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Produção Textual
em Libras
Indaial – 2019
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Prof.ª Ana Clarisse Alencar Barbosa
Prof.ª Janaina Carla da Cruz
Prof.ª Liliane Vieira Vega Garrão
B238l
ISBN 978-85-515-0391-1
CDD 370
Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico, seja muito bem-vindo ao Livro Didático Literatura
Surda! Neste material, você encontrará um universo muito rico, recheado de
cultura e de olhares muito peculiares. Vamos viajar pela história das pessoas
surdas! Você já parou para pensar em como era a vida dessas pessoas em
tempos remotos, quando não existiam políticas públicas nem tecnologias?
Este livro proporcionará esta reflexão como também trará artefatos da cultura
e da comunidade surda.
III
NOTA
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
UNI
IV
V
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo
conhecimento.
Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro que está
em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás contato com o vídeo
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos
pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento.
Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo.
VI
Sumário
UNIDADE 1 – MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE
A HISTÓRIA DOS SURDOS....................................................................................1
VII
3 SUGESTÕES DE PRODUÇÃO CULTURAL DE SURDOS EM LÍNGUA DE SINAIS.........80
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................83
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................84
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................161
VIII
UNIDADE 1
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• refletir a trajetória da vida das pessoas surdas com as suas lutas, derrotas
e conquistas através da Língua de Sinais;
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
MARCOS HISTÓRICOS
1 INTRODUÇÃO
Vamos percorrer um pouco sobre esses registros históricos da trajetória
das pessoas surdas. Há variadas versões sobre a história. Encontramos registros
remotos, como, por exemplo, textos bíblicos e fatos do Egito antigo: “No Egito,
pensava-se que os surdos tinham sido escolhidos especialmente pelos deuses”
(SERRAS; SANTOS, 2019, s. p.). O que comprova que, desde o início da
humanidade, os surdos já se faziam presentes.
Este livro didático fará você refletir um pouco sobre a história dos surdos,
contada por uma pessoa surda. Não sei se você já se deu conta, mas muitos dos
registros escritos foram feitos por pessoas ouvintes, pessoas que viveram ao
lado da pessoa surda, porém não são surdas, ou seja, não vivenciaram a surdez.
Neste capítulo, nos atentaremos aos fatos históricos relacionados aos surdos a
partir do século XVI.
2 MARCOS HISTÓRICOS
Na história da inclusão, pessoas com qualquer tipo de deficiência eram
marginalizadas e deixadas a própria sorte, tinham direito à vida, mas ainda
assim, não tinham o direito de viver. Nesta época, antes de 1750, envolvendo
pessoas com surdez, trazemos Sacks (1998) para clarear:
3
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
Essa nova perspectiva, trazida agora pelo próprio sujeito surdo, não se
dá através dos padrões tradicionais. A atual visão da história se constitui a partir
dos discursos feitos nas associações de comunidades surdas, pelos professores
surdos que atuam nos ambientes escolares e perpassam desde a Educação Infantil
até o Ensino Superior, nos encontros de pessoas surdas, fortalecidos por líderes
surdos, pela luta por uma pedagogia bilíngue, enfim, pelos diversos movimentos
políticos do povo. No entanto, os registros históricos são escritos feitos através de
metanarrativas ouvintes. Apesar de terem um imenso valor histórico, pois não
existiam registros, para o povo surdo esses registros não legitimam sua história,
por não fazerem parte deste processo. Profissionais e familiares vivenciaram, lado a
lado, os mais variados avanços de toda a ordem, e o que temos hoje são registros de
uma visão crítica dos sujeitos ouvintes. Estes nos trazem que ao longo da história
o povo surdo foi barbarizado, assim como as demais pessoas com deficiência
sofreram processos discriminatórios e estigmatizantes, pois, naquela época, para a
sociedade, eram vistos como incapazes e inferiores, por isso, eram castigados.
NOTA
4
TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS
No século XVI, os surdos não eram reconhecidos pela lei como pessoas por
não saberem falar e nem ler. E, por serem considerados incapazes ou desprovidos de
inteligência não tinham o direito de ter seus nomes incluídos no rol de heranças das
famílias nobres. Na medida em que os primogênitos surdos não tinham esse direito, os
nobres sentiam-se ameaçados, pois isso colocava em risco a riqueza de toda a família.
Pedro Ponce de León ensinou aos surdos o uso dos gestos e do alfabeto
datilológico para a soletração manual. O objetivo de Ponce, ao usar o alfabeto manual,
era ensinar os surdos a ler e escrever. Conforme a autora surda Strnadová aborda:
L’Epée fundou uma escola em 1755, que foi a primeira a angariar recursos
públicos. Em 1776, seu livro escrito de modo revolucionário foi publicado pela
primeira vez, tornando-se uma obra clássica e disponível em muitas línguas. Abade
foi um multiplicador de professores para surdos, e quando faleceu, em 1789, já
contava com vinte e uma escolas para surdos na França e Europa. Em 1971 a escola
de l’Epée se transforma na National Institution for Deaf-Mutes em Paris, dirigida por
Sicard. Abade l’Epée transformou a história dos surdos. Em 1779 foi publicado o
primeiro livro escrito por um surdo, Pierre Desloges, que perdeu a audição aos
sete anos de idade, vítima de varíola. Aprendeu a língua gestual aos vinte anos. E,
apesar de ser talentoso, demonstra em seu relato, que não conseguiria participar de
um discurso lógico se não fosse através da Língua de Sinais.
6
TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS
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UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
8
TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS
9
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
DICAS
FONTE: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5626.htm.
Acesso em: 17 jun. 2019.
11
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
Para uma criança surda que nasce em uma família de ouvinte, mas que não
se identifica com o modo de ser ouvinte, e também não se reconhece como surdo,
não utiliza a Língua de Sinais, e também não utiliza leitura labial, a identidade
que se constitui é uma identidade incompleta, pois se considerará inferior aos
ouvintes. Temos ainda a identidade, que pode ser oriunda de uma identidade
inconformada ou flutuante, em que, depois de adulto, descobre-se a cultura
surda, se envolve com a comunidade surda e aprende de forma tardia a Língua
de Sinais. Será uma identidade de transição. “Transição é o aspecto do momento
de passagem do mundo ouvinte com representação da identidade ouvinte para a
identidade surda de experiência mais visual” (PERLIN, 2005, p. 64).
DICAS
Vamos agora nos situar em uma família também tradicional de pais ouvintes,
mas que recebem um bebê surdo. Vamos nos reportar diretamente ao nascimento
da criança, uma vez que a surdez pode ser pré-natal (má formação congênita) ou
pós-natal (o bebê nasce ouvinte e perde a audição depois). A verbalização dos
familiares, amigos e todos os que estão ao redor do bebê não chegará para ele da
mesma forma que chega para o bebê ouvinte. O bebê surdo receberá os estímulos
visuais do cenário. Desde aí as diferenças de constituição de sujeito passam a
distanciar-se umas das outras e inicia-se também a distinção cultural.
Além da distinção, a criança surda que nasce em berço ouvinte terá outro
fator determinante na sua formação, que o diferenciará e o afastará muito do
desenvolvimento de uma criança ouvinte. Ao ser detectada a surdez, os pais iniciam
uma busca desesperada pela reabilitação do seu filho. Compreende-se que, para os pais,
a surdez é motivo de angústia e desespero, uma vez que planejaram saúde e perfeição
para o ser tão desejado. O que os pais acabam por esquecer é que a ida e a vinda aos
clínicos terapêuticos podem implicar na constituição do ser em desenvolvimento. Toda
a busca por aparelhos auditivos, implantes cocleares e terapias com o profissional
fonoaudiólogo, entre outros recursos pode e deve ser feita pelos pais, desde que estes
não esqueçam que, por trás daqueles ouvidos que “não funcionam”, existe um sujeito
que compreende o mundo através dos estímulos visuais e que, certamente, para ele, a
expressão que vê no rosto dos seus pais deve ser angustiante.
Essa forma de ver e entender o mundo faz com que a cultura majoritária
se subdivida. Aí encontramos a cultura surda. Karin Strobel é uma autora surda
que escreve de forma comovente o livro As imagens do outro sobre a cultura surda
(2008), pela Universidade Federal de Santa Catarina. Nele, ela traz de forma clara
e emocionante como se constitui a cultura do sujeito surdo. A autora utiliza o
significado de cultura a partir da etimologia da palavra em que cultura é um
verbo que significa “ato de plantar e cultivar as plantas”. Para ela:
13
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
Diante do belo exemplo, podemos ter uma visão mais poética do que é a
cultura. Pensando no exemplo da planta, desloquemos nosso pensamento para
aquele bebê surdo que nasceu em sua cidade natal, em uma família de ouvintes. Esse
bebê estará fazendo parte de uma cultura, estará recebendo carinho, alimentação
e saúde. Participará de todos os movimentos sociais com seus familiares. Sendo
assim, de acordo com a metáfora citada, receberá água, sol, chuva e vento. Contudo,
faltará o fertilizante, se pensarmos na comunicação da criança.
E
IMPORTANT
Convidamos você a ler e a refletir a fábula escrita por Emily Perl Kingsley:
Bem-vindo à Holanda
Frequentemente sou solicitada a descrever a experiência de criar um filho portador de
deficiência para tentar ajudar as pessoas que nunca compartilharam dessa experiência
única a entender, a imaginar como deve ser. É mais ou menos assim...
Quando você vai ter um bebê, é como planejar uma fabulosa viagem de férias - para a Itália.
Você compra uma penca de guias de viagem e faz planos maravilhosos. O Coliseu. Davi, de
Michelangelo. As gôndolas de Veneza. Você pode aprender algumas frases convenientes
em italiano. É tudo muito empolgante.
Após meses de ansiosa expectativa, finalmente chega o dia. Você arruma suas malas e vai
embora. Várias horas depois, o avião aterrissa. A comissária de bordo chega e diz: "Bem-
vindos à Holanda!". "Holanda?!?” Você diz, "Como assim, Holanda? Eu escolhi a Itália. Toda
a minha vida eu tenho sonhado em ir para a Itália".
Mas houve uma mudança no plano de voo. Eles aterrissaram na Holanda e é lá que você
deve ficar.
O mais importante é que eles não te levaram para um lugar horrível, repulsivo, imundo,
cheio de pestilências, inanição e doenças. É apenas um lugar diferente.
Então, você deve sair e comprar novas guias de viagem. E você deve aprender todo um novo
idioma. E você vai conhecer todo um novo grupo de pessoas que você nunca teria conhecido.
É apenas um lugar diferente. Tem um ritmo mais lento do que a Itália, é menos vistoso que
a Itália. Mas depois de você estar lá por um tempo e respirar fundo, você olha ao redor e
começa a perceber que a Holanda tem moinhos de vento, a Holanda tem tulipas, a Holanda
tem até Rembrandts.
Mas todo mundo que você conhece está ocupado indo e voltando da Itália, e todos se
gabam de quão maravilhosos foram os momentos que eles tiveram lá. E toda sua vida você
vai dizer "Sim, era para onde eu deveria ter ido. É o que eu tinha planejado".
E a dor que isso causa não irá embora nunca, jamais, porque a perda desse sonho é uma
perda extremamente significativa.
No entanto, se você passar sua vida de luto pelo fato de não ter chegado à Itália, você nunca
estará livre para aproveitar as coisas muito especiais e absolutamente fascinantes da Holanda.
14
TÓPICO 1 | MARCOS HISTÓRICOS
Essa fábula define o que a maioria dos pais ouvintes sente ao receber o
laudo de surdez de seu filho. Diferentemente de outras deficiências ou doenças
que podem ser detectadas durante a gestação, a surdez somente é descoberta após
o nascimento do bebê. Atualmente, já nas primeiras horas de vida, o bebê passa
pelo teste da orelhinha e a surdez é detectada precocemente. Muitos surdos são
contra o teste da orelhinha, pois a partir do momento em que os pais descobrem
a surdez, esquecem-se de olhar para seus filhos e tentar fazer um contato visual
que passe segurança.
15
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• A história dos povos surdos surge com os professores ouvintes que iniciaram os
trabalhos com surdos filhos dos nobres através da evolução da medicina para a cura
da surdez e pelas metodologias utilizadas por ouvintes na educação dos surdos.
• No século XVI, os surdos não eram reconhecidos pela lei como pessoas, por não
saberem falar e ler. Ainda, considerados incapazes, desprovidos de inteligência, não
tinham o direito de ter seus nomes incluídos no rol de heranças das famílias nobres.
• Foi naquela época que nomes como Pedro Ponce de Léon, os Braidwoods,
Amman, Perreire e Deschamps começam a aparecer na sociedade. Ouvintes,
de diversos lugares, dispostos a ensinar os filhos surdos dos nobres.
16
AUTOATIVIDADE
2 De acordo com Skliar (1998, p. 28), “talvez seja fácil definir e localizar, no
tempo e no espaço, um grupo de pessoas, mas quando se trata de refletir
sobre o fato de que nessa comunidade surgem – ou podem surgir – processos
culturais, é comum a rejeição à ideia da "cultura surda [...]". Assinale V
(Verdadeiro) ou F (Falso) às ações que dizem respeito aos processos culturais:
17
Agora, assinale a alternativa CORRETA de acordo com o preenchimento anterior:
a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) F – F – V – F.
c) ( ) V – V – F – V.
d) ( ) V – F – F – V.
3 Como já visto: “Atualmente, já nas primeiras horas de vida, o bebê passa pelo
teste da orelhinha e a surdez é detectada precocemente. Muitos surdos são contra
o teste da orelhinha, pois a partir do momento em que os pais descobrem a surdez,
esquecem-se de olhar para seus filhos e tentar fazer um contato visual que passe
segurança”. Refletindo sobre o fato de muitos surdos serem contra o teste da
orelhinha, responda em forma de texto à seguinte pergunta: O surdo está
equivocado nesse pensamento? Justifique.
18
UNIDADE 1
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Quando falta a oportunidade de conhecer e/ou conviver com pessoas
surdas, não compreendemos muitas questões. Não somos capazes de mensurar
o que é viver e se constituir em um mundo sem som. É encantador entrar
nesse universo cheio de expressões corporais, faciais e cheio de emoções. Após
conhecer e conviver com elas, conseguimos ter uma noção de fragmentos da sua
vida cotidiana. Incrível é viver em um ambiente cheio de limitações, buscando
estratégias criativas para coexistir.
Meus olhos são minha vida, são meu canal primordial, mais intenso, mais
completo, mais arguto com a realidade, sendo que a percepção é maior, por
exemplo, se alguém me pergunta como ocorreu um fato. Explicarei o que
vi, e não ouvi. Se é feita a mesma pergunta para o ouvinte, ele declarará
pelo contrário: mais do que ouviu do que viu (WITKOSKI, 2015, p. 87).
• Baixe o volume de sua televisão e tente entender o que está sendo dito no seu
programa favorito. Vale tentar leitura labial, interpretar expressões corporais,
imagens etc.
• Agora, utilize o recurso de legenda oculta (Closed Caption – CC).
Acreditamos que se você fez esse exercício, estará mais sensível para
compreender as especificidades dessa cultura. Colocando-se no lugar de uma
pessoa surda, torna-se possível adentrar num campo novo e perceber o motivo
pelo qual há tantos movimentos em busca de escolas bilíngues, de direito ao
intérprete de Libras nos locais públicos, de legenda nos filmes. O surdo reivindica
direito a cada passo dado em um mundo extremamente ouvinte.
20
TÓPICO 2 | PECULIARIDADES DA CULTURA SURDA
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UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
oral e uns poucos usuários da Língua de Sinais. Essa situação torna-se prejudicial
para o desenvolvimento do aluno surdo, pois em momentos escolares, devido à
dinâmica que na maioria das vezes acontece com todos falando ao mesmo tempo,
o aluno perde consideravelmente aspectos importantíssimos para a aquisição de
conceitos. Ao olhar o movimento da sala perde a tradução feita pelo intérprete e,
ao prestar atenção no intérprete, perde informações visuais.
22
TÓPICO 2 | PECULIARIDADES DA CULTURA SURDA
23
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
Refletir sobre as questões de saúde para pessoas surdas nas mais variadas
situações é também uma forma de se envolver com a cultura. Ouvintes adultos
vão ao médico, relatam suas queixas, ouvem o diagnóstico e as orientações de
forma autônoma. Todavia, você já parou para pensar como aquela mãe surda faz
para se comunicar com o médico no seu pré-natal? E aquele adolescente que tem
dúvidas e gostaria de ir a uma consulta sem ninguém saber? Para essas pessoas,
ir ao médico é algo que gera dependência, pois é preciso a mediação de outrem.
Ainda, por mais que o Decreto 5626/05 ainda traga em seu Artigo 25, no Item 10,
o “apoio à capacitação e formação de profissionais da rede do SUS para o uso
de Libras e sua tradução e interpretação” (BRASIL, 2005), não encontramos esse
profissional nas redes de serviços médicos.
24
TÓPICO 2 | PECULIARIDADES DA CULTURA SURDA
1- O surdo pode ter carteira de habilitação? Se sua resposta for sim, explique
como ele fará se alguém buzinar ou se vier uma ambulância.
2- Dependerá sempre de um ouvinte ou pode adquirir autonomia até mesmo
para morar sozinho?
3- Uma mãe surda pode morar sozinha com seu filho?
1- Se a sua primeira resposta foi afirmativa, você está bem informado. Sim,
o surdo tem o direito de ter sua habilitação. Inclusive o Detran de alguns
Estados está cadastrando intérpretes de Libras para atuarem nas aulas teóricas
e práticas. Em alguns locais, as provas já estão em formato acessível na Língua
de Sinais. De fato, o condutor surdo não ouvirá as buzinas ou mesmo a sirene
de ambulâncias e viaturas. Entretanto, pode visualizar através dos espelhos os
sinais de luz emitidos. Para que o condutor surdo seja identificado, deve ser
colocado no carro, de forma visível, o símbolo nacional de surdez.
FONTE: <https://portaldotransito.com.br/wp-content/uploads/2016/09/simbolo_surdez-
300x225.jpg>. Acesso em: 16 dez. 2018.
25
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
até mesmo em prédios e são monitoradas por câmeras. Escolas bilíngues ou com
classes especiais para surdos também adotam o mecanismo de sinais luminosos.
Nas escolas regulares de ensino, encontram-se alguns projetos objetivando o
investimento desses equipamentos para a acessibilidade. Os sinais luminosos
são acoplados ao sinal sonoro da escola e quando este emite o som, as luzes
instaladas nas salas, banheiros e pátio acendem no mesmo instante.
FONTE: <https://proincluir.org/wp-content/themes/incluir/assets/modules/surdez/cultura-
surda/img/01.jpg>. Acesso em: 16 dez. 2018.
3- Muito bem, acertou se você acredita que uma mãe surda é capaz de cuidar do seu
bebê sozinha! E há diversas maneiras de saber se o bebê está chorando, algumas
colocam o bebê na cama e ficam com o braço encostado. Entretanto, essa opção
não é tão segura, uma vez que a mãe pode dormir profundamente, virando-se
para o outro lado e não perceber quando o filho se movimenta ou chora. Outra
parte utiliza o aparelho auditivo durante o sono para ampliar o som do bebê
chorando, mas isso funciona somente para mães que têm um pouco de resíduo
auditivo, o que não é o caso de mães com surdez profunda ou severa. É muito
interessante quando o povo surdo usa a sua criatividade em busca de liberdade e
autonomia. Alguns até criam engenhocas para captar o som do choro do bebê ou
qualquer movimento no berço, cujo aparelho vibra embaixo do travesseiro dos
pais. Contudo, graças às tecnologias que aparelhos modernos e eficazes estão
sendo produzidos, como é o caso da babá eletrônica com a função “vibrar”.
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TÓPICO 2 | PECULIARIDADES DA CULTURA SURDA
Você sabia que a maioria dos filmes brasileiros não possui legenda
em português? Há muitos filmes, brasileiros e estrangeiros, apresentados em
sessões de cinema que são dublados, sem opção de legenda. Já questionamos
uma rede de cinemas sobre o fato e a justificativa foi que os filmes dublados são
mais baratos. Se você também ficou indignado, informe-se para participar da
campanha “Legenda para quem não ouve, mas se emociona”, que desde 2004
27
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
• Pessoas que utilizam a língua gestual podem se comunicar estando uma dentro
do ônibus e a outra do lado de fora.
• Podem comer enquanto falam.
• Em festas precisam estar sempre próximos a uma mesa para apoiar copos e
garrafas para liberação das mãos e é comum o usuário derrubar esses objetos
ou alguém quando faz um sinal.
• Têm surdos que gostam de ir às baladas pois sentem a vibração e muitos
dançam a noite inteira.
FIGURA 10 – CHARGE
FONTE: <http://www.notisurdo.com.br/icones/almococoinversa.jpg>.
Acesso em 15 de dezembro de 2018.
28
TÓPICO 2 | PECULIARIDADES DA CULTURA SURDA
FIGURA 11 – CHARGE
29
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• A Língua de Sinais não traz, em sua estrutura, pistas que auxiliem na escrita,
por ser uma língua visual/gestual e não oral/auditiva. É nesse ponto que a
criança surda vai se distanciando da criança ouvinte e, se a escola não der o
devido valor e importância, essa lacuna tende a crescer de tal forma a não se
dar mais conta de resgatar.
30
AUTOATIVIDADE
a) ( ) É provável que a maioria dos surdos tenha pais não surdos e familiares
que não sinalizam.
b) ( ) Em tais circunstâncias, eles saem da rotina para obter informações e
compartilhar com outros que estão passando pela mesma situação.
c) ( ) Esse comportamento ilustra a natureza humana de pessoas que
reagem a situações desafiadoras de comunicação ao compartilharem
informações entre si.
d) ( ) Nas salas de aula, em escolas regulares, intérpretes de Libras têm o
mesmo papel que o professor regente.
e) ( ) Os surdos sabem ler e escrever igual aos ouvintes.
f) ( ) Surdos não falam porque não se esforçam para aprender e a Língua de
Sinais os deixa “preguiçosos”.
31
32
UNIDADE 1
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, estamos chegando perto do assunto principal deste livro
de estudos: A Literatura Surda. Primeiramente, precisamos conhecer os marcos
históricos, entender sobre as diferentes identidades que permeiam a surdez e
diferenciar a cultura dos surdos da cultura dos ouvintes. Munidos dessas bagagens,
estamos capacitados a explorar esse universo literário. Falando em literatura,
o dicionário nos conta que ela é um “conjunto de obras literárias de reconhecido
valor estético, pertencentes a um país, época, gênero etc.” (DICIO, 2019). Portanto,
já estamos falando sobre literatura desde o início deste livro. No entanto, por que é
preciso, mais uma vez, diferenciar literatura ouvinte de literatura surda? No decorrer
deste tópico, você compreenderá as diferenças e semelhanças entre essas literaturas.
33
predomina a ideia de que a pessoa surda precisa se adequar ao mundo ouvinte.
Próteses auditivas, implantes cocleares, atendimentos em fonoaudiólogos, tudo em
busca de fazer com que o deficiente (aquele que é incompleto, que não é eficiente)
tente se adaptar ao mundo ouvinte para obter sucesso.
34
que legal, que dom lindo...”, surdos vão finalizando a Educação Básica e vão
ingressando nas Universidades, ocupando seus espaços acadêmicos e fazendo
os mais variados cursos. Ainda, os professores ouvintes não conhecem suas
especificidades e aprovam ou reprovam seus acadêmicos, ainda sem conhecer seu
potencial. Já presenciamos, no mundo acadêmico, professores entrarem em sala
e começarem a aula sem a presença do intérprete. Já vimos professores passarem
filme sem legenda, mesmo depois de terem uma conversa sobre as especificidades
de um acadêmico surdo. Esses fatores representam a falta de aceitação da cultura
surda. Ela realmente não é levada a sério, fica só no imaginário ouvinte.
[...] quando o surdo diz “Eu tenho orgulho de ser surdo”, ele choca e
confunde o ouvinte. O ouvinte não gosta de ouvir isso, porque começa
a colocar em questão a certeza que o ouvinte tem sobre o mundo. Ele
não pode mais achar que o surdo é um “coitado”, porque um coitado
não tem orgulho de si mesmo. O ouvinte fica com medo. O mundo do
ouvinte começa a ficar menos seguro, mais complexo. O ouvinte não
tem explicação para o orgulho de o surdo ser surdo. Como é possível
uma pessoa ter orgulho de ser surdo? Para o ouvinte é um absurdo. É
um paradoxo (McCLEARY, 2003 apud STROBEL, 2008, p. 82).
Jovens surdas dançam [...] para homenagear os professores pelo seu dia
[...]. Fica evidente um certo descompasso. Quatro das alunas voltam
seus olhares para um mesmo local, o que me faz intuir que elas buscam
orientação de alguém, provavelmente uma professora ouvinte que não
aparece no enquadramento fotográfico, mas que, pela necessidade
surda de tê-la junto de si, não ocupa o silêncio da imagem. Ela é quase
uma presença diluída o (LOPES, 2014 apud STROBEL, 2008, p. 84/85).
36
FIGURA 13 – ARTE SURDA
37
Atualmente, com o decreto em vigor, as escolas de ensino regular devem
garantir o intérprete de libras em todas as aulas. Só não ocorre em casos em que
há a falta do profissional. Na época do relato anteriormente citado, a autora
não tinha esse apoio, o que gerou atrasos e confusões linguísticas, uma vez que
não possuía uma língua estrutural. Usava gestos, oralizava, escrevia, tentava se
comunicar, mesmo que de forma fragmentada. Nos dias de hoje, a Língua de
Sinais é reconhecida e possui estrutura gramatical. Muitos adultos surdos que
viveram sua infância nos tempos em que a Língua de Sinais era proibida estão
hoje resgatando as lacunas deixadas em sua construção linguística.
38
A escrita de sinais pode ser encontrada em diversos materiais, como o
Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue, de autoria de Fernando Capovilla.
Nele encontram-se os verbetes em Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Língua
de Sinais. A escrita de sinais vem ao lado da ilustração do sinal em Libras.
FONTE: <https://pt.scribd.com/document/349496449/Dicionário-Trilingue-Capovilla-LBS-
Libras-B>. Acesso em: 12 dez. 2018.
39
Ainda, em várias literaturas adaptadas para a Língua de Sinais:
FONTE: <https://escritadesinais.files.wordpress.com/2010/08/cinderela-surda.jpg>.
Acesso: 17 dez. 2018.
Amigo
FONTE: <http://www.escritadesinais.com.br/images/Slide35.JPG?825>. Acesso em: 18 dez. 2018
DICAS
40
TÓPICO 3 | A CULTURA SURDA E A LITERATURA
Esse artefato vem sendo abordado desde o início deste livro, uma vez que
a família é a base do ser. Muitos surdos possuem um sentimento de revolta contra
seus familiares ouvintes. É uma convivência complexa quando não se utiliza a
Língua de Sinais. Strobel (2008, p. 51) deixa muito claro os motivos que fazem
gerar o sentimento. Pequenas exclusões acontecem no lar diariamente pela falta
de comunicação: “Em muitas ocasiões eu não entendia o que falavam ao redor
da mesa durante as refeições”. A base familiar é o alicerce para a formação da
subjetividade. Com uma estrutura fraca, tudo pode ruir a qualquer momento. A
criança ouvinte vive a tagarelar, questionar, ouve o que deve e o que não deve. A
criança surda vive em isolamento nas famílias ouvintes.
DICAS
41
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
FONTE: <https://observatoriodatelevisao.bol.uol.com.br/wp-content/uploads/2018/06/familia-
visurdo-no-the-noite-com-danilo-gentili-696x392.jpg>. Acesso em: 18 dez. 2018.
Artefato cultural vida social e esportiva: Para lidar com o cotidiano social,
o surdo não tem o dom de tirar da bolsa um intérprete de Libras para auxiliar
na sua comunicação nos lugares em que circula. É preciso buscar estratégias de
sobrevivência para enfrentar a sociedade ouvinte que o cerca. Bloquinhos de
anotações e canetas não podem faltar no kit de sobrevivência. No mercado, na loja,
na farmácia, é preciso se comunicar. Os aplicativos cada vez mais têm garantido
a acessibilidade de quem não se comunica através da língua oral, como, por
exemplo, ao chamar um táxi ou Uber, pedir uma pizza. As redes sociais também
são muito utilizadas para fazer questionamentos e solicitações.
42
TÓPICO 3 | A CULTURA SURDA E A LITERATURA
FONTE: <http://observatoriodoesporte.mg.gov.br/wp-content/uploads/2018/08/Capturar-9.png>,
< http://cbds.org.br/surdolimpiadas-do-brasil-2019-para-de-minas-mg> e <http://cbds.org.br/> .
Acesso em: 18 dez. 2018.
43
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
FONTE: <http://www.tre-se.jus.br/imagens/fotos/setembro-azul/@@images/07abe5a0-ebd9-
4e40-a74e-077c05f73d1e.jpeg>. Acesso em: 19 dez. 2018.
44
TÓPICO 3 | A CULTURA SURDA E A LITERATURA
45
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
FONTE: <https://eventos.set.edu.br/index.php/enfope/article/viewFile/5309/1793>.
Disponível em: 17 dez. 2018.
E
IMPORTANT
46
TÓPICO 3 | A CULTURA SURDA E A LITERATURA
LEITURA COMPLEMENTAR
LITERATURA SURDA:
EXPERIÊNCIA DAS MÃOS LITERÁRIAS
1 EXPERIÊNCIA E PESQUISA
*
Visualiterária: proponho, na Libras, o uso de sinal com três dedos estendidos (polegar, indicador
e médio). Para iniciar com essa configuração de mãos, o indicador toca nos olhos e se desloca para
frente do corpo em movimento circular.
47
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
48
TÓPICO 3 | A CULTURA SURDA E A LITERATURA
50
TÓPICO 3 | A CULTURA SURDA E A LITERATURA
Em 2001, fui convidado para atuar como ator e coreógrafo de um novo grupo
de teatro, na Companhia Teatro do Absurdo. Em 2005, atuei no Teatro Brasileiro de
Surdo (TBS), dirigidos por Nelson Pimenta, Lanuncia Quitanilha, Helena Tojal e Fabio
de Mello, como ator e coreógrafo, no espetáculo O marido da Mãe D`água, um conto
de encantamento colhido por Câmara Cascudo, no litoral do nordeste brasileiro. Era
sobre a cultura popular brasileira, aberto ao público. A lenda narrava a história de
um pescador que estava com dificuldade para viver e também de pescar; certo dia,
não encontra os peixes, estava desanimado e com muita fome. Em uma noite de lua
cheia, encontra a sereia, fica apaixonado e se casa com ela, que havia prometido que
o pescador passaria a ter sucesso na pescaria. A peça mescla o uso da língua de sinais
no cenário teatral, dança e percussão, na apresentação da cultura brasileira.
Muitas foram as vezes em que assisti a peças sobre surdos. Algumas foram
organizadas por ouvintes, geralmente em festividades de escolas. Por exemplo,
uma peça apresentada com uma história simples, com atores surdos sinalizando
e intérprete traduzindo para a língua oral para público ouvinte, restringe as
possibilidades de expressão rica da cultura surda.
Harlan Lane (1992), Owen Wrigley (1996) Karin Strobel (2008), Marta
Morgado (2011, 2013), Fabiano Rosa e Madelena Klein (2011) e Thomas Holcomb
(2011) comentam a existência de limitação ao acesso dos valores culturais e
informações, pois não encontram um ambiente linguístico no meio do espaço
social. Essa limitação da própria produção cultural dos surdos se relaciona com
limitações na vida em geral. Os ouvintes podem ir a peças de teatro e shows, ouvir
música, ouvir poesias declamadas, seguir inteiramente alguma propaganda na
televisão e tudo mostra sobre a cultura brasileira ou, mesmo, globalizada, mas
uma cultura também de ouvintes. Mas onde os surdos podem ver manifestações
de cultura surda e/ou cultura brasileira? São poucas oportunidades, geralmente os
espetáculos de teatro foram organizados por ouvintes, às vezes os surdos não ficam
satisfeitos ao assistir teatro, por exemplo. Lane (1992, p. 128) afirma que os surdos
têm as mesmas experiências na convivência social até em escolas tradicionais,
quando inseridos num meio ouvinte: “quase todos os informantes descreveram a
sua vida social em termos de solidão, rejeição e descriminação social”.
51
UNIDADE 1 | MARCOS HISTÓRICOS: NOVAS REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA DOS SURDOS
Como me identifico como surdo, assim como outros sujeitos surdos, fui
subjetivado por práticas discursivas, onde existem narrativas e artes surdas.
A experiência visual vai constituindo o sujeito surdo na comunidade surda,
subjetivando artistas surdos na produção de narrativas e poesias surdas. Para
Perlin e Miranda (2003, p. 218), “[...] Desta experiência visual surge a cultura surda
representada pela língua de sinais, pelo modo diferente de ser, de se expressar, de
conhecer o mundo, de entrar nas artes, no conhecimento científico e acadêmico”.
FONTE: MOURÃO, C. H. N. Literatura Surda: experiências das mãos literárias. 2016. Tese
(Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/151708/001012805.
pdf?sequence=1%20P%C3%A1ginas:%20capa%20e%20as%20p%C3%A1ginas%2019%20
at%C3%A9%20a%2025. Acesso em: 9 set. 2019.
52
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• Um dos principais fatores que contribui para que a sociedade tenha resistência
em aceitar a cultura surda é a não aceitação da própria família. Os pais ouvintes
(que também são a maioria) desesperam-se ao receber um filho surdo e acabam
seguindo os conselhos e orientações médicas em busca de reabilitação.
CHAMADA
54
AUTOATIVIDADE
a) ( ) Fazer com que o surdo seja mais feliz dentro dos padrões ouvintes.
b) ( ) Buscar estratégias de reabilitação para que ele tenha oportunidade de
progredir.
c) ( ) Educá-lo para que se porte bem na vida em sociedade.
d) ( ) Acreditar que os padrões hegemônicos da sociedade são o melhor para os
surdos e fazê-lo acreditar nisso também, negando sua cultura e identidade.
55
a) ( ) Na relação com o ouvinte, o surdo está em posição de igualdade.
b) ( ) A marca da deficiência determinou, durante a história dos surdos e da
surdez, a condição de submissão ao normal ouvinte.
c) ( ) Para o ouvinte é normal o surdo dizer que tem orgulho de ser surdo.
d) ( ) O nascimento de uma criança surda é motivo de alegria para a
comunidade ouvinte.
56
UNIDADE 2
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
57
58
UNIDADE 2
TÓPICO 1
A CONTAÇÃO DE ESTÓRIAS
1 INTRODUÇÃO
Na segunda unidade deste livro didático, abordaremos a literatura
surda no Brasil apresentando o contexto literário de autores surdos, produções
culturais, metáforas e a ressignificação da Língua de Sinais na inclusão. Faremos
uma trajetória do percurso desse gênero literário do povo surdo desde os tempos
remotos até os dias atuais. Como já mencionamos nos tópicos anteriores, a Lei
n° 10.436, de 24 de abril de 2002, que oficializa a Língua Brasileira de Sinais, e o
Decreto n° 5.626, de 22 de dezembro de 2005, fazem parte dessa trajetória, assim
como as famílias, as escolas, as crianças surdas e a comunidade surda em geral.
59
UNIDADE 2 | LITERATURA SURDA NO BRASIL
O surdo ouve pela visão, e a Literatura Surda surge, como uma árvore
balançada pelo vento e a folha, ao cair, e ser levada pelo vento para outros
lugares, finalmente pisa na terra, se transforma, é adubada e brota na terra...
é feliz para sempre. A Literatura Surda emociona aqueles que ouvem pela
visão, e transforma, brilha, nos arrepiando (MOURÃO, 2011, p. 22).
Para as crianças surdas, essa literatura vem como um meio de referência,
de identificação e de aproximação da sua cultura do aprendizado da língua
materna, além de causar efeitos na construção de sua identidade e subjetividade.
60
TÓPICO 1 | A CONTAÇÃO DE ESTÓRIAS
AUTOATIVIDADE
63
UNIDADE 2 | LITERATURA SURDA NO BRASIL
FONTE: <https://acessibilidadeemmaos.files.wordpress.com/2017/01/maxresdefault.jpg>.
Acesso em: 29 dez. 2018.
FONTE: <https://www.brinquelibras.com.br/site_novo/fotos/4fd9e9cbb6e6e.jpg>,
<https://www.brinquelibras.com.br/site_novo/fotos/4fd9e9ded3f55.jpg> e <https://www.
brinquelibras.com.br/site_novo/fotos/4fd9e9efccaaa.jpg>. Acesso em: 19 jul. 2019.
64
TÓPICO 1 | A CONTAÇÃO DE ESTÓRIAS
67
UNIDADE 2 | LITERATURA SURDA NO BRASIL
FONTE: <http://www.campogrande.ms.gov.br/cgnoticias/wp-content/uploads/sites/3/2018/11/
libras-reme-768x432.jpg>. Acesso em: 31 maio 2018.
68
TÓPICO 1 | A CONTAÇÃO DE ESTÓRIAS
As autoras deste livro didático, uma surda e uma ouvinte, atuaram juntas
por sete anos no Atendimento Educacional Especializado (AEE). Durante esses
anos, muitas foram as tentativas de implantar a literatura surda nas escolas públicas
municipais. Visitas itinerantes periódicas tinham como objetivo a difusão da Língua
de Sinais e esclarecimento de dúvidas acerca do aluno surdo (o que, na maioria das
escolas, era apenas um na sala de aula) através dos materiais disponibilizados pelo
MEC ou mesmo produzidos por nós. Contudo, as escolas de ensino regular possuem
um currículo engessado e alguns professores acabam não encontrando espaço para
tal mudança. Ainda, no decorrer do ano, o professor surdo ou o intérprete de Libras
e o aluno surdo acabam sendo os únicos usuários da Língua de Sinais nesses espaços.
69
UNIDADE 2 | LITERATURA SURDA NO BRASIL
DICAS
Carolina Hessel é uma autora que vem crescendo na literatura surda. Ela criou
o canal de histórias infantis em Libras: Mãos aventureiras. Confira! Disponível no link: https://
lunetas.com.br/site-historias-infantis-libras/.
70
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
• A literatura de modo formal tem início na vida escolar. Na maioria das vezes,
é na escola que as crianças têm contato com contos, fábulas, histórias em geral.
• Nos dias de hoje, o povo surdo brasileiro tem um vasto leque de escritores
surdos que contribuíram e contribuem muito para a expansão da literatura
surda brasileira.
71
AUTOATIVIDADE
1 “O surdo ouve pela visão e a literatura surge como uma árvore que balança
pelo vento e, a folha, ao cair e ser levada pelo vento para outros lugares,
finalmente pisa na terra, se transforma, é adubada e brota na terra... é feliz
para sempre [...]” (MOURÃO, 2011, p. 22). A partir da citação de Mourão,
escreva o que você entendeu nas seguintes frases:
MAS É
IMPOSSÍVEL
BAH,
QUE FÁCIL!
SIMPLES, DISSE
MAS
"MADEIRA" EM
COMO
LÍNGUA GESTUAL...
CONSEGUIU?
ERA UMA
ÁRVORE
SURDA!
VAMOS
TENTAR
GRITAR
JUNTOS...
Agora responda: a piada faz parte da literatura surda e é muito utilizada nos
encontros das associações de surdos, divertindo a todos. De acordo com o que
você estudou até o momento, o que caracteriza essa piada como uma piada da
cultura surda?
72
UNIDADE 2 TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
A produção cultural dos surdos vem para abalar algumas estruturas e
pensamentos estáticos. Fomos acostumados desde pequenos a seguir padrões,
basta analisarmos os clássicos da literatura, os concursos de beleza, os comerciais,
entre outras situações a que somos expostos para ver os padrões de beleza, de
comportamento e de opiniões. Somos induzidos já no seio familiar à adoção de
posturas que serão aceitas pela sociedade. Nos tempos atuais, com os inúmeros
movimentos militantes que vêm acontecendo na sociedade, esses padrões passam
a ser questionados. Vitrines e propagandas começam a incluir diferenças estéticas
e culturais. Os leitores mais antigos lembrarão que não existiam pessoas negras
nos comerciais, por exemplo. Aliás, essa figura, quando aparecia, geralmente
se apresentava na condição de servir (empregados e serviçais). Atualmente, os
comerciais trazem pessoas negras ocupando lugares de brancos, ou seja, um lugar
que é de seu direito também, assim como pessoas obesas mostrando sensualidade
e famílias formadas por dois pais ou duas mães.
73
UNIDADE 2 | LITERATURA SURDA NO BRASIL
74
TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO CULTURAL DOS SURDOS
da audição, o indivíduo surdo faz a sua leitura através da visão. Primeiro faz as
suas próprias observações e tira suas conclusões. Depois, ao interagir com outros
indivíduos através da Língua de Sinais, tem a oportunidade de rever suas conclusões,
apreender novos conceitos e conhecimentos, realizar novas observações etc.
de outras partes do país somente pela forma de falar ou pelo sotaque. Mas será
que o mesmo ocorre com a Língua de Sinais? A Libras pode ter sotaque ou gírias?
Aprendemos em tópicos anteriores que a Língua de Sinais não é universal. Cada
país tem a sua, com suas variações e regionalismos. Sendo uma língua, a Libras
possui sua gramática. Tem gírias e sinais diferentes dependendo da região do país
e o sotaque pode ser verificado pela velocidade dos movimentos de cada região.
Alguns surdos de determinadas partes do país parecem optar por usar mais a
datilologia (soletração) para algumas palavras, enquanto em outras regiões os
surdos se reúnem para criar sinais para essas palavras. Todavia, mesmo com a
criação desses sinais, a comunidade surda de uma região pode optar por usá-los
ou não. Isso também é uma característica do regionalismo.
76
TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO CULTURAL DOS SURDOS
FONTE: <https://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/article/viewFile/6130/pdf_44>.
Acesso em: 18 jan. 2019.
AUTOATIVIDADE
77
UNIDADE 2 | LITERATURA SURDA NO BRASIL
Brasil. Leia a citação a seguir voltando seu pensamento para a década de 90.
Depois volte para o ano atual e reflita: será que, atualmente, com a legalização
da Língua de Sinais, esse relato ainda se repete?
No ano em que esse poema foi escrito o Decreto n° 5626/05 foi sancionado. A
Lei de Libras já completava três anos, mas ainda eram fortes as marcas do oralismo
predominante. O poema demonstra tristeza tanto no surdo quanto na infância surda.
Associa a surdez com a deficiência e a falta de audição como uma anormalidade.
Parece refletir sobre a dor da mãe que teme por seu filho que não ouvirá os sons que
ela ouve e a esperança da criança que encontrará alegria nas “linguagens” de sinais que
estão por vir. Muitos ouvintes têm um sentimento de piedade pelos surdos pelo fato de
não ouvirem. Comentam que parece que o surdo quer “falar”, mas não consegue, pois
emite sons. Mas se esquecem que o surdo fala, e fala muito com as mãos.
conhecimentos com maior dignidade. Alguns dos nomes citados por Strobel já
escreveram muitas outras obras e outros inúmeros autores surdos vêm surgindo.
As obras literárias surdas vão se ampliando e as autobiografias dão cada vez mais
espaço aos escritos culturais.
80
TÓPICO 2 | A PRODUÇÃO CULTURAL DOS SURDOS
81
UNIDADE 2 | LITERATURA SURDA NO BRASIL
E
IMPORTANT
82
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• As produções editoriais das pessoas surdas se dão a partir das suas vivências e
dos seus relatos de vida.
83
AUTOATIVIDADE
84
Pois nas tristezas e amigos confortando e ali vive uma criança que nunca ouvirá e que
mostrará o quanto é feliz por ser nascido. [...]
O surdo vive e viverá no mais completo e simples silêncio que do seu interior há de
valorizar você.
Pois é você que viverá neste silêncio.
I- O surdo que está no berço não percebe que a Língua de Sinais está chegando
e será a sua própria língua.
II- Que a criança surda poderá compreender o adulto através das “Linguagens”
de Sinais.
III- Que a Língua de Sinais um dia teria seu lugar.
85
86
UNIDADE 2 TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Embora este tópico tenha como título a metáfora, você, estudante, encontrará
uma discussão acerca de vários aspectos que estão em torno do ser surdo no
processo educativo. Falaremos de assuntos mais teóricos, tais como a aquisição da
linguagem. A Língua de Sinais como marca surda na literatura discorrerá sobre
questões mais teóricas, pois é um assunto complexo que exige atenção e seriedade
por envolver uma língua que nem sempre é respeitada como tal.
87
UNIDADE 2 | LITERATURA SURDA NO BRASIL
Outro fator interessante é que muitos surdos que ainda não têm instrução
formal, ao assistirem tais materiais, descobrem um mundo novo. Uma cortina se
descerra ante seus olhos e percebem que a Língua de Sinais é mais do que aquele
seu “mundinho” fechado, no qual somente se relacionam com seus familiares
e amigos próximos. Vários surdos, ao assistirem esses materiais, começaram a
88
TÓPICO 3 | A METÁFORA DO APRENDER A SER SURDO
89
UNIDADE 2 | LITERATURA SURDA NO BRASIL
FONTE: <https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.om/8AHENheKXfqmTKHB9tY6vPztT2wxyx
E3MjErgTdae43g6guhFAaGgwqdu3GJ/gettyimages-51396666.jpg>. Acesso em: 3 jun. 2019.
DICAS
90
TÓPICO 3 | A METÁFORA DO APRENDER A SER SURDO
É o caso, por exemplo, da criança que puxa um pano para obter o objeto
que está em cima. A utilização de um instrumento caracteriza, assim, a
forma inicial do desenvolvimento cognitivo, a inteligência prática atrelada
à solução de um problema pontual que não envolve nenhuma previsão
e que define uma fase pré-verbal do pensamento. Ao mesmo tempo, esta
aparece nesse período sob forma de emissão de sons, gestos e expressões
faciais que têm por função o alívio emocional ou a comunicação difusa,
constituindo sua fase pré-intelectual (SOARES, 2009, p. 10)
91
UNIDADE 2 | LITERATURA SURDA NO BRASIL
FONTE: <https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/bEfDZ4fKF4EzWjTxYm
CfnAQj65PpJ7hSXxgTaVrJRyGwg4tK6W2ScKdxX2yM/lev-vygotsky.jpg>. Acesso em: 3 jun. 2019.
Para Wallon, desde o momento em que nasce, o bebê, por sua incompletude,
sua incapacidade de sobrevivência sem a ajuda de um membro mais
experiente da cultura, define-se como um ser social, sendo, portanto,
impossível conceber a vida psíquica sem as relações de reciprocidade entre
o biológico e o social. Uma vez que é esse movimento que marcará todo o
desenvolvimento cognitivo do sujeito, o entorno humano representa um
lugar de significação das suas ações desde seu nascimento: seus primeiros
comportamentos exprimem já o reflexo das relações, e a palavra e o dom
de imaginar as coisas servem de instrumento indispensável nas relações
humanas (WALLON, 1942 apud SOARES, 2009, p. 6).
92
TÓPICO 3 | A METÁFORA DO APRENDER A SER SURDO
FONTE: <https://escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2018/07/Henri-Wallon.png>.
Acesso em: 3 jun. 2019.
Perceba que a mãe estimulou a fala, mas não deixou de dar pistas visuais
para a filha, o que fez com que a conversa fluísse. A criança interage com a
mãe e com o meio, e, mesmo sem ouvir, consegue desenvolver o pensamento e
obter avanços. A princípio, mesmo sem nos aprofundar em cada teórico, parece
que encontramos um pouco de cada estudo no exemplo citado: encontramos a
epistemologia genética de Piaget, que traz como principal questão a passagem
de um estado de menor conhecimento para maior conhecimento, no momento
em que percebemos a evolução na conversa da criança com a mãe. Percebemos
a visão de Vygotsky, que diz que as funções psicológicas nascem da atividade
cerebral e nas relações que o sujeito mantém com os membros de sua cultura,
quando a criança faz o jogo simbólico. E, por fim, vemos uma das definições de
Wallon, a nossa mente não tem função sem estímulos recebidos a partir do meio
externo, quando percebemos os investimentos da mãe servindo como modelo. As
abordagens interacionistas:
93
UNIDADE 2 | LITERATURA SURDA NO BRASIL
94
TÓPICO 3 | A METÁFORA DO APRENDER A SER SURDO
No entanto, Lennenberg não quer dizer que após esse período não seja possível
adquirir a linguagem, apenas que esse é o momento em que tal aquisição estaria mais
propensa a ocorrer. Inclusive, muitas crianças surdas filhas de pais surdos adquirem a
Língua de Sinais tardiamente. Mas o que se percebe é que há certa lacuna em relação
a algumas construções. Adquirir uma língua (nativa ou estrangeira) depende de um
processo de aquisição que é natural à criança. E esse processo, em muitos casos, não
acontece de forma natural naquelas famílias ouvintes que recebem um bebê surdo.
95
UNIDADE 2 | LITERATURA SURDA NO BRASIL
96
TÓPICO 3 | A METÁFORA DO APRENDER A SER SURDO
FONTE: Relato fornecido por Glaucio Porto da Silva, na cidade de Santa Cruz do Sul – RS,
em janeiro de 2019.
97
UNIDADE 2 | LITERATURA SURDA NO BRASIL
O uso da Língua Brasileira de Sinais nas escolas exige que a inclusão seja
ressignificada. Ter um aluno surdo na escola vai além da simples contratação de
um intérprete de Libras. Veja que, no exemplo citado, o intérprete dirigiu-se à
professora para sugerir que fosse feito um trabalho diferenciado em sala, quando
o olhar diferenciado deveria partir do professor. Obviamente, o interprete
de Libras, por estar a todo instante com o aluno surdo, terá mais elementos e
oportunidades de diagnosticar as necessidades de aprendizado desse aluno.
Porém, a inclusão, para que seja eficaz, necessita instrumentalizar os professores
para que possam conhecer seus alunos.
98
TÓPICO 3 | A METÁFORA DO APRENDER A SER SURDO
99
UNIDADE 2 | LITERATURA SURDA NO BRASIL
FONTE: <https://tix.life/wp-content/uploads/2018/05/Inclusao-crianca-surda.jpeg>.
Acesso em: 3 jun. 2019.
100
TÓPICO 3 | A METÁFORA DO APRENDER A SER SURDO
FONTE: <https://www.sjc.sp.gov.br/media/30854/img_4267.jpg?anchor=center&mode=
crop&width=940&height=626&rnd=131806386290000000>. Acesso em: 3 jun. 2019.
TURO S
ESTUDOS FU
101
UNIDADE 2 | LITERATURA SURDA NO BRASIL
LEITURA COMPLEMENTAR
Resumo
Introdução
Por muito tempo, e até hoje para muitas pessoas, a surdez tem sido
considerada a responsável pelas dificuldades que a maior parte dos Surdos
apresenta no uso da língua portuguesa escrita.
É sabido que, por não terem acesso à linguagem oral, a quase totalidade
das crianças surdas chega à escola com, no máximo, fragmentos da língua
portuguesa. Se forem filhas de pais ouvintes, é quase certo que chegarão também
sem a língua brasileira de sinais.
Se, no caso dos alunos ouvintes, que chegam à escola usando a língua
portuguesa oral, esta concepção produziu alunos que apresentavam muitas
dificuldades na compreensão e na produção de textos, no caso dos alunos surdos,
os resultados foram desanimadores. Ainda que conseguissem decodificar e
codificar os símbolos gráficos, poucos eram os que conseguiam atribuir sentido
ao que liam e produzir sentido na escrita.
103
UNIDADE 2 | LITERATURA SURDA NO BRASIL
[...]
104
TÓPICO 3 | A METÁFORA DO APRENDER A SER SURDO
Metodologia
Exemplo 1 – 12/6/2007
Leitura da aluna
[...]
Conclusão
107
UNIDADE 2 | LITERATURA SURDA NO BRASIL
FONTE: PEREIRA, M. C. C. da. Aquisição da Língua Portuguesa escrita por crianças surdas. In: VI
SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA, 1., 2011, São Paulo. Anais...
São Paulo: EDUFU, 2011. 8 p. Disponível em: http://www.ileel.ufu.br/anaisdosielp/wp-content/
uploads/2014/06/volume_1_artigo_066.pdf. Acesso em: 19 jul. 2019.
108
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• Os adultos surdos dos tempos atuais são aquelas crianças que cresceram sem
ter o contato adequado com a língua portuguesa escrita, motivo pelo qual tais
produções sofrem prejuízos.
• A linguagem humana é muito complexa. Muitos estudos são feitos acerca desse
assunto. No que diz respeito à aquisição de linguagem de uma criança surda, o
processo é parecido com o das demais crianças e apresentam os mesmos estágios.
109
• O uso da Língua Brasileira de Sinais nas escolas exige que a inclusão seja
ressignificada. Ter um aluno surdo na escola vai além da simples contratação
de um intérprete de Libras.
CHAMADA
110
AUTOATIVIDADE
a) ( ) Lei n° 10436/02.
b) ( ) Decreto n° 5626/05.
c) ( ) Lei n° 12.319/10.
d) ( ) Código de ética – FENEIS.
a) ( ) Assimilação e interação.
b) ( ) Compreensão e interação.
c) ( ) Acomodação e estruturação.
d) ( ) Assimilação e Acomodação.
111
5 Henri Wallon estudou a Psicologia Genética. Para ele, a estrutura biológica é
a primeira condição para que ocorram atividades psíquicas, o que significa,
na sua visão, que não há psiquismo sem o componente orgânico (biológico),
ou seja, a nossa mente não tem função sem estímulos recebidos a partir do
meio externo. O estudo de Wallon acaba sendo confundido com os estudos
de Piaget que são sobre:
a) ( ) Psicopedagogia Genética.
b) ( ) Pedagogia Genética.
c) ( ) Epistemologia Genética.
d) ( ) Etimologia Genética.
6 De acordo com o que você leu referente à inclusão do aluno surdo, observe
as seguintes expressões:
112
UNIDADE 3
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• reconhecer a cultura surda em que busca “um outro lugar e uma outra
coisa”, imprimindo outras imagens e outros sentidos existentes ou
determinados pela cultura ouvinte;
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
113
114
UNIDADE 3
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, seja bem-vindo à última unidade! Certamente, ao chegar
aqui, seus conhecimentos em relação à Literatura Surda se modificaram. Todavia,
temos muito caminho ainda pela frente!
Bons estudos!
116
TÓPICO 1 | LÍNGUA DE SINAIS COMO MARCA SURDA NA LITERATURA
conceitos, nem os mais simples, tais como: hoje, amanhã, depois. Não tinha a
menor ideia de conceitos familiares como: avó, primo, tia. Seu principal sinal
utilizado na época era o sinal de “porque”. Praticamente não tinha oralização.
Uma das únicas palavras que conseguia pronunciar com clareza era “mamãe”,
porém não se dava conta de que pronunciava a palavra, nem mesmo o significado
dela, pois chamava tudo e todos de “mamãe”. Até as galinhas que tinham na
propriedade eram assim chamadas.
Esse foi o trabalho mais árduo e até hoje às vezes causa um pouco de
confusão. Houve um dia em que imaginamos estar tudo compreendido sobre
as questões familiares, quando ela viu os primos (irmão e irmã) se abraçarem e
perguntou se eles eram namorados. Explicamos que irmãos nem podem namorar
e ela ficou surpresa com a informação.
118
TÓPICO 1 | LÍNGUA DE SINAIS COMO MARCA SURDA NA LITERATURA
“Naquele ano, trabalhei em uma escola em que existiam três surdos nos anos
iniciais do ensino fundamental, no período matutino: um no primeiro ano e dois no
quarto ano. A aluna do primeiro ano era assistida por uma professora surda, que
fazia um trabalho magnífico na escola. Além de trabalhar na turma de primeiro ano,
ela ministrava aulas de Libras para as demais turmas, uma vez por semana, exceto
na turma de quarto ano. Nesta era eu quem ensinava Libras.
Nos horários de intervalo, ficávamos eu e a professora surda, na sala de
professores, junto aos demais colegas. Eu tentava interpretar para a professora as
conversas ocorridas, quando achava pertinente.
Em certa ocasião, recebemos a visita de outros professores surdos, enviados
pela prefeitura, para uma visitação e observação do trabalho na escola. Era um dia de
reunião pedagógica, portanto não havia aula. Eram três e passaram aquela manhã toda
na escola. No horário do intervalo, todos os professores foram confraternizar na sala
de professores, mas nós preferimos ficar do lado de fora da sala conversando entre nós.
Logicamente, em Língua de Sinais. Em certa altura, a coordenadora veio me interpelar
porque não participávamos com eles na sala de professores. Porque estávamos isolados?
Interpretei a queixa para os surdos. Um dos professores falou que ia fazer um teste.
Foi sozinho para a sala dos professores e sentou lá. Ficou observando. Em certa altura,
cutucou a coordenadora e perguntou a ela, através de gestos, sobre o que estavam
falando. A coordenadora, que não tinha domínio de Libras, não soube o que fazer.
O professor voltou para o nosso círculo e continuamos a nossa conversa. A
reflexão que faço é que procuramos inconscientemente nossos pares. Os professores,
quando podem, querem ficar perto de outros professores e criam seus vínculos e
afinidades. Os alunos também. Dentro do grupo dos alunos, são formados outros
grupos: o dos excluídos, dos surdos, dos bagunceiros, dos nerds. Sempre buscamos
uma afinidade sem nos darmos conta que, muitas vezes, pré-conceituamos outras
pessoas sem darmos oportunidade de conhecê-las”.
119
UNIDADE 3 | DIFERENTES USOS DA CULTURA SURDA NA LITERATURA: A LÍNGUA DE SINAIS ATRAVESSADA POR MARCAS CULTURAIS
E
IMPORTANT
Outra forma de Literatura Surda é a tirinha, que “é uma das formas literárias
preferidas pela comunidade surda, sobretudo devido ao seu caráter visual e menor recurso
diante da língua escrita” (MORGADO, 2011, p. 22). Também temos os livros infantis para
surdos, as narrativas autobiográficas de surdos e alguns clássicos adaptados e traduzidos
para o sistema de escrita SignWriting.
120
TÓPICO 1 | LÍNGUA DE SINAIS COMO MARCA SURDA NA LITERATURA
[...] A intenção é instigar que o sujeito pense sobre si, que este tenha
uma escrita sobre si que não seja de reprodução como ensina a escola,
mas que seja uma escrita de invenção inquieta de si mesmo. “Escrita”
não se refere aqui a uma escrita em português ou em qualquer outra
língua, mas significa uma escrita de si, que permita o ser olhar-se em
sua singularidade dentro de um coletivo, com destaque o coletivo
surdo (LOPES, 2010, p. 27).
122
TÓPICO 1 | LÍNGUA DE SINAIS COMO MARCA SURDA NA LITERATURA
123
UNIDADE 3 | DIFERENTES USOS DA CULTURA SURDA NA LITERATURA: A LÍNGUA DE SINAIS ATRAVESSADA POR MARCAS CULTURAIS
124
TÓPICO 1 | LÍNGUA DE SINAIS COMO MARCA SURDA NA LITERATURA
FONTE: Pimenta e Quadros (2006, s. p.) FONTE: Pimenta e Quadros (2006, s. p.)
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UNIDADE 3 | DIFERENTES USOS DA CULTURA SURDA NA LITERATURA: A LÍNGUA DE SINAIS ATRAVESSADA POR MARCAS CULTURAIS
DICAS
O livro escrito por Karolina Cordeiro e ilustrado por Jótah trata sobre
o poder da imaginação e da criatividade aos olhos de Pedroca. Um
menino muito especial que encara, de uma maneira nada convencional,
a forma como enxerga o mundo a sua volta: Pedroca, o menino que
sabia voar.
126
TÓPICO 1 | LÍNGUA DE SINAIS COMO MARCA SURDA NA LITERATURA
Com o passar dos dias, os outros filhotes eram ensinados pelos pais a
cantar. Por não conseguir fazer o mesmo, o patinho surdo foi passear pela lagoa
e questionava por que era tão diferente dos seus irmãos, dando conta de que não
pertencia ao espaço. Daí prosseguiu a jornada, quando ele encontrou uma família
de patos surdos conversando em sinais, quando começou a se comunicar com o
grupo na Língua de Sinais da Lagoa.
FONTE: <https://3.bp.blogspot.com/-qJ4g4x72Eh8/V2GRwsJC-TI/AAAAAAAAAMM/
oJxJPCQtN1EJpFiI9bXu3AFjccm2MBaxwCLcB/s1600/Patinho-Surdo-frente.jpg>.
Acesso em: 29 out. 2019.
127
RESUMO DO TÓPICO 1
128
AUTOATIVIDADE
1 De acordo com Reuter (2011, s. p.), “nossa cultura reserva um largo espaço
às narrativas dos mitos e lendas – antigos e modernos –, a todas as narrativas
cotidianas da vida familiar, passando pelas narrativas da imprensa ou dos
romances literários”. Analisando a realidade do sujeito surdo no que diz
respeito à literatura majoritária, responda:
3 Você viu que há uma grande variedade nas comunidades surdas, sendo
cada grupo organizado de acordo com seus interesses, espaço geográfico,
credo, raça, religião, profissão. Sobre Comunidade Surda, é correto afirmar
que:
129
130
UNIDADE 3
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, chegamos ao Tópico 2! Estamos evoluindo e quase chegando
ao final dos nossos estudos! Neste tópico, vamos apresentar os assuntos que são
essenciais para os seus conhecimentos. A poesia em Língua de Sinais criada por
pessoas surdas e a Literatura Gestual, como os sujeitos surdos de outros países
produzem a sua língua através da literatura. Ainda, as pessoas surdas que vivem
em um ambiente bilíngue e multicultural, que possuem uma identidade e cultura
muito complexas por viverem no seu mundo de uma maneira muito peculiar. O
povo surdo também partilha as suas experiências vividas com um sentimento
que sai de dentro para fora, poetizando pelo mundo afora!
Ainda neste tópico, você verá, na prática, um pouco da escrita dos surdos,
pois eu mesma, autora surda, arrisco-me aqui a escrever sozinha, sem o auxílio da
intérprete de libras, que escreve este livro didático comigo. Perceba que, em alguns
momentos, minha escrita não segue os padrões da norma culta, por se tratar da
minha segunda língua. Os demais tópicos foram ajustados às regras gramaticais.
131
UNIDADE 3 | DIFERENTES USOS DA CULTURA SURDA NA LITERATURA: A LÍNGUA DE SINAIS ATRAVESSADA POR MARCAS CULTURAIS
Bandeira Brasileira
Poemas na ASL (A – Z)
132
TÓPICO 2 | POESIA E LÍNGUA DE SINAIS
Uma poesia traduzida para Libras pode ser considerada uma poesia em Libras?
O principal fator que marca uma Poesia Surda é ela ser formulada diretamente
em Libras, não passando pelo processo tradutório, pois quando a poesia
é produzida diretamente em Libras ela tem os elementos que citamos na
primeira resposta e que são inerentes aos surdos. Os intérpretes ouvintes não
partilham dessas percepções.
133
UNIDADE 3 | DIFERENTES USOS DA CULTURA SURDA NA LITERATURA: A LÍNGUA DE SINAIS ATRAVESSADA POR MARCAS CULTURAIS
DICAS
134
TÓPICO 2 | POESIA E LÍNGUA DE SINAIS
135
UNIDADE 3 | DIFERENTES USOS DA CULTURA SURDA NA LITERATURA: A LÍNGUA DE SINAIS ATRAVESSADA POR MARCAS CULTURAIS
FONTE: <https://letrasdeoficina.files.wordpress.com/2017/08/img_20170817_200458.jpg>.
Acesso em: 25 jul. 2019.
Sobre ser surda? Sim, sou surda. Bilíngue, ou seja, tenho duas línguas:
a Libras (Língua Brasileira de Sinais) e o português. Sortuda, eu...
Duas línguas para ser, viver, criar. O português é minha língua de
escrita, a Libras é minha língua de liberdade.
E borboletas? Também. Eu aprendi a gostar quando percebi que sou,
somos borboletas. Ficamos nos casulos da vida até estarmos prontos
para voar...
As poesias me acompanharam a cada lugar que fui. Lugares, pessoas,
vivências, tudo isso passava do sentir para o papel. As poesias, que
neste livro estão, são eu. Há um pedacinho de mim em cada uma
delas. E, talvez, de você. Quem sabe.
Agora vá, leitor, siga as borboletas. Voe! (ROSA, 2017, s. p.).
A poesia em Língua de Sinais possui uma forte ligação com o poeta surdo,
já que ela reflete sua identidade e espelha seus sentimentos (MORGADO, 2011).
No contexto da poesia, slam é um termo primeiramente usado nos Estados Unidos
para designar uma competição em que poetas apresentam trabalhos originais
perante o público.Além de usarem apenas material próprio, os participantes não
podem usar objetos de cena nem ter acompanhamento musical.
136
TÓPICO 2 | POESIA E LÍNGUA DE SINAIS
DICAS
DICAS
137
UNIDADE 3 | DIFERENTES USOS DA CULTURA SURDA NA LITERATURA: A LÍNGUA DE SINAIS ATRAVESSADA POR MARCAS CULTURAIS
<https://www.editorarealize.com.br/revistas/enlije/trabalhos/TRABALHO_EV063_MD1_SA16_
ID1277_10082016113031.pdf>. Acesso em: 29 out. 2019.
Karnopp (2010, p. 161) cita que “a literatura surda faz parte das histórias
que têm a língua de sinais, a identidade e a cultura surda presentes na narrativa”.
Segundo Karnopp (2006), a literatura surda é a produção de textos literários em
sinais. Traduz a experiência visual, entende a surdez como presença de algo e
não como falta, possibilitando outras representações de surdos, considerando as
pessoas surdas como um grupo linguístico e cultural diferente.
Morgado (2011, p. 21) afirma que “a Literatura Surda não tem que ser
contada exclusivamente em língua de sinais, pode ser escrita, desde que o tema seja
sobre surdos”. Nesse ponto de vista, o livro Luanda Lua se insere numa proposta
bilíngue, porque disponibiliza duas versões, sendo uma em língua portuguesa
escrita e a outra em Língua Gestual Portuguesa (LGP), no DVD que acompanha
o livro impresso. O DVD em língua de sinais segue uma proposta baseada na
educação dos surdos porque viabiliza o acesso da criança surda a sua língua
materna, sendo, de preferência, a vivência e a aprendizagem estimuladas pelo
contato com a comunidade surda. Seu desenvolvimento na sua primeira língua
(L1) é considerado fundamental para o aprendizado da segunda língua (L2).
138
TÓPICO 2 | POESIA E LÍNGUA DE SINAIS
E
IMPORTANT
A autora deste livro tem com experiência ser mãe de uma criança surda de 11
anos e comprova que apresentou os livros desde pequena à criança. Ela contava a história
do Patinho Feio e quando terminava de contar pedia para a criança narrar com as imagens
do livro, foi contando aos poucos e hoje a criança tem habilidade de narrar as histórias, de
aumentar o vocabulário da Língua Portuguesa, de ter autoestima, de conseguir refletir, de
sentir suas emoções e ter autonomia.
Por isso, para qualificar a literatura, seria essencial que os adultos surdos
estivessem preparados para transmitir as histórias para as crianças surdas.
Assim, ajudam as crianças a terem interação social, estimulando o raciocínio,
a participação escolar, o mercado de trabalho, a comunidade e a cidadania,
construindo o seu ser e seu caráter visual.
139
RESUMO DO TÓPICO 2
• O povo surdo tem suas vantagens de ser poeta por talento. Este expressa o seu
mundo por meios visuais, experiências e dentro dele possui a cultura surda
completamente forte e ao mesmo tempo permanece valorizada.
• A Literatura Surda não tem que ser contada em língua de sinais, pode ser
escrita, desde que o tema seja sobre surdos.
140
AUTOATIVIDADE
141
142
UNIDADE 3
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Vamos refletir um pouco sobre a literatura infantil, uma concepção de
infância que precisa ter atenção, formação e educação responsáveis pelos adultos.
A importância de entender as representações sobre os surdos presentes em todos
os artefatos culturais contemporâneos como os filmes. A seguir, vamos entender
como são narrados os filmes para os surdos e a educação de surdos no cinema e,
também, os desafios da tradução e interpretação da literatura ouvinte. Desafio?
Veremos adiante! Você, nosso leitor, finalmente está concluindo a Unidade 3 com
muitos conhecimentos adquiridos.
Bons estudos!
144
TÓPICO 3 | LITERATURA SURDA: UM OLHAR SOB DIFERENTES POSSIBILIDADES
145
UNIDADE 3 | DIFERENTES USOS DA CULTURA SURDA NA LITERATURA: A LÍNGUA DE SINAIS ATRAVESSADA POR MARCAS CULTURAIS
FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/51M4UjaJaIL._SY354_
BO1,204,203,200_.jpg>. Acesso em: 26 jul. 2019.
146
TÓPICO 3 | LITERATURA SURDA: UM OLHAR SOB DIFERENTES POSSIBILIDADES
Acreditamos que a literatura nos mostra a visão da criança que precisa ser
ajudada para tirar das dúvidas, incertezas, dos sofrimentos, das ambiguidades
e dos dilemas que serão convertidos em harmonia, sorrisos, sonhos, autonomia,
independência e muita alegria com a descoberta do mundo literário.
Nos anos 1910 e 1921 foram produzidos doze filmes com registros de
poemas, palestras e memórias com a participação de homens e mulheres surdos
considerados grandes contadores de histórias. Na França, em 1875, León Vaisse,
que era diretor do Instituto de Surdos de Paris, soube do trabalho do médico
Étienne-Jules Marey, que apresentou uma série de equipamentos para registrar a
imagem em movimento. Uma parceria foi criada, e Marey e seu assistente Demeny
desenvolveram vários experimentos, incluindo o método que foi utilizado na
oralização de alunos surdos do instituto para captação dos movimentos da fala.
Portanto, o cinema mudo era muito popular entre os surdos, pois era uma
forma de entretenimento. Eles podiam participar como os ouvintes, não por causa
da falta de som, e sim pela presença dos intertítulos que os filmes mudos tinham.
Orientações visuaisque os atores usavam eram as expressões corporal e facial. Os
surdos não ficavam como espectadores, mas muitos eram atores de cinema.
147
UNIDADE 3 | DIFERENTES USOS DA CULTURA SURDA NA LITERATURA: A LÍNGUA DE SINAIS ATRAVESSADA POR MARCAS CULTURAIS
Bauman (2008, s. p.) afirma que “não há outro meio linguístico que fala ao
mesmo tempo com a vivacidade da pintura e com a mobilidade dos sons do que as
línguas de sinais, que funcionam muito como um filme”. É um meio de descrever
as línguas de sinais através de fonologia, morfologia, sintaxe, é claro, também de
ver oscineastas sinalizadores como fluentes, que é uma habilidade incentivada
nos literários e dramáticos da Língua de Sinais. Então, na última década, o
cinema surdo teve uma explosão de festivais e produções. Alguns afirmam ser
filmes que retratam fielmente a cultura surda, outros que são filmes realizados
por artistas surdos e outros, ainda, os definem pela exclusividade da Língua de
Sinais (CHRISTIE; DURR; WILKENS, 2006). Estes autores concordavam que a
existência de um cinema surdo ajudaria muito para transformação de como o
sujeito surdo é visto pelos ouvintes para evitar o audismo.
148
TÓPICO 3 | LITERATURA SURDA: UM OLHAR SOB DIFERENTES POSSIBILIDADES
E
IMPORTANT
FIGURA – AMY: UMA VIDA PELAS CRIANÇAS FIGURA – TIN MAN: VOZES DO SILÊNCIO
149
UNIDADE 3 | DIFERENTES USOS DA CULTURA SURDA NA LITERATURA: A LÍNGUA DE SINAIS ATRAVESSADA POR MARCAS CULTURAIS
E
IMPORTANT
FONTE:<https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2019/03/30/interna_
cidadesdf,746307/com-producao-feita-por-surdos-mostra-estreia-no-cine-brasilia.shtml>.
Acesso em: 26 jul. 2019.
150
TÓPICO 3 | LITERATURA SURDA: UM OLHAR SOB DIFERENTES POSSIBILIDADES
FONTE:<https://seculodiario.com.br/public/jornal/materia/projeto-promove-cinema-e-
poesia-para-a-comunidade-surda>. Acesso em: 26 jul. 2019.
O longa retrata a trajetória da escritora que trabalhou como doceira durante quase toda sua
vida, publicando seu primeiro livro aos 75 anos de idade e se consagrando como um dos
maiores nomes da literatura brasileira de sua geração. O filme venceu o Grande Prêmio do
Cinema Brasileiro 2018 na categoria Melhor Documentário pelo voto popular.
FONTE:<https://flaviochaves.com.br/2018/10/13/cine-surdo-exibe-documentario-sobre-
cora-coralina/>. Acesso em: 26 jul. 2019.
152
TÓPICO 3 | LITERATURA SURDA: UM OLHAR SOB DIFERENTES POSSIBILIDADES
Art. 3° (VETADO)
153
UNIDADE 3 | DIFERENTES USOS DA CULTURA SURDA NA LITERATURA: A LÍNGUA DE SINAIS ATRAVESSADA POR MARCAS CULTURAIS
Art. 7° O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, zelando
pelos valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa humana e à cultura
do surdo e, em especial:
Art. 8° (VETADO)
Art. 9° (VETADO)
Art. 10. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
154
TÓPICO 3 | LITERATURA SURDA: UM OLHAR SOB DIFERENTES POSSIBILIDADES
155
UNIDADE 3 | DIFERENTES USOS DA CULTURA SURDA NA LITERATURA: A LÍNGUA DE SINAIS ATRAVESSADA POR MARCAS CULTURAIS
LEITURA COMPLEMENTAR
a) espaço suficiente para que o intérprete não fique colado ao fundo, evitando
desta forma o aparecimento de sombras;
b) iluminação suficiente e adequada para que a câmera de vídeo possa captar,
com qualidade, o intérprete e o fundo;
c) câmera de vídeo apoiada ou fixada sobre tripé fixo;
d) marcação no solo para delimitar o espaço de movimentação do intérprete.
No que diz respeito à edição da janela, a norma orienta, no item 7.1.3 que
o recorte ou o wipe deve respeitar os seguintes parâmetros:
156
TÓPICO 3 | LITERATURA SURDA: UM OLHAR SOB DIFERENTES POSSIBILIDADES
FONTE: <http://febrapils.org.br/wp-content/uploads/2017/07/nota-tcnica-febrapils-feneis-
materiais-audiovisuais.pdf>. Acesso em: 29 out. 2019.
157
RESUMO DO TÓPICO 3
CHAMADA
158
AUTOATIVIDADE
159
160
REFERÊNCIAS
BAUMAN, H. Listening to Phonocentrism with Deaf Eyes: Derrida’s Mute
Philosophy of (Sign) Language. 2008. Disponível em: http://commons.pacificu.
edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1288&context=eip. Acesso em: 31 out. 2019.
161
FINGER, I.; QUADROS, R. M. de. Teorias de aquisição da linguagem. 2007.
Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Ronice_Quadros/
publication/268366651_TEORIAS_DE_AQUISICAO_DA_LINGUAGEM/
links/551bde2d0cf2909047b97146.pdf. Acesso em: 18 jan. 2019.
HESSEL, C.; ROSA, F.; KARNOPP, L. Cinderela surda. 2 ed. Canoas: Editora
ULBRA, 2007.
LAJOLO, M. Literatura: ontem, hoje, amanhã. São Paulo: Editora Unesp, 2018.
163
MÜLLER, J. I.; KARNOPP, L. B. Literatura surda: representações em produções
editoriais. 2017. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/educacaoemquestao/
article/download/12196/8461/. Acesso em: 11 jan. 2019.
SACKS, O. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo:
Companhia das Letras, 1988.
164
SANTOS, T. S. dos. Narrativas surdas: experiências na comunidade e na cultura
surda e a constituição de identidades. 2012. Dissertação (Mestre em Educação)
– Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2012. Disponível em: http://
repositorio.ufpel.edu.br:8080/bitstream/123456789/1686/1/Taiane%20Santos%20
dos%20Santos_Dissertacao.pdf. Acesso em: 12 mar. 2019.
165