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Introdução Ao Antigo Testamento
Introdução Ao Antigo Testamento
Testamento
Prof. Gesiel Anacleto
Prof. Jean Rafael Giese
2017
Copyright © UNIASSELVI 2017
Elaboração:
Prof. Gesiel Anacleto
Prof. Jean Rafael Giese
231.044
F333i Fenili, Romero
222 p. : il.
ISBN 978-85-515-0088-0
1.Teologia.
I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
Apresentação
Caro acadêmico!
Neste Livro de Estudos que é uma Introdução ao Antigo Testamento,
você compreenderá que os livros que compõem a Bíblia ou Sagradas
Escrituras, em sua composição e estrutura, possuem gêneros literários e eles
são diferentes entre si. Os gêneros literários utilizados para compor os textos
da Bíblia são as formas de linguagem e contexto em que é inserido o texto.
Caro acadêmico, você compreenderá que na Bíblia não se esgotam os gêneros
literários, pois existem muitos outros, que em conjunto com as outras formas
literárias garantem forma ao texto bíblico. Devemos descobrir e conhecer
esta variedade de linguagens nos textos da Bíblia, sendo um fator muito
importante que deve ser acrescentado ao estudo das Sagradas Escrituras para
compreendermos a sua finalidade e obtermos o seu conhecimento. Assim,
vamos então conhecer os principais gêneros literários presentes nos textos
que compõem o Antigo Testamento, a saber: jurídico, narrativo, literário
poético, literário profético, literário apocalíptico e literário sapiencial.
O gênero literário jurídico está presente em todos os cinco livros
que compõem o Pentateuco. Este gênero trata sobre as normais e leis para
a observância e obediência do povo de Deus. Assim, correspondem a dois
tipos de leis: apotídicas e casuísticas. Quando os mandamentos têm início
com um não são então classificados como leis apotídicas. Temos então as
leis dos dez mandamentos (Êx 20, 3-17) como um exemplo disso. E as leis
casuísticas são então as leis direcionadas para situações consideradas
específicas, como podem ser conferidas nos livros de Levítico (Lv 20, 9-18,
20, 21) e Deuteronômio (Dt 15, 7-17). Com a intenção de transmitir uma
mensagem e sendo de fácil entendimento, o gênero narrativo apresenta-se em
forma de ‘epopeia’, ‘épica’, ‘tragédia’ e ‘romance’. A epopeia aparece quando
a narrativa é sobre os feitos de um herói nacional ou com grandes conquistas
militares, a vida dos israelitas no deserto e a conquista de Canãa etc. Como
exemplo, em Abraão, Gedeão e Davi temos o gênero épico. Já a tragédia
aborda a história da decadência de um indivíduo, da fama e honradez de um
dos personagens bíblicos ou ao desastre e a miséria de um outro personagem
(Sansão, Saul e Salomão). E, por fim, o romance apresenta a relação da vida
amorosa entre um homem e uma mulher, aparecendo este nos livros de Rute
e nos livros de Cântico dos Cânticos.
III
Em se tratando do gênero literário poético, no Antigo Testamento
encontra-se muitas vezes em formas de paralelismo entre as frases, como
podemos constatar no próprio Livro dos Provérbios. Podemos classificar de
gênero poético a composição dos demais livros sapienciais como os livros
de Jó, Salmos, Eclesiastes e Cântico dos Cânticos. Além disso, observa-se
também a presença desse tipo de gênero no próprio Pentateuco e nos livros
proféticos.
O gênero profético, que é bastante presente na Bíblia, não tem por
objetivo adivinhar, mas sim de ser a intenção do profeta em manifestar ao
povo a vontade de Deus com o uso de sermões e palavras duras, com sinais,
exortações e oráculos. Ou seja, o sucesso do profeta não está no cumprimento
de suas profecias, mas sim em que o povo destinatário das profecias mude de
vida a fim de realizar a vontade de Deus e evitar o castigo. O castigo em si é
consequência da não observância das leis e da vontade de Deus.
O gênero literário apocalíptico se faz presente a partir do uso de
símbolos, imagens, visões e revelações. Essa literatura aparece frequentemente
em momentos de grande perseguição contra os israelitas. Neste gênero
literário é apresentado o confronto entre os justos (os judeus) e os ímpios
(outros povos), sendo o Livro de Daniel um perfeito exemplo em que se
encontra este tipo de gênero. Apocalíptico no sentido literal da palavra no
que se refere à revelação em si.
E, por fim, temos o gênero literário que tem por finalidade mostrar
a sabedoria dos simples, que é a sabedoria da vida cotidiana (Provérbios);
ou apresentar uma sabedoria que reflete a crise da ideia de Deus (por
exemplo, a própria história de Jó); uma sabedoria que mostra a crise da
própria sabedoria em si como sendo a sabedoria: “vaidade das vaidades, tudo é
vaidade” (BÍBLIA DE JERUSALÉM, Eclesiastes, 12, 8).
Porém, a sabedoria buscada e atingida pelo homem deve servir a
ele como o meio pelo qual o homem saberá valorizar a dignidade que a sua
vida contém e também iluminar o caminho de suas escolhas e ações nesta
vida para consigo e, principalmente, na relação social e interacional com as
diferentes pessoas que passam por sua vida, bem como as instituições em
que fará parte. Caro acadêmico, a Bíblia, ou melhor, as Sagradas Escrituras,
tanto a parte do Pentateuco (primeira parte do Antigo Testamento, O Antigo
Testamento e o Novo Testamento como um todo, não são apenas gêneros
literários e, portanto, não podem ser apenas entendidos através de estudo
de gêneros literários. É palavra, conhecimento e sabedoria encarnada em
espaços geográficos reais e em contextos históricos, sociais, econômicos,
políticos, religiosos e culturais que também são testados e atestados tanto
pela história (arqueologia, para citar um exemplo) e por diversas pesquisas
científicas. E, como sabemos, a Teologia é a Ciência por Excelência, pois
está pronta e acabada. Pois é considerada revelada por Deus aos Homens
IV
(Dei Verbum), cabendo ao homem, com o uso de suas múltiplas inteligências,
acercar-se e introduzir-se nessa Sabedoria (Ciência Teológica) que não tem
por função confortar o homem, apenas, e sim, dizer ao homem qual é a sua
origem, qual deve ser o seu proceder e qual é o seu último destino.
Os autores.
UNI
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades
em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação
no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir
a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO .... 1
VII
5 CONTEÚDO E ESTRUTURA DO LIVRO ...................................................................................... 91
6 GÊNERO LITERÁRIO ......................................................................................................................... 95
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 96
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 97
VIII
3.4 O LIVRO DO CÂNTICO DOS CÂNTICOS ................................................................................. 186
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 187
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 190
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 191
IX
X
UNIDADE 1
INTRODUÇÃO PARA A
COMPREENSÃO DO ANTIGO
TESTAMENTO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir dos estudos desta unidade você será capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos, e em cada um deles você
encontrará atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados.
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
COMPOSIÇÃO DO PENTATEUCO
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, antes de iniciarmos e prosseguirmos no estudo de uma
introdução ao Antigo Testamento, precisamos concordar que a Bíblia foi também
constituída a partir de um contexto histórico-geográfico. Geográfico no sentido de
que o espaço habitado pelo povo hebreu era a Palestina (Terra de Israel: 2Cr 2, 17;
1 Sm, 13, 19; Canaã: Gn 11, 31; Êx 15, 15; Terra Santa: Zc 2, 16; Judá: Lc 1, 5; Terra
Prometida: Hb 11, 9).
Esse corredor era uma região considerada chave, pois ficava entre a África,
Ásia e Europa, recebendo a Bíblia influência de diversas culturas, principalmente
as culturas egípcias e as mesopotâmicas. Portanto, o lugar em que a Bíblia é escrita
não é uma região isolada.
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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
2 FORMAÇÃO DO PENTATEUCO
FIGURA 1 – OS LIVROS DO PENTATEUCO
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TÓPICO 1 | COMPOSIÇÃO DO PENTATEUCO
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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
Esdras (445 a.C.)” (LÓPEZ, 2002, p. 18). Em relação à redação final do Antigo
Testamento, Esdras não pode ser considerado como o redator final.
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TÓPICO 1 | COMPOSIÇÃO DO PENTATEUCO
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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
O Pentateuco não foi escrito em uma única vez e não pode ser considerado
como sendo a obra de um único autor. O Pentateuco deve ser entendido como
escrito a partir de tradições orais e escritas diferentes que foram juntadas de forma
progressiva e se unificando ao longo da história. A união de todo esse material só
se deu na época depois do exílio da Babilônia.
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TÓPICO 1 | COMPOSIÇÃO DO PENTATEUCO
e Juízes. Essa fonte fala diretamente da história de Israel, desde a criação, passando
pelo êxodo até a posse da terra em Canaã.
Essa fonte retrata o pensamento do povo da tribo do Sul (Judá), sendo que
não dá para identificar diretamente os seus autores. Apenas há o conhecimento das
tribos do Sul e de suas cortes. A fonte de tradição Javista apresenta a história de
Israel no estilo de uma grande “Epopeia Nacional” em que todos têm marcada em
suas memórias históricas “essa história” que é repassada da tradição oral secular
recontada no contexto dos reis, privilegiando então as tribos do Sul.
A fonte Eloísta (por chamar a Deus de Elohim) foi composta entre os anos
900-850 a.C., depois da separação das tribos do Norte (Israel) e do Sul (Judá). Essa
fonte apresenta as mesmas concepções da fonte sulista (apresentada na tradição
Javista) e nos mesmos livros, porém, com uma nova perspectiva e olhar, próprio
do povo nortista Israel. Propositalmente, Eloísta é advindo do nome de Deus
anterior ao êxodo, onde a divindade é invocada como Elohim, o Deus Altíssimo.
Sua narrativa dá ênfase a locais (santuários, montes e locais sagrados) onde é
forte a experiência de suas lideranças embrionárias (patriarcas, profetas) com a
manifestação divina. Também é enfatizada a aliança com o povo (ao contrário da
fonte Javista que dá ênfase ao reinado e templos) enquanto coletividade. Esta fonte
valoriza mais o campo, a natureza, as tradições primitivas anteriores à monarquia,
as relações interpessoais com a divindade, bem diferente da tradução javista que
tem um perfil estatal e faz uso de personagens que atuam como mediadores entre
Deus e o povo.
(1) A tradução de Áquila. Este autor era natural do Ponto e prosélito do judaísmo,
viveu no tempo do imperador Adriano. Tentou fazer uma versão literal das
Escrituras hebraicas, com a finalidade de contradizer a forma que os cristãos
faziam dos Setenta para fundamentar as suas doutrinas.
(2) A revisão dos Setenta feita então por Teodócio. Este era judeu prosélito, natural
de Éfeso, segundo Ireneu, e segundo Euzébio, Teodócio era também um ebionita
que acreditava na missão do Messias, mas não na divindade de Cristo.
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López (2002) conclui que se pode considerar que Simon (1638-1712) foi o
verdadeiro inaugurador da crítica bíblica moderna. Na sua obra Historie critique du
Vieux Testament (1678), observa a existência de duplicações, tensões, mudanças de
estilo e outra série de aspectos formais e temáticos, que seriam os critérios sobre
os quais seriam trabalhados normalmente pela crítica literária. Essas observações,
segundo ele, vêm a confirmar as dúvidas de que Moisés não pode ter sido o autor
do Pentateuco.
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TÓPICO 1 | COMPOSIÇÃO DO PENTATEUCO
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menos a autoria ao próprio Moisés. Pois além das referências diretas a Moisés,
os livros que compõem o Pentateuco possuem sequências temáticas em que
descrevem o surgimento do povo de Israel. Pode-se dizer, portanto, que “o estado
de Moisés no deserto é o primeiro modelo verificado de poder que integra a seu
funcionamento o controle ideológico e a manipulação do consenso” (CHATELET;
DUHANEL; PISIER; 1993, p. 833).
No Pentateuco, a citação de dois nomes diferentes para tratar sobre Deus
(Javé e Elohim) levou o pastor alemão H. B. Witter (1711) a sugerir duas fontes
distintas que foram então transmitidas a Moisés pela própria tradição oral.
Assim, esse critério para os dois nomes dados a Deus foi somente explorado
por Astruc e por Eichhorn a partir de 1760. Esses dois pesquisadores apresentaram
a tese de que se deve distinguir dois documentos. Um que adotaria o nome Javé e
o outro Elohim. E que ambos seriam então apresentados por Moisés. “Embora não
se afirme no próprio conjunto do Pentateuco que este haja sido escrito por Moisés
em sua totalidade, outros livros do Antigo Testamento citam-no como sendo obra
dele, como podemos conferir em: Js 1, 7-8; 23, 6; 1Re 2, 3; 2Re 14, 6; Ed 3, 2; Ne 8, 1;
Dn 9, 11-13” (GAZZI, 2013, p. 67).
Muitas partes importantes do Pentateuco são atribuídas a Moisés (Êx 17, 14;
Dt 31, 24-26). No entanto, os escritores do Novo Testamento estão de acordo com
os escritores do Antigo Testamento em confirmar a autoria mosaica do Pentateuco.
Falam dos cinco livros em geral como “a Lei de Moisés” (At 13, 39; 15, 5; Hb 10, 28).
Para eles, “ler o livro de Moisés” equivale a ler os livros que formam o conjunto do
Pentateuco (GAZZI, 2013).
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fontes, cada um com sua maneira especial de designar a Deus, para escrever o
Gênesis. Mais tarde, os estudiosos alemães descobriram o que lhes pareciam
certas repetições, diferenças de estilo e discordância nas narrativas. Chegaram
à conclusão de que Moisés não escreveu o Pentateuco; o escritor foi um redator
desconhecido que empregou várias fontes ao escrevê-lo.
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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
Gazzi (2013) afirma que a única conclusão que se pode tirar das ordens
exaradas no Pentateuco para que se destruíssem todos os traços da idolatria é que
estava na capacidade militar de Israel o poder de fazer cumprir essas ordens por
todo o país. Nada, porém, seria menos cabível nos dias de Zacarias, de Esdras e
de Neemias que planejar e executar tão grande extirpação do culto idólatra em
toda a Palestina. A grande batalha deles era a sobrevivência, em face das reiteradas
más colheitas e grandes hostilidades por parte das nações vizinhas. Nem o
“Documento P” do tempo de Esdras, nem o Deuteronômio dos dias de Josias
poderiam harmonizar-se com as passagens aqui mencionadas.
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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
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E foi também nos reinados dos reis Davi e Salomão que foi escrita uma das
principais fontes integrantes do Pentateuco, conhecida como fonte Javista.
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Zenger, na página 48, afirma que o Pentateuco pode ser lido primeiramente
como biografia de Moisés:
[...] o Pentateuco pode ser lido como o caminho dramático de Israel para
a terra da promessa, que começa com o chamado de Abraão dentre as
nações e termina com um “final aberto” na fronteira da terra prometida
– contudo com a incumbência de entrar nessa terra. O Pentateuco retrata
esse caminho cheio de sofrimento e conflito como biografia dramática
de Israel (ZENGER, 2003, p. 48).
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O livro de Levítico faz referência ao culto a ser realizado pela tribo de Levi, que
foi então escolhida para realizar os serviços religiosos do Santuário. O livro contém
basicamente material de cunho legislativo, sendo que a vida social cotidiana é o
centro das leis que buscavam regulamentar toda a vida social, política, religiosa e
cultural do povo do antigo reino de Israel em construção para então futuramente
tomar a posse da terra de Canaã. Assim, o povo hebreu já estava orientado antes
mesmo de tomar posse da terra prometida, através dos decretos, estatutos, normas
e leis:
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TÓPICO 1 | COMPOSIÇÃO DO PENTATEUCO
profetas, sacerdotes e sábios da corte. “É claro que o Pentateuco não se abre com o
evento da entrega da lei que só intervém depois de toda a história das “origens”,
dos patriarcas e do Êxodo. Da mesma forma, o dom da lei também não marca
decisivamente a conclusão do Pentateuco” (PURY, 1996, p. 184).
Pury aponta em sua obra que o início da história de Israel se deu a partir
da saída dos hebreus da escravidão do Egito, se organizando como um povo que
vai peregrinar por 40 anos no deserto até adentrar a terra que, segundo afirmação,
deles lhes fora prometida.
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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
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TÓPICO 1 | COMPOSIÇÃO DO PENTATEUCO
Este ciclo, que vai das promessas feitas a Abraão até o seu cumprimento na
época de Davi e Salomão, está explicitamente selado nas primeiras confissões de fé
de Israel (Dt 26, 5-9; Js 24, 2ss). Israel sabe, assim, que sua vida está marcada pelas
promessas que Deus fez no início de sua história e esta referência constitui o ponto
de todo o dinamismo de sua fé.
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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
Dito isto, a história de Israel não começa nem pára (sic) com exílio.
No Pentateuco, o Israel da época pós-exílica nos oferece não só um
compêndio de suas principais tradições de origem, mas também um
testemunho de sua reflexão teológica constantemente renovada sobre o
sentido de sua história. Por causa deste duplo título, o Pentateuco pós-
exílico é o herdeiro de tradições seculares (PURY, 1996, p. 84).
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RESUMO DO TÓPICO 1
Caro acadêmico, neste tópico aprendemos que:
• O Pentateuco, em seu conjunto de cinco livros, não pode ser trabalhado de forma
literal, mas sim de forma simbólica e interpretando-o a partir das diferentes
fontes, tradições e gêneros literários.
• Que tem como tema central a criação do mundo, a história da salvação e a aliança
firmada com o povo hebreu.
• Os seus livros trazem em si, normas, prescrições, regras, que dizem respeito à
vida social dos hebreus.
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AUTOATIVIDADE
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UNIDADE 1
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
O livro do Gênesis não tem a pretensão de ser um livro de ciências naturais.
O “hexaémeron”, termo que significa a criação de Deus em seis dias (Gn 1, 1-2,
4), foi escrito para introduzir no ideário dos hebreus o repouso do sábado. Os
autores também quiseram mostrar a relação do mundo com Deus, apresentando
tudo como sendo criado por Deus e excluindo a ideia da existência de outros
deuses. As verdades teologicamente elaboradas e narradas são de cunho religioso
e não científico. Assim, toda a narração da criação tem por objetivo apresentar o
homem como sendo o mediador do mundo que é inferior a Deus; sendo a função
do mediador exercer a atividade terrena, ou seja, um sacerdócio que é um serviço
religioso devotado a Deus. Portanto, os seis dias de criação que no início do livro
do Gênesis são apresentados através do gênero narrativo, não significam eras
ou períodos geológicos cientificamente falando, como pesquisadores quiseram
entender no passado (era azoica, primária, secundária etc.). O autor sagrado não
tinha as preocupações que um cientista tem em seu trabalho científico, mas apenas
um ensinamento religioso.
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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
2 O LIVRO DO GÊNESIS
Gazzi (2013) afirma que o título do Livro de Gênesis em português é
derivado do título adotado pela versão grega do Antigo Testamento, a chamada
Versão Septuaginta. Os israelistas, por sua vez, usam como título a primeira
palavra do livro (beresît, que significa “no princípio”). Neste sentido, Gazzi (2013,
p. 93) afirma que:
Os capítulos 10-50 desdobram, nos três círculos narrativos Gn 10, 1-25, 11;
25, 12-36; 37-50, a história de três gerações de famílias dos Patriarcas de Israel,
Abraão e Sara, Isaac e Rebeca, Jacó e Lia/Raquel na terra da promissão. No decurso
subsequente da narrativa do Pentateuco, os 12 filhos de Jacó tornam-se as figuras
fundadoras das 12 tribos de Israel. O arco narrativo termina com a morte de Jacó e
seu filho José, já não na terra da promissão, mas no Egito.
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TÓPICO 2 | O PENTATEUCO E O INÍCIO DA HISTÓRIA DE ISRAEL
Dessa forma, Zenger conclui que qualquer leitor que for iniciar a leitura
do Livro de Gênesis poderá se irritar pelo fato das narrações apresentarem
contradições em seus cenários e nas sequências dos acontecimentos (ZENGER,
1995).
Um outro aspecto muito importante e que não pode ser deixado de lado
é o que diz respeito à extensão geográfica do Livro do Gênesis. Segundo
Gazzi (2013), o território geográfico do Livro de Gênesis vai desde o vale da
Mesopotâmia, conhecido até então como o “berço” da “raça” humana, até o vale
do Rio Nilo, no Egito, considerado então como sendo o berço da “raça” hebraica.
Assim, essa região, com uma configuração crescente, segundo o autor, é chamada
de “O Crescente Fértil”. Um outro fato importante é o de que três continentes
convergem para seu centro, tornando essa região como sendo o “centro do mundo”
para aquela época.
2.1 COMPOSIÇÃO
O Livro do Gênesis contém a história da criação que é encontrada nos
dois primeiros capítulos do livro que descrevem o início do mundo de forma
sobrenatural.
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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
É a partir do Livro do Gênesis que surge uma doutrina sobre Deus, sobre
o homem e sobre a história da salvação humana. Gênesis apresenta Deus como
sendo único, criador e transcendente. A história da salvação apresentada nesse
livro é sobre os temas da bênção, da promessa, da aliança e da eleição divina.
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TÓPICO 2 | O PENTATEUCO E O INÍCIO DA HISTÓRIA DE ISRAEL
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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
II. Os Começos do Povo Hebreu (11, 27; 50, 26); A. Abraão (11, 27; 25,
18); Os Progenitores de Abraão (11, 27-32); A Chamada de Abraão e Sua
Viagem pela Fé (12, 1; 14, 24); O Concerto entre Deus e Abraão (15, 1-21);
Agar e Ismael (16, 1-16); O Concerto de Abraão Ratificado Mediante Seu
Nome e a Circuncisão (17, 1-27); A Promessa a Abraão e a Tragédia de Ló
(18, 1; 19, 38); Abraão e Abimeleque (20, 1-18); Abraão e Isaque, o Filho
da Promessa (21, 1; 24, 67); A Posteridade de Abraão (25, 1-18) B. Isaque
(25, 19; 28, 9); O Nascimento de Esaú e Jacó (25, 19-26); Esaú Vende a
Sua Primogenitura (25, 27-34); Isaque, Rebeca e Abimeleque (26, 1-17);
Disputa a Respeito de Poços, e a Mudança de Isaque para Berseba (26,
18-33); A Bênção Patriarcal (26, 34; 28, 9) C. Jacó (28, 10; 37, 2a); O Sonho
de Jacó e Sua Viagem (28, 10-22); Jacó com Labão em Harã (29, 1; 31, 55);
A Reconciliação de Jacó e Esaú (32, 1; 33, 17); Jacó Volta à Terra Prometida
(33, 18; 35, 20); A Posteridade de Jacó e Esaú (35, 21; 37, 2a) D. José (37, 2b;
50, 26); José e Seus Irmãos em Canaã (37, 2b-36); Judá e Tamar (38, 1-30);
José, Suas Provas e Elevação no Egito (39, 1; 41, 57); José e Seus Irmãos no
Egito (42, 1; 45, 28); A Mudança para o Egito, do Pai e Irmãos de José (46,
1; 47, 26; 50, 14); Jacó: Suas Últimas Profecias, Últimos Dias e Morte (47,
27; José: Final de Sua Vida e Sua Morte (50, 15-26).
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TÓPICO 2 | O PENTATEUCO E O INÍCIO DA HISTÓRIA DE ISRAEL
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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
Após a morte de Abraão, a liderança das tribos passou para seu filho Isaque,
e depois para Jacó, que acabaria por ter seu nome mudado para Israel, e cujos doze
filhos dariam origem às 12 tribos de Israel. Acredita-se que por volta de 1.700 a.C. os
hebreus se transferiram para o Egito fugindo de uma seca intensa, estabelecendo-
se no delta do rio Nilo sob proteção dos hicsos (reis pastores), povo que conquistou
o território, recebendo uma série de benefícios. Com o fim do domínio hicso, os
hebreus acabaram por ser transformados em escravos. Por volta do ano 1.250
a.C., comandados por Moisés (e mais tarde por Josué) retornariam à Palestina,
no acontecimento que ficou conhecido como Êxodo. No livro da Bíblia com o
mesmo nome temos o relato (que, a bem da verdade, apresenta vários conflitos
com o moderno método científico de relato histórico) do acontecimento, onde se
destacam algumas passagens famosas, como a parte em que Deus, a pedido de
Moisés, abre o Mar Vermelho para que seu povo tivesse caminho garantido rumo
à liberdade.
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TÓPICO 2 | O PENTATEUCO E O INÍCIO DA HISTÓRIA DE ISRAEL
FIGURA 12 – OS PATRIARCAS
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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
Com a morte do Patriarca Abraão (Gn 25, 7-11; 23, 2, 17-20), o seu filho
Isaque torna-se então o Patriarca que será o principal protagonista dos relatos
bíblicos. Para melhor entendermos a parte do livro que narra sobre a existência dos
Patriarcas, podemos então dividí-la em quatro partes, que podem ser chamadas de
ciclos. A saber: ciclo de Abraão (12, 1-23, 20) que trata sobre a vocação, a partida
para Canaã e Egito. O nascimento de Isaac e Ismael e a morte de Abraão. O ciclo de
Isaac (24, 1-27, 46). O ciclo de Jacó (28, 1-36, 43), em que é narrado no capítulo 25,
19, torna-se o principal personagem em relação a seu pai Isaac e a seu irmão Esaú.
O ciclo de José (37, 1-50, 26), sendo este o penúltimo filho de Jacó, que fora vendido
como escravo para o Egito, fazendo então a ligação histórico/teológica com o livro
do Êxodo. E, por último, o ciclo de José.
48
TÓPICO 2 | O PENTATEUCO E O INÍCIO DA HISTÓRIA DE ISRAEL
para romper com todo o seu passado (Gn 12, 1) e a empreender uma nova aventura
(Gn 12, 2-3), sua fé e obediência ao mandato divino (Gn 12, 4a). E tudo isso aos 75
anos! (Gn 12, 4). O texto bíblico não narra nada dos 74 anos de vida de Abraão.
Ao autor do Livro do Gênesis somente lhe interessa a figura de Abraão a partir do
chamado divino.
Para López (2002), as narrativas sobre Abraão não têm por objetivo
apresentar uma biografia do personagem. Elas são em grande parte legendárias
e de cunho teológico. Estas foram redigidas muitos séculos depois da suposta
existência de Abraão, a maioria delas foi escrita durante o exílio da Babilônia ou
na época pós-exílica. Essas narrativas têm por objetivo oferecer uma regra para os
judeus que viviam ou haviam vivido no exílio e procuravam refazer a sua vida na
terra de Canaã.
49
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
50
TÓPICO 2 | O PENTATEUCO E O INÍCIO DA HISTÓRIA DE ISRAEL
51
RESUMO DO TÓPICO 2
Caro acadêmico, neste segundo tópico abordamos sobre:
• As estruturas principais do Livro de Gênesis, e que este não deve ser entendido
de forma literal, mas deve ser compreendido a partir da luz da fé.
• O Livro de Gênesis tem um valor teológico que visa a reflexão do Homem acerca
da sua existência frente à manifestação de Deus.
52
AUTOATIVIDADE
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54
UNIDADE 1
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Nesse tópico vamos conhecer um pouco sobre o Livro do
Êxodo em seus aspectos gerais. O Livro do Êxodo presente no Antigo Testamento
é um importante relato sobre a história da constituição do povo hebreu. O
acontecimento do Êxodo relata a libertação de Israel do Egito pelo Senhor, que
faz com esse povo uma Aliança. Tal acontecimento fundador foi objeto de várias
releituras, já dentro da própria Bíblia, pois toda a teologia e espiritualidade do
povo de Israel ficou profundamente marcada por ela. Assim, o Segundo e Terceiro
Isaías veem a libertação de Judá do domínio da Babilônia como um novo Êxodo.
2 O LIVRO DO ÊXODO
Êxodo significa “saída”. O tema central do Livro de Êxodo é a libertação
e saída do povo hebreu da escravidão no Egito, sua caminhada no deserto por 40
anos em preparação para a entrada na terra prometida. O livro também mostra
fases da infância de Moisés e de seu chamado para ser profeta que deveria então
libertar o povo da escravidão (cf. Êxodo 1-4).
55
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
2.1 COMPOSIÇÃO
Se aceitarmos que o autor principal desse livro foi realmente ‘Moisés’, então
Êxodo deve ser datado após os acontecimentos nele narrados, ou seja, por volta
dos anos 1450-1440 a.C. Os conteúdos do Livro do Êxodo podem ser divididos da
seguinte forma: escravidão e libertação dos hebreus no Egito. Este é o tema mais
importante. Nesta parte são apresentadas as sortes e os revezes dos hebreus no
Egito. E, por último, o modo como enfrentaram os sofrimentos e a difícil libertação.
56
TÓPICO 3 | A SAGA DO POVO ESCOLHIDO
2.2 AUTORIA
Uma questão que atravessa séculos é a de quem escreveu de fato o Livro
do Êxodo, assim como também os outros livros do Pentateuco. A tradição religiosa
faculta a Moisés a autoria do Êxodo, pelo fato de que no próprio Livro de Êxodo há
indicações diretas de que Moisés é o autor do livro, pode ser verificado em 17, 14; 24,
4; 34, 27 e capítulos 20 a 23 declaram que Moisés foi autor do Livro da Aliança, que
inclui os Dez Mandamentos, os juízos e todos os estatutos acompanhantes (24, 4-7).
O também conhecido Código Sacerdotal, que aborda sobre o ritual do Tabernáculo
e do Sacerdócio, contido no restante do livro, com exceção dos capítulos 32 a 34,
foi confiado diretamente a Moisés da parte do Senhor Deus (25, 1, 23, 31; 26, 1).
Outras afirmações paralelas ao longo dos capítulos 39 e 40 confirmam também a
autoria de Moisés do Livro do Êxodo. Porém, existem opiniões divergentes acerca
da autoria do Êxodo, pois não há explicitamente uma indicação de que Moisés
57
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
tenha realmente escrito o livro. Por fim, muitas evidências no Êxodo atestam que
o autor era alguém erudito e que residia no Egito e que este era testemunha da
diáspora dos judeus.
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TÓPICO 3 | A SAGA DO POVO ESCOLHIDO
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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
A aliança do Sinai (Êx 19, 1-20, 21; 24) assemelha-se, tanto na forma como
no conteúdo, à forma dos tratados entre estados do segundo milênio
a.C., especialmente os tratados entre os estados hititas. Esses tratados
incluíam um preâmbulo (Êx 20, 2), estipulações (Êx 20, 3-17), ratificação
(Êx 24, 1-11), além de bênçãos e maldições. Uma cópia do tratado era
muitas vezes guardada nos santuários de ambas as partes. Igualmente
a semelhança do conteúdo das leis casuísticas dos capítulos 21-23 em
relação aos códigos do antigo Oriente Próximo (particularmente o
Código de Hamurábi da Babilônia, em torno de 1750 a.C.) tem sido
frequentemente observada (GAZZI, 2013, p. 121-122).
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TÓPICO 3 | A SAGA DO POVO ESCOLHIDO
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TÓPICO 3 | A SAGA DO POVO ESCOLHIDO
63
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
4 GÊNERO LITERÁRIO
FIGURA 20 – O GÊNERO NARRATIVO
Para Gazzi (2013, p. 125), uma outra característica literária notável do Livro
do Êxodo encontra-se no relato das nove primeiras pragas, em que os seguintes
elementos estão presentes:
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TÓPICO 3 | A SAGA DO POVO ESCOLHIDO
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UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
LEITURA COMPLEMENTAR
Peter Colón
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TÓPICO 3 | A SAGA DO POVO ESCOLHIDO
67
UNIDADE 1 | INTRODUÇÃO PARA A COMPREENSÃO DO ANTIGO TESTAMENTO
“A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda
convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos
Profetas e nos Salmos” (Lucas 24.44).
“Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente”
(Is 40.8).
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TÓPICO 3 | A SAGA DO POVO ESCOLHIDO
“São mais desejáveis do que ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais
doces do que o mel e o destilar dos favos. Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em os
guardar, há grande recompensa” (Salmo 19.10-11).
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RESUMO DO TÓPICO 3
Caro acadêmico, nesse terceiro tópico vimos que:
• Êxodo também é uma obra de cunho legislativo, em que firma leis e regras para
preservar o povo judeu do convívio com outros povos.
• No Livro do Êxodo é narrada a aliança que Deus firma com o povo hebreu.
70
AUTOATIVIDADE
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72
UNIDADE 2
DEUS E OS HEBREUS
FIRMAM UMA ALIANÇA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Em cada um deles você encontra-
rá atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados.
73
74
UNIDADE 2
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Você está cursando o curso de Bacharelado em Teologia
pela UNIASSELVI! E aqui, antes de adentrarmos no Livro de Levítico, prosseguindo
então com a introdução, quero fazer um adendo muito importante sobre esse livro!
Atualmente há a ocorrência de deturpação do sentido geral dos temas
do Livro de Levítico por parte de pessoas que não creem em Deus e de pessoas
que, com sua liberdade e discernimento diferenciado, acabam imputando uma
má fama ao Livro de Levítico e, muitas vezes, também às pessoas que professam
alguma confissão cristã. Em primeiro lugar, devemos concluir que o conhecimento
é universal e não pode ser usado para desunir, segregar, espalhar divisão e
discórdia. Todo conhecimento, por ser conhecimento, está pautado em verdades
que são verificadas, ou pela experimentação científica, ou pela verificação racional,
a partir do uso de estruturas lógicas de pensamento. Assim, o Livro de Levítico,
de forma alguma tem por objetivo ser uma mordaça para quem quer que seja. Ele
é de fato um conjunto de prescrições, orientações e leis que visam a santidade,
ou seja, a pureza e a libertação do povo do pecado. Pois o pecado, segundo as
Sagradas Escrituras, afasta o povo hebreu de seu Deus. E o pagamento do pecado
é a morte do pecador. E Deus não quer a morte de seu povo. Porém, o povo é
livre em querer obedecer ou não as leis propostas por Deus. Nesse sentido, as
pessoas têm liberdade de escolher o que quiserem ser e obedecer. Porém, compete
a Deus uma liberdade de estabelecer seus preceitos, regras e leis a fim de obter
um povo que lhe seja agradável e próximo. O Livro de Levítico é objeto de muitas
críticas. Temos que ser honestos ao fazer uma crítica! E criticar sem verdade ou sem
fundamento não é certo e muito menos válido. O Livro, então, deve ser entendido
como uma proposta, uma correção, um apontamento e não como uma mordaça
que tira a liberdade das pessoas. Muito pelo contrário, deve ser um farol para
iluminar as pessoas em suas escolhas sensatas e verdadeiramente livres, pois está
fundamentado também numa verdade, e verdade segura!
O Livro de Levítico foi escrito e direcionado para o povo hebreu que foi
redimido, com o intuito de instruí-lo de como deve se aproximar de Deus e de
que forma deve adorá-lo. O Livro de Levítico começa em sua introdução com a
expressão "E chamou o Senhor", e revela a importância da comunicação que é
apresentada então nos capítulos seguintes.
75
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
Por meio das ordens (regras prescritas), que se encontram no decorrer dos
capítulos do Livro de Levítico, Deus fixou na mente dos hebreus a necessidade
de formarem e de serem um povo santo e consagrado a Ele como sendo seu
único Deus e Senhor. E, principalmente, de que forma podiam sê-lo nos aspectos
religioso e moral. Pelo conteúdo dele, Deus avisou também o povo hebreu sobre
a sua vontade a respeito das festividades anuais que eles deveriam respeitar,
guardar e celebrar, como os seus sábados semanais e anuais, as relações sexuais
corretas e aquelas consideradas como as impróprias, a alimentação que o povo
deveria observar, dentre outras coisas.
Dentro do Livro de Levítico, uma das mais destacadas proibições é a que
se refere a beber o sangue. E uma das principais leis que é considerada lei social
é a ordem de como Deus resumiu a forma de como os hebreus deviam tratar-se
mutuamente: “Tens de amar o teu próximo como a ti mesmo”. Como bem pode ser
conferido em Lv 17, 10-14; 19, 18. Portanto, o Livro de Levítico especificava para os
hebreus como eles podiam ser um povo santo para Deus.
10
Todo homem da casa de Israel ou todo estrangeiro residente entre vós
que comer sangue, qualquer que seja a espécie de sangue, voltar-me-ei
contra esse que comeu sangue e o exterminarei do meio do seu povo.
11
Porque a vida da carne está no sangue. E este sangue eu vo-lo tenho
dado para fazer o rito de expiação sobre o altar, pelas vossas vidas; pois
é o sangue que faz expiação pela vida. 12Esta é a razão pela qual eu disse
aos filhos de Israel: "Nenhum dentre vós comerá sangue e o estrangeiro
que habita no meio de vós também não comerá sangue." 13Qualquer
pessoa, filho de Israel ou estrangeiro residente entre vós, que caçar um
animal ou ave que é permitido comer, deverá derramar o seu sangue e
recobri-lo com terra. 14Pois a vida de toda carne é o sangue, e eu disse
aos filhos de Israel: "Não comereis o sangue de carne alguma, pois a vida
de toda carne é o sangue, e todo aquele que o comer será exterminado."
[...]18Não te vingarás e não guardarás rancor contra os filhos do teu povo
(BÍBLIA DE JERUSALÉM, Levítico, 17, 10-14; 19, 18).
76
TÓPICO 1 | A RESPOSTA CULTURAL DO POVO DE ISRAEL AO DEUS DA ALIANÇA
2 O LIVRO DE LEVÍTICO
O Livro de Levítico é considerado o terceiro livro do Patriarca Moisés. Esse
livro em sua totalidade apresenta as funções dos sacerdotes do povo de Israel,
sendo eles os membros da Tribo de Levi, os homens que o próprio Deus de Israel
escolheu para lhes prestar serviços em seu Santuário, como pode ser conferido em
Deuteronômio 10, 8. O Livro de Levítico era um manual prático que tinha a função
de orientar os antigos sacerdotes nos principais detalhes das cerimônias religiosas
que o povo de Deus deveria então executar.
Na versão grega este livro recebeu o nome de Levítico porque ele trata
das leis relacionadas com os ritos, sacrifícios e serviço do sacerdócio
levítico. Nem todos os homens da tribo de Levi eram sacerdotes;
o termo "levita" referia-se aos leigos que faziam o trabalho manual
do tabernáculo. O livro não trata destes "levitas", porém o título não
é completamente inadequado, porque todos os sacerdotes eram
efetivamente da tribo de Levi (HOFF, 1995, p. 70).
Hoff sublinha que o Livro de Levítico não pode ser apenas entendido como
o manual dos sacerdotes da tribo de Levi, pois ele contém ordens de Deus que
devem ser dadas ao povo hebreu. Isso pode ser constatado pelas diversas vezes
em que encontramos a expressão “fala aos de Israel”, expressão essa que o próprio
livro atribui a Deus.
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UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
78
TÓPICO 1 | A RESPOSTA CULTURAL DO POVO DE ISRAEL AO DEUS DA ALIANÇA
ano. É lei perpétua para vossos descendentes. No sétimo mês fareis esta
festa. 42Habitareis durante sete dias em cabanas. Todos os naturais de
Israel habitarão em cabanas, 43para que os vossos descendentes saibam
que eu fiz os filhos de Israel habitar em cabanas, quando os fiz sair da
terra do Egito. Eu sou Iahweh vosso Deus. 44E Moisés proclamou aos
filhos de Israel as solenidades de Iahweh (BÍBLIA DE JERUSALÉM,
Levítico, 23).
79
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
Portanto, esse terceiro livro do Pentateuco foi redigido para dar uma
instrução aos hebreus e aos sacerdotes que tinham a função de ser seus mediadores
perante Deus, sobre de que forma deveriam se aproximar e se dirigir a Deus por
meio do sangue expiado (ofertado em holocausto) e para expor um certo padrão
‘divino’ da vida santa que os hebreus deveriam ter enquanto povo escolhido e
santificado por Deus. De acordo com Gazzi (2013, p. 156), a função do Livro de
Levítico é a de “promover reverência nacional e individual a Yahweh em Sua
santidade apresentando as condições para que Israel se aproximasse d’Ele e
preservasse Sua presença santa entre o povo”.
Assim como Êxodo tem por tema a comunhão que Deus oferece a seu
povo mediante sua presença no tabernáculo, Levítico apresenta as leis
pelas quais Israel haveria de manter essa comunhão. O Senhor queria
ensinar a seu povo, os hebreus, a santificar-se. A palavra santificação
significa apartar-se do mal e dedicar-se ao serviço de Deus. É condição
necessária para desfrutar-se da comunhão com Deus. As leis e as
instituições de Levítico faziam os israelitas tomar consciência de sua
pecaminosidade e de sua necessidade de receber a misericórdia divina;
ao mesmo tempo, o sistema de sacrifícios ensinava-lhes que o próprio
Deus provia o meio de expiar seus pecados e de santificar sua vida. Deus
é santo e seu povo há de ser santo também. Israel deve ser diferente das
outras nações e deve separar-se de seus costumes. "Não fareis segundo
as obras da terra do Egito. . . nem fareis segundo as obras da terra de
Canaã" (18:3). O pensamento-chave encontra-se em 11:44, 45; 19:2:
"Santos sereis, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo". A palavra
80
TÓPICO 1 | A RESPOSTA CULTURAL DO POVO DE ISRAEL AO DEUS DA ALIANÇA
81
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
82
TÓPICO 1 | A RESPOSTA CULTURAL DO POVO DE ISRAEL AO DEUS DA ALIANÇA
83
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
3 COMPOSIÇÃO
De acordo com Champlin (2001), o Patriarca Moisés foi considerado pelo
povo hebreu como sendo um legislador de leis sagradas e que fora responsável
pela revelação divina aos judeus. Era também considerado uma personalidade de
conhecimento e sabedoria elevados. Podemos concluir que Moisés fora escolhido
para receber e transmitir as regras, leis e recomendações divinas ao povo hebreu,
que carecia dessas legislaturas para progredir materialmente e espiritualmente.
84
TÓPICO 1 | A RESPOSTA CULTURAL DO POVO DE ISRAEL AO DEUS DA ALIANÇA
O sistema sacrificial foi instituído por Deus para ligar a nação israelita a
ele próprio. Não obstante, os sacrifícios remontam ao período primitivo
da raça humana. Menciona-se o ato pela primeira vez em Gênesis 4,
no caso de Caim e Abel. Provavelmente Deus mesmo ensinou os
homens a oferecer sacrifício como meio de aproximar-se dele. A ideia
ficou gravada na mente humana e o costume foi transmitido a toda a
humanidade. Com o transcorrer do tempo, os sacrifícios oferecidos
pelos que não conheciam a Deus uniram-se a costumes pagãos e a
ideias corruptas, por exemplo, o conceito de que os deuses literalmente
comiam o fumo e o odor do sacrifício. Não se sabe se os israelitas, antes
de chegarem ao Sinai, conheciam e distinguiam claramente os diversos
tipos de ofertas. Já como nação liberta da escravidão do Egito, já como
povo da aliança, Israel recebeu instruções específicas com respeito aos
sacrifícios (HOFF, 1995, p. 72).
Nesse sentido, aquele que vai realizar o sacrifício tem, então, no bode
expiatório, um ser substituto para representá-lo naquele dia que é considerado
o “grande Dia das Expiações”. Sendo neste dia que recaem sobre a oferenda
sacrificada todos os pecados da comunidade dos levitas (nesse caso, de todo o
povo hebreu). Assim, o bode que é enviado para o deserto carrega consigo de
maneira simbólica o peso das ofensas cometidas pelos hebreus, ou seja, os seus
pecados.
85
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
Considerando que Deus desejava que Israel fosse uma nação santa
(Êxodo 19:6), nomeou a Aarão e seus filhos para constituírem o
sacerdócio. Antes do êxodo, o chefe de cada família, ou o primogênito
desempenhava o papel de sacerdote familiar, mas a complicação dos
ritos do tabernáculo e a exigência de observá-los com exatidão tornaram
necessária a instituição de um sacerdócio dedicado totalmente ao culto
divino. A vocação sacerdotal era hereditária, de modo que os sacerdotes
podiam transmitir a seus filhos as leis detalhadas relacionadas com o
culto e com as numerosas regras às quais os sacerdotes viviam sujeitos,
a fim de manterem a pureza legal que lhes permitisse aproximar-se de
Deus (HOFF, 1995, p. 75).
inaugurarem uma casta sacerdotal para serem então os responsáveis diretos pelos
principais serviços religiosos a serem realizados em favor de Deus.
87
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
Assim, também esses cerimoniais, que não são nem periódicos nem
coletivos, suspendem a passagem do tempo profano, a duração, e
projetam aquele que os celebra num tempo mítico, in illo tempore.
Vimos que todos os rituais imitam um arquétipo divino e que a sua
reatualização contínua decorre num só e único instante mítico atemporal
(ELIADE, 2001, p. 91).
Na quarta vez em que o sumo sacerdote adentrava o Santo dos Santos, este
vinha apenas para buscar simplesmente o incensório e o vaso para depositar o
incenso. Ao retornar para fora, lavava as mãos e realizava as demais cerimônias do
dia, conforme as descrições em Levítico 16, 12.14.15.
Por outro lado, o ritual do sacrifício no grande Dia das Expiações, como
afirma Champlin (2001), tinha por finalidade a comunhão. Os “sacrifícios eram
efetuados para estabelecer e ampliar a comunhão do homem com o Divino [...] E
os meios de comunhão eram a expiação, as ofertas por pecados e as ofertas por
violações” (CHAMPLIN, 2001, p. 27).
O pecado cometido pelos hebreus, em si, não tem poder de afetar Deus.
Apenas o desagrada. Portanto, o pecado tem somente consequências ruins para
o praticante ou todo o povo em geral. Pois ele, o pecado, tem o poder de romper
o canal da graça santificante que emana somente de Deus. Ou seja, Deus não tem
contato com coisas impuras ou imperfeitas. E o pecado torna o homem moralmente
imperfeito diante de Deus e também dos homens. Portanto, o ato de expiação do
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UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
90
TÓPICO 1 | A RESPOSTA CULTURAL DO POVO DE ISRAEL AO DEUS DA ALIANÇA
4 AUTORIA
De acordo com muitos pesquisadores, a data em que foi escrito o Livro
de Levítico foi por volta de 1440 a.C. De acordo com Gazzi (2013, p. 139-140), o
Patriarca Moisés deve ter composto esse livro logo depois do êxodo, durante os
anos de peregrinação e relativa folga em Cades- Barneia. Embora grande parte de
seu conteúdo tenha sido recebido diretamente de Deus, sua organização na forma
que conhecemos deve ter tido lugar depois da revolta e do castigo de 40 anos no
deserto, vividos por “toda a geração daqueles que lhe tinham desagradado com
seu mau procedimento”.
Mesmo que as tradições religiosas afirmam que a autoria do Livro de
Levítico pertence a Moisés, muitos pesquisadores atribuem a autoria do livro a
um período posterior a Moisés, sendo provavelmente no retorno do povo hebreu
do Exílio Babilônico, onde teria acontecido uma certa junção de diferentes lendas
mitológicas dos povos do seu conflito com a cultura judaica.
De acordo com Gazzi (2013, p. 141), é dentro da própria constituição
do Pentateuco que encontramos a fundamentação para a autoria mosaica: “A
conclusão de que Moisés escreveu Levítico procede do caráter interno do próprio
Levítico e do Pentateuco como um todo, além de referências do Antigo e Novo
Testamento que apontam Moisés como o autor do Pentateuco”.
91
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
92
TÓPICO 1 | A RESPOSTA CULTURAL DO POVO DE ISRAEL AO DEUS DA ALIANÇA
Por outro lado, o Dia da Expiação não era uma festividade alegre, pois
se tratava de um jejum, de um descanso solene, de confissão dos pecados,
arrependimento e reconciliação do indivíduo e da comunidade com a divindade.
Também no Livro de Levítico encontram-se quatro conjuntos de leis
referentes à terra, como o ano do descanso; o ano do jubileu; a recompensa e o
castigo; os votos. Dentre eles, chama atenção especial o ano do jubileu, pelos seus
objetivos e propósitos.
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UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
94
TÓPICO 1 | A RESPOSTA CULTURAL DO POVO DE ISRAEL AO DEUS DA ALIANÇA
6 GÊNERO LITERÁRIO
Em suas características literárias, o Livro de Levítico é quase que
exclusivamente uma literatura legal. De acordo com Gazzi (2013), o livro, em
quase a sua totalidade, contém regulamentos sobre os aspectos rituais da vida de
Israel, não somente os ligados ao culto, mas também regulamentos que lidavam
com situações da vida cotidiana dos hebreus e também da sua influência sobre
a participação do indivíduo ou de um grupo na adoração à prescrita de Deus. O
Livro de Levítico, assim como o Livro de Êxodo, inclui tanto leis apodícticas (o
capítulo 19 é o principal exemplo) quanto casuísticas (o capítulo 13 é um exemplo
marcante deste tipo de legislação). Sobre os códigos legais do Levítico, nas palavras
de Gazzi (2013, p. 142) temos:
Archer oferece evidências arqueológicas da natureza e forma dos
códigos legais do segundo milênio a.C. na Fenícia e na Mesopotâmia,
as quais indicam a necessidade de aceitar uma autoria mosaica para
Levítico, em vez de postular fontes mais recentes como o código H (de
Holiness, “santidade”) e P (de Priestly, “sacerdotal”).
95
RESUMO DO TÓPICO 1
• Muitas festas foram instituídas como sendo a adoração do povo hebreu ao seu
Deus. Essas festas foram então reunidas e praticadas mediante as prescrições
das leis estabelecidas pelo próprio Deus de Israel.
96
AUTOATIVIDADE
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UNIDADE 2 TÓPICO 2
A LEI DA PEDAGOGIA DIVINA
1 INTRODUÇÃO
O Livro de Números apresenta o registro da peregrinação do povo hebreu
em sua caminhada no deserto, depois do êxodo do Egito rumando então à Terra
Prometida, sendo um diário dos primeiros dias da aliança entre Deus e os hebreus.
O nome hebraico do livro tem por significação “No deserto”, significado esse que é
tirado do primeiro versículo desse livro. O Livro de Números apresenta de forma
bem destacada a rebelião do povo hebreu e as provações que esse povo enfrentou
durante a sua caminhada pelo deserto. O nome de “Números” tem sua origem da
tradução grega do Antigo Testamento, que é o referente ao recenseamento do povo
hebreu que é mencionado nos capítulos 1 e 26 desse livro.
A expressão “O Senhor falou a Moisés” está presente em todos os capítulos
desse livro, o que levou estudiosos a entenderem que a autoria desse livro é mosaica.
O Livro de Números, na sua primeira parte, revela a fidelidade e a misericórdia de
Deus perante a rebeldia dos hebreus em obedecer e seguir as suas leis.
As narrativas presentes no livro, de cunho histórico, explicam a presença
dos hebreus na terra de Canaã, servindo então como um livro de continuação do
que foi prescrito nos livros de Êxodo e de Levítico, como também de fazer uma
ligação entre as leis dadas no Sinai e a chegada e ocupação da Terra Prometida.
O Livro de Números apresenta uma forma de um treinamento divino para
que um certo povo, formado por ex-escravos, se tornasse a nação de sacerdotes
forjada na aliança entre Deus e os hebreus, como pode ser conferido no Livro do
Êxodo no capítulo 19.
De certa forma, Deus fez o uso das dificuldades que o povo enfrentou no
deserto para que o povo hebreu se acostumasse às batalhas que enfrentaria na
conquista da terra prometida, que fora prometida a eles pelo próprio Deus, e que
para isso, se organizasse em um exército ordenado para enfrentar os diferentes
povos.
O livro narra também a sofrida experiência de se desobedecer às ordens
do seu Deus Redentor, servindo então como um material didático para as futuras
gerações de hebreus que eles sucederão.
99
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
O censo realizado teve por finalidade contar os homens hebreus que estavam
aptos a servirem para a guerra contra os povos que seriam hostis à passagem de
Israel. O censo não tinha apenas por finalidade contar os homens hábeis para a
luta, mas sim organizar e estruturar um exército que seria hábil.
100
TÓPICO 2 | A LEI DA PEDAGOGIA DIVINA
101
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
Por outro lado, Deus levantou uma nova geração de hebreus, instruídos
nas leis divinas e preparados para a conquista de Canaã. A vida
selvagem e incerta da peregrinação no deserto desenvolveu neles
uma personalidade distinta da do homem escravo. Acostumaram-se à
dureza, a suportar a escassez de alimento e de água, ao perigo contínuo
de um ataque súbito dos povos do deserto. No final do livro, os israelitas
haviam chegado à margem do Jordão e estavam preparados para tomar
posse de Canaã (HOFF, 1995, p. 88).
102
TÓPICO 2 | A LEI DA PEDAGOGIA DIVINA
3 COMPOSIÇÃO
Caro acadêmico, de acordo com muitos exegetas, a narrativa do Livro de
Números abrange um período de 38 anos, que vai de 1512 a 1473 a.C.
O livro em seu conjunto descreve os acampamentos das tribos dos hebreus
(1, 52.53), a ordem de marcha (2, 9; 16; 17; 24; 31) e os sinais de toque da trombeta
para toda a assembleia e para o acampamento (10, 2-6).
103
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
104
TÓPICO 2 | A LEI DA PEDAGOGIA DIVINA
à enorme confiança que este tinha em Deus. O próprio Deus por causa das queixas
acaba advertindo Miriã e Aarão a respeito de sua predileção por Moisés.
Israel não era apenas uma nação entre outras muitas nações, mas "um
povo que habita à parte" (Bíblia de Jerusalém). Gozaria da grande
bênção de ter uma descendência numerosa (23:7-10). Deus é imutável
105
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
106
TÓPICO 2 | A LEI DA PEDAGOGIA DIVINA
1
Vieram então as filhas de Salfaad. Este era filho de Héfer, filho de
Galaad, filho de Maquir, filho de Manassés; era dos clãs de Manassés,
filho de José. Estes são os nomes das suas filhas: Maala, Noa, Hegla,
Melca e Tersa. 2Apresentaram-se diante de Moisés, diante de Eleazar, o
sacerdote, diante dos príncipes e de toda a comunidade, à entrada da
Tenda da Reunião, e disseram: 3"Nosso pai morreu no deserto. Não era
do grupo que se formou contra Iahweh, do grupo de Coré; morreu pelo
seu próprio pecado e sem ter filhos. 4Por que haveria de desaparecer o
nome do nosso pai do seu clã? Visto que ele não teve filhos, dai-nos uma
propriedade no meio dos irmãos do nosso pai." 5Moisés levou o caso
delas diante de Iahweh 6e Iahweh falou a Moisés. Disse: 7"As filhas de
Salfaad falaram corretamente. Dar-lhes-ás, portanto, uma propriedade
que será a herança delas no meio dos irmãos de seu pai; transmitirás a
elas a herança do pai. 8Falarás, então, aos filhos de Israel: Se um homem
morrer sem deixar filhos, transmitireis a sua herança à sua filha. 9Se
não tiver filha, dareis a sua herança aos seus irmãos. 10Se não tiver
irmãos, dareis a sua herança aos irmãos de seu pai. 11Se o seu pai não
tiver irmãos, dareis a sua herança àquele do seu clã que é o seu parente
mais próximo: este tomará posse. Isso será para os filhos de Israel um
estatuto de direito, conforme Iahweh ordenou a Moisés" (BÍBLIA DE
JERUSALÉM, Números, 27, 1 -11).
107
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
Quanto à escolha de seu sucessor, Hoff (1995) afirma que Moisés pensou
no bem do povo de Israel. Então, para a escolha, submeteu-se ao juízo e indicação
de Deus. Josué foi escolhido. E um dos pré-requisitos da escolha foi o fato de Josué
agradar a Deus e também pelo fato de estar há muito tempo com o próprio Moisés,
prefigurando como o seu braço direito. A escolha não foi fácil, visto que Moisés era
um líder que estivera há muito tempo à frente do povo de Israel. E a entrada na
terra de Canaã estava às portas. E esse era um evento muito esperado pelo povo,
pois disto dependia também a sua sobrevivência.
108
TÓPICO 2 | A LEI DA PEDAGOGIA DIVINA
A terra de Canaã, prometida por Deus aos patriarcas, tinha por limite
oriental o rio Jordão, mas a derrota dos amorreus havia feito os israelitas
donos de uma boa porção da Transjordânia, terra rica em pastagens. As
tribos de Rúben, Gade e Manasses pediram-na para si, alegando seu
grande número de gado. Embora Deus os houvesse livrado do Egito e lhes
houvesse prometido herança em Canaã, não estavam dispostos a deixar
a escolha de sua terra nas mãos divinas. Moisés permitiu que Rúben,
Gade e a meia tribo de Manasses tomassem posse da Transjordânia, na
condição de que participassem da conquista de Canaã. Estas duas tribos
e meia receberam uma das porções mais ricas da Palestina, porém seus
descendentes pagaram um preço muito elevado. A Transjordânia não
dispunha de fronteiras naturais que lhes oferecessem devida proteção
contra os invasores. Consequentemente, as outras tribos tiveram de
enviar seus exércitos muitas vezes nos séculos seguintes para defender
os transjordanianos dos conquistadores estrangeiros (I Samuel 11; I Reis
22:3). Há intérpretes da Bíblia que entendem que as duas tribos e meia
proporcionam um exemplo do que se passa com os crentes carnais.
Satisfazem-se com o livramento da culpa do pecado e não desejam
entrar na plenitude do Espírito; por fim, eles são os mais vulneráveis
aos ataques do inimigo (HOFF, 1995, p. 99).
109
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
4 AUTORIA
De acordo com Gazzi (2013), assim como no restante do Pentateuco, o
Livro de Números tem sido tradicionalmente atribuído também a Moisés. Essa
conclusão baseia-se no caráter do Pentateuco como uma obra única e no claro
testemunho tanto do Antigo como do Novo Testamento, os quais atribuem esses
livros a Moisés. Isto é também fundamentado pela evidente antiguidade do
material contido no Pentateuco. O próprio Livro de Números refere-se à atividade
de Moisés registrando eventos descritos no livro (Nm 33, 2). Que a maior parte do
livro venha das mãos de Moisés não elimina a possibilidade de atividade editorial
posterior nem a probabilidade de algumas porções terem sido adicionadas após
a morte de Moisés (por exemplo, Números 12, 3 e o obituário de Moisés em
Deuteronômio 34).
110
TÓPICO 2 | A LEI DA PEDAGOGIA DIVINA
111
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
Segundo Gazzi (2013, p. 165), eis uma cronologia das Jornadas de Israel no
deserto:
112
TÓPICO 2 | A LEI DA PEDAGOGIA DIVINA
6 GÊNERO LITERÁRIO
Para Gazzi, o Livro de Números, dos cinco livros de Moisés, é o mais
difícil de analisar e se apresentar, por causa dos diferentes tipos de conteúdo e da
estrutura desalinhada com o restante de seu material.
Gazzi (2013) afirma que a estrutura, dentro da qual este material tão variado
se aglutina, é difícil de perceber quanto à unidade. Alguns comentaristas preferem
olhar o livro sob o ponto de vista geográfico; outros, como Smick e Allen, preferem
uma estrutura cronológica (1, 1 – 25, 18 e 26, 1 – 36, 13). Embora seja atraente,
esta posição não percebe que o material que supostamente diz respeito à primeira
geração foi, de fato, experimentado pela segunda (20, 1-13). “Uma proposta melhor
seria a de incorporar as duas percepções da estrutura, sem exigir que qualquer das
duas tenha supremacia no desenvolvimento do livro de Números” (GAZZI, 2013,
p. 167).
113
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
3
Partiram de Ramsés no primeiro mês. No décimo quinto dia do primeiro
mês, no dia seguinte à Páscoa, partiram de mão erguida, aos olhos de
todo o Egito. 4Os egípcios sepultavam aqueles que dentre eles foram
feridos por Iahweh, todos os primogênitos; Iahweh fez justiça contra
os seus deuses. 5Os filhos de Israel partiram de Ramsés e acamparam
em Sucot. 6Em seguida partiram de Sucot e acamparam em Etam, que
está nos limites do deserto. 7Partiram de Etam e voltaram em direção de
Piairot, que está diante de Baal-Sefon, e acamparam diante de Magdol.
8
Partiram de Piairot e alcançaram o deserto, depois de terem atravessado
o mar, e depois de três dias de marcha no deserto de Etam acamparam
em Mara. 9Partiram de Mara e chegaram a Elim. Em Elim havia doze
fontes de água e setenta palmeiras; ali acamparam. 10Partiram de Elim
e acamparam junto ao mar dos Juncos. 11Em seguida partiram do mar
dos Juncos e acamparam no deserto de Sin. 12Partiram do deserto de
Sin e acamparam em Dafca. 13Partiram de Dafca e acamparam em Alus.
14
Partiram de Alus e acamparam em Rafidim; o povo não encontrou
ali água para beber. 15Partiram de Rafidim e acamparam no deserto do
Sinai. 16Partiram do deserto do Sinai e acamparam em Cibrot-ataava.
17
Partiram de Cibrot-ataava e acamparam em Haserot. 18Partiram de
Haserot e acamparam em Retma. 19Partiram de Retma e acamparam
em Remon-Farés. 20Partiram de Remon-Farés e acamparam em Lebna.
21
Partiram de Lebna e acamparam em Ressa. 22Partiram de Ressa e
acamparam em Ceelata. 23Partiram de Ceelata e acamparam no Monte
Séfer. 24Partiram do Monte Séfer e acamparam em Harada. 25Partiram de
Harada e acamparam em Macelot. 26Partiram de Macelot e acamparam
em Taat. 27Partiram de Taat e acamparam em Taré. 28Partiram de Taré e
acamparam em Matca. 29Partiram de Matca e acamparam em Hesmona.
30
Partiram de Hesmona e acamparam em Moserot. 31Partiram de Moserot
e acamparam em Benê-Jacã. 32Partiram de Benê-Jacã e acamparam em
Hor-Gadgad. 33Partiram de Hor-Gadgad e acamparam em Jetebata.
34
Partiram de Jetebata e acamparam em Ebrona. 35Partiram de Ebrona
e acamparam em Asiongaber. 36Partiram de Asiongaber e acamparam
no deserto de Sin, que é Cades. 37Partiram de Cades e acamparam na
montanha de Hor, nos confins da terra de Edom. 38Aarão, o sacerdote,
subiu à montanha de Hor, segundo a ordem de Iahweh, e lá morreu,
no quadragésimo ano da saída dos filhos de Israel da terra do Egito, no
quinto mês, no primeiro dia do mês. 39Aarão tinha cento e vinte e três
anos quando morreu na montanha de Hor. 40O rei de Arad, cananeu
que habitava no Negueb, na terra de Canaã, foi informado da chegada
dos filhos de Israel. 41Partiram da montanha de Hor e acamparam em
Salmona. 42Partiram de Salmona e acamparam em Finon. 43Partiram
de Finon e acamparam em Obot. 44Partiram de Obot e acamparam no
território de Moab, em Jeabarim. 45Partiram de Jeabarim e acamparam
em Dibon-Gad. 46Partiram de Dibon-Gad e acamparam em Elmon-
Deblataim. 47Partiram de Elmon-Deblataim e acamparam nos montes
de Abarim, defronte do Nebo. 48Partiram dos montes de Abarim e
acamparam nas estepes de Moab, junto do Jordão, em direção a Jericó.
49
Acamparam junto do Jordão, entre Bet-Jesimot e Abel-Setim, nas
estepes de Moab (BÍBLIA DE JERUSALÉM, Números, 33, 3-49).
114
RESUMO DO TÓPICO 2
Caro acadêmico, neste tópico vimos que:
• Constata-se também nesse livro o tema da santidade de Deus. Sendo que este
acaba por revelar a instrução e a preparação do povo hebreu para entrar na
Terra Prometida por Deus.
115
AUTOATIVIDADE
116
UNIDADE 2
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, o Livro de Deuteronômio é o quinto e último livro que
compõe o Pentateuco Cristão e a Torá dos hebreus. Esse livro conclui o Pentateuco.
Além disso, é um dos livros mais citados no restante das sagradas escrituras, a
saber, o Novo Testamento ou Nova Aliança. Muito citado também por Jesus ao se
referir ao Patriarca Moisés e também às principais leis que ele mesmo aborda.
No Livro de Deuteronômio, Deus é apresentado como sendo o superior
autor da aliança estabelecida no Sinai. O próprio prólogo do início do livro apresenta
a ação redentora de Deus para com os hebreus em libertá-los da escravidão em que
se encontravam na terra do Egito sob o julgo do Faraó. Por isso, é entendido, então,
que Deus tem o direito de fazer estipulações ao povo, sendo este a parte que está
sujeita ao tratado. Estas prescrições podem ser conferidas nos capítulos 4 a 26,
abrangendo então grande parte do livro.
No entanto, o principal item do tratado que corresponde a uma garantia e
conservação está registrado no capítulo 27, 2-3, em que diz ao povo que erguessem
pedras e escrevessem a lei nelas depois que chegassem à Terra Prometida.
Assim como pode ser conferido no capítulo 28 desse livro o registro das
bênçãos e das maldições do tratado, e nos capítulos 31 e 32 encontram-se as
testemunhas, incluindo um cântico de autoria de Moisés que servirá como um
juramento a Deus.
117
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
2 O LIVRO DE DEUTERONÔMIO
Segundo Hoff (1995), o Livro de Deuteronômio, assim como os demais
livros que compõem o Pentateuco, tem o seu nome a partir da versão grega. E cujo
significado é ‘segundo a lei’. É, segundo esse autor, um livro de recordação das
leis e um livro de discursos em que Moisés se despede, preparando o povo para
adentrar à terra prometida, que seria então a iminente travessia do Rio Jordão.
Visto que a primeira geração que saiu do Egito havia morrido e a segunda
não havia presenciado as obras maravilhosas de Deus realizadas nos
primeiros anos, nem as entendia, Moisés trouxe-as à memória do povo.
Também lhes recordou os preceitos da lei do Sinai para que os gravassem
em seus corações, pois esses preceitos os guardariam da iniquidade dos
cananeus. Depois Moisés escreveu os discursos em um livro. Portanto,
distingue-se dos outros livros do Pentateuco por seu estilo oratório e
seu fervor exortativo (HOFF, 1995, p. 100-101).
Preparar o povo para a conquista de Canaã. Deus havia sido fiel em dar
a Israel vitória após vitória sobre seus inimigos. A presença e o poder de
Deus eram a garantia de que ele lhes entregaria a terra. Moisés anima-
os repetindo trinta e quatro vezes a frase: "Entrai e possuí a terra", e
adiciona trinta e cinco vezes: "A terra que o Senhor teu Deus te deu"
(HOFF, 1995, p. 101).
118
TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO DO CULTO, DENTRO DO PRINCÍPIO DA ALIANÇA
119
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
falta cometida, acorriam a Deus entre gritos, lágrimas e gemidos, a fim de reatar
a amizade rompida. E Deus nunca lhes negou a reconciliação, a assistência, o
auxílio, a ajuda. Basta estudarmos a história do Rei Davi, de Jó, de Ester, e de
outros personagens bíblicos do Antigo Testamento.
120
TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO DO CULTO, DENTRO DO PRINCÍPIO DA ALIANÇA
121
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
como o personagem intercessor entre Deus e o povo hebreu, sendo uma espécie
de emissário interlocutor com a função de revelar aos hebreus a vontade de Deus
e apresentar a Deus as queixas e necessidades do povo.
3 COMPOSIÇÃO
No livro, além de serem recordadas as leis, é feita a explicação do porquê
dos privilégios oferecidos aos hebreus e quais devem ser as suas condutas diante
de Deus. No livro é apresentada a fidelidade de Deus aos antigos pais dos hebreus
da terceira geração. O livro aponta que Israel é um reino sacerdotal. E uma das
principais diferenças entre os outros povos, além da garantia da permanente
proteção de Deus, é que o povo hebreu é um povo cujo Deus o reveste de
prerrogativas especiais. E em qual povo, além deste, pode ser evidenciado isto?
Israel, além de ter a missão de guardar e observar a lei dada, deve também devotar
reverência e amor para com o Deus que o tirou da escravidão do Egito. O Deus
que se apresenta como sendo o deus de seus pais, desde os primeiros patriarcas,
conforme é narrado lá no livro do Gêneses.
123
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
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TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO DO CULTO, DENTRO DO PRINCÍPIO DA ALIANÇA
125
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
126
TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO DO CULTO, DENTRO DO PRINCÍPIO DA ALIANÇA
esse processo. Ou seja, o povo hebreu é um povo de cabeça dura, mas Deus se
mostra paciente. Paciente até mesmo em superar a sua fúria diante de qualquer
falta cometida.
4 AUTORIA
Ao tratarmos sobre a autoria do Livro de Deuteronômio, pode ser constatado
que o próprio livro, segundo Gazzi (2013), dá testemunho de que Moisés é o autor,
de acordo com as tradições religiosas cristãs e judaicas antes do surgimento das
pesquisas modernas sobre a autoria dos livros do Pentateuco.
Caro acadêmico, creio que até aqui você pôde perceber uma certa
dicotomia em relação à autoria dos cinco livros do Pentateuco. Dicotomia essa que
é apresentada até mesmo pelos autores aqui referenciados. Ou seja, ora é definido
como sendo Moisés seu único autor, ora são apresentadas diferentes fontes de
erudição. Mas que perigo isso pode apresentar para a fé que deve ser depositada ao
conjunto dos livros que compõem o Pentateuco? Nenhum! Pois podemos concluir
que teologicamente a fé não brota da veracidade ou não das palavras contidas
nas Sagradas Escrituras. E sim, a fé só pode brotar e se desenvolver a partir da
relação da pessoa com Deus. E esta relação deve estar baseada numa amizade que
é revestida de sentimento e razão intelectual. Sentimento, pois Deus é apresentado
como sendo amor. E a razão, pelo fato da adesão a Ele dever ser uma adesão livre e
inteligente. Portanto, uma fé não inteligente é perigosa. E uma fé apenas científica
do ponto de vista da lógica racional é estéril, pois esta não produz frutos de vida
eterna. Portanto, como você pôde muito bem perceber até aqui, não existe uma fé
à distância. A fé em Deus é sobretudo uma experiência que se dá na relação com
127
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
Enfim, temos que reconhecer que é difícil dar uma definição precisa, única
e encerrada sobre quem foi o autor, ou quem foram os autores, e qual o ano ou
os anos de sua redação inicial ou final do Livro do Deuteronômio, assim como
também aos demais livros que compõem o Pentateuco dos cristãos e a Torá dos
judeus. Mas isso, ou melhor, esse fato, de forma alguma tira a autoridade moral
do Pentateuco em si ou das Sagradas Escrituras em sua totalidade. Autoridade
moral, no sentido de que, pelas palavras e exemplos que as Sagradas Escrituras
contêm, homens e mulheres, povos e nações se reformaram, se transformaram e
se desenvolveram civilizadamente. Basta fazermos uma pesquisa histórica sobre o
128
TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO DO CULTO, DENTRO DO PRINCÍPIO DA ALIANÇA
O que importa, caro acadêmico, é o bem que o homem pode tirar para si
das Sagradas Escrituras. E aqui não estamos afirmando a sua não exatidão, pelo
fato de podermos garantir uma certeza absoluta de sua autoria e datação.
5 TEXTO E CONTEXTO
Caro acadêmico, uma questão pode nos levar a pensar sobre a necessidade
de querermos ou não buscar conhecer o texto e o contexto em que o Livro de
Deuteronômio se encontrava em sua formulação. Para que estudar esse tema, já que
não existe sequer uma conclusão acerca de sua autoria e redação inicial ou final,
tamanha divergência existente nas diferenciadas pesquisas antigas e recentes?
Respondemos a uma questão semelhante a essa abordagem anteriormente. A
resposta, porém, abordou aspectos subjetivos, embora fazendo menção à questão
do correto uso da verificação lógica das questões morais e sociais do conhecimento
e estudo dos temas dos cinco livros que compõem o Pentateuco dos cristãos e a
equivalente Torá dos judeus. Nesse caso, conhecer o contexto desse livro e também
dos outros quatro livros é importante para que saibamos que em sua existência
enquanto povo de Deus, o povo hebreu não estava sozinho. E aqui não estamos
tratando da presença ou do acompanhamento de Deus. Mas sim da existência
e coabitação com outros povos existentes que eram contemporâneos do povo
hebreu, se mencionarmos os vários momentos de conflitos em que o próprio povo
hebreu se envolveu para defender a sua dignidade, a sua soberania, a sua morada
e, principalmente, a sua existência.
129
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
diferentes sessões. Não podemos de forma alguma afirmar que tudo foi dito num
dia ou num único mês. Ou, até mesmo, se é que foi dito. Porém, o que nós temos
é o escrito. E o que está escrito não é letra morta, presa num contexto histórico
que não existe mais. E sim, a luz da fé das diferentes tradições religiosas, cristãs
e judaicas precisa ser contextualizada no hoje da História. Contextualizado sim,
mudado não.
130
TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO DO CULTO, DENTRO DO PRINCÍPIO DA ALIANÇA
131
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
Prezado acadêmico!
Você pode perceber que em relação à autoria dos cinco livros do Pentateuco,
praticamente foram dadas duas respostas. Uma resposta que reporta às pesquisas
antigas e modernas com variações de conclusões, embora estas não estejam
encerradas, embora utilizam de meios precisos de averiguação, como as pesquisas
arqueológicas e a associação com os registros históricos de outras civilizações. E a
segunda, baseada nas tradições religiosas cristãs e judaicas. Estas, por se referirem
aos conteúdos teológicos da fé, não podem ser desmerecidas quanto à forma em
que definem a autoria dos livros do Pentateuco.
132
TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO DO CULTO, DENTRO DO PRINCÍPIO DA ALIANÇA
provar a não autoria de Moisés desses cinco livros, em que essa resposta pode
proporcionar um perigo para a fé de milhões de pessoas?
Por que da insistência tanto no Antigo e no Novo Testamento da afirmação
da autoria do Pentateuco a Moisés? Recordamos as expressões sobre Moisés como:
E Moisés falou ao povo dizendo, segundo Moisés, estabelecido por Moisés, dentre
muitas outras expressões. Ou seja, caro acadêmico, Moisés está para o Antigo
Testamento assim como Jesus Cristo está para o Novo Testamento. Historicamente
é impossível negar a existência de Cristo. Pois temos não só a força da verdade da
tradição histórica oral, como também material documentado, datado e comprovado
cientificamente. A questão de sua divindade ainda é uma questão de fé. Mas,
o próprio Jesus se referiu a Moisés muitas vezes. Acaso teria ele se enganado?
Deixando de lado essas questões, e se nós passarmos a encarar a figura de Moisés,
fictícia ou não, como sendo um código religioso? Ou a repetição do nome e ação
dele por várias vezes é apenas obra do acaso?
Moisés como sendo um código religioso, ou melhor, como sendo um código
teológico. Podemos também partir dessa conclusão, mesmo se porventura for
comprovada definitivamente a sua autoria dos livros que compõem o Pentateuco.
Sabemos que a fé carece muitas vezes da lógica para subsistir. Mas não é da
lógica que a fé se nutre. E sim, a fé se nutre, se fortalece, se robustece da verdade. E
verdade aqui não é a verdade científica pelos meios empíricos ou lógicos racionais.
Verdade no sentido de ser uma moral fundamentada numa verdade lógica sem
a qual uma pessoa não poderá subsistir socialmente, não apenas uma pessoa,
mas toda a sociedade e até mesmo o Estado em si. Olhando para o Pentateuco,
devemos relembrar as passagens que possuem as expressões: recorda os tempos
de outrora, conforme nos tempos de seus pais, dos nossos pais, dos antigos etc.
Ou seja, não que devemos fechar os olhos da autoria e datação do Pentateuco,
mas, sobretudo, não podemos perder de vista o horizonte para onde ele aponta.
Pois, para os hebreus, não recordar, não celebrar, não guardar, não observar, não
vivenciar a Aliança com Deus é o mesmo que perdê-lo. E perdê-lo é a garantia de
um caminhar errante pelas peripécias da história humana.
Não que a relação entre Deus e o povo hebreu fosse uma relação mágica.
As escrituras não nos narram isso. Muito pelo contrário. O que lá encontramos
nos é apresentado como se fosse uma realidade muito próxima de nós. Como se
Deus ao vivo e a cores estivesse atuando diretamente entre os homens, de maneira
semelhante como é narrado na mitologia grega.
6 DIVISÃO
Um dos temas teológicos que pode ser considerado como um divisor de
águas no livro é o olhar para o passado. Isto está prefigurado nos 11 primeiros
capítulos do livro. Com o intuito de que o povo sempre se recorde do passado,
do que foi o tempo da escravidão, do que significa desobedecer a Deus. Ou seja,
a primeira divisão do livro foi formulada para ser dada para o povo de Deus
lembrar o passado, pensar bem, decidir e determinar servir a Deus. Já do capítulo
12 ao capítulo 34 tem por finalidade fazer o povo hebreu olhar para frente, ou seja,
para o seu futuro, com muita dedicação, esperança e cuidado. No que consiste
à temática teológica “no olhar para trás” presente nos 11 primeiros capítulos do
Livro do Deuteronômio, há nove divisões que remontam diretamente a aspectos
vivenciados pelo povo hebreu.
A primeira divisão sugerida encontra-se em Deuteronômio 1, 1-5, esta narra
a estadia do povo hebreu no outro lado do rio Jordão, antes de o atravessarem em
direção à terra prometida. Pois afirma que Moisés deu conselhos ao povo hebreu.
Ou seja, ainda estavam na planície de Moabe.
134
TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO DO CULTO, DENTRO DO PRINCÍPIO DA ALIANÇA
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UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
E, por fim, os hebreus choraram pelo fato de terem sofrido derrota. Porém,
o livro narra que Deus não se comoveu (não ouviu a sua voz), pois percebeu que o
lamento dos hebreus não era autêntico. E por causa de sua incredulidade e de sua
falsidade, toda essa segunda geração de hebreus pereceu no deserto.
136
TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO DO CULTO, DENTRO DO PRINCÍPIO DA ALIANÇA
Moisés tem essa atitude para demonstrar que Deus havia dado a vitória.
Por esse motivo, ele proferiu os encorajamentos para que os hebreus seguissem na
conquista da terra que ele há muito tempo prometera.
137
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
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TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO DO CULTO, DENTRO DO PRINCÍPIO DA ALIANÇA
O decálogo começa com as palavras: "Eu sou o Senhor teu Deus, que
te tirei da terra do Egito, da casa da servidão" (5:6). O Senhor exige
obediência porque: a) É Deus, o Soberano; b) Estabeleceu relação pessoal
com o seu povo. A expressão "teu Deus" ou sua equivalente encontra-
se mais de trezentas vezes em Deuteronômio e é a base da verdadeira
fé. Lembra a relação que existe entre um pai e seus filhos; c) O Senhor
redimiu a seu povo da servidão, portanto espera que os redimidos
obedeçam à sua voz. A diferença entre o decálogo apresentado aqui e
o de Êxodo 20 encontra-se no quarto mandamento. Para observar o dia
de descanso, Deuteronômio adiciona outra razão além de que o Criador
tenha descansado: os israelitas haviam sido resgatados da servidão do
Egito e deviam dar a seus servos e animais de trabalho o dia de descanso
semanal (5:14, 15) (HOFF, 1995, p. 103).
Nesta segunda pregação, fica bastante especificado que foi por vontade
de Deus que o povo hebreu venceu os povos inimigos e conquistou sus terras do
outro lado do Jordão em Canaã. Os povos inimigos foram vencidos, exterminados
ou expulsos, a fim de não haver aliança alguma da parte do povo hebreu para com
eles. E também de evitar que o povo hebreu se misture com as outras culturas, a
fim de que não houvesse o desvio dos israelitas das coisas de Deus.
139
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
Essa seção narra que Deus ordenou que Israel fizesse desaparecer todo
tipo de idolatria da terra de Canaã. Pois se a idolatria praticada pelos povos que
habitavam a terra de Canaã permanecesse em seu meio, seria então uma tentação
para que os hebreus as aceitassem e as praticassem.
140
TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO DO CULTO, DENTRO DO PRINCÍPIO DA ALIANÇA
141
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
Portanto, de acordo com essas leis, podemos entender que Deus queria que
o povo hebreu fosse diferente dos outros povos ao seu redor.
142
TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO DO CULTO, DENTRO DO PRINCÍPIO DA ALIANÇA
São também dispostas, nessa quarta lei, a regra que versa contra a mudança
dos limites das heranças, a regra da necessidade de se ter duas testemunhas para
se condenar o homem acusado de uma ofensa e também a responsabilidade de
um juiz para que este esteja preparado para investigar tudo a fim de encontrar
a verdade. Estas podem ser encontradas em Deuteronômio 19, 15-21. E, por
último, a lei da investigação dos mortos que fossem encontrados no campo, em
Deuteronômio (21, 1-9).
1. Uma vez que as leis que se encontram nestes capítulos são muitas
e a maioria delas corresponde a uma época passada, consideraremos
somente algumas dessas leis.
a) A lei se mostra atenciosa quanto ao serviço militar (20:5-8). Aquele
que acabava de construir uma casa nova, ou de semear uma vinha,
143
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
A sexta lei está contida do capítulo 31 ao 34. Esta se refere aos conselhos
finais dados ao povo hebreu por Moisés. Sendo que no capítulo 31 Moisés orienta
os sacerdotes, os levitas e o próprio Josué como sendo o novo líder.
144
TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO DO CULTO, DENTRO DO PRINCÍPIO DA ALIANÇA
145
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
7 GÊNERO LITERÁRIO
É de comum acordo que o gênero literário empregado no Livro de
Deuteronômio condiz com a função com que esse livro se propõe. Ou seja, o estilo
exortativo em que a linguagem do livro está estruturada contribui para que a
mensagem teológica seja então absorvida pelo leitor, conforme conclui Gazzi:
147
UNIDADE 2 | DEUS E OS HEBREUS FIRMAM UMA ALIANÇA
LEITURA COMPLEMENTAR
Mas não foi isso que nos transmitiram os massoretas, os escribas que, no
final do primeiro milênio, releram, rediscutiram, corrigiram o Antigo Testamento.
Entende-se: o politeísmo era um conceito incompatível, inaceitável, insustentável no
canto de Moisés. E, então, zás: em vez de interpretar, de dar uma leitura teológica
a essa passagem, melhor cortar, apagar com um pouco de monoteísmo. E recopiar
de outro modo: "Segundo o número dos filhos de Israel", 70 como as nações do
mundo, tornou-se a versão que chegou até nós.
148
TÓPICO 3 | CENTRALIZAÇÃO DO CULTO, DENTRO DO PRINCÍPIO DA ALIANÇA
"Sabe-se que todo texto bíblico transmitido à mão ou por ditado nunca é
igual", explica o professor Alexander Rofe, israelense nascido em Pisa, professor
durante 40 anos da Hebrew University. "Os textos de 400 a.C. eram como um funil
invertido: para uma palavra que entrava, saíam muitas mais. Mas, dois séculos e
meio depois, ocorre o inverso. O funil se inverteu para o outro lado. E, no Templo,
alguém disse: esse é o texto oficial. A partir disso, todos os livros foram corrigidos.
E se um livro era muito divergente, não o podendo destruir, era enterrado. Foi deste
modo que se começou a refletir sobre a Sagrada Escritura, mas sem preservá-la".
No Livro dos Provérbios, por exemplo, quando uma versão diz que o justo
"anda na sua integridade", uma outra fala da "sua morte", introduzindo um conceito
do além muito caro aos fariseus: os dois termos, muito semelhantes, também são
igualmente ilustrados pelo "The Bible Project" com todas as possíveis interpretações.
mas com diferenças: alguns versículos, que se referem a uma profecia sobre o
cativeiro babilônico do Templo, mais do que uma profecia, parece ser um acréscimo
posterior, com os fatos consumados.
150
RESUMO DO TÓPICO 3
Caro acadêmico, neste tópico vimos que:
• Por fim, no terceiro discurso, Moisés deixa dois caminhos: se o povo hebreu
obedecer, será então abençoado (28, 1); e se o povo desobedecer, será o seu
fracasso (28, 15).
151
AUTOATIVIDADE
152
UNIDADE 3
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles você
encontrará atividades que o ajudarão a ampliar os conhecimentos adquiri-
dos.
153
154
UNIDADE 3
TÓPICO 1
OS LIVROS HISTÓRICOS
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico optamos por não discorrer sobre cada livro separadamente,
pois nossa proposta é fazer apenas uma introdução, nesse sentido, não faremos
um aprofundamento detalhado sobre cada livro histórico. Todavia, faremos uma
abordagem do conjunto de livros e os fatos relevantes para a compreensão da
história do Antigo Testamento. Acreditamos que, para efeito de estudo introdutório,
este seja o melhor método.
156
TÓPICO 1 | OS LIVROS HISTÓRICOS
Não é nosso objetivo realizar aqui um estudo da crítica textual, pois este
estudo é bastante complexo e não se encaixa aqui. No entanto, é importante ressaltar
que os registros históricos pertinentes à nação de Israel são fundamentais para
compreendermos, dentre outras coisas, os fatos atuais ligados a este povo. A maneira
como a nação judaica se estabeleceu na terra prometida e os desdobramentos de
suas lutas para se manter onde está até hoje revelam a determinação desse povo
em permanecer em sua terra, independentemente dos inimigos que tenha que
enfrentar.
157
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
NOTA
É importante lembrar que outros livros da Bíblia contêm fatos históricos acerca de
Israel. Um exemplo disso são os livros do Pentateuco. Por que então apenas alguns livros são
classificados como históricos? Porque estes livros tratam especificamente de fatos históricos da
nação judaica, enquanto que o Pentateuco, por exemplo, aborda fatos históricos, cerimoniais
e, principalmente, deveres e regras estabelecidos por Deus ao seu povo.
No quadro a seguir é possível ter uma visão mais geral das épocas principais
da história de Israel:
158
TÓPICO 1 | OS LIVROS HISTÓRICOS
159
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
160
TÓPICO 1 | OS LIVROS HISTÓRICOS
Ainda que unidos por uma cultura comum, o povo de Canaã, pela
ocasião da invasão israelita, não estava organizado em um forte
sistema político, pelo contrário, eles se organizavam em cidades-estado
independentes, ou semi-independentes, em sua maioria vassalos do
Egito. Se uniam apenas quando enfrentavam algum perigo externo
para fazerem frente ao inimigo comum, como foi, em parte, o caso de
Israel. Esta fraca unidade de Canaã, que nunca conseguiu se tornar
um império coeso, pode ser explicada pelos fatores geográficos e pelas
pressões das grandes nações vizinhas que se utilizavam de seu território
como se fosse um estado tampão.
161
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
Vale destacar que o exército de Israel era inferior ao exército dos cananeus
em número, todavia o êxito de Josué e seu exército consistiu no fato de que, “ainda
que liderando um exército inferior àqueles que os aguardavam em Canaã, deve
ter conseguido muitas vitórias aproveitando-se do elemento surpresa, pois suas
armas eram insuficientes diante de inimigos tão poderosos” (GUSSO, 2003, p. 33).
Diante disso, podemos afirmar que o mérito da conquista não é exclusivo de Josué
ou de seus liderados, mas vemos neste processo a fidelidade de Deus em cumprir
suas promessas a Abraão, independentemente das circunstâncias adversas que
seus descendentes encontraram pelo caminho.
162
TÓPICO 1 | OS LIVROS HISTÓRICOS
163
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
de Ras Shamra. Percebe-se na região inteira uma disposição para incorporar nos
ritos indígenas todos os aspectos dos cultos praticados pelas nações pagãs das
vizinhanças. [...] Levando em conta a corrupta influência da religião canaanita,
especialmente com sua prostituição religiosa (cf. a abominação de Baal-Peor em
Nm 25) e o sacrifício de criancinhas, seria impossível manter a pureza da fé e do
culto em Israel, a não ser através do extermínio dos próprios canaanitas, pelo
menos nas áreas que os próprios hebreus haveriam de ocupar. Uma boa parte
do declínio em coisas espirituais e da apostasia que marcava a história de Israel
durante a época dos Juízes é atribuída à tolerância aos habitantes canaanitas e à
sua religião degenerada no meio da terra.
FONTE: Archer Jr. (2005, p. 196)
De acordo com Archer Jr. (2005, p. 197), “O tema básico do Livro é a falha de
Israel como teocracia, no sentido de não ter conseguido lealdade à aliança mesmo
sob a liderança de homens escolhidos por Deus, os quais libertavam a nação da
opressão do mundo pagão ao derredor”. O Livro de Juízes mostra de maneira
clara a instabilidade espiritual dos israelitas. Quando experimentavam tempos
de prosperidade e paz, era comum que se desviassem e esquecessem os grandes
feitos de Deus. Essa instabilidade moral e espiritual tornava a nação vulnerável
aos inimigos. Essa vulnerabilidade causou ao povo muitas perdas.
164
TÓPICO 1 | OS LIVROS HISTÓRICOS
165
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
166
TÓPICO 1 | OS LIVROS HISTÓRICOS
167
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
O Rei Saul foi o primeiro rei a ocupar o trono em Israel. Dentre os desafios
enfrentados por ele, o maior foi o de construir uma nação unificada. Saul foi
ungido rei pelo profeta Samuel numa cerimônia dirigida pelo profeta em Gilgal. O
povo de Israel se deparava com os ataques constantes por parte dos filisteus, nesse
sentido, seu primeiro desafio era repelir os filisteus das terras de Israel e unificar a
nação para se fortalecerem contra os inimigos.
168
TÓPICO 1 | OS LIVROS HISTÓRICOS
Davi foi o segundo rei a ocupar o trono de Israel como reino unido. Depois
de sua espetacular vitória contra o gigante filisteu, Davi se tornou muito popular
em Israel, portanto a chegada ao trono seria apenas uma questão de tempo. Com
a morte de Saul, Davi foi aclamado rei em Hebrom. Somente seis anos e meio
reinando em Judá é que Davi foi aclamado rei de todas as tribos de Israel.
A vida de Salomão revela uma lição muito triste e ao mesmo tempo valiosa.
Não importa o grau de sucesso de uma pessoa ou o esplendor de suas realizações,
pois quando seu coração se inclina para o pecado, sua vida se torna vazia e sem
sentido. Essa lição está muito clara no Livro de Eclesiastes, quando ele escreve que
“Tudo é vaidade e aflição de espírito” (Eclesiastes 1, 14).
169
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
Com a morte de Salomão, o reino de Israel foi dividido entre o Reino do Sul
ou Judá e o Reino do Norte ou Israel. O Reino do Sul, cuja capital era Jerusalém e
foi governado inicialmente por Roboão, filho de Salomão, era composto por duas
tribos: Judá e Benjamim. O Reino do Norte, cuja capital era Samaria e teve como
seu primeiro governante o Rei Jeroboão, era composto por dez tribos: Rúben,
Simeão, Zebulon, Naftali, Efraim, Issacar, Dã, Manassés, Gade e Aser.
170
TÓPICO 1 | OS LIVROS HISTÓRICOS
1. O declínio de Salomão.
2. Fatores econômicos.
3. Causas políticas.
4. A luta de Jeroboão pelo poder.
5. Debilitamento da espiritualidade.
171
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
Dois outros grandes desafios que o povo teve que enfrentar no retorno
para sua terra: a reconstrução dos muros de Jerusalém e do templo do Senhor que
estava em ruínas.
DICAS
172
TÓPICO 1 | OS LIVROS HISTÓRICOS
LEITURA COMPLEMENTAR
O CATIVEIRO BABILÔNICO
Retorno e restauração
173
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
O livro de Esdras contém duas versões do referido decreto (Ed 1.2-4 e 6.3-
12), no qual se ampararam os exilados que quiseram voltar à pátria. E é importante
assinalar que o imperador persa não somente permitiu aquele regresso, mas também
devolveu aos judeus os ricos utensílios do culto que Nabucodonosor lhes havia
arrebatado e levado à Babilônia. Para maior abundância, Ciro ordenou também
uma contribuição de caráter oficial para apoiar economicamente a reconstrução do
templo de Jerusalém.
174
RESUMO DO TÓPICO 1
• O período do reino unido perpassa pelos reinados de Saul, Davi e Salomão. Esse
período durou aproximadamente 120 anos e Israel experimentou o seu apogeu.
• O Rei Saul foi o primeiro rei a ocupar o trono em Israel. Um dos desafios
enfrentados por ele foi o de construir uma nação unificada.
• Davi foi o segundo rei a ocupar o trono de Israel como reino unido.
• Com a morte de Salomão o reino de Israel foi dividido entre o Reino do Sul ou
Judá e o Rei do Norte ou Israel.
175
AUTOATIVIDADE
176
UNIDADE 3
TÓPICO 2
OS LIVROS POÉTICOS
1 INTRODUÇÃO
A cultura judaica é muito rica. Em meio a essa riqueza a poesia tem um espaço
proeminente, pois por meio dessas poesias é possível extrair importantíssimas
lições para a vida, bem como compreender alguns aspectos importantes do
relacionamento do povo judeu com Deus.
A poesia é uma maneira que o ser humano encontrou para expressar seus
sentimentos mais profundos sobre vários aspectos da vida. No contexto da cultura
judaica a poesia era tratada de maneira peculiar, pois ela passou a fazer parte da
vida da comunidade, servia para orientar a relação do indivíduo com Deus, com o
próximo, com a vida e nos relacionamentos familiares.
2 A POESIA HEBRAICA
A poesia hebraica é altamente estruturada e visa expressar sentimentos,
verdade, emoções ou experiências em imagens. Não é por acaso que é uma poesia
muito rica. Enquanto que a poesia grega, da qual procede a poesia portuguesa, é
muito baseada no som, a poesia hebraica, por sua vez, é baseada na construção
estruturada das frases.
Poesia, com efeito, não é apenas uma determinada forma de arte, mas
é considerada originariamente como distintivo da inspiração, do trato
com o mundo sobrenatural. A forma poética confere, por sua vez,
à palavra falada uma autoridade e uma virtude, como aquela que se
acredita residir, p.ex., na maldição e na bênção. É como se um profeta,
afirmando pregar em nome de Javé, ou um mestre de sabedoria,
pretendendo transmitir um conhecimento ou uma regra de vida que
Deus ou os pais lhe comunicaram, só pudessem encontrar audiência se
revestissem suas palavras com roupagem métrica e rítmica.
177
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
A seguir vamos discorrer sobre estes artifícios presentes nos livros poéticos.
178
TÓPICO 2 | LIVROS POÉTICOS
NOTA
2.1.2 Paralelismo
O paralelismo é uma maneira de organizar as expressões numa progressão
textual utilizada na escrita, pois de acordo com Angus (2003, p. 542), “O paralelismo
auxilia muitas vezes consideravelmente a interpretação, apresentando salientes da
passagem na própria relação em que se acham”.
2.1.3 Ritmo
O ritmo na poesia é de grande importância, ou seja, é essencial, pois é o
ritmo que confere à poesia determinada sonoridade, visto que a poesia hebraica não
possui rima. Segundo Champlin (2002, p. 314), “Os hebreus não desenvolveram o
ritmo ao ponto em que o fizeram os gregos, embora seja um artifício que tenha seu
desempenho na poesia dos hebreus”. Podemos observar que a poesia hebraica não
se baseia na rima métrica, mas no ritmo. Isso porque o ritmo não se obtém pela
disposição exata das sílabas tônicas e átonas, mas pela ênfase de tonalidade e pelo
destaque dado às palavras importantes.
179
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
180
TÓPICO 2 | LIVROS POÉTICOS
3 OS LIVROS
Os livros poéticos e sapienciais consistem em uma verdadeira obra-prima
da literatura hebraica, pois o estilo e conteúdo literário são fontes inesgotáveis de
sabedoria e lições valiosas para a vida de qualquer pessoa, independentemente da
religião ou de ser religioso ou não. Este conjunto de livros não deve ser apenas lido,
mas acima de tudo devem ser refletidos e analisados com paciência no sentido de
extrair as mais belas e profundas lições para a vida. A seguir vamos analisar de
maneira resumida cada livro.
3.1 O LIVRO DE JÓ
O Livro de Jó é uma das mais extraordinárias histórias de fé e paciência em
meio às adversidades da vida. Nenhum outro livro da Bíblia possui uma narrativa
tão sublime sobre a condição de um homem frente ao sofrimento e sua integridade
mesmo diante de um quadro tão desfavorável.
O livro carrega o nome do patriarca Jó que teve sua vida assaltada por uma
série de intempéries e perdas profundas. O livro descreve de maneira vívida suas
angústias diante do sofrimento. Alguns estudiosos sugerem que Jó tenha vivido
antes de Abraão e que o livro tenha sido escrito por Moisés.
181
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
Este livro trata com o problema teórico da dor na vida dos fiéis. Procura
responder à pergunta: Por que os justos sofrem? Esta resposta chega
de forma tríplice: 1) Deus merece nosso amor à parte das bênçãos que
concede; 2) Deus pode permitir o sofrimento como meio de purificar
e fortalecer a alma em piedade; 3) os pensamentos e os caminhos de
Deus são movidos por considerações vastas demais para a mente fraca
do homem compreender, já que o homem não pode ver os grandes
assuntos da vida com a mesma visão ampla do Onipotente; mesmo
assim, Deus realmente sabe o que é o melhor para sua própria glória e
para o nosso bem final.
182
TÓPICO 2 | LIVROS POÉTICOS
183
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
perante Deus. Recordar dos feitos do Senhor no meio do seu povo, mas clamar por
socorro em meio ao sofrimento.
Por último, os salmos são “Canções individuais de gratidão [...], nas quais
repete-se com gratidão a libertação e as bênçãos que o autor recebeu, ao aproximar-
se do altar de ações de graças” (ARCHER, 2005, p. 400). Se, por um lado, temos as
lamentações e as petições, por outro lado encontramos salmos de gratidão. Um dos
pecados de Israel no Antigo Testamento era a ingratidão. Contudo, vários salmos
refletem um espírito de gratidão pelas bênçãos concedidas e por aquelas que ainda
não se concretizaram, mas pela fé o salmista acredita que Deus está trabalhando
em seu favor.
O Livro dos Salmos é uma fonte riquíssima de lições que podem ser
aprendidas e aplicadas na vida diária, dentre essas lições está o fato de confiar
em Deus, mesmo que as situações adversas nos levem a duvidar de sua justiça,
benevolência, misericórdia, amor e bondade. Mais que apenas cânticos, os salmos
são palavras inspiradoras que podem elevar a alma do fiel até a presença do Senhor
Deus e ali desfrutar de sua abundante graça.
O ensino de lições de vida por meio de provérbios era uma prática muito
comum no Oriente, pois esses ensinamentos eram memorizados e deveriam ser
aplicados no dia a dia das pessoas. Para facilitar a memorização, os provérbios
deveriam ser claros e concisos, pois deveriam ser passados de geração a geração
oralmente.
visão de alguém que teve muitas experiências, observou muitas coisas e, por fim,
pôde tirar uma conclusão não muito otimista de tudo aquilo que havia vivenciado.
O Livro de Cantares não segue uma lógica e nem mesmo possui um caráter
sistemático, seu conteúdo é construído de maneira espontânea movimentando-se
numa série de círculos interligados. Esta movimentação se dá em torno de um
tema central no livro, que é o amor. Com uma infinidade de metáforas, o autor
utiliza uma linguagem construída a partir daquilo que há de mais belo e profundo
na natureza. O amor romântico é retratado de maneira bela, emocionada e pura.
186
TÓPICO 2 | LIVROS POÉTICOS
LEITURA COMPLEMENTAR
A literatura que abrange o Livro dos Salmos é extensa, mas cabe aqui
apresentar algumas referências. Em português temos os comentários de Agostinho
publicados pela Editora Paulus, em dois volumes, a partir do original em latim.
Martinho Lutero tem seus comentários publicados pela Editora Sinodal. Calvino
está sendo traduzido pela Editora Paraclétos, a partir da excelente edição inglesa,
porém com referências às versões francesa e latina.
187
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
(2) Antitético: é formado pela oposição ou pelo contraste entre duas ideias
ou imagens poéticas, como em Sl 37:21.
(3) Sintético: aqui as duas linhas do verso não dizem a mesma coisa, mas
antes, a declaração da primeira linha serve como base sobre a qual a segunda
declaração se fundamenta. A relação é a de causa e efeito, como em Sl 19:7-8.
memorização e no ensino. Isto também pode sugerir que o assunto foi tratado de
forma completa.
189
RESUMO DO TÓPICO 2
• O Livro dos Salmos era utilizado como hinário pelo antigo Israel quando
adoravam a Deus no templo.
190
AUTOATIVIDADE
191
192
UNIDADE 3
TÓPICO 3
LIVROS PROFÉTICOS
1 INTRODUÇÃO
Nossa abordagem sobre os livros proféticos consistirá em um estudo sobre
os profetas pré-cativeiro, os profetas no cativeiro e os profetas pós-cativeiro. A
divisão mais comum é comumente feita entre profetas menores e profetas maiores,
todavia, para compreendermos as profecias dentro de um espaço cronológico
determinado, vamos realizar nossos estudos utilizando a divisão tríplice.
2 A PROFECIA EM ISRAEL
As profecias não são propriedades exclusivas de Israel, pois os povos à
sua volta possuíam seus próprios profetas, como é o caso dos profetas de Baal e
Asera, que foram desafiados no Monte Carmelo. Todavia, a profecia hebraica tem
algumas particularidades que merecem ser analisadas neste estudo.
193
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
194
TÓPICO 3 | LIVROS PROFÉTICOS
195
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
3 PROFETAS PRÉ-CATIVEIRO
Primeiramente gostaríamos de ressaltar que quando usamos a expressão
“pré-cativeiro” estamos nos referindo ao cativeiro do reino do Sul, ou seja, das
tribos de Judá e Benjamim que foram para o cativeiro babilônico. Isso porque o
reino do Norte, as dez tribos, foram para o cativeiro bem antes do reino do sul. Por
este motivo, temos que tornar bem claro a qual cativeiro estamos nos referindo.
196
TÓPICO 3 | LIVROS PROFÉTICOS
O Livro de Joel inicia com uma profecia sobre uma terrível praga de
gafanhotos que assolaria Judá e traria um tempo de grande miséria e sofrimento
para a nação. De acordo com Champlin (2002, p. 565), “Essa praga se assemelhava
a um exército devastador, que atravessou, marchando a região inteira da Palestina.
Isso levou o profeta a meditar, em termos mais amplos, sobre o juízo divino
vindouro”. Tal profecia pode se referir à invasão avassaladora dos babilônicos que
iam varrendo tudo à sua frente, quanto ao dia do juízo de Deus em um momento
que ainda está para acontecer.
197
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
FIGURA 35 – OS GAFANHOTOS
198
TÓPICO 3 | LIVROS PROFÉTICOS
De acordo com Archer (2005, p. 236), “O tema de sua profecia [...] é que a
misericórdia e a compaixão de Deus se estendem até as nações pagãs, na condição
de se arrependerem. É, portanto, obrigação dos israelitas testificar perante elas
a fé verdadeira”. Este é um detalhe muito importante para a compreensão da
mensagem do Livro de Jonas. Deus não salvou os ninivitas porque tivessem
alguma coisa para Lhe oferecer. O único motivo para a não destruição de Nínive
é a misericórdia.
Diante disso, temos que nos deparar com mais uma questão importante:
por que Jonas se recusou a ir pregar para os moradores de Nínive? Jonas entendia
que os ninivitas eram merecedores do castigo divino, pois esta cidade era inimiga
de Israel e deveriam pagar por seus crimes contra os israelitas. Deus dá uma lição
para Jonas e que serve de lição para a igreja do século XXI. Devemos pregar a
mensagem de arrependimento a todas as pessoas e povos, pois Deus é o único
que pode julgar as pessoas e sua reação diante da mensagem pregada. O próprio
Jonas foi alvo da misericórdia de Deus quando clamou no ventre do peixe. Sua
desobediência o levou às mais profundas angústias, mas quando se arrependeu e
clamou, Deus o alcançou com sua misericórdia.
199
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
200
TÓPICO 3 | LIVROS PROFÉTICOS
Uzias. O profeta se diz um plantador de sicômoros, uma planta que produz figos
de qualidade inferior muito cultivada no Oriente Médio.
FIGURA 37 – PÉ DE SICÔMORO
201
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
povo escolhido dentre as nações da Terra havia se esquecido de Deus e das suas
bênçãos.
O nome Oséias significa salvação e ele profetizou cerca de 715-710 a.C. Ele
era proveniente de Israel, o Reino do Norte cuja capital era Samaria. Israel estava
desmoronando moralmente e espiritualmente. Para exemplificar a condição de
Israel e o amor de Deus por seu povo, o Senhor ordena que Oséias tome uma
mulher de prostituições, pois o povo de Deus havia se prostituído com os deuses
dos povos à sua volta.
203
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
Não se menciona o nome do seu pai, e podemos concluir que sua família
era de origem humilde. É significativo que seu ministério na pregação
se preocupava especialmente com os sofrimentos do povo comum, e
dos camponeses nas áreas agrícolas que estavam sendo explorados
pela nobreza latifundiária, rica e sem escrúpulos. Miquéias parece ter
passado boa parte da sua vida nas áreas do interior mais do que na
cidade capital de Jerusalém (ARCHER, 2005, p. 256-257).
204
TÓPICO 3 | LIVROS PROFÉTICOS
Por outro lado, temos aqueles que defendem a unidade do livro, ou seja,
atribuem todo o conteúdo do livro a apenas uma pessoa. Quais são os argumentos
para tal posição teológica? Stamps (1997, p. 991) aponta que
205
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
Não existe, porém, nenhum fato bíblico que nos leve a rejeitar a autoria
de Isaías para todo o livro. As mensagens de Isaías, nos capítulos 40-
66, destinados aos exilados judaicos em Babilônia, muito tempo depois
de sua morte, enfatizam o poder de Deus em revelar eventos futuros
específicos através dos seus profetas. [...] Se aceitarmos os fenômenos
das visões e revelações proféticas (cf. Ap 1.1; 4.1-22.21), cai por terra o
obstáculo principal à crença de que Isaías realmente escreveu o livro
inteiro. As evidências que sustentam essa posição são abundantes, e
podem ser classificadas em duas categorias: (1) Evidências internas, no
próprio livro, que incluem um título em 1.1, e os numerosos paralelos
e pensamentos marcantes entre ambas as seções do livro. [...] (2) As
evidências externas incluem o testemunho do Talmude e do próprio
NT, que atribui todo o livro ao profeta Isaías.
Por mais que essa discussão seja importante para o debate teológico e a
compreensão da mensagem profética, vamos discorrer um pouco sobre outros
aspectos não menos importantes do livro do profeta Isaías.
Dentre as várias questões que o livro de Isaías aborda, temos que considerar
que o livro segue alguns eixos principais. O primeiro deles é que Isaías faz duras
críticas à idolatria que era tão comum em Judá, e isso naturalmente resultaria em
uma desgraça iminente ao povo rebelde. O segundo eixo da teologia do livro está
relacionado à soberania de Deus que governa todas as nações da Terra, pois é Ele
que exerce o poder e controla todas as coisas e corrige e castiga os desobedientes.
O terceiro eixo teológico gira em torno do tema do pecado do homem. O pecado
é a causa do afastamento do homem de Deus, mas Deus deixa muito claro que
ainda que os pecados de alguém sejam escuros como a escarlate, Ele pode tornar
branco como a lã. O quarto eixo teológico se refere à redenção de Israel e dos
gentios quando o Messias vier. O quinto eixo se refere aos poemas do servo, em
que alguns destes poemas possuem um tom messiânico. O livro também possui
um eixo escatológico, pois, acima de tudo o livro é profético e aponta para eventos
futuristas.
206
TÓPICO 3 | LIVROS PROFÉTICOS
207
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
208
TÓPICO 3 | LIVROS PROFÉTICOS
209
UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
No final da sua vida Jeremias foi levado para o Egito, mesmo contra sua
vontade. Lá ele continuou profetizando até o dia da sua morte. Suas profecias foram
dirigidas para outras nações além de Judá, dentre essas nações está a Babilônia. No
capítulo 51 está registrado que o profeta escreveu num livro todo o mal que viria
sobre os babilônicos.
DICAS
210
TÓPICO 3 | LIVROS PROFÉTICOS
NOTA
O cativeiro babilônico teve seu início com a primeira deportação em 598 a.C.
O cativeiro da Babilônia, também considerado como Exílio, é a deportação em massa dos
hebreus do Antigo Reino de Judá transferidos para a Babilônia, pelo Rei Nabucodonosor.
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UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
Sua conduta exemplar, desde sua chegada à Babilônica por volta do ano
605 a.C., fez dele um exemplo de fé e determinação em seguir a lei de Deus em
qualquer circunstância. Diante dos muitos desafios enfrentados na Babilônia,
demonstrou paciência, sabedoria e temor a Deus. Talvez sua maior prova foi se
manter firme no propósito de orar todos os dias ao Deus de Israel com as janelas
abertas para a banda de Jerusalém. Tal propósito lhe custou uma noite na cova dos
leões.
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TÓPICO 3 | LIVROS PROFÉTICOS
5 PROFETAS PÓS-CATIVEIRO
A Babilônia caiu diante do Império Medo-Persa no ano 529 a.C. O rei Ciro
adotou uma política diferente dos babilônicos em relação aos povos que estavam
no cativeiro, pois por meio de decretos permitia que estes povos retornassem para
suas terras e pagassem tributos ao imperador. O retorno dos judeus inicia por este
tempo e os profetas pós-cativeiro ou pós-exílio são Ageu, Zacarias e Malaquias.
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UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
O profeta Ageu repreende o povo por estes estarem tão preocupados com
suas casas e deixarem o templo do Senhor de lado, pois estavam ornando suas
casas, enquanto o templo de Deus permanecia desolado. Num segundo momento,
Ageu profetiza acerca da glória da segunda casa que seria maior do que a glória
da primeira. O profeta também conclama o povo a viver em santidade, pois tal
atitude geraria bênçãos sobre os filhos de Judá. Por fim, o profeta prediz a ruína
das nações inimigas do povo de Deus e prediz que Zorobabel representaria a
continuação da linhagem do Messias.
NOTA
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TÓPICO 3 | LIVROS PROFÉTICOS
Para o profeta Malaquias, “Israel precisa viver à altura da sua alta vocação
de nação santa, aguardando a vinda do Messias, que, através dum ministério de
cura e não somente de julgamento, levará a nação a concretizar suas mais ternas
esperanças” (ARCHER, 2005, p. 380). Israel foi tomado dentre as nações para
serem servos de Deus e servirem de bênção para as nações da Terra. Quando Israel
se afasta do caminho da santidade, todas as nações da Terra perdiam com isso. A
santificação do povo era necessária para que por ele Deus pudesse operar e revelar
seus desígnios para o mundo.
O profeta dirige sua palavra aos sacerdotes desobedientes que davam mau
exemplo ao povo e contribuíam para que este pecasse. Outra questão importante no
livro é a reprimenda ao povo que se casava com mulheres estranhas e se divorciava
ilicitamente. Outra questão interessante é o fato do povo deixar de pagar o dízimo
ao Senhor para manter o funcionamento do templo. O povo não via motivo para
ser fiel a Deus com suas contribuições, todavia o Senhor os lembra de que foi Ele
que os preservou e os preserva de todos os males do mundo.
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UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
LEITURA COMPLEMENTAR
A ORIGEM DA PROFECIA SEGUNDO O VT
Palmer Robertson
b. A origem da palavra genuinamente profética não será encontrada nas experiências
subjetivas de um homem. O profeta não sofre de alucinação quando declara:
“Assim diz o Senhor”. A própria Palavra de Deus vem ao encontro do profeta,
e o seu veículo de comunicação é a própria voz do homem propositalmente
escolhido. É Deus, e não as experiências subjetivas de alguém, quem determina
a palavra profética.
c. A palavra do profeta não é primariamente preditiva em sua natureza. A tarefa
primordial de Moisés, ao entregar a lei no Sinai, não era predizer o futuro, e,
sim, declarar a vontade revelada de Deus. Nem sequer uma única predição é
encontrada nas “dez palavras”, o coração da revelação comunicada através de
Moisés.
É preciso entender corretamente a distinção comum entre a “proclamação”
da palavra profética e a “predição” do futuro pelo profeta. Desde o início, a
“proclamação” da Palavra de Deus foi justamente tanto uma revelação da infalível,
inerrante e perfeita Palavra de Deus quanto sua “predição” do futuro. Não é
simplesmente o caso de que a proclamação do profeta sobre vários assuntos do
dia fosse um tipo de “pregação” com autoridade reduzida, enquanto que sua
“predição” do futuro fosse inspirada, inerrante e infalível em seu caráter.
Na realidade, a essência do profetismo é sempre definida na Bíblia em
termos dessa “proclamação” da própria Palavra de Deus, esteja aí envolvida ou
não uma predição do futuro. Ocasionalmente, o profeta podia predizer um evento
futuro. Obviamente, esse tipo de percepção podia ocorrer somente por revelação
divina. Mas a essência da profecia não era determinada pelo elemento preditivo, e,
sim, pela natureza da alocução do profeta como sendo a própria Palavra de Deus.
Geerhardus Vos trata desse tema em seu artigo intitulado “A ideia de
cumprimento da profecia nos evangelhos”. Com respeito à natureza da profecia,
diz ele:
Em conexão com o precedente (a ideia de cumprimento da profecia),
pode suscitar-se a seguinte pergunta: Qual é precisamente a força do
“pro” no termo designativo “profeta”? “Profeta” significa “vaticinador”,
ou significa “proclamador”, isto é, “aquele que fala em seguida à palavra
a ele revelada por Deus”? No hebraico, nabhi encontra expressão no
último, e é, por assim dizer, uma circunstância não expressa de que a
palavra proclamada em muitos casos acaba sendo uma “predição”.
Profecia não deve ser definida essencialmente como uma predição do futuro.
Ao contrário, ela é uma proclamação de uma revelação divina que ocasionalmente
pode também envolver a predição de eventos futuros.
Essa perspectiva sobre a essência da profecia é importante para a avaliação
da questão da continuação da profecia em nossos dias. Obviamente, ninguém pode
predizer infalivelmente as condições específicas de um evento futuro, como foi o
caso da profecia bíblica, a menos que tenha experimentado uma revelação direta da
parte de Deus. Mas é igualmente verdade que ninguém pode “proclamar” a Palavra
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UNIDADE 3 | A FORMAÇÃO DOS LIVROS DO ANTIGO TESTAMENTO
de Deus no sentido profético sem experimentar uma revelação direta de Deus. Seja
como um “vaticinador” ou como um “proclamador”, o profeta terá comunicado a
revelação da parte de Deus. Se uma pessoa afirma que a profecia bíblica continua
hoje em qualquer uma de suas formas básicas, deve-se esclarecer que tal pessoa
está expressando a convicção de que a revelação continua hoje. Enquanto que um
pregador contemporâneo pode exercer um ministério “profético” em seu púlpito,
ele não pode “profetizar” no sentido bíblico como visto na história das origens do
profetismo.
d. Pode-se obter uma conclusão adicional com respeito à natureza da profecia com
base em suas origens, como preservadas na Escritura. O propósito supremo do
pacto divino não pode ser alcançado a não ser que uma figura profética esteja
entre o Senhor e seu povo.
O propósito divino no pacto consistia em ser um com seu povo. Ao
estabelecer uma relação pactual, o Senhor vinculou-se intimamente a seu povo.
Mas essa intimidade da relação com Deus pretendida pelo pacto não pode realizar-
se a não ser que um mediador profético esteja entre Deus e o povo. Enquanto um
mediador não descesse do alto do monte ao povo embaixo, a unidade pactual não
seria plenamente consumada.
Este ponto é realçado por Paulo em sua afirmação: “o mediador não fala
da parte de apenas um” (Gl 3.20). A presença de um mediador implicitamente
pressupõe uma separação de pessoas entre si. A não ser que Deus mesmo fosse o
próprio mediador da palavra divina, não seria possível cumprir-se a unidade de
comunhão pretendida pelo pacto. Então a necessidade da obra intermediária da
figura profética desapareceria.
Essa perspectiva sobre o propósito final do profetismo é confirmada pelo
testemunho dos documentos do novo pacto. O escritor da epístola aos Hebreus
fala da finalidade da revelação profética como encontrada em Jesus Cristo. Deus
falou previamente de muitas e diferentes maneiras, através de muitos e diferentes
mediadores proféticos. Mas Ele agora tem falado definitivamente pela mediação
do Filho (Hb 1.1). Quando a revelação profética viesse diretamente pela mediação
de Jesus Cristo, então o propósito principal do pacto teria sido concretizado.
Experimentar a revelação de Deus através do Filho significa ser um com o próprio
Deus.
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RESUMO DO TÓPICO 3
• As profecias não são propriedades exclusivas de Israel, pois os povos à sua volta
possuíam seus próprios profetas, como é o caso dos profetas de Baal e Asera, que
foram desafiados no Monte Carmelo. Todavia, a profecia hebraica tem algumas
particularidades que merecem ser analisadas neste estudo.
• A função do profeta era basicamente ser canal de Deus para orientar o povo
sobre a vontade de Deus.
• As profecias não são predições futuristas e aleatórias, pois elas possuem funções
muito específicas.
• O rei Ciro adotou uma política diferente dos babilônicos em relação aos povos
que estavam no cativeiro, pois por meio de decretos permitia que estes povos
retornassem para suas terras e pagassem tributos ao imperador. O retorno dos
judeus inicia por este tempo e os profetas pós-cativeiro ou pós-exílio são Ageu,
Zacarias e Malaquias.
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AUTOATIVIDADE
1 Os profetas que exerceram seu ministério entre os judeus após terem retornado
do cativeiro se deparam com uma realidade totalmente nova. Nesse sentido,
suas palavras, que ao mesmo tempo incentivavam o povo, também lhes
dirigiam sérias repreensões diante da situação que estavam vivendo. Sobre os
profetas pós-cativeiro, associe os itens utilizando o código a seguir:
I- Malaquias.
II- Ageu.
III- Zacarias.
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REFERÊNCIAS
ANGUS, J. História, doutrina e interpretação da Bíblia. São Paulo: Hagnos, 2003.
CHATELÊT, F.; DUHANEL, O.; PISIER, E. Dicionário das obras políticas. 2. ed.
São Paulo: Civilização Brasileira, 1993.
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MAUSS, M.; HUBERT, H. Ensaio sobre a natureza e a função do sacrifício. São
Paulo: Perspectiva, 2005.
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