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O que é Literatura?

A literatura (do latim littera, que significa “letra”) é uma das manifestações


artísticas do ser humano, ao lado da música, dança, teatro, escultura,
arquitetura, dentre outras.
Ela representa comunicação, linguagem e criatividade, sendo considerada a arte
das palavras.

Trata-se, portanto, de uma manifestação artística, em prosa ou verso, muito


antiga que utiliza das palavras para criar arte, ou seja, a matéria prima da
literatura são as palavras, tal qual as tintas é a matéria prima do pintor.

Veja também: Tipos de Arte


De tal maneira, o conceito de literatura também pode compreender o conjunto
de estórias fictícias inventadas por escritores em determinadas épocas e lugares,
sejam poemas, romances, contos, crônicas, novelas.

Entenda melhor a Periodização Literária em: Estilos de Época

Os textos literários possuem uma função muito importante para o ser humano,
de forma que provocam sensações e produzem efeitos estéticos os quais nos
fazem entender melhor nós mesmos, nossas ações bem como a sociedade em
que vivemos. Segundo o crítico literário Afrânio Coutinho:

"A Literatura é, assim, a vida, parte da vida, não se admitindo possa haver conflito
entre uma e outra. Através das obras literárias, tomamos contato com a vida, nas
suas verdades eternas, comuns a todos os homens e lugares, porque são as verdades
da mesma condição humana."

Nesse sentido, devemos lembrar que o conceito de literatura foi se alterando ao


longo do tempo, e seu significado tal qual conhecemos hoje, é diferente da visão
clássica de antanho.

Para o filósofo Grego Aristóteles, um dos primeiros a focar nos estudos sobre
essa arte: “A Arte literária é mimese (imitação); é a arte que imita pela palavra”.

Com efeito, o conceito de literatura foi se ampliando e abrangendo assim,


diversos textos que englobam os gêneros literários que hoje conhecemos:
literatura infantil, literatura de cordel, literatura marginal, literatura erótica,
dentre outros.

Função da Literatura
A arte literária representa recriações da realidade produzidas de maneira
artística, ou seja, que possui um valor estético, donde o autor utiliza das palavras
em seu sentido conotativo (figurado) para oferecer maior expressividade,
subjetividade e sentimentos ao texto.
Dessa forma, a literatura possui um importante papel social e cultural envolvido
no contexto em que fora criada, posto que abarca diversos aspectos de
determinada sociedade, dos homens e de suas ações e, portanto, que provoca
sensações e reflexões do leitor. Para o filósofo francês Louis-Gabriel-Ambroise,
Visconde de Bonald: “A literatura é a expressão da sociedade, como a palavra é a
expressão do homem. ”

Texto Literário e Não Literário


Nem todo texto possui uma linguagem literária, ou seja, não possui um caráter
ficcional, subjetivo e cheio de significados (plurissignificação), emoções,
sensações e desejos. Para compreender melhor essa diferença vejamos os
exemplos abaixo:

Exemplo 1
“Poema tirado de uma notícia de jornal” de Manuel Bandeira
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num
barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.”
Exemplo 2
“Foi encontrado essa manhã na Lagoa Rodrigo de Freitas, o corpo do carregador
de feira livre conhecido como João Gostoso. Testemunhas afirmam que João era
habitante do morro da Babilônia e na noite passada, estava no bar Vinte de
Novembro, do qual saiu bêbado. As autoridades analisarão as provas para
verificar se o ocorrido se trata de homicídio ou suicídio.”

Segundo os exemplos acima podemos notar a diferença entre os textos literários


e não literários. De tal maneira, o primeiro exemplo envolve uma linguagem
literária e subjetiva em forma de poema, a qual possui uma expressividade
induzida pelo escritor.

Já o segundo exemplo nos informa sobre o acontecimento, a partir de uma


linguagem utilizada nos textos jornalísticos, que possui uma função informativa
e não literária.
Texto Literário e Não Literário
A forma de linguagem e a apresentação da informação estão entre as diferenças
do texto literário do não literário.

O texto literário é aprestado em uma linguagem pessoal, envolta em emoção,


emprego de lirismo e valores do autor ou do ser (ou objeto) retratado.
Já o texto não-literário tem como marca a linguagem referencial e, por isso,
também é chamado de texto utilitário.
Em resumo, o texto literário é destinado à expressão, com a realidade
demonstrada de maneira poética, podendo haver subjetividade.

O texto não literário, contudo, é marcado pelo retrato da realidade desnuda e


crua. É possível tratar sobre o mesmo assunto nas duas formas de texto e
apontar o tema ao receptor sem prejuízo a informação.

Diferenças
Texto Literário Texto Não Literário

A linguagem empregada é de conteúdo pessoal, cheia de emoções e Uso da linguagem impessoal,


valores do emissor e há o emprego da subjetividade objetiva em linha reta

Emprego da linguagem multidisciplinar e cheia de conotações Linguagem denotativa

Linguagem poética, lírica, expressa com objetivos estéticos na


Representação da realidade
recriação da realidade ou criação de uma realidade intangível,
tangível
somente literária

Atenção, prioridade à
Primor da expressão
informação

Exemplos de Texto Não Literário


Texto 1:
História - Seca, fenômeno secular na vida dos nordestinos

A história das secas na região Nordeste é uma prova de fogo para quem lê ou
escuta os relatos que vêm desde o século 16.

As duras consequências da falta de água acentuaram um quadro que em


diversos momentos da biografia do semiárido chega a ser assustador: migração
desenfreada, epidemias, fome, sede, miséria.

Os relatos de pesquisadores e historiadores datam da época da colonização


portuguesa na região.
Até a primeira metade do século 17, quem ocupava as áreas mais interioranas
do semiárido brasileiro era a população indígena. Uma das primeiras secas que
se tem notícia aconteceu entre 1580 e 1583.

(Revista Ipea, Ano 6. Edição 48 - 10/03/2009, por Pedro Henrique Barreto).

Texto 2:
O golpe de 1964 e a instauração do regime militar

Na madrugada do dia 31 de março de 1964, um golpe militar foi deflagrado


contra o governo legalmente constituído de João Goulart.

A falta de reação do governo e dos grupos que lhe davam apoio foi notável. Não
se conseguiu articular os militares legalistas.

Também fracassou uma greve geral proposta pelo Comando Geral dos
Trabalhadores (CGT) em apoio ao governo. (CPDOC - FVG - O Golpe de 1964)

Exemplos de Texto Literário


Texto 1:
Asa Branca (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira - 1947)

Quando olhei a terra ardendo


Qual fogueira de São João
Eu perguntei, ai
Meu Deus do céu, ai
Por que tamanha
Judiação
Que braseiro,
Que fornalha,
Nenhum pé de plantação
Por falta d'água
Perdi meu gado
Morreu de sede
Meu alazão
Até mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Então eu disse:
Adeus, Rozinha
Guarda contigo
Meu coração
E hoje longe muitas léguas
Numa triste solidão
Espero a chuva
Cair de novo
Pra eu voltar
Pro meu sertão
Quando o verde dos teus olhos
Se espalhar na plantação
Eu te asseguro
Não chores não, viu
Que eu voltarei, viu
Meu coração
Eu te asseguro
Eu te asseguro
Meu coração
Eu te asseguro
Eu voltarei
Pro meu sertão
Texto 2:
Meu Caro Amigo (Chico Buarque - 1976)

Meu caro amigo me perdoe, por favor


Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
“A Literatura é a arte
que se manifesta pela
palavra, seja ela
falada ou escrita.”

Como surgiram os gêneros literários?


A classificação dos gêneros literários foi proposta na antiguidade clássica pelo
filósofo grego Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) em sua obra Poética. Segundo ele:

 O gênero lírico representava a “palavra cantada”, pois, antigamente, os


textos literários eram recitados e acompanhados por instrumentos
musicais.
 O gênero épico significava a “palavra narrada”, pois retratava os
acontecimentos grandiosos de um herói em poemas extensos chamados
de epopeias. Com o tempo, esse gênero se expandiu e atualmente ele é
chamado de “narrativo”.
 O gênero dramático que simbolizava a “palavra representada” e reunia
textos escritos para uma peça teatral.

Gêneros Literários
Os gêneros literários são categorias da literatura que englobam os diversos tipos
de textos literários segundo sua forma e conteúdo.

Tanto o conceito de literatura se modificou ao passar do tempo como o de


gênero literário, uma vez que os gêneros literários, abordado por Aristóteles,
eram classificados de três maneiras, semelhante ao que conhecemos hoje,
embora possua diferenças.

De acordo com o esquema proposto por Aristóteles, os gêneros literários eram


divididos em: Lírico (“palavra cantada”), Épico (“palavra narrada”) e Dramático
(“palavra representada”).

Atualmente, o gênero épico, que envolvia as narrativas históricas baseado nas


lendas e na mitologia, foi substituído pelo gênero narrativo. Sendo assim, os
gêneros literários são classificados em:

 Gênero Lírico: possui um caráter sentimental com presença do eu lírico,


por exemplo, as poesias, odes e sonetos.
 Gênero épico / Narrativo: possui um caráter narrativo, ou seja, envolve
narrador, personagens, tempo e espaço, por exemplo, os romances,
contos e novelas.
 Gênero Dramático: possui um caráter teatral, ou seja, são textos para
serem encenados, por exemplo, tragédia, comédia e farsa.

Gênero Lírico

O Gênero Lírico é um dos três gêneros literários, ao lado do gênero dramático e


épico. Do latim, o termo “lyricu” faz referência a “lira”, instrumento utilizado para
acompanhar as poesias cantadas.
No tocante à forma, o gênero lírico é basicamente composto por poesia (texto
em verso), em detrimento dos outros gêneros que são encontrados mais na
prosa.
Já no conteúdo, o gênero lírico utiliza do lirismo para desenvolver temas mais
subjetivos relacionados ao amor e a natureza.

Principais Características
 Poesia (escrita em versos)
 Subjetividade
 Sentimentalidade, emotividade e afetividade
 Metrificação e rima
 Musicalidade

Eu Lírico
O eu lírico (também chamado de "sujeito lírico" ou "eu poético"), diferente do
autor do texto (pessoa real) é uma entidade fictícia (pode ser feminino ou
masculino), uma criação do poeta, que faz o papel de narrador ou enunciador do
poema. Em outros termos, o eu lírico representa a "voz da poesia".

Para entender melhor esse conceito, basta lembrar das cantigas de amigos
trovadorescas, escritos pelos trovadores, em que o eu-lírico é feminino, cuja voz
feminina aparece como a pessoa que escreve o texto. Assim, não devemos
confundir a voz do autor (sujeito autobiográfico) com a voz do poema (sujeito
poético).

No caso do gênero lírico, o eu lírico expressa suas emoções e impressões por


meio de seu mundo interior e por isso, geralmente aparece escrito com verbos e
pronomes na primeira pessoa.

Exemplos de Textos Líricos


 Soneto: o termo ‘sonetto’, do italiano, significa ‘pequeno som’. Ele é
formado por 14 versos (4 estrofes), donde 2 são quartetos (estrofe
formada por 4 versos) e 2 são tercetos (estrofe formada por três versos),
 Haicai: originários no Japão, os haicais são poemas breves compostos de
três versos (17 sílabas) e geralmente apresentam temática referente à
natureza.
 Ode: poema de exaltação sobre algo, geralmente de personagens. Do
grego, o termo “ode” significa “canto”.
 Hino: semelhante a ode, o hino é um poema de exaltação e glorificação,
no entanto, a temática envolve divindades e a pátria.
 Sátira: poesia que ridiculariza diversos temas seja no âmbito, social,
político, econômico, etc.
 Elegia: são poemas tristes que tem como temática a morte, o amor não
correspondido, dentre outros. Do grego, a palavra “elegia” significa “canto
triste”.
 Écloga: poesia pastoril que retrata a vida bucólica (do campo), sendo
composta, muitas vezes, por diálogos.
 Idílio: Semelhante a écloga, o idílio é uma poesia pastoril, no entanto,
destituído de diálogos.

Exemplo de texto do gênero lírico


O Soneto da fidelidade, de Vinicius de Moraes, é um poema de forma fixa
composto por catorze versos (dois quartetos e dois tercetos). Nele, o autor
expõe seus sentimentos relacionados com o amor e a fidelidade.

De tudo, ao meu amor serei atento


Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento


E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure


Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):


Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Gênero Narrativo
O gênero narrativo é um gênero literário moderno em prosa, que tem como
intuito narrar uma história. Para um texto ser considerado narrativo, ele precisa
conter esses elementos:

 Enredo - história que narra uma sucessão dos acontecimentos.


 Narrador - aquele que narra a história.
 Personagens - pessoas que estão presentes na história.
 Tempo - o período em que acontece a história.
 Espaço - local onde se passa a história.

Em sua origem, o gênero narrativo era chamado de “gênero épico”, pois incluía
as narrativas histórico-literárias de grandes acontecimentos, chamadas de
epopeias.

Alguns subgêneros de textos narrativos são:


 Epopeia - narrativa longa sobre fatos grandiosos de um herói ou de um
povo.
 Romance - narrativa extensa escrita em prosa que revela ações de
personagens dentro de uma história.
 Novela - escrita em prosa, é uma narrativa longa, porém mais breve e
mais dinâmica que o romance.
 Conto - escrito em prosa, é uma narrativa mais objetiva e curta que a
novela e o romance.
 Crônica - narrativa breve que focam em acontecimentos do cotidiano.
 Fábula - narrativa fantasiosa que procura ensinar sobre algo.

Exemplo de texto do gênero narrativo


A Rã e o Boi, fábula de Esopo, traz o seguinte ensinamento: "quem tenta parecer
maior do que é se arrebenta".

Uma rã estava no prado olhando um boi e sentiu tal inveja do tamanho dele que
começou a inflar para ficar maior.
Então, outra rã chegou e perguntou se o boi era o maior dos dois.
A primeira respondeu que não – e se esforçou para inflar mais.
Depois, repetiu a pergunta:
– Quem é maior agora?
A outra rã respondeu:
– O boi.
A rã ficou furiosa e tentou ficar maior inflando mais e mais, até que arrebentou.

Gênero Épico
O Gênero Épico (ou Gênero Narrativo) é um gênero literário considerado como
a mais antiga manifestação literária.
Do grego, “epikós” faz referência à narrativa feita em versos que retrata
acontecimentos grandiosos (seja fatos históricos reais, lendários ou mitológicos),
vinculados à figura de um herói, considerado um semideus, isto é, um ser
superior dotado de superpoderes.

Origem do Gênero Épico


O gênero épico surgiu na Antiguidade por volta do século VII a.C., sendo os
grandes representantes Homero, poeta grego considerado o fundador da poesia
épica, com suas obras “Ilíada” e “Odisseia”; e Virgílio, poeta romano, com sua obra
“Eneida”.

Na Idade Média, o grande representante do gênero foi o poeta italiano Dante


Alighieri, com sua obra a “Divina Comédia”. Na Idade Moderna, o poeta
português Luís de Camões destacou-se com a obra “Os Lusíadas”.

Principais Características
 Poema longo (narrativa em verso)
 Texto narrativo
 Verbos e acontecimentos no passado
 Mitologia greco-romana
 Sobrenatural

Exemplos de Textos Épicos


 Ilíada
 Odisseia
 Eneida
 Os Lusíadas de Luís de Camões
 A Divina Comédia

Estrutura das Epopeias


As epopeias designam poemas narrativos heroicos bem extensos, os quais
remetem aos feitos históricos ou temas mitológicos. Possuem uma estrutura
fixa, tal qual o poema de Camões “Os Lusíadas”, divididas em cinco partes:

 Proposição (ou exórdio): introdução da obra, onde se apresentam o herói


da trama, bem com o assunto que será abordado.
 Invocação: momento de invocação para que as divindades auxiliem o
herói da epopeia.
 Dedicatória: parte em que é a epopeia é dedicado a alguém.
 Narração: parte mais longa da epopeia, onde estão relatadas todos os
feitos do herói.
 Epílogo: encerramento da narrativa.

O que é epopeia?

A epopeia, ou poema épico, é uma estrutura poética,


do gênero narrativo. Em resumo, é uma história contada em versos em
vez de prosa. Sua origem remonta à Antiguidade e tem o
poeta Homero como seu principal nome. Esse tipo de narrativa é marcado
por aventuras e heroísmo. Portanto, o principal elemento de uma epopeia
é a presença de um herói como protagonista.

Esse herói não é valorizado por suas características individuais, mas


naquilo que o torna um representante do povo a que pertence. A
epopeia, dessa forma, caracteriza-se como uma narrativa solene que
objetiva enaltecer determinado povo com base nos feitos heroicos de seu
protagonista. Assim, suas qualidades — pois o herói é um modelo de
virtude — são também as qualidades de seu povo.

O protagonista heroico das epopeias tem sempre uma missão difícil a


cumprir, o que ressalta o seu heroísmo diante das dificuldades
extraordinárias que precisa enfrentar para realizar aquilo a que está
destinado. Nesses longos poemas narrativos, as grandes aventuras do
herói estão também associadas a fatos históricos.
A Ilíada e a Odisseia, atribuídas a Homero, são consideradas, pelos
estudiosos, as epopeias mais importantes, que datam aproximadamente
do século VIII a. C. Por isso, são chamadas de epopeias primárias. Desse
modo, inspirados pelas narrativas de Homero, séculos depois, outros
autores criaram seus poemas épicos, como a Eneida  (século I a. C.), de
Virgílio, e Os  lusíadas  (1572), de Luís Vaz de Camões. Estas foram
chamadas, portanto, de epopeias secundárias.

Aquiles e Heitor lutando na guerra de Troia.


Os poemas épicos entraram em decadência no século XVIII. Como
exemplo, podemos citar, nesse século, as epopeias brasileiras O
Uraguai (1769), de Basílio da Gama (1741-1795), e Caramuru (1781), de Frei
José de Santa Rita Durão (1722-1784). Logo depois, o romance tomou o
seu lugar, tratando-se da narrativa em prosa, em que o heroísmo é
construído baseado em uma perspectiva mais individual e menos
representativa de uma nação.

Não obstante, além dos principais poemas épicos já mencionados, existe


a Epopeia de Gilgamesh. Ela conta a história de Gilgamesh, rei de Uruk,
que, segundo Jeffrey H. Tigay|1|, foi rei durante o início do período da
segunda dinastia, aproximadamente 2700-2500 a. C.  Ainda, de acordo com
Franco D’Agostino|2|, é o documento mais antigo produzido pela
humanidade, mais antigo do que as obras de Homero.

Características de uma epopeia


A estrutura de um poema épico clássico é a seguinte:

 A epopeia não é dividida em capítulos, mas em cantos.


 No início da obra, há uma proposição ou prólogo, em que a
temática e o nome do herói são revelados pelo narrador.
 É também feita a invocação, quando o narrador pede inspiração a
alguma divindade; normalmente, à Musa.
 Pode haver uma dedicatória, em que a obra é dedicada a uma ou
mais pessoas importantes.
 Na sequência, temos a narração das aventuras do herói.
 Por fim, há a conclusão ou epílogo, o encerramento da história.

Zeus, o deus do Olimpo.


Já os elementos que compõem essa narrativa são:

 O herói, protagonista da obra, corajoso e com valores nobres.


 Os obstáculos que o impedem de cumprir sua missão, os quais
ele precisa superar.
 A presença de deuses ou seres mitológicos que auxiliam ou
dificultam a vida do herói.
 Fatos extraordinários e grandes perigos, que colocam em
destaque o heroísmo do protagonista.
 A superioridade humana do herói inspira os leitores ou ouvintes a
valorizarem a tradição de seu povo.
Veja também: Literatura de cordel – assim como a epopeia, é elaborada
em versos

Exemplos de epopeia

No início do “Canto I”, da Ilíada, de Homero, com tradução de Manoel


Odorico Mendes (1799-1864), podemos perceber, já no início, a invocação
à “deusa”. Nesse prólogo, o nome do herói Aquiles é mencionado, além
dos deuses Jove e Apolo, e a temática da epopeia é exposta — o conflito
entre gregos e troianos:

Canta-me, ó deusa, do Peleio Aquiles


A ira tenaz, que, lutuosa aos Gregos,
Verdes no Orco lançou mil fortes almas,
Corpos de heróis a cães e abutres pasto:
Lei foi de Jove, em rixa ao discordarem
O de homens chefe e o Mirmidon divino.
Nume há que os malquistasse? O que o Supremo
Teve em Latona. Infenso um letal morbo
No campo ateia; o povo perecia,
Só porque o rei desacatara a Crises.
Com ricos dons remir viera a filha
Aos alados baixéis, nas mãos o cetro
E a do certeiro Apolo ínfula sacra.
Ora e aos irmãos potentes mais se humilha:
“Atridas, vós Aqueus de fina greva,
Raso o muro Priâmeo, assim regresso
Vos deem feliz do Olimpo os moradores!
Peço a minha Criseida, eis seu resgate;
Reverentes à prole do Tonante,
Ao Longe-vibrador, soltai-me a filha”.
Que, aceito o preço esplêndido, se acate
O sacerdote murmuraram todos;
[…].

A seguir, um trecho do “Canto X”, da Odisseia, de Homero, com tradução


de Manoel Odorico Mendes. Nesse canto, Circe convida os enviados
de Ulisses (ou Odisseu) a entrarem em seu palácio e transforma-os em
porcos. O herói vai salvar os companheiros e, nessa aventura, acaba
sendo seduzido pela feiticeira:
[...]
Num vale acham marmóreo insigne paço,
Que cercam lobos e leões, de Circe
Com peçonha amansados: contra a gente
Não remeteram de unhas lacerantes,
Sim alongando a cauda os afagaram,
Como festejam cães o meigo dono
Que lhes traz do banquete algum bocado;
Mas, a tal vista, ao pórtico medrosos
Retiveram-se os Gregos. Dentro ouviam
Cantar suave a crinipulcra Circe,
Teia a correr brilhante, que só deusas
Lavram tão fina e bela. Eis diz Polites,
Chefe que eu mais prezava: “No alto, amigos,
Mulher ou deusa tece; o pavimento
Ressoa todo ao cântico: falemos”.
Gritam; Circe aparece, e abrindo as portas
Resplendentes, convida esses incautos;
Só, receoso, Euríloco repugna.
Senta-os a deusa em tronos e camilhas;
Escândea e queijo com Paneio vinho
Mistura e fresco mel, poção lhe ajunta
Que deslembra da pátria. Mal a engolem,
Toca-os de vara, na pocilga os fecha,
Porcos sendo no som, no vulto e cerdas,
A inteligência embora conservassem.
Tristes grunhindo, a maga lhes atira
Glande, azinha e cornisolo, sustento
Próprio desses rasteiros foçadores.
Veio Euríloco à pressa anunciar-nos
O caso infando, que articula apenas
Pela força da dor, pois lhe excitava
Luto no coração, água nos olhos;
[...].
Já, pelo sacro bosque, avisto o alcáçar
Da venéfica Circe, quando o nume
Do caduceu me encontra, afigurado
Num gentil gracioso adolescente;
Ele trava-me a destra: “Ignotos serros,
Mísero, andas sozinho? os teus, quais porcos,
Os tem Circe em fortíssimo escondrijo.
Vens tu livrá-los? sorte igual te espera.
Antídoto haverás, que te preserve
Da encantadora. Seus ardis aprende:
Num misto lançará sutil veneno, […]”.

Já da Eneida, de Virgílio, com tradução de Manoel Odorico Mendes,


selecionamos o “Canto XII”, o epílogo, em que o herói troiano
Eneias tem sua última batalha, contra Turno, na guerra entre latinos e
troianos:

[…]

Lança estremece, de evadir-se o meio


Nem contra o seu rival já vê recurso,
Nem mais a auriga irmã, nem mais seu carro.
Enquanto hesita, o lanço Eneias mede,
A hasta vibra fatal, forceja e solta:
Nunca assim fremem do mural trabuco
Jogadas rochas, nem trovão rebrama:
Qual furacão letífera voando,
Da cota as orlas e os extremos orbes
Do septêmplice escudo a estrugir fura,
E a coxa lhe traspassa. Ao bote o moço,
Inflexa a curva, tomba; os seus alteiam
Mesto clamor; remuge inteiro o monte,
E na selva o lamento amplo reboa.
Turno olha humilde, súplice ergue a destra:
“Bem mereço, é teu jus, perdão não peço;
Mas, se de um pai (de Anquises te relembres)
Comove-te a velhice, a Dauno eu rogo
Me entregues, se não vivo, ao menos morto.
Venceste, e viu-me enfim a Itália toda
As palmas levantar: Lavínia é tua;
Os ódios não requintes”. O acre Eneias
Para, os olhos volteia, a mão reprime:
Iam-no as preces quase enternecendo,
[…].
Vasco da Gama
(1469-1524), o herói de “Os lusíadas”, de Luís Vaz de Camões.
Por fim, um trecho do “Canto I”, de Os  lusíadas, de Luís Vaz de Camões,
em que o narrador apresenta o herói Vasco da Gama, que, com sua
tripulação, chega à ilha de Moçambique:

Vasco da Gama, o forte Capitão,


Que a tamanhas empresas se oferece,
De soberbo e de altivo coração,
A quem Fortuna sempre favorece,
Pera se aqui deter não vê razão,
Que inabitada a terra lhe parece.
Por diante passar determinava,
Mas não lhe sucedeu como cuidava.

Eis aparecem logo em companhia


Uns pequenos batéis, que vêm daquela
Que mais chegada à terra parecia,
Cortando o longo mar com larga vela.
A gente se alvoroça e, de alegria,
Não sabe mais que olhar a causa dela.
— “Que gente será esta?” (em si diziam)
“Que costumes, que Lei, que Rei teriam?”

As embarcações eram na maneira


Mui veloces, estreitas e compridas;
As velas com que vêm eram de esteira,
Duas folhas de palma, bem tecidas;
A gente da cor era verdadeira
Que Fáeton, nas terras acendidas,
Ao mundo deu, de ousado e não prudente
(O Pado o sabe e Lampetusa o sente).

De panos de algodão vinham vestidos,


De várias cores, brancos e listrados;
Uns trazem derredor de si cingidos,
Outros em modo airoso sobraçados;
Das cintas pera cima vêm despidos;
Por armas têm adagas e tarçados;
Com toucas na cabeça; e, navegando,
Anafis sonorosos vão tocando.

Cos panos e cos braços acenavam


Às gentes Lusitanas, que esperassem;
Mas já as proas ligeiras se inclinavam,
Pera que junto às Ilhas amainassem.
A gente e marinheiros trabalhavam
Como se aqui os trabalhos s’acabassem:
Tomam velas, amaina-se a verga alta,
Da âncora o mar ferido em cima salta.
[...]
Gênero Dramático

O Gênero Dramático (ou Teatral) faz parte de um dos três gêneros literários, ao


lado do gênero lírico e épico.
No entanto, o gênero dramático, como o próprio nome indica, são os textos
literários feitos com o intuito de serem encenados ou dramatizados. Do grego, a
palavra “drama” significa “ação”.

Origem
Desde a Antiguidade o gênero dramático, originário na Grécia, eram textos
teatrais encenados essencialmente como culto aos deuses, os quais eram
representados nas festas religiosas.

Entre os principais autores do gênero dramático (tragédia e comédia) na Grécia


antiga estão: Sófocles (496-406 a.C.), Eurípedes (480-406 a.C.) e Ésquilo (524-
456 a.C.).
A encenação dos textos de gênero dramático tinha o objetivo de despertar
emoções na plateia, fenômeno chamado de "catarse".

Saiba mais sobre a origem desse gênero, com a leitura dos artigos:
 Teatro Grego
 Comédia Grega
 Tragédia Grega
Principais Características
 Encenação cênica (linguagem gestual e sonoplastia)
 Presença de diálogos e monólogos
 Predomínio do discurso em segunda pessoa (tu, vós)

Entenda O que é Monólogo.

Estrutura Dramática
Os autores desse tipo de texto são chamados de dramaturgos, que junto aos
atores (que encenam o texto), são os emissores, e por sua vez, os receptores são
o público.
Assim, os textos dramáticos, além de serem constituídos
de personagens (protagonistas, secundárias ou figurantes), são compostos
pelo espaço cênico (palco teatral e cenários) e o tempo.
Geralmente, os textos destinados ao teatro possuem uma estrutura interna
básica, a saber:

 Apresentação: faz-se a exposição tanto dos personagens quanto da ação


a ser desenvolvida.
 Conflito: o momento em que surge as peripécias da ação dramática.
 Desenlace: Momento de conclusão, encerramento ou desfecho da ação
dramática.
Além da estrutura interna inerente ao texto dramático, tem-se a estrutura
externa do gênero dramático, tal qual os atos e cenas, de forma que o primeiro
corresponde à mudança dos cenários necessários para a representação,
enquanto o segundo, designa as mudanças (entrada ou saída) dos personagens.
Observe que cada cena corresponde a uma unidade da ação dramática.
Que tal saber mais sobre o tema?
 Texto Teatral
 Linguagem Teatral

Exemplos de Textos Dramáticos


 Tragédia: representação de acontecimentos trágicos, geralmente com
finais funestos. Os temas explorados pela tragédia são derivados das
paixões humanas, do qual fazem parte personagens nobres e heroicas,
sejam deuses ou semideuses.
 Comédia: representação de textos humorísticos que levam ao riso da
plateia. São textos de caráter crítico, jocoso e satírico. A principal temática
dos textos de comédia, envolvem ações cotidianas do qual fazem parte
personagens humanos estereotipados.
 Tragicomédia: união de elementos trágicos e cômicos na representação
teatral.
 Farsa: surgida por volta do século XIV, a farsa designa uma curta peça
teatral de caráter crítico, formada por diálogos simples e representada
por personagens caricaturais em ações corriqueiras, cômicas, burlescas.
 Auto: surgido na Idade Média, os autos são textos curtos de temática
cômica, os quais são geralmente formados por um único ato.

Exemplo de texto do Gênero dramático


O trecho de Romeu e Julieta, de William Shakespeare, aponta o local onde
acontece o diálogo entre dois personagens.

ATO PRIMEIRO - CENA I

Verona. Uma praça pública.

Entram Sansão e Gregório da casa dos Capuletos, com espadas e broquéis (Escudos
redondos e pequenos.).

SANSÃO – Palavra, Gregório, não carregaremos desaforos!


GREGÓRIO – Não, porque então nos tomariam por carregadores.
SANSÃO – Quero dizer que, se nos zangarmos, puxaremos a espada.
GREGÓRIO – Sim, porém procura, enquanto viveres, puxares teu pescoço para fora
do nó da forca.
SANSÃO – Bato logo, quando bolem comigo.
GREGÓRIO – Mas não bolem tão depressa que sejas levado a bater.
SANSÃO – Um cão da família dos Montecchios bole-me com os nervos.

Saiba mais sobre a origem e as categorias do gênero dramático:

 Teatro Grego
 Comédia Grega
 Tragédia Grega

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