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EM DIA

GESTÃO DO FUTURO

INTUIÇÃO E RAZÃO

Antonio Carlos A. Telles

Engenheiro pela UFRJ. Administrador pela UGF.


Pós-graduação pela FGV. Especialização em Gestão
Arquivo

Avançada pela Amana-Key. Consultor em Desenvolvimento


Humano e Organizacional. acatelle@uol.com.br

N os Alpes, estava um ho-


mem ouvindo Bach. Ele sen-
te uma exaltação e sai a
caminhar na neve. De re-
pente, tem uma visão do universo. De-
zesseis anos depois, aquela iluminação
do sentido da vida, ganha enorme re-
levância a espiritualidade e a intuição.
Quando se valoriza a intuição, a liberda-
de humana importa mais do que o siste-
ma de “comando e controle”. É uma
outra via de sucesso trilhada por organi-
prática, a teoria muda. “Ilusões cogniti-
vas” – afirma Daniel Kahneman, profes -
sor da Princeton University e Prêmio
Nobel de Economia em 2002. Ele desafi-
ou o pressuposto da racionalidade dos
tomadores de decisão. Provou que os
converte-se em equações lógicas da Teo- zações como Nutrimental, Starbucks e líderes agem intuitivamente, mas tem
ria da Relatividade. É assim que o poeta Semco, em que a intuição não é apenas dificuldades de admitir isso, e de apren-
Ariano Suassano descreve o processo “serendipidade” – idéias inesperadas. der com os próprios erros.
criativo de Einstein, para explicar o seu. Estimula-se o fornecimento de informa- Como desatar os nós? Mais autenti-
Primeiro, a intuição criadora. Depois, a ções corretas, para todos. A criatividade cidade no discurso-ação para criar uma
razão. O que isso tem a ver com gestão coletiva, e sua transformação em inova- cultura capaz de liberar a criatividade
do futuro? Tudo. ções de produtos e serviços, dependem reprimida. E mais “frugalidade”, porque
No site da prestigiada The Economist, de uma cultura apreciativa dos valores numa era do conhecimento acelerado,
de fevereiro de 2007, a Harvard Busi- transparência e confiança nas pessoas. há excesso de informações que inun-
ness Review apresentou sua Lista Anu- Porém, isto não ocorre na maioria dam os cérebros, ao invés de irrigá-los.
al de Idéias Revolucionárias – HBR das organizações, onde o “discurso raci- Afinal, o inconsciente intuitivo é su-
List: Breakthrough Ideas for 2007. Den- onal”, muitas vezes contaminado pelos perior ao consciente racional, como suge-
tre elas há uma nova teoria sobre o poder “modismos de gestão”, gera graves re a revista de Harvard? Nem sempre.
criativo da Mente, que mostra a superio- ambigüidades. Pesquisa brasileira Há luz e sombra em ambos. O caminho
ridade do inconsciente sobre o consci- recente, com participação de cerca de é o equilíbrio. Gestão do futuro signifi-
ente. Intuição mais competente que 1.700 gestores e 350 empresas, revelou cará escolhas responsáveis. Hoje! Mas
razão, em especial na tomada de deci- isso. No discurso as pessoas são impor- há o risco de se fazer “mais do mesmo”, e
sões complexas. Como assim? Use a tantes, na prática nem tanto. Uma tese seguir a via do progresso insensato. As-
mente consciente para colher as infor - de mestrado da USP mostrou que a intu- sim, na decisão final, a razão tem sua
mações necessárias. Depois, ao invés de ição tende a ser responsável pelas esco- missão. Mas uma “razão com outra luz”:
se ocupar em analisá-las, deixe o in- lhas finais no processo decisório, mas frugal, menos narcisista, mais altruísta.
consciente trabalhar. A decisão tomada há uma contradição, porque grande par - E ela é vital para os brasileiros, para
pela intuição é a melhor. Será mesmo? te dos entrevistados na pesquisa afir - transformar os excessos de improvisação
Em 2002 iniciei um livro sobre ges- mam que a empresa valoriza mais os numa criatividade responsável. Talvez não
tão do futuro e entrevistei presidentes e dados do que a experiência das pessoas. seja tão absurdo exigir um “inconsciente
líderes brasileiros de sucesso. Muitos Para quem defende a primazia da consciente”, que desperte um super-
sublinharam que numa era de incerte- razão, a qualidade da decisão depende- consciente ainda adormecido, nosso
zas, complexidade e de questionamento ria de um longo processo analítico. Na Deus interior. q

37 - RUMOS – Janeiro/Fevereiro 2006 Março/Abril 2007 – RUMOS - 17

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