Pós-graduação pela FGV. Especialização em Gestão Arquivo
Avançada pela Amana-Key. Consultor em Desenvolvimento
Humano e Organizacional. acatelle@uol.com.br
N os Alpes, estava um ho-
mem ouvindo Bach. Ele sen- te uma exaltação e sai a caminhar na neve. De re- pente, tem uma visão do universo. De- zesseis anos depois, aquela iluminação do sentido da vida, ganha enorme re- levância a espiritualidade e a intuição. Quando se valoriza a intuição, a liberda- de humana importa mais do que o siste- ma de “comando e controle”. É uma outra via de sucesso trilhada por organi- prática, a teoria muda. “Ilusões cogniti- vas” – afirma Daniel Kahneman, profes - sor da Princeton University e Prêmio Nobel de Economia em 2002. Ele desafi- ou o pressuposto da racionalidade dos tomadores de decisão. Provou que os converte-se em equações lógicas da Teo- zações como Nutrimental, Starbucks e líderes agem intuitivamente, mas tem ria da Relatividade. É assim que o poeta Semco, em que a intuição não é apenas dificuldades de admitir isso, e de apren- Ariano Suassano descreve o processo “serendipidade” – idéias inesperadas. der com os próprios erros. criativo de Einstein, para explicar o seu. Estimula-se o fornecimento de informa- Como desatar os nós? Mais autenti- Primeiro, a intuição criadora. Depois, a ções corretas, para todos. A criatividade cidade no discurso-ação para criar uma razão. O que isso tem a ver com gestão coletiva, e sua transformação em inova- cultura capaz de liberar a criatividade do futuro? Tudo. ções de produtos e serviços, dependem reprimida. E mais “frugalidade”, porque No site da prestigiada The Economist, de uma cultura apreciativa dos valores numa era do conhecimento acelerado, de fevereiro de 2007, a Harvard Busi- transparência e confiança nas pessoas. há excesso de informações que inun- ness Review apresentou sua Lista Anu- Porém, isto não ocorre na maioria dam os cérebros, ao invés de irrigá-los. al de Idéias Revolucionárias – HBR das organizações, onde o “discurso raci- Afinal, o inconsciente intuitivo é su- List: Breakthrough Ideas for 2007. Den- onal”, muitas vezes contaminado pelos perior ao consciente racional, como suge- tre elas há uma nova teoria sobre o poder “modismos de gestão”, gera graves re a revista de Harvard? Nem sempre. criativo da Mente, que mostra a superio- ambigüidades. Pesquisa brasileira Há luz e sombra em ambos. O caminho ridade do inconsciente sobre o consci- recente, com participação de cerca de é o equilíbrio. Gestão do futuro signifi- ente. Intuição mais competente que 1.700 gestores e 350 empresas, revelou cará escolhas responsáveis. Hoje! Mas razão, em especial na tomada de deci- isso. No discurso as pessoas são impor- há o risco de se fazer “mais do mesmo”, e sões complexas. Como assim? Use a tantes, na prática nem tanto. Uma tese seguir a via do progresso insensato. As- mente consciente para colher as infor - de mestrado da USP mostrou que a intu- sim, na decisão final, a razão tem sua mações necessárias. Depois, ao invés de ição tende a ser responsável pelas esco- missão. Mas uma “razão com outra luz”: se ocupar em analisá-las, deixe o in- lhas finais no processo decisório, mas frugal, menos narcisista, mais altruísta. consciente trabalhar. A decisão tomada há uma contradição, porque grande par - E ela é vital para os brasileiros, para pela intuição é a melhor. Será mesmo? te dos entrevistados na pesquisa afir - transformar os excessos de improvisação Em 2002 iniciei um livro sobre ges- mam que a empresa valoriza mais os numa criatividade responsável. Talvez não tão do futuro e entrevistei presidentes e dados do que a experiência das pessoas. seja tão absurdo exigir um “inconsciente líderes brasileiros de sucesso. Muitos Para quem defende a primazia da consciente”, que desperte um super- sublinharam que numa era de incerte- razão, a qualidade da decisão depende- consciente ainda adormecido, nosso zas, complexidade e de questionamento ria de um longo processo analítico. Na Deus interior. q