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A formação do húmus
A matéria orgânica perde completamente a sua estrutura original após ser degradada
pela atividade física, química e pela ação bioquímica de bactérias e fungos no solo. O
material formado é uma massa escura sem nenhum vestígio de organização celular e
quimicamente mais estável denominada de húmus. O termo húmus é genérico e inclui várias
substâncias em três distintas frações, cada uma com diferentes características químicas
possíveis de serem separadas após solubilização em meio alcalino e/ou ácido. As três
frações das substâncias húmicas são a humina, o ácido húmico e o ácido fúlvico (Tabela 1).
A complexa estrutura das substâncias húmicas é mais difícil de ser degradada que o
material orgânico de origem. As substâncias que compõem o húmus persistem, pois são de
fechada na forma de anéis aromáticos) ligados diretamente entre si ou por meio de átomos
substâncias húmicas apresentam estruturas químicas muito diversas, pois não há uma
regularidade (repetição) no arranjo dos anéis de benzeno e nem na posição das cadeias
degradado.
conforme a solubilidade em solução alcalina e/ou ácida. Os valores para humina são médias
e os números entre parênteses para o ácido fúlvico e húmico são valores máximos. A massa
tamanho (<10-3 mm), e como conseqüência apresenta elevado valor de superfície específica
O-, respectivamente) capazes de adsorver cátions como Ca2+, K+, Mg2+, ou receber H+
cátions das superfícies minerais das argilas silicatadas onde estão adsorvidos ou da rede
cristalina do mineral onde cátions são componentes da estrutura molecular. No último caso,
O K+ no caso acima passa pela solução do solo durante a troca com o H+ e poderá ser
capacidade de troca de cátions mais elevada (>300 cmolc kg-1) que a das argilas silicatadas
(<200 cmolc kg-1). Sob valores altos de pH os prótons dos grupamentos ácidos da matéria
orgânica são liberados reagindo com as hidroxilas (OH-) da solução do solo (H++OH- → H2O)
disponibilizando as cargas negativas dos grupos funcionais (por exemplo, -COO- ou O-)
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capazes de reter cátions. Nessa condição de reação básica do solo a capacidade de troca de
cátions das substâncias húmicas pode ultrapassar a das argilas silicatadas. A capacidade de
troca de cátions (CTC) das substâncias húmicas é mais dependente dos valores de pH que
das argilas silicatadas, apresentando CTC bem menor sob valor de pH menor que 5. As
substâncias húmicas podem ser responsáveis por até 90% do valor da CTC em solos sob
clima tropical onde as argilas silicatadas sofreram intenso intemperismo. Mesmo nos solos
sob clima temperado há uma nítida relação entre o valor da CTC e a concentração de
grupos oxigenados (carboxila, fenol, álcool, carbonila, éter e quinona). Nesses grupos a
fúlvico pode ser evidenciado pela grande concentração do grupo funcional carboxila, duas
Álcool
-OH
cetona (carbonila)
-CO-
Imida
NH
Sulfidrila (mercaptana)
-SH
Amina
-NH2
Éter
R-CH2-O-CH2-R
Quinonas
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São encontrados no solo compostos de origem orgânica com estrutura química mais
simples e de menor massa molecular que substâncias húmicas. Esses compostos orgânicos
tempo de permanência no solo, pois são mais facilmente degradados por bactérias e fungos.
Açúcares solúveis, amido e proteínas simples são mais fáceis de serem degradados
Ceras e compostos fenólicos são de difícil degradação e permanecem por muito mais tempo
no solo. A lignina é um composto orgânico não-húmico construída pelas plantas por meio de
anéis aromáticos com a função álcool (álcool coniferílico, sinapílico e cumarílico), mas de
degradação bem mais difícil que outras biomoléculas não-húmicas. Temperatura próxima de
25 °C, umidade do solo entre 15-18 %, concentração de oxigênio acima de 5%, valor de pH
entre 5-7 e conteúdo reduzido de argila são condições ambientais propícias para a
além da unidade estrutural da celulose (a glicose) podem apresentar outras hexoses como a
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Somente a celulose pode ser responsável por um sexto (~17 %) de todo o carbono orgânico
do solo.
oxálico, tartárico, cítrico, fórmico) e fungos (cítrico) no solo, formando complexos solúveis
com cátions metálicos. A concentração desses ácidos no solo varia muito, 0,01-5,00 mol m-3,
e o tempo de vida pode ser de apenas algumas horas. Além desses ácidos de cadeia aberta
(alifáticos) a solução do solo apresenta uma menor concentração (0,05-1,00 mol m-3) de
ácidos de cadeia fechada (aromáticos) cuja unidade estrutural é formada por um anel de
arginina e lisina ocorrem na solução do solo em uma concentração entre 0,05-0,60 mol m-3
e estruturas. Até metade do nitrogênio existente no solo pode estar como peptídeos que as
raízes não conseguem absorver e geralmente formam complexos com colóides orgânicos e
inorgânicos.
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continentes varia em mais de uma ordem de grandeza, de menos de 250 g de matéria seca
m-2 a-1 nos desertos e regiões frias até mais de 2000 g de matéria seca m-2 a-1 nas florestas
tropicais úmidas. O total de carbono assimilado via fotossíntese que pode entrar na cadeia
de detritos sobre os solos dos continentes é enorme (6.1010 ton ano-1). Esse carbono pode
estar no tronco de uma árvore com dezenas de m3 ou em uma bactéria com cerca de 10-18
m3.
A matéria orgânica vegetal chega ao solo em média com 75% de conteúdo de água,
média da matéria seca vegetal que chega ao solo é de 60% de carboidratos (açucares,
proteínas. Nos ecossistemas florestais naturais a entrada de matéria orgânica vegetal ocorre
(Figura 1). Em campos de gramíneas 70% dos fotossintatos entram no solo diretamente pelo
adicionado ao solo via sistema radicular por meio de raízes mortas, exudatos solúveis e
mucilagens. Essas porções da raiz representam cerca de 30% de toda a fotossíntese líquida
da copa promovendo uma zona próxima à raiz de intensa atividade microbiana: a rizosfera.
Nas áreas cultivadas a matéria orgânica dificilmente se acumula e muitas vezes tende
cultivo de plantas anuais ou perenes. Até 1913 mais de 40% do nitrogênio usado nas
tornou mais competitivo (barato) e de manejo mais fácil. No entanto, ainda hoje a matéria
considerada leve é de 10 ton ha-1 de esterco curtido, 2) adubos verdes como leguminosas
que são incorporadas ao solo onde crescem, 3) resíduos orgânicos prontamente disponíveis
séculos em algumas regiões costeiras (guano), 6) farinhas de sangue, carne, chifres e/ou de
entre 20/1 e 30/1, respectivamente, enquanto que nos resíduos de palha essa proporção é
antigas civilizações como a chinesa, grega e romana, que utilizavam esterco animal para o
aumento da produção vegetal. Esse efeito benéfico se deve não só pela elevada capacidade
suas formas absorvíveis pelas raízes (K+, Ca2+, Mg2+, NO3-, NH4+, H2PO4-, HPO42-, SO42-)
podem ser liberados da estrutura das biomoléculas no solo por meio do intemperismo
evitando sua lixiviação para regiões fora do alcance das raízes. O material orgânico aumenta
retenção de água do solo e ainda torna o solo menos compacto promovendo a formação de
grumos. Um solo grumoso tem uma estrutura mais friável, facilita a penetração do ar, da
água, das raízes e a movimentação dos pequenos animais que aí vivem como artrópodes e
A matéria orgânica no solo é fonte de energia para bactérias e fungos e fungos. Com
exceção de partes da planta com elevado teor de gordura, a energia disponível no material
que se desprende das plantas e chega ao solo é cerca de 20 kJ g-1. A quantidade de energia
no material de origem animal (insetos, outros invertebrado e vertebrados mortos) está entre
g-1. A lignina é de difícil degradação, mas fornece elevada quantidade de energia, 26 kJ g-1.
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minhocas, que podem apresentar 5.106 e 2.109 indivíduos por hectare, respectivamente. Os
aeração e a drenagem por meio dos túneis que constroem, excretando e/ou retalhando o
material orgânico e transportando esse material por todo o volume do solo. Os tecidos
orgânicos retalhados por artrópodes ficam mais expostos e mais suscetíveis ao ataque de
microorganismos.
de CO2 e H2O (Figura 2). O CO2 geralmente escapa para a atmosfera e pode ser assimilado
novamente por autótrofos fechando o ciclo do carbono (Figura 3). Uma pequena parte do
CO2 reage com a água no solo formando o ácido carbônico (H2CO3). Se o valor de pH for
reagir com os cátions nutrientes (K+, Ca2+, Mg2+, Fe2+, Mn2+, e Zn2+) da solução do solo. A
velocidade desse processo depende do material orgânico que está sendo degradado e das
condições ambientais.
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detritos após a adição de matéria orgânica no solo. Também são mostrados (topo da figura)
Síntese
O total de carbono assimilado via fotossíntese que pode entrar na cadeia de detritos
sobre os solos dos continentes é enorme (6.1010 ton ano-1). A matéria orgânica vegetal chega
ao solo em média com 75% de conteúdo de água, sendo degradada principalmente nos
10% de proteínas. A matéria orgânica após ser trabalhada pelo intemperismo químico e pela
ação das bactérias e fungos pode perder completamente sua estrutura original. O húmus é o
resultado final da intensa ação de fatores abióticos e bióticos sobre o material orgânico
original. Humina, ácido fúlvico e ácido húmico são as frações do húmus com diferentes
acesso das bactérias e fungos e a deposição em regiões com reduzida pressão parcial de
carregadas como as partículas minerais do solo. Dessa forma, o húmus funciona como
água e ainda melhora a estrutura do solo formando grumos. Por outro lado, a matéria
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