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APOSTILA

CURSO DE TECNOLOGIA CERVEJEIRA

ESCOLA SUPERIOR DE CERVEJA E MALTE

BLUMENAU, 2019
1. INTRODUÇÃO

Este material foi desenvolvido para o curso de Tecnologia Cervejeira, da Escola


Superior de Cerveja e Malte, que tem como objetivo atender de maneira completa e
estruturada a cervejeiros caseiros que já possuem experiência avançada no processo
produtivo ou profissionais do ramo cervejeiro que buscam formação de qualidade sobre
insumos e processos, passando por qualidade sensorial e elaboração de receitas.

Nesta primeira aula, trabalharemos temas relacionados à história da cerveja,


mercado cervejeiro nacional e escolas e estilos de cerveja. Vamos lá?

2. HISTÓRIA DA CERVEJA

A cerveja é uma bebida apreciada por muitos, sendo hoje a principal bebida
alcoólica consumida ao redor do mundo e não é para menos, pois sua história se
confunde com o início da civilização humana como a conhecemos na
contemporaneidade. Nos próximos tópicos iremos abordar um pouco mais sobre esta
história.
Na figura a seguir conseguimos observar a visão ancestral da cerveja, inclusive
com carneiros voadores!

Figura 1 – Representação de babilônios consumindo cerveja a mais de 4.400 anos atrás.


2.1 Origem da Cerveja

Para entendermos melhor a origem da cerveja, devemos conhecer um pouco


melhor a história da transição da vida predominantemente nômade do ser humano para
a vida predominantemente sedentária, lembrando que não é possível dar datas precisas,
mas há muitos relatos históricos, fósseis, ferramentas e outros indícios que fortalecem
essa versão dos fatos.

O ser humano de vida nômade vivia da coleta de plantas nativas dos locais onde
se instalava e da caça. Porém, isto resultava no esgotamento da capacidade de reposição
dos alimentos, pois as os vegetais se esgotariam e os animais deixariam de viver nos
arredores das comunidades humanas. Devido a esta escassez, os povos deveriam se
mudar de região, em um ciclo contínuo, até o momento onde se desenvolvem as
tecnologias de plantio e domesticação de animais.

O desenvolvimento da agricultura e da pecuária permitiram ao ser humano se


instalar em uma determinada região e por lá permanecer, pois agora possuiriam recursos
que não se esgotariam tão fácil, e os cereais tinham papel fundamental neste provento
de recursos. Os cereais eram produzidos em excesso e deveriam ser guardados para
consumo posterior. As teorias criadas acerca da origem da cerveja levam em
consideração de que o cereal guardado em cânforas, a exemplo da Figura 3, ficavam ao
ar livre e, por este motivo, recebiam a água da chuva. Este processo resultaria na
formação dos açúcares e em sua posterior fermentação, por leveduras selvagens.
Provavelmente alguns de nossos ancestrais decidiram experimentar o tal caldo
fermentado e sentiram prazer ao fazê-lo, instigando-os a repetir o processo. Esta é a
hipótese da criação deste líquido que hoje chamamos de cerveja!

Figura 2 – Representação da vida nômade e vida sedentária dos povos humanos.


Existem indícios de que os dois primeiros povos a produzir a bebida foram os
sumérios e os assírios. Por volta de 8.000 anos atrás, os sumérios fermentavam uma
polpa de cereal que tinha um efeito entorpecente e que era chamada de “bebida divina”.
Sem dúvida, nossos ancestrais, conhecendo os efeitos relaxantes e excitantes do álcool,
tentaram reproduzir esta “magia” (até o momento não se sabia nada sobre bioquímica,
microbiologia, etc.) também com vários outros ingredientes, razão pela qual hoje
possuímos uma grande variedade de bebidas alcoólicas por fermentação, como os
vinhos, cidras, etc.

Para quem é curioso!


Há estudos que colocam o início da vida cervejeira do ser humano ainda antes
destes fatos, há mais de 13 mil anos, antes da vida sedentária do homem. Quem quiser
de aprofundar pode dar uma olhada em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2352409X18303468?via%3Dihub

Figura 3 – Cânforas de barro.

Há mais de 4000 anos a.C., os babilônios já fabricavam mais de dezesseis tipos de


cerveja de cevada, trigo e mel. O mais antigo código de leis conhecido, o Código de
Hamurabi da Babilônia (cerca de 1770 a.C.), declara que a pena de morte poderia ser
imposta a aqueles que diluíam a cerveja que vendiam.

Para os mesopotâmios, a cerveja os distinguia dos povos selvagens e os tornava


mais humanos. A cerveja na Babilônia era opaca, não passava por nenhum tipo de
filtração. Para bebê-la os babilônios usavam uma espécie de canudo, como na Figura 1,
feito de junco ou outro tipo de palha, para evitar a ingestão dos resíduos que se juntavam
no fundo ou no alto do jarro. Os reis utilizavam canudos de ouro para esse fim.

Os egípcios também produziam cervejas há mais de 5.000 anos. Existem


hieróglifos egípcios de 4.000 anos que também mostram, passo a passo, a produção da
bebida. Papiros egípcios, de cerca de 1300 a.C., referem-se ao regulamento de venda de
cerveja.

Curiosidade!
Os faraós possuíam cervejarias em seus túmulos, para que pudessem disfrutar de cerveja
pela eternidade!

Figura 4 – Produção de pão e cerveja no Egito antigo.

Originalmente, os cereais eram colocados de molho até soltarem suas cascas.


Após a germinação, eram triturados até formarem uma massa úmida. Se guardava parte
da produção anterior para utilizá-la como “aditivo” na produção seguinte, acelerando
assim o processo de fermentação. Mesmo Processo da fabricação de pães. A
fermentação se dava através de leveduras e bactérias da microflora do ambiente. Devido
a falta de conhecimento científico, especialmente de microbiologia e bioquímica, os
processos de fabricação da cerveja eram considerados uma “arte” e, em muitas vezes,
um processo “divino” ou “dádiva dos deuses”.

Os macedônios, gregos e romanos cultivavam cevada em todo o império, para a


produção de cerveja. Disseminaram a cerveja pelo continente europeu, levando-a até a
Gália, aos Celtas e aos povos nórdicos, devido as suas fronteiras, como podemos observá-
las na Figura 5. Tanto os gregos quanto os romanos produziam vinhos e cervejas. A
produção de vinhos era um privilégio dos nobres, se desenvolvendo rapidamente e muito
bem documentada. Já com as cervejas, ocorreu exatamente o oposto. A produção ficou
sempre mais vulgarizada. Próximo de 500 AC, a bebida ganhou o nome que a companha
até hoje: Bebida de Ceres (Deusa romana da fertilidade agrícola) = Cerevisia, Cerveja.

Figura 5 – Mapa do império romano.

Muitas ervas e especiarias já foram utilizadas para agregar aromas às cervejas,


entretanto sempre adicionadas ao final do processo equilibrando a doçura e marcando
datas de celebrações ou ocasiões especiais. A este produto dá-se o nome de Gruit, e até
hoje podem ser encontrados exemplares em lojas especializadas.

Figura 6 – Cervejas do tipo Gruit, levavam especiarias mas não o lúpulo.


Existem indícios da utilização do lúpulo na Grécia Antiga e no Império Romano. A
adição de lúpulo ao mosto em ebulição ocorreu apenas há algumas centenas de anos. As
vantagens da utilização do lúpulo para a saúde humana e a estabilidade das cervejas
foram descritas por St. Hildegard von Bingen. Após sua morte em 1176, a recomendação
de uso do lúpulo inibiu a utilização da maioria dos condimentos considerados até então.

2.2 Idade média e a Lei da Pureza

Na idade média o conhecimento científico, até então acumulado, ficou restrito


aos mosteiros e órgãos eclesiásticos. Desta forma, havia um conhecimento prático, que
passava de mestre a aprendiz no dia a dia das pessoas, e um conhecimento mais
aprofundado trancado dentro dos mosteiros.

Estes mestres que faziam cerveja eram os mestres cervejeiros!

Mais legal ainda, as mulheres eram as grandes responsáveis. Então o que


tínhamos eram as mestres cervejeiras!

A seguir alguns marcos importantes da história da cerveja na idade média:


• As mulheres são as mestres cervejeiras
• As tabernas vendem cerveja e os monastérios passam a fazer e comercializar
cerveja. Centros de conhecimento Cerveja é o alimento do dia-a-dia.
• Há historiadores que estimam o consumo per capita entre 400 e 1.000 litros/ano
na Europa.

Imaginaram o que é o consumo de mil litros per capita?

Figura 7 – Cervejaria mais antiga em atividade.


• Cerveja salva a humanidade da peste negra, devido a ser uma bebida fervida, o
que reduziria as chances de contração da doença.
• As primeiras legislações alemãs sobre qualidade de cerveja datam do ano 1156.
• Após algumas transformações e sob influência do momento histórico, nasce o
que conhecemos hoje como Lei da Pureza ou Reinheistgebot em 1516.
• As primeiras legislações alemãs sobre qualidade de cerveja datam do ano 1156.
Após algumas transformações e sob influência do momento histórico, nasce o que
conhecemos hoje como Lei da Pureza ou Reinheistgebot em 1516.
• A Lei da Pureza também foi uma política anti drogas.
• A substituição pela ale lupulada significou uma modificação circunstancial no
nível de alteração no estado da consciência, já que a gruit era narcótica, afrodisíaca e
psicotrópica e a cerveja com lúpulo traz além do efeito do álcool, apenas o torpor, muito
menos psicoativo do que as ervas usadas nas gruit.
• Outra questão interessante era a difícil decisão que o povo deveria tomar ao
utilizar seus cereais: Pão ou Cerveja?
• Também na mesma época ocorria a Reforma Protestante e o Martinho Lutero
era amigo do Duque da Bavária. A mulher de Lutero era cervejeira e a Igreja Católica
comercializava Gruit e pagava impostos ao duque de Flandres.

Figura 8 – O consumo de cerveja em tabernas e mosteiros era muito comum.


2.3 Idade moderna

O que domina a história da cerveja na idade moderna é a industrialização e a


tecnologia. Grandes pesquisas e descobrimentos vem da indústria cervejeira. A seguir
alguns marcos importantes da história da cerveja na idade moderna:

• Após a Revolução Industrial, a cerveja passa a ser feita em grandes cervejarias


• Durante as duas grandes guerras a indústria cervejeira quase morre
• O mestre cervejeiro alemão Josef Groll foi convidado a trabalhar numa cervejaria
recém inaugurada na cidade de Pilsen, região da Boêmia, atual República Tcheca, no
ano de 1838. Em 1842 nascia a Pilsner
• Em 1842 nasce a primeira cervejaria brasileira, já com o imperador no Brasil. Em
1860 nasce a primeira cervejaria em Blumenau
• Em 1886 a Antárctica nasce como fábrica de gelo

Figura 9 – Evolução acelerada das cervejarias.

2.3.1 Desenvolvimento tecnológico

A seguir alguns marcos importantes da tecnologia empegada na produção de


cerveja ao longo do tempo:
• Microscópio em 1680, torna possível a descoberta e a caracterização de
microorganismos como, por exemplo, a própria levedura.
• Invenção do sacarômetro de Balling, se fez possível a medição da concentração
de açúcares em líquido.
Figura 10 - Evolução do microscópio.

• Cultivo de novas variedades de cevada conduziu à melhoria na qualidade do


malte.
• Descrição do metabolismo da levedura por Louis Pasteur em 1871 e
pasteurização 1886.
• Desenvolvimento do termômetro em 1880.
• Propagação de cepas de levedura por Christian Hansen em 1883.
• Desenvolvimento do gerador a vapor em 1830 por James Watt.
• Desenvolvimento do refrigerador em 1873 por Carl von Linde, o que provocou
uma revolução com a produção de cervejas de baixa fermentação (Lager).
Desenvolvimento de trocadores de calor em 1927.
• Introdução do aço inoxidável na indústria alimentícia em 1930.
Figura 11 – Diferenças entre o uso de barris de madeira e barris de inox.

Como podemos observar, a cerveja é de grande importância no contexto histórico


da civilização humana, tendo participado de diversos fatos e contribuído para o
desenvolvimento de tecnologias. Hoje fazemos parte do presente dessa importante
história. A pergunta que fica é como será o futuro dessa indústria?

3. MERCADO CERVEJEIRO

O mercado cervejeiro é de grande importância para a economia humana, sendo


responsável pelo fluxo de grandes quantidades monetárias. Neste item apresentaremos
os números deste mercado no contexto contemporâneo. Inicialmente temos de
estabelecer os tipos de empreendimentos cervejeiros principais:

• Cervejaria: Tradicional Fábrica de cerveja. Pode fabricar chope ou cerveja


Pode vender em Barril, garrafa ou lata. Pode distribuir no bar da fábrica, bares,
empórios, restaurantes, eventos, mercados, ecommerce, etc
• Cervejaria Cigana: Possui marca e CNPJ próprio, entretanto não possui estrutura
de fabricação. Terceiriza a produção e foca na inovação, marca e distribuição.
• Brewpub: Diferente de bar de fábrica. É um bar que comercializa uma marca
própria de cerveja, produzida no local. Somente neste estabelecimento é que a cerveja
será comercializada.

3.1 Principais países produtores

Os maiores produtores de cerveja, em litros totais, do mundo são:

• 1º China – 48 bilhões de litros por ano;


• 2º EUA – 25 bilhões de litros por ano;
• 3º Brasil – aprox. 14 bilhões de litros por ano.

Entretanto, devemos levar em consideração que China, Brasil e EUA são países
continentais, ou seja, de grandes proporções territoriais e populacionais e, por este
motivo, acabam sendo os produtores de maiores volumes. Já quando se trata de
consumo per capita temos um cenário muito diferente, conforme demonstrado na Figura
12.

Figura 12 – Os países com o maior consumo per capita.

Outros países importantes com relação ao consumo:

17º Brasil – 65 litros/habitante/ano;


25º Argentina – 56 litros/habitante/ano;
60º Uruguai – 30 litros/habitante/ano.

O Brasil, apesar de estar em 3º no ranking de produtores, está apenas na 17ª


colocação de consumo por pessoa com 111% a menos de consumo que o 1º colocado, a
República Tcheca. Vejamos na Tabela 1 os gastos anuais médios per capita com cerveja
ao redor do mundo:
Tabela 1 – Gastos anuais per capita com cerveja
País Dólares/ano
Austrália $ 470,00
Irlanda $ 358,00
Estados Unidos $ 234,00
Áustria $ 234,00
Inglaterra $ 230,00
Bélgica $ 168,00
República Checa $ 149,00
Dinamarca $ 143,00
Alemanha $ 126,00
Holanda $ 120,00
México $ 111,00
Portugal $ 92,00
Brasil $ 91,00
Espanha $ 70,00
Itália $ 60,00
Argentina $ 50,00
China $ 41,00
Índia $ 3,00

Fonte: Elaboração com base nos dados da Statista

O australiano é o povo que mais gasta com a aquisição de cervejas por ano, 112
dólares a mais que o segundo colocado, a Irlanda. Apesar de o Brasileiro gastar muito
menos dólares totais em cerveja/ano, a proporção deste gasto quando comparado ao
salário mínimo, entre Brasil e Austrália é de 21% de um salário mínimo na Austrália para
36% de 1 salário mínimo no Brasil. Portanto, proporcionalmente, o Brasileiro gasta mais
na compra de cervejas que o primeiro colocado da lista.

3.2 Mercado brasileiro

O mercado brasileiro de cervejas vem crescendo com muita força ao longo dos
anos, assumindo um comportamento exponencial, sendo que nos últimos 10 anos o
crescimento no número de cervejarias é de mais de 800%! Com base no número de
registros no MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, foi montado o
gráfico da Figura 13. Mesmo com a crise que já se arrasta a quase 5 anos no Brasil, uma
eleição extremamente complicada e um grande medo a investir no país, o número de
novos empreendimentos seguem crescendo a uma taxa anualizada de 30,60% por ano,
frente a 39% de crescimento no ano passado. Na Figura 14 podemos observar o
crescimento do número de consumo de cerveja no território nacional.

Figura 13 – Número de cervejarias no Brasil ao longo dos anos.

Figura 14 – Consumo de Cerveja no Brasil – Hectolitros/ano.

Fonte: MAPA
Portanto, apesar do crescimento no número de cervejarias, o aumento no
consumo não é proporcional. Algo que pode ser observado é a mudança do perfil do
consumidor, que passa a dar mais atenção aos produtos locais e a preferí-los no
momento da compra.
Também é possível realizar uma comparação direta entre os números de
cervejarias entre os estados da união, conforme observa-se na Figura 15. Os estados do
sul e sudeste é que aparecem com as maiores quantidades de cervejarias, destacando-se
as 5 maiores concentrações, em ordem crescente: Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais,
São paulo e Rio Grande do Sul.

Figura 15 – Número de cervejarias por estado brasileiro.

Um parâmetro muito importante que deve ser observado é a relação do número


de cervejarias em comparação com as quantidades populacionais de cada estado. Este
comparativo encontra-se na Tabela 2. É possível observar que os estados da região sul e
sudeste, estão com números abaixo da média nacional, enquanto estados das outras
regiões encontram-se muito abaixo. Apesar destes números, em nenhuma região
nacional fica clara a desaceleração do crescimento, demonstrando que o mercado de
cervejas artesanais ainda possui fôlego para seguir adiante em seu movimento
ascensional.
Tabela 2 – Número de habitantes/número de cervejarias.

As microcervejarias brasileiras apresentam um tamanho médio de produção


mensal de 20 mil litros ou 240 mil litros anuais. As cervejarias artesanais podem ser
classificadas como regionais, micro cervejarias e brewpubs. Nos últimos anos os três
modelos têm encontrado sucesso utilizando canais de distribuição diferentes. As
regionais vendendo para grandes eventos e grandes hipermercados, as micro atendendo
o público local com chope e lojas mais especializadas com garrafas e os brewpubs
atendendo no próprio local.

Em relação as proporções de volumes produzidos e a fatia do faturamento do


mercado de cervejas, temos os seguintes dados:
• EUA – 13% em volume, 25% em faturamento;
• Europa – 22% em volume, 25% em faturamento;
• Argentina – 2,5% em volume, 6% em faturamento;
• Austrália – 25% em volume, 40% em faturamento ;
• Brasil – 1,2% em volume, 5% em faturamento (o que significa 2,3 bilhões de
reais).

Em relação as geração de empregos:


• Para cada emprego gerado em uma cervejaria, se geram 52 empregos na cadeia
cervejeira.
• Hoje no Brasil há 2,7 milhões de pessoas trabalhando na cadeia cervejeira.
O mercado de cervejas ao redor do mundo é robusto, sendo este um produto
culturalmente aceito e desejável. Ao analisarmos os números de consumo e participação
no mercado das cervejas produzidas em cervejarias menores, vemos que o mercado
brasileiro ainda possui uma grande margem para crescer.

4. CLASSIFICAÇÃO DA CERVEJA – ESTILOS

Como vimos anteriormente, as cervejas são produtos históricos, que datam de


muitos milênios atrás. Como, ao longo do tempo, a bebida evoluiu e recebeu as
regionalidades, tornou-se difícil saber qual tipo de cerveja, sabores e outras
características que seriam esperadas ao se degustar um exemplar. Para mitigar estes
problemas foram criados os estilos de cerveja, para que fosse possível padronizar nomes
associados a um grupo de características do produto. A seguir veremos um breve
histórico desses estilos e suas características principais.

Figura 16 – Diferentes tipos de cerveja.

4.1 Cervejas ALE x LAGER

A diferença entre estes tipos de cerveja está diretamente relacionada com o tipo
de fermento e a condução da fermentação associada. Veremos mais detalhes sobre
fermentação adiante no curso, portanto agora vamos nos ater a algumas características
gerais destes fermentos.
Cervejas do tipo ALE são produzidas com leveduras, fungos microscópicos e
unicelulares, que possuem características sensoriais mais marcantes, como a formação
de sabores de frutas ou de condimentos. Geralmente são fermentos que são utilizados
para fermentar a temperaturas de 15°C a 25°C. Já as cervejas do tipo LAGER também são
cervejas produzidas com leveduras, mas estas possuem características mais neutras,
produzindo menores quantidades de substâncias de sabor. Geralmente são fermentos
que são utilizados para fermentar a temperaturas de 8°C a 15°C.

4.2 Cervejas LAMBIC e HÍBRIDAS

As cervejas deste tipo são fermentadas com métodos diferenciados, não


utilizando somente as leveduras para este processo. Historicamente são cervejas
fermentadas com microrganismos diversos, sendo que os tanques de fermentação
permaneciam abertos, sem algum tipo de proteção. Este fato ocasionava a presença de
uma grande quantidade de microrganismos diferentes, resultando nas mais diversas
características sensoriais.

Figura 17 – Fermentador aberto, em atividade.

4.3 Escola Cervejeiras

Como dito anteriormente, as cervejas ao longo dos anos foram adquirindo


características locais. Temos de nos lembrar que nem sempre a internet estava presente,
não haviam boas estradas, aviões, trens, etc. Portanto a locomoção e a troca de
informações era limitada. Por este motivo, os produtos acabam por utilizar somente
ingredientes e conhecimentos que estavam prontamente disponíveis, fato que fez com
que as cervejas de cada localidade possuíssem muitas peculiaridades.

Para os Curiosos!
Cervejas da Inglaterra possuem características lupuladas, sendo que a
própria Inglaterra é um país que possui o cultivo de lúpulo, favorecendo esta
característica na cerveja. Entretanto as cervejas Irlandesas e Escocesas, países
vizinhos, possuem características muito mais inerentes ao malte, apesar de o
lúpulo da Inglaterra estar disponível. Este fato se deve à rixa histórica entre esses
países, que preferiam não realizar comércio com os Ingleses!

As escolas cervejeiras clássicas são:


• Escola Inglesa: É uma escola marcada pela presença marcante de lúpulos em sua
composição e maltes mais escuros e tostados. Muitas cervejas ALE fazem parte desta
escola, sendo representantes as Stouts, Pale Ales, India Pale Ales e etc.

Figura 18 – Cervejas inglesas.

• Escola Alemã: Esta escola cervejeira possui uma característica muito comportada
e bem equilibrada. É a escola que possui muitos dos exemplos das Lagers que
conhecemos, como as pilsener e bocks. Entretanto também possui exemplos de ALE,
como é o caso da cerveja Weizen (trigo). Ela foi muito marcada pela Lei de Pureza, que
limitou o uso de outros ingredientes que não fossem o malte, lúpulo, água e levedura.
Apesar deste fato, não faltou criatividade para a criação de diversos estilos.
Figura 19 – Cervejas alemãs.

• Escola Belga: As cervejas belgas são marcadas pelos sabores frutados de suas
cervejas e pelas cervejas fermentadas de maneira “selvagem” como é o caso das lambic
e híbridas. Muitos dos exemplos mais clássicos desta escola são provenientes do interior
das Abadias, onde os monges as produziam alguns exemplares para consumo interno e
outros para a venda.

Figura 20 – Cervejas Belgas.

Além das escolas cervejeiras clássicas também há uma escola cervejeira que se
consolidou atualmente, que é a Escola Americana. É uma escola muito influenciada pelas
escolas clássicas, porém uma característica marcante é o exagero. Cervejas lupuladas
levam lúpulo extra, cervejas alcoólicas tem sua potência aumentada e assim por diante.
O uso de ingredientes locais também é marcante nestas cervejas, sendo que lúpulos com
características cítricas e florais são muito presentes.

Figura 21 – Cervejas dos EUA.


4.4 Estilos e Guias de Estilo

Atualmente existem inúmeros estilos de cervejas e, diferentemente de nossos


ancestrais, temos agora acesso aos insumos e a informação. Portanto, com o intuito de
ajudar os cervejeiros e padronizar a expectativa sobre o tipo de produto que se quer
beber, instituições como o BJCP – Beer Judge Certification Program ou o BA – Brewer’s
Association, criaram guias, que estabelecem as diretrizes de cada tipo de cerveja, com
descrições de seus parâmetros sensoriais, parâmetros físicos e químicos e indicações de
exemplos clássicos do estilo. Os guias também servem para balizar competições de
cervejas. Eles podem ser acessados gratuitamente, disponíveis em:

https://s3-us-west-2.amazonaws.com/brewersassoc/wp-
content/uploads/2018/03/2018_BA_Beer_Style_Guidelines_Final.pdf

https://www.bjcp.org/docs/2015_Guidelines_Beer.pdf
Referências
BRASIL. Ministério da Agricultura. Decreto nº 6871, de 04 de junho de 2009.
Regulamenta a Lei nº 8.918, de 14 de julho de 1994, que dispõe sobre a padronização, a
classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas. Diário Oficial
da República Federativa do Brasil, Brasília, 05 jun. 2009. Disponível em:
http://planalto.gov.br/ccivil_03? Leis/L8918.htm> Acesso em: 19 jan 2019.
MOURADO, R. Larousse da Cerveja 1 ed. São Paulo: Lafonte, 2009. 440p.

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