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2.0
O princípio da igualdade
A igualdade em geral
Ju
Existe uma tensão inelutável entre liberdade e igualdade (lembramos de novo). Levado às
últimas consequências, um princípio radical de liberdade oblitera a igualdade da condição
humana e, em contrapartida, um princípio de igualdade igualitária esmaga a autonomia
pessoal. Porém, em concreto, elas andam constantemente a par, uma implicando a outra —
como demonstram, sobretudo, a problemática da liberdade religiosa e a da liberdade política.
Vale a pena referir os dois princípios de igualdade democrática em JOHN RAWLS (op. cit., pág.
67): 1.0) cada pessoa deve ter um igual direito à mais ampla liberdade compatível com idêntica
liberdade dos outros; 2.0) as desigualdades sociais e económicas devem ser ajustadas de
forma a corresponderem à expectativa de que trarão vantagens a todas as pessoas e ligadas a
posições e a cargos abertos a todos.
Sobre a pessoa como conceito de igualdade, cfr. GUSTAV RADBRUCH, op. cit., 11, págs. 15 e
segs.
O tema irradia, mais amplamente, para a cultura geral. V., de novo, CAMÕES:
Não cabe aqui entrar no exame inesgotável destes e doutros pontos. Na economia da presente
obra, não podemos senão (embora sem nunca perder de vista o sentido dos valores) sumariar
os dados básicos de Direito constitucional positivo e as linhas de aplicação do princípio (2). II —
Atenção particularíssima suscita a dicotomia igualdade jurídica-igualdade social ou igualdade
perante a lei (como é mais frequente dizer) igualdade na sociedade.
Sem merece ser se se como mera igua\dade ou como igua\dade inspirada numa conceÑo
•susraciona\ista, e segunda como igua\dade 'lurídico-material-Inaterial, ligada a uma atitude
crítica sobre a ordem social c económica existente e à consciência da necessidade e da
possibilidade dc a modificar (seja qual for a orientação política que se adopte).
E válida ainda, enquanto se distinguem não tanto duas espécies de preceitos jurídicos quanto
dois momentos ou planos: o da atribuição dos direitos em igualdade e o da fixação das
incumbências do Estado e da sociedade organizada perante as condições concretas das
pessoas. Os direitos são os mesmos para todos; mas, como nem todos se acham em igualdade
de condições para os exercer, é preciso que essas condições sejam criadas ou recriadas através
da transformação da vida e das estruturas dentro das quais as pessoas se movem.
Entretanto, salienta CASTANHEIRA NEVES, a definição de uma igualdade jurídica abstracta não
pode considerar-se como fim último que a si se baste, mas tão só como um primeiro e relativo
momento, como um instrumento e ponto de apoio para uma igualdade material que há-
deconseguirse para além daquela através da complementar intervenção das outras duas
dimensões. E desse modo o estatuto abstracto, sem pretender ser rígido e de determin'ação
acabada, tem não só de aceitar os desenvolvimentos e a inte-graçáo normativa dc uma
igualdade participada e constitutiva realização histórica do direito como terá ainda de sofrer as
difercnciaçócs c tnodificaçócs concretas exigidas por uma material intenção de igualdade c
justiça sociais. Com aqueles desenvolvimentos e integrações, por um lado, c estas
diferenciações, por outro lado ----- sendo ceflo que aqueles primeiros se virão as mais das
vezes a traduzir nestas segundas se actuará, corrigirá c controlará a intenção de igualdade
definida abstractamente, cm termos dc ela ter dc se mostrar sempre materialmente justificada
e real ( l ).
Que, a par da construção jurídica a fazer e refazer constantemente, importa indagar da cultura
cívica dominante na comunidade, das ideias preconcebidas e dos valores aí assentes, assim
como da «Constituicão viva» e da realidade constitucional;
Que a conquista da igualdade não se tem conseguido tanto em abstracto quanto em concreto,
através da eliminação ou da redução de sucessivas desigualdades ou da extensão de novos
benefícios; e tem sido fruto quer da difusão das ideias quer das lutas pela igualdade travadas
por aqueles que se encontravam em situações de marginalização, opressão e exploração;
Que, embora a superação destas ou daquelas desigualdades nunca seja definitiva e, por vezes,
até venha acompanhada do aparecimento de novas desigualdades e até de exclusões, o ideal
de uma sociedade alicerçada na igualdade (ou na justiça) (2) é um dos ideais permanentes da
vida humana e um elemento crítico de transformação
Direito português
Por seu turno, a Constituição de 1933 deslocaria a referência à igualdade para a própria
definição do regime político, declarando Portugal uma república corporativa «baseada na
igualdade dos cidadãos perante a lei, no livre acesso de todas as classes aos benefícios da
civilização e na interferência de todos os elementos estruturais da Nação na vida
administrativa e na feitura das leis» (art. 5.0) ( 2). E a igualdade perante a lei envolveria «o
direito de ser provido nos cargos públicos conforme a capacidade e os serviços prestados» e a
negação de quaisquer privilégios «salvas quanto à mulher as diferenças resultantes da sua
natureza e do bem da família e, quanto aos encargos e vantagens dos cidadãos, os impostos
pela diversidade das circunstâncias ou pela natureza das coisas» (S único).
Era um texto constitucional não pouco ambíguo. O objectivo de acesso de todos aos benefícios
da civilização, em conexão com a incumbência do Estado de «zelar pela melhoria das
condições das classes sociais mais desfavorecidas» (art. 6.0 , n.0 3), inculcava uma ideia de
igualdade social. Em contrapartida, constitucionalizavam-se diferenças de tratamento da
mulher, apesar de se garantir «a igualdade de direitos e deveres dos cônjuges quanto à
sustentação e educação dos filhos» (art. 12.0 , n.0 2).
l.a legislatura previa certas «incapacidades cívicas» de pessoas de confiança política do antigo
regime (art. 308.0).
http://www.igc.fd.uc.pt/timor/pdfs/cap_V.pdf timorense
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/viewFile/47142/45717 biblioteca
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-constitucional/o-principio-da-igualdade-como-
expressao-dos-direitos-fundamentais-do-cidadao/