos
favoráveis ao modelo cultural estão presentes – tendem a realizar-se por força de
emergência da estrutura social local antiga, mais ou menos ainda existente.
Residência virilocal, é aquela em que a mulher vive na casa do seu marido, uma
casa vizinha dos pais deste.
Residência uxorilocal, é aquela que o marido vai viver com a sua mulher nas
proximidades, habitat distinto da casa dos pais da mulher.
Residência avuncolocal, o casal vai viver com um tio materno do marido nas
proximidades.
Residência alternada
1 Sistemas de atitudes
Atitude é uma norma de procedimentos que leva há um determinado comportamento. É
a concretização de uma intenção ou propósito.
Atitude pode culminar em uma determinada postura corporal. Uma atitude ameaçadora
é uma postura corporal que expressa agressividade e pode ser um mecanismo de defesa
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Todos os membros de uma sociedade estão sujeitos ao sistema político que a regula,
embora nem todos participem, directa e especificamente, nos seus diferentes níveis
enquanto particularmente responsáveis por um órgão de poder. No entanto, todos eles
estão, de facto, implicados no sistema político, directa ou indirectamente, em posição
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Conclusão:
Após o término do trabalho o término do trabalho conclui que o a cultura é um
conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, lei, costumes, e
varias aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como um membro de ma sociedade.
Inclui, pois todo o comportamento humano.Tambem Antropologia contribui
intensivamente para a construção duma sociedade intercultural através da valorização da
diversidade do património cultural de Moçambique compreendendo que o conjunto
destes valores é uma das maiores riquezas do país
39
Bibliografia
JUNOD, Henri. Usos e Costumes dos Bantu. 2. Ed. Lourenço Marques, 1974.