Você está na página 1de 95

DA IDEIA DE JOGO AO JOGO COM IDEIAS

PARA UMA PERFORMANCE DE EXCELÊNCIA NO FUTEBOL


EXPERTISE E TOMADA
DE DECISÃO NO FUTEBOL

Júlio Garganta
Em várias atividades humanas a procura
da excelência é um objetivo importante.

O FUTEBOL NÃO É EXCEPÇÃO


QUESTÕES NUCLEARES

1) Quais os atributos específicos essenciais para a


performance de excelência?

2) Em que é que os executantes excelentes


diferem dos demais ?

3) Que condições devem ser asseguradas durante


o percurso de formação dos atletas de modo a
garantir o acesso a uma performance
excelente?
No séc. XVI os humanistas acreditavam que
os artistas e cientistas eminentes tinham
recebido dons divinos que os tornavam
diferentes dos seres comuns.
Por isso argumentavam que apenas esses
indivíduos possuíam as capacidades inatas
requeridas para produzirem obras excelentes
nas artes e nas ciências.
No séc. XX vários estudos começaram a
questionar a natureza das diferenças entre os
performers vulgares e os peritos.
Percebeu-se que o “poder superior dos peritos”
se restringia ao seu domínio específico de
actividade.

Não era, portanto, uma superioridade GERAL !


JOGO
Compreensão Percepção

Decisão EXECUÇÃO
No Futebol os conceitos de excelência e de
talento surgem associados às noções de
habilidade, inteligência e criatividade.
INTELIGÊNCIA
Inter = entre eligere = escolher
INTELIGÊNCIA (S)
T. Elliot

C Darwin Einstein

Freud Stravinsky

Picasso
Gandhi

Martha Graham
 Raven Progressive
Matrixes
 Test of Thurstone
 Toulose Pierón Test (BATP)
TESTES DE INTELIGÊNCIA GERAL
CONHECIMENTO ESPECÍFICO DO JOGO

 Protocolo de Mangas (1999)


1 2
Rematar à baliza Colocar a bola num colega dentro da área.

O jogador deve ...


Tentar o drible sobre o adversário Passar para trás para o colega que

3
se encontra fora da área
4
TESTE DE CONHECIMENTO ESPECÍFICO
TESTE DE CONHECIMENTO ESPECÍFICO
FUTEBOL
Alta variabilidade contextual
vs
identidade e integridade das equipas
Equipas

sistemas complexos, fortemente


dominados por competências
estratégicas e heurísticas
ESTRATÉGIA

Organização do plano de ação.

Arte de preparar a ação em condições


aleatórias e adversas.
TÁTICA

Arte de atuar, aquando da


aplicação do plano de ação.
Mais do que ensinada, a inteligência,
porque emerge e se amplia no contacto
recíproco com o meio envolvente, pode ser
despertada e desenvolvida por uma
estimulação adequada.
Quanto mais o ambiente for rico, mais
numerosas e significativas são as
informações que estimulam o jogador
e mais ele será induzido a “tornar-se
inteligente”.
INTELIGÊNCIA CORPORAL ESPECÍFICA
Perceber, decidir e agir, a
partir do sentido que se dá
aos cenários de jogo.
Como aprendem
os peritos?
Os peritos investem significativamente na
aprendizagem de tudo o que diga respeito
à sua área de intervenção/performance.
Convém que nos detenhamos
não apenas no “O QUÊ”, mas
também nos “PORQUÊS” e nos
“COMOS” da prática.
O conhecimento acerca das variáveis que cada
sujeito usa para interagir é indispensável para
estabelecer e proporcionar as condições mais
favoráveis de prática.
EDUCAÇÃO DA ATENÇÃO

Aprender a captar invariantes especificadoras


de ordem superior, em vez de informação não
especificadora para a realização de uma tarefa
particular.

As variáveis para as quais os sujeitos convergem


dependem dos cenários de prática.
Mas a acumulação de experiência,
através da prática informal e/ou
deliberada, não é suficiente para
atingir a excelência.
Expertise no Futebol

* Captação eficiente da informação

* Processo decisional rápido e preciso

* Reconhecimento eficaz dos padrões de jogo

* Superior capacidade de antecipação

* Elevado conhecimento das probabilidades situacionais


Excelência motora

* Elevada taxa de sucesso na execução das habilidades

* Consistência e adaptabilidade nos padrões-movimento

* Produção de incerteza para os adversários

* Superior capacidade de detecção dos erros e correcção


Importa apontar para aspectos particulares da
performance com a disponibilização de
feedback informativo e repetições com
oportunidades para detecção de erros,
correcções e refinamento.
HARDWARE versus SOFTWARE
Porquê atender apenas ao lado visível da acção ?
TREINO PERCEPTIVO-DECISIONAL
Prática
randómica

Auto e Prática
heteroscopia variável

Questiona-
TPD
Instrução
mento via vídeo

Feedback de Instrução
banda larga táctica

Adap. Vickers (1999)


PRÁTICA RANDÓMICA

Não à progressão de técnicas avulso, do


menos para o mais complexo, em ambientes
padronizados.

Sim aos encadeamentos de habilidades


tácticas, em contextos significativos.
PRÁTICA VARIÁVEL

Não ao aperfeiçoamento de uma habilidade,


através da sua repetição num contexto fixo.

Sim à exercitação das mais eficazes cambiantes


dessa habilidade, perante condições variáveis.
INSTRUÇÃO VIA VÍDEO

Aprender a observar e interpretar a performance dos


melhores e dos menos hábeis.

O treinador deve selecionar situações críticas e


apresentá-las.
INSTRUÇÃO TÁTICA PRECOCE
(Hard First)

Sim à instrução tática intensiva (estímulos de


discriminação complexa) desde os primeiros
momentos.
Afinar a atenção e a ação para o jogo
Treinamento dos skills perceptivos

 Treinamento da visão (EyeRobics) ?

 Procesamento de informação contextual 


 Conhecimento de probabilidades situacionais 

Mark Williams (2006)


Os efeitos da expertise não
emergem de

propriedades optométricas
tempo de reacção
memória visual a curto prazo

Mark Williams (2006)


Os peritos são melhores no
reconhecimento dos padrões de jogo

Mark Williams (2006)


Os peritos são melhores na descodificação de pistas
visuais que possibilitem a antecipação

Mark Williams (2006)


De aorcdo com uma pseuqisa nmua
uinrvesridade ignlsea, o nssoo crébero não lê
cada lerta de modo isolado.

O que ipmorta é a plavara cmoo um todo.

Nos jgoos destiporvos os jgodaores


olham praa as pasaigens de jogo de
modo goblal
FEEDBACK DE BANDA LARGA

Reduzir e retardar a emissão de


feedbacks à medida que a
performance evolui.

O feedback só deve ser emitido


quando o desempenho cai fora
que o treinador entenda como
aceitável.
Taxas de retenção

Palestra 5%
Leitura 10 %
Discussão 50 %
Prática 75 %
Ensino e uso imediato 80 %
American Sport Education Program (USA, 2000)

Alto
Grau de aprendizagem

Médio

Baixo
Diz Explica Explica Explica Explica
Demonstra Orienta Demonstra
Orienta
QUESTIONAMENTO

Preencher o espaço entre os feedbacks adoptando


questões sobre “o que fazer”, para sondar a
compreensão dos cenários de jogo.
Estimular a decisão estratégica
FACTORES DO ÊXITO ESTRATÉGICO

• Surpresa
• Afirmação da própria estratégia
• Ataque à estratégia do adversário
A qualidade da performance está diretamente
relacionada com o nível de “compreensão” e de
execução do praticante.
AUTO e HETEROSCOPIA
A observação do desempenho contribui para
o eficaz mapeamento dos cenários de jogo
Os jogadores aprendem a liberdade e a
criatividade obedecendo a regras de acção e a
princípios de gestão do jogo.
Compreender é viver corporalmente.
É usar as cadeias musculo-articulares como órgãos
sensíveis e não apenas como meros executores de
ordens superiores.
INTELIGÊNCIA CORPORAL
Imagens mentais
Marcadores somáticos
Quando se treina bem durante muito tempo
codifica-se as ações e movimentos na
memória implícita em vez de o fazer na
memória explícita.

AMNÉSIA INDUZIDA PELA MEMÓRIA


A exploração da informação em
antecipação tem como resultado um
paradoxo temporal, no qual os
executantes de excelência parecem ter
todo o tempo do mundo.
O reconhecimento de cenários familiares e o
agrupamento da informação percetiva em
conjuntos e padrões significativos acelera os
processos de decisão e de execução.
As tomadas de decisão exigem que utilizemos
ambos os hemisférios cerebrais.
TOMADA DE DECISÃO EM FUTEBOL

Adequação, importância,
riscos e consequências
TOMADA DE DECISÃO EM FUTEBOL

•Abertura, aleatoriedade

• Regularidade vs novidade

• Pressão temporal elevada


TOMADA DE DECISÃO EM FUTEBOL

Contexto da decisão

• Constrangimentos
• Cenários de jogo
• Match status
Gigerenzer (2007) sustenta que mais dados
e mais reflexão não são necessariamente o
melhor no momento de tomar decisões.
É um erro pensar que a inteligência,
individual ou coletiva, é forçosamente
consciente e deliberada.
Os insectos não têm plantas de projetos,
mas constroem catedrais !

Como conseguem os peixes manter as


distâncias relativas nos cardumes?
A hipótese do conflito velocidade-precisão
sugere que quando os jogadores dispõem
de vantagem temporal, escolhem
melhores soluções porque dispõem de
mais dados.
Contudo, é o contrário que se verifica
para os jogadores de topo.
Demasiada reflexão perturba a
performance dos peritos, porque os seus
processos funcionam melhor fora do
controlo da consciência.
Ouves, esqueces.
Vês, recordas.
Fazes, compreendes.
A intuição funda-se sobre uma quantidade de
informação incrivelmente modesta, o que a
torna alvo de desconfiança.
O aforismo “Menos é mais!” contraria duas crenças:

- Quanto mais informação, melhor


- Quanto mais escolhas, melhor
A intuição assenta em métodos empíricos
(heurística do olhar, heurística do reconhecimento) que apenas
extraem do envolvimento um punhado de
dados e ignoram o resto.
O comportamento não é reflexo de um
traço de carácter, mas de uma reação
adaptativa ao ambiente .
A abordagem adaptativa explica que o
comportamento se desenvolve em interação
com o ambiente .
A tendência para explicar o comportamento em
função das caraterísticas internas dos indivíduos,
sem ter em conta o envolvimento, é conhecida
como “ERRO DE ATRIBUIÇÃO FUNDAMENTAL”.
Para compreender o comportamento, é
necessário considerar e observar,
simultaneamente, o indivíduo e o
envolvimento.
Um comportamento complexo não
implica, forçosamente, estratégias
mentais complexas.
A intuição é a inteligência
do inconsciente.
As intuições funcionam como atalhos,
ou expressões concisas da experiência
de vários anos.
Ao detetar alguns pormenores, o
perito converte-as numa série precisa
de intuições.
Da mesma maneira que o processo da visão
começa na retina, a TD inicia-se com as
flutuações de dopamina (neurotransmissor que regula as emoções)
Quando a lógica de uma intuição se torna
consciente, ela pode ser ensinada e treinada.
O problema não é negar a existência das
cognições, mas o de reconsiderar o seu
papel na aprendizagem e no treino.
A verdadeira questão não é a de saber se
podemos confiar na nossa intuição, mas
sobretudo “quando”.

Você também pode gostar