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OFICINAS DE PROJETO DE VIDA E ORIENTAÇÃO VOCACIONAL

Justificativa

O Ensino Médio é a etapa final da Educação Básica, que é um direito público subjetivo de
todo cidadão brasileiro. A realidade educacional do País, no entanto, tem mostrado que
essa etapa representa um gargalo na garantia do direito à educação. Para além da
necessidade de universalizar o atendimento, tem-se mostrado crucial garantir a
permanência e as aprendizagens dos estudantes, respondendo às suas demandas e
aspirações presentes e futuras. O que justifica esta prerrogativa? (os grifos são nossos)

Dados do módulo Educação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua


(PNAD), do IBGE, de 2019, deram conta de que na população de 25 anos ou mais, 6,4%
eram sem instrução, 32,2% tinham o ensino fundamental incompleto, 8,0% tinham o
ensino fundamental completo e 4,5%, o ensino médio incompleto. Ainda que esses
quatro grupos tenham apresentado pequenas quedas entre 2018 e 2019, mais da
metade das pessoas de 25 anos ou mais não completaram o ensino médio no Brasil.
No Nordeste, em particular, três em cada cinco adultos (60,1%) não completaram o
ensino médio, enquanto nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, mais da metade da
população de 25 anos ou mais tinha o ensino médio completo.

Mais da metade das mulheres (51,0%) do país tinha, ao menos, o ensino médio
completo, enquanto entre os homens esse percentual foi de 46,3%. Com relação à cor
ou raça, 57,0% das pessoas brancas haviam completado esta etapa, já entre pretas
ou pardas esse percentual foi de 41,8%, uma diferença de 15,2 pontos percentuais.

Além disso, a média de anos de estudo das pessoas de 25 anos ou mais de idade
passou de 8,9 anos, em 2016, para 9,4 anos, em 2019. Para as mulheres, a média foi
de 9,6 anos e, para os homens, 9,2 anos. Com relação à cor ou raça, mais uma vez, a
diferença foi considerável: 10,4 anos de estudo para as pessoas brancas e 8,6 anos
para as pretas ou pardas.

Os resultados mostraram ainda que a passagem do ensino fundamental para o médio


acentuou o abandono escolar, uma vez que aos 15 anos o percentual de jovens quase
dobrou em relação à faixa etária anterior, passando de 8,1%, aos 14 anos, para
14,1%, aos 15 anos. Os maiores percentuais, porém, se deram a partir dos 16 anos,
chegando a 18,0% aos 19 anos ou mais. Os principais motivos apontados para a
evasão escolar foram a necessidade de trabalhar (39,1%) e a falta de interesse nos
estudos (29,2%). Entre as mulheres destacam-se ainda gravidez (23,8%) e afazeres
domésticos (11,5%). Em todas as grandes regiões, precisar trabalhar e o não
interesse em estudar alcançam cerca de 70% dos jovens, sugerindo a necessidade de
medidas que incentivem a permanência dos jovens na escola.

Entre as pessoas de 15 a 17 anos de idade, ou seja, em idade escolar obrigatória,


78,8% se dedicavam exclusivamente ao estudo. No entanto, considerando as 46,9
milhões de pessoas de 15 a 29 anos de idade, 22,1% não trabalhavam, não
estudavam, nem se qualificavam, sendo que entre as mulheres esse percentual foi de
27,5% e entre pessoas pretas e pardas, 25,3%.

Quase 75% dos jovens de 18 a 24 anos estão atrasados ou abandonaram os estudos.


Esse panorama nacional diverge entre as grandes regiões. No Centro-Sul, o atraso
escolar dos estudantes de 18 a 24 anos ficou entre 8,0% e 9,6% e o percentual de
pessoas que não estudavam por já terem completado o ensino superior variou de
4,8% a 5,7%. Já no Norte e no Nordeste, esse atraso foi maior, em torno dos 15,0%,
enquanto o percentual de não estudantes com uma graduação completa não passou
de 3,0%.

Dos 9,3 milhões de estudantes do ensino médio (regular ou da Educação de Jovens e


Adultos – EJA), 7,1% frequentavam curso técnico de nível médio ou o curso normal de
nível médio. Já entre as 49,3 milhões de pessoas que haviam concluído o ensino
médio ou ingressado no superior sem o concluir e que não estavam frequentando uma
graduação, 5,2% frequentavam curso técnico ou curso normal. Além disso, deste
grupo de pessoas, 12,7% haviam concluído um desses cursos.

Dos quase 171 milhões de pessoas de 14 anos ou mais, 26,7 milhões já haviam
frequentado algum curso de qualificação profissional, ou seja, um percentual de
15,6%, 2,5 p.p. a mais que em 2018. À medida que aumenta o nível de instrução,
cresce a frequência em cursos de qualificação profissional: 7,4% entre as pessoas
sem instrução ou com até o ensino fundamental completo, 20,9% entre as pessoas
com o ensino médio incompleto até o superior incompleto, e 25,8% entre aquelas com
o ensino superior completo.

Dito isto, nos voltamos para as diretrizes e objetivos do Novo Ensino Médio,
preconizado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), do Ministério da
Educação, a ser implantado paulatinamente nas escolas de todo Brasil, a partir de
2022. Tendo em vista um imenso contingente de adolescentes, jovens e adultos que
se diferenciam por condições de existência e perspectivas de futuro desiguais, é que o
Ensino Médio deve trabalhar. O que está em jogo é a recriação da escola que, embora
não possa por si só resolver as desigualdades sociais, pode ampliar as condições de
inclusão social, ao possibilitar o acesso à ciência, à tecnologia, à cultura e ao trabalho.

As rápidas transformações na dinâmica social contemporânea nacional e


internacional, em grande parte decorrentes do desenvolvimento tecnológico, atingem
diretamente as populações jovens e, portanto, suas demandas de formação. Nesse
cenário cada vez mais complexo, dinâmico e fluido, as incertezas relativas às
mudanças no mundo do trabalho e nas relações sociais como um todo representam
um grande desafio para a formulação de políticas e propostas de organização
curriculares para a Educação Básica, em geral, e para o Ensino Médio, em particular.

Adota-se, aqui, a noção ampliada e plural de juventudes, ou seja, o entendimento das


culturas juvenis em sua singularidade. Significa não apenas compreendê-las como
diversas e dinâmicas, como também reconhecer os jovens como participantes ativos
das sociedades nas quais estão inseridos, sociedades essas também tão dinâmicas e
diversas.

Considerar que há muitas juventudes implica organizar uma escola que acolha as
diversidades, promovendo, de modo intencional e permanente, o respeito à pessoa
humana e aos seus direitos. E mais, que garanta aos estudantes ser protagonistas de
seu próprio processo de escolarização, reconhecendo-os como interlocutores
legítimos sobre currículo, ensino e aprendizagem. Significa, nesse sentido, assegurar-
lhes uma formação que, em sintonia com seus percursos e histórias, permita-lhes
definir seu projeto de vida, tanto no que diz respeito ao estudo e ao trabalho como
também no que concerne às escolhas de estilos de vida saudáveis, sustentáveis e
éticos.

Para formar esses jovens como sujeitos críticos, criativos, autônomos e responsáveis,
cabe às escolas de Ensino Médio proporcionar experiências e processos que lhes
garantam as aprendizagens necessárias para a leitura da realidade, o enfrentamento
dos novos desafios da contemporaneidade (sociais, econômicos e ambientais) e a
tomada de decisões éticas e fundamentadas. O mundo deve lhes ser apresentado
como campo aberto para investigação e intervenção quanto a seus aspectos políticos,
sociais, produtivos, ambientais e culturais, de modo que se sintam estimulados a
equacionar e resolver questões legadas pelas gerações anteriores – e que se refletem
nos contextos atuais –, abrindo-se criativamente para o novo.

Para atingir essa finalidade, é necessário, em primeiro lugar, assumir a firme


convicção de que todos os estudantes podem aprender e alcançar seus objetivos,
independentemente de suas características pessoais, seus percursos e suas histórias.
Com base nesse compromisso, a escola que acolhe as juventudes deve, dentre outros
objetivos, valorizar os papéis sociais desempenhados pelos jovens, para além de sua
condição de estudante, e qualificar os processos de construção de sua(s)
identidade(s) e de seu projeto de vida.

Essas experiências favorecem a preparação básica para o trabalho e a cidadania, o


que não significa a profissionalização precoce ou precária dos jovens ou o
atendimento das necessidades imediatas do mercado de trabalho. Ao contrário, supõe
o desenvolvimento de competências que possibilitem aos estudantes inserir-se de
forma ativa, crítica, criativa e responsável em um mundo do trabalho cada vez mais
complexo e imprevisível, criando possibilidades para viabilizar seu projeto de vida e
continuar aprendendo, de modo a ser capazes de se adaptar com flexibilidade a novas
condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores. Para tanto, a escola precisa
se estruturar de maneira a oferecer o suporte aos jovens para que reconheçam suas
potencialidades e vocações, identifiquem perspectivas e possibilidades, construam
aspirações e metas de formação e inserção profissional presentes e/ou futuras, e
desenvolvam uma postura empreendedora, ética e responsável para transitar no
mundo do trabalho e na sociedade em geral.

Nessa mesma direção, é também finalidade do Ensino Médio o aprimoramento do


educando como pessoa humana, considerando sua formação ética e o
desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico. Tendo em vista a
construção de uma sociedade mais justa, ética, democrática, inclusiva, sustentável e
solidária, a escola que acolhe as juventudes deve ser um espaço que permita aos
estudantes construírem projetos pessoais e coletivos baseados na liberdade, na
justiça social, na solidariedade, na cooperação e na sustentabilidade.

Na BNCC, o protagonismo e a autoria estimulados no Ensino Fundamental traduzem-


se, no Ensino Médio, como suporte para a construção e viabilização do projeto de vida
dos estudantes, eixo central em torno do qual a escola pode organizar suas práticas.
Ao se orientar para a construção do projeto de vida, a escola que acolhe as juventudes
assume o compromisso com a formação integral dos estudantes, uma vez que
promove seu desenvolvimento pessoal e social, por meio da consolidação e
construção de conhecimentos, representações e valores que incidirão sobre seus
processos de tomada de decisão ao longo da vida. Dessa maneira, o projeto de vida é
o que os estudantes almejam, projetam e redefinem para si ao longo de sua trajetória,
uma construção que acompanha o desenvolvimento da(s) identidade(s), em contextos
atravessados por uma cultura e por demandas sociais que se articulam, ora para
promover, ora para constranger seus desejos.

Logo, é papel da escola auxiliar os estudantes a aprender a se reconhecer como


sujeitos, considerando suas potencialidades e a relevância dos modos de participação
e intervenção social na concretização de seu projeto de vida. É, também, no ambiente
escolar que os jovens podem experimentar, de forma mediada e intencional, as
interações com o outro, com o mundo, e vislumbrar, na valorização da diversidade,
oportunidades de crescimento para seu presente e futuro.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) possui dez competências gerais que
devem reger os currículos da Educação Básica, da Educação Infantil ao Ensino Médio.
A competência de número 6 – Trabalho e Projeto de vida – pretende que o estudante
se aproprie de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as
relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da
cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e
responsabilidade.

Por não possuir um componente curricular de aplicação específica, esta competência,


assim como as demais, deve ser contemplada por todas as áreas, cada uma
descobrindo a melhor abordagem e diálogo com o seu conteúdo programático, tendo o
aluno como protagonista do processo de aprendizagem. Como abordar, então, um
tema tão pessoal na sala de aula? As Oficinas de Projeto de Vida e Orientação
Vocacional vêm ao encontro deste desafio.

Objetivos:
1- Refletir sobre a importância de um Projeto de Vida e identificar o seu Sistema
Representacional;
2- Refletir sobre a importância do Autoconhecimento para a construção do seu Projeto de
Vida;
3- Refletir sobre suas aspirações e competências, tendo em vista sua inserção no
mercado de trabalho.

Metodologia das Oficinas:


 Assessoria: prof. Douglas Cabral Dantas + responsável técnico (professor ou
coordenador) indicado pela escola;
 Carga horária das Oficinas = 12 horas distribuídas em 3 módulos de 4 horas cada
(recomendável intervalo de 1 semana entre os módulos);
 Público-alvo: alunos de 2º ano do Ensino Médio de escolas públicas que, após terem
concluído a Oficina, se tornariam replicadores da metodologia para os demais alunos
do Ensino Médio da sua escola, trabalhando em duplas;
 Número máximo de participantes = 20 alunos por escola (recomendável 60% do sexo
feminino);
 Total de Oficinas = 10 (uma ou mais Oficinas por escola, dependendo do universo de
alunos do Ensino Médio a ser atingido);
 Designação das escolas que receberiam a(s) Oficina(s): por indicação da Secretaria
de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia, através da FAPESQ;
 Âmbito das escolas: capital e/ou interior do Estado;
 Público-alvo total = 200 alunos + 10 responsáveis técnicos;
 Carga horária total do Projeto = 120 horas.

Conteúdo programático:

 Módulo 1: Apresentação dos participantes e do projeto da Oficina (justificativa,


objetivos e metodologia) / Combinados para o melhor aproveitamento dos trabalhos /
Introdução sobre Projeto de Vida (PV): questões norteadoras / Ferramenta do Sistema
Representacional e devolutiva / Para-casa: Perfil Comportamental / Avaliação do
módulo.
 Módulo 2: Perfil Comportamental: fundamentação teórica e devolutiva / Mosaico
Biográfico: fundamentação teórica, aplicação e devolutiva / Para-casa: Mapa de
Competências / Avaliação do módulo;
 Módulo 3: Mapa de Competências: fundamentação teórica e devolutiva / 3
Ferramentas: O Protagonista + Traçando Caminhos + Tabuleiro das Profissões /
Avaliação do módulo e da Oficina.

Recursos didáticos:
 Sala ampla com cadeiras em círculo;
 Computador e Datashow;
 Papel ofício (1 resma);
 Canetas de colorir;
 Pincel atômico e quadro branco.

Referências:

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2017.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo 2010. Disponível


em: IBGE | Censo 2010.

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