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1 Aula - Direito Processual Civil III
1 Aula - Direito Processual Civil III
I - INTRODUÇÃO
2) Conceitos de JURISDIÇÃO:
a) etimológico: “juris”, “direito”; “dictio”, “dizer”. Analisando o sentindo das palavras
“Jurisdição” significa “Dizer o Direito”, brocardo propagado desde a graduação e replicado
até aqui.
Para este conceito o juiz seria a “boca da lei”, verbalizaria o que a lei previsse ao caso
que lhe fosse apresentado.
b) clássico: “À função de compor os litígios, de declarar e realizar o Direito, dá-se o nome de
jurisdição (do latim “juris dictio”, que significa Dizer o Direito). Partindo-se de uma visão
clássica a jurisdição pode ser visualizada sob três enfoques distintos: como poder, porquanto
emana da soberania do Estado, que assumiu o monopólio de dirimir os conflitos; como
função, porque constitui dever do Estado prestar a tutela jurisdicional; finalmente como
atividade, uma vez que a jurisdição atua por uma sequência de atos processuais.
Jurisdição, portanto, é o poder, a função e a atividade exercidos e desenvolvidos
respectivamente, por órgãos estatais previstos em lei, com a finalidade de tutelar direitos
individuais ou coletivos. (...)”
(Donizetti).
c) complexo/contemporâneo: “A jurisdição é a função atribuída ao terceiro imparcial (a) de
realizar o Direito de modo imperativo (b) e criativo (reconstrutivo) (c),
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reconhecendo/efetivando/protegendo situações jurídicas (d) concretamente deduzidas (e), em
decisão insuscetível de controle externo (f) e com aptidão para tornar indiscutível (g)”.
(Didier Jr.).
Esta corrente, captaneada pelo Professor Fredie Didier Jr., a Jurisdição exerce função
criativa/reconstrutiva, ou seja, produz normas (não leis) entre os contendores podendo,
a norma produzida, alcançar terceiros, pela com a aplicação do Sistema de Precedentes.
5) Base Legal: Arts. 926 a 928; 332, 489, §1º, III, IV, V e VI.
6) Classificação de Jurisprudência.
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a) Uniforme:
O Tribunal não pode ser omisso sobre divergência interna, devendo uniformizar o
entendimento sobre o assunto.
Para casos idênticos há de se aplicar a mesma solução jurídica, não sendo
compreensível que para casos idênticos haja soluções distintas.
b) Estável:
“A estabilidade da jurisprudência impede que os tribunais simplesmente abandonem
ou modifiquem sem qualquer justificativa plausível (por vezes até mesmo sem
qualquer justificativa) seus entendimentos consolidados. Não pode o tribunal, sob
pena de violar o princípio da isonomia jurídica e, principalmente, da segurança
jurídica, simplesmente deixar de aplicar um entendimento consolidado sem
justificativa séria, palatável e devidamente exposta” (NEVES).
Estabilizar significa manter o que já foi uniformizado. De nada adianta o dever
anterior se o tribunal não cuida de preservar a estabilidade de suas próprias
decisões, alterando em pouco tempo um entendimento aparentemente consolidado
sem que haja razões para tanto. (Donizetti).
É a necessidade de justificação adequada para qualquer mudança de posicionamento
(superação: overruling) e de eficácia modulada (dever de estabilidade).
c) Íntegra:
“Jurisprudência íntegra é aquela construída levando-se em consideração o histórico
de decisões proferidas pelo tribunal a respeito da mesma matéria jurídica, ou seja,
para se formar uma jurisprudência íntegra devem ser considerados todos os
fundamentos rejeitados e acolhidos nos julgamentos que versam sobre a mesma
matéria jurídica” (NEVES).
“Entende-se por jurisprudência íntegra aquela que é construída levando-se em
consideração a história institucional das decisões acerca de determinada matéria.
Significa isto dizer que um tribunal ao proferir uma decisão sobre um determinado
tema, deve levar em conta toda a evolução histórica das decisões proferidas,
anteriormente, sobre o mesmo tema. É aqui que se pode empregar a conhecida
metáfora do romance em cadeia de que fala Ronald Dworkin”. (Câmara).
Unidade jurídica (Ronald Dworkin – Romance escrito em capítulos por autores
distintos.
d) Coerente:
“A coerência está ligada a ideia de não contradição, o que quer dizer que os tribunais devem
manter uma relação harmônica entre o que se decide e todo o processo. Não há coerência,
por exemplo, quando uma mesma turma do STJ ora decide de uma forma, oura decide de
outra, mesmo diante de casos faticamente semelhantes. Também não há coerência quando o
tribunal, desconsiderando uma sequência lógica de julgados, firma entendimento
diametralmente oposto em espaço curto de tempo. Isso porque a coerência impõe “o dever de
dialogar com os precedentes anteriores, até mesmo para superá-los e demonstrar o
distinguishing”.
(Donizetti).
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“Os Tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente,
palavras que merecem ser compreendidas, para os fins a que se predispõe este Manual,
como técnicas de realização da segurança jurídica, inclusive na perspectiva da
previsibilidade e da isonomia”.
(Scarpinella Bueno).
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7) Conceitos de Precedentes:
É uma razão de decidir utilizada para julgar determinado caso, que servirá para decidir caso
posterior calcada na mesma base fático-jurídica.
“(...) o uso do precedente é mais uma técnica do que uma ciência. É tão difícil aprendê-lo por
meio da leitura de uma discussão da doutrina quanto o é aprender a andar de bicicleta
através do estudo de um livro sobre mecânica (...)”. (Edward Allan Fornsworth, citador por
Didier Jr.)
É uma razão de decidir utilizada para julgar determinado caso, que servirá para decidir caso
posterior calcada na mesma base fático-jurídica.
(Valente).
8) Espécies de Precedentes.
a) quanto a forma de aplicação:
Declarativo: se reconhece e se aplica a norma, por meios interpretativos, que já
existe. Ex.: Enunciado Sumular Vinculante.
Criativo: o julgador cria e aplica a norma jurídica. Isso ocorre, quando supre lacuna
normativa ou julga com base em cláusulas gerais.
b) quanto a origem:
Vertical: quando a fonte do precedente decorre de Tribunal hierarquicamente
superior.
Vertical: quando a fonte do precedente decorre de órgão de mesma hierarquia.
Autoprecedente: quando o magistrado ou o órgão se vale de precedente próprio para
julgar caso análago.
c) quanto a obrigatoriedade:
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Vinculante/obrigatório: o precedente vincula a quem deve aplica-lo. Regra no
common law
Persuasivo: É recomendado que o precedente seja aplicado.
OBS1.: Rol do Artigo 927: não esgota as hipóteses de taxatividade de precedentes
obrigatórios.
OBS2.: (In)Constitucionalidade do Art. 927:
É necessária prévia previsão constitucional para regular as decisões que vinculam
descabendo a norma infraconstitucional, tal tarefa. o que elimina a constitucionalidade dos
incisos III a V como defende Bueno;
Para não levar a inconstitucionalidade do instituto Cássio Scarpinella Bueno substitui a
expressão “vinculante”, por “paradigmática”.