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Os estados não invadem competência própria da União ao desapropriar imóveis rurais por
interesse social, para desenvolver políticas públicas. O entendimento é do presidente do
Supremo Tribunal Federal, ministro Maurício Corrêa, ao manter a desapropriação de
terras no Rio Grande do Sul.
A decisão se deu nos autos do pedido de suspensão de segurança ajuizado pelo Estado
para obter a manutenção do decreto expropriatório, que foi cassado pelo Superior
Tribunal de Justiça.
O ministro entendeu que o Rio Grande do Sul não pretendeu desapropriar as terras "nos
moldes fixados pelo artigo 184 da Constituição Federal, cuja competência é
indiscutivelmente da União". Para ele, a expropriação foi feita com base no "artigo 5º,
inciso XXIV, da Constituição e regulamentada pela Lei 4.132, de 10/09/62, que arrola as
hipóteses de interesse social em seu artigo 2º."
2. O Governo estadual, depois de publicado o decreto de interesse social (fl. 434), propôs
a ação desapropriatória obtendo, mediante depósito prévio da indenização em dinheiro, a
imissão provisória na posse. A seguir, permitiu o ingresso dos futuros beneficiários do
projeto de assentamento na área desapropriada, de modo a assegurar-lhes sua utilização,
como beneficiários do Programa Estadual de Reforma Agrária (fl. 435).
6. O pedido de liminar foi apreciado pelo Ministro Celso de Mello, que concedeu
parcialmente a cautelar para suspender provisoriamente a decisão que determinou a
desocupação do imóvel, até o julgamento desse processo.
7. É o breve relatório.
8. Decido.
10. O decreto expropriatório fundou-se na previsão dos artigos 5º, inciso XXIV, da
Constituição Federal e 2º, inciso II, da Lei 4132, de 10 de setembro de 1962, visando à
declaração de interesse social, para fins de desapropriação, de área rural para o
estabelecimento de colônias ou cooperativas de povoamento e trabalho agrícola, "com o
fito de assentamento de agricultores sem terra oriundos de várias regiões do Estado, que
serão beneficiados pelo Programa Estadual de Reforma Agrária" (fl. 61).
11. A análise das peculiaridades do caso concreto revela a plausibilidade jurídica da tese
defendida pelo requerente. De fato, não emerge dos autos, em princípio, que o Estado
tenha pretendido realizar desapropriação nos moldes fixados pelo artigo 184 da
Constituição Federal, cuja competência é indiscutivelmente da União. Tal modalidade,
também denominada desapropriação-sanção, tem requisitos próprios, como a
necessidade de o imóvel rural não estar cumprindo sua função social e o pagamento de
indenização em títulos da dívida agrária. O disciplinamento legal desse procedimento
encontra assento na Lei Complementar 76/93, alterada pela Lei Complementar 88/96, e
pelos artigos 18 a 23 do Estatuto da Terra (Lei 4504/64) e pela Lei 8629/93, alterada pela
Medida Provisória 2183-56/01. Nessa hipótese, o proprietário que descumprir o
mandamento do artigo 5º, inciso XXIII, da Carta Federal, perde o bem e não recebe
indenização em dinheiro, mas em títulos.
14. Longe de pretender firmar convicção no sentido do acerto ou não da decisão que
autorizou a remoção das famílias, até porque ainda pendente de recurso, permito-me,
antevendo a probabilidade do desfecho favorável ao Estado, visualizar o alcance social da
execução imediata da medida, com a retirada das famílias, sem a decisão definitiva que
reconheça a ilegitimidade do ato expropriatório.
Intime-se.