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MAPA E BÚSSOLA: DOS POTENCIAIS ÀS QUATRO COMPETÊNCIAS

BÁSICAS
Antonio Carlos Gomes da Costa e Simone André

Trechos selecionados do Cap. 3 do livro Educação para o Desenvolvimento


Humano - vide o link para a referência.

A noção de competência que, a nosso ver, mais responde às exigências do


Paradigma do Desenvolvimento Humano é aquela que une o conhecimento aos
valores, às atitudes e às habilidades para concretizar ações. E, desse modo,
reconhece nas crianças e nos adolescentes o potencial de conduzir-se com
crescente autonomia em suas vidas pessoal, social, cognitiva e
produtiva. ……………………..

Aprender a ser - Competências pessoais: Bússola para encontrar a si


mesmo

Competências pessoais são aquelas que geram no indivíduo a capacidade de


criar uma trajetória singular que faça diferença no mundo. Um ser único e,
simultaneamente, conectado aos desafios do tempo em que vive.

Aprender a ser é um potencial que, para ser desenvolvido, exige aprendizado


ao longo da vida e constante capacidade de transformação. É ir ao encontro de
si mesmo, o que se dá à medida que uma pessoa se abre e se reconhece nas
suas relações com o outro e nas ações no mundo.

Para que o indivíduo se encontre consigo mesmo é preciso aprender a cultivar


uma atitude de autodesenvolvimento e, também, a dominar competências e
habilidades para enfrentar os dois maiores desafios de um trajeto existencial:
construir e reconstruir uma identidade singular; construir e reconstruir um projeto
de vida fundamentado e alicerçado sobre a pedra angular que é essa identidade
única.

Ainda no domínio dessa competência se dá um importante resultado do


processo educativo. Trata-se da construção de um universo de valores que
norteiam a capacidade de fazer escolhas e tomar decisões diante de si, do outro
e das questões que dizem respeito a sua vida. A educação para valores deve
estar presente especialmente nesse momento, mas deve, também, acompanhar
cada um dos demais aprendizados. ……………
Aprender a conviver - Competências relacionais: Bússola para o encontro
com o outro

Conviver é relacionar-se. As competências relacionais são aquelas que permitem


às crianças e aos adolescentes desenvolverem o potencial humano inato de se
relacionar com o outro e com a sociedade.

O desenvolvimento de competências para relacionarmo-nos com as pessoas


acontece em dois níveis. O primeiro, interpessoal, está voltado às relações com
familiares, amigos e namorado/namorada. O segundo nível é o social, dos
projetos coletivos, das relações com a cidade, com o país, com o ambiente, com
a cultura.

Estar com o outro é a base para o aprender a ser e a estar consigo mesmo. A
equação é simples: aprendemos a ser pessoas tornando-nos pessoas por
intermédio daqueles com quem nos relacionamos. Eles são nossa fonte
interpessoal de crescimento e do encontro conosco mesmo. Assim, por exemplo,
quando alguém nos espelha e nos transmite ou nos comunica a certeza de que
somos compreendidos e aceitos, passamos a ter mais condições de
compreender e aceitar os demais.

A incompletude é parte de nossa essência. Por isso, em todo ser humano existe
um desejo de presença, ou seja, de ser capaz de afetar-se e ser afetado pelo
outro. A presença é a base de todo convívio: da maternidade, da paternidade,
da fraternidade, da amizade, da afetividade, da eroticidade, da sociabilidade e do
sentimento profundo de humanidade.

Por outro lado, as competências geradas pelo Aprender a conviver são também
as que permitem aos educandos formarem uma atitude de compromisso com o
desenvolvimento do outro e as habilidades para conviver com autonomia e
solidariedade na vida social mais ampla, como cidadãos capazes de
compreender a sociedade e atuar sobre ela. Viver a cidadania, segundo essa
visão, é buscar relações de trocas solidárias com as demais pessoas e de co-
responsabilidade em relação às questões que dizem respeito ao bem comum,
na comunidade, no país e no planeta.

A noção de protagonismo juvenil traduz essa concepção de viver a cidadania


como forma de desenvolver-se como cidadão e, também, como pessoa e futuro
profissional. O protagonismo juvenil é a vivência concreta da cidadania. Nessa
concepção, o jovem é chamado a participar ativamente da solução de questões
concretas do dia-a-dia de sua comunidade junto a outros jovens e adultos. Isso
reverte as expectativas negativas do mundo de que os jovens limitem-se a não
causar danos a si mesmos e aos outros. É, portanto, uma nova visão em que o
jovem passa de problema a parte da solução. Para isso, deve agir como fonte de
iniciativa (ação), liberdade (opção) e compromisso (responsabilidade).

Novamente, ressaltamos que as competências interpessoais e sociais dependem


de serem vivenciadas ativa e concretamente pelos educandos no processo
educativo para se consolidarem no seu universo de valores. ………………….

Aprender a conhecer - Competências cognitivas: Bússola para navegar no


conhecimento

Aprender a conhecer neste mundo em mudança permanente é essencial para


movimentar-se nele como pessoa, cidadão e futuro profissional. Não é à toa que
a sociedade do século 21 também é chamada de sociedade do conhecimento.
Uma sociedade em que a aquisição de conhecimento não está mais restrita a um
momento da vida nem ao espaço da escola ou a um conjunto predeterminado de
saberes.

Na sociedade do conhecimento, a regra é ser capaz de aprender ao longo da


vida, em todos os espaços onde vivemos, e, mais que conhecer, dominar os
processo de produção e gestão do conhecimento.

As competências cognitivas são geradoras de uma atitude de valorização do


desenvolvimento intelectual e do domínio das competências e habilidades
metacognitivas. Resumem-se em três ferramentas fundamentais para ampliar a
consciência de si e do mundo: o aprender o aprender, o ensinar o ensinar e o
conhecer o conhecer.

Há, no entanto, algumas competências e habilidades que são condições


mínimas para que crianças e adolescentes transitem pelo mundo do
conhecimento, tais como a capacidade de leitura e escrita, de fazer cálculos e de
resolver problemas. ……………….

Aprender a fazer - Competências produtivas: Bússola para empreender no


mundo

Aprender a fazer está relacionado ao desenvolvimento de competências para


ser produtivo no mundo, permitindo criar e realizar transformações em qualquer
domínio, ou seja, na realidade econômica, ambiental, social, política ou cultural.
Mais especificamente, as competências produtivas se tornam fundamentais para
o ingresso, regresso, permanência e sucesso no mundo do trabalho.

No século 21 essas competências estão divididas em três âmbitos: autogestão,


co-gestão e heterogestão. Elas se traduzem na vida dos educandos nas
habilidades para dirigir, gerenciar, coordenar, controlar e avaliar a própria
produção (autogestão), a produção em equipe (co-gestão) ou a produção de
outras pessoas (heterogestão). Essas competências, atitudes e habilidades
permitem o empreendedorismo, seja ele econômico, social, cultural ou
ambiental. A atitude básica que se forma a partir dessa competência é voltar-se
para o desenvolvimento de sua circunstância, ou seja, tomar o mundo ao seu
redor como convite à ação produtiva.

Uma das mudanças mais sensíveis na nossa sociedade vem acontecendo


justamente no mundo do trabalho. A era do conhecimento e as novas
tecnologias estão revolucionando não somente as formas de produção, mas
também o que é considerado valor e riqueza. As moedas do século 21 são a
criação e o conhecimento. Muitas profissões estão sendo extintas e os empregos
acabam diminuindo. Por outro lado, novas profissões surgem neste século e um
novo tipo de atitude profissional tem sido exigido pelo mercado. Por isso
defendemos a promoção da cultura da trabalhabilidade, que prepara os
adolescentes tanto para enfrentar as mudanças no mundo do trabalho, quanto
para criar seu trajeto profissional de maneira eficaz.

As profissões estão exigindo, cada vez mais, polivalência, flexibilidade e


criatividade. Os jovens não podem mais limitar-se a preparar-se para um posto
de trabalho. Eles têm de estar aptos a entrar num mundo onde o emprego já não
é mais a única via, compartilhando espaço com uma atividade empreendedora.
Isso significa abrir seu negócio, realizar um trabalho cooperativo ou mesmo
associativo. É também o auto-emprego e a atuação profissional na área de
responsabilidade social.

No entanto, é condição no preparo dos mais jovens para empreenderem em sua


vida produtiva assegurar-lhes dez a doze anos de educação básica de qualidade
em que desenvolvam habilidades básicas - ler, escrever, calcular, tomar
decisões fundamentadas, analisar, sintetizar, interpretar, trabalhar em grupo.

Dessa forma, no atual mundo do trabalho, o cultivo das habilidades duradouras,


presentes em outras competências é também uma questão de sobrevivência. As
habilidades básicas ou duradouras têm a característica da permanência, como o
alicerce de uma obra. Uma pessoa não participa ativamente da sociedade sem o
conhecimento dessas habilidades, caso contrário, não saberá compreender
símbolos, dados, códigos e outras formas de comunicação.

O mundo do trabalho exige também o desenvolvimento de competências que


dêem ao futuro profissional condições para que adquira habilidades específicas
que o tornem capaz de produzir um bem ou um serviço. Elas se caracterizam
pela especialização e pela flexibilidade, pois precisam acompanhar as inovações
tecnológicas e as novas necessidades do mercado.

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