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Direito Processual Civil III – 1ª Aula

Prof. Yuri de Oliveira Pinheiro Valente.

O PROBLEMA MATRIZ PARA O ENTENDIMENTO DO SISTEMA DE PRECEDENTES.

SÚMULA ANTENEPOTISMO IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA
STJ 1ª TURMA STJ 2ª TURMA
“Não configura improbidade administrativa “A prática de nepotismo configura grave
a contratação, por agente político, de ofensa aos princípios da administração
parentes e afins para cargos em comissão pública, em especial aos princípios da
ocorrida em data anterior à lei ou ao ato moralidade e da isonomia, enquadrando-se,
administrativo do respectivo ente federado dessa maneira, no art. 11 da Lei nº.
que a proibisse e à vigência da Súmula 8.429/92.
Vinculante nº. 13 do STF” (REsp A nomeação de parentes para ocupar cargos
1.193.248/MG, Rel. min. Napoleão Nunes em comissão, ainda que ocorrida antes da
Maia Filho, j. 24.04.2014) publicação da Súmula vinculante 13, constitui
ato de improbidade administrativa, que atenta
contra os princípios da administração pública,
nos termos do art. 11 da Lei nº. 8.429/92,
sendo despicienda a existência de regra
explícita de qualquer natureza acera da
proibição” (AgRG no REsp 1.386.255/PB,
Rel. Min. Humberto Martins, j. 24.04.2014).

I - INTRODUÇÃO

1) A Íntima Relação do Conceito de Jurisdição com o Sistema de Precedentes:

2) Conceitos de JURISDIÇÃO:
a) etimológico: “juris”, “direito”; “dictio”, “dizer”. Analisando o sentindo das palavras
“Jurisdição” significa “Dizer o Direito”, brocardo propagado desde a graduação e replicado
até aqui.
Para este conceito o juiz seria a “boca da lei”, verbalizaria o que a lei previsse ao caso
que lhe fosse apresentado.
b) clássico: “À função de compor os litígios, de declarar e realizar o Direito, dá-se o nome de
jurisdição (do latim “juris dictio”, que significa Dizer o Direito). Partindo-se de uma visão
clássica a jurisdição pode ser visualizada sob três enfoques distintos: como poder, porquanto
emana da soberania do Estado, que assumiu o monopólio de dirimir os conflitos; como
função, porque constitui dever do Estado prestar a tutela jurisdicional; finalmente como
atividade, uma vez que a jurisdição atua por uma sequência de atos processuais.
Jurisdição, portanto, é o poder, a função e a atividade exercidos e desenvolvidos
respectivamente, por órgãos estatais previstos em lei, com a finalidade de tutelar direitos
individuais ou coletivos. (...)”
(Donizetti).
c) complexo/contemporâneo: “A jurisdição é a função atribuída ao terceiro imparcial (a) de
realizar o Direito de modo imperativo (b) e criativo (reconstrutivo) (c),
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reconhecendo/efetivando/protegendo situações jurídicas (d) concretamente deduzidas (e), em
decisão insuscetível de controle externo (f) e com aptidão para tornar indiscutível (g)”.
(Didier Jr.).
Esta corrente, captaneada pelo Professor Fredie Didier Jr., a Jurisdição exerce função
criativa/reconstrutiva, ou seja, produz normas (não leis) entre os contendores podendo,
a norma produzida, alcançar terceiros, pela com a aplicação do Sistema de Precedentes.

3) Escolas Judiciais ou Jurídicas:


a) “Civil Law”;
 própria dos países de origem romano-germânica;
 a lei é a fonte primária do ordenamento jurídico;
 juiz é o intérprete e aplicador da lei, mas não cria o Direito.
b) “Common Law”;
 própria dos países anglo-saxão;
 a fonte não é a lei, mas os costumes, o direito consuetudinário;
 julgam o caso concreto, cuja decisão poderá constituir-se em precedente para
julgamento de casos futuros. Esse respeito ao passado é inerente à teoria declaratória
do direito e é dela que se extrai a ideia de “precedente judicial”. (Nunes).
c) “Stare decisis”:
 “stare decisis et non quieta movere”: “mantenha-se a decisão e não se moleste o que
foi decidido”.
 corresponde ao sistema da força obrigatória dos precedentes;
 “stare decisis horizontal” é a vinculação interna de suas próprias decisões, os
tribunais devem respeitar seus precedentes.
 “Stare decisis vertical” é a vinculação externa das decisões aos demais órgãos do
Poder Judiciário e à Administração Pública. (Nunes).
 Renato Montans de Sá citando Marinoni salienta que não se pode confundir o Stare
Decisis com o Common law, já que o stare decisis constitui um elemento do moderno
common law, que existia muito antes do stare decisis.
ATENÇÃO: A notória diferença entre os dois primeiros sistemas diz respeito ao seu alicerce
sobre a segurança jurídica: enquanto no sistema do civil law a segurança refere-se,
principalmente às leis (e que se desenvolveu de forma mais intensa no período das
codificações surgidas após a Revolução Francesa), no common law a segurança advém das
decisões pretéritas do Poder Judiciário.

4) Sistema Adotado pelo Brasil no Código de Processo Civil 2015


a) 1ª Corrente – Sistema do Civil Law
b) 2ª Corrente – Migração do Civil Law para o Common Law; O CPC atual reiterou a
adesão predominante ao sistema da civil law, mas a mitigou com a influência da common law
e a adoção do sistema de precedentes vinculantes (GONÇALVES)
c) 3ª Corrente – Sistema Próprio: (...) para compreender o Direito processual civil
contemporâneo é preciso romper com o “dogma da ascendência genética”, não comprovado
empiricamente, segundo o qual o Direito Brasileiro se filia a essa ou aquela tradição
jurídica.
Temos uma tradição jurídica própria e bem peculiar, que, como disse um aluno em sala de
aula, poderia ser designada, sem ironia ou chiste, como o “brazilian law”. (Didier).

5) Base Legal: Arts. 926 a 928; 332, 489, §1º, III, IV, V e VI.

6) Classificação de Jurisprudência.
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a) Uniforme:
 O Tribunal não pode ser omisso sobre divergência interna, devendo uniformizar o
entendimento sobre o assunto.
 Para casos idênticos há de se aplicar a mesma solução jurídica, não sendo
compreensível que para casos idênticos haja soluções distintas.
b) Estável:
 “A estabilidade da jurisprudência impede que os tribunais simplesmente abandonem
ou modifiquem sem qualquer justificativa plausível (por vezes até mesmo sem
qualquer justificativa) seus entendimentos consolidados. Não pode o tribunal, sob
pena de violar o princípio da isonomia jurídica e, principalmente, da segurança
jurídica, simplesmente deixar de aplicar um entendimento consolidado sem
justificativa séria, palatável e devidamente exposta” (NEVES).
 Estabilizar significa manter o que já foi uniformizado. De nada adianta o dever
anterior se o tribunal não cuida de preservar a estabilidade de suas próprias
decisões, alterando em pouco tempo um entendimento aparentemente consolidado
sem que haja razões para tanto. (Donizetti).
 É a necessidade de justificação adequada para qualquer mudança de posicionamento
(superação: overruling) e de eficácia modulada (dever de estabilidade).
c) Íntegra:
 “Jurisprudência íntegra é aquela construída levando-se em consideração o histórico
de decisões proferidas pelo tribunal a respeito da mesma matéria jurídica, ou seja,
para se formar uma jurisprudência íntegra devem ser considerados todos os
fundamentos rejeitados e acolhidos nos julgamentos que versam sobre a mesma
matéria jurídica” (NEVES).
 “Entende-se por jurisprudência íntegra aquela que é construída levando-se em
consideração a história institucional das decisões acerca de determinada matéria.
Significa isto dizer que um tribunal ao proferir uma decisão sobre um determinado
tema, deve levar em conta toda a evolução histórica das decisões proferidas,
anteriormente, sobre o mesmo tema. É aqui que se pode empregar a conhecida
metáfora do romance em cadeia de que fala Ronald Dworkin”. (Câmara).
 Unidade jurídica (Ronald Dworkin – Romance escrito em capítulos por autores
distintos.
d) Coerente:
“A coerência está ligada a ideia de não contradição, o que quer dizer que os tribunais devem
manter uma relação harmônica entre o que se decide e todo o processo. Não há coerência,
por exemplo, quando uma mesma turma do STJ ora decide de uma forma, oura decide de
outra, mesmo diante de casos faticamente semelhantes. Também não há coerência quando o
tribunal, desconsiderando uma sequência lógica de julgados, firma entendimento
diametralmente oposto em espaço curto de tempo. Isso porque a coerência impõe “o dever de
dialogar com os precedentes anteriores, até mesmo para superá-los e demonstrar o
distinguishing”.
(Donizetti).
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“Os Tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente,
palavras que merecem ser compreendidas, para os fins a que se predispõe este Manual,
como técnicas de realização da segurança jurídica, inclusive na perspectiva da
previsibilidade e da isonomia”.
(Scarpinella Bueno).
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7) Conceitos de Precedentes:
É uma razão de decidir utilizada para julgar determinado caso, que servirá para decidir caso
posterior calcada na mesma base fático-jurídica.

“(...) o uso do precedente é mais uma técnica do que uma ciência. É tão difícil aprendê-lo por
meio da leitura de uma discussão da doutrina quanto o é aprender a andar de bicicleta
através do estudo de um livro sobre mecânica (...)”. (Edward Allan Fornsworth, citador por
Didier Jr.)

“Precedente é um pronunciamento judicial, proferido em um processo anterior, que é


empregado como base de formação de outra decisão judicial, prolatada em processo
posterior. Dito de outro modo, sempre que um órgão jurisdicional, ao proferir uma decisão,
parte de outra decisão, proferida em outro processo, empregando-a como base, a decisão
anterior prolatada terá sido um precedente.”
(Câmara).

“Os precedentes judiciais, como entendemos neste trabalho, consistem no resultado da


densificação de normas estabelecidas a partir da compreensão de um caso e suas
circunstâncias fáticas e jurídicas. No momento da aplicação, deste caso-precedente,
analisado no caso-atual, se extrai a ratio decidendi ou holding como o core do precedente.
Trata-se, portanto, da solução jurídica explicitada argumentativamente pelo intérprete a
partir da unidade fático-jurídica do caso-precedente (material facts e a solução jurídica dado
para o caso) com o caso-atual. Por esta razão, não se confundem com a jurisprudência, pois
não se traduzem em tendências do tribunal a decidir, mas na própria decisão (ou decisões)
do tribunal com respeito a matéria.”
(Zeneti Jr.).
“Em sentido lato, o precedente é a decisão judicial tomada à luz de um caso concreto, cujo
elemento normativo pode servir como diretriz para o julgamento posterior de casos análogos.
O precedente é composto pelas: a) circunstâncias de fato que embasam a controvérsia; b)
tese ou o princípio jurídico assentado na motivação (ratio decidendi) do provimento
decisório; c) argumentação jurídica em torno da questão”.
(Fredie Didier Jr.).

É uma razão de decidir utilizada para julgar determinado caso, que servirá para decidir caso
posterior calcada na mesma base fático-jurídica.
(Valente).

8) Espécies de Precedentes.
a) quanto a forma de aplicação:
 Declarativo: se reconhece e se aplica a norma, por meios interpretativos, que já
existe. Ex.: Enunciado Sumular Vinculante.
 Criativo: o julgador cria e aplica a norma jurídica. Isso ocorre, quando supre lacuna
normativa ou julga com base em cláusulas gerais.
b) quanto a origem:
 Vertical: quando a fonte do precedente decorre de Tribunal hierarquicamente
superior.
 Vertical: quando a fonte do precedente decorre de órgão de mesma hierarquia.
 Autoprecedente: quando o magistrado ou o órgão se vale de precedente próprio para
julgar caso análago.
c) quanto a obrigatoriedade:
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 Vinculante/obrigatório: o precedente vincula a quem deve aplica-lo. Regra no
common law
 Persuasivo: É recomendado que o precedente seja aplicado.
OBS1.: Rol do Artigo 927: não esgota as hipóteses de taxatividade de precedentes
obrigatórios.
OBS2.: (In)Constitucionalidade do Art. 927:
É necessária prévia previsão constitucional para regular as decisões que vinculam
descabendo a norma infraconstitucional, tal tarefa. o que elimina a constitucionalidade dos
incisos III a V como defende Bueno;
Para não levar a inconstitucionalidade do instituto Cássio Scarpinella Bueno substitui a
expressão “vinculante”, por “paradigmática”.

9) Microssistema de Precedentes Repetitivos:


 REsp Repetitivo;
 RE Repetitivo;
 IRDR;
 IAC

10) Jurisprudência x Precedentes.


“Quando se fala do precedente se faz normalmente referência a uma decisão relativa a um
caso particular, enquanto que quando se fala da jurisprudência se faz normalmente
referência a uma pluralidade, frequentemente bastante ampla, de decisões relativas a vários
e diversos casos concretos. A diferença não é apenas do tipo semântico. O fato é que nos
sistemas que se fundam tradicionalmente e tipicamente sobre o precedente, em regra a
decisão que se assume como precedente é uma só; ademais, poucas decisões sucessivas vêm
citadas em apoio do precedente. Deste modo, é fácil identificar qual decisão de verdade “faz
precedente”. Ao contrário, nos sistemas – como o nosso – nos quais se alude à
jurisprudência, se faz referência a muitas decisões: às vezes, são dúzias ou até mesmo
centenas, ainda que nem todas venham expressamente citadas. Isso implica várias
consequências, dentre as quais a dificuldade – frequentemente de difícil superação – de
estabelecer qual seja a decisão que verdadeiramente é relevante (se houver uma) ou então de
decidir quantas decisões são necessárias para que se possa dizer que existe uma
jurisprudência relativa a uma determinada interpretação de uma norma”.
(Michelle Tarufo – Prof. Italiano).

11) Jurisprudência x Precedente x Súmula


Jurisprudência é a aglutinação de uma série de julgados seguindo vetorialmente uma mesma
direção reiterando o entendimento sobre determinada questão. Portanto, para que se
configure “jurisprudência” é necessário o consórcio de três fatores distintos: a existência de
vários julgados; que sejam harmônicos entre si; e que tenham sido proferidos em
determinado decurso de tempo (pois apenas a longevidade do posicionamento uniforme pode
conferir “força persuasiva” a jurisprudência).
Enunciado de Súmula (Súmula), por sua vez constitui uma compilação de diversos julgados
que se extrai uma ideia central que servirá de norte para os futuros julgamentos. Aqui não se
exige quórum qualificado, não vincula a administração pública, nem o Judiciário e não tem
como pressupostos a existência de controvérsia atual entre os órgãos judiciários ou entre
esses e a administração pública e não exige valoração sobre gerar ou não insegurança
jurídica e/ou multiplicação de processos.
Enunciado Sumular Vinculante (Súmula Vinculante) é de obrigatória aplicação (salvo nos
casos de distinção), o que não acontece com as súmulas dos tribunais superiores, mas seu
modo de produção é diferenciado por exigir: a) quórum qualificado (2/3 dos membros); b)
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reiteradas decisões sobre matéria constitucional; c) alcance de vinculação aos demais
órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública direta e indireta, nas esferas estadual
e municipal; d) acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre
esses e a administração pública; e e) que acarrete grave insegurança jurídica e relevante
multiplicação de processos sobre questão idêntica.
Precedente é uma decisão judicial extraída de um caso concreto em que o seu núcleo
essencial (ratio) poderá ser diretriz de casos que discutam a mesma questão. O precedente
reduz a margem de liberdade dos juízes quanto ao direito já que os vincula as suas próprias
decisões ou de outro órgão (de mesma ou superior hierarquia).
Ele não incide sobre o texto e sim sobre a norma (já que ambos não se confundem). É
sobre a norma (resultado de interpretação sobre o texto) que é objeto de precedentes e,
portanto, de estabilização. Os precedentes que estabelecem uma dada interpretação à
norma jurídica conferem estabilidade jurídica e geram a confiabilidade da sociedade em
dada interpretação sobre a norma.
CUIDADO: Autores divergem quanto a essa distinção.
Ex1.: Para Medina Jurisprudência é gênero do qual são espécies os precedentes e as súmulas.
O mesmo autor sustenta: “(...) Quanto maior o nível de uniformidade dos julgados que a
formaram, mais força persuasiva terá a jurisprudência. Diz-se então que a jurisprudência é
dominante.” Por fim diz o jurista: “os enunciados de súmula são a síntese da jurisprudência
dominante, formada por precedentes emitidos em um mesmo sentido”.
Ex2.: Marinoni entende que o conceito de jurisprudência deva sofrer ressignificação com o
advento do Código de Processo Civil: “(...). O novo Código claramente outorga outro
sentido ao termo jurisprudência – ao menos para determinados casos. Para essas situações,
o novo Código exige a sua ressignificação: isso porque, ao emprestar força vinculante aos
julgamentos de casos repetitivos e àqueles tomados em incidente de assunção de competência
(art. 927, III, CPC) no âmbito das Cortes de Justiça e dispensar a múltipla reiteração de
julgamentos como requisito para a sua configuração, na medida em que basta um único
julgamento mediante incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de
competência, o direito brasileiro rompe em grande parte com a caracterização tradicional da
jurisprudência. O mesmo ocorre com as súmulas. Quando as súmulas eram vistas apenas
como um método de trabalho capaz de ordenar e facilitar a tarefa dos juízes – note-se que aí
os destinatários das súmulas eram apenas e tão somente os próprios órgãos judiciais que
compunham os tribunais que as emanavam – bastava redigi-las de forma abstrata, sem
qualquer alusão aos casos concretos aos quais ligadas. Ao reconhecer as súmulas como
guias para a interpretação do direito para o sistema de administração da Justiça civil como
um todo e para a sociedade civil em geral (art. 927, II e IV, CPC), previu-se o dever de
identificação e de congruência das súmulas com as circunstâncias fáticas dos casos que
motivaram suas criações (art. 926, §2, CPC).
Ex3.: Precedente é norma obtida no julgamento de um caso concreto que se define como a
regra universal passível de ser observada em outras situações. Jurisprudência são decisões
reiteradas dos tribunais, que podem se fundamentar ou não em precedentes judiciais. A
jurisprudência é formada em razão da aplicação reiterada de um precedente. (NUNES) –
Aqui o autor coloca o precedente como formador de jurisprudência, o oposto da posição de
Medina.

12) O que forma o precedente?


a) razão de decidir (“ratio decidendi"), os fundamentos que sustentam os pilares de uma
decisão é que podem ser invocados em julgamentos posteriores.
b) os elementos acessórios elaborados para o deslinde da causa (“obter dictum”) não podem
ser utilizados com força vinculante por não terem sido determinantes para a decisão.
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13) Composição do Precedente:
a) circunstância de fato que embasa a controvérsia;
b) tese princípio jurídico assentado na motivação (“ratio decidendi”);
c) argumentação jurídica em torno da questão.
OBS1.: O que tem caráter obrigatório ou persuasivo é a “ratio decidendi”.
OBS2.: Em sentido estrito, o precedente pode ser definido como sendo a própria “ratio
decidendi” (“holding” = “ratio decidendi”).
OBS3.: “Ratio decidendi” ou “holding” são os fundamentos jurídicos que sustentam a
decisão; a opção hermenêutica adotada na sentença, sem a qual a decisão não teria sido
proferida como foi. A ratio decidendi constitui a essência da tese jurídica suficiente para
dividir o caso concreto (rule of law) (José Rogério Cruz e Tucci).

14) Modificação e Extinção dos Precedentes:


a) “distinguishing” (distinção): é o método de confronto “pelo qual o juiz verifica se o caso
em julgamento pode ou não ser considerado análogo ao paradigma” (Tucci).
b) “overruling” (revogação): Por meio dessa técnica (“overruling”) o precedente é
revogado ou superado em razão da modificação dos valores sociais, dos conceitos jurídicos,
da tecnologia ou mesmo em virtude de erro gerador de instabilidade em sua aplicação
(Donizetti).
Duas são as formas: expressa (“express overruling”) ou tácita (“implied overruling”), mas
para Haroldo Lourenço, no Brasil não se admite a revogação tácita.
REGRA: para os processos em andamento, bem como para os que serão instaurados, vale a
regra da retroatividade – desimportante é o momento da constituição da relação jurídica
deduzida no processo. Para os que já estejam resguardados pela imutabilidade da coisa
julgada vale a regra da imutabilidade.
Havendo a revogação do precedente pode ser preciso que haja a modulação dos efeitos
obedecendo de acordo com entendimento de Jaldemiro Rodrigues Ataide Jr.
 A tese seja aplicada somente a fatos posteriores á formação do novo precedente.
Assim, as demandas cuja matéria fática esteja relacionada com o precedente anterior
não estarão abarcadas pelo novo entendimento, ainda que não tenham sido julgados
(aplicação prospectiva pura).
 O tribunal pode aplicar o novo entendimento apenas às partes litigantes, ainda que o
fato discutido seja anterior à modificação do precedente (aplicação prospectiva
clássica). Nesse caso, o problema é a desigualdade criada para o aproveitamento da
nova tese em relação aos litigantes que “estão no mesmo barco” (possuem a mesma
questão jurídica), mas litigam em processos distintos.
 O tribunal pode fixar data futura a partir da qual a nova tese irá ser aplicada
(aplicação prospectiva a termo).
 O tribunal pode dar efeito retroativo à modificação do precedente, hipótese em que o
novo entendimento alcançará situações já consolidadas (aplicação retroativa pura)
ou apenas fatos ocorridos antes da formação do precedente e ainda não acobertados
pela coisa julgada (aplicação retroativa clássica).

c) “overriding”: quando o tribunal deseja apenas limitar o âmbito de incidência de um


precedente em razão da superveniência de outra regra ou princípio legal. Aqui não há
revogação por completo.

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