Você está na página 1de 15

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA

PÚBLICA DA COMARCA DE IPIAÚ/BA

URGENTE!

PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO: PACIENTE PORTADOR DE


ESQUIZOFRENIA

NORMA LUCIA MOTA DA SILVA, brasileira, casada, aposentada,


portadora do RG 0180744992 SSP/BA, CPF 295.015.715-72, residente e
domiciliada à Rua José Motta Fernandes, nº 80, Bairro Democracia, Ipiaú-Ba, CEP:
45.570-000, Telefone: (73) 98182-0235, endereço eletrônico:
normalu.mota@gmail.com, através da Defensoria Pública do Estado da Bahia, por
meio do Defensor Público abaixo assinado, com fulcro nos artigos 1º, III, 6o, 127,
"caput" e 129, III da Constituição Federal; artigos 3o, 4o "caput", 6o caput e
parágrafo único, inciso III, e 9o da Lei Federal nº 10.216/2001, artigos 45, “caput” e
inciso IV, vem à presença de Vossa Excelência propor;

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C DE INTERNAÇÃO


INVOLUNTÁRIA E PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA E
COMINAÇÃO DE MULTA DIÁRIA PARA HIPÓTESE DE DESCUMPRIMENTO

Em favor de RONALDO DOS SANTOS PINTO, brasileiro, solteiro, nascido em


10/06/1978, filho de Valdevino Arcenio Pinto e Vivaldina Mota dos Santos, inscrito no
CPF nº 021.231.835-71, residente e domiciliado à Rua Ailton Souza, Bairro Santa
12ª Regional da Defensoria Pública do Estado da Bahia - Unidade Ipiaú-Ba
Rua Antônio Augusto Sá, nº 46, Bairro Conceição, Ipiaú - BA.
Tel.: (73) 3531- 6054.
Rita, nº 59, Ipiaú-BA, CEP 45.570-000, e sem endereço eletrônico;

Em face do MUNICÍPIO DE IPIAÚ, pessoa jurídica de direito público interno, CNPJ


n° 13.701.651/0001-50, representado pelo Procurador Geral do Município, com
endereço na Procuradoria Geral do Município, com sede localizada na Rua Ângelo
Jaqueira, nº 01, Centro, CEP 45570-000, Ipiaú-BA, Tel. (73) 3531-3225, endereço
eletrônico desconhecido, e;

ESTADO DA BAHIA, pessoa jurídica de direito público interno, CNPJ n°


13.937.032/0001-60, representado pelo Procurador Geral do Estado, com endereço
na Procuradoria Geral do Estado da Bahia, Centro Administrativo da Bahia, Av. Luís
Eduardo Magalhães, 3ª Avenida, 370, CEP: 41.745-005, nesta Capital, Tel. (71)
3115-0492, endereço eletrônico desconhecido, pelas razões de fato e de direito que
passa a expor.

I. DA JUSTIÇA GRATUITA

Inicialmente, requer sejam concedidos os benefícios da Justiça Gratuita,


na medida em que a parte Requerente se afigura carente de recursos financeiros,
não podendo arcar com custas processuais e honorários advocatícios, nos termos
do art. 98 e 99 do Código de Ritos de 2015.

Em razão da insuficiência financeira da postulante, verifica-se que esta


não pode sequer arcar com o adiantamento das despesas processuais, nem mesmo
de forma parcelada ou diferida.

II. DA INEXISTÊNCIA DE ENDEREÇO ELETRÔNICO

12ª Regional da Defensoria Pública do Estado da Bahia - Unidade Ipiaú-Ba


Rua Antônio Augusto Sá, nº 46, Bairro Conceição, Ipiaú - BA.
Tel.: (73) 3531- 6054.
A parte Autora, em virtude de sua absoluta carência de recursos
financeiros e falta de acesso pleno aos meios de comunicação virtuais, não dispõe
de endereço eletrônico (email). Esta circunstância, entretanto, não pode ser
interpretada em seu desfavor nem acarretar, eventualmente, extinção de processo
sem julgamento de mérito em razão do que dispõe o artigo 319, § 3º do Código de
Processo Civil sob pena de restar caracterizado óbice ao acesso à Justiça.

III. DOS FATOS

A autora é irmã do Srº Ronaldo, atualmente com 43 (quarenta e três)


anos de idade, o qual encontra-se interditado. Consoante demonstra a
documentação anexa.

Nesse diapasão, conforme relatório médico incluso, o paciente possui


diagnóstico de ESQUIZOFRENIA PARANÓIDE (F20.0 de acordo com a CID-10).

Aduz a Autora, que o paciente foi internado em Salvador durante 02


(dois) anos no ADC. Já apresentou surtos por diversas vezes, tentativas de suicídio,
agressão contra familiares e pessoas desconhecidas, comportamento sexual
inadequado, ameaças, e se recusa a fazer uso da medicação.

Informa ainda que, no ano de 2020, com o uso de um pedaço de


madeira, o Srº Ronaldo efetuou diversos golpes contra uma criança, tendo sido
impedido por circunstâncias alheias a sua vontade. Conforme receituário médico, o
paciente permanece com comportamento hostil e beligerante, quadro alucinatório-
delirante, desinibição sexual e agitação psicomotora.

12ª Regional da Defensoria Pública do Estado da Bahia - Unidade Ipiaú-Ba


Rua Antônio Augusto Sá, nº 46, Bairro Conceição, Ipiaú - BA.
Tel.: (73) 3531- 6054.
Em razão das constantes ameaças e comportamento agressivo do
requerido, a família não possui mais condições de cuidar do Srº Ronaldo.

Por tais motivos, ante a recusa do requerido em realizar o tratamento


por meio de medicamento, e, baseado no laudo médico anexo, entendendo que a
internação do indivíduo é a última via ao seu atual estado de saúde, foi requisitado
para o paciente o INTERNAMENTO INVOLUNTÁRIO em unidade hospitalar apta,
para realização de tratamento e apoio psicológico.

De forma que, no caso em exame, a internação involuntária do Sr.


RONALDO DOS SANTOS PINTO em Clínica Psiquiátrica, para compensação de
quadro clínico e adoção de tratamento parental, apesar de figurar como
medida extrema, mostra-se a mais adequada, uma vez que infrutíferas as
tentativas extra-hospitalares de recuperação do paciente, de forma que o
tratamento se afigura indispensàvel à preservação da sua integridade e de
terceiros.

Portanto, o Sr. Ronaldo, necessita com urgência, ser internado


involuntariamente em unidade pública ou, subsidiariamente, particular,
capacitada para tratamento psiquiátrico, de modo a concretizar o seu direito à
saúde e a uma vida digna, que se encontram sob iminente risco de perecimento. É o
que se pretende com a propositura da presente demanda.

DO DIREITO

I- DA LEGITIMIDADE ATIVA

12ª Regional da Defensoria Pública do Estado da Bahia - Unidade Ipiaú-Ba


Rua Antônio Augusto Sá, nº 46, Bairro Conceição, Ipiaú - BA.
Tel.: (73) 3531- 6054.
Preambularmente, curial destacar que, a sra. Norma Lucia Mota Da Silva,
ora irmã do paciente, é parte legítima para a propositura de presente demanda,
conforme disposto no artigo 4º da Lei 10.216/01, senão vejamos:

Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, só


será indicada quando os recursos extra-hospitalares se
mostrarem insuficientes.

Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada


mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os
seus motivos.
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de
internação psiquiátrica:
I - internação voluntária: aquela que se dá com o
consentimento do usuário;
II - internação involuntária: aquela que se dá sem o
consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e
III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.

Conforme é cediço, o direito à saúde é garantido a todos e dever do Estado


(art. 196 da CF), erigindo tal direito à categoria de direito social, fundamental,
inalienável e indisponível (Art. 6º da CF), é imperioso que tal imposição legal
implique em consequências práticas, sobretudo no que tange à sua efetividade.

Assim, considerando que o direito à saúde é um direito social indisponível,


bem como o fato do requerido apresentar quadro psicótico que coloca em risco tanto
sua própria vida como a de terceiros, a Autora possui legitimidade “ad causam” para
ingressar com a presente ação.

II – DA LEGITIMIDADE PASSIVA DOS RÉUS

Antes de mais nada, importa mencionar que, a teor do disposto no artigo


23, inciso II, da Constituição Federal, compete aos entes federativos cuidar da saúde
pública, assim fornecendo medicamentos e disponibilizando exames, consultas
médicas e cirurgias gratuitos a quem quer que necessite:

12ª Regional da Defensoria Pública do Estado da Bahia - Unidade Ipiaú-Ba


Rua Antônio Augusto Sá, nº 46, Bairro Conceição, Ipiaú - BA.
Tel.: (73) 3531- 6054.
Art. 23: É competência comum da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios:
(...)
II – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e
garantia das pessoas portadoras de deficiências;

Por força do quanto disposto na Lei Maior é que os tribunais pátrios, em


suas jurisprudências, têm consolidado o entendimento de que promover ações e
serviços públicos de saúde é obrigação de caráter solidário da União, dos Estados
e dos Municípios. Neste sentido, vale trazer à baila o seguinte aresto, originado do
Pretório Excelso:

MANDADO DE SEGURANÇA - ADEQUAÇÃO - INCISO LXIX,


DO ARTIGO 5º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Uma vez
assentado no acórdão proferido o concurso da primeira
condição da ação mandamental - direito líquido e certo -
descabe concluir pela transgressão ao inciso LXIX do artigo 5º
da Constituição Federal. SAÚDE - AQUISIÇÃO E
FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS - DOENÇA RARA.
Incumbe ao Estado (gênero) proporcionar meios visando a
alcançar a saúde, especialmente quando envolvida criança
e adolescente. O Sistema Único de Saúde torna a
responsabilidade linear alcançando a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios. RE 195192/RS - RIO
GRANDE DO SUL, RECURSO EXTRAORDINÁRIO,
Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO, Julgamento: 22/02/2000,
Órgão Julgador:  Segunda Turma, Publicação: DJ 31-03-2000,
PP-00060. (grifos nossos).

Ademais, o direito à vida, como todo direito individual fundamental, tem


eficácia plena e aplicabilidade imediata, não dependendo de regulamentação a
posteriori, sendo obrigação solidária dos entes federativos, a teor do que preleciona
os arts. 6º, 23, inc. II, e 196 da Carta Magna, a promoção da saúde, esta entendida
como corolário lógico da direito à vida e do principio da dignidade da pessoa
humana. Neste mesmo sentido foi o entendimento fixado no acórdão cujo excerto
segue transcrito, oriundo do Egrégio Superior Tribunal de Justiça:

12ª Regional da Defensoria Pública do Estado da Bahia - Unidade Ipiaú-Ba


Rua Antônio Augusto Sá, nº 46, Bairro Conceição, Ipiaú - BA.
Tel.: (73) 3531- 6054.
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. RECURSO
ESPECIAL. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
SÚMULAS 282/STF E 211/STJ. FORNECIMENTO GRATUITO
DE MEDICAMENTOS. IDOSO. LEGITIMIDADE PASSIVA
SOLIDÁRIA DOS ENTES PÚBLICOS (MUNICÍPIO, ESTADO E
UNIÃO). ARTS. 196 E 198, § 1º, DA CF/88. PRECEDENTES
DO STJ. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE
CONHECIDO E, NESSA PARTE, DESPROVIDO.
1. A ausência de prequestionamento dos dispositivos legais
tidos como violados torna inadmissível o recurso especial.
Incidência das Súmulas 282/STF e 211/STJ.
2. Nos termos do art. 196 da Constituição Federal, a saúde é
direito de todos e dever do Estado. Tal premissa impõe ao
Estado a obrigação de fornecer gratuitamente às pessoas
desprovidas de recursos financeiros a medicação necessária
para o efetivo tratamento de saúde.
3. O Sistema Único de Saúde é financiado pela União,
Estados-membros, Distrito Federal e Municípios, sendo
solidária a responsabilidade dos referidos entes no
cumprimento dos serviços públicos de saúde prestados à
população. Legitimidade passiva do Estado configurada.
4. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte,
desprovido.
(REsp 828.140/MT, Rel. Ministra DENISE ARRUDA,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 20/03/2007, DJ 23/04/2007 p.
235).

Destarte, restando demonstrada a legitimidade passiva de qualquer dos


entes federativos, é induvidoso que a presente ação poderia ser proposta, a critério
da parte autora, em desfavor de um, alguns ou todos os entes federativos, como na
hipótese sub examen.

III – DA NECESSIDADE DA INTERNAÇÃO INVOLUNTÁRIA NO PRESENTE


CASO

No caso em tela, segundo se extrai da própria narrativa fática, resta


evidente a necessidade de internação involuntária de RONALDO DOS SANTOS
PINTO. Tal internação tem por base a própria legislação específica atinente à
matéria, vez que cumpre seus requisitos.

12ª Regional da Defensoria Pública do Estado da Bahia - Unidade Ipiaú-Ba


Rua Antônio Augusto Sá, nº 46, Bairro Conceição, Ipiaú - BA.
Tel.: (73) 3531- 6054.
Conforme o histórico narrado, bem como o lastro probatório acostado à
presente, trata-se de situação em que se esgotaram os meios extra-hospitalares:

Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, só


será indicada quando os recursos extra-hospitalares se
mostrarem insuficientes.

Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada


mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os
seus motivos.
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de
internação psiquiátrica:
I - internação voluntária: aquela que se dá com o
consentimento do usuário;
II - internação involuntária: aquela que se dá sem o
consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e
III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.

É o que se verifica no presente caso, em que a necessidade da


internação está devidamente justificada em laudo médico circunstanciado, a narrar
quadro em que o comportamento do paciente implica em autocolocação em perigo.

Em casos como o dos autos o Tribunal de Justiça do Distrito Federal tem


adotado o entendimento no sentido de que a internação compulsória é a melhor
solução para o paciente, seja em situação de dependência química, seja em
situação de transtorno mental:

DIREITO CONSTITUCIONAL. PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO


CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C
ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. INTERNAÇÃO
COMPULSÓRIA. CLÍNICA DE ACOMPANHAMENTO
PSIQUIÁTRICO E RECUPERAÇÃO DE TOXICÔMANOS.
PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA E INTERESSE
DE AGIR. REJEIÇÃO. PREVALÊNCIA DOS DIREITOS À VIDA
E À SAÚDE. RESPONSABILIDADE ESTATAL. GARANTIA
CONSTITUCIONAL. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.
SENTENÇA MANTIDA. 1. Para internação compulsória do
12ª Regional da Defensoria Pública do Estado da Bahia - Unidade Ipiaú-Ba
Rua Antônio Augusto Sá, nº 46, Bairro Conceição, Ipiaú - BA.
Tel.: (73) 3531- 6054.
paciente dependente químico basta a elaboração de laudo
médico circunstanciado que explicite os motivos da internação,
não havendo necessidade de laudo multidisciplinar (artigo 6º da
Lei nº 10.216/01). Preliminar de nulidade da sentença rejeitada.
2. O interesse de agir traduz-se no binômio necessidade-
adequação. Necessidade da tutela jurisdicional do Estado para
o alcance do resultado pretendido e adequação entre o que se
pretende e o provimento jurisdicional concretamente solicitado.
Não dispondo a parte autora de outros meios para promover a
internação compulsória do seu companheiro/paciente em
clínica de tratamento para dependentes químicos, mostra-se
evidente a necessidade e a utilidade do provimento jurisdicional
buscado. 3. A despeito de as Leis nºs 10.216/01 e
11.343/2006 terem por objetivo proteger as pessoas
portadoras de transtornos mentais, bem como evitar a
internação compulsória do dependente químico, como
regra, deve se ponderar, no caso concreto, os bens
jurídicos em colisão. Encontrando-se o paciente em
iminente risco de morte, a internação compulsória é a
melhor solução para proteger o seu maior bem jurídico,
que é a própria vida. 4. O Distrito Federal tem o dever de
prestar assistência aos dependentes químicos, conforme
preveem o art. 196 da Constituição Federal e o art. 204 da Lei
Orgânica do Distrito Federal, de modo a garantir-lhes o direito à
saúde, à vida e o bem estar. 5. Apelação conhecida, mas não
provida. Preliminares rejeitadas. Unânime. (TJ-DF
20150110234006 0004910-25.2015.8.07.0018, Relator:
FÁTIMA RAFAEL, Data de Julgamento: 08/03/2017, 3ª TURMA
CÍVEL, Data de Publicação: Publicado no DJE : 17/03/2017 .
Pág.: 471/482).

Logo, a internação involuntária de RONALDO DOS SANTOS PINTO, é


medida que se impõe no caso concreto, uma vez que resguarda o maior bem
jurídico tutelado no ordenamento jurídico pátrio: o direito à vida digna.

IV– DO DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE

A saúde é direito público subjetivo, pela qual deve zelar o Poder Público a
quem, segundo o STF, incumbe formular - e implementar - políticas sociais e
econômicas idôneas que visem a garantir aos cidadãos o acesso universal e
igualitário à assistência farmacêutica e médico-hospitalar.
12ª Regional da Defensoria Pública do Estado da Bahia - Unidade Ipiaú-Ba
Rua Antônio Augusto Sá, nº 46, Bairro Conceição, Ipiaú - BA.
Tel.: (73) 3531- 6054.
A Carta Magna impõe:

Art. 6o - São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a


moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção
à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados,
na forma desta Constituição.
...
Art. 196 - A saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.
...
“Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma
rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema
único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:
I - descentralização, com direção única em cada esfera de
governo;
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades
preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;
III - participação da comunidade.
Parágrafo único. O sistema único de saúde será financiado,
nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da
seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, além de outras fontes. (grifos
nossos)”

A Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as


condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências, regulamenta
o direito à saúde e determina:

“Art. 1º Esta lei regula, em todo o território nacional, as ações e


serviços de saúde, executados isolada ou conjuntamente, em
caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou
jurídicas de direito público ou privado.
Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano,
devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu
pleno exercício.

12ª Regional da Defensoria Pública do Estado da Bahia - Unidade Ipiaú-Ba


Rua Antônio Augusto Sá, nº 46, Bairro Conceição, Ipiaú - BA.
Tel.: (73) 3531- 6054.
§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na
formulação e execução de políticas econômicas e sociais que
visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e
no estabelecimento de condições que assegurem acesso
universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua
promoção, proteção e recuperação.
§ 2º O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família,
das empresas e da sociedade.

Como se pode observar, estamos diante de um direito que merece


atenção: o direito à vida digna, com saúde, que decorre diretamente do
Principio da Dignidade da Pessoa Humana, princípio este basilar de todo o
ordenamento jurídico nacional. E em face da primazia de tal princípio, juristas de
renome não admitem que a escassez de recursos públicos e os gastos
orçamentários sejam utilizados como dados obstativos à prestação positiva do
Estado no sentido de garantir a qualquer do povo um mínimo existencial intangível 1.

Inadmissível ainda o entendimento de que tal direito fundamental é norma


programática. Muito pelo contrário, trata-se de norma auto-aplicável e não dispensa
obediência imediata. Portanto, aos Poderes Públicos cabe o dever de realizar as
adequações orçamentárias indispensáveis para cumprimento de obrigações
como esta, de internação compulsória de pessoa que já não responde pelos
próprios atos e cuja conduta implica em risco à própria vida e de terceiros.

Ademais, em se tratando de saúde pública, direito do cidadão e dever do


Estado, não prevalece a norma do artigo 2 o da Lei no 8.437/92, ou mesmo as
disposições da Lei no 8.666/93 que confrontem com os preceitos dos artigos 6 º e 196
da Constituição da República Federativa do Brasil, de modo a afastar a
aplicabilidade imediata de tais dispositivos constitucionais.

DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

1
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 4ª ed. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2004. p. 305-326.

12ª Regional da Defensoria Pública do Estado da Bahia - Unidade Ipiaú-Ba


Rua Antônio Augusto Sá, nº 46, Bairro Conceição, Ipiaú - BA.
Tel.: (73) 3531- 6054.
Estabelecem os arts. 294, caput e parágrafo único e 300, do Código de
Processo Civil que:

Art. 294. “A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência


ou evidência.

Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou


antecipada, pode ser concedida em caráter antecedente ou
incidental.”

Art. 300. “A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo
de dano ou o risco ao resultado útil do processo.”

O instituto da tutela provisória satisfativa permite ao juiz, existindo


elementos que evidenciem a probabilidade do direito, antecipar, total ou
parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial.

No caso dos autos, a probabilidade do direito pode ser claramente


verificada através da análise da legislação civil, corroborada pelas argumentações
contidas no bojo dessa exordial, bem como, pelos documentos que a instruem.

O periculum in mora, por sua vez, reside no fato de que aguardar o


provimento final do pedido para a obtenção do bem da vida vindicado poderá
implicar em total inefetividade deste. Outro não poderia ser o entendimento,
uma vez que o relatório médico que segue acostado à presente petição é
categórico no sentido de que a internação involuntária visa à preservação da
integridade do Sr. Ronaldo e de terceiros.

A contrario sensu, não interná-lo involuntariamente implicará em


assumir o risco de autocolocação em perigo de vida pelo titular do direito,
além de manter a exposição de seus familiares a risco próprio, situação que
deve ser evitada, em atenção aos comandos constitucionais de proteção à
saúde e à vida de todos.
12ª Regional da Defensoria Pública do Estado da Bahia - Unidade Ipiaú-Ba
Rua Antônio Augusto Sá, nº 46, Bairro Conceição, Ipiaú - BA.
Tel.: (73) 3531- 6054.
Verifica-se, que a situação em apreço atende perfeitamente a todos os
requisitos esperados para a concessão da medida antecipatória. Por esta razão,
requer que seja concedida a tutela de urgência pretendida para compelir os
demandados a custear, autorizar e promover a internação involuntária do sr.
RONALDO DOS SANTOS PINTO em unidade pública ou, subsidiariamente,
particular, capacitada para tratamento psiquiátrico para compensação de
quadro clínico, a concretizar o seu direito à saúde e a uma vida digna, que se
encontram sob iminente risco de perecimento, sob pena de cominação de astreintes,
no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) por dia, sem limite máximo, sem prejuízo
da possibilidade de determinação de bloqueio judicial de verba pública, como meio
coercitivo direto necessário para que se alcance o resultado equivalente ao da
obrigação de fazer inadimplida.

DOS PEDIDOS

Pelo exposto, requer:

1. o deferimento do pedido de justiça gratuita;

2. seja recebida a presente petição inicial;

3. a concessão da tutela provisória de urgência LIMINARMENTE, SEM


JUSTIFICAÇÃO PRÉVIA E SEM APRESENTAÇÃO DE CAUÇÃO,
na forma como acima requerida, intimando-se os entes requeridos,
para o seu cumprimento imediato, sob pena de cominação de
astreintes, no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) por dia, sem
limite máximo, sem prejuízo da possibilidade de determinação
de bloqueio judicial de verba pública, como meio coercitivo
direto necessário para que se alcance o resultado equivalente
ao da obrigação de fazer inadimplida;
12ª Regional da Defensoria Pública do Estado da Bahia - Unidade Ipiaú-Ba
Rua Antônio Augusto Sá, nº 46, Bairro Conceição, Ipiaú - BA.
Tel.: (73) 3531- 6054.
4. a citação dos entes públicos requeridos para, querendo, apresentar
a resposta competente, no prazo de lei;

5. o julgamento pela TOTAL PROCEDÊNCIA DO PEDIDO, a confirmar


a tutela provisória de urgência pretendida, obrigando o Estado da
Bahia e o Município de Ipiaú/BA, a custear, autorizar e promover a
internação hospitalar involuntária de Ronaldo dos Santos Pinto, em
razão do transtorno comportamental que lhe acomete, tudo
conforme o relatório médico anexo;

6. a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, tais


como documental, testemunhal, a ser acostado oportunamente,
pericial, entre outros que venham a se fazer necessários;

7. a condenação dos Réus nas custas processuais e nos honorários


advocatícios de sucumbência, sendo que estes deverão ser
revertidos à Defensoria Pública do Estado da Bahia, através da
conta corrente de n° 992831-6, Agência 3832-6, Banco do Brasil, “ex
vi” o artigo 6º, inciso II, da Lei Complementar Estadual nº. 26/2006
(Lei Orgânica da Defensoria Pública do Estado da Bahia), afastada
a Súmula 421, do STJ, porquanto inconstitucional.

Deverão ser observados os ditames relativos à intimação pessoal dos


membros da Defensoria Pública e a contagem em dobro de todos os prazos, nos
moldes da Lei Complementar Federal nº 80/94, Lei Complementar Estadual nº
26/2006 e Lei nº 1.060/50.

Dá à causa o valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).

Pede deferimento.
12ª Regional da Defensoria Pública do Estado da Bahia - Unidade Ipiaú-Ba
Rua Antônio Augusto Sá, nº 46, Bairro Conceição, Ipiaú - BA.
Tel.: (73) 3531- 6054.
Ipiaú-BA, 09 de Maio de 2022

RAPHAEL VARGA SCORPIÃO


Defensor Público

RAVENA PEREIRA SOUZA


Estagiária de Direito da DPE

12ª Regional da Defensoria Pública do Estado da Bahia - Unidade Ipiaú-Ba


Rua Antônio Augusto Sá, nº 46, Bairro Conceição, Ipiaú - BA.
Tel.: (73) 3531- 6054.

Você também pode gostar