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Além do princípio do prazer

Para que tratar aqui o principio do prazer? Há um importante fator psíquico, que foi amplamente
analisado por Freud no principio do prazer, e o ponto de enfoque ao qual ele se refere permitir-nos-
á, posteriormente, uma maior compreensão do funcionamento neuronal. Freud no “Além do
princípio do prazer” 23 enuncia a hipótese que: “O trabalho do aparelho mental se dirige no sentido
de manter baixa a quantidade de excitação, então qualquer coisa que seja calculada para aumentar
essa quantidade está destinada a ser sentida como adversa ao funcionamento do aparelho, ou seja,
como desagradável”. E conclui com; “Os fatos que nos fazem acreditar na dominância do princípio
de prazer na vida mental, também expressam a hipótese de que o aparelho mental se esforça em
manter a quantidade de excitação presente tão baixa quanto possível, ou, pelo menos, se esforça em
mantê-la constante”. Um exame mais pormenorizado mostrar-nos-á que a tendência que assim
atribuímos ao aparelho mental, subordina-se ao princí- 203 pio da “tendência no sentido da
estabilidade, com a qual ele colocou em relação os sentimentos de prazer e desprazer” 72 24 . “As
impulsões conscientes sempre estão unidas com um prazer ou um desprazer, e estes últimos podem
conceber-se referidos, em termos psicofísicos, a proporções de estabilidade ou de instabilidade;
todo movimento psicofísico que supere o umbral da consciência está afetado de prazer na medida
em que se aproxime, além da fronteira, à estabilidade plena e afetado de desprazer, na medida em
que se desvie daquela...” (Fechner). Simplificando, a partir deste pensamento, assim como ocorre
no aparelho mental onde há uma tendência em manter baixo o nível de excitação, também em nosso
instinto, há uma ação análoga agindo da mesma maneira, e sempre tentando manter o sistema com
baixa excitação e que, podemos chamar de Estado de Mínima Energia 73 . Prosseguindo com a
teoria da separação entre o psiquismo e o instinto do ser humano, analisemos então como se
comporta o instinto do homem “não psíquico”. O exemplo mais simples que podemos tomar é o da
fome. Assim que começarmos a sentir fome, o nosso instinto começa a dar sinais de alerta a nossa
sobrevivência fazendo com que todo 72 Fechner 73 Veja nos estados da matéria (Pag. 65) o
conceito sobre o estado de mínima energia do universo e a Conclusão da Experiência de Young no
Século XX, em conjunto com a nota de rodapé 51 a respeito da Entropia. 204 nosso ser comece a
sentir um nível de preocupação e aplacar esse sintoma, por sinal desagradável. Enquanto não
sentimos fome há uma tendência na estabilidade do sistema em manter a quantidade de excitação
baixa, ou seja, não procuramos nos alimentar e este estado tende a se manter até o ponto de quando
todo o sistema precisa de se alimentar ao anunciar através da fome e tentar retornar a esse estado de
mínima energia o antes possível. Esse termo de mínima energia é equivalente àquele enunciado por
Freud. Obvio que estamos tentando raciocinar desde um ponto de vista no qual não estão sendo
consideradas outras influências como as ansiedades, angústias, merecimentos ou demais sensações
que provocam o desejo de alimentar-nos desapropriadamente. Na física clássica encontramos esse
estado de tendência à baixa energia, que para Freud seria equivalente ao pensarmos em manter
baixa a quantidade de excitação, encontrado em varias passagens da física. Diversos exemplos vêm
à nossa lembrança, desde quando éramos bebê, ao segurarmos um objeto, este com certo peso, tem
todo o “desejo” de voltar ao estado de mínima energia. O objeto “percebe” que está a uma altura
determinada do chão e a sua tendência e permanecer no estado de mínima energia, por isso ele cai e
quando cair ele estará na sua condição mais estável possível. Analogamente, sabemos que no campo
magnético há uma força exercida entre dois imãs e os dois polos opostos se atraem ou se repelem,
no caso de se tratar dos mesmos polos, com uma força tal até que ocorra a estabilidade. Vejam que
na atração ou na repulsão temos um único resultado que é o equilíbrio, seja ao serem totalmente
atraídos e ficarem totalmente colados, ou afastados. Todos já passamos pelo ditado: “Não adianta
chorar pelo leite derramado”. O que antes estava dentro de uma jarra sendo aquecido
ordenadamente se converte em leite derramado quando começa a 205 ferver. A recomposição do
estado de ordem anterior não será conseguida. Ao ferver o leite, temos um processo irreversível,
uma evolução natural da ordem para a desordem. Na física define-se a entropia como o processo no
qual a energia perde a sua capacidade de gerar trabalho útil, ou seja, quando uma energia se
Além do princípio do prazer
transforma e não podemos reaproveita-la. Na sequência, a Segunda Lei da Termodinâmica diz que a
entropia (que mede o grau de irreversibilidade e a desordem de um sistema) tende a aumentar até
chegar a um valor máximo. Se considerarmos o Universo como um sistema isolado (assim podemos
defini-lo, se o aceitarmos como sendo finito) este tende, pois, a aumentar sua entropia e sua
desordem. Equilibram-se as temperaturas, as diferenças de pressão, etc. Quando atingirmos o
equilíbrio, na máxima entropia, produzir-se-á a chamada morte térmica 74. Todas as formas de
energia acabam e todo o Universo estará na mesma temperatura. Temos então um sistema sem
desequilíbrios, por tanto não se poderá utilizar para extrair energia ou com ela realizar trabalho. Os
seres vivos são os únicos que lutam contra o equilíbrio. A resposta à mínima energia é o equilíbrio,
com o aparelho mental, como mencionado, mantendo baixa a excitação e também com base na
entropia haverá uma mínima energia final. Faz-se necessário analisarmos o conceito da entropia
dentro do nosso estudo, ela nos dá uma ideia coerente com o raciocínio rela- 74 A ideia da morte
térmica foi proposta em 1851 por Lorde Kelvin onde determinou que na temperatura, a “zero
absoluto”, é a mínima temperatura possível, sendo o estado de mínima energia térmica que podem
ter os átomos e as moléculas. 206 tivo às influências do psiquismo sobre o universo atómico,
molecular e celular

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