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TítuloFarmacêutica
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Princípios e Métodos de Pesquisa em Saúde II
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Princípios e Métodos de Pesquisa em Saúde II
Objetivos
• Capacitar o aluno para realizar buscas de informações confiáveis em Saúde;
• Capacitar o aluno para interpretar as informações de Artigos na área da Saúde.
Caro Aluno(a)!
Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o
último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.
Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.
Bons Estudos!
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Princípios e Métodos de Pesquisa em Saúde II
Graus de Evidência
A fim de guiar as decisões relacionadas à atividade clínica, a Medicina Baseada em
Evidências (MBE), estabeleceu uma hierarquia da evidência (GUYATT et al., 2008).
Embora surgida no contexto médico, para guiar as decisões requeridas desses profis-
sionais, ela serve como uma referência muito útil para todos os profissionais envolvidos
com medicamentos (e outros tratamentos), como por exemplo, os profissionais da In-
dústria Farmacêutica.
A busca é repetida quantas vezes for necessário até que se encontre o estudo que
responda à pergunta com o maior nível de qualidade disponível.
Quanto maior o nível da evidência nessa classificação, maior é sua qualidade, pois:
• Menor é o potencial do estudo de sofrer influência de fatores de confusão ou vieses;
• E maior é a precisão das estimativas, vez que também é maior o tamanho da amostra
(Guyatt et al., 2008).
E o que é a evidência?
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prognóstico, tratamento etc. Essas hierarquias diferem entre si, principalmente, por
conta do diferente propósito a que servem (GUYATT et al., 2008).
Para questões sobre eficácia de tratamentos ou medidas profiláticas ou, ainda, sobre
a segurança de intervenções, a Revisão Sistemática de Ensaios Clínicos Randomizados
(ECRs) é considerada o mais alto nível de evidência, principalmente se os ECRs incluí-
dos utilizaram métodos adequados e possuem resultados consistentes.
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Menor nível ainda ocupam as séries de casos, que não possuem grupo controle e,
portanto, não permitem determinar o que ocorreria sem a intervenção. E os relatos de
caso, que além dos problemas apresentados pelas séries de caso, possuem menos ob-
servações ainda (MCALISTER et al., 1999).
Na base dessa hierarquia, encontra-se a pesquisa básica sobre Fisiologia. Ela estuda
os mecanismos normais de funcionamento dos seres vivos e, como não gera informa-
ções diretas sobre tratamento, oferece a evidência de menor nível para aplicações tera-
pêuticas (GUYATT et al., 2008).
Figura 2
Fonte: iStock/Getty Images
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Embora não se deva descartar de antemão a possibilidade de haver revisão sistemática
de ECRs que abordem a segurança de intervenções, na maior parte dos casos, o que
se encontra na Literatura para abordar eventos adversos são os estudos observacionais
(GUYATT et al., 2008).
Acesse o link a seguir, que encaminha para o resumo de uma revisão sistemática, que
é exceção à regra, e avaliou, também, os efeitos adversos dos tratamentos estudados.
Essa revisão sistemática de ECRs comparou o efeito do tratamento com varfarina, ácido
acetilsalicílico ou placebo na prevenção de AVC em pacientes com fibrilação atrial. Como
esses dois medicamentos são utilizados para anticoagular o sangue do paciente, foram
incluídos na metanálise efeitos colaterais relacionados a hemorragias graves (major
extracranial bleeding ou major hemorrhage): https://goo.gl/9d8h1E
Além disso, outras características relevantes dos pacientes alvo devem ser definidas,
se necessário para o seu objetivo. Essas características podem ser a idade, o sexo, a
etnia, o ambiente de atendimento (paciente internado, ambulatorial, comunitário etc.),
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O placebo, nesse caso, também pode ser uma boa opção, porque o efeito placebo
realmente existe e pode aliviar alguns sintomas em parte dos pacientes (FLETCHER;
FLETCHER, 2005).
De qualquer modo, essas são apenas opções, e a escolha depende do seu objetivo
com a pergunta. Um grupo controle de exemplo poderia receber o anticoagulante oral
varfarina, tratamento estabelecido para anticoagulação.
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Figura 4 – Se a questão é sobre o efeito de um novo medicamento em relação a outro mais
antigo, estes serão, respectivamente, a intervenção (I) e o controle (C) do PICO
Fonte: iStock/Getty Images
Por fim, o O representa o Outcome, ou, em português, o desfecho. Para melhor en-
tender os tipos de desfechos possíveis, uma classificação útil divide-os em intermediários
ou clinicamente relevantes (CUMMINGS; GRADY; HULLEY, 2015; O’CONNOR;
GREEN; HIGGINS, 2011).
O problema é que esse tipo de desfecho pode nos enganar, não predizendo correta-
mente os desfechos clínicos importantes. Muitas intervenções reduzem o risco de ocor-
rência de desfechos intermediários, mas não possuem efeito ou são até prejudiciais para
os desfechos clinicamente relevantes. Além disso, a situação oposta pode acontecer, e as
intervenções podem não ter efeito em desfechos intermediários, ainda que promovam
melhora em desfechos clínicos. Assim, desfechos intermediários devem ser interpreta-
dos com cautela (O’CONNOR; GREEN; HIGGINS, 2011).
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Por extensão: em pacientes com fibrilação atrial não valvar, qual o efeito do novo
anticoagulante oral rivaroxabana, em comparação à varfarina, na prevenção de AVCs?
Antes de partir para a busca, ainda é necessário selecionar as palavras-chave que se-
rão utilizadas. Porém, as palavras que você selecionar para responder os itens do PICO
são ótimas opções de palavras-chave para a sua busca, o que torna esta etapa mais fácil
(GUYATT et al., 2008).
Após essas fases preparatórias, inicia-se efetivamente a busca e a seleção dos Arti-
gos. Um ótimo lugar para começar é na base de dados científica MEDLINE, disponível
gratuitamente na internet, no portal PubMed.
Ela é uma base de dados em Saúde, disponibilizada pelo Governo dos EUA, fre-
quentemente utilizada por ser gratuita, muito vasta, estar disponível na Internet (U. S.
NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE, 2005) e ter boas ferramentas de pesquisa.
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Realizando essas atividades com o nosso PICO, obteríamos o resultado descrito no
Quadro 3:
Quadro 3 – Pergunta de pesquisa no formato PICO com tradução das palavras-chave para inglês
Português Inglês*
P pacientes com fibrilação atrial não valvar nonvalvular atrial fibrillation
I rivaroxabana rivaroxaban
C varfarina warfarin
O prevenção de AVCs stroke
* A tradução das palavras-chave para o Inglês foi feita para possibilitar o uso da base de dados bibliográficos MEDLINE
Se, além disso, solicitarmos ao PubMed para apresentar apenas Artigos com o dese-
nho de pesquisa de seu interesse, conseguirá reduzir ainda mais o número de resultados,
sem perder qualidade nas respostas (Figura 6).
Essa seleção pode ser realizada no canto superior esquerdo da página de resultados
do PubMed, em Article Types, ao escolher a categoria Systematic Reviews (Figura 6).
Essa busca foi realizada em fevereiro de 2018. Se você encontrar resultados ligei-
ramente diferentes, não se preocupe: o PubMed é atualizado diariamente; então é
esperado que você obtenha um número de resultados maior do que os descritos nas
Figuras 5 e 6.
Figura 5 - Página de resultados do PubMed após a realização da busca pelas palavras-chave selecionadas.
Destaque para o número de resultados encontrados
Figura 6 – Página de resultados do PubMed após a seleção do tipo de estudo buscado. Destaque para o local
em que se realizou a seleção por Systematic reviews e também para a redução no número de resultados
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Com isso feito, a última etapa que falta é ler os títulos e os resumos dos Artigos.
Assim, será possível selecionar aqueles que atendem a todos os itens do PICO e que
são realmente revisões sistemáticas de Ensaios Clínicos randomizados. Utilizando essa
estratégia, seu trabalho será menos angustiante porque você terá menos chance de se
perder na imensidão de informações disponíveis na Internet (GUYATT et al., 2008).
Completando todos esses passos, poderemos encontrar como exemplo para o PICO
proposto o Artigo Dabigatran, Rivaroxaban, orapixaban versus Warfarin in patients
with nonvalvular Atrial Fibrillation: A systematic review and Meta-analysis of subgroups
(https://goo.gl/Yq84gt), que responde nossa pergunta e ainda tem o Artigo disponibilizado
gratuitamente.
Tanto o risco relativo quanto a diferença de risco são utilizadas em ensaios clínicos
randomizados para calcular o tamanho do efeito da intervenção (OLIVEIRA; VELARDE;
SÁ, 2015).
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atrial. O desfecho primário analisado foi a ocorrência de AVC ou tromboembolismo
sistêmico (GIUGLIANO et al., 2013).
A medida menos usada, mas igualmente importante, é a diferença de risco. Essa me-
dida é calculada, simplesmente, pela diferença entre dois riscos absolutos. Ela também
pode ser chamada de redução do risco absoluto (FLETCHER; FLETCHER, 2005), por-
que ela é utilizada para demonstrar em quanto o risco absoluto de ocorrência do evento
foi reduzido com a intervenção (ou exposição).
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O hazard ratio sim, leva em conta no seu cálculo o tempo que cada paciente foi
acompanhado. Ainda assim, a interpretação do hazard ratio é praticamente igual à do
risco relativo, exceto pelo fato de que ela considerou o tempo em seu cálculo.
Clique no link a seguir para encontrar o estudo ENGAGE. Encontre o hazard ratio e tente
interpretá-lo do mesmo modo como foi feito para o risco relativo: https://goo.gl/QvnsN6.
Mais informações sobre essas medidas, explicadas de modo bem simples e com exemplos,
podem ser encontradas no blog Medicina baseada em evidências (CORREIA, 2009):
- Sobre diferença de risco, no link https://goo.gl/5htb2p
- Sobre hazard ratio, no link https://goo.gl/WhsjM6
Vamos analisar mais atentamente uma situação especial, tomando o risco relativo e
a diferença de risco como exemplos. Ao comparar dois tratamentos, podemos chegar
à conclusão de que o risco absoluto de desenvolver determinada doença é de 5%, tanto
no grupo experimental, quanto no controle. Com esse resultado igual em ambos os gru-
pos, claramente podemos concluir que não há diferença entre o uso de um ou do outro
tratamento.
Em medidas baseadas em fração (RR, OR, HR), resultado igual a 1 significa que não há
diferença entre os tratamentos. Em medidas baseadas em diferença de risco, por outro
lado, é o resultado igual a 0 que significa não haver diferença entre os tratamentos.
É possível ver o termo razão de chances como tradução para odds ratio, mas, em
geral, utiliza-se a expressão e a sigla originais, Odds Ratio (OR).
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qual os doentes ocorrem em uma proporção pequena da população geral. Assim, não é
possível calcular o risco relativo em um estudo de caso-controle (HULLEY et al., 2015).
O odds ratio, então, é uma forma válida de estimar o risco relativo em estudos de
caso-controle quando a doença estudada é rara.
Nesses casos, é matematicamente demonstrável que o odds ratio é uma boa estimati-
va do risco relativo. O modo de cálculo do odds ratio é quase um mantra na Epidemio-
logia Clínica: “o produto cruzado da tabela 2x2”, ou seja, ad/bc (HULLEY et al., 2015)
(Tabela 1), como será explicado no exemplo a seguir.
Tabelas 2x2 são como a Tabela 1: com duas linhas e duas colunas (ALMEIDA
FILHO; ROUQUAYROL, 1999) para acomodar o número de casos e controles, expos-
tos e não expostos, ao fator de risco.
Esse odds ratio significa que a probabilidade de ocorrência de leucemia após a ad-
ministração de vitamina K foi estimada em 1,27 vezes maior do que sem a administra-
ção de vitamina K. Essa associação, no entanto, não foi estatisticamente significante
(HULLEY et al., 2015; VON KRIES et al., 1996).
Originalmente, Von Kriese e colegas (1996) utilizaram, para cálculo das estimativas,
um modelo de regressão linear múltipla ajustado por classe social e prematuridade.
No entanto, mesmo utilizando uma técnica estatística mais complexa do que a apre-
sentada aqui, o resultado obtido por eles foi OR 1,24 (IC95% 0,68 a 2,25), ou seja,
muito semelhante ao nosso.
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É comum ler sobre medidas ajustadas. As medidas ajustadas para risco relativo e outras
medidas de associação são consideradas estimativas mais adequadas do que as não-
-ajustadas, embora ambas devam ser apresentadas nos estudos. As estimativas ajustadas
são preferíveis porque levam em conta a influência que possíveis variáveis de confusão
possam ter no resultado. Elas corrigem o efeito estudado para os efeitos de possíveis
variáveis confundidoras selecionadas (ALMEIDA FILHO; ROUQUAYROL, 1999).
Tipos de Variáveis
Para que possamos entender a análise estatística de um estudo, é necessário co-
nhecer os tipos de variáveis envolvidas. Na Epidemiologia Clínica as características
dos pacientes, bem como os eventos clínicos, são chamadas de variáveis, pois são
propriedades que mudam e podem ser registradas ou mensuradas. Os estudos na Área
da Saúde, normalmente, possuem dois tipos de variáveis mais importantes: as variáveis
dependentes e as independentes (FLETCHER; FLETCHER, 2005).
São classificadas como variáveis numéricas: o peso corporal (em kg), a altura (em me-
tros) e o número de filhos (1, 2, 3 etc.). São exemplos de variáveis categóricas: o estado
de saúde de um paciente (doente ou não doente); o tipo de sangue (A, B, AB ou O), ou
o grau de dor de um paciente (leve, moderada ou forte).
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As variáveis discretas, por sua vez, não admitem valores fracionários; por exemplo,
a frequência de batimentos cardíacos (61 batimentos por minuto) (ROUQUAYROL;
ALMEIDA FILHO, 1999).
As variáveis qualitativas, por sua vez, podem ser classificadas em ordinais ou no-
minais. As variáveis ordinais apresentam categorias com uma ordem pré-estabelecida;
por exemplo: discreta, moderada ou grave, em ordem crescente para a gravidade de
uma lesão.
As variáveis nominais, por outro lado, não possuem uma ordenação entre suas clas-
ses; por exemplo, os tipos sanguíneos. Também é muito comum o uso da denominação
variável dicotômica, para variáveis qualitativas com apenas duas categorias. Por exem-
plo, o estado de vida de um paciente (morto ou vivo) (HULLEY et al., 2015).
Um resumo dessa classificação das variáveis pode ser conferido na Figura 8. Essa
será uma classificação indispensável na próxima seção, sobre testes de hipóteses.
CONTÍNUAS
Ex.: Peso (Kg)
QUANTITATIVAS
OU NUMÉRICAS
DISCRETAS
Ex.: número
de filhos
VARIÁVEIS
NOMINAIS
Ex.: etnia
QUANTITATIVAS
OU CATAGÓRICAS
ORDINAIS
Ex.: grau de dor
(leve, moderado, forte)
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o IC9 5%, que representa uma faixa de valores nos quais estamos razoavelmente
confiantes de que o verdadeiro valor encontrado na população estará . (ROWE, 2007).
Então, no caso, o hazard ratio de 0,79, calculado com os dados da amostra, pode
não ser exatamente o resultado correto. Porém, espera-se que o verdadeiro resultado
esteja dentro do intervalo de 0,66 a 0,96.
Quando utilizamos o IC 95% para uma medida como o risco absoluto de um evento, por
exemplo, podemos afirmar que, na maior parte das vezes (95% das vezes), o verdadeiro valor
do risco absoluto do evento na população estará incluído nesse intervalo (ROWE, 2007).
É importante saber que o IC 95% admite erro em 5% das vezes em que é utilizado. Em
outras palavras, se a mesma estimativa de uma característica da população fosse calculada
repetidas vezes, em 95% delas, o verdadeiro valor médio estaria incluído dentro do IC
95% calculado. Nas outras 5% das vezes, uma amostra não representativa da população
produziria um IC que não inclui a verdadeira média da população (ROWE, 2007).
Certo, mas que conclusões podem ser tiradas com o intervalo de confiança? Você se
lembra da discussão sobre o significado do 0 e do 1 para medidas como a diferença de
risco e o risco relativo? Para a diferença de risco, resultado igual a 0 significa não haver
diferença entre os resultados dos grupos observados; para o risco relativo, essa mesma
conclusão é obtida com o resultado igual a 1.
Assim, quando o IC 95% do risco relativo ou outras medidas baseadas em fração cruzam
o 1, isso significa que um dos resultados possíveis é não haver diferença estatistica-
mente significante entre os tratamentos. Extrapolando os dados da amostra para a
população, na realidade, há possibilidade de que não exista diferença entre os grupos
experimental e controle. A mesma conclusão é verdadeira quando o IC 95% das medidas
baseadas em subtração cruza o 0.
Agora vamos falar sobre o valor de P. Apesar do exemplo que demos anteriormente,
no qual os riscos absolutos foram exatamente iguais a 5% nos grupos experimental e
controle, isso é improvável de acontecer. Mesmo que realmente a intervenção não tenha
nenhum efeito, o erro amostral dificilmente permitirá encontrar resultados tão perfeitos
(ROWE, 2007).
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Na Estatística, essas duas explicações recebem, respectivamente, os nomes de hipótese
nula e hipótese alternativa. A fim de decidir qual das hipóteses é a mais razoável, calcula-se
uma probabilidade P por meio de testes de hipóteses. Quanto menor o valor de P, mais
improvável que esses resultados apareceriam por puro acaso; portanto, mais forte a evidência
(ROWE, 2007).
P é a probabilidade de que, mesmo com um tratamento que não possui efeito algum,
nós observássemos um efeito (positivo ou negativo) tão ou mais extremo que aquele
observado. De modo arbitrário, foi aceito pela comunidade científica, há algum tempo,
que os resultados de pesquisa seriam considerados estatisticamente significantes se o
valor de P associado fosse menor do que 5% (0,05) (ROWE, 2007).
Não é nosso intuito discutir cada um desses testes de hipóteses, porque isso levaria a
uma discussão muito longa. Porém, este guia serve para que você possa entender alguns
termos utilizados na descrição da análise estatística de Artigos na Área da Saúde.
Quadro 5 – Guia simplificado para avaliação da estatística utilizada em estudos na área da saúde
Variável independente Variável dependente
Medida de associação Teste de hipóteses
ou preditora ou desfecho
Nominal (dicotômica) Nominal (dicotômica) RR, OR Qui-quadrado (x2)
Teste de diferenças entre
Nominal (dicotômica) Nominal (dicotômica) Diferença de risco
proporções
Testes de diferenças entre
Nominal Contínua Razão de médias médias: testes T de Student;
Análise de variância (ANOVA)
Coeficiente de correlação (r) Teste de significância do r de
Contínua Contínua
de Pearson Pearson,da regressão linear
Coeficiente de correlação (r) Teste de significância
Ordinal Ordinal
de Spearman do r de Spearman
Nominal + nominal(is)
Nominal RR ajustado, OR estandardizado Teste de Mantel-Haenszel
possivelmente confundidora(s)
Nominal + contínua(s) ou F de efeitos isolados e
nominai(s) possivelmente Contínua Coeficiente de correlação parcial combinados, da análise
confundidora(s) de regressão múltipla
Fonte: adaptado de Almeida Filho e Rouquayrol, 1999
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Caso você queira mais informações na parte de estatística voltada à área da saúde, con-
fira os Materiais Complementares recomendados. Um livro introdutório, em português, e
disponível na biblioteca online da Cruzeiro do Sul é o de Callegari-Jacques (2003). Outro
livro introdutório, porém em inglês, praticamente sem fórmulas e para entender conceitos
fundamentais da estatística é o de Rowe (2007).
Embora possam parecer dois critérios diferentes para declarar resultados estatistica-
mente significantes, o IC 95% não incluir o 0 ou o 1, e o valor de P < 0,05, são critérios
matematicamente equivalentes. Isso significa que, se um resultado for estatisticamente
significante (P<0,05) pelo valor de P, o resultado sempre será concordante com o IC 95%,
ou seja, nesses casos, o intervalo de confiança não incluirá o 0 ou o 1 (ROWE, 2007).
Com todas essas informações, analise em detalhes o trecho a seguir: “In the primary
analysis, the primary end point occurred in 188 patients in the rivaroxaban group (1.7%
per year) and in 241 in the warfarin group (2.2% per year) (hazard ratio in the rivaroxaban
group, 0.79; 95% confidence interval [CI], 0.66 to 0.96; P<0.001 for noninferiority) (PATEL
et al., 2011, p.883-891)”
Esse trecho mostra que o hazard ratio para a rivaroxabana foi calculado em 0,79, com um
intervalo de confiança que pode variar de 0,66 a 0,96. O hazard ratio, que é uma proporção,
menor do que 1 indica que a ocorrência do desfecho foi reduzida com a rivaroxabana em
relação à varfarina. Além disso, o IC 95%, que também não cruza o 1, indica que definiti-
vamente está excluída a possibilidade de não haver diferença entre o grupo que utilizou
a rivaroxabana e a varfarina.O P<0,001 indica ser muito baixa a probabilidade de esse
resultado ter sido causado pelo acaso. A rivaroxabana, em relação à varfarina, reduziu o
risco de ocorrência do desfecho primário e o verdadeiro resultado não deixa dúvidas de que
há diferença entre os tratamentos, e essa diferença favorece a rivaroxabana.
Figura 9
Fonte: iStock/Getty Images
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Metanálise
A metanálise, apesar do nome complexo, surge de uma ideia relativamente simples:
realizar a média ponderada dos resultados dos estudos incluídos, sendo o peso de cada
estudo da metanálise relacionado à precisão de seus resultados (GRADY; CUMMINGS;
HULLEY, 2015).
Um exemplo pode ser visto na Figura 9. Essa metanálise foi retirada da revisão
sistemática sobre medicamentos beta-bloqueadores para prevenção e tratamento da
retinopatia da prematuridade (KAEMPFEN et al., 2018).
O original, em tamanho maior, sob a denominação Analysis 1.2, pode ser acessado em
https://goo.gl/9GKG2F.
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Princípios e Métodos de Pesquisa em Saúde II
0.54 [0.32,
Total (95% CI) 191 175 100.0%
0.89]
Total events: 19 (Beta-blockers), 34 (Control)
Heterogenity: Chi2 - 0.90, d1 - 2 (P - 0.64); I2 - 0.0%
Test for overall effect: Z - 2.43 (P - 0.015)
Test for subgroup differences: Chi2 - 0.87, d1 - 1 (P - 0.35), I2 - 0.0%
0.001 0.01 0.1 1 10 100 1000
Favours beta-blocker Favours control
Fonte: Kaempfen e colegas, 2018
A estatística utilizada nessa metanálise foi o risco relativo (veja no topo do gráfico as descrições
da estatística utilizada e o desfecho estudado). Considerando as informações já discutidas so-
bre risco relativo e intervalo de confiança, qual seria a interpretação desse resultado?
Como o losango não cruza o 1 e a medida utilizada é uma proporção, isso quer dizer
que foi possível identificar diferença estatisticamente significante entre os grupos inter-
venção e controle (HAYNES et al., 2006).
Se olharmos na legenda sob os eixos do gráfico, o losango ficou do lado que mostra
efeito a favor do tratamento com beta-bloqueadores, ou seja, o tratamento foi eficaz para
o desfecho de prevenção de técnicas mais invasivas como crioterapia e fotocoagulação.
Apesar desse resultado aparentemente animador, que mostra eficácia do tratamento,
os autores não recomendam o uso rotineiro dessa intervenção. Eles sugerem a realiza-
ção de mais estudos para que se possa avaliar melhor a segurança da intervenção, vez
que foram observados efeitos adversos graves relacionados ao tratamento em alguns dos
bebês recém-nascidos (KAEMPFEN et al., 2018).
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Epidemiologia clínica: elementos essenciais
FLETCHER, R. H.; FLETCHER, S. W.; FLETCHER, G. S. Epidemiologia clínica: ele-
mentos essenciais. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2014
Diretrizes para utilização da literatura médica: os fundamentos para prática clínica da Medici-
na baseada em evidências
GUYATT, G. et al. Diretrizes para utilização da literatura médica: os fundamentos
para prática clínica da Medicina baseada em evidências. Manual para prática da Medicina
Baseada em Evidências. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2011
Segurança dos medicamentos: um guia para detectar e notificar reações adversas a medicamentos
ORGANIZAÇÃO Mundial da Saúde. Segurança dos medicamentos: um guia para de-
tectar e notificar reações adversas a medicamentos. Por que os Profissionais de Saúde
precisam entrar em ação. Brasília: OPAS/OMS, 2004;
Leitura
Bioestatística: princípios e aplicações
CALLEGARI-JACQUES, S. M. Bioestatística: princípios e aplicações. Porto Alegre:
Artmed, 2003
https://goo.gl/BM8VHc
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Referências
ALMEIDA FILHO, N.; ROUQUAYROL, M. Z. Análise de dados epidemiológicos. In:
ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia e saúde. 5.ed. Rio de
Janeiro: MEDSI, 1999. cap. 7.
GUYATT, G. et al. (ed.).Users’ guides to the medical literature: a manual for evi-
dence-based clinical practice. 2nd ed. New York: McGraw-Hill, 2008.
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HIGGINS, J. P. T.; GREEN, S. (ed.). Cochrane Handbook for Systematic Reviews of
Interventions. Version 5.1.0 [updated March 2011]. [S.l.]: The Cochrane Collaboration,
2011. Chapter 5. Disponível em: <www.handbook.cochrane.org>. Acesso em: 9 fev. 2018.
HULLEY, S. B. et al. Delineando a pesquisa clínica. 4.ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.
Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582712030>.
Acesso em: 1 fev. 2018.
O’CONNOR, D.; GREEN, S.; HIGGINS, J. P. (ed.) Defining the review question and
developing criteria for including studies. In: HIGGINS, J. P. T.; GREEN, S. (ed.). Co-
chrane Handbook for Systematic Reviews of Interventions. Version 5.1.0 [upda-
ted March 2011]. [S.l.]: The Cochrane Collaboration, 2011. Chapter 5. Disponível em:
<www.handbook.cochrane.org>. Acesso em: 9 fev. 2018.
VON KRIES, R. et al. Vitamin K and childhood cancer: a population based case-
-control study in Lower Saxony, Germany. BMJ, London, v. 313, n. 7051, p.199-
203, 1996.
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