Você está na página 1de 26

4 - Sintese de Terpenoides

A adição repetitiva de unidades em C5 é realizada por


preniltransferases

• As subclasses principais de terpenoides são biossintetizadas a partir da


unidade básica de cinco carbonos, o IPP e do difosfato de dimetilalilo, o
qual é formado por isomerização de IPP.

• Em reações catalisadas por preniltransferases, os monoterpenos (C10),


os sesquiterpenos (C15), e os diterpenos (C20) derivam dos
intermediários correspondentes, geranil-difosfato (GPP), farnesil-
difosfato (FPP) e geranil-geranil-difosfato (GGPP) respetivamente, pela
adição “head-to-tail” sequencial de unidades com C5.

• Os triterpenos (C30) são formados a partir de duas unidades de C15


(farnesil) unidas cabeça-com-cabeça, e os tetraterpenos (C40) formam-
se a partir de duas unidades de C20 (geranilgeranil) unidas cabeça-com-
cabeça.
Biosintese das principais classes de terpenoides
• As classes principais de
terpenoides são
biossintetizadas a partir do
IPP e de dimetilalil (formado
por isomerização do IPP)

• As preniltransferases
catalizam a formação de
mono (C10), sesqui (C15) e di
(C20) terpenos a partir da
adição sequencial (cabeça-
cauda) de IPP

• Os triterpenos (C30) são


formados a partir da junção
de 2 C15 (cabeça-cabeça)

• Os tetraterpenos (C40) são


formados a partir da junção
de 2 C20 (cabeça-cabeça)
• Uma característica fundamental, e talvez universal, da organização do
metabolismo dos terpenoides existe ao nível subcelular.

• Os sesquiterpenos (C15), os triterpenos (C30), e os politerpenos parecem


ser produzidos no citosol e no retículo endoplasmático (ER).

• Os monoterpenos (C10), os diterpenos (C20), os tetraterpenos (C40), e


certas quinonas preniladas têm origem, em grande parte, se não
exclusivamente, nos plastos.

• Os dados indicam que as vias de biossíntese para a formação do precursor


essencial IPP diferem marcadamente nestes compartimentos, com a via do
acetato/ mevalonato a estar ativa no citosol e no ER e a via do
gliceraldeído-3P/ piruvato a operar nos plastos.
• A regulação destas vias
duplas pode ser difícil
de avaliar, dado que os
plastos podem fornecer
IPP ao citosol e vice-
versa.

• As mitocôndrias, um terceiro compartimento, pode sintetizar as


ubiquinonas preniladas pela via de acetato/ mevalonato, embora pouco
se saiba sobre a capacidade destes organelos sintetizarem terpenoides.
Tal como a síntese do precursor de terpenóides IPP, a biossíntese de
terpenóides também é compartimentada

• As plantas produzem uma variedade muito maior de terpenóides do que os


animais ou os microrganismos, esta diferença reflete-se na organização
complexa da biossíntese de terpenoides, quer ao nível do tecido quer ao
nível celular, subcelular e genético.

• A produção de grandes quantidades de


terpenóides, bem como a sua subsequente
acumulação, emissão, ou secreção está quase
a- Geranium leaf oil gland
sempre associada à presença de estruturas
anatomicamente muito especializadas:
- tricomas glandulares (a and b)
- cavidades secretoras das folhas (c)
- epidermes glandulares das pétalas de flores, b-Thyme leaf oil gland
que sintetizam e acumulam ou emitem óleos
essênciais terpenoides que são importantes
para a polinização por insetos.
c- Lemon secretory cavities
a
• Os canais de resina (a, b e c) nas coníferas e
pinheiros produzem e acumulam uma resina
defensiva que consiste em terebentina (olefinas -
monoterpenos) e resina (ácidos de resina
diterpenóides).
b
• Os triterpenóides que são ceras superficiais são
formados e excretados em células epidérmicas
especializadas, e os laticíferos produzem
determinados triterpenos e politerpenos, como a
borracha.

c
• Estas estruturas especializadas sequestram
compostos secundários longe de processos
metabólicos sensíveis, evitando assim a
autotoxicidade. A maioria das estruturas deste
tipo não têm atividade fotossintética e devem,
portanto, depender de células adjacentes para
fornecer o carbono e a energia necessários para
a biossíntese dos terpenóides. Resin ducts: a) leaf; b) steam; c) duct
• As reações eletrofílicas de alongamento que formam difosfatos de prenilo
em C10, C15 e C20 são catalisadas por enzimas conhecidas coletivamente
como preniltransferases.

• O GPP, o FPP, e o GGPP são formados por preniltransferases específicas


designadas a partir dos seus produtos (por exemplo, farnesil difosfato
sintase).

• A nova ligação dupla alílica introduzida no decurso da reação da prenil-


transferase é comum na geometria trans, embora nem sempre seja assim,
a transferase responsável pela biossíntese de borracha introduz ligações
cis duplas, que são responsáveis pela elasticidade do polímero.

• As reações de prenilação não estão limitadas a alongamentos envolvendo


o IPP; o mesmo mecanismo permite a ligação das cadeias laterais
preniladas a átomos de C, O, N, ou S numa ampla gama de compostos não
terpenoides, incluindo proteínas.
 A enzima limoneno sintase é um modelo da ação das
monoterpeno sintases

• As famílias de enzimas responsáveis pela formação de terpenóides a


partir de GPP, FPP, e GGPP são conhecidos como monoterpeno,
sesquiterpeno e diterpeno-sintases, respetivamente.

• Estas sintases usam os difosfatos de prenilo correspondentes como


substratos para formar a enorme diversidade de esqueletos de carbono
característicos dos terpenóides.

• A maioria dos terpenóides são cíclicos, e muitos contêm vários sistemas


de anéis, as suas estruturas básicas são determinadas por sintases
altamente específicas.

• As terpenóide sintases que produzem produtos cíclicos são também


designadas como "ciclases," embora também sejam conhecidos
exemplos de sintases que produzem produtos acíclicos.
• Um conjunto • São conhecidas
diversificado de as sintases que
monoterpeno- produzem
sintases foi olefínas
isolado a partir de acíclicas (e.g.
espécies que mirceno) e
produzem óleos produtos
em angiospérmi- bicíclicos (α- e
cas e resina em β-pineno) a
gimnospérmicas partir do GPP.

• A reação mais • Também são


simples catalisada conhecidas as
por uma enzimas que
monoterpeno transformam o
sintase é da GPP em
limoneno-sintase, derivados
sendo assim um oxigenados,
modelo útil para como 1,8-cineol
todos os e o bornilo
terpenóides difosfato que é
ciclizados o precursor de
Limoneno sintase
cânfora
• Uma característica interessante das monoterpeno-sintases é a capacidade
destas enzimas produzirem mais do que um produto; e.g. a pineno sintase
de várias plantas tanto produz α- como β-pineno.

• Os pinenos estão entre os monoterpenos mais comuns produzidos pelas


plantas e são os principais componentes da terebentina dos pinheiros e
dos abetos.

• Estes compostos são tóxicos para os insetos e para os seus fungos


simbiontes que são patogénicos para a planta, causando sérios danos a
espécies de coníferas em todo o mundo.

• Muitas coníferas respondem à infestação da casca por insetos com um


aumento da síntese de monoterpenos, um processo análogo à produção de
fitoalexinas antimicrobianas, quando as árvores estão sob o ataque de
agentes patogénicos.
• Outros monoterpenos têm funções bastante diferentes. Assim, o linalol e o
1,8-cineol emitidos pelas flores servem para atrair polinizadores, incluindo
abelhas, borboletas e morcegos.

• O 1,8-cineol e a cânfora atuam como dissuasores da alimentação foliar


para mamíferos herbívoros, como lebres e veados e também podem
proporcionar uma vantagem competitiva para várias espécies de
angiospérmicas como agentes alelopáticos ao inibirem a germinação das
sementes de outras espécies.

• As exceções ao padrão geral da união “head-to-tail” de unidades de


isopreno são os monoterpenos "irregulares". Um exemplo deste tipo é a
família de ésteres de monoterpenos chamados piretrinas inseticidas,
encontrados em espécies de Chrysanthemum e Tanacetum.

• Estes monoterpenóides, que exibem um união cabeça-com-meio das


unidades C5, têm uma ampla utilização como inseticidas comerciais devido
à sua baixa toxicidade para mamíferos e à sua persistência limitada no
ambiente.
 As sesquiterpeno sintases originam vários
compostos que funcionam na defesa das plantas
• Os mecanismos electrofílicos envolvidos na formação dos
sesquiterpenos C15 a partir de FPP, assemelham-se aos utilizados pelas
monoterpeno-sintases.

• A unidade C5 adicional e a ligação dupla do FPP também permitem a


formação de um número maior de estruturas do que na série dos
monoterpenos

• A sesquiterpeno sintase
mais conhecida é a
epiaristoloceno sintase

A sesquiterpene sintase de Artemisia annua L.


• Esta enzima cicliza o FPP e catalisa a migração de um grupo metilo para
produzir uma olefina precursora da fitoalexina capsidiol, que é induzida
pelo ataque de agentes patogénicos.

• A vetispiradieno sintase de batata fornece uma


olefina percursora da fitoalexina lubimina nesta
espécie, enquanto a δ-cadineno sintase de
algodão produz uma olefina percursora de um
composto de defesa importante o gossipol.

• Algumas sesquiterpeno sintases


envolvidas na produção da resina de
coníferas são capazes de produzir
individualmente mais de 25 olefinas
diferentes.
As diterpeno-sintases catalisam dois tipos distintos
de reações de ciclização
• Na transformação de GGPP em diterpenos ocorem dois tipos
fundamentalmente diferentes de reações enzimáticas de ciclização.

• Um exemplo deste tipo é a casbeno


sintase, que é responsável pela
produção da fitoalexina casbeno em
Ricinus communis.

• A abietadieno sintase de Abies


grandis exemplifica o segundo tipo
de ciclização

• A oxidação de um grupo metilo,


produz ácido abiético, um dos
ácidos de resina diterpenóides mais
comuns em coníferas e importante
para selar feridas nestas espécies.
A fossilização desta resina produz
âmbar.
 A síntese dos triterpenos prosegue a partir do
esqualeno, a síntese dos tetraterpenos do fitoeno
• Antes da ciclização ocorrer nos triterpenos (C30), duas moléculas de FPP
(C15) são 1º unidas cabeça-com-cabeça para produzir o esqualeno.

• O esqualeno é normalmente oxidado para formar o 2,3-epóxido,


oxidosqualeno, e em seguida, ciclizado numa reação que se inicia
com uma protonação para produzir, por exemplo, o cicloartenol,
um precursor de muitos outros
fitoesterois e de brassinosteroides.

• Também são conhecidos modos


alternativos de ciclização dos
triterpenos, tal como o
composto pentacíclico β-
amirina, o percursor
do ácido oleanólico,
encontrado na cera
superficial de vários
frutos.
Brassinosteroides

Os brassinosteroides (BRs) são Os BRs promovem o alongamento e a


hormonas esteroides polihidro- divisão celular.
xiladas. A brassinolida é o BR com
maior atividade.

A deficiencia na biossintese de
BR resulta em nanismo.
• Resultados preliminares sugerem que a biossíntese de sesquiterpenos e
triterpenos (ambos utilizam o FPP citosólico como precursor) é
mutuamente regulada durante a indução de respostas de defesa, de tal
modo que a produção de compostos de defesa com C15 é reforçada e a
síntese de C30 é reprimida.

• Os tetraterpenos (C40) são produzidos pela união de duas moléculas de


GGPP cabeça-com-cabeça para produzir 10C
fitoeno, de um modo análogo à formação de
esqualeno. A reação é catalisada pela fitoeno- 20C
sintetase.
40C

• Uma série de passos de


insaturação precede a
ciclização dos tetrater-
penos (carotenóides),
geralmente envolvendo a
formação de anéis com 6
lados no fim da cadeia
para produzir, por
exemplo, β-caroteno a
partir de licopeno.
 Modificação dos esqueletos terpenóides
• Alterações posteriores dos esqueletos oxid oxid
básicos iniciais produzidos pelas
terpenóide sintases são responsáveis por
gerar um grande número de terpenóides.
redução

• Estas transformações secundárias


vulgarmente envolvem oxidação, redução,
isomerização ou reações de conjugação, e
conferem propriedades funcionais às
moléculas de terpenóides.

• Muitas das hidroxilações ou epoxidações


envolvidas na introdução de átomos de oxigénio redução
nos esqueletos terpenóides são catalisadas por
citocromo P450 oxidases com função mista.

• A conversão de (-)-limoneno em (-)-mentol red red


na hortelã-pimenta e em carvona na
hortelã ilustra a bioquímica das
modificações que ocorrem nos
terpenóides.
 Alguns esqueletos terpenoides encontram-se
extensivamente substituídos
• Reações idênticas às ocorridas
na síntese de óleos essenciais
na hortelã geram muitos
compostos terpenóides com
interesse biológico.

• Estas reações convertem per-


cursores de olefinas sesquiterpenoi-
des em fitoalexinas, agentes
alelopáticos e atrativos da polinização.

• Outros sesquiterpenos
gerados pela modificação de
percursores de olefinas
incluem a juvabiona
um composto que apresenta atividade
hormonal em insetos jovens; a sirenina,
um “sperm attractant” de Allomyces; e
a artemisinina, uma droga antimalarica
potente de Artemisia annua.
• Após a introdução de um grupo hidróxilo, a oxidação subsequente
pode gerar uma função carboxílica, como a existente no ácido abiético
ou no ácido oleanólico e também fornece os elementos estruturais para
a formação do anel de lactona.

• Os sesquiterpenos que possuem


estes anéis de lactona, por exemplo a
costunolida, são produzidos e
acumulados nos tricomas glandula-
res sobre a superfície das folhas de
membros das Asteraceae, em que
alguns destes compostos servem
Lactuca sativa
como dissuasores alimentares para
insetos e mamíferos herbívoros.

• As lactonas monoterpenoides
incluem a nepetalactona (o princípio
ativo de Nepeta cataria e de uma
feromona de afídeos), e que são
formadas por uma reação de
ciclização bastante diferente da dos
outros monoterpenos. Nepeta cataria
• Uma sequência de
reações enzimáticas
converte o diterpeno-mãe
taxadieno em taxol; um
fármaco anticancerígeno
existente em espécies de
teixo, em que o núcleo
básico terpenóide é
extensivamente Taxus sp.
modificado por um
complexo padrão de
hidroxilações e acilações.

• Os estéres de forbol
(outro diterpeno muito
oxigenado) produzido por
espécies de
Euphorbiaceae são
substâncias com forte
poder irritante e que são
Euphorbia pulcherrima
co-carcinogénicas.
• Os limonóides são uma família de compostos nortriterpenoides
oxigenados anti-herbivoros. Tal como as lactonas sesquiterpenoides,
estas substâncias são muito amargas para os humanos e,
provavelmente, também para outros mamíferos.

• A azadiractina A é um antialimentar
poderoso para insetos. Este composto
é um limonóide altamente modificado
sintetizado em Azadirachta indica.

Azadirachta indica
• Outros produtos triterpenoides
oxigenados com propriedades
biológicas invulgares incluem as
fitoecdisonas, uma família de
esteróides vegetais que atuam como
hormonas e estimulam a muda nos
insetos. A ingestão de α-ecdisona por
insetos interrompe o ciclo de muda,
geralmente com consequências fatais.

Polypodium vulgare
• As saponinas, assim chamadas devido às
suas propriedades detergentes; e as
cardenolidas, que, como as saponinas,
são glicosídeos, porque contêm um ou
mais resíduos de açúcar ligados.

• As saponinas e as cardenolidas são


tóxicos para muitos herbívoros saponinas

vertebrados; esta família de compostos


inclui conhecidos venenos para peixes e
moluscos.

• Muitos destes compostos são também agentes


cardioativos e anticolesterolémicos com
importância farmacológica. A digitoxina, a glicona
(forma glicosilada) da digitoxigenina extraída da
dedaleira (Digitalis sp.), são amplamente usadas em
doses cuidadosamente prescritas para o tratamento Digitalis purpurea
da insuficiência cardíaca congestiva.
• A ampla gama de toxinas e dissuasores de insetos e vertebrados entre
os triterpenos modificados deixa poucas dúvidas quanto ao seu papel
na defesa das plantas.

• Curiosamente, alguns herbívoros desenvolveram meios para


contornar os efeitos tóxicos destes terpenóides e adaptaram-os aos
seus próprios mecanismos de defesa.

• Um exemplo clássico deste fenómeno é a borboleta monarca, que se


alimenta de Asclepias. Estas plantas contêm cardenolidas que são
tóxicas para a maioria dos herbívoros e que são frequentemente
associadas a intoxicação de mamíferos.

• As lagartas monarca, no entanto, alimentam-se de


Asclepias e acumulam as cardenolidas sem
efeitos nocivos aparentes. Como resultado, as
lagartas e as borboletas adultas contêm
cardenolidas suficientes para serem tóxicas aos
seus próprios predadores, como pássaros.

Asclepias incarnata
 Em direção à produção de terpenoides transgénicos
• Várias espécies agronomicamente importantes foram criadas
seletivamente para produzir quantidades relativamente baixas de
terpenoides de defesa com sabor desagradáveis; durante o processo,
estas cultivares perderam não apenas as capacidades de defesa, mas
também, em alguns casos, qualidades, tais como o sabor ou a cor.

• A reintrodução seletiva da defesa química terpenoide é certamente


concebível, tal como também o é a engenharia de vias metabólicas que
confiram propriedades de sabor desejáveis a legumes e frutos.
• Presentemente os exemplos de engenharia genética do metabolismo
de terpenóides são poucos, mas dois casos de sucesso estão
amplamente divulgados:

- O aumento da proporção dos isómeros de tocoferol benéfico


(vitamina E) em oleaginosas.

- O aumento da concentração de β-caroteno (precursor da vitamina


A) em grãos de arroz e sementes de colza através da manipulação
da via dos carotenóides.

• Noutro exemplo, no entanto, a sobrexpressão da enzima


que desvia o GGPP para a via de síntese dos
carotenóides em tomate transgénico, resultou num
fenótipo anão. Esta consequência não intencional,
resultou do esgotamento do precursor das giberlinas,
hormonas vegetais ligadas ao elongamento e divisão
celular.

Você também pode gostar