LONDRINA – PR 2021 1. SOBRE O PRINCÍPIO DE ANAXIMANDRO
De Anaximandro (cerca de 610-547 a.C.) e sua vida nada se sabe, sabe-
se, porém, que foi discípulo de Tales de Mileto e sucessor na guarda da Escola de Mileto, ainda, tratou-se que foi quase um polímata, versado em geografia, matemática, astronomia e política (KUHNEN, 1999, p. 47), adquirindo um largo conhecimento do mundo a sua volta, ademais foi o próprio Anaximandro que desenhou um dos mapas mais antigos, tendo em vista o mundo conhecido em sua época, preservado por relatos de Heródoto; fez inovações na astronomia introduzindo o gnomon (o relógio de sol babilônico), falou do movimento circular dos planetas e da distância dos mesmo para com a Terra. Todas essas investigações nos demonstram que, Anaximandro, olhará para as coisas que estavam além das matérias perceptíveis pelos sentidos (ainda que fitou seus olhos nas ciências de sua época, fazendo uso da mesma), não somente ele, mais muito dos pré-socráticos tiveram um deslumbre de uma arché, ou princípio do mundo, em modos “metafísicos” e junto com ele pode ser citado Leucipo de Mileto e Demócrito de Abdera, que em sua época não haviam demonstrado os átomos, por lhes faltar a tecnologia para tal. Além dos investimentos de Anaximandro nas ciências astronômicas, geográficas e matemáticas, aqui é, de fato, mais espantosa a sua filosofia “Sobre a Natural”, nome de sua obre, perdida, mais que foi a primeira escrita filosoficamente (KUHNEN, 1999, p. 47). Tendo sido discípulo de Tales e deste apreendido, talvez, a pensar o princípio como sendo uno, faz com que brote um espantoso salto para a recém-nascida filosofia de seu tempo, Anaximandro faz sua voz ser ouvida por todos os cantos ao relatar seu ápeiron “que pode ser traduzido por infinito/ilimitado” (KUHNEN, 1999, p. 16). Aqui vale investigar o que é este infinito, ilimitado ou indeterminado, pois a salto é grande de Tales a Anaximandro, pois em Tales vê-se uma matéria una, sensível, perecível e finita a qual está, ela mesma, engendrada em todas as coisas; mais em Anaximandro é nítido que a matéria primeira escapa as investigações física, cientificas e sólidas nas experiencias sensíveis, sobrevoa, porém, ao místico e metafisico (oque está além do físico e cognitivo). Isto é o que pensa Nietzsche em seu A Filosofia na Época Trágica dos Gregos, dizendo É certo que quem é capaz de se pôr a discutir com outros sobre o que tenha sido propriamente essa proto-matéria, se é porventura uma coisa intermediária entre ar e água, ou talvez entre ar e fogo, não entendeu nosso filósofo: o mesmo se pode dizer dos que perguntam seriamente se Anaximandro pensou sua proto-matéria como mistura de todas as matérias existentes. Temos, antes, de dirigir nosso olhar ao ponto de onde podemos aprender que Anaximandro já não mais tratou a pergunta pela origem deste mundo de maneira puramente física, e de orientá-lo segundo aquela proposição lapidar apresentada no início. (NIETZSCHE, 1999, p. 52)
Está opinião clareia a vista, pois, é evidente, Anaximandro deu os primeiros
passos para as investigações mais sublimes e atônitas da Filosofia da Natureza, elevando a inteligência a algo intangível que é o infinito; afinal, quem é aquele que se arriscaria a viajar ao infinito para conhecer seus aspectos? É algo que não se pode investigar positivamente, ou seja, afirmando que o infinito tem tais medidas e tais pesos, o indeterminado não é determinado por nenhuma categoria, se o fosse já não seria determinado, se pudesse ser contado já não seria ilimitado e, por fim, se pudesse ser medido já não seria infinito. Por estas motivos Anaximandro, tendo sido o primeiro a falar a palavra princípio, optou por um princípio que não pudesse ser determinado e que possuísse um traço de imutabilidade, diferente do que pensou Empédocles de Agrigento ordenando os quatro elementos como arché, e sobra a necessidade de um começo de tudo ter sido sem começo, diz com maior clareza Aristóteles em sua Física:
Pois tudo ou é princípio ou procede de um princípio, mas do
ilimitado não há princípio: se houvesse, seria seu limite. E ainda: sendo princípio, deve também ser não-engendrado e o indestrutível, porque o que foi gerado necessariamente tem fim e há um término para toda destruição. Por isso, assim dizemos: não tem princípio, mas parece ser princípio das demais coisas e a todas envolver e a todas governar, como afirmam os que não postulam outras causas além do ilimitado, como seria Espírito (Anaxágoras) ou Amizade (Empédocles). E é isto que é o divino, pois é "imortal e imperecível" (Fragmento 3), como dizem Anaximandro e a maior parte dos físicos. (ARISTÓTELES, 1999, p. 48)
Sendo assim, Anaximandro legou para a posteridade uma tamanha
perplexidade sobre um espantoso princípio, que ainda hoje causa curiosidades, como pode um filósofo tão antigo pensar conceitos e ter ideias tão altas ou diferentes de seus antecessores, Homero, Hesíodo e Tales? A filosofia, principalmente a metafísica e até mesmo a teologia moderna, em parte, devem a este filosofo grego os seus espantos ao olhar para o Infinito gerador de todas as coisas. 2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRÃO, B. S. A História da Filosofia. Esp. Ed. São Paulo: Nova Cultural,
2004.
DIRK, L. C. Anaximander. Disponível em <https://iep.utm.edu/anaximan/>.
Acesso em: 27 out. 2021.
DE SOUZA, J. C. Pré-Socráticos – Vida e Obra. 7. Ed. São Paulo: Editora