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ISSN 2236- 3335

UMA ANÁLISE SOBRE O ENSINO DE LITERATURA EM


UMA ESCOLA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ

Evelim Mendes dos Santos


Licenc iatura e m Le tras Língua Portuguesa
Unive rsidade do Estado do Pará (UEPA)
evelim_mds@ymail.com
Jayna Karolyne de Souza Santos
Licenc iatura e m Le tras Língua Portuguesa
Unive rsidade do Estado do Pará (UEPA)
jaynakarolyne @gmail.c om

Resumo: Neste artigo temos por objetivo des crever como se


dá o ens i no l i t e rá ri o em uma es col a públ i ca do es t a do do Pa rá ,
part icularment e no nív el de escola ri dade médio. A col eta de
d a do s d e u- s e p o r m e i o d e o bs e rv a çõ e s da s a u l a s , e n t r ev i s t a
com a docent e e um ques t ioná ri o apl i cado aos a lunos. Pa ra
f u n d a m e n t a r no s s a p e s q u i s a , t om a m os po r b a s e a s r e f l e x õ es
d e i m po r t a n t e s e s t u d i os o s da á r ea , t a i s c om o : Sa mu e l ( 20 0 7 ) ;
Culler (1999); René Wellek e Austin Warren (19 --). Tendo
registrado e analisado os dados, concluímos que o ensino
literário tem sido tratado, em boa parte das escolas, com
des prezo e omiss ão pelo poder públ i co, poi s di fi ci lment e há
i ncent i v o à l ei t ura , bi bl i ot eca s a t iv as e, ta mpouco, l i v ros .
Pa l av ras- chav e: Ens i no. Es cola públ i ca . L ei t ura . L i t era t ura .

1 INTRODUÇÃO

A l i t era t ura é i mpres ci ndí v el à forma ção do a l uno no


Ens i no Médi o, poi s es t i mul a a i ma gi na çã o e cont ri bui pa ra que
o es t uda nt e t enha um s ens o crí t i co e ref l exi v o s obre o mundo,
proporci ona ndo a s ha bi l i da des de l er, es crev er, ouv i r e fa l a r.
N o ent a nt o, em boa pa rt e da s es col as públ i ca s bra s i l ei ras , o
ens i no de l i t era t ura é i gnora do, poi s nã o há bi bl i ot ecas em

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funci ona ment o, l i v ros s uf i ci ent es e proj et os de i nc ent i vo à


l ei t ura .
Es t e des pres t í gi o em rel a çã o a o ens i no de l i t era t ura t em
i nfl uenci a do, d e ma nei ra nega t i va , no process o de forma çã o de
a l unos l ei t ores e p rodut ores de t ext os . Ta l f a t o nos fa z re fl et i r
s obre a neces s i da de de t ra ns forma r l ei t ores s emâ nt i cos em
l ei t ores crí t i cos . N ã o ba st a a penas ens i na r n os sos a l unos a
deci fra r t ext os , é prec i s o que el es a prenda m a obs erva r a
cons t rução, a i deol ogi a e a i nt ert ext ua l i da de de ca da obra l i t e -
rá ri a , pa ra que s e t ornem pes s oa s crí t i ca s pera nt e a s oci eda de
e bons produt ores t ext ua i s, j á que a produçã o de t ext os ,
des de os s impl es a os ma i s el aborados , pressupõe a l ei t ura.
Ao pes qui s a rmos o s i gni fi ca do do v ocá bulo “l i t era t ura ”
nos di ci oná ri os , l i v ros d i dá t i cos e ma nua i s de Teori a L i t e rá ri a ,
depa ramo- nos com i números concei t os que demons t ram a
ri queza e a compl exi da de da l i t era t ura; porém, pa ra des env ol -
v er es t a pes quis a, opt amos por ent ender l i t era t ura como um
a t o de fa l a ou ev ent o t ext ua l que s us ci ta cert os t i pos d e a t en -
çã o ( CULLER, 1 99 9 ) . A pa rt i r des t e concei t o, de fi ni mos como
obj et i v o de noss o t ra ba l ho i nv es t i ga r como s e dá o ens i no de
l i t era t ura em uma es col a públ i ca do es t a do do Pa rá , pa rt i cul a r -
ment e no Ens i no Médi o.
Como met odol ogi a, e l egemos a pes qui sa de cunho qua l i t a -
t i v o, poi s os s eus pa ss os podem s er de fi ni dos de ma nei ra
rel a t i va ment e s i mpl es , porém, dependendo d e fa t ores , t a i s
como: a na t ureza dos da dos col et a dos, a extens ã o da a mos t ra ,
os i ns t rument os de pes qui sa e os pres s upos t os t eóri cos que
nort ea ram a i nv es t i ga çã o ( GIL , 200 2) . A col et a de da dos s e
deu por mei o de obs erva ções da s a ul as , e nt rev i s ta com a
docent e e a pl i ca çã o de ques t i oná ri o a os a l unos .
D iv i di mos es t e a rt i go em doi s moment os . N o pri mei ro,
t ra t a remos da di s cuss ão t eóri ca a res pei t o do ens i no de l i t era -
t ura , a f i m de fundament a r nos sa a ná l i s e. Pa ra i ss o, t omamos
por ba s e as ref l exões de i mporta nt es es t udios os da á rea , t a i s
como: Samuel ( 2007 ) ; Cul l er ( 1 9 99 ) ; René W el l e k e Aus t i n

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Wa rren ( 1 9 -- ) ; e Agui a r ( 2006 ) . N o s egundo moment o, a pres en -


t a remos a na t ureza do es t udo, s eu l oca l d e pes qui sa , a s
font es de i nforma çã o e a s ca t egori a s de a ná l i s e. Em s egui da ,
a na l is a remos o corpus e, por fi m, fa remos al gumas cons i dera -
ções s obre o que foi di s cut i do nessa pes qui s a .

2 O CONCEITO DE LITERATURA

Qua ndo procura mos compreender o ens i no d e l i t era t ura


na es col a, d ev emos nos pergunt a r: o que queremos di zer com
“l i t e ra t ura ”?. Só a ss i m ent enderemos o a s s unt o a borda do nes t e
a rt i go com ma i s compl et ude. A pergunt a “o que é l i t era t ura ?”,
di ri gi da a uma pes s oa que, mesmo s e i nt eress a ndo por l i v ros e
l ei t ura s , nã o pert ença a o cí rcul o dos que s e o cupam profi s s i o -
na l ment e com a l i t era t ura , ca us a rá es t ra nheza a s eu des t i na tá -
ri o por s e t ra t a r de uma pergunt a rel a t i vament e s i mpl es . Toda -
v i a , mesmo emba ra ça do, es t e des t i na t á ri o poderá nos res pon -
der que: “l i t era t ura é uma obra es cri t a , ou s ej a , um l i v ro de
romances , poes i as , et c. ” ( SOUZA, 1 986 , p. 5 -6 ) .
Res pos t as como es s a nã o r es pondem à pergunt a fei t a ,
mas a penas fornecem uma defi ni çã o di fusa e cul t ura l i za da de
l i t era t ura . D i fusa por nã o t ra zer uma de fi ni ção s ól i da , a mpa ra n -
do- s e em exempl os ma i s ou menos s emel ha nt es ent re s i ;
cul t ura l i za da porque corres ponde a uma i dei a t ã o s i mpl es que
nã o pode encer ra r nenhum probl ema , el i mi na ndo o s ent i do da
pergunt a “o que é l i t era t ura ?” ( SOUZA, 1 9 86 ) .
Qua ndo di reci ona mos a m esma pergunt a pa ra a l guém que
pos sui um cont a to profi s s i ona l com a l i t erat ura – es cri t ores ,
j orna l i s ta s e es t uda nt es de L et ra s – es t e des t i na tá ri o, prov a -
v el ment e, pa rt i rá do pri nc í pi o de que a l i t era t ura é obj et o de
probl emat i za çã o por corres ponder a penas a uma noçã o di fus a
e cul t ura l i za da , o óbv io, porta nt o (SOUZA, 1986 ) .
Qua ndo procura mos s a ber o que é l i t era t ura d e a cordo
com os di ci oná ri os , a s res pos ta s sã o, gera l ment e, s emel hant es
e i ndi cam que a l i t era t ura s e cons t i t ui como a a rt e de compor

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es cri t os , em pros a ou em v ers o, de a cordo com pri ncí pi os


t eóri cos ou prá t i cos . Em um ca mi nho opos to a o dos di ci oná -
ri os , mui t os a ut ores , como Cul l er ( 1 9 9 9, p. 34) , defi nem o v ocá -
bul o l i t era t ura como

[ . . . ] u m a t o d e f a l a o u e v e n to t e x t u a l q u e s u s c i t a
c e r t o s t i p o s d e a t e n ç ão . C o n t r a s t a c o m o u t r o s t i p o s
d e a t o s d e f a l a , t a i s c o mo d a r i n f o r m a ç ão , f a z e r
p e r g u n t a s o u f a z er p r o m e s s a s . N a m a i o r p a r t e d o
t e mp o , o q u e l e v a o s l e i t o r e s a t r a t a r a l g o c o mo l i t e -
r a t u r a é q u e e l e s a e n co n t r a m n u m c o n t e x t o q u e a
i d e n t i f i c a c o mo l i t e r a t u r a : n u m l i v r o d e p o em a s o u
n u m a s e ç ão d e u m a r e v i s t a , b i b l i o t e c a o u l i v r a r i a .

Conforme v imos na ci t a ção a nt eri or, Cul l er ( 1 9 99 ) nã o


t ra ba l ha s ó com o concei t o de t ext o es cri t o, ma s col oca em
ev i dênci a a ora l i da de. Al ém d i ss o, Cul l er ( 1 9 99 ) nos di z que
mui t as pes s oa s t ra ta m a l go como l i t era t ura dev i do a o l uga r em
que encont ram os t ext os, como em um l i vro de poema s ou
l i v ra ri a . D es t a forma , Cul l er ( 1 9 99 ) s egue na mesma di reçã o de
Souza ( 1 9 86 ) , que nos expl i ca que a l i t era t ura é ent endi da
como o óbv io.
N o que s e refere a um percurs o hi s t óri co dos concei t os
de l i t era t ura , Samuel ( 2007 ) nos rev el a que o v ocá bul o l i t era t u -
ra formou- s e da pa l av ra l a t i na littera , l et ra ou ca rá t er da es cri -
t ura , des i gna ndo, port a nt o, qua l quer obra escri t a , ent re el a s a
l i t era t ura como hoj e é ent endi da . At endendo a o a s pect o
cont eudí s t i co da forma , s i gni fi cav a t ambém a i ns t ruçã o, a
cul t ura . D ess a forma , podemos perceber que a l i t era t ura, des de
o i ní c i o da ci v i l i za çã o, es t á rel a ci ona da com o t ext o es cri t o.
Todav i a , a s t ra ns forma ções pol í t i ca s pel as qua i s pa ss ou a
Europa, a pa rt i r do Rena s ciment o, t ambém c ont ri buí ram pa ra
res t ri ngi r o concei t o de l i t era t ura , de modo que Samuel ( 2007 ,
p. 34 ) di z:

P o r v o l t a d a s e g u n d a m e t a d e d o s é c u l o X V I I I , o t e r mo
l i t e r a t u r a c o me ç a a d e s i g n a r u m c o n j u n to d e o b r a s

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l i t e r á r i a s , e m a i s , u m c o n j u n t o d e o b r a s d e u m d e te r -
m i n ad o p a í s : l i t e r a t u r a i t a l i a n a , p o r t u g u e s a , e t c . I s t o
d i z i a r e s p e i t o a o a s p e c to c o n t e u d í s t i c o , p o r q u e , n o
f o r m a l , a l i t e r a t u r a c o n t i n u av a a d e s i g n a r t u d o o q u e
e r a e s c r i t o , f o s s e d e c a r á t e r c i e n t í f i c o t e o l ó g i co , f i l o -
sófico, literário, etc .

A pa rt i r de s uces s i va s mudanças s emâ nt i ca s , a compa -


nha da s de t ra ns forma ções s oci a i s e hi s t óri ca s , a l i t era t ura
t omou a s s egui nt es a cepções : prol ongando o s ent i do et i mol ógi -
co forma l , l i t era t ura é s i nôni mo de b i bl i ogra fi a, t a i s como: l i t era -
t ura econômi ca , médi ca , et c. ; prol onga ndo o s ent i do et i mol ógi co
cont eudí s t i co, l i t era t ura denomi na uma es pecí fi ca forma de
conheci ment o: o es t ét i co ou a rt í s t i co por opos i çã o a o ra ci ona l
e ci ent í fi co.
As concei t ua ções que mos t ramos a nt eri orment e s e di f e -
rem e nos mos t ra m o qua nt o a l i t e ra t ura é r i ca e compl exa .
Ass i m s endo, pa ra des envol v er nos sa pes qui sa , t oma remos
por ba s e o concei t o forneci do por Cul l er ( 1 99 9 ) , poi s o cons i -
dera mos o ma i s compl et o por nã o res t ri ngi r a l i t era t ura a penas
a o que é es cri t o.

3 A LITERATURA NO ENSINO MÉDIO

A d i s cus sã o s obre o que fa zer com ou do t ext o l i t erá ri o


em s a l a de a ul a , conforme L a j ol o ( 2000 ) , é por v ezes dei xa da
de l a do nas di s cuss ões peda gógi cas . N o que s e refe re a o
ens i no de l i t era t ura no B ra s i l , s a be -s e que mui t os a l unos l eem
a s obras l i t erá ri a s a pena s por obri ga ção, poi s nã o t êm o há bi -
t o da l e i t ura e, qua ndo ques t i ona dos , a l egam fa l t a de t empo
pa ra l er.
Conforme La j ol o ( 200 0 ) , es s e des i nt eress e p el a l ei t ura
l i t erá ri a pode s er cons equênci a de des a gra dáv ei s ri t ua i s de
i ni ci a çã o, ou s ej a , os a l unos t a l v ez nã o t i v era m um bom
pri mei ro cont a t o com a l i t era t ura e, por es t e mot i v o, a cons i -
dera m enfa donha , ca nsa t iv a ou de di fí ci l ent endi ment o.

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Pa ra muda r es sa s i t ua çã o, mui t os profes sores t êm -s e


t orna do v erda dei ros a t ores na medi da em que preci s a m drama -
t i za r o a s s unt o pa ra mot i va r os a l unos a l er. N es t e ca s o, o
t ext o l i t erá ri o é cons i dera do como um produt o a s er v endi do,
porém es s e mét odo de ens i no pode r es ul ta r no des a pont amen -
t o do a l uno, poi s , a o l er a obra dra ma t i zada p el o profes s or, o
a l uno pode encont ra r mui ta s di v ergências em rel a çã o a o
“es pet á cul o” do docent e. A obra l i t erá ri a dev e s er i nt erpret a da
por ca da a l uno i ndi v i dua lment e, de forma s ubj et i v a , l ogo o
profes s or dev e a pena s di rec i ona r o a l uno a b us ca r o s ent i do
do t ext o.
L a j ol o ( 200 0, p. 1 4 -1 5) t a mbém a fi rma que a res pos ta pa ra
“o que fa zer com o t ext o l i t erá ri o em s a la de a ul a ?” é, há
t empos , compet ênci a da s edi t ora s e l i v ros di dá t i cos , t i ra ndo da
res ponsa bi l i dade dos educa dores a t a refa de prepa ra r a ul a s .
Em out ras pa l av ras , os profes s ores nã o es t ã o ma is preocupa -
dos em prepa ra r o s eu ma t eri a l de a ul a , mas s i m em r epas sa r
os cont eúdos e mét odos j á encont ra dos . N o e nt a nto, ca be a o
profes s or o ens i no da l i t era t ura a os a l unos , s endo neces s á ri o
rel a ci ona r o t ext o à época de produçã o, a o conj unt o dos
pri nci pa i s j uí zos crí t i cos nel e encont ra dos e a o cot i di a no do a l uno.
A pa rt i r des sa s cons t a ta ções , obs erv a - s e q ue o a t ua l
model o es col a r bra s i l ei ro pa s sa por i números p robl emas , d ent re
os qua i s , o que nos chama ma is a t ençã o é a “cri s e da l ei t ura ”,
que é cons i dera da “uma da s res pons áv ei s, s em s ombra s de
dúv i da , pel o fa t o da s cri a nças chega rem à es col a a na l fabet as ,
s a í rem del a a l fa bet i za das , mas i gnora nt es . ” ( B RAGATTO F IL HO,
1 9 9 5, p. 9 3) .
Uma s da s propos ta s pa ra es t a “cri s e da l ei t ura ” res i de no
s oci oi nt era ci onis mo ( B RAGATTO F IL HO, 1 9 95) , proces so que
cons i s t e na i nt era çã o ent re pro fes sor e a l uno com di v ers os
gêneros t ext ua is . A l í ngua é produt o da i nt era çã o huma na e
s ofre com a s muda nças ocorri da s pe l a const a nt e ev ol ução do
homem. Há di v ers i fi ca dos d i a l et os pres ent es n a s oc i eda de, no
ent a nt o, nã o exi s t e o ma i s corret o, a pesa r de a l í ngua pa drão

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s er t a xada como t a l . D ent ro des t a pers pect i v a , é i mporta nt e


que a es col a t enha como pont o de pa rt i da a l i ngua gem dos
a l unos pa ra a ces sá - los à l í ngua pa drã o e s oci a l i za r o s a ber
a cumula do.
Em s e t ra t a ndo do ens i no da l i t e ra t ura no Ens i no Médi o,
s egundo Zi l berma n ( 1 9 88) , i nf el i zment e, a pena s o v es t i bul a r
expl i ca a pres ença da l i t era t ura nes t e ní v el es col a r. Conforme
a a ut ora , o es t udo da l i t era t ura v ol ta do a o v es t i bul a r pri v i l egi a
a ót i ca hi s t óri ca e ev ol uci oni s ta , a poi ando -s e na bi bl i ogra fi a do
t i po hi s t ori ográ fi co, enfa t i za ndo a l i t era t ura bra s i l ei ra em rel a -
çã o à port ugues a e es cri t ores do pa s sa do em r el a çã o a os do
pres ent e. As s i m, os profes s ores preci s a m a da pt a r - s e a es s a
ót i ca que i gnora a p rodução l i t erá ri a cont emporâ nea pa ra
t ra ba l ha r os t ext os a pa rt i r das es col as l i t erá ri a s ; os a l unos ,
por s ua v ez, es t udam l i t era t ura com a fi na l i da de de pa ss a r no
v es t i bul a r, l eem t ext os fra gment ados , fora do cont ext o hi s t óri -
co, s em conhecer a t é mesmo o a utor.
A obra l i t erá ri a permi t e v a ri a da s l ei t ura s, s empre podendo
s er i nt erpret a da de um modo novo, por mei o da s pos s i bi l i da des
que os s i gnos oferecem. D es s e modo, o l e i t or t em s eu hori -
zont e modi fi ca do a pós a l ei t ura , ou s e j a , s ua p ers pect iv a em
rel a çã o a o a ss unto a borda do s e modi fi ca e cede es pa ço pa ra
nova s i deia s e concei t os ( AGUIAR, 2006 ) .
A es col a neces s i ta a bri ga r múl t i pl as formas de a proxi ma -
çã o ent re s uj ei t os e l i v ros , com ofert a l i v re de t i pos de t ext os,
de d i ferent es l i ngua gens , de a t i v i da des de l ei t ura i ndi v i dua l e
col et i v a , da ndo o l i v re a rbí t ri o pa ra que o a l uno es col ha o t i po
de t ext o que des ej a l er ( AGUIAR, 200 6, p. 254 ) , pois

A l e i t u r a é u m j o g o e m q u e o a u t o r e s c o l h e a s p e ça s ,
dá as regras, monta o texto e dei xa ao leitor a possi -
b i l i d a d e d e f a z er c o m b i n a çõ e s . Q u a n d o e l a f a z s en t i -
d o , e s t a g a n h a a a p o s t a . M a s i s s o s ó a c o n t ec e
porque o lei tor aceita as regras e se transporta para
o m u n d o i m a g in á r i o c r i a d o . S e e l e r e s i s t e f i c a f o r a d a
partida.

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A a rt e nos dá o p ra zer de ent ra r em s eu j ogo como s e


fos s e um bri nquedo e a l i t era t ura é uma a rt e q ue s e ma ni fes t a
pel a pa l av ra fa l a da ou es cri t a , s endo es sa a pers pect i va que o
es t udant e dev e t er em ment e: a l i t era t ura como obra de a rt e.
A pa rt i r des t a s cons ta ta ções , enfa t i za mos a n eces s i da de
de uma i nv es t i ga çã o s obre a s ca usa s da d efi ci ênci a no ens i no
l i t erá ri o, v eri fi ca ndo s e o probl ema cons is t e na fa l t a de prepa ro
a ca dêmi co do p rofes sor, no des i nt eress e dos a l unos ou a i nda
no des cas o do poder públ i co em rel a çã o à educa çã o. Es ta
pes qui sa s erv i rá como pont o de a poi o pa ra fut uros deba t es no
â mbi to a ca dêmi co, pol í t i co e s oci a l , a l ém de fomenta r nova s
es t ra t égia s , as qua i s ori ent em o prof es sor a t ra ba l ha r, da
mel hor forma poss í v el , a l i t era t ura em s a la de a ul a , bem como
es t i mula r os a l unos a a dqui ri rem o há bi t o da lei t ura .

4 METODOLOGIA

D es env olv emos uma pes qui s a de na t ureza qua l i t a t iv a ,


poi s , conforme GIL ( 200 2 ) , s eus pas s os podem s er defi ni dos
de ma nei ra rel a t i va ment e s i mpl es, porém depende de fa t ores ,
t a i s como: a na t ureza dos da dos col et a dos , a ext ens ã o da
a mos t ra , os i ns t rument os d e pes quis a e os pres s upos t os t eóri -
cos que nort ea ram a i nv es t i ga çã o. Pode - s e, no ent a nto,
s egundo o a ut or, def i ni r es s e proces s o como uma s equênci a
de a t i v i da des , que env olv em a reduçã o dos da dos , a ca t egori -
za çã o dess es da dos , s ua i nt erpreta çã o e a reda çã o do rel a t óri o.
A pes qui sa foi rea l i za da em uma es col a públ i ca da regi ã o
met ropol i ta na de B el ém, ca pi ta l do es t a do do Pa rá , a Es col a
Técni ca Es t adua l de Ens i no Médi o Ma ga l hã es B a ra ta , es peci fi -
ca ment e nas dependênci as da sa l a de a ula e da bi bl i ot eca .
O corpus da pes quis a cons t i t ui u -s e a pa rt i r de obs erv a -
ções da s a ul as , ent rev i s ta e ques t i oná ri os . C omo cri t é ri o de
s el eçã o dos i nforma nt es , defi ni mos que a profes s ora dev eri a
l ec i ona r l i t era t ura pa ra as t rês t urmas do Ens i no Médi o, i s t o é,
1 º a no, 2º a no e 3º a no, e que os di s cent es pert ences s em a
a l guma des t as t urma s . Por uma ques t ã o de ét i ca , opt a mos por
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nã o menci ona r o nome da pro fes sora e codi fi ca r os nomes


dos a l unos em ordem numéri ca cres cent e.

5 DA PROFESSORA

N es ta pri mei ra et a pa da col et a d e da dos , rea l i za mos a


ent rev i s ta com a pro fes sora , s endo ut i l i za do um rot ei ro como
i ns t rument o pa ra conhecermos a percepçã o da docent e a cerca
da l i t era t ura , s a bermos como el a t ra ba l ha o a s s unt o em s a l a de
a ul a e qua is os probl ema s que cont ri buem pa ra um ens i no l i t e -
rá ri o def i ci ent e. Pri mei ra ment e, fomos i nforma das de que a
es col a nã o i ncl ui a di s ci pl i na l i t era t ura na s ua gra de curri cul a r,
pel o fa t o da i ns t i t ui çã o s er v ol t a da a o ens i no p rofi s s i ona l i zant e.
N ess e s ent i do, os a l unos a prendem a penas a s reda ções t é cni -
ca s e a norma pa drã o, a f i m de ut i l i zá - l as no merca do de
t ra ba l ho.
Ent ret a nto, a pesa r da l i t era t ura nã o s e fa zer p res ent e no
cont eúdo progra má t i co dos profes s ores de l í ngua port ugues a,
a l guns docent es fa zem ques t ão de t ra nsmi t i r es t e ens i no pa ra
s eus a l unos , v i s t o que cons i deram a l i t era t ura fundamenta l
pa ra a forma ção dos mes mos . N o qua dro a s egui r, cons ta m a s
i nforma ções bás i cas da profess ora ent rev is t ada :

Tabela 1 — Dados da professora


L e t r a s – l í n g u a p o r tu g u e s a / Un i v e r s i d ad e
F o r m a ç ão / I n s t i t u i ç ão F ed e r a l d o P a r á e E s p e c i a l i z a ç ão e m
l í n g u a p o r tu g u e s a
Idade 45 anos
Sexo F em i n i n o
T emp o m a g i s t é r i o 17 anos
Q u a n t i d ad e d e t u r m a s n a
3 turmas
e s c o l a p e sq u i s a d a

Em rel a çã o à ent rev is t a , ut i l i za mos um rot ei ro cont endo 6


pergunt as a bert a s pa ra a t i ngi r o obj et i vo des t e t ra ba l ho. Os
a s pect os a na l i s ados fora m: v eri fi ca r a per cepçã o da prof ess o -
ra em re l a ção à l i t era t ura ; os fa t ores que cont ri buem pa ra um
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ens i no l i t e rá ri o defi ci ent e na es col a públ i ca ; e , s e o pl a no de


a ul a , os , l i v ros, di dá t i cos , e o Proj et o Pol í t i co Peda gógi co da
escola privil egiam o ensino de literatura. Segue a análise abaixo:
T a b e l a 2 — P r i me i r a p e r g u n t a d e s t i n ad a à p r o f e s so r a
P E R G UN T A S R E S P OS T A S
“ [ . . . ] d e mo d o g e r a l é tu d o q u e se
t e m d en t r o d e s s e s t e x t o s t an t o
j o r n a l co m o q u a l q u e r o u t r o . [ . . . ]
O que é
c o mo a r t e , e s t á d en t r o d a v i s ã o
literatura?
d e mu n d o d o h o m em d e
d e t e r m i n ad a ép o c a e c o n t e x to
social [ ...]”

Pa ra res ponder à pergunt a , a profes sora di v i di u os


concei t os do que s er i a l i t era t ura em doi s modos , o g era l e o
a rt í s t i co. N o que s e r efere à defi ni çã o g era l do que s eri a l i t era -
t ura , a res pos t a da profes s ora coi nci de com a a fi rma çã o de
Cul l er ( 1 9 99 , p. 34 ) , que a fi rma : “[ . . . ] o que l ev a os l e i t ores a
t ra t a r a l go como l i t era t ura é que e l es a encont ram num
cont ext o que a i dent i fi ca como l i t era t ura: num l i v ro de poemas
ou numa s eçã o de uma rev i s ta , bi bl i ot eca ou l i v ra ri a ”. N a a rt e,
a prof ess ora a fi rma que a l i t era t ura es t á rel a ci ona da com o
pens ament o do homem de ca da época , ou s ej a , es s a r es pos ta
fa z referênci a à v i sã o do a ut or s obre o mundo à s ua v ol ta .

T a b e l a 3 — S e g u n d a , t e r c e i r a e q u a r t a p e r g u n t a s d e s t i n a d a s à p r o f e s so r a
P E R G UN T A S R E S P OS T A S
“[ ...] é difícil ter material e sal a de
2) Quais as principais
a u l a a p r o p r i a d a , c l i m a q u e n te . [ . . . ]
d i f i c u l d ad e s a o l e c i o n a r n a
falta material , laboratório, biblioteca
escola pública?
a t i v a d a , r e c u r s o s m a t er i a i s ” .
3 ) T ev e co n t a t o , a p ó s a
g r a d u a ç ão co m n o v a s
a l t e r n a t i v a s / mé t o d o s p a r a “Não”.
l e c i o n a r l i t e r a t u r a?
4 ) E m s u a o p i n i ã o , o en s i n o “ C o m c er t e z a . P o d e s e d a r m a i s
de l iteratura deve ser a p o i o p a r a a p r o d u ç ão d o a l u n o , n ã o
m e l h o r ad o n a e s c o l a ? A a p en a s t e x t o e s c r i t o , m a s t a mb ém
p a r t i r d e q u a i s p o n t o s? t e a t r o , e n v o l v en d o a l i t e r a t u r a ” .

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N a pergunt a de número 2, a profes s ora ci t a a a us ência


de uma bi bl i ot eca a t i va da , fa t o que di a l oga c om a t eori a de
Agui a r ( 2006 ) , poi s el a propõe que a es col a n eces s i ta a bri ga r
múl t i pl as forma s de a proxi ma çã o ent re s uj ei t os e l i v ros , com
ofert a l i v re de t i pos de t ext os , de di f erentes l i ngua gens, de
a t i v i da des de l e i t ura i ndi v i dua l e col et i v a , da ndo o l i v re a rbí t ri o
pa ra que o a l uno es col ha o t i po de t ext o que des ej a l er. J á na
pergunt a 3, é ev i dent e que a profes s ora nunca pa rt i ci pou de
forma çã o cont i nua da , a penas s e es peci a l i zou em l í ngua port u -
gues a .
N a res post a da pergunta de número 4 , a profes s ora ci t a
doi s pont os em que a l i t era t ura pode s er mel hora da. O pri mei -
ro re força o que B ra ga t t o F i l ho ( 1 9 9 5) di z a cerca da produçã o
t ext ua l , poi s , pa ra el e, nã o bas t a a penas ens i na r os a l unos a
deci fra rem t ext os , é nec ess á ri o que el es a prenda m, t a mbém, a
obs erv a r a cons t ruçã o, a i deol ogi a e a i nt ert ext ua l i dade de
ca da obra l i t erá ri a pa ra que s e t ornem pessoa s crí t i ca s pera n -
t e a s oci eda de e bons produt ores t ext ua is , j á que a produçã o
de t ext os , des de os s i mpl es a os ma i s e l a bora dos, pr ess upõe a
l ei t ura . O s egundo pont o, el enca do por el a , cons t i t ui -s e como
uma a l t erna t iv a pa ra fa zer o a l uno s e env olv er com a l i t era t u -
ra por mei o do t ea t ro.
T a b e l a 4 — Q u i n t a e s e x t a p e r g u n t a s d e s t i n ad a s à p r o f e s s o r a
P E R G UN T A S R E S P OS T A S
5 ) C o mo v o cê p l a n e j a “ D ep en d e n d o d o mó d u l o , C r u z e So u z a , M a ch a -
suas aulas? Que d o d e A s s i s , C a m i l o C a s t e l o B r an co e C l a r i s s e
a u t o r e s v o c ê u t i l i z a? L i s p e c to r . P l a n e j o a a u l a d e a c o r d o co m o
mó d u l o e d e a c o r d o c o m o q u e é p o s s í v e l .
Uso bastante o l ivro didático, textos [ . . .]”.
6) O material didático, “ C o n t eú d o p r o g r a m á t i c o s i m , o P P P s i m
o P r o j e to P o l í t i c o ( c o n h e c im en t o d e mu n d o ) , d ep en d en d o d o
P ed a g ó g i c o e o livro privilegia sim a literatura”.
c o n t eú d o p r o g r am á t i -
c o p r i v i l e g i am o e n s i -
no literário?

N a res pos t a da pergunt a de número 5, a pro fes sora


a fi rma que o pl a nej ament o da s a ul as , bem com os a ut ores que
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el a ut i l i za dependem do módul o em que os a l unos es t ã o i ns eri -


dos . Va l e res s a l ta r que a es col a s e l eci ona da é v ol t a da a o
ens i no p rofi s s i ona l i zant e ( t écni co) , ou s ej a , nes t e ca s o nã o é o
v es t i bul a r que det ermi na a qui l o que os a l unos vã o es t uda r.
Al ém di s so, os a ut ores t ra ba l ha dos pel a profes s ora s ã o es co -
l hi dos por el a , ha j a v i st a que a referi da escol a nã o pos s ui o
ens i no de l i t era tura em s ua gra de curri cul a r.
A profes s ora res pondeu à pergunt a de número 6 pos i t i -
v ament e, ma s é neces s á ri o r ess a l ta r que o foco da es col a nã o
é t ra nsmi t i r a l i t era t ura , no ent a nto os profes s ores da i ns t i t ui -
çã o a cham i mport ant e a cres cent a r t a l di s ci pl i na , de modo que
el a é mi ni s t ra da dent ro da s a ul a s de l í ngua port uguesa . O
Proj et o Pol í t i co P eda gógi co di t a que os a l unos dev em t er
conheci ment o de mundo e os profes s ores t ra ba l ha m es ta
ques t ão por mei o da l i t era t ura .

6 DOS ALUNOS

N a s egunda et a pa da col et a de da dos , ent rega mos pa ra


ci nco a l unos um ques t i oná ri o cont endo 6 pergunt as a bert as .
Por uma ques t ã o de ét i ca , codi fi ca mos s eus nomes em: A1 , A2,
A3, A4 e A5. Segue a ba i xo a t a bel a com os da dos dos i nfor -
ma nt es :

Tabela 5 — Dados dos alunos


D ADOS DOS AL UNOS
Alunos A1 A2 A3 A4 A5
Id ade 15 15 16 17 17
Se xo M ascu lino - - - -
Série 2 º ano do Ensino M éd io - - - -
Turno M anhã - - - -

Como obs erva do na t a bel a, t odos os a l unos s ã o do


mesmo s exo e da mesma t urma , di ferenci a ndo - s e a penas pel o
fa t or i da de. Seguem a ba i xo a s t a bel as com a s pergunt a s e a s
res pect i va s res pos t as dos a l unos:
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Tabela 6 — Primeira pergunta destinada aos alunos


O q u e v o c ê en t e n d e so b r e l i t e r a t u r a?
A1 “Uma obra escrita para retratar a vida”.
A2 “ É a m a t é r i a q u e e s tu d a o s e n s i n o s l i t e r á r i o s e o
d e s en v o l v i me n to d o p e n s am en t o s h i s t ó r i c o s ” .
A3 “ L i t e r a t u r a s ã o a s o b r a s q u e s u r g i r a m n a s ép o c a s
h i s t ó r i c a s c o m o : B a r r o co , R en a s c i me n to , e e t c ” .
A4 “ S ã o t e x t o s , e o e s t u d o d e t e x t o s p r o d u z i d o e m p er í o d o s
importantes da literatura”.
A5 “ É a l g o q u e n o s a j u d a a c o m p r e en d e r m e l h o r o co n t e x t o d o
q u e n o s a p r en d emo s ” .

Ao a na l i s a r a s res pos ta s dos a l unos s obre o q ue é l i t era -


t ura , percebemos que nenhum de l es a proxi mou - s e da qui l o que
t eóri cos como Cul l er ( 1 9 9 9 ) e Samuel ( 2007 ) t ra t am como l i t era -
t ura , t odav i a , demons t ra ram conhecer e j á t erem es t uda do o
t ema . A2, A3 e A4, de uma forma gera l , rel a ci ona m a l i t era t ura
a penas com uma di s ci pl i na es t uda da nas es col as e a os di fe -
rent es perí odos l i t erá ri os . Já A1 e A 5 di zem que a l i t era t ura
t a mbém s erv e pa ra r et ra ta r a v i da e compreender mel hor o
cont ext o dos ass unt os es tuda dos em sa l a de a ul a .
Qua ndo i ns t i ga dos a a v a l i a r o ens i no de l i t era t ura , qua s e
t odos os a l unos res pondera m que é “bom”, no ent a nt o, o a l uno
A1 recl a mou da p rofes sora e o A5 rec l amou d a fa l t a de l i v ros
bons na bi bl i ot eca.

Tabela 7 — Segunda pergunta destinada aos alunos


C o mo v o c ê av a l i a o e n s i n o d e L i t e r a t u r a?
A1 “ Ó t i mo . S e m o q u e m e q u e i x a r s o b r e o en s i n o , p o r ém a
p r o f e s s o r a n ão a j u d a ” .
A2 “ B em , c o mp l e me n t a o u t r a s m a t ér i a s q u e t a mb ém e s tu d am o s
p e r í o d o s h i s t ó r i c o s e o d e s en v o l v im en t o d o p en s a me n to ” .
A3 “Boa”.
A4 “Bom”.
A5 “ C o mo b o m n ão e x c e l e n t e p o r f a l t a d e l i v r o s b o n s n a
biblioteca”.

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A úl t i ma res pos ta demons t ra a i ndi gna çã o do a l uno A5


a cerca do es t a do da bi bl i ot eca . V i s i t amos e s s e es pa ço e
percebemos a di fi cul da de enf rent a da pel os es t uda nt es , poi s , na
bi bl i ot eca , há s oment e l i v ros di dá t i cos , de modo que e l a nã o
ofere ce o cont a to dos a l unos com out ros t i pos de l i v ros.
N ess e cená ri o, cons t at amos que a b i bl i ot eca nã o pos s ui l i v ros
v ol ta dos a os curs os ofert a dos pel a i ns t i t uiçã o e, t a mpouco,
obra s l i t erá ri a s . Ta l fa t o demons t ra o des ca so do poder públ i co
em rel a çã o à va l ori za çã o da l ei t ura .
N a próxi ma t a bel a , podemos obs erva r que os a l unos
cons i deram a l i t era t ura i mport a nt e por v á ri os mot iv os:

T a b e l a 8 — T er c e i r a p er g u n t a d e s t i n a d a a o s a l u n o s
E m s u a o p i n i ã o , q u a l a i m p o r t ân c i a d a l i t e r a t u r a n o E n s i n o M éd i o ?
A1 “ U m a p r en d i z ad o q u e o A l u n o l e v a r á p ar a o r e s t o d a v i d a ” .
A2 “ É mu i t o i m p o r t an t e p o i s é u m co n h e c i m en to a m a i s p a r a a
n o s s a f o r m a ç ão ” .
A3 “Estimula o interesse pela leitura”.
A4 “ É i m p o r t an t e p o i s n o s a j u d a a e n t e n d er e a p r en d e r s o b r e
e s s e s p e r í o d o s e m q u e su r g i r a m o s t e x t o s l i t e r á r i o s” .
A5 “ S ó n o s a j u d a a r e a p r en d e r o q u e j á s a b í a m o s o u au m en t a r
n o s so co n h ec i m en t o l i t e r á r i o ” .

Os di s cent es A1 e A2 reconhecem que o ens i no l i t erá ri o é


fundament a l pa ra a v i da e a forma çã o i nt el ect ua l dos mesmos .
O a l uno A3 a fi rma que a l i t era t ura es t i mul a a l ei t ura , da mes ma
forma que Agui a r ( 200 6 ) di z que a obra l i t erá ri a pe rmi t e v a ri a -
da s l ei t uras , s empre podendo s er i nt erpret a da de um modo
nov o, por mei o da s poss i bi l i da des que os s i gnos o ferecem. J á
o a l uno A4 cons i dera i mport ant e a l i t era t ura pa ra ent ender os
perí odos das es col a s l i t erá ri as e A 5 res t ri nge a l i t era t ura
di zendo que s erv e a pena s pa ra a umenta r o conheci ment o j á
a dqui ri do.
Com a próxi ma pergunt a pret endí amos s aber como os
profes s ores t ra ba l ha m os t ext os l i t erá ri os , s e na pers pect i v a
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do res umo ou “ compreensã o” d e t ext os ou i ncent i v a ndo os


a l unos a l er, ent ender, ques t i ona r, s oci a l i za r, c ont ext ua l i za r e
a gos t a r de l er.

T a b e l a 9 — Q u a r t a p e r g u n t a d e s t i n ad a a o s a l u n o s
4) Após a leitura de um texto l iterário, o que o
professor propõe à turma?
A1 “Questionários”.
A2 “ U m a d i s c u s s ão s o b r e o a s s u n to ” .
A3 “ A t i v i d ad e s s o b r e o l i v r o ” .
A4 “ A t i v i d ad e s p a r a a c o mp r e en s ão d o s t e x t o s l i t e r á r i o s ” .
A5 “ A s e a p r o f u n d a r , p r o cu r a r s a b e r m a i s ” .

Obs erv ando a s res pos t as , percebemos que, a l ém dos


ques t i oná ri os e da s a t i v i da des cont i das no l i v ro di dá t i co, a
profes s ora t a mbém i ns t i ga os a l unos a ent ender, di s cut i r,
s oci a l i za r e os i ncent i va a s e a profunda rem s obre o a s s unt o
es t uda do.
Qua ndo pergunt a dos s e j á l eram a l guma obra l i t erá ri a
compl et a , t r ês dos a l unos res ponderam que s i m, porém, a l gu -
mas da s obra s ci t a da s por el es nã o s ã o cons i dera da s como
l i t erá ri a s . Ent reta nt o, s e ol ha rmos na pers pect i v a de Cul l er
( 1 9 99 ) , podemos reconhecer t a i s l i v ros como l i t erá ri os , poi s ,
s egundo o a ut ora , l i t era t ura é um a t o d e f a l a ou ev ento
t ext ua l que s us ci t a cert os t i pos de a t ençã o.

T a b e l a 1 0 — Q u i n t a p er g u n t a d e s t i n a d a a o s a l u n o s
5 ) V o cê j á l e u u m a o b r a l i t e r á r i a c o mp l e t a ? Qu a l ?
A1 “ C o mp l e t a n ã o . A mo r d e p e r d i ç ã o ” .
A2 “S im, Senhor dos Aneis”.
A3 “ S i m , 5 m i n u t o s , A v i u v i n h a , D o m C a s mu r r o , U b i r a j a r a ,
I r a c em a . . . ”
A4 “Não”.
A5 “ S i m , mu n d o d e f i l o s o f i a ” .

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A úl t i ma pergunt a do ques t i oná ri o di ri gi do a os a l unos nos


fez ent ender que a ma i ori a de l es t em a cess o a obra s l i t erá ri a s .
Va l e r ess a l ta r a i mportâ nci a da i nt ernet pa ra o a c ess o a l i v ros
e o i nt eres s e dos es t uda nt es em bus ca r out ros mei os pa ra a
l ei t ura como os “s ebos ” e bi bl i ot eca ( mes mo es s a nã o es t a ndo
em boa s condi ções ) .

Tabela 11 — Sexta pergunta destinada aos alunos


6 ) V o c ê t em a c e s s o a l i v r o s l i t e r á r i o s ? S e s i m , o n d e ?
A1 “S im. Em internet ou na própria biblioteca”.
A2 “ S i m , p r i n c ip a l m en t e e m b i b l i o t e c a s e s e b o s ” .
A3 “ S i m , g e r a l me n t e eu co m p r o n a s l i v r a r i a s o u a t r a v é s d a
internet”.
A4 “Não”.
A5 “Não”.

7 DA AULA

A profes s ora i ni ci ou a a ul a pergunt ando o que os a l unos


hav i am p es quis ado s obre os mov iment os a rt í s t i cos , cul t ura i s e
ci ent í fi cos . Em s egui da , e l a começou a deba t er com os a l unos
a cerca de t emas , como o R enas ci mento e Humani smo, ut i l i za n -
do o l i v ro di dá t i co. Pa ra el uci da r s ua expl i ca çã o s obre o Huma -
ni s mo, a profes s ora menci onou o es cri t or Gi l V i cent e, o Tea t ro
Vi cent i no, a Sa nt a Inqui s i çã o e a obra de Cami l o Ca s t el o
B ranco, i nt i t ul ada Amor de perdição .
Pa ra fi na l i za r a expl i ca ção s obre o Humani smo, a profes -
s ora res umi u a obra Auto da barca do inferno , de Gi l Vi c ent e,
e pedi u pa ra que t rês a l unos l es s em e i nt erpret a ss em os
pers onagens . Ao t érmi no da a ul a , a profes s ora di t ou t rês
ques t ões pa ra a t urma , a ci t a r: 1 ) Tra ce um comentá ri o s obre o
Huma ni smo e o Rena s ciment o como t ra ns forma çã o do p ensa -
ment o da época , 2) Pa ra v ocê, qua l a i mport â nci a do t ea t ro
v i cent i no pa ra es s e pens ament o? e 3) D e a cordo com a l ei t ura
do t recho de Auto da barca do in ferno , que m ot i v os o fi da l go
el enca pa ra não ent ra r na ba rca do i nferno e, s i m, do céu?
Graduando, Feira de Santana, v. 7, n. 10, p. 35-53, 2016
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Concl uí mos que a profes s ora a pres ent ou excel ent e domí -
ni o do cont eúdo di s cut i do em s a l a de a ul a , t endo em v i s ta que
el a pa rt i u de expl i ca ções dos ca mpos l i t erá ri os e hi s t óri cos , a
fi m d e a t i ngi r o obj et i v o da a ul a . Veri f i camos a i nda que houv e
o us o a dequado do t empo em rel a çã o a o cont eúdo; os a l unos
deba t eram com a profes s ora a cerca do t ema , demons t ra ndo
i nt eres s e pe l o a s s unto; o cont eúdo foi a borda do de forma
i nt eres sa nt e pel a pro fes sora , poi s el a es t i mul ou a pes quis a , o
deba t e e a i nt erpret a çã o da obra l i t erá ri a Auto da barca do
inferno , por mei o da encena çã o dos a l unos .

8 CONCLUSÃO

Ao i ni ci a rmos es t e t ra ba l ho, bus camos i nv es t i ga r a


percepçã o de a l unos e profes s ores do Ens i no Médi o a cerca da
l i t era t ura na s es col as públ i cas da regi ã o m et ropol i t a na d e
B el ém. N es t e s ent i do, rea l i zamos a pes quisa em uma es col a
es t a dua l e, a pa rt i r da col et a de da dos de uma profes s ora de
l í ngua port ugues a e s eus res pect i v os a l unos , cons eguimos
a l ca nça r nos so obj et i v o. Os res ul t ados da ent rev i s t a com a
educa dora , do ques t i oná ri o res pondi do pel os a l unos e da
obs erv a çã o da a ul a confi rmam a s di fi cul da des a pont a da s por
es t udi os os como Zi l berma n ( 1 9 88) e Agui a r ( 200 6 ) no t oca nt e à
prá t i ca do ens i no l i t erá ri o no nív el es cola r médi o.
Concl uí mos que a percepçã o da prof es sora e dos a l unos
s el eci ona dos pa ra a pes qui sa s e di fer e. Pa ra a profes s ora , a
l i t era t ura pode s er concei t ua da de doi s modos , o gera l e o
a rt í s t i co, de um modo gera l é t udo que s e t em d ent ro de
t ext os , j á como a rt e, es t á dent ro da v i sã o de mundo do
homem de det ermi na da época e cont ext o s oci a l . Pa ra os
a l unos , a l i t era t ura s e res ume a pena s a uma di s ci pl i na que
es t uda os es t i l os l i t erá ri os , a fi m de compreender o cont ext o
hi s t óri co dos mesmos , di fer ent ement e do noss o pont o de v i s t a ,
poi s ent endemos que o ens i no da l i t era t ura es t i mula a cri a t i v i -
da de e a ref l exã o, a l ém de fa zer com que o a l uno domi ne a s

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ha bi l i da des de l er, es crev er, ouv i r e fa l a r, ou s ej a , a s ca pa ci -


da des bás i ca s pa ra o des envol v iment o cogni t i vo do s er humano.
Percebemos a i nda que a profes s ora i ncent i va s eus a l unos
a l erem obra s l i t erá ri as , por ma i s que ex i s tam di fi cul da des em
l ec i ona r na r ede públ i ca dev i do à fa l t a d e ma t eri a i s e a mbi en -
t es a dequa dos ; a fa l t a de es t í mul o à l ei t ura e à p rodução
t ext ua l dos a l unos por mei o de proj et os ; a fa l t a de bi bl i ot eca s
de qua l i da de e a a us ênci a, nas es col as t écni ca s , da d i s ci pl i na
de l i t era t ura em s ua gra de curr i cul a r, poi s o P. P. P. da es col a
nã o i ns ere o ens i no l i t erá ri o pa ra a l unos do ens i no médi o -
t écni co, ma s i ndi ca a pena s que o a l uno d eve a dqui ri r conheci -
ment o de mundo. Com ba s e nes s e pont o, os profes s ores
a dequa m a os s eus pl a nos de a ul a à l i t era t ura por m ei o de
recurs os como o l i v ro di dá t i co. As s im s endo, ent endemos que
o ens i no de l i t era t ura na s es col as públ i ca s t em s i do t ra t a do
com des prezo e omi ss ão pel o poder públ i co, p ri nci pa l ment e, à s
que oferecem o ens i no t ecnol ógi co.

Abstract : This article aims to describe how is the literary


e duca t i on i n a pub l i c s choo l i n t he s t a t e o f Pa rá , pa rt i cul a r l y i n
t h e a v era g e e duca t i on l ev e l . D a t a co l l ec t i on t oo k p l a ce t hr ough
observations of lessons, interviews with teachers and a
questionnaire administered to students.To support our
r es ea rch , we ba s ed on t he re f l e ct i ons o f i mpo rt a nt s ch ol a rs i n
t he fi el d, s uch a s Sa muel ( 200 7 ) ; Cul l er ( 1 9 9 9) ; René W el l ek a nd
A us t i n W a r r en ( 1 9 - - ) . Ha v i n g r e c o rd e d a n d a na l yz e d t h e da t a ,
w e c o n c l ud e d t ha t t h e l i t e ra r y e d u ca t i on ha s b e e n t r e a t e d, i n
most of the schools, with contempt and failureby the
government, because there is hardly encouraging reading,
l i bra ri es a nd a ct iv e, ei t her, books .
K eywords: Educa t i on. Publ i c s chool . Rea di ng. L i t era ture.

REFERÊNCIAS

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In: MARTNS, Ara cy Alv es ; BRAND ÃO, Hel i a na Ma ria B ri na ;
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NOTAS
1 B o l s i s t a d o P r o g r am a d e B o l s a s d e I n i c i a ç ã o C i e n t í f i c a ( P I B I C / C N P q ) .
2 Moni tora do D epar tamen to de L íngua e L i ter atura (DLLT) d a Un iver si -
d ad e do Estado d o P ar á (UEPA) e vo lun tár ia do Pr og r am a d e Bo lsas
de Iniciação Científ ica (PIBIC/CNPq).

Env ia do em 1 3/0 3/20 1 6 .


Aprov a do em: 16 /06 /20 1 6.
Graduando, Feira de Santana, v. 7, n. 10, p. 35-53, 2016

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