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Gabriella La Salvia Caropreso T26

Tecnicas cirurgicas
Aula 1 - Unidade de centro cirúrgico Sala de recuperação
“Conjunto de ambientes devidamente localizados, Sala para qual o paciente é encaminhado após a
dimensionados e dotados de instalações e cirurgia, para que haja uma recuperação do
equipamentos, com pessoal qualificado e treinado procedimento. Muitas vezes localiza-se junto com
para a realização de procedimentos cirúrgicos, de a sala de recepção.
forma a oferecer o máximo de segurança aos
Corredores
pacientes e às melhores condições de trabalho em
O corredor do centro cirúrgico é extremamente
equipe”. Deveria ser um espaço de absoluto
importante, por representar a chegada dos
respeito, o que nem sempre é garantido pelos
médicos, dos pacientes, dos auxiliares e dos
trabalhadores dessa localidade, inclusive por parte
enfermeiros. O ideal é que possua uma largura
dos médico. Ele pode ser dividido em três áreas:
mínima de 2,5 metros, um corredor interno (por
Ø Zona de proteção – área representada
onde o paciente entra) e um corredor externo (por
pelos vestiários e transferência de macas.
onde o paciente sai), para evitar o cruzamento
Ø Zona limpa – não é estéril, mas deve ser
entre pacientes recém-chegados e pacientes já
limpa. É constituída pelos corredores, pela
operados. Por receber todas as pessoas que
sala de recepção dos pacientes, pela sala
adentram no centro cirúrgico, representam o local
de recuperação, sala de equipamentos,
mais crítico de infecção.
depósito de materiais e secretaria-
administração. Lavabos
Ø Zona asséptica ou estéril – incluem os Local onde a equipe médica faz a assepsia. À rigor,
lavabos, a sala de sub-esterilização e a sala deveria estar em uma sala fechada ao lado e em
de cirurgia. contato com a sala de cirurgia, mas isso nunca
ocorre, sendo encontrado nos corredores.
Vestiários
É preciso que haja vestiários masculinos e Sala de cirurgia
femininos, mas nem todos hospitais respeitam Deve possuir uma medida adequada, sendo:
isso. Dentro destes vestiários, existem armários Ø Para pequenas cirurgias – 20 metros
individuais com chaves, sanitários completos e quadrados.
chuveiros. Os cirurgiões, enfermeiros e auxiliares Ø Para médias cirurgias – 25 metros
devem trocar-se nesses vestiários, colocando quadrados
uniformes apropriados (diferentes cores), gorros, Ø Para grandes cirurgias – 30 a 35 metros
máscaras e propés. quadrados.
Para cada 15 leitos cirúrgicos, é necessário que
Área de transferência das macas
haja uma sala adequada de cirurgia. O piso deve
Local onde as macas provenientes das unidades de
ser liso e não poroso. Dentro dessa sala, deve-se
internação devem ser trocadas por macas próprias
encontrar:
do centro cirúrgico. Muitas vezes essa área não
Ø Mesa cirúrgica
existe, sendo a maca que saiu da sala de
Ø Mesa instrumental
internação a mesma que entra no centro cirúrgico.
Ø Mesa de anestesia
Sala de recepção dos pacientes Ø Mesa auxiliares
Sala para qual o paciente vai antes de ir para a Ø Focos cirúrgicos – uma boa iluminação é
cirurgia, para que haja alguma revisão de seu essencial
estado ou algum exame que antes não fora feito. Ø Aparelho anestésico
Muitas vezes localiza-se junto da sala de Ø Monitor cardiovascular com desfibrilador
recuperação. Ø Armários, cestas de lixo e hampers
Ø Bisturi elétrico
Ø Frasco para aspiração
Ø Redes de O2, ar comprimido e N2O
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Ø Aparelhos específicos para cada cirurgia Escovação


No lavabo, existem materiais disponíveis
PS: salas de cirurgia por vídeo apresentam mais
compostos por uma escova e por uma espuma. A
televisões e são mais complexas do que as de
princípio, é necessário molhar as mãos e, com a
cirurgia normal.
espuma, limpar as mãos e os antebraços. Em
PS2: a mesa cirúrgica é dividida em 4 quadrantes, seguida, deve-se dar início à escovação, que pode
sendo o inferior a esquerda o de diérese (bisturi), o ser feita de algumas maneiras. É possível escovar
inferior a direita o de hemostasia, o superior as unhas, os dedos (um a um), seguido da palma e
direito o de afastadores e o superior esquerdo o de do dorso da mão. Em seguida, deve-se escovar os
síntese. punhos e os antebraços, não deixando os braços
para baixo a fim de evitar que a espuma escorra
Planta física do centro cirúrgico comum para as mãos. Por fim, devem-se lavar novamente
Esses corredores não apresentam corredor os braços, a fim de retirar a espuma. Mesmo após
externo, e a entrada se dá pelos vestiários, o final da lavagem, é importante que as mãos
localizados no centro à direita da imagem. As salas continuem para cima.
de cirurgia localizam-se mais distantes das demais,
sendo vistas na parte superior da imagem. Paramentação
Após a lavagem das mãos, deve-se secá-las, pegar
o avental pela parte do pescoço e abri-lo. Após
inserir os dois braços no avental, o enfermeiro
deve auxiliar no fechamento do mesmo, que é
feito na pare de trás. Em seguida, o auxiliar
oferece as luvas ao cirurgião, que deve identifica-
las como direita e esquerda. Para colocar a
primeira luva é preciso segura-la por sua parte
interna, evitando que a mesma fique
contaminada. A segunda luva, do contrário, deve
ser segurada por sua parte externa, já que uma das
mãos já está de luva.

Aula 2 - Instrumentação cirúrgica


Cirurgia é uma palavra grega que significa trabalho
manual, sendo o conjunto de gestões ou
instrumentos que o cirurgião exercita na intenção
da realização do ato cruento, com finalidade
Planta física do centro cirúrgico incomum terapêutica, diagnóstica ou estética. Dentro de
todas cirurgias, os cirurgiões devem realizar as
Esses corredores apresentam corredor externo e a
operações fundamentais, que consistem em
entrada se dá pelos vestiários, localizados no
hemostasia, diérese e síntese. A terapêutica
canto inferior esquerdo da imagem. Nota-se que
cirúrgica é dividida em:
do lado de cada sala de operações há um lavabo.
Ø Técnica cirúrgica – pode ser geral ou
específica. A geral é aquela que todos
cirurgiões devem conhecer,
compreendendo métodos consagrados
que evoluem conforme o tempo,
paramentação, escovação cirúrgica,
antissepsia, colocação de campos,
posicionamento da equipe, vestuário,
anestesia, operações fundamentais, etc.
Já a específica é aquela que varia
conforme a especialidade, sendo feita de
maneira específica, sobre determinada
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região anatômica e dividida por Ø Hemostasia – toda manobra destinada a


especialidades. evitar ou estancar uma hemorragia.
Ø Tática cirúrgica – para cada tipo de Existem alguns tipos de hemostasia:
paciente avalia-se o que é melhor o Preventiva - feita antes do vaso
(agressividade, por exemplo). Assim, sangrar.
estuda vantagens e desvantagens da o Corretiva - feita após o
aplicação de um dos métodos, entre sangramento
vários existentes de acordo com a o Temporária - gera uma isquemia de
situação, os aspectos clínicos e algum tecido (fazendo pressão
anestésicos do paciente, as alterações antes desse tecido, por exemplo),
anatômicas locais e a opção do cirurgião. devendo essa ser controlada (para
Um iniciante em cirurgia deve começar a treinar evitar necrose). Pode ser feita com:
em um laboratório de técnica operatória (em § Pinçamento
cadáveres ou modelos virtuais) e de cirurgia § Compressão digital
experimental, antes de praticar em anima nobile. § Balão insuflado – é
O cirurgião carrega sobre si toda responsabilidade colocado no esôfago, para
do ato cirúrgico, incluindo pré-operatório, intra- interromper sangramento
operatório e pós-operatório, escolha de auxiliares, esofágico por comprimir as
anestesistas e equipamentos, sua própria varizes. Não deve ser
consciência, o doente, os familiares e a sociedade. deixado por muito tempo.
Instrumentos em grandes quantidades são § Garroteamento – uso de
colocados um em cima do outro, ou separados por manguitos de pressão para
um pano. cirurgias de mão, membro,
etc.
Operações fundamentais: § Drogas – vasoconstritor.
Ø Diérese – toda manobra destinada a criar § Hipotermia
descontinuidade de tecidos. Quando § Oclusão endovascular com
implica na retirada de tecido ou órgão, balão.
chama-se exérese. Existem 5 tipos de o Definitiva - interrompe
diérese: completamente o fluxo sanguíneo
o Incisão – ato de separar os tecidos de um vaso. Pode ser feita de
com corte inciso. Utiliza-se bisturi algumas formas:
o Secção – ato de cortar com tesoura. § Ligadura
É mais traumático do que incisão. § Cauterização
o Divulsão – ato de separar os tecidos § Foto coagulação
sem corte, com tesoura (parte não § Sutura
cortante), mixter ou pinças. § Obturação – substâncias
o Serração – ato de serrar estruturas exógenas para obstruir a
duras. luz do vaso. Ex: ceras em
o Punção – instrumento perfurante, ossos, esponjas, etc.
diversas finalidades. Pode ser para § Tamponamento –
injetar remédios. compressão da área
o Dilatação – aumento do diâmetro sangrante com compressa
de canais ou orifícios diversos. É ou gazes. É uma medida
feito com dilatadores. excepcional.
Sempre que uma diérese for ser feita, é Ela é feita para evitar perda excessiva de
necessário seguir as linhas de força da sangue, propiciar melhores condições
pele (linhas de Langer ou Kraissl), que são técnicas para cirurgia, favorecer a
perpendiculares às linhas de forças cicatrização da ferida operatória, prevenir
musculares, para “esconder” o corte nos a infecção e deiscências e evitar
sulcos da pele. reoperação para drenagem de
hematomas.
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Ø Síntese – é a aproximação adequada dos


tecidos visando apressar a cicatrização.
Deve resistir às trações e tensões dos
diversos locais até que a cicatrização
esteja com resistência suficiente para unir
os tecidos.
ii. Como arco de violino – incisões
Instrumental cirúrgico longas retilíneas ou curvas suaves.
A mesa de instrumentação cirúrgica é dividida em
4 quadrantes, envolvendo instrumentos de
diérese, hemostasia, síntese e especiais. O
instrumentador deve-se estar do lado contrário da
mesa do cirurgião, com a mesa a sua frente e mais
próximo dos 2º e 3º quadrantes. O quadrante da
diérese (1º) localiza-se do lado do paciente, o de
hemostasia (2º) do lado do de diérese, o de síntese
(3º) acima do de diérese e o de especiais (4º)
acima do de hemostasia. Os instrumentos são Para utilizar esse instrumento, deve-se
colocados do amis delicado para o menos entrar em 90º, puxar em 45º e voltar para
delicado. As pontas são sempre viradas para baixo, 90º. Ao puxar em 45º, com a outra mão, é
para que o instrumentador pegue e coloque o necessário tracionar um pouco a pele,
cabo na mão do cirurgião. Em geral, a ordem dos principalmente em idosos. É importante
quadrantes é 1º, 2º, 4º e, por fim, 3º. que esse movimento seja feito de uma fez
só, para evitar marcações na pele.
1. Diérese: b. Tesoura de Metzembaum – é a tesoura
a. Bisturi – realiza a incisão. Existe bisturi de do cirurgião, sendo menos traumática,
cabo 3 ou de cabo 4, sendo que o cabo 3 é com extremidades finas e delicadas, usada
menor e possui lâminas que começam para diérese de tecidos orgânicos e fios na
com o número 1. Já o cabo 4 é maior, e cavidade. É mais longa (1/3 para 2/3),
possui lâminas que começam com o existindo a reta e a curva.
número 2.

O bisturi com lâmina 2 é usado para retirar


pontos, pois apresenta sua ponta côncava. c. Tesoura de Mayo – extremidade mais
As lâminas mais usadas são a 21 e a 22.
traumática, para secção de fios na
Existem duas formas de segurar o bisturi:
superfície outros materiais cirúrgicos. É
i. Como lápis – gera maior delicadeza e mais curta (1/2 par 1/2), existindo a reta
precisão, em incisões pequenas ou (para o uso do próprio instrumentado) e a
curvas. curva (para o cirurgião).
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i. Costótomo - para cortar costela

ii. Ruginas - para raspar o periósteo do


osso antes de cortá-lo.

d. Tesoura de Potts-Smith – utilizada em


cirurgias vasculares.

iii. Serra langenbeck

e. Bisturi elétrico – possui um botão azul que


coagula e um botão amarelo que corta os
tecidos. Não deve ser utilizado para abrir
a pele, pois causa queimaduras. Assim, é
utilizado somente do subcutâneo para
baixo. Existe o monopolar e o bipolar.
Caso o paciente possua um marca-passo, iv. Serra de gigli - possui espículas e é
é necessário desliga-lo para evitar que o usada para ossos extensos.
mesmo seja queimado.
f. Bisturi a laser – utiliza um feixe de luz para
cortar o tecido. Também gera calor. É
usado para emangiomas de pele.
g. Bisturi ultrassônico – não produz calor.
Utiliza uma frequência de 55 mil vibrações
por segundo, desnaturando a célula e
causando rompimento. Também corta e
coagula.
h. Bisturi de argônio – também corta e j. Dilatador uretral
coagula através de um gás ionizado. É
bastante superficial, mas pega áreas
extensas.
i. Serras:
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k. Velas de Hegar – dilatação do colo c. Halstead – também chamado de


uterino. mosquitinho. É bastante pequeno e
delicado, possuindo ranhuras totais. É
usado em cirurgias pediátricas.

d. Rochester – grande, mais grossa e firme e


2. Hemostasia (2º quadrante): com ranhuras totais. É usada em cirurgias
a. Kelly – pinça traumática. Possui a curva, bariátricas.
que é mais usada para pinçamento de
vasos e a reta, que é mais usada para
reparo de fios. Possui ranhuras parciais. É
de tamanho médio.

e. Kocher – é semelhante ao Kelly e o Crile,


mas possui um dente na ponta. Não é
considerada uma pinça hemostática, pois
é usada para segurar os tecidos
(preensão), mas como é igual às outras
b. Crile – pinça com ranhuras totais. Possui a pinças, fica localizada no 2º quadrante.
curva, que é mais usada para pinçamento
de vasos e a reta, que é mais usada para
reparo de fios. É de tamanho médio.
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3. Síntese (3º quadrante) e. Pinça dente de rato – possui um dente na


a. Porta agulha de cabo dourado – são ponta, sendo usada para segurar tecidos
pinças mais especializadas, para cirurgias mais grossos. Traumatiza mais do que a
de maior precisão. Possuem uma liga de anatômica.
metal na ponta, que permite que a agulha
fique mais firme.

f. Debakey – possui dentes mais curtos por


b. Hegar – também é porta agulha. É o mais toda a extensão da pinça. É vascular,
usado. sendo mais delicada, mas prensando bem.

c. Mathieu – também é porta agulha.


g. Adson – é mais larga e usada para pegar
pele. Pode ou não ter dentes.

d. Pinça anatômica – possui ranhuras. É


delicada, sendo usada para tecidos moles
por não segurar muito bem. a. Agulhas – é dividida em fundo, ponta e
corpo e sofre variações nessas regiões. A
ponta é classificada em cilíndrica ou
triangular, sendo que a primeira é
sinalizada por um círculo e só perfura a
pele (só a ponta corta) e a segunda é
sinalizada por um triângulo e é cortante
(passa por tecidos mais duros, como a
pele). O corpo pode ser curvo, semi-
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curvos ou retos. Já o fundo caracteriza a a. Satinsky – pinça hemostática


agulha como traumática ou atraumática. atraumática. É grande, pegando vasos
calibrosos (até mesmo aorta). É um clamp
vascular.

b. Afastadores manuais – ficam no canto da


mesa cirúrgica.
i. Farabeuf – usado para afastamento
de pele, subcutâneo e músculos em
plano superficial. Assim, logo após
abertura da pele já é introduzido.
Único afastador que fica entre o 1º e
o 3º quadrante, pois é usado tanto
4. Especiais (4º quadrante): na diérese, quanto na síntese.
Possuem finalidades variáveis. Nesse quadrante,
existem instrumentos de apreensão,
hemostáticos, de especialidades variadas e
afastadores de campo cirúrgico.
a. Mixter – pinça hemostática mais longa e
curva, com ranhuras em toda pinça. Muito
usada em divulsão, por apresentar uma
curvatura próxima de 90º. É usado para ii. Langenbeck – comprido e fino.
hemostasias mais profundas. Usado logo após Farabeuf, para
afastar paredes mais profundas.

iii. Richardson – curto e largo. Usado


b. Crawfoord – pinça hemostática longa e
logo após Farabeuf, para afastar
com discreta curvatura. É usado para
paredes abdominais e torácicas.
hemostasias mais profundas.

iv. Volkmann – possui garras na parte


curva, dando mais aderência aos
tecidos. É usado em retiradas mais
superficiais e cervicais.
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iii. Balfour – robusto, com 3º lâmina


curva. Usado em cavidade pélvica.

v. Doyen – grandes estruturas


abdominais (fígado) e músculos.

iv. Weitlaner – afastador menor,


usado para cavidades menores.

vi. Sapata – empurra a alça intestinal.

d. Pinça collin – pinça de preensão. Pode ter


a ponta arredondada ou oval, sendo esta
também conhecida como pinça Collin
coração.
c. Afastadores autostáticos – são
afastadores de cavidade.
i. Gosset – cavidade abdominal

ii. Finochietto – usado para cavidade


torácica. Possui uma manivela que
permite controlar o quanto abrir, a e. Pinça duval – pinça de preensão. E
fim de não gerar quebras na semelhante à Collin, mas com a ponta
costela. É mais quadrado. triangular.
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f. Pinça babcock – pinça de preensão. É j. Clamp intestinal/Doyen – colocado antes


atraumática, sendo usada para segurar a da aspiração para não contaminar o redor,
alça intestinal. minimizando que o líquido escorra para a
cavidade. Existe o curvo e o reto.

g. Pinça allis – pinça de preensão de


estômago. Possui um dente na ponta,
gerando trauma. Sinais
Muitas vezes o cirurgião não fica falando qual
instrumento ele deseja, e sim, fica realizando
sinais que indiquem isso. Alguns deles são:
Ø Movimento de cortar – bisturi
Ø Movimento de pinça com a mão – pinça.
Esse é inclusive o jeito de pegar o
instrumento.
Ø Movimento de tesoura – tesoura
Ø Dois dedos em pé e dois deitados – Kelly

h. Pinça de campo backaus – pinça diversa


que prende itens do campo cirúrgico.

i. Pinça cheron – possui curvatura especial.


Usada para assepsia do campo cirúrgico.
Após usada, é pendurada no campo fora
da mesa ou dado para a técnica guardar.
Junto dela, o cirurgião recebe um pote Ø Movimento de costurar – porta-agulha.
com antisséptico e gases. Ø Movimento de abrir e fechar com duas
mãos – Gosset
Ø Mão para baixo – Doyen
Ø Indicador semidobrado e os demais
dedos dobrados – Farabeuf
Ø Palma da mão para cima e dedos
semifletidos – fio em carretel
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Ø Palma da mão para baixo e dedos Em situações com pouco atrito, é possível
semifletidos – fio solto realizar múltiplos nós simples, sem que o
Ø Palma da mão para cima dedos esticados primeiro seja duplo. Para realiza-lo, deve-
- compressa se cruzar os fios e segurá-los como a rédea
de um cavalo (com o indicador e o
polegar). O fio que passou por debaixo do
outro será o que dará a primeira laçada,
devendo ficar espalmado sobre a mão
dominante (direita no destro, esquerda no
canhoto). Em seguida, deve-se passar o
outro fio (que está por cima) por cima dos
dedos médio, anelar e mínimo, de forma
que esses dedos se mantenham dentro da
laçada. Prosseguindo, é necessário buscar,
com o dedo médio, o fio que estava
espalmado na palma da mão, passando-o
pelo meio da laçada. Para prosseguir com
o nó duplo, deve-se inserir o dedo
indicador da mão contralateral à que o fio
ficou espalmado (no caso do destro, a mão
esquerda e no caso do canhoto, a direita)
na laçada, buscando o outro fio (o que se
apoiou sobre os dedos médio, anelar e
mínimo). Feito isso, o primeiro nó duplo
está pronto. Os demais nós simples são
Aula 3 - Nós cirúrgicos realizados da mesma forma, mas de
a. Nó do cirurgião clássico (Pauchet; nó da maneira alternada, ou seja, o fio que dará
corujinha) - composto por 3 nós, sendo a 2º laçada ficará espalmado na mão não
que o primeiro aproxima as bordas, o dominante e o fio da 3º laçada ficará
segundo fixa o nó e o terceiro é de espalmado na mão dominante. Em todos
segurança. Esses nós precisam ser os momentos é necessário aproximar o nó
cruzados, para que não desmanchem com o dedo até o local da sutura,
sozinhos (1º e 3º são iguais e o 2º é deixando-o entre os dedos e puxando-o
contrário). Para que o primeiro não corra, sempre com o indicador e de forma
ele deve ser duplo, enquanto os demais correta. (da mesma forma com ambas as
são simples. É importante evitar que ele mãos, sem invertê-las e sem puxar para
solte, ajustar as bordas corretamente, cima).
considerar o tipo do fio (existem fios https://www.youtube.com/watch?v=PPn
absorvíveis e não absorvíveis, fios finos = Cx0kzZhw
quanto mais zeros, fios resistentes, etc). b. Nó do sapateiro – deve-se cruzar os fios,
de forma que a mão dominante segure o
fio que passou por cima com os dedos
médio, anelar e mínimo (dedos indicador
e polegar ficam “soltos”). Com o polegar
livre, deve-se buscar o outro fio e, com o
indicador, passa-lo por dentro da laçada.
Por fim, deve-se empurrar o nó até o local
da sutura, com o indicador. Para deixa-lo
duplo, basta cruzar novamente os fios, de
forma que a mão dominante segure o fio
que passou por baixo, da mesma forma
que anteriormente. Em seguida, ao invés
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do polegar buscar o outro fio, ele deve Os nós devem sempre ser feitos do mesmo lado,
empurrar o fio que está segurando e, com sendo que a largura do fio e a distância dos pontos
o indicador, que passa por dentro da deve ser semelhante. No cotidiano, os nós
laçada, buscar o outro fio, trazendo-o para geralmente ficam escondidos no centro (nó
dentro da laçada. Da mesma forma, deve- invertido é bastante utilizado em crianças).
se empurrar o nó até o local da sutura com a. Ponto U horizontal – apresenta um
o indicador. formato de U que segue horizontalmente.
https://www.youtube.com/watch?v=4z8 Gera uma pior cicatriz, mas segura as
_UPQSBQI bordas.
c. Nó com porta-agulha – é o nó mais feito
no pronto socorro, a fim de gastar menos
fios, já que com o porta agulha é possível
realizar inúmeros nós com o mesmo fio.

Suturas
Ato de unir as bordas de uma ferida ou incisão,
com agulha e fio especial, grampos ou cola, para
promover uma melhor e mais rápida cicatrização.
É importante sempre que possível acompanhar as
linhas de tensão da pele (linhas de Kraissl), para
melhorar a cicatrização final.

b. Pontos de Donatti – é também um ponto


U, mas vertical. É muito bom para couro
cabeludo, pois é bastante hemostático.
Fica uma sutura bastante grosseira.

c. Ponto X horizontal – dois pontos são


dados com um nó só, no formato de um X

Os princípios básicos das suturas incluem:


Ø Restauração da anatomia e da função da
área operada
Ø Aproximação boa das bordas da ferida
sem tração excessiva
Ø Evitar espaço morto – considera-se espaço
morto todo aquele espaço criado durante
a separação dos tecidos durante a diérese. d. Chuleios – são suturas contínuas, nas
É um espaço no qual há acúmulo de quais só são feitos dois nós, um no
líquidos em função do trauma tecidual, começo e um no final. A vantagem é que é
apresentando maior susceptibilidade a mais rápido e a desvantagem é que pode
infecções. romper facilmente com alguns esforços
simples, como a tosse.
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i. Chuleio simples e. Situações específicas:


i. Grampeadores – fazem
anastomoses mecânicas do tubo
digestivo. Fazem a diérese, a
hemostasia e a síntese. Pode ser
circular ou linear.
j. Colas – podem ser utilizadas em
cirurgias plásticas, por exemplo.
São descartáveis.

Retirada dos pontos


Quando se tem uma cicatriz seca, sem edemas e
com menor processo inflamatório perto da lesão
ii. Chuleio ancorado – é mais do que perto do nó, é possível retirar os pontos.
hemostático, não sendo muito
usado na pele, mas bastante em Aula 4 - Acesso venosos centrais:
reconstruções gastrointestinais. Os mais utilizados são os acessos pela veia jugular
interna, pela subclávia (subclávia – tronco
braquiocefálico – veia cava superior) ou pela
femoral, sendo esses realizados por punção. É
possível realizar o acesso pelas veias cefálica ou
safena, mas nessas é feito por dissecção.
Ø Jugular – deve-se localizar o músculo
esternocleidomastóideo e o triângulo de
sidellot. A punção deve ser realizada nesse
triângulo, em direção ao mamilo direito,
com o paciente deitado e com a cabeça
virada para o lado esquerdo. Essa punção
iii. Chuleio em barra grega – o fio
é a predominante e sua grande vantagem
passa por dentro da pele e cruza
é o uso do ultrassom, que permite uma
na vertical por fora da pele.
melhor visão dos vasos (a veia e mais
elíptica do que a artéria).

iv. Chuleio intradérmico – todos os


pontos, com exceção dos da
ponta, são escondidos. É utilizado
o nó em roseta.
Ø Subclávia – o ponto básico é a clavícula,
que deve ser dividida em 3 porções. A
punção deve ser realizada entre a porção
média da clavícula e a porção medial (mais
perto do esterno), em direção à fúrcula
esternal. A agulha deve ser introduzida de
forma perpendicular e, caso uma artéria
seja puncionada, deve-se retirar a agulha
e estampar o sangramento. O paciente
deve estar deitado, com a cabeça virada
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para o lado esquerdo. A clavícula hemodiálise (cateter com dois lúmens, um mais
atrapalha a visão venosa do ultrassom. curto por onde o sangue é aspirado e um mais
distal, por onde o sangue é injetado),
monitorização hemodinâmica e estimulação
elétrica. Como o cateter é longo, não é muito
utilizado para dar sangue para o paciente.

Técnica de Seldinger
Não existe somente para a punção de vaso. Sua
sequência é:
1. Punção
2. Fio guia – é bastante fino, sendo colocado
no local de punção até o alvo. É o último
que é retirado, por orientar a passagem.
Ø Femoral – caso não seja possível pela
Assim, só é retirado após inserção do
jugular, pela subclávia ou pela cefálica.
cateter.
3. Dilatador – dilata o orifício para permitir a
passagem do cateter.
4. Cateter – possuem diferentes lúmens.

Ø Cefálica – faz-se uma incisão no sulco


delto-peitoral, disseca-se a veia cefálica e
introduz-se um cateter que segue para a
subclávia e, por fim, para a cava superior.

Kit para acesso venoso


Agulha menor para anestesia local, agulha maior
para introdução, fio guia, dilatador (cateter mais
grosso) e cateter.

Tipos de cateter
Ø Lúmen simples
São indicados par infusão de fluidos,
administração de drogas, nutrição parenteral
(hiperosmolar – rica em proteína e gordura),
infusão de quimioterápicos (Portcath – na ponta
do cateter tem uma ponta saliente, com uma
tampa de silicone que pode ser puncionada para
que haja a inserção do quimioterápico),
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Ø Lúmen duplo – possui dois círculos, um


maior que o outro, sendo que o menor se
localiza dentro do maior.

Ø Lúmen triplo – possui três círculos, um


maior e dois menores.

Complicações:
Ø Pneumotórax – cateter passa perto da
costela, podendo perfurar a pleura.

Aula 5 - Videolaparoscopia:
Procedimento endoscópico, minimamente
invasivo, para realização de cirurgias ou
Ø Cateter de Swan-Ganz – possui um cateter procedimentos diagnósticos ou terapêuticos, em
de pressões cavitárias, que passa pelo átrio diversas cavidades do organismo. Todas cirurgias
direito (tem orifício para medir a PA direita podem ser realizadas por scopia (visão), mas
- baixa), pelo ventrículo direito (tem algumas não apresentam grandes vantagens por
orifício de pressão - alta) e pela artéria serem muito grandes. Assim, é um método
pulmonar, onde possui um orifício para moderno, pouco traumático e excelente para
pressão (média) e um balão que pode ser algumas cirurgias, como:
insuflado. É possível que ele seja inserido Ø Abdominais – colecistectomia, hérnias,
mais distalmente, sendo possível aferir bariátrica, colectomias, apendictomia
uma outra pressão, que é igual à do átrio Ø Ginecológicas – mioma, endometriose.
esquerdo (quando elevada, pode significar Ø Urológicas – litíase renal, próstata
insuficiência esquerda). Nesse cateter, é Ø Torácicas
possível colocar um marca-passo, medir o Ø Cirurgia pediátrica
débito cardíaco e realizar monitorização Ø Oncológica – impacta a vida do paciente,
hemodinâmica. No choque cardiogênico, a sendo necessário analisar se a via
pressão capilar wedge está elevada (do VE minimamente invasiva é segura. A
está elevada), o DC diminuído e a maioria dos tumores pode ser retirado
resistência circulatória aumentada. Diante por essa via, mas alguns não, como o de
disso, pode-se orientar uso de droga colo uterino. Deve-se tomar cuidado para
inotrópica (dopamina ou dobutamina), não partir o tumor ao meio, utilizando-se
diurético e balão intra-aórtico (aumenta de endobags (saquinho).
perfusão coronariana, diminui resistência Ø Urgências – gravidez ectópica,
periférica) apendicite, lise de bridas, cisto ovário
hemorrágico.
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Era muito utilizada por ginecologistas, para avaliar


presença de endometriose. A primeira vez
utilizada em, de fato, uma cirurgia, foi uma
apendicectomia realizada por um ginecologista.
Esse procedimento, portanto, apresenta como
vantagens:
Ø Menos dor e perda de sangue – não há
corte de músculos
Ø Redução do tempo de internação – menos
dor e menos trauma cirúrgico.
Ø Retorno precoce ao trabalho
Ø Menor índice de infecção da ferida
cirúrgica 1. Técnica
Ø Estética – devido a incisões menores O posicionamento da equipe é diferente do das
Como desvantagens, tem-se: cirurgias convencionais, pois todos devem estar
Ø Posicionamento dos equipamentos e voltados para o monitor. Assim, o cirurgião e o 1º
cabos – é um processo mais demorado e auxiliar devem ficar do mesmo lado, de frente para
que necessita ser apropriado. A imagem o monitor, e o instrumentador pode colocar-se
gerada pela câmera deve ser bastante mais para o lado (não precisa estar de frente para
nítida e de alta qualidade. o monitor). Após a montagem adequada de todos
Ø Realização de pneumoperitônio – injeta- os equipamentos, deve-se acessar a cavidade
se um gás no abdômen do paciente. abdominal através agulha, insuflar o gás e inserir
Ø Colocação de portais – deve-se saber da os trocarteres necessários. Pode ser realizada de
técnica. duas formas:
Ø Relacionadas ao paciente Ø Fechada – realizada com agulha de Veress,
Ø Impossibilidade de técnica que deve atravessar o subcutâneo, a
Ø Instabilidade hemodinâmica aponeurose e a musculatura, até que se
Para realiza-la, introduz-se um gás (CO2 – é inerte, alcance o espaço abdominal, evitando o
apresenta baixa absorção peritoneal e não causa contato com as alças intestinais ou com
dor referida), que não o oxigênio (não é inerte), vasos de maiores calibres para não as
para abrir espaço no abdômen e, em seguida, por perfurar. É a mais rápida e a mais
pequenas incisões ou punções, uma microcâmera, utilizada, mas apresenta maior risco
uma luz e pinças através de portais (trocarteres), devido à entrada às cegas. Geralmente
que variam de 3mm a 12mm, mas habitualmente utiliza-se a linha média e punciona-se a
possuem 5 ou 10mm. Normalmente tem-se um incisura umbilical (puxa o umbigo para
portal para a microcâmera e dois portais para as cima), mas pode utilizar-se do hipocôndrio
mãos direita e esquerda do cirurgião esquerdo, entrando um pouco abaixo do
(apendicectomia). Além desses, é possível existir rebordo costal (necessário tomar cuidado
um 4º portal para o auxiliar (colecistectomia), um com o baço). Após a introdução, deve-se
5º portal para alguma outra apresentação realizar algumas manobras para se ter
(colectomia), etc. certeza do local alcançado.
https://institutocrispi.com.br/consulta/videolapa
roscopia/
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Ø Aberta – cirurgião abre, por meio de uma


pequena incisão umbilical, todos os
planos abdominais (pele, subcutâneo,
aponeurose, peritônio) até que se alcance
a cavidade peritoneal. É mais complicada
em indivíduos obesos, que possuem uma
camada gordurosa maior. É mais segura,
gerando uma visão direta da cavidade e
prevenindo lesões iatrogênicas, mas é
mais demorada. É bastante utilizada em
pacientes que possuam cirurgias prévias.
Após acessar a cavidade e realizar os testes para
ter certeza de que está nela, deve-se insuflar o gás,
dando início ao pneumoperitônio. Nesse
momento, algumas alterações no organismo
ocorrem, sendo elas:
Ø Primeiros 5 minutos (Golden 5 minutes) – A mesa cirúrgica possui inúmeras pinças
alterações hemodinâmicas mais intensas. diferentes, sendo metade da mesa preenchida por
Ø Aumento da pressão abdominal instrumentos laparoscópicos, ou seja, com
Ø Aumento da frequência cardíaca trocarteres e portais. Quanto a esses
Ø Maior absorção de CO2 instrumentos, têm-se:
Ø Diminuição do retorno venoso Ø Fibra óptica – se cair no chão quebra,
Ø Diminuição do DC impossibilitando a cirurgia. É um
Ø Aumento da resistência vascular periférica instrumento bastante caro.
Ø Aumento da pressão venosa central
Ø Estase em membros inferiores
Ø Hipóxia e/ou hipercarbia – em
pneumopatas, principalmente. Isso
devido à elevação do diafragma e,
consequentemente, aumento da pressão
na cavidade pulmonar.
Ø Alterações cerebrais – bastante incomuns.
Ø Gestantes – o melhor momento para se
fazer é no 2º trimestre. No 1º trimestre, há
maior risco de teratogênese e aborto. No
Ø Insuflador – pode ser regulado para
3º trimestre, há maior risco de parto
prematuro. É sempre, independente do pediátrico, bariátrico, etc.
trimestre, realizar a monitorização intra-
operatória.

2. Sala cirúrgica
Há uma torre de equipamentos, com monitor de
TV, fonte de luz, câmera, insuflador de ar e bisturi
elétrico. O cabo de luz pode ou não vir esterilizado,
sendo necessário protegê-lo com um plástico
quando não esterilizado.

Ø Pinças – simulam as pinças de cirurgias


normais, existindo as de hemostasia, de
corte, etc. Possuem uma parte isolante,
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que impossibilita a passagem de corrente Ø Bisturi elétrico


elétrica. Dependendo do que simulam, Ø Agulha de Veress – responsável por
podem ser chamadas de forma diferente: insuflar o CO2.
o Endotesoura

Ø Trocarteres - possuem uma parte cortante


e uma parte semelhante a um canal, que
permite a entrada das agulhas. Assim, ao
introduzi-lo no paciente, deve-se utilizar a
parte cortante e, para realização do
o Endodissector – possui a ponta procedimento, pode-se retirar essa parte.
mais curvada. As agulhas passam por dentro desse
instrumento e ele fica conectado ao
insuflador.

o Endograsp – pinça de apreensão


que pode possuir mais ou menos
ranhuras.

Ø Redutor – reduz o calibre de trocarteres


maiores, como de 10mm, para o de
trocarteres menores, como de 5mm.

o Gancho – corta e coagula

Ø Cabos de cirurgia laparoscópica - podem


ou não possuir a cremalheira, que é a
trava da pinça.
Ø Endobags
Ø Manipulador uterino
Ø Grampeadores
Ø Clipe – instrumento de titânio, utilizado
para fechar os vasos, portanto, sendo
considerado de hemóstase. É bastante
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caro, e em cada caixa vem PS2: as principais causas de obstrução intestinal


aproximadamente 6 clipes. em idosos são as bridas (deve ter tido cirurgia
prévia antes) e os cânceres.
3. Complicações
Ø Introdução de instrumentais – na primeira
punção, podem existir complicações
vasculares, de perfuração de vísceras.
Ø Pneumoperitônio – bem tolerável em
indivíduos sadios, mas pode representar
grande problema para obesos, cardiopatas
Ø Aspirador – para frente ele injeta o soro e, e pneumopatas. Há aumento da pressão
para trás, aspira. abdominal, podendo diminuir
complacência pulmonar, atelectasia,
alteração do retorno venoso e refluxo
gastresofágico.
Ø Procedimentos – por dentro a cirurgia é
igual a qualquer outras, podendo dar
problemas.
4. Modalidades
Inclui a videolaparoscopia e a robótica. Na
videolaparoscopia, o cirurgião fica perto do
No robô laparoscópico, o cirurgião opera paciente, manipulando as pinças com as próprias
sozinho e sentado. É muito utilizado em cirurgias mãos. Já na robótica, que é mais cara e necessita
urológicas. de mais treinamento, o cirurgião controla as
pinças por meio de uma máquina, sendo que o
robô o responsável por segurara-las. A vantagem
da robótica baseia-se na praticidade, na maior
delicadeza de manipulação, na curva de
aprendizado e na complexidade dos movimentos.

Aula 6 - Drenos:
Dreno é um tubo para remover pus, sangue ou
fluídos de uma cavidade cirúrgica qualquer. É
PS: Diagnóstico diferencial de apendicite
indicado para:
Ø Adenite mesentérica
Ø Tratar infecções - abcesso, por exemplo
Ø Diverticulite de Meckel
Ø Tratar certas condições clínicas
Ø Doença de Crohn
Ø Eliminar espaço morto
Ø Cálculo uroteral
Ø Drenar pus, sangue, exsudato e bile
Ø Hematoma da bainha do reto abdominal
Ø Prevenir o acúmulo de líquido ou gás –
Ø Doença inflamatória pélvica
evita formação de seromas, por exemplo.
Ø Gravidez ectópica
Ø Vigiar fístulas (comunicação entre duas
Ø Torção ovariana
superfícies epiteliais) urinárias, intestinais
Ø Infecção urinária
e linfáticas
Ø Cisto ovariano
Ø Vigiar o pós-operatório – as deiscências
Caso clínico – sexo masculino, 70 anos, há 5 dias ocorrem do 5º até o 12º dia quando a
sem evacuações ou flatos. Ao exame físico, exame anastomose é feita de forma correta. Em
distendido, com timpanismo. Deve-se pedir raio-x falhas técnicas, a deiscência ocorre no 1º
de abdômen agudo, no qual nota-se distensão e dia.
níveis hidroaéreos – sub-oclusão intestinal. Ø Terapeuticamente - drenagens de fístulas,
que podem ser quilosa (lesões dos vasos
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linfáticos – aspecto leitoso), (abaixo do leito do paciente, por exemplo).


pneumotórax, hemotórax, etc. O melhor exemplo é o dreno de tórax,
Os drenos podem indicar procedimentos, como no como o selo d’água.
caso de:
Ø Hemotórax maciços de 1500ml ou
>200/300 ml/hora – indica que há alguma
lesão significativa de um vaso. Tem
indicação de toracotomia.
Ø Deiscência de anastomose – após operar
um paciente e realizar a drenagem, nota-
se fezes. Isso indica alguma lesão
intestinal.
A incisão do dreno não é feita pela mesma incisão
da cirurgia e, sim, por contra incisão. É bastante
importante fixa-lo bem, para evitar que alguém o
retire ou que o corpo o expulse.
1. Tipos de drenos
Esses instrumentos são conhecidos de acordo com
o seu material, com sua forma de ação e com a sua
atividade. Quando ao material, existem:
Ø Borracha – é o mais simples. Apresenta
como vantagem o fato de ser macio e
maleável e, como desvantagem, pelo fato
de ser muito poroso e irregular, apresenta De acordo com a atividade, pode ser:
maior risco de colonização por bactérias. Ø Drenagem passiva – funcionam de acordo
Não aparece no raio-x. com a diferença de pressão entre o meio
Ø Silicone – é inerte, radiopaco (aparece no interno e externo. A cavidade abdominal,
raio-x, permitindo saber se está colocado diferentemente da cavidade torácica,
corretamente) e gera uma resposta possui uma pressão positiva, expulsando
tecidual menor. No entanto, é menos os líquidos e órgãos. Um exemplo é o
rígido, gerando um maior incômodo. É, penrose.
atualmente, o mais usado. Ø Drenagem ativa – causam uma pressão
Quanto à forma de ação, existem: negativa na cavidade, realizando a sucção
Ø Capilaridade – ocorre a saída de secreção do líquido. São drenos à vácuo. Incluindo:
pelas superfícies do dreno até uma bolsa o Dreno de Blake – formado por uma
coletora, como se fosse um capilar. O estrutura semelhante a uma pera
melhor exemplo é o dreno penrose. que, ao apertada, cria um vácuo no
organismo do paciente.

Ø Gravitação – são de grosso calibre e


sistema fechado. Por serem de gravidade, o Dreno Portovac - formado por uma
devem estar abaixo da cavidade drenada estrutura semelhante a uma
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sanfona que, ao apertada, cria um


vácuo no organismo do paciente.

2. Quando utilizar?
Os drenos deixam os pacientes presos na cama,
diminuindo a mobilidade pós-operatória. Por esse
PS: Dreno de Kher – possui um formato de T, motivo, ele não deve ser utilizado rotineiramente
utilizado em drenagens de vias viliares. e em qualquer cirurgia.
3. Caso clínico
a. Paciente, 54 anos, com adenocarcinoma
de retosigmoide a 20 cm da borda anal.
Por essa distância não ser tão perto do
sigmoide, é possível realizar uma
anastomose (menos de 2cm não é
possível). Assim, a paciente realizou uma
retosigmoidectomia com anastomose. Até
o 4º dia pós-operatório, os resultados
estavam adequados, mas a partir do 5º
PS2: drenos de curativo à vácuo – são pouco passou-se a notar uma drenagem mais
usados, mas funcionam bem quando existem escurecida, indicando perfuração
partes moles muito extensas, escaras, etc. intestinal com drenagem de fezes. Diante
disso, deve-se realizar uma laparotomia
exploradora com ressecção
b. Sexo masculino, 30 anos. Encaminhado ao
pronto-socorro trazido pelo SAMU após
acidente de moto. Apresenta-se com
palidez cutânea-mucosa, PA 70/50mmHg
e FC 120bpm. Abdômen não doloroso,
mas murmúrio vesicular ausente e
macicez em hemitórax direito. Faz-se a
drenagem do tórax, sendo retirado
PS3: os drenos torácico (pigtail) ou em selo d’água
2500ml de sangue. Diante disso, deve-se
são os mais utilizados para drenagem torácica. O
realizar uma toracotomia.
pigtail é rígido para entrar na cavidade torácica,
mas após isso, assume outra forma (parecida com Aula 7 - Incisões abdominais
rabo do porco). Ele é bastante usado em indivíduos Representam as vias de acesso para as cirurgias,
com acesso venoso central ou pneumotórax ou seja, são locais preparados para dar início a
isolado (incomoda menos). Hemotórax e empiema uma cirurgia. Foram idealizadas em uma época
são tratados mais com selo d´água. A inserção dos com técnicas mais precárias, objetivando incisões
drenos torácicos é feita entre o 4º-5º espaço exatamente nos locais onde ocorreria a operação
intercostal, na linha axilar média.
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(caminho mais curto – apendicite aguda = incisão


em cima do apêndice).

1. Técnicas
Além da paramentação cirúrgica, é preciso realizar
a antissepsia, colocar campos operatórios que
restrinjam a área de contato com a pele e realizar
a incisão.

2. A parede abdominal
A parede abdominal possui a linha arqueada de
Douglas (arco de Douglas – na altura da cicatriz A inervação dessa parede se faz da porção lateral
umbilical). para a medial, o que justifica o motivo de todas
lesões laterais lesarem as raízes nervosas. Caso
haja lesão de 2 raízes, não existem grandes
problemas. No entanto, acima de 3 lesões, há
possibilidade de atrofia muscular. Por esse motivo,
a incisão mediana é a melhor escolha, uma vez que
ela representa o local de decussação de fibras
musculares. Entretanto, incisões nesse local
trazem preocupação em relação à possibilidade de
afastamento da linha alba ao realizar mínima força
(tosse – utiliza musculatura acessória da
respiração, músculos laterais forçam para lateral).
PS: a incisão universal do trauma é a mediana,
desde o processo xifoide até a púbis (linha
branca/alba). Como a cicatriz umbilical está entre
esses locais, é possível realizar uma incisão
transumbilical ou, como é mais feito, contorna-la
pela esquerda, para evitar que haja uma
Acima dessa linha, há formação da bainha anterior
recanalização (síndrome e/ou uma lesão da veia
do músculo reto-abdominal por meio da
porta.
aponeurose do músculo oblíquo externo (fibras de
cima para baixo) e por metade da aponeurose do 3. Histórico laparotomias
músculo oblíquo interno (fibras de baixo para A anestesia iniciou-se em 1946, Em seguida surgiu
cima). Abaixo dessa linha, a bainha anterior do a lancepsia (conceitos de Pasteur – diminuiu
músculo reto-abdominal, por sua vez, é formada infecções) e, na metade da década passada, as
pela musculatura da parede anterolateral, ou seja, penicilinas foram descobertas. Na década de 70,
pelas aponeuroses dos músculos obliquo externo, cirurgiões perceberem que seria possível realizar
interno e transverso (mantém o formato da incisões menores, desde que essas não
cavidade abdominal), não existindo bainha comprometessem o paciente. Assim, nessa
posterior. década, forma realizadas cirurgia tubária. Na
década de 90, a colecistectomia passou a ser
realizada com incisões menores (atualmente é
feita endoscopicamente, com trocarteres). Em
1999, os primeiros robôs surgiram.

4. Incisões longitudinais
São mais usadas, mas apresentam maior risco de
deiscência e mais dor. Ao descrever a cirurgia, é
necessário indicar o tipo de incisão, o local onde
ela foi feita – supraumbilical, infraumbilical ou
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supra e infraumbilical – e o tamanho que ela Entretanto, utiliza-se mais incisões longitudinais.
possui. Incluem: Incluem:
Ø Mediana/janela do abdome – universal. Ø Pfannenstiel – incisão pélvica muito usada
na obstetrícia. É transversa e realizada em
cima do púbis.

Ø Paramediana – incisão que corta a bainha


do músculo reto-abdominal. Antigamente,
separava lateralmente esse músculo, e Ø Cherney – incisão pélvica na qual é
realizava a incisão na bainha posterior. Era necessário desinserir o músculo reto-
um processo mais seguro, mas que deixava abdominal para se ter acesso à cavidade.
o paciente com duas linhas de sutura. O Ø Babcock – incisão baixa, delicada. Pode ser
fator limitante é infecção. Atualmente não feita na apendicite.
é muito utilizada.
6. Incisões oblíquas
Podem ser realizadas nos flancos, região subcostal
direita, esquerda ou bilateral. Incluem:
Ø Kocher – em geral, atualmente é feita
quando não é possível realizar
colecistectomia por vídeo. É uma incisão
subcostal direita específica para esse
procedimento.
Ø McBurney – incisão clássica para
apendicectomia, feita na junção entre o 2º
e o 3º terço de uma linha imaginária
traçada da espinha ilíaca até a cicatriz
umbilical do lado direito.
Ø Lombotomia – operações urológicas

o Pararretais externas (Jalaguier) –


dificuldade relaciona-se com as
inervações, já que há mais lesão.
Não são muito utilizadas.
o Pararretais internas (Lennander)
Ø Transretal

5. Incisões transversais
Fisiologicamente, incisões transversas são
melhores, devido ao afastamento da linha alba
diante de esforços (tensão é muito menor do que
a tensão das incisões longitudinais). São mais
difíceis tecnicamente, mas apresentam menor
chance de eviscerações e hérnias intersticiais.
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7. Outras incisões 10. Evisceração


Ø Cirurgia endoscópica por orifícios naturais Saída de vísceras para fora devido à ruptura da
Ø Single-port – em geral, na aponeurose e da pele.
videolaparoscopia, as pinças necessitam
triangular (não é possível trabalhar com 11. Eventração
elas paralelas). No single-port, as pinças Ruptura da aponeurose sem que haja ruptura da
entram por apenas um orifício e, dentro do pele, o que não permite que as vísceras saiam para
organismo, conseguem triangular. A fora. Eventualmente, desenvolve-se uma hérnia
cicatrização é menos delicada, pela incisional.
necessidade de inserção de inúmeros
trocarteres por apenas uma incisão.
Aula 8 – Apendicite aguda
Doença de diagnóstico e tratamento
8. Incisões combinadas relativamente simples. A primeira apendicectomia
São indicadas em toracolaparotomias, toraco- foi descrita por McBurney C., em 1889, que
frenolaparotomias (corta diafragma), toracotomia realizou essa cirurgia sem anestesia. A apendicite
e laparotomia. Se possível realizar duas incisões aguda é uma causa importante de abdômen agudo
separadas é melhor, pois gera menor lesão para o (diagnóstico sindrômico), apresentando incidência
doente. de 11:10000, principalmente em indivíduos de 20
Ø Mercedes – incisão subcostal com a 29 anos. Quando acomete lactentes ou idosos, o
prolongamento mediano (oblíqua e diagnóstico torna-se mais complicado. O apêndice
longitudinal). Gera acesso aos vasos e o ceco surgem na 6º semana de vida, a partir do
hepáticos, cárdia. É usada no trauma, para intestino médio, e migram para a fossa ilíaca
transplantes hepáticos. direita.

1. Fisiopatologia
A inflamação ocorre, provavelmente, por uma
obstrução da luz do órgão por fecalito ou por
hiperplasia linfoide que vai gerando um aumento
da pressão intraluminal. Nas primeiras 12 horas
desse evento, o paciente, passa a apresentar uma
perda de apetite, com náuseas e dor na boca do
estômago. Após 24h, o aumento da pressão foi tão
intenso, que gera uma congestão venosa (impede
que o sangue saia), o que faz com que a dor migre
para a fossa ilíaca direita. Com o tempo, o sangue
PS: cirurgia vídeo-assistida é aquela cirurgia não consegue nem entrar mais no apêndice,
convencional que se utiliza de auxílio da causando isquemia. Após 48h, pode haver invasão
videolaparoscopia. bacteriana, gerando febre. Se não tratado, todo
esse quadro pode levar à necrose e à perfuração
PS2: a dor torácica após cirurgia afeta a do intestino, causando extravasamento de fezes
respiração, podendo causar uma restrição na cavidade abdominal, consequentemente,
ventilatória. abdômen agudo.
PS: Hoje, utiliza-se bastante incisões transversas 2. Diagnóstico
supraumbilicais para inserir o trocarter maior Em geral é feito rapidamente, mas existem
(10mm) com a ótica e depois os trocarteres inúmeros diagnósticos diferenciais, uma vez que
menores (5mm) para utilizar o material de qualquer dor abdominal pode simular uma
trabalho. apendicite, como:
Ø Pielonefrite
9. Criança
Ø Colecistite
Na criança, o diâmetro latero-lateral é maior do
Ø Torção de ovário
que o anteroposterior, sendo a incisura clássica a
Ø Cisto de ovário
transversa.
Ø Diverticulite
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Ø Litíase renal o Apagamento do psoas


Ø Pancreatite
Ø Gravidez ectópica
O diagnóstico é feito por meio de uma anamnese
detalhada, com combinação de sintomas e análise
do tempo de progressão e um exame físico
cuidadoso, com realização de:
Ø Sinais de Blumberg
Ø Sinal de Psoas – rotação lateral da coxa
causa dor em fossa ilíaca direita.
Ø Sinal do obturador - rotação medial da
coxa gera dor nos apêndices pélvicos.
Ø Sinal de Rovsing - compressão na fossa
ilíaca esquerda, em ordenha e em direção
à fossa ilíaca direita causa distensão do Ø Ultrassom – é mais difícil, pois
apêndice e dor contralateral necessita de um operador. Apresenta
Pode-se apresentar-se atipicamente em extremos sensibilidade 85% e especificidade de
de idade, gravidez e pacientes imunossuprimidos, 92%, mas é dificultado em pacientes
o que complica o diagnóstico. Em geral, o apêndice obesos.
localiza-se na fossa ilíaca direita, mas, como esse Ø Tomografia de abdômen – deve ser
órgão migra no abdômen, ele pode possuir usada somente nos casos atípicos.
inúmeras outras posições. De acordo com essa Pode mostrar espessamento do
posição, é possível que a dor abdominal seja em apêndice, etc.
outro local, dificultando o diagnóstico. Quanto ao
diagnóstico diferencial, existem alguns exames 3. Tratamento
laboratoriais que, se alteradas, indicam infecção e É cirúrgico, sendo a incisão realizada no ponto de
problemas tardios. São eles: McBurney em 50% dos casos. Na apendicectomia
Ø Hemograma não complicada, faz-se antibioticoterapia
Ø PCR - aumentado na perfuração profilática para prevenir infecções no sítio
somente cirúrgico com cefalosporina de 2º geração
Ø Hematúria (geralmente). Normalmente esses pacientes não
Ø Urina I possuem abcesso intra-abdominal, mas caso
Ø Beta-HCG possuam, é preciso realizar uma antibioticoterapia
Ø Amilase com cefalosporina de 3º geração e beta-lactâmico
Ø Raio-x simples – (para cobrir anaeróbio e gram-negativo). Na
o Alça sentinela apendicectomia complicada, por sua vez, o
o Fecalito em FID tratamento é feito com cefalosporina de 3º
geração e beta-lactâmico.

Além disso, o procedimento pode ser:


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Ø Aberto – faz-se ou uma incisão de 4 cm Ø Baixo custo


no ponto de McBurney ou uma incisão Para decidir qual fio usar, é importante considerar
mediana. Na criança, pode-se realizar o manuseio, a reação tecidual ao fio, o potencial
uma incisão transversal. Ao finalizar, de contaminação do sítio operatório (locais de
faz-se uma sutura em bolsa, com fio muita infecção devem ser feitos com fios
não absorvível. monofilamentares e não multifilamentares) e a
Ø Vídeo - utiliza-se um clipe ou um resistência tênsil do fio em relação ao tempo de
grampeador, que corta e grampeia cicatrização do tecido (conforme o local, a
com 4 linhas de grampo. É bastante cicatrização demora mais, como nos músculos e
relevante em dúvidas diagnósticas e é nos tendões – muito movimento; a medida que o
mais vantajosa nos obesos e nas fio perde tensão, a cicatriz deve ganhar). Assim, o
gestantes. que importa é:
Ø Tipo de tecido
Ø Localização do tecido
Ø Espessura do tecido
Ø Tamanho da incisão
Ø Tempo necessário para cicatrização
Ø Se há tensão sobre o tecido
Ø Características do paciente – pacientes
idosos, imunossuprimidos, desnutridos
possuem uma cicatrização mais
prolongada
Ø Preferência do cirurgião

1. Classificação
Aula 9 – Fios de Sutura Os fios podem ser classificados quanto a origem, a
São materiais flexíveis, de secção circular, com estrutura e a absorção. Quanto à origem, podem
diâmetro muito reduzido em relação ao ser:
comprimento, utilizados para aproximar tecidos Ø Biológicos – tem origem animal e
incisados cirurgicamente, lacerados em vegetal
traumatismos ou para ligar vasos sanguíneos (fio Ø Metálico – tem origem mineral
de algodão, geralmente). As suturas favorecem a Ø Sintético
cicatrização e, quando feitas, diz-se existir uma Quanto à estrutura, podem ser:
cicatriz de primeira intenção, que diminui o espaço Ø Monofilamentar – cada fio é composto por
morto e diminui o tempo de melhor. Tem como único filamento compacto.
objetivo manter a aproximação das bordas de Ø Multifilamentar – conjunto de fios
tecidos seccionados com materiais que resistam as trançados entre si. Possui maior
tensões e trações da ferida, até pelo menos a resistência, mas apresentam desvantagens
segunda fase de cicatrização. Quanto mais tempo em tecidos infectados, pois a bactéria pode
a sutura manter os tecidos aproximados, menor a se agrupar a ele.
chance de abertura. Assim, os fios necessitam: Quanto à absorção:
Ø Alta resistência Ø Absorvíveis – podem ser de origem animal
Ø Flexibilidade ou sintética. São reabsorvidos por
Ø Facilidade de manuseio fagocitose ou hidrólise.
Ø Boa segurança do nó – fio de algodão trava o Origem animal – catgut simples e
bem, mas os fios monofilamentares não, cromado
sendo necessária uma quantidade maior o Origem sintética – ácido
nós. poliglicólico (dexon), poliglactina
Ø Baixa reação tecidual (Vicryl), poligliconato (maxon),
Ø Não provocar reações alérgicas poliglecaprona (monocryl) e
Ø Boa visualização, mesmo quando polidiaxanona (PDS).
molhados de sangue
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Ø Não absorvíveis – não se modificam com o propensos a infecção. Os


tempo. Podem ser: monofilamentares, por sua vez, tem
o Animal – seda pouca capacidade de absorver fluidos.
o Vegetal – algodão Ø Elasticidade – capacidade do fio retornar a
o Mineral – mais usados em cirurgias sua forma e tamanho após tração. Fios
ortopédicas. Podem ser de prata, finos possuem maior elasticidade do que
cobre, ouro, aço, ligas metálicas, os grossos.
etc. Ø Memória – capacidade do fio de manter-
o Sintética – poliamida (Nylon), se sob nova forma após tracionado.
poliéster (Mersilene e Ethibond) e Quanto maior a memória, maior a
polipropileno (prolene). dificuldade de manuseio e torção de nós.
Os fios apresentam um diâmetro que é Os monofilamentares costumam possuir
determinado em milímetros e é expresso em mais memória do que os
zeros. Quanto menor o calibre, maior o número de multifilamentares.
zeros. Em tecidos mais finos são usados em Ø Coeficiente de atrito – fios com alto
tecidos mais delicados e sem tensão, enquanto os coeficiente de atrito não deslizam bem no
mais grossos são usados em tecidos mais tecido, lesando mais, mas geram nós mais
grosseiros e com mais tensão. Em geral, os mais difíceis de desatar. Os fios
utilizados são os de 4-0 a 1-0 e o de 6-0 é da monofilamentares, em geral, possuem
espessura de um fio de cabelo. coeficiente baixo, apresentando maior
facilidade de desatar, mas gerando menos
2. Características trauma.
Existem inúmeras formas de caracterizar os fios, Ø Reação tecidual – grau de reatividade
sendo: causada pelo fio. Varia conforme material
Ø Força tênsil – quanto tempo o fio
e calibre do fio. Fios inabsorvíveis dão
consegue manter os tecidos aproximados, menor reação tecidual e essa, quando
sendo determinada pela divisão da força excessiva, favorece infecção. Em geral, os
necessária para romper o fio pelo fios naturais, de origem animal e
diâmetro do fio. É uma característica multifilamentares apresentam maior
muito importante, que é perdida muita reação tecidual, enquanto os sintéticos,
antes do fio ser absorvível. Essa força é minerais e monofilamentares apresentem
afetada pela composição do fio, diâmetro menor. Os vegetais são intermediários.
e técnica do nó. Em fios de mesmo
material, quanto maior o calibre, maior a PS: as suturas não são feitas (cicatrização de
resistência, mas em fios de mesmo segunda intenção) em casos de perda tecidual
calibre, mas diferentes materiais, a força muito grande que impossibilite aproximação de
tênsil varia. bordas ou casos de infecções, para evitar que estas
fiquem contidas dentro do organismo da pessoa.

3. Agulha de sutura
Existem inúmeros tipos, sendo elas classificadas
quanto a ponta, o formato e o fundo. Quanto à
ponta, podem ser:
Ø Cilíndrica – somente a ponta é cortante.

Ø Capilaridade – determinada pela


capacidade do fio de absorver fluídos, o
que não é muito bom por aumentar risco
de infecções do sítio cirúrgico. Os fios
multifilamentares, como a seda,
favorecem migração de microrganismos
através de sua trama, sendo mais
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Ø Triangular – além da ponta ser afiada, 10-14 dias. Desencadeiam reação


possui corte na ponta. inflamatória intensa ao seu redor, de corpo
estranho.

Ø Catgut cromado – cor de cobre. Feito a


Em relação ao formato da agulha, tem-se:
partir de fitas de colágeno da submucosa
Ø Reta
do intestino delgado de carneiro, sendo
Ø Semicurva
biológico, absorvível e multifilamentar.
Ø Curva – mais utilizada. A mais comum é a
Possui força tênsil de 10 dias e absorção
de meio círculo, mas existem duas em 90 dias. Desencadeiam reação
bastante usadas, que são as de 2/8 de inflamatória ao seu redor, de corpo
círculo e 5/8 de círculo. estranho. É quebradiço e pouco usado.

Quanto ao fundo, pode ser:


Ø Traumática – é necessário colocar o fio Ø Poliglactina – cor violeta, sendo o fio ou
dentro desta, o que faz com que o seu violeta ou branco (usado no superficial da
fundo seja mais largo. Os fios de algodão e pele em pacientes com pele muito clara).
de seda, em geral, possuem agulhas Nome comercial mais comum é o Vicryl. É
traumáticas. obtido pela polimerização do ácido
Ø Atraumática – agulha já vem com fio preso. glicólico, sendo sintético, absorvível e
Assim, o fio segue sempre o mesmo multifilamentar. Possui resistência tênsil
diâmetro. Todos os fios mais modernos de 21 dias e absorção de 60-90 dias. Usado
vêm com essa agulha. em cirurgias gastrointestinais, urológicas,
ginecológicas, oftalmológicas, músculos,
fáscias e tecido celular subcutâneo.
Apresenta pouca ou média reação
tecidual.

4. Os fios
Possuem um código de cores, que em geral não
tem relação com a cor do fio.
Ø Catgut simples – amarelo. Feito a partir de
fitas de colágeno da submucosa do
intestino delgado de carneiro, sendo
Ø Ácido poliglicólico – embalagem dourada.
biológico, absorvível e multifilamentar.
O nome comercial é dexon. Obtido pela
Possui força tênsil de 7 dias e absorção de
polimerização do ácido glicólico, sendo
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sintético, absorvível e multifilamentar. Era para pele e suturas de tecidos delicados.


para possuir resistência maior do que a Possui resistência tênsil de 14 dias e
poligalactina, mas isso não foi absorção de 90 a 120 dias. Possui pouca
possibilitando, possuindo resistência de 21 reação tecidual.
dias. Usado em cirurgias gastrointestinais,
urológicas, ginecológicas, oftalmológicas,
músculos, fáscias e tecido celular
subcutâneo. Apresenta pouca ou média
reação tecidual.

Ø Poligliconato - embalagem prata. Nome


comercial pode ser maxon ou maxsorb. É
sintético, absorvível e monofilamentar.
Possui uma absorção lenta, com
manutenção de resistência tênsil por 28
dias. Indicado em suturas de tendões,
Ø Seda – embalagem azul. Provém do casulo
músculos, fáscias e fechamento de parede
do bicho da seda (animal), sendo biológico,
abdominal, principalmente em indivíduos
inabsorvível e multifilamentar. A
com cicatrização mais lenta. Gera pouca
resistência tênsil é longa e gera nós firmes.
reação tecidual.
Pode ser usado em cirurgias oftálmicas e
microcirurgias, mas gera reação de corpo
estranho.

Ø Algodão – embalagem rosa. É biológico,


vegetal, inabsorvível e multifilamentar.
Sua resistência tênsil é de 50% em 6 meses
Ø Poliamida – embalagem verde e nome
e 70% em 2 anos. Usado em ligadura de
comercial é nylon. É derivado das
vasos e praticamente em qualquer tecido.
poliamidas, sendo sintético, inabsorvível e
Gera um pouco de reação de corpo
monofilamentar. Possui grande resistência
estranho, não devendo ser usado em pele.
tênsil, produzindo nó duro e pouco firme.
É de fácil manuseio e gera nós seguros.
É elástico, resistente a água e muito usado
em suturas de pele. Gera pouca reação
tecidual.

Ø Poliglecaprone 25 – embalagem salmão.


Nome comercial pode ser monocryl,
caprofyl e medsorb. É sintético, absorvível
e monofilamentar, sendo o fio de escolha
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Ø Poliéster – embalagem é laranja e nome 5. Período de cicatrização


comercial pode ser ethibond e mersilene. É Ø Mucosas – 5 dias, podendo-se usar os
derivado do poliéster, sendo sintético, catgut
inabsorvível e monofilamentar. Possui Ø Pele – 10 dias, podendo-se usar os
grande resistência tênsil, mas não gera nós catgut
muito seguros. É usado em suturas de Ø Subcutâneo – 13 dias, utilizando-se
aponeuroses, tendões, vasos, cirurgias poligalactina, ácido poliglicólico ou
ortopédicas e cardiovasculares. Os fios poliglecaprone.
podem ser brancos, verdes ou azuis e Ø Peritônio – 12 dias, utilizando-se
geram pouca reação tecidual. poligalactina, ácido poliglicólico ou
poliglecaprone.
Ø Fáscia e aponeuroses – 15 a 30 dias,
utilizando-se PDS, polidioxanona ou
fios inabsorvíveis.
6. Fenômenos tardios
Pode ocorrer formação de abcesso local,
cavidades com eliminação espontânea dos fios por
descarga de material seroso ou purulento, e
Ø Poliproprileno – embalagem azul escuro, granuloma de corpo estranho.
fio azul ou incolor e nome comercial é
prolene. É sintético, inabsorvível e
Aula 9 – Hemorragia digestiva alta
monofilamentar. Mantém sua resistência A hemorragia digestiva é classificada como um
tênsil por vários anos. Usado em suturas sangramento intraluminal originário do trato
vasculares e aponeuroses, além de suturas gastrointestinal (boca até anus). É dividida em alta
intradérmicas (nó deve ser deixado para ou baixa, dependendo da região em que ocorre –
fora para retirar após 30 dias), cirurgias acima ou abaixo do ângulo de Treitz (flexura
gastrointestinais, urológicas, ginecológicas duodenojejunal). Assim, tem-se:
Ø Hemorragia digestiva alta – acima do
e oftalmológicas, músculos, fáscias e
tecido celular subcutâneo. Gera pouca ângulo de Treitz. O principal sintoma é a
reação tecidual. hematêmese.
Ø Hemorragia digestiva baixa - sangramento
abaixo desse ângulo é considerado
hemorragia digestiva baixa (sangramento
catártico = irrita o tubo digestivo; laxante
catártico, como complexo 46 é um
medicamento que irrita o tubo digestivo),
cujo principal sintoma é melena (pode
ocorrer enterorragia, hematoquezia =
Ø Aço – embalagem marrom e nome sangue misturado com as fezes).
comercial aciflex. É biológico, inabsorvível
e monofilamentar. Apresenta a maior 1. Epidemiologia
resistência tecidual se comparado com os A hemorragia digestiva alta é uma condição
demais fios, sendo permanente. Tem comum, que acomete mais homens, idosos e
tendência de cortar tecidos, manuseio indivíduos com baixa condição socioeconômica.
difícil e possibilidade de quebra. Devido ao
2. Etiologia
trauma das pontas, pode causar necrose
A causa principal de HDA nos adultos é a doença
tecidual. São usados em cirurgias
ulcerosa péptica (úlceras gastroduodenais – mais
ortopédicas, de cicatrização lenta. Não
comuns no antro gástrico). Úlceras são lesões nas
gera reação tecidual.
quais há perda da continuidade da mucosa e da
submucosa. O estômago é um órgão que secreta
ácido, mas não sofre com essa secreção por
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possuir uma camada mucoide. Assim, as úlceras ázigo-portal (comunicação entre a porta e
pépticas surgem em pacientes que apresentam a ázigo).
aumento da secreção de ácido ou diminuição da o Ruptura das varizes
camada mucoide. Dessa forma, pode ser causada esofagogástricas – 95% dos casos
por:
Ø Hipercloridia sem o devido tratamento –
aumento as secreção de ácido.
Ø Exposição a AINES – os AINES (diclofenaco)
diminuem a camada mucoide, além de
atuarem negativamente nos rins.
Ø Stress
Ø Infecção por H. pylori
Além disso, pode ser causada por:
Ø Síndrome de Mallory-Weiss – laceração da
mucosa na junção gastresofágica associada
ao grande esforço para vomitar e por
repetidas vezes, ocorrendo sangramento
quando envolve o plexo venoso ou arterial
esofágico. Ocorre mais em grávidas e 3. Sinais e sintomas
etilistas. Diante de uma HDA, o paciente apresenta
hematêmese, melena ou até mesmo enterorragia
(sangue catártico e muito rápido, não sendo
digerido), podendo muitas vezes chegar em
choque hipovolêmico. Assim, é importante
sempre investigar fatores de risco, seja com o
próprio paciente ou com um acompanhante,
indagando:
Ø Uso de medicamentos – AINES e
anticoagulantes
Ø Uso de drogas – cocaína, principalmente.
Essa droga é vasoconstritora, levando a
uma grande isquemia, além de acabar com
a proteção mucoide e aumentar a secreção
ácida do estômago.
Ø Etilismo
Ø Gastrite
Ø Dispepsia
Ø Esofagite
Ø Neoplasia
Ø Neoplasias
É importante descobrir o local de sangramento e
Ø Fístula aortoentérica
cessá-lo, a fim de evitar a morte do paciente.
Ø Lesão de Dieulafoy – erosão de vaso
arterial submucoso aberrante gástrico que 4. Exame físico
está relacionada com várias EDAs normais. Deve-se realizar o exame físico geral e os
É uma lesão do fundo gástrico, sendo difícil específicos, preocupando-se com o nível de
de diagnosticar. consciência do paciente, sinais hemodinâmicos
Ø Hipertensão portal – 20% dos pacientes (PA, FC, pulsos distais) e extremidades. Além disso,
podem tem HDA por essa patologia, que é importante realizar o toque retal para pesquisar
surge devido à doença hepática (cirrose – a presença de melena ou enterorragia, e aspiração
varizes esofagianas, do plexo com sonda nasogástrica.
hemorroidário e da região periumbilical).
Na cirrose, há uma destruição do 5. Exames complementares
parênquima hepático, que leva à Ø Endoscopia digestiva alta – visualiza é a
obstrução da comunicação entre a porta e 1º/2º porção do duodeno. É o primeiro
a cava, levando à dilatação do sistema exame que deve ser realizado e, caso
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negativa, não descarta a HDA (pode ser durante a passagem da


sangramento do complexo bilio- endoscopia.
pancreático). A terapêutica visa corrigir a volemia, parar o
Ø Colonoscopia – visualiza o intestino sangramento e impedir o ressangramento.
grosso, sendo realizada pelo reto. Pode Ø Classificação da HDA – classifica a HDA
ser feita diante do diagnóstico de quanto leve, moderada, grave ou
hemorragia digestiva baixa. Deve ser maciça, de acordo com a PA, o pulso e
feito um preparo intestinal o volume de perda (hemograma
Ø Cintilografia – hemácia marcada com mostra isso – cada vez que cai um
pepnésio para visualizar sangramentos ponto de Ht, deve-se administrar
não percebidos nem pela endoscopia 400ml de sangue = cada bolsa de
digestiva alta, nem pela colonoscopia. sangue possui 400ml).
Só é feita em hospitais grandes que Ø Estratificação de risco de
possuam essa técnica e em pacientes ressangramento – The Rockall Risk
que estejam sangrando. Scoring System, que utiliza as variáveis
Ø Arteriografia – hemorragias mais idade, estado de volemia, doenças
volumosas. O cirurgião vascular faz a associadas, diagnóstico e estado
punção da artéria femoral, passa um endoscópico. A partir dessas, soma-se
cateter e vai cateterizando as artérias um valor que caracteriza o risco de
até encontrar o sangramento. É ressangramento. Um paciente com
possível obstruir o local de score menor do que dois apresenta
sangramento. menor risco de ressangramento,
enquanto um paciente com score
6. Objetivos maior ou igual a 2 tem 37% de
A terapêutica visa corrigir a volemia, parar o ressangrar e, portanto, 37% de maior
sangramento e impedir o ressangramento. O mortalidade.
diagnóstico sindrômico do paciente com HDA é o
choque hipovolêmico. Assim, a prioridade é a
estabilização do paciente. Para isso, deve-se
saber:
Ø Gravidade do choque – quanto de
volume foi perdido, sendo:
o 15% de volume – não causa
alteração hipodinâmica
(hipotensão, taquicardia).
Pacientes em uso de
betabloqueador, grávidas e idosos
tendem a aparecer nesse quadro.
o 15-30% de volume – paciente pode Se o paciente possuir perda de plaquetas e INL <
apresentar taquicardia de repouso, 1,5, é preciso corrigir. Se estável, faz-se
hipotensão postural. Nesse endoscopia e transfusão.
paciente é necessário realizar 7. Mensuração da perda sanguínea
reposição volêmica (cristaloides até
Diante de úlceras gástricas, é possível realizar a
2L) e, às vezes, até sangue.
classificação de Forrest, que possui 3 valores,
o Mais de 40% de volume – confusão,
sendo:
letargia, PA sistólica abaixo de 90,
Ø I – Sangramento ativo
sem pulsos distais, extremidades
o A – Em jato
frias. É necessário realizar
o B – Em porejamento ou babação
transfusão sanguínea e, às vezes,
Ø II – Sem sangramento
até entubar o paciente, já que a
o A – Vaso visível
perda excessiva de volume, pode
o B – Coágulo grudado na úlcera
levar a uma broncoaspiração
o C – Hematina na base da úlcera
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Ø III – Visualiza apenas a úlcera Ø Gastrectomia subtotal com reconstrução a


U de Roux – gastrojejuno anastomose e
8. Tratamento endoscópico jejuno-jejuno anastomose. É a mais
É possível tratar as úlceras pépticas durante a realizada.
própria endoscopia digestiva alta, com:
Ø Injeção de substâncias durante a EDG
o Adrenalina – não é muito usada pelo
risco de isquemia
o Álcool
o Cola de fibrina
Ø Métodos térmicos
o Coagulação – método térmico. A
queimadura pode ser excessiva,
perfurando o estômago
o Plasma de argônio – é um método
térmico mais seguro, sendo o
melhor, mas é caro.
Ø Métodos mecânicos
o Clipe – método mecânico. Pode ser
combinado com alguma substância,
como epinefrina ou álcool. 10. Gastrites hemorrágicas
Ø Medicamentos que diminuam a acidez
O tratamento é apenas pelo uso de medicamentos
gástrica – omeprazol EV em doses (bloqueador) e, não cirúrgico. Isso ocorre, pois
dobradas (80mg) normalmente só há sangramento em
Esse tratamento, no entanto, apresenta como porejamento.
limitações úlceras grandes, focos inacessíveis e 11. Síndrome de Mallory-Weiss
hemorragias difusas. Além do sangramento existem os vômitos, mas em
9. Tratamento cirúrgico 90% dos casos regride espontaneamente. Em
alguns casos é necessário colocação de clipes ou
Em pacientes com úlcera gástrica que não
outros itens para parar o sangramento durante a
respondem a outros métodos, que estejam em
endoscopia.
choque hipovolêmico e que necessitem de > 6U de
concentrado de hemácias o tratamento cirúrgico é 12. Doença varicosa
indicado, podendo realizar: É caracterizada por um sangramento mais
Ø Billroth I – antrectomia (retirada de células volumoso, associado à doença hepática. Assim, o
parietais do antro) com gastro-duodeno tratamento visa a prevenção da peritonite
anastomose (anastomose do estômago no bacteriana com quinolona, norfloxacina ou
duodeno). ciprofloxacina, diminuição do sangramento
Ø Billroth II – antrectomia com gastro-jejuno esplênico por meio de somatostatina e a
anastomose (anastomose do estômago no realização da terapia endoscópica por alcoolização
jejuno, com fechamento do duodeno). Não ou ligadura elástica. Em pacientes graves,
é realizada. instáveis, com sinais de hipertensão portal (ascite,
circulação colateral, ginecomastia, spiders), nos
quais a realização de endoscopia não é
possibilitada, é possível realizar o tamponamento
por balão. Esta, possui um balão gástrico
(insuflado com ar) e um balão esofágico (insuflado
com pressão). Para passa-lo, é necessário intubar
o paciente para evitar que haja broncoaspiração,
etc.
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A colelitíase é a formação de cálculos no interior


da vesícula biliar. Esses cálculos são formados pelo
aumento de gordura, dificultando a manutenção
do equilíbrio pelos sais biliares e, com isso,
levando à sedimentação e formação de cálculos. A
vesícula biliar, toda vez que nos alimentamos,
contrai. Assim, há grande possibilidade desses
cálculos migrarem para os túbulos
(coledocolitíase) ou inflamarem a vesícula,
causando a colecistite aguda. Na maioria das
vezes, um cálculo impacta-se no infundíbulo da
vesícula, gerando uma dor em hipocôndrio direito
(cólica biliar). Caso isso não seja tratado, há
inflamação da vesícula e febre.
Pode-se ainda adotar o TIPS, que é um shunt que
comunica a veia porta à veia cava. Esse 1. Quadro clínico
procedimento é realizado, geralmente, em Paciente inicia quadro de dor do tipo cólica em
pacientes que se encontram na fila do transplante. hipocôndrio direito, que evolui para vômitos e
Esse instrumento diminui a pressão do sistema febre. A dor piora após ingestão de alimentos
ázigo-portal e para o sangramento por varizes. No gordurosos e pode irradiar-se para região dorsal.
entanto, o fígado deixa de exercer suas funções,
fazendo com que o paciente evolua para uma 2. Fatores de risco
hepatite fulminante. Incluem os quatro Fs associados à suspeita de
afecção biliar, sendo:
Ø Female – mulheres
Ø Fertility – alta fertilidade
Ø Forty - Idade acima dos 40 anos
Ø Fat - obesidade

3. Exame físico
Deve-se realizar o exame físico geral e os
específicos, percebendo um abdome doloroso,
uma defesa muscular em andar superior do
abdome e o sinal de Murphy, que é uma dor
intensa à compressão do hipocôndrio direito que
interrompe a inspiração. Esse sinal de Murphy
pode, inclusive, ser buscado durante o ultrassom.

Aula 10 – Colecistite aguda

4. Diagnóstico
É feito pela história clínica, pelo exame físico e
pelo ultrassom, que demonstra uma parede
espessada e os cálculos (sombra acústica). Caso
não tratado, uma colecistite crônica é
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desenvolvida. Além disso, pode-se realizar exames artéria hepática comum sai a artéria cística, que é
laboratoriais, observando: retirada na cirurgia. Deve-se fechar o ducto cístico,
Ø Leucocitose leve para evitar que haja extravasamento da bile e
Ø Transaminases TGP e TGO – só aparecem consequente quadro peritônico pós-operatório. É
se ocorrer lesão do hepatócito. importante atentar-se à veia porta, que passa por
Ø Fosfatase alcalina – aumenta diante de trás das estruturas que serão operadas e com as
colestases. Pelo inchaço da vesícula, há variações anatômicas.
compressão da via biliar, dificultando a
liberação da bile.
Ø Elevação discreta de bilirrubina

5. Risco de pancreatite biliar


Caso o cálculo migre para o colédoco, gerando
uma coledocolitíase e uma colangite (além da
dificuldade de drenagem da via biliar, que está
subobstruída, há também infecção ascendente
bacteriana devido à comunicação com a papila
duodenal) com desenvolvimento de:
Ø Tríade de Charcot – paciente com icterícia, A cirurgia deve ser realizada no triângulo de calot,
dor em hipocôndrio direito e febre com o qual é delimitado pela artéria cística, ducto
calafrios. cístico e ducto hepático comum. A incisão clássica
Ø Pêntade de Reynolds – tríade de Charcot é a de Kocher, a qual é oblíqua, grande, subcostal,
associada a hipotensão arterial e alteração com necessidade de secção do reto abdominal e
do estado mental. É sinal de gravidade. que leva diretamente para a vesícula. É uma
Nesses casos, é necessário desobstruir a via biliar cirurgia que pode ser feita por videolaparoscopia.
e operar a vesícula. A desobstrução pode ser feita Nesta, o cirurgião coloca-se a esquerda do
por meio de: paciente, junto do 2º operador. O instrumentador,
Ø Colangiopancreatografia retrógrada por sua vez, coloca-se do outro lado da mesa,
endoscópica – aparelho de endoscopia que junto do aparelho de vídeo.
cateteriza a via biliar, reconhece os
cálculos, secciona a papila duodenal e, com 7. Complicações
uma pinça especial, retira os cálculos. Ø Empiema de vesícula – acúmulo de pus
na vesícula.
Ø Colecistite enfisematosa – sinal de
infecção por bactéria anaeróbica.
8. Colecistite aguda alitiásica
Paciente possui a colecistite, sem que haja
formação de cálculos. Acomete mais indivíduos
em terapia intensiva, com uso de drogas
vasoativas. Apesar de ser pouco comum, é
bastante grave.
PS: os cálculos de colesterol puro são mais escuros.

Ø Papilotomia endoscópica Aula 11 – Abdômen agudo


Condição clínica abdominal cujo principal sintoma
6. Tratamento operatório
é uma dor abdominal de início súbito ou
A colecistectomia é a retirada da vesícula biliar.
rapidamente progressiva, que necessita de
Seu grande problema reside na anatomia da via
avaliação e tratamentos rápidos, mas não
biliar, já que essa, se lesada, gera problemas para
necessariamente cirúrgicos. Qualquer órgão
o resto da vida. O ducto hepático comum sai do
retroperitoneal ou intrabdominal pode ser a causa
fígado, junta-se do cístico, que sai da vesícula (é o
de um abdômen agudo, podendo ser uma doença
único que pode ser ligado), e forma o colédoco. Da
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em víscera previamente normal ou não. Qualquer sintomas associados (se a dor foi ou não o
dor abdominal pode ser considerada um abdômen primeiro sintoma), etc.
agudo, principalmente quando se prolonga por
PS2: uma úlcera gástrica maciça pode se
mais de 6 horas. O diagnóstico precoce é essencial
manifestar como enterorragia, pois a digestão
para diminuir a morbimortalidade e uma
completa não é possibilitada.
anamnese e um exame físico minuciosos são
extremamente importantes. A primeira avaliação PS2: dor visceral é o começo do quadro de dor,
clínica é a mais importante, pois a administração sendo mau localizada na linha média (onde
de analgésicos pode prejudicar a segunda. Além encontra-se o plexo mesentérico e o celíaco) e
disso, as avaliações seriadas pelo mesmo médico causada pelo acometimento apenas da víscera
são a melhor forma de avaliar a progressão e/ou a abdominal, ou seja, pela distensão, inflamação e
evolução da doença. isquemia. À medida que o quadro inflamatório
evolui, a dor localiza-se no local do órgão, passando
1. Classificação:
a ser chamada de dor parietal (irrita o peritônio da
Pode ser classificado por localização, sendo em
parede abdominal próxima ao órgão), que é mais
quadrante superior direito, superior esquerdo
intensa. A dor referida, por sua vez, é uma dor que
(diverticulite aguda), inferior direito, inferior
se manifesta em área distante do local real, por
esquerdo ou difusa. Existem 5 tipos de abdomens
compartilhar do mesmo mecanismo central (dor no
agudos, sendo o vascular, o inflamatório, o
ombro direito causada por inflamação da vesícula
obstrutivo, perfurativo e o hemorrágico.
ou pro inflamação do diafragma).
2. Conduta
4. Causas
Deve ser sistematizada, seguindo uma sequência
Ø Cólica de vesícula – crise de dor forte
lógica, uma vez que existem inúmeras causas para
em hipocôndrio direito. Pode causar
o abdômen agudo. O início se da por meio da
abdômen agudo inflamatório.
anamnese minuciosa, seguida do exame físico e,
Ø Úlcera duodenal perfurada
por fim, exame de imagem, que geralmente inicia-
Ø Divertículo de Meckel – divertículo do
se por um raio-x de abdômen (é simples, apesar de
intestino delgado, mais comumente no
não ser o que mais gera diagnósticos).
íleo. Causa Pode causar abdômen
3. Sintomatologia agudo inflamatório.
O sintoma mais comum e característico é a dor Ø Obstrução intestinal aguda – dobra do
abdominal, que pode iniciar-se de forma intestino.
imprecisa, mas além desta, o paciente pode Ø Diverticulite aguda – dor na fossa ilíaca
apresentar inúmeros outros sintomas, como direita.
febre, sintomas associados que levam a entender Ø Torção de ovário – vascular.
o órgão comprometido, sendo: Ø Salpingite aguda
Ø Fígado – icterícia, colúria e acolia fecal
5. Tratamento
Ø TGI alto – hematêmese e melena
O tratamento adequado para um paciente com
Ø TGI baixo – hematoquezia (misturado com
dor abdominal aguda necessita de uma decisão
as fezes) e enterorragia (independente das
em tempo hábil, avaliando a necessidade ou não
fezes, vermelho vivo).
de cirurgia, o que varia muito conforme a
Ø Sintomas urinários – disúria, hematúria
etiologia. Muitas vezes pode ser iniciado somente
Ø Sintomas ginecológicos
com o diagnóstico sindrômico, antes mesmo do
É sempre bom atentar-se às características da dor,
diagnóstico etiológico (brida, etc). O tratamento
como tipo (em cólica e em “surtos” é sugestivo de
definitivo, por sua vez, deve ser em prol da
abdômen obstrutivo), local (começa imprecisa e
etiologia. Em geral, tem-se:
localiza depois), irradiação, intensidade, evolução
Ø Apendicite aguda – cirurgia
(quando muito rápida, é sugestivo do
Ø Colecistite – antibioticoterapia ou cirurgia
inflamatório), aparecimento (quando súbito, em
Ø Pancreatite – jejum, hidratação e
facada, é sugestivo de abdômen agudo
sintomático
perfurativo), duração, fatores de melhora e piora,
Ø Úlcera perfurativa – cirurgia
Ø Trombose mesentérica – anticoagulação
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Ø Sangramento digestivo – embolização tomografia, é importante buscar diverticulite e/ou


Ø Torção de ovário – cirurgia pancreatite aguda.
Ø Salpingite aguda – antibioticoterapia ou
cirurgia Abdome agudo perfurativo
Ø Tumor de cólon obstrutivo – cirurgia Com a perfuração, os líquidos contaminados caem
Ø Aderências intestinais – sondagem na cavidade abdominal, gerando uma dor súbita,
nasogástrica intensa e constante (líquido contaminado
Ø Perfuração de corpo estranho – cirurgia. dissemina-se pelo abdômen) que rapidamente
evolui para peritonite, com choque séptico. Como
PS: o trauma abdominal, apesar de também ser há contaminação da cavidade, há também
uma dor abdominal aguda, não é considerado um distensão abdominal, parada de evacuação,
abdômen agudo por possuir mecanismos comprometimento do estado geral, fácies
diferentes. toxêmicas, desidratação, taquicardia, hipotensão,
febre com sudorese fria. No exame físico, nota-se
6. Laboratório dor a palpação superficial e profunda, difusa,
Deve-se pedir hemograma, dosagem de ureia e resistência abdominal, abdômen em tábua
creatinina, eletrólitos, gasometria arterial, (quando a obstrução é por suco gástrico), sinal de
bilirrubina, transaminases, fosfatase alcalina, Jobert (desaparecimento da macicez hepática,
gama GT, amilase, lipase, coagulograma que se torna hipertimpânica). A grande maioria
(importante, pois os pacientes geralmente vão desses necessitam de cirurgia. O raio-x é o exame
para cirurgia) e exame de urina. Além desses, é mais importante, devendo ser feito em pé ou
preciso pedir um raio-x de abdômen, um deitado, e demonstra o ar na cúpula diafragmática
ultrassom, uma tomografia e, caso o diagnóstico (fora da cavidade abdominal). O ultrassom pode
não seja feito, pode-se solicitar cintilografia, demonstrar o líquido e, caso o raio-x não
arteriografia, endoscopia digestiva alta, demonstre ar fora da cúpula diafragmática, a
colonoscopia, paracentese abdominal e
ressonância mostra.
laparoscopia.
Abdome agudo obstrutivo
Abdome agudo inflamatório A dor é em cólica e costuma aparecer em surtos,
É uma dor que se inicia de forma insidiosa, sendo ou seja, aumenta até seu ápice e desaparece
caracterizada como visceral. Conforme a patologia repetidamente. Isso ocorre pois o organismo tenta
de base progride, essa dor aumenta de vencer a obstrução, aumentando os movimentos
intensidade e vai tornando-se parietal. Com a peristálticos e, quando vê que não consegue, entra
evolução total, pode causar uma peritonite local em atonia. Ocorre na cólica nefrética, brida, hérnia
ou difusa, com choque séptico (após 2/3 dias).
estrangulada, neoplasias, etc. Associada a essa
Causa dor insidiosa e visceral, que piora com a
dor, é bastante comum o paciente apresentar
progressão da doença e torna-se parietal. Além
distensão abdominal (principalmente quando a
dessa dor, é comum que o paciente apresente
obstrução é baixa), parada de eliminação de gases
febre, por se tratar de uma inflamação, alteração
e fezes, vômitos, alteração do estado geral,
do estado geral, vômito, taquicardia,
desidratação (sequestro de líquido dentro das
desidratação, palidez cutâneo-mucosa (conforme
alças do intestino), complicações respiratórias
evolução). No exame físico, há dor a palpação
(broncoaspiração do vômito). No exame físico,
profunda e superficial (com evolução da doença),
nota-se dor em cólica e em salvas, peristaltismo
resistência abdominal, dor a descompressão
intenso (é possível ver a movimentação),
brusca, diminuição dos ruídos aéreos e massa
distensão abdominal, aumento dos ruídos
inflamatório palpável, dolorida e amolecida. No
hidroaéreos, que estão metálicos. O raio-x é o
laboratório, observa-se uma leucocitose com
melhor exame de imagem (mostra empilhamento
desvio a esquerda. O raio-x não é muito boa para de moeda), sendo que o USG não ajuda muito e a
diagnóstico (pode mostrar alça sentinela), mas ressonância pode ser uma secunda opção caso o
ultrassom sim. Nos casos em que esse não gera o diagnóstico não seja possibilitado.
diagnóstico, pode-se realizar uma tomografia com
contraste (sem contraste dificulta diagnóstico). Na PS: dilatação de cólon – haustrações, dilatação de
delgado – empilhamento de moedas.
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Abdome agudo vascular/isquêmico ocorra (tumores, por exemplo), deve-se realizar


É mais comum em idosos, possuindo uma cirurgia.
sintomatologia mais diferenciada. Pode gerar uma
dor leve, moderada ou forte, mau estado geral, Aula 12 - Diverticulite aguda
hipotensão, pulso fino e rápido, arritmia cardíaca, Divertículos são saculações do intestino grosso,
cianose de extremidades, febre baixa, vômito principalmente no cólon sigmoide. A diverticulite
escuro ou evacuação em geleia de morango é a inflamação desses divertículos, podendo
(sangue parcialmente digerido, descamação da denominar-se doença diverticular dos cólons ou
mucosa, necrose de alça intestinal, etc), diverticulose quando o paciente se apresenta
claudicação intestinal (angina mesentérica; dor ao assintomático ou diverticulite complicada ou não
comer). No exame físico, nota-se dor à palpação complicada quando o paciente se apresenta
superficial e profunda, descompressão brusca sintomático. A inflamação surge nos pontos de
dolorosa (a depender do grau da lesão), ruídos fragilidade (onde passam os vasos) devido a um
hidroaéreos diminuídos, toque retal com saída de aumento da pressão dentro do cólon, o que pode
líquido necrótico hemorrágico, paracentese com fazer com que o órgão rompa e gere complicações.
necrose, etc. É comum que seja do tipo cólica e,
1. Incidência
muitas vezes não corresponde ao exame físico. A
Em geral, a doença surge após os 50 anos de idade,
tomografia é o melhor exame de imagem para o
alcançando mais de 65% em pacientes de mais de
diagnóstico, e a angiotomografia as vezes é
85 anos. Hoje em dia, como as pessoas então
necessária, por analisar os vasos.
ficando mais longevas, essa doença está mais
Abdome agudo hemorrágico presente. É mais frequente nas mulheres (comem
O sangramento ocorre dentro da cavidade menos fibras), em idosos, em pacientes com
abdominal, como no caso de um aneurisma de constipação e em países ocidentais, pois está
aorta, ruptura de baço, etc. É uma dor súbita (mais muito relacionada à alimentação. Caso ocorra em
leve do que a do perfurativo), causando sinais de jovens, a morbidade é maior, há mais risco de
choque hipovolêmico no paciente, sensação de quadros recidivantes e os homens são os mais
morte iminente, distensão abdominal com parada acometidos.
de eliminação de fezes, palidez cutâneo-mucosa,
2. Fisiopatologia
pulso fino, taquicardia, hipotensão arterial,
Há um aumento da pressão dentro do cólon, que
sudorese fria, rebaixamento do nível de
pode ocorrer pela falta de ingestão de fibras e
consciência (até coma), etc. No exame físico, nota-
água, diminuindo a velocidade e aumentando a
se dor difusa à palpação, de intensidade variada,
força dos movimentos de propulsão do bolo fecal.
ruídos hidroaéreos diminuídos, paracentese
Com o excesso de inflamação, é possível que o
abdominal com sangue, etc. O USG é o exame mais
cólon perca a complacência e torne-se um tubo
importante, por observar o sangue fora da
rígido e estenótico. Diante desse quadro, o
cavidade abdominal. Em casos em que o
paciente apresente muita cólica diária. É mais
diagnóstico não seja possibilitado, pode-se
frequente em mulheres devido à baixa ingestão de
realizar uma ultrassonografia.
fibras e devido ao frequente costume de segurar
PS: em geral, o sangue irrita menos do que o líquido as fezes (bolo fecal volta para sigmoide e forma
fecal e, este, irrita menos do que o ácido gástrico fecaloma) e mais frequente em idosos devido ao
(abdômen fica em tábua – obstrução em aumento das reticulações com a idade (cólon se
estômago/duodeno). torna mais rígido, perdendo complacência para
acomodar maiores pressões).
PS2: o raio-x é feito em todos os abdomens agudos,
mesmo naqueles que o diagnóstico não é 3. Fatores de risco
possibilitado. Isso ocorre, pois esse exame é fácil e Ø Dietas com baixo teor de fibra
barato e pode ajudar a descartar outras patologias. Ø Dieta com alto teor de gordura e carne
vermelha
PS3: o abdômen agudo obstrutivo, em geral, inicia-
Ø Inatividade física e obesidade
se com sondagem nasogástrica. Na maioria dos
Ø Tabagismo
casos há melhora do quadro, mas caso isso não
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Ø Medicamentos – AINES, corticoides e PS: O ultrassom não é bom pois esse exame não
opiáceos gera boa análise de vísceras ocas. Ele poderia
Ø Obstrução do divertículo ajudar a puncionar abcessos, por exemplo.
Ø Estase
Ø Alteração da flora bacteriana 7. Evolução
Ø Isquemia local Em geral, o tratamento clínico é suficiente para
tratar a diverticulite, mas cerca de 10%-25% dos
4. Complicações pacientes sofrem perfuração livre e necessitam de
A doença diverticular pode complicar com a cirurgia. Essa é a complicação mais comum e mais
diverticulite (inflamação aguda), com perfuração, grave da diverticulite e, muitas vezes pode ser a
com obstrução, com hemorragia ou com primeira manifestação da doença. Após o quadro
peritonite. Acredita-se que a perfuração ocorra inicial, o paciente pode apresentar crises
pelo processo inflamatório somado às altas recorrentes em 1 ano. Como essas crises
pressões intraluminais sobre a parede fragilidade aumentam o risco de complicações, a cirurgia
do divertículo. pode ser considerada.
5. Sintomatologia 8. Classificação Hinchey
Pode ser assintomática (doença diverticular) ou Classifica a diverticulite em 4 etapas, sendo que
sintomática, apresentando dor, distensão, quanto maior a classificação, pior o prognóstico:
alteração do hábito intestinal. Na diverticulite em Ø Hinchey 1 – possui abcesso pericólico,
si, o paciente apresenta dor em quadrante inferior mas doença não complicada.
esquerdo, febre, náuseas, massa abdominal, Ø Hinchey 2 – peritonite localizada
constipação (se tiver componente de estenose) ou Ø Hinchey 3 – peritonite purulenta e
diarreia, disúria (pode ter fístula colovesical, generalizada
cólon-ureteral, colocutâneo, coloentérico). Ø Hinchey 4 – peritonite fecal (perfuração
livre). É muito grave, tendo mortalidade
6. Diagnóstico de até 40%.
Pode ser feito pela colonoscopia (insufla ar para
passar o aparelho), pelo enema opaco ou pela 9. Obstrução e perfuração
tomografia. A colonoscopia mostra os óstios Sinal do cálice invertido – obstrução total do cólon
diverticulares, mas não pode ser feita quando há sigmoide
inflamação, pois, se há inflamação pode haver Sinal de Jobert
obstrução. A tomografia, por sua vez, é o exame
de escolha para a inflamação aguda. Ela mostra se 10. Fístulas internas
há inflamação, abscessos, tumores, fístulas, Podem ser cólovesival, coloentérica, colovaginal,
presença de ar ou alterações vesicais, etc. colouterina, colocólica (fistuliza o cólon
ascendente; menos frequente, por sigmoide deve
ser muito grande para encontrar no cólon
ascendente).

11. Tratamento
Se for a doença diverticular assintomática, deve-se
aumentar o volume fecal com aumento de
ingestão de fibras (pão integral, trigo, aveia,
cereais, frutas, vegetais e legumes). Se o paciente
tiver diverticulite, não se pode dar dieta rica em
fibras, pois há grande chance do paciente possui
obstrução. Assim, deve-se internar o paciente,
mantê-lo em jejum e hidratação, administrar
antibiótico para anaeróbio (metronidazol ou
Diverticulite pancolônica clindamicina) e para gram negativo (cefalosporina
– exame enema opaco de 3º geração – ceftriaxona) e antiespasmódicos
(buscopan, novalgina, etc, para relaxar a
musculatura lisa do cólon). Se o paciente melhorar
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em 72h, pode-se liberar a dieta e dar alta. Caso ele dissecção abdominal e no estancamento de
piore, deve-se realizar um esquema com sangramentos.
antibioticoterapia (cefalosporina + metronidazol).
A cirurgia é indicada para pacientes que não Aula 13 - Pancreatite aguda
respondam ao tratamento clínico, que O pâncreas é um órgão retroperitoneal situado no
apresentem 2 episódios após 50 anos ou 1 andar superior do abdômen, anteriormente a T12
episódio antes dos 50 anos, que sejam e L2 (pode ser acometido em traumas fechados). É
imunodeprimidos. A cirurgia realizada é a M- uma glândula mista por produzir hormônios
colectomia do cólon doente, que geralmente é à endócrinos e exócrinos e que faz parte do sistema
esquerda (retira-se desde o cólon sigmoide até o digestivo e endócrino. Grosso modo, divide-se em
cólon descendente) e, após ela, faz-se uma cabeça, corpo e cauda e possui íntima relação com
anastomose coloretal. Em cirurgias de urgência, o duodeno. O ducto pancreático principal (ducto
pode-se fazer a ressecção primária e a anastomose de Wirsung) une-se ao ducto biliar comum por
em casos muito selecionados (sem pus em meio da papila de Vater (pode-se existir um ducto
cavidade), a resseção e derivação em casos com acessório denominado ducto Santorino). Seu
pus, a lavagem colônica intra-operatória ou a suprimento arterial se dá pelo tronco celíaco,
derivação intestinal pata proteger a anastomose. principalmente por ramos da artéria mesentérica
Pode-se fazer a cirurgia em 3 tempos, o que superior e a sua drenagem venosa se dá pelo
aumenta o risco cirúrgico e o tempo de sistema porta, que segue para o fígado. A porção
tratamento: exócrina é formada por glândulas mistas que
Ø Colostomia secretam amilases e lipases, que são enzimas
Ø Anastomose digestivas e encontram-se aumentadas na
Ø Ligação intestinal pancreatite. A porção endócrina, por sua vez, é
Pode-se fazer a cirurgia em 2 tempos, que é o mais formada pelas ilhotas de langerhans e secreta
utilizado: insulina, glucagon e somatostatina. A pancreatite
Ø Ressecção + colostomia é uma condição inflamatória aguda, na qual há
Ø Reconstrução da colostomia acometimento do pâncreas e das estruturas
Pode-se fazer a cirurgia em 1 tempo. A adjacentes, como duodeno, estômago, plexo
anastomose não pode ser realizada onde há celíaco, cólon transverso, etc. Devido à
inflamação e nem onde há divertículos. Antes de inflamação, pode ocorrer uma obstrução do ducto
realizar a ressecção é importante atentar-se ao pancreático, causando o acúmulo das enzimas
ureter, para evitar que uma anastomose seja digestivas e, consequentemente, digestão
realizada. Deve-se evitar dissecção do mesentério pancreática. Assim, na pancreatite tem-se lesão
friável, observar a vascularização, preservar enzimática, dano à microcirculação, translocação
nervos pré-sacrais, mobilizar a flexura esplênica e bacteriana e infecção e inflamação tecido peri-
realizar anastomose manual ou mecânica. A pancreático. Felizmente, a maioria das
videolaparoscopia pode ser usada e possibilita, pancreatites é leve e com baixa mortalidade, mas
inclusive, a drenagem de abscessos. Ao ser existem as graves, que podem levar a uma
comparada com a cirurgia aberta, a laparoscopia inflamação sistêmica (síndrome da resposta
gera menor tempo de hospitalizações, melhora as inflamatória sistêmica) e possuem uma
complicações e gera recuperação mais rápida. No mortalidade de 30%.
entanto, ela é limitada em casos de cirurgias
prévias, obesidade, processo inflamatório, sepses
1. Etiologia
As principais causas de pancreatite são a litíase
abdominais e limitações técnicas. É indicada em
biliar (colelitíase, coledocolitíase, colangite =
casos de doenças não complicadas (Hinchey 1 e 2),
nessa, há necessidade de elevação de bilirrubina)
pós drenagem percutânea, em Hinchey 3 pode ser
e o álcool. O cálculo mais propenso a causar
indicada em alguns casos e em Hinchey 4 e 5 é
pancreatite é o pequeno, pois possui maior
contraindicada. Além da videolaparoscopia, pode-
facilidade de cair no ducto. A pancreatite alcóolica
se fazer a cirurgia hand-assisted surgery, na qual
é relacionada à pancreatite crônica. Como outras
introduz-se um portal maior que possibilita que o
causas, tem-se hipertrigliceridemia,
cirurgião insira sua mão no paciente. A vantagem
hipercalcemia, pós-operatório, fármacos,
dessa técnica é que o cirurgião consegue ajudar na
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traumas, viroses, fibrose cística, bactérias, 7. Critérios de gravidade


vasculite, idiopática (normalmente microlitíase). Utiliza-se os critérios de Ranson, que incluem 11
etc. critérios, sendo que 5 são feitos ao diagnóstico e 6
são feitos ao longo de 48h. Dentre os 5 realizados
2. Quadro clínico ao diagnóstico, tem-se:
Dor “em barra” ou em “aperto de cinto” Ø Idade – maior do que 55 anos
abdominal aguda em andar superior do abdome e Ø Leucócitos – leucocitose > 16.000
vômitos. A litíase biliar gera uma dor de 6/8h, Ø Glicemia – maior do que 200
enquanto a da pancreatite é persistente. O Ø TGO/TGP – maior do que 250
paciente pode apresentar febre, desidratação, Ø DHL – maior do que 350
inquietação, etc. Dentre os 6 realizados ao longo das 48h, tem-se:
3. Sinais Ø pPO2
São raros e não são patognomônicos. Surgem Ø excesso de bases (PE)
devido a hemorragias através dos tecidos Ø Sequestro de líquidos (Ht reduzido)
subcutâneos. Ø Hematócritro
Ø Cullen – equimose periumbilical Ø Cálcio
Ø Ureia
Pode-se utilizar também os critérios APACHE e
BIZAGI.
8. Tratamento
Na forma leve, com menos de 3 critérios de
Ranson, deve-se realizar jejum (controverso),
analgesia e hidratação. Na forma grave, com mais
de 3 critérios de Ranson, é preciso:
Ø Analgesia
Ø Grey-turner – equimoses em flancos. Ø Hidratação
Ø Suporte nutricional – nutrição parenteral
pode ser necessária
Ø Drogas vasoativas
Ø Antibióticos profiláticos
A cirurgia é feita raramente, somente quando há
gás no tecido peripancreático (sinal de abscesso).
Se o paciente apresenta necrose, pode-se operar,
mais não há nenhum benefício. Pode-se realizar
4. Pancreatite aguda grave também a punção guiada. Se o paciente possuir
Paciente entra em choque, hipovolemia e colecistite e pancreatite, a cirurgia é
insuficiência renal. É bem mais grave do que a contraindicado num primeiro momento. Deve-se
pancreatite aguda leve. analisar a evolução em 2/3 dias do paciente e,
após isso, realizar a colecistectomia. Há também a
5. Diagnóstico diferencial colangiopancreatografia endoscópica retrógrada
Incluem outras causas de abdômen agudo, como: (CPRE), uma endoscopia que alcança o duodeno,
Ø Úlcera perfurada abre a ampola de Vater e retira a pedra. É uma
Ø Isquemia mesentérica excelente opção de tratamento em indivíduos
Ø Colelitíase com pancreatite e litíase biliar.
Ø Obstrução
Ø Infarto agudo do miocárdio 9. Escore de Baltazar
Gera pontos de acordo com os achados e de
6. Diagnóstico acordo com a tomografia (não é critério clínico e,
Deve-se solicitar amilase, lipase e uma tomografia sim, de radiologia), tendo-se:
de abdômen superior. A ressonância pode ser Ø A – Pâncreas normal
feita, mas é muito mais difícil de ser vista. Ø B – Pâncreas alargado
Ø C – Pâncreas inflamado
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Ø D – Coleção peripancreática (líquidos)


Ø E – Coleção retroperitoneal (presença de
ar = abscesso). Necessita de cirurgia.

10. Complicações tardias


Ø Pseudocistos do pâncreas – pode gerar
fístulas. O tratamento é feito por meio
de drenagem ou cistojejunostomia
(anastomose do jejuno com cisto; o
líquido que sai entra no jejuno). A
derivação interna deve ser realizada
quando o pseudocisto é grande e não
regride após 3 meses.

CASOS:

Resposta – alternativa E

Resposta – alternativa A

Resposta – alternativa D

Aula 14 - Trauma abdominal


O trauma pode ser intencional ou não intencional,
sendo que em todos os casos é preciso colher a
história da situação (biomecânica do trauma).
Dentro dessa, é importante entender
características da vítima (estava ou não de cinto),
do objeto (carro tinha airbag?) e do próprio
trauma (contuso ou penetrante?). Assim, em
qualquer trauma existe uma transferência de
energia, que varia conforme o número de
Resposta – alternativa A
partículas de tecido atingidas. Diante de um
paciente com algum trauma, é muito importante
realizar uma anamnese e um exame físico rápidos,
com reanimação tampão (se paciente perder
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sangue, dar reposição volêmica), e um exame de A raiz do mesentério é fixa. Caso haja uma
imagem, como a tomografia, que, em ferimentos desaceleração brusca, como ocorre em acidentes
contusos, permite o tratamento conservador. de carro, essa raiz perde sua fixação, podendo
Caso a cirurgia seja necessária, faz-se a incisão ocasionar uma isquemia mesentérica. É
mediana xifopúbica. importante deixar o cinto na crista ilíaca, para
evitar equimoses pelo cinto.
1. Classificação
Hoje em dia, o trauma é considerado uma doença. PS: a ruptura de bexiga ocorre mais quando esse
Assim, estuda-se epidemiologia, medidas de órgão está cheio.
prevenção, etc. Apresenta uma morbidade e
4. Rotina para atendimento
mortalidade significativas, além de uma
prevalência de 13% dos atendimentos de Há a avaliação primária, que consiste no exame
emergência nos EUA. Com o trauma, inúmeras físico. Essa avaliação é feita após o bombeiro
lesões surgem. Assim, é importante sempre contar a biomecânica do paciente. Para que uma
avaliar lesões extra-abdominais associadas. avaliação rápida seja feita, basta perguntar ao
paciente seu nome, por exemplo. Ao fazer isso,
2. Epidemiologia você já consegue entender o ABCDE do trauma,
Grande parte das mortes violentas no mundo que consiste em:
(75%) se dá por meio de algum veículo automotor Ø A – Vias aéreas. Deve-se observar se elas
(lesões de desaceleração). Cada tipo de colisão estão livres.
gera uma suspeita de lesão. As contusões e as Ø B – Respiração. Deve-se observar se está
quedas são as segundas causas mais atendidas em havendo trocas gasosas.
serviços de emergência. No trauma abdominal Ø C – Circulação. Deve-se avaliar PA e FC. Se
contuso, os órgãos sólidos (baço e fígado), estável, pode-se manda-lo para
costumam ser os mais afetados. Além disso, deve- tomografia. Se estiver instável, é preciso
se sempre buscar lesões no espaço mantê-lo na sala.
retroperitoneal, que contém pâncreas (difícil do Ø D – Neurológico
ponto de vista cirúrgico, por sua região Ø E – Exposição. A sala deve estar com ar
anatômica), rins, parte do cólon, duodeno desligado (para evitar hipotermia no
(funciona como alça fechada – contusão muito paciente – dar ringer-lactato e sangue;
grande pode lesá-lo) e grandes vasos (aorta e pode ter a tríade letal), é preciso descartar
ramos, veia cava). A pelve renal é muito lesões da coluna, etc.
vascularizada e, quando fraturada, pode levar à Os exames laboratoriais na fase aguda são pouco
morte precoce por hemorragia. Assim, em relevantes, mas é importante realizar beta-HCG
traumas abdominais, é sempre importante avaliar em mulheres em idade fértil. Na grávida, no 1º
essa região (a compressão do anel pélvico ajuda trimestre, o útero sai da pelve, no 2º ele chega no
muita no hemostasia). umbigo e, no 3º, ele chega perto do rebordo
costal. A placenta é uma grande reserva sanguínea
PS: Síndrome do tanque – lesão abdominal de alta e, caso a grávida possua uma grande hemorragia,
mortalidade ocasionada pela colisão de um tanque ela se utiliza do sangue placentário, fazendo com
no abdômen de uma criança. que o bebê fique sem volemia. Assim, a parada
PS2: diante de uma lesão de pelve, deve-se realizar cardíaca na grávida por hipovolemia, indica
a compressão e realizar reposição sanguínea no grande gravidade ao bebê. Além disso, o bebê se
paciente. apoia sobre a cava, sendo preciso deixar a prancha
na qual a grávida se deita, levemente virada para
PS3: as imobilizações podem ser feitas, a esquerda.
temporariamente, com lençóis.
5. Avaliação da estabilidade pélvica
PS4: fraturas do anel pélvico podem ter Existem três grandes fraturas da pelve, sendo:
sangramento para o espaço peritoneal, gerando Ø Livro aberto – há uma compressão
uma hemorragia de difícil diagnóstico. anteroposterior, na qual ocorre abertura
3. Lesões por desaceleração da sínfise púbica.
Ø Compressão lateral – lesão lateral
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Ø Cisalhamento vertical – ocorre bastante ao manobra de Pringle. O trauma hepático pode


cair de alturas. evoluir com abscessos, fístulas biliares, homobilia
É necessário pregar fixadores e fechar o anel (dor, icterícia), etc.
pélvico.
13. Lesões pancreáticas
6. FAST O grande medo é a lesão do ducto pancreático,
Ultrassom feito na sala de emergência para que possui o suco pancreático, que é
verificar presença de líquido na cavidade. Avalia- extremamente agressivo.
se o pericárdio (para ver tamponamento
cardíaco), espaço hepato-renal, espaço espleno- 14. Lesões do duodeno
renal e porção inferior do abdômen (envolta da Ocorre por lesões de bicicleta e de tanque. É de
bexiga). Pode ser feito em pacientes instáveis, mas alta mortalidade.
sua sensibilidade é menor, por depender do 15. Lesões do cólon
observador, obesidade, interposição gasosa e O cólon é mais lesado por projétil. Deve-se realizar
pode gerar falsos negativos em casos de a colostomia, muitas vezes.
sangramentos retroperitoniais e de vísceras ocas.
16. Lesões do trato urinário
7. E-FAST A hematúria é o sinal mais frequente. As lesões
Observa, além dos já observados pelo FAST, o renais são menores, necessitando desbridamento,
hemitórax direito e esquerdo e as regiões rafia e drenagem. Podem ocorrer por lesões de
paraesternais. desaceleração (pedículo é solto) ou perfurantes
8. Rolamento (pode gerar urinoma – sangue misturado na
Quando o paciente for posto na maca, a prancha é urina). As lesões de uretra levam à estenose.
retirada e o exame físico da região posterior e da 17. Diagnóstico
uretra são realizados (toque retal). Ø Radiografia – pneumoperitônio,
9. Radiografia conteúdo abdominal no tórax (ruptura
É feita na sala de emergência, logo após o do diafragma), fratura arcos costais.
Ø Exames contrastados – hematúria,
rolamento (paciente se deita na placa). Deve
conter uma radiografia de tórax AP e uma pielografia venosa
Ø Tomografia – deve estar estável
radiografia de bacia.
hemodinamicamente.
10. Tratamento conservador Ø Radiografia pelve
Em algumas lesões pode ser adotado, desde que o
hospital possua cirurgião de plantão, UTI (paciente
18. Tratamento
pode instabilizar a qualquer momento), Ø Laparoscopia diagnóstica e terapêutica
disponibilidade de centro cirúrgico, anestesista, – muito boa em ferimentos
tomografia. toracoabdominais, mas o paciente
precisa estar estável.
11. ATLS Ø Angiografia
Treinamento do médico que não seja cirurgião,
desde que ele esteja trabalhando em um local com
19. Ferimentos penetrantes
Os ferimentos de arma branca acometem mais
cirurgiões. Assim, o médico deve saber levar o
fígado, e os de arma de fogo podem acometer o
paciente para a porta do centro cirúrgico,
cólon.
comprimindo hemorragias, estabilizando coluna,
abrindo vias aéreas, etc. Aula 15 - Cirurgia bariátrica
PS: a tomografia não deve ser feita caso o paciente Obesidade é um desequilíbrio na composição
necessite ser transferido. corporal pelo aumento da ingesta e diminuição do
gasto. Os graus de obesidade são obtidos por meio
12. Trauma hepático do IMC, que divide o peso pela altura ao quadrado,
Pode-se comprimir temporariamente (15 tendo-se:
minutos) as estruturas do hilo hepático com uma Ø Obesidade grau I – obesidade leve (IMC de
pinça hemostática (debakey ou Potts) por meio da 30-34,9)
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Ø Obesidade grau II – obesidade moderada 65 anos não existem restrições e, acima de 65 anos
(IMC de 35-39,9) é preciso avaliar individualmente os pacientes,
Ø Obesidade grau III – obesidade grave (IMC considerado risco cirúrgico, presença de
40-49,9) comorbidades, expectativa de vida, etc. As
Ø Superobesidade - IMC > 50 contraindicações incluem:
Essa síndrome vem acompanhada de inúmeras Ø Risco anestésico classificado como ASA IV
comorbidades metabólicas, como: – paciente muito grave, com doença
Ø HAS descompensada, uso de droga vasoativa,
Ø DM 2 entubado, etc.
Ø Dislipidemia Ø Hipertensão portal e varizes
Ø Doença hepática gordurosa e não alcoólica esofagogástricas
(MASH). Ø Limitação intelectual ou falta de suporte
Ø Hipercolesterolemia familiar
Ø Cardiopatias Ø Transtorno psiquiátrico atual não
Ø IC controlado, incluindo álcool e drogas
Ø Cor pulmonale ilícitas
Ø Dispneia aos esforços Quanto aos tipos de cirurgias, tem-se:
Ø Apneia noturna Ø Restritivas
Ø Artropatias Ø Predominantemente restritivas
Ø Insuficiência venosa periférica Ø Predominantemente mal absortiva
Ø Incontinência ao esforço O método é escolhido não somente pelo cirurgião,
Ø Refluxo mas por toda equipe multidisciplinar.
Ø Hérnias da parede abdominal
Existem ainda comorbidades que pioram a Restritivas
condição da obesidade, como: Pode ser feita por meio do balão intragástrico,
Ø Amputação de membro inferior
sendo que esse também pode ser usado pré
Ø Sequela de paralisia infantil
cirurgia. É um balão inflável de silicone que é
Existem distúrbios psiquiátricos que levam à colocado dentro do estômago por via
obesidade, como: endoscópica. Logo após inserido, ele é insuflado e
Ø Transtorno da compulsão alimentar
permanece no órgão por cerca de 5-6 meses. É
periódica (TCAP) usado em pacientes superobesos (pré-cirurgia) ou
Ø Depressão
que não tenham indicação de cirurgia. Não é
Ø Medicamentos que aumentam ingesta
muito usado devido ao alto custo. Outra forma de
calórica realizar a cirurgia restritiva é por meio da banda
Ø Quadros sindrômicos que cursam com
gástrica, que consiste na colocação de uma
aumento da ingesta (Síndrome de Prader prótese de silicone em forma de anel em volta da
Willi). parte proximal (de cima) do estômago, de modo a
causar um estreitamento no estômago e criar um
1. Indicação cirúrgica reservatório de pequena capacidade, cerca de 30
É indicada para pacientes com IMC acima de 40, ml. Como desvantagens, apresenta:
independente de comorbidades. Nos pacientes Ø Necessidade de cooperação do paciente –
com IMC de 35-40, é preciso que haja alguma se ele comer carne, a banda pode entupir.
comorbidades para que a cirurgia seja adotada. Ø Perda de peso insuficiente em longo prazo
Pacientes de IMC entre 30-35 necessitam de uma Ø Inadequada para alguns pacientes – quem
comorbidade grave (ICC descompensada, HAS come doce, tem esofagite de refluxo e
refratária, DM descompensada) e obesidade hérnia hiatal volumosa
intratável clinicamente de acordo com Ø Duração de 10-15 anos
endocrinologista. Indivíduos com menos de 16 Outra forma é a gastroplastia vertical com
anos não realizam a cirurgia bariátrica devido à bandagem, na qual faz-se uma anastomose em Y
falta de estudos. No entanto, em casos de crianças de Roux (gastrojejunal lateroterminal) e uma
com Prader-Willi ou síndromes genéticas anastomose enterro-entero lateroterminal, mas
similares, a bariátrica pode ser pensada. Entre 18- sem retirar o estômago. O paciente pode
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apresentar complicações como infecção, fístula, Existem dois, sendo eles:


hérnia, carência de macro e micronutrientes (pode Ø Carcinoma – inicia-se no tecido epitelial,
causar queda de cabelo, alteração de pele). como pele, mucosas ou glândulas. É o mais
comum, representando cerca de 99% dos
Predominantemente Restritivas cânceres. Possui disseminação linfática e
Pode-se adotar a sleeve gastrectomia ou hematogênica.
gastrectomia vertical, na qual faz-se uma retirada Ø Sarcomas – começam em tecidos
do estômago deixando-o semelhante a uma derivados de células mesenquimais, como
manga. De vantagens, apresenta: ossos, músculos e cartilagem. Recebe o
Ø Não exclusão de duodeno
nome de acordo com o tipo de tecido que
Ø Não interfere nos nutrientes
ele veio, sendo miossarcoma (músculo),
Ø Pode ser transformada em caso de
leiomiossarcoma (músculo liso) e
insucesso rabdomiossacroma (músculo esquelético).
Ø Permite acesso às vias biliares e
Possui disseminação hematogênica, sendo
pancreáticas por métodos endoscópicos muito raramente linfática.
Ø Não necessita de anastomose
As disseminações podem ser por via linfática,
Como desvantagens, apresenta: hematogênica (tumor cresce muito, invade capilar
Ø Irreversibilidade
e vai para outros órgãos – muito comum acometer
Ø Fístulas – se forem formadas, geralmente
pulmão e fígado devido a alta vascularização
surgem no ângulo de Hiss e levam à morte desses órgãos), por continuidade (tumor continua
Ø Resultados inferiores aos procedimentos
no mesmo sistema – tumor de esôfago que
derivativos como o Bypass continua para o estômago) ou contiguidade
Ø Seu resultados a longo prazo não são muito
(tumor invade tecido próximo ao acometido
conhecidos. incialmente – tumor de reto que acomete outro
Predominantemente mal absortiva tecido vizinho).
Existe ainda a gastrectomia com derivação
3. Estadiamento
biliopancreática, na qual faz-se uma gastrectomia
Avalia a extensão do câncer. É importante por
horizontal ou vertical, com ou sem preservação
permitir o planejamento do tratamento do
gástrica distal. A área de absorção do paciente
paciente e entender o prognóstico do paciente. O
diminui muito, pois a anastomose é feita cerca de
mas comum é o TNM, que refere-se,
30-40cm da válvula ileocecal (sobra pouco
respectivamente, ao tumor, aos linfonodos e às
intestino) O indivíduo pode apresentar uma
metástases.
diarreia bem significante.
4. Cirurgia
Aula 16 – Princípios da cirurgia Pode ser aberta ou minimamente invasiva. O
oncológica tempo cirúrgico e o tempo de anestesia variam
A cirurgia oncológica é o mais antigo dos pilares do muito de acordo com o cirurgião, o tumor, etc. A
tratamento de cânceres (os outros dois são a avaliação pré-operatória consiste em exames de
radioterapia e a quimioterapia), sendo que cerca imagem, como tomografia, PET-CT. É importante
de 80% dos pacientes necessitam dela. A primeira saber onde procurar a doença, entendendo a
cirurgia oncológica registrada foi uma ovariotomia evolução e o local de inserção de cateteres. É
realizada por Ephraim Mc Dowell. O grande pai da sempre importante deixar margens livres, ou seja,
cirurgia oncológica moderna é o William Stewart retirar o tumor e um pouco do tecido saudável ao
Halsted, que realizava mastectomia radical. redor. A incisão cirúrgica é importantíssima, não
devendo romper o tumor. Se a cirurgia for feita
1. Princípios gerais por vídeo, é preciso colocar o tumor dentro de um
A cirurgia oncológica difere das demais devido ao saco, a fim de evitar disseminação. Na hora da
planejamento pré-operatório e o princípio da síntese, é importante trocar o material utilizado, já
cura. Se bem-feita, ela pode melhorar muito a que o mesmo pode estar contaminado pelo
qualidade de vida do paicente. tumor. É possível realizar, marcação com clipes e
2. Tipos de cânceres biópsia por congelação para saber se o que foi
retirado é câncer ou não.
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5. Entrega do material Quimioterapia


É responsabilidade do cirurgião, que deve É o primeiro tratamento sistêmico utilizado para o
informar tudo sobre o tecido retirado (de onde é, câncer, com objetivo de matar ou paralisar células
de onde saíram os linfonodos, etc) e delimitar as tumorais. Como age em células que se multiplicam
margens. Tudo o que for retirado deve ser descrito rapidamente, pode causar alopecia.
e enviado para biópsia.
Terapia alvo
6. Descrição cirúrgica Atua em alguma alteração genética da célula. É
É extremamente importante, além de representar uma terapia personalizada através da produção de
um documento legal. É por meio da descrição que anticorpos, que agem diretamente nos processos
diferentes médicos conseguem entender o caso que controlam o crescimento e a disseminação
de um paciente. No caso dos cânceres, é das células cancerosas, levando-as à apoptose.
importante informar onde existiam implantes e se Ø Câncer de mama – receptor do fator de
todo o tumor foi retirado ou não. crescimento epidérmico HER2
Ø Câncer de pulmão – medicamentos que
7. Finalidades da cirurgia bloqueiam a proteína EGFR
É preventiva, diagnóstica, curativa e paliativa (não Ø Melanoma – mutação do gene BRAF em
tem intenção de cura, mas sim, de aliviar 50% dos tumores.
sintomas).
Ø Preventiva/profilática – tenta evitar Imunoterapia
ocorrência de câncer. Alguns tumores O objetivo é melhorar o sistema imune do
possuem lesões precursoras (pré- paciente, fazendo com que a mesma reconheça o
cancerígenas). São propostas e realizadas tumor como corpo estranho.
sempre que a alteração pré-maligna
confira um risco de câncer muito elevado Aula 17 - Cicatrização
ou quando o risco é um pouco menor, mas O processo de cicatrização tem como objetivo
a cirurgia é de pouca morbidade. Muito limitar o dano tecidual e permitir a reintegridade
comum em mastectomias. dos tecidos. Na maioria das partes do organismo
Ø Diagnóstica – finalidade é determinar se a ocorre a cicatrização do tipo reparação, na qual o
lesão é maligna ou não. Podem ser tecido lesão é substituído por tecido conjuntivo
grandes, mas em geral são pequenas. vascularizado. No entanto, existe ainda a
Pode-se utilizar PAAF, biópsia guiada, cicatrização do tipo regeneração nos tecidos
biópsias incisionais (tira-se um fragmento hematopoiético, ósseo e hepático, no qual o
do tumor) ou excisionais (retira-se toda a tecido morto é substituído por outro morfo-
lesão) funcionalmente idêntico. Em geral, a cicatrização
Ø Curativa – finalidade é remover é feita em 3 fases:
completamente a lesão e avaliar sua Ø Inflamatória – ocorre limpeza do
extensão. ferimento.
Ø Paliativa – finalidade é melhorar a Ø Proliferativa – há produção de colágeno,
qualidade de vida. Nunca é curativa, que é o principal componente do tecido de
visando apenas o conforto. Não alteram granulação, que preenche o espaço vazio.
sobrevida. Só deve ser feita quando o Ø Maturação ou remodelação – gera
benefício superar o malefício. resistência à cicatriz devido ao
remodelamento.
PS: Síndrome de Meigs – tumor benigno no qual há
endometriose, derrame pleural e Mary Joseph. 1. Fase inflamatória
Em geral, dura cerca de 1-4 dias a depender do
8. Tratamento sistêmico tamanho da ferida. Nos primeiros minutos ocorre
Refere-se ao uso de medicamentos que podem ser a hemostasia, ou seja, o controle do sangramento
utilizados por via oral ou intravenosa, visando por meio da vasoconstrição imediata. Assim, nessa
atingir células cancerígenas em qualquer parte do fase, ocorre a hemostasia, a agregação plaquetária
corpo (muito usada em metástases). e a ativação da coagulação. Em seguida, há uma
resposta inflamatória, na qual há liberação de
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histamina, serotonina e bradicinina pelos tecidos Tipos de cicatrização


lesados. Essa liberação é intimamente relacionada Existem três tipos de cicatrização, sendo eles de
ao tamanho da lesão, sendo maior em feridas primeira, segunda e terceira intenção. Todas elas
maiores e menor em feridas menores. possuem tecido de granulação, sendo que esse é
Associadamente a isso, há uma vasodilatação dos fundamental. Ele é muito resistente à infecção,
vasos, aumentando o fluxo sanguíneo e gerando permite a migração do epitélio sobre sua
rubor e calor, além de edema devido ao aumento superfície, gera fibroblastos que produzem
da permeabilidade capilar, com extravasamento colágeno e possibilita o processo de contração da
de líquidos e formação de edema. Esse aumento ferida (centrípeto). Sua quantidade é variável, mas
de fluxo faz com que cheguem células o ideal é que não se tenha nem muito pouco, nem
inflamatórias no local da lesão, como neutrófilos muito, como na cicatrização de primeira intenção.
(é o primeiro que chega) e macrófagos (é o
principal – estimula angiogênese, migração e 1. Primeira intenção
proliferação de fibroblastos), com o intuito de É a cicatriz ideal, na qual as boras são apostas ou
limpar a ferida. Por fim, há uma epitelização. Por aproximadas, havendo perda mínima de tecido,
fim, a fase de epitelização se inicia. ausência de infecção e edema mínimo. O tecido de
granulação é não visível. É a cicatrização gerada
2. Fase proliferativa por suturas.
Dura por cerca de 3-15 e visa o fechamento da
lesão e a formação do tecido de granulação. 2. Segunda intenção
Assim, nessa fase ocorre a angiogênese, que É a pior cicatrização por representar uma ferida
permite o fluxo de nutrientes e células. Os aberta, na qual ocorre perda excessiva de tecido
fibroblastos, associados a vasos neoformados, e/ou presença de infecção. É um processo mais
substância amorfa e colágeno tipo III (sintetizado demorado, com tecido de granulação exuberante,
extracelularmente, em qualquer sentido e sendo que esse cresce de baixo para cima e de
rapidamente) são os componentes principais uma borda para a outra.
dessa fase, sendo estes os responsáveis por 3. Terceira intenção
montar o tecido de granulação. A epitelização Ferida não suturada inicialmente. Após melhora
continua progredindo, sendo terminada quando o da infecção ou das condições da ferida, tem suas
contato entre células epiteliais da ferida ocorre. A
bordas aproximadas (não é borda a borda), no
angiogênese é estimulada por meio da hipóxia que intuito de diminuir o tecido de granulação. Assim,
ocorre no tecido e decorre da proliferação das possui uma quantidade intermediária de tecido de
células endoteliais das bordas da feridas. Ao final
granulação.
dessa fase, alguns dos fibroblastos são
transformados em miofibroblastos, células que PS: no pronto socorro nunca se faz chuleio. Faz-se
possuem radical de actina e miosina e, portanto, pontos simples, pois, se a ferida infeccionar, é
possuem potencial de contração. possível retirar alguns pontos.

3. Fase maturação PS2: o fio mais usado para sutura é o nylon.


Se na segunda fase um novo trauma ocorra, a
cicatriz formada facilmente se rompe devido à sua Fatores que afetam a cicatrização
Ø Fatores locais – corpo estranho, sujidades,
pouca força tênsil. Essa fase se inicia por volta do
7º dia e permanece por meses. Nela, há infecção, temperatura, material de sutura,
remodelação e contração da ferida, além de ganho coleção de líquidos, espaço morto, tecido
de força tênsil. A cicatriz torna-se mais clara e necrosado (deve-se resseca-lo antes de
plana, ocorre uma diminuição progressiva de suturar), material da incisão (bisturi é
vascularização, fibroblastos e neutrófilos e o menos traumático do que tesoura),
fibroblasto do tipo III é substituído pelo colágeno bandagens, uso de bisturi elétrico (não é
tipo I, que é mais rígido e orientado de acordo com bom devido à queimadura), áreas de
as forças de tensão que agem no tecido (essas tensão ou movimento, tempo transcorrido
duas características que aumentam a força tênsil entre trauma e tratamento (quanto maior,
da ferida). pior devido à maior chance de
contaminação).
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Ø Fatores sistêmicos – idosos, diabetes amarelas, nos jovens (células são mais ativas), nas
descompensada, uso de corticoides, fumo, regiões torácica anterior e posterior e deltoidea.
hipoproteinemia (colágeno é proteína), São raras nas pálpebras, palma das mãos, região
uso de anti-inflamatórios (são usados pós- genital e planta dos pés.
operatório, mas em doses baixas),
hepatopatia (deficiência de fatores de 6. Queloide
coagulação), oxigênio hiperbárico e É uma cicatrização excessiva, elevada,
fototerapia (estimulam cicatrização). avermelhada e muito pruriginosa. Diferentemente
da cicatriz hipertrófica, o queloide ultrapassa os
Transtornos da pigmentação limites do trauma, invadindo o tecido normal
São as patologias das cicatrizações, as quais são adjacente de forma irregular. Não regride
favorecidas por drogas (corticoides, espontaneamente e possui pobre resposta ao
quimioterápicos), desnutrição, hipóxia, idade, tratamento. É mais favorecida nas raças negras e
radiação, etc. Incluem a hiperpigmentação, amarelas, nos jovens (células são mais ativas), nas
hipopigmentação, fenômeno de Koebner, regiões torácica anterior e posterior e deltoidea.
malignização, e cicatrizações excessivas (cicatriz São raras nas pálpebras, palma das mãos, região
hipertrófica e queloide). O tratamento pode ser genital e planta dos pés.
cirúrgico (funciona mais para cicatriz hipertrófica
do que para queloide), corticoides, silicone, Aula 18 – Complicações de cirurgia
radioterapia (efeito anticicatrizante), pressão Nem sempre uma técnica adequada e um
local, etc. procedimento realizado de maneira correta
possibilitam uma cirurgia sem complicações.
1. Hiperpigmentação Assim, é sempre importante tentar minimizar que
Cicatriz mais escura do que o normal. É comum as mesmas ocorram por meio de uma avaliação
quando o indivíduo toma muito sol logo após a pré-operatória, do uso antibióticos profiláticos
lesão. (reduz infecção), de dissecções cautelosas e de
avaliação no pós-operatório constante. Algumas
2. Hipopigmentação
complicações incluem:
Cicatriza mais clara do que a pele normal.
Ø Febre – ocorre em 15-20% dos pacientes.
Geralmente ocorre quando são feitos vários
Pode significar situações de baixo risco,
ferimentos no mesmo local em diferentes
como atelectasia (principal causa de febre
momentos.
nas primeiras 24h do pós-operatório), ou
3. Fenômeno de Koebner alto risco, como sepse. É sempre
Trauma em uma área sã que, ao cicatrizar, gera o importante levar em consideração o
aparecimento de uma lesão que o paciente já quadro completo do paciente, uma vez
possui em algum outro local do corpo. Ex: paciente que inúmeras são as causas de febre, como
com vitiligo, após lesão, passa a apresentar vitiligo abscessos (gera febre por volta do 4º dia),
no local da lesão. Ocorre no vitiligo, na psoríase infecção do sítio cirúrgico, cateter central
(demora mais tempo), infecção urinária,
4. Malignização sinusite, colite, endocardite, etc. A origem
Ocorre quando a cicatrização evolui para um da febre tem relação com o momento em
tumor por algum motivo. Geralmente ocorre em que ela ocorre, sendo:
úlceras crônicas, cicatrizações de longa duração, o Intra-operatório – muito grave
etc. Há uma alteração da inibição por contato, o 24h – atelectasia. Ocorre em
gerando, mais frequentemente, o carcinoma de frequência em cirurgias do
pequenas células. abdômen superior,
videolaparoscopia e anestesia geral
5. Cicatriz hipertrófica o 24-72h – algo deve ter dado errado
É uma cicatriz um pouco maior, elevada, na técnica. Pode gerar atelectasias,
avermelhada e que causa prurido. Não ultrapassa flebites venosas superficiais,
limites do trauma, pode regredir perfurações de vísceras ocas
espontaneamente ou responder bem ao
tratamento. É mais favorecida nas raças negras e
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inadvertidas ou falhas técnicas de taquicardia. Ademais, nota-se mudanças


anastomoses. no aspecto do dreno e pneumoperitônio.
o Mais de 72h – complicações de Na suspeita, se estiver alteração no dreno,
anastomoses, infecções urinárias, deve-se voltar rapidamente ao centro
infecções de feridas cirúrgico (não há necessidade de exame).
Ø Seroma – acúmulo de linfa no subcutâneo Caso o dreno esteja inalterado, pode-se
(líquido bem claro). realizar exame para confirmar. Em casos
Ø Hematoma – ocorre quando a hemostasia muito raros, a relaparotomia não é
não foi adequada. É importante ficar necessária.
atento ao local da incisão. Pode ocorrer em Ø Obstruções – segmento de alça muito
tireoidectomias, ocasionando compressão distendido e outro muito fino. O paciente
das vias aéreas. O tratamento depende do relata náuseas, vômitos
momento e volume, mas na maioria das Ø Íleo adinâmico – muito associado ao uso de
vezes é feito por meio da drenagem e corticoides. Nele, diferentemente das
compressão. obstruções, tudo se torna distendido.
Ø Deiscência da aponeurose – é a abertura Ø Complicações pulmonares – são uma das
dos folhetos músculo-aponeuróticos com mias significativas. Incluem pneumonia,
possível evisceração, que nada mais é do atelectasia, covid-19.
que a saída das vísceras. É grave, devendo Ø Complicações cardiovasculares – infarto e
ser reparada imediatamente. Ocorre por AVC, TVP (MMII, principalmente
volta do 4º ao 14º dia de pós-operatório. panturrilha) e TEP (condição
Pode ocorrer devido à técnica inadequada, potencialmente fatal). Como fatores de
infecção, hematoma, idade, obesidade, risco para TVP, existem obesidade, cirurgia
uso de corticoides (dificulta cicatrização) prolongada, cirurgias pélvicas (mexe nos
ou quimioterápicos, desnutrição (pouca vasos que vão para os MMII), ortopédicas,
albumina), diabetes, DPOC (paciente tosse ginecológicas (é pélvica), traumas,
muito, aumenta esforço intra-abdominal). cânceres (pacientes tem tendência de
O diagnóstico é clinico e o tratamento é estar pró-coagulado), videolaparoscopia
cirúrgico. (aumenta pressão da cavidade abdominal,
Ø Infecção – uma das complicações mais comprimindo vasos e diminuindo RV e
comuns. Pode ocorrer na incisão ou nos aumentando a estase) e trombofilias
tecidos manipulados, a curto ou a longo hereditárias, como fator V de Leiden,
prazo. Os fatores de risco incluem doenças síndrome anticorpo antifosfolipídeo, etc.
pré-existentes, como diabetes, Os sinais de TVP incluem dor na
imunossupressão, colonização da ferida, panturrilha, edema unilateral de MMII e
radioterapia prévia, quebra das regras de início agudo. Os sinais da TEP são variados,
antissepsia. A profilaxia auxilia muito, dependendo da extensão da trombose, do
sendo a tricotomia considerada TEP e da condição clínica do paciente. O
controversa (caso essa seja feita, deve diagnóstico de TEP padrão ouro e a
ocorrer na sala cirúrgica). Os pacientes angiotomografia de tórax (o D-dímero
apresentam eritema, dor local e edema na ajuda a suspeitar). Como prevenção, tem-
ferida. O tratamento é feito por meio da se compressor pneumático, meias elásticas
drenagem da secreção, antibióticos e, de compressão.
eventualmente, desbridamento e limpeza
no centro cirúrgico. Aula 19 – Hérnias abdominais
Ø Deiscências e fístulas – fístula é A hérnia pode ser uma palavra latina que significa
comunicação entre duas superfícies ruptura, ou uma palavra grega que significa
epiteliais. O paciente sente, após cerca de brotamento. Em geral, costuma formar um
4/5 dias da cirurgia (pode ser após 24h se brotamento devido a uma fraqueza muscular,
o cirurgião deixar alguma coisa aberta), dor ocasionando a saída de um órgão ou estrutura por
abdominal (primeira coisa que o paciente abertura congênita ou adquirida, na parede que
reclama), febre, desidratação e
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limita a cavidade na qual ela se encontra. As 1. Parede abdominal


principais hérnias abominais incluem: A parede abdominal é formada por alguns
Ø Inguinal – gera brotamento na região da músculos:
virilha. Ø Obliquo externo – é o mais superficial e
Ø Femoral – gera brotamento na região da caminha no sentindo medial e inferior. Na
virilha, mas é mais baixa na raiz da coxa do região inguinal, esse músculo é totalmente
que a inguinal. É, junta da obturatória, aponeurótico. É formado nas laterais,
mais comum em mulher. prolonga-se para o meio e gera uma
Ø Umbilical – ocorre dentro da cicatriz aponeurose que passa pela frente do reto
umbilical. Na criança, pode fechar até os 2 abdominal, une-se, na linha alba, ao outro
anos. lado da aponeurose e possui um
Ø Epigástrica – ocorre entre a cicatriz espessamento que constitui o ligamento
umbilical e o processo xifoide. inguinal (da crista ilíaca anterossuperior
Ø Incisional – ocorre em regiões de cirurgias até o tubérculo púbico). Logo acima desse
prévias. Ocorre quando o paciente não faz ligamento encontra-se o canal inguinal e,
o repouso, vomita muito, fez atividade portanto, forma-se a hérnia inguinal. Ainda
física precocemente, etc. nessa aponeurose, existe o forame inguinal
Ø Spigelian – ocorre na arcada de Douglas externo, por onde o testículo sai para
(transição das aponeuroses do reto chegar na bolsa testicular.
abdominal). Ø Oblíquo interno – é formado nas laterais,
prolonga-se para o meio e gera uma
aponeurose que pode passar ou por trás,
ou pela frente do reto abdominal. Localiza-
se logo abaixo do oblíquo externo e
caminha no sentido medial e superior.
Diferentemente do oblíquo externo, é
muscular na região inguinal, possuindo
aponeurose somente na região mais
central. Ademais, esse músculo não chega
a encostar no ligamento inguinal, gerando
uma área de fraqueza logo acima desse
ligamento. É justamente nessa região de
Dentre essas hérnias, 75% são inguinais, 20% são fraqueza que a hérnia inguinal surge.
bilaterais, 10% são incisionais por infecção ou má Dentro dessa área de fraqueza existem as
adoção de práticas pós-cirúrgicas, 8% são veias e artérias epigástricas inferiores.
umbilicais. O diagnóstico das hérnias é feito por Ø Transverso do abdômen – é o mais interno
meio da anamnese, do exame físico e do USG. Em da cavidade abdominal. É, assim como o
geral, o paciente relata aparecimento de um oblíquo interno, muscular na região
abaulamento ao realizar exercícios, que some ao inguinal, possuindo aponeurose somente
repousar. No exame físico, deve-se examinar o na região mais central.
paciente em pé (pressão da gravidade faz a hérnia Ø Retos abdominais
aparecer) e colocar a mão no tubérculo púbico, Abaixo do ligamento inguinal, existem algumas
solicitando que o paciente realize a manobra de estruturas, como:
valsava, que aumenta a pressão abdominal e faz Ø Ângulo femoral/crural
com que a hérnia saia. O USG confirma o Ø Ligamento lacular – quanto mais atrofiado,
diagnóstico e classifica a hérnia. mais favorece o aparecimento da hérnia.
As fossetas inguinais externa, interna e média são
PS: as hérnias inguinais correspondem a única definidas por três estruturas:
cirurgia cuja preferência não é da Ø Uro-obliterário – forma a prega umbilical
videolaparoscopia. mediana, gerando a fosseta inguinal
externa. É nessa fosseta externa que entra
a hérnia indireta.
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Ø Artéria umbilical obliterada – forma a Hérnia inguinal


prega umbilical medial, gerando a fosseta Possui dois picos de incidência – ao nascimento na
inguinal média. É nessa fosseta que entra a criança e com o aumento da idade nos adultos –
hérnia direta. sendo que em ambos é mais prevalente no sexo
Ø Vasos epigástricos inferiores – são os masculino. No prematuro, a principal causa é a
únicos que continuam tendo sangue ao persistência do conduto peritônio vaginal (dentro
nascimento. Forma a prega umbilical do canal inguinal), que nada mais é do que o local
lateral, gerando a fosseta inguinal interna. por onde o testículo migra do polo inferior do rim
é nessa fosseta que entra a hérnia oblíqua até a região da bolsa testicular (esse conduto
interna, que só possui importância fecha ao nascimento – bebês prematuros podem
anatômica por não aparecer na vida devido ser inférteis pela migração incompleta). Assim, no
ao fechamento dessa fosseta pelo músculo homem, dentro desse canal, existe o folículo
reto abdominal, que é muito forte. espermático e os vasos que vão para o testículo,
enquanto na mulher há somente o ligamento
redondo do útero. No entanto, pode ocorrer por
outros motivos, como:
Ø Forame aumentado – o canal inguinal
possui dois forames, o interno profundo e
o externo superficial. Se o forame interno,
que é justamente por onde passa o
conduto peritônio vaginal, for alargado, a
gravidade gera maior pressão nas
estruturas abdominais, alargando o canal
inguinal e formando uma hérnia.
Ø Perda da elasticidade/força de tecidos
Ø Traumatismo abdominal – não é muito
comum, mas pode favorecer.
Ø Tosse crônica – gera aumento de pressão
crônica no abdômen.
Ø Hiperplasia prostática – toda vez que vai ao
banheiro, que são muitas, deve fazer muita
força.
Ø Gestação
Ø Ascite/tumores abdominais
Ø Obesidade – além de ter maior pressão
abdominal, é sedentário, tendo
musculatura mais frágil.
Existem dois tipos de hérnia inguinal:
Ø Indireta/oblíqua externa – entra através do
ângulo inguinal interno (é fechado), dentro
do canal inguinal e da fosseta inguinal
externa e, portanto, lateralmente às veias
e artérias epigástricas inferiores. Se crescer
muito, pode se tornar íleo-escrotal, ou
seja, pode alcançar o testículo.
Ø Direta – surge exatamente na área de
fraqueza, exteriorizando-se no triângulo
de Hesselbach (área de fraqueza
delimitada pelo reto abdominal, ligamento
inguinal e vasos epigástricos). Portanto,
localiza-se medialmente às veias e artérias
epigástricas inferiores. Ademais, ela surge
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na fosseta inguinal média e aumenta de o C – Hérnia femoral


incidência com a idade. Ø Tipo IV – hérnia recidivada.
Em geral, as hérnias inguinais são mais comuns do
lado direito. Nas crianças, as indiretas, o risco de
encarceramento e estrangulamento são mais
frequentes. Ademais, nessa população, a hérnia é
geralmente bilateral.
PS: na criança, a hérnia mais comum é a indireta.
PS: as hérnias recidivadas, quando voltam,
geralmente são diretas.
Hérnia femoral/crural
Ø Oblíqua direta Entra pelo forame crural, possui base estreita, é
mais comum em mulheres, localiza-se abaixo do
ligamento inguinal e encarcera mais do que a
hérnia inguinal (ângulo crural é mais baixo,
sofrendo mais a ação da gravidade, e é mais
estreito). Como diagnósticos diferenciais, têm-se:
Ø Hidrocele
Ø Adenomegalias
Ø Neoplasias locais
Ø Lipoma de cordão
Ø Testículo ectópico
Ø Torção testicular
Ø Hematomas e seromas
Além dessa classificação (direta x indireta), é
possível caracterizar as hérnias como: O tratamento tanto da hérnia inguinal, quanto da
Ø Redutível hérnia femoral é o mesmo, baseando-se na
Ø Irredutível – evolui em meses e anos, utilização de telas. É preciso ligar o saco herniado
ganhando aderências em seu interior e ao peritônio e reforçar o canal inguinal por meio
perdendo a capacidade de redução. de uma tela de polipropileno. De técnicas abertas,
Existem dois tipos dessa hérnia: existem:
o Encarcerada – precisa de operação Ø Bassini e Shouldice – eram técnicas que
rápida. Há preensão do órgão que não se utilizavam de telas. Diante de
herniou. qualquer pressão maior, o canal inguinal
o Estrangulada – precisa de operação rompia. Por essa razão, não são mais
na hora. Há preensão e parada de usadas.
fluxo do órgão que herniou, Ø Mcvay – é a técnica usada para hérnia
ocasionando necrose. femoral. Coloca-se uma tela.
Existe ainda a classificação de Lewis, que divide as Ø Lichtenstein – é uma técnica sem tensão,
hérnias em 4 tipos: que se utiliza de uma tela que é costurada
Ø Tipo I – hérnia pediátrica e indireta. Há no ligamento inguinal, fechando a área do
persistência do conduto peritônio vaginal, triângulo de Hesselbach e do ângulo
mas não há alargamento do canal inguinal. interno. É a mais usada para hérnia
Ø Tipo II – hérnia indireta na qual já existe um inguinal. É rápida e fácil de ser feita. A tela
alargamento do canal inguinal, mas os fica por cima dos músculos, sendo que, se
vasos não estão deslocados. o paciente fizer força, ela é empurrada
Ø Tipo III - para fora.
o A – Hérnia direta Ø Gilbert e Rukow – ao invés de utilizar telas,
o B – Hérnia indireta com canal coloca um plug. No entanto, esse plug
inguinal alargado e destruição da pode migrar e, por isso, não são mais
parede posterior desse canal. utilizadas.
Gabriella La Salvia Caropreso T26

Dentre as laparoscópicas, que não são muito Hérnia incisional


feitas, existem: É a hérnia que surge após uma cirurgia, sobre a
Ø TAPP – transabdominal pré-peritoneal incisão, ou seja, em qualquer local do abdômen.
prosthetic. Entra-se na cavidade Pode surgir pelo não colamento da aponeurose,
abdominal, abre o peritônio e coloca uma infecção, etc. Pode ser precoce (relaciona-se
tela. É a mais usada. muito com infecção, atividade física precoce) ou
Ø TEP – entra pelo espaço pré-peritoneal e tardia. A correção é sempre com uso de tela. É
coloca a tela. importante sempre verificar toda a incisão, para se
Nessas técnicas, a tela fica mais profundamente, certificar de que só existe uma hérnia.
fazendo com que, se o paciente fizer força, ela
empurra os músculos, não saindo do lugar. É Hérnia Spigelian
indicada em hérnias recidivantes, pacientes que Ocorre abaixo do umbigo, na borda lateral do reto
necessitem voltar rapidamente e quando uma abdominal, onde há mudança das aponeuroses
outra cirurgia laparoscópica deve ser feita. É (todas passam a ser por cima do reto abdominal).
contraindicada para hérnias bilaterais e grandes. São raras.

Hérnia lombar
São muito raras. Ocorrem nas costas, nos
triângulos lombares (Petyt – menor e inferior; e
grynfelt – maior e superior), mais comumente nos
homens de 50-70 anos. Raramente estrangulam.

Hérnia obturadora
Ocorre no forame obturatório. É mais comum em
mulheres de 60-70 anos. O paciente pode
apresentar o sinal Howship-romberg, que nada
mais é do que uma dor ou parestesia na face
medial da coxa.

Hérnia isquiática
PS: para diferenciar a inguinal da femoral, pode-se Surge um abaulamento na nádega, no meio da
palpar o púbis. Se acima dele, é inguinal. Se abaixo, musculatura.
é femoral.
Hérnia perineal
PS2: a tela não pode ser mantida em contato com
Mais comum em mulheres multíparas, devido ao
a alça intestinal, sendo necessário fechar o
desabamento do forame interno.
peritônio.
Hérnia umbilical Hérnias inguinais e femorais diferenciadas
É mais comum em mulheres e crianças, sendo Ø Hérnia de Littré – divertículo de Meckel
possível esperar para operar (até 2 anos). Nos dentro da hérnia inguinal.
adultos, em geral, relaciona-se com gestação e Ø Hérnia amyand – apêndice cecal dentro da
ascite. hérnia inguinal.
Ø Hérnia garengeot – apêndice cecal dentro
Hérnia epigástrica da hérnia femoral
Ocorre na linha alba, entre a cicatriz umbilical e o Ø Richer – buraco de hérnia muito pequeno,
processo xifoide. É mais comum nos homens e fazendo com que uma pequena parte do
cerca de 20% são múltiplas (sempre importante intestino entre.
palpar toda a linha média, a fim de achar outras).
Diferentemente das hérnias inguinais e femorais, 2. Complicações
que sempre necessitam de tela, as hérnias Ø Seromas
epigástrica e umbilical só necessitam de tela Ø Hematomas
quando maiores do que 4cm. Ø Deiscências
Ø Dor
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Ø Recidiva
Ø Hipo/hiperarestesia
Ø Missing hérnia – opera uma hérnia
inguinal, mas era uma femoral.

PS: a principal complicação da apendicectomia é a


infecção.

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