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Licenciatura em Engenharia Hidráulica

Sistema de Abastecimento e Tratamento de Água


Qualidade da Água para o Consumo Humano
Turma: H31. VIº Grupo. 3º Ano. Io Semestre

Discentes:
Ali Inoque Envelope
Jaime Chilengue Junior
Jorge Dinis Manhepe
Karen da Rabeca Abasse Adinane Quicimusso

Docentes:
MSc. Edelino Foquiço
Eng.º Paulino Alberto

Songo, junho de 2022


Licenciatura em Engenharia Hidráulica
Sistema de Abastecimento e Tratamento de Água
Qualidade da Água para o Consumo Humano
Turma: H31. VIº Grupo. 3º Ano. Io Semestre

Discentes:
Ali Inoque Envelope
Jaime Chilengue Junior
Jorge Dinis Manhepe
Karen da Rabeca Abasse Adinane Quicimusso

Docentes:
MSc. Edelino Foquiço
Eng.º Paulino Alberto

Primeiro trabalho de investigação de carácter


avaliativo, referente a cadeira de Sistema de
Abastecimento e Tratamento de Água, sob
orientação de: MSc. Edelino Foquiço e Eng.º
Paulino Alberto.

Songo, junho de 2022


Resumo
No presente trabalho procurou fazer-se uma análise do controlo da qualidade da água, para
consumo humano com base na legislação existente. Com o desenvolvimento deste assunto cria-se
uma base de trabalho que pode servir para desenvolver este tema.

Quimicamente a água é composta por dois átomos de hidrogénio e um de oxigénio. Conhecer as


propriedades da água, quer ela esteja em repouso ou em movimento, é fundamental para a solução
correcta dos vários problemas do dia-a-dia do engenheiro hidráulico. Estes problemas envolvem
princípios e métodos de armazenamento, conservação, controle, condução e utilização. Como o
conhecimento das principais características físicas, químicas e biológicas da água, as quais, em
seu conjunto, permitem a avaliação da sua qualidade.

As impurezas contidas na água vão ser responsáveis por suas características físicas, químicas e
biológicas. Essas características são determinadas por meio de exames em laboratórios de amostras
adequadas da água e complementadas com inspecção sanitária do campo.

Segundo o Boletim da república de Moçambique (diploma ministerial número 180/2004 art.º. 07)
constituem parâmetros de qualidade aplicáveis obrigatoriamente de água destinada ao consumo
humano os seguintes: Parâmetros microbiológicos, Parâmetros organolépticos, Parâmetros físicos-
químicos.

Palavras-Chave: Qualidade da água. Características.

I
Abstract
In the present work, an analysis was made of the quality control of water for human consumption
based on the existing legislation. With the development of this subject, a work base is created that
can serve to develop this theme.

Chemically, water is made up of two atoms of hydrogen and one of oxygen. Knowing the
properties of water, whether it is at rest or in motion, is essential for the correct solution of the
various problems of the hydraulic engineers day-to-day. These problems involve principles and
methods of storage, conservation, control, management and use. As the knowledge of the main
physical, chemical and biological characteristics of the water, which, as a whole, allow the
evaluation of its quality.

The impurities contained in the water will be responsible for its physical, chemical and biological
characteristics. These characteristics are determined by means of laboratory examinations of
adequate water samples and complemented with sanitary inspection in the field.

According to the Bulletin of the Republic of Mozambique (ministerial diploma number 180/2004
art. 07) the following are mandatory quality parameters applicable to water intended for human
consumption: Microbiological parameters, Organoleptic parameters, Physicochemical parameters.

Keywords: Water quality. Features.

II
Índice
Resumo ............................................................................................................................................ I

Abstract ........................................................................................................................................... II

Índice de Tabela ............................................................................................................................. V

1. Introdução ............................................................................................................................... 1

1.1. Objectivos ............................................................................................................................ 2

1.1.1. Objectivo Geral............................................................................................................. 2

1.1.2. Objectivos Específicos ................................................................................................. 2

2. Metodologia de Pesquisa ........................................................................................................ 3

3. Relevância do tema ................................................................................................................. 3

4. Resultados esperados .............................................................................................................. 3

5. Qualidade da água para o consumo humano............................................................................... 4

5.1. A água .................................................................................................................................. 4

5.1.1. Propriedades das águas naturais.................................................................................... 5

5.1.2. Principais características físicas, químicas e biológicas das águas naturais ................. 8

5.1.2.1. Características Físicas ................................................................................................ 8

5.1.2.2. Características químicas........................................................................................... 11

5.1.2.3. Características biológicas......................................................................................... 14

5.2. Microbiologia da água ....................................................................................................... 16

5.2.1. Enfermidades de transmissão hídrica (Causas)........................................................... 16

5.2.2. Bactérias indicadoras de contaminação ...................................................................... 18

5.3. Parâmetros da qualidade da água ....................................................................................... 19

5.3.1. Índices dos parâmetros da qualidade de água – OMS ............................................ 21

5.3.2. Índices dos parâmetros da qualidade de água – SNS .................................................. 23

5.4. Fenómeno de eutrofização das águas ............................................................................. 27

III
5.4.1. Conceitualização ..................................................................................................... 27

5.4.2. Classificação ........................................................................................................... 28

5.4.3. Processo do Fenómeno de eutrofização .................................................................. 28

5.4.4. Subdivisão da Eutrofização (Tipos) ........................................................................ 29

5.4.5. Combate a Eutrofização .......................................................................................... 29

5.5. Contaminantes da água. Fontes e implicações a saúde humana .................................... 31

5.6. Procedimento para testagem da água ............................................................................. 34

5.6.1. Definição de Objectivos .......................................................................................... 34

5.6.2. Colecta de amostras ................................................................................................ 34

5.6.2. Validação de amostras ............................................................................................ 38

5.6.3. Preservação de amostras ......................................................................................... 38

5.6.4. Controle de qualidade ............................................................................................. 39

5.6.5. Processamento de resultados obtidos. ..................................................................... 39

5.7. Instrumentos utilizados param a avaliação dos parâmetros de qualidade da água ......... 40

5.7.1. pH............................................................................................................................ 40

5.7.2. Coliformes termotolerantes ..................................................................................... 40

5.7.3. Acidez ..................................................................................................................... 41

6. Conclusão.................................................................................................................................. 42

7. Referencia bibliográfica ............................................................................................................ 43

IV
Índice de Tabela
Tabela 1: Enfermidades de transmissão hídrica (Causas) ........................................................... 17
Tabela 2: Índices dos parâmetros da qualidade de água – OMS ................................................. 21
Tabela 3: Parâmetros microbiológicos. Fonte: MISAU (2004). .................................................. 23
Tabela 4: Tabela: Parâmetros físicos e organolépticos. Fonte: MISAU (2004) .......................... 24
Tabela 5: Parâmetros químicos. Fonte: MISAU (2004) .............................................................. 24
Tabela 6: Parâmetros microbiológicos. Fonte: MISAU (2004) ................................................... 26
Tabela 7: Parâmetros físicos e organolépticos. Fonte: MISAU (2004). ...................................... 26
Tabela 8: Parâmetros químicos. Fonte: MISAU (2004) ............................................................. 26
Tabela 9: Contaminantes da água Fontes e implicações a saúde humana. BASTOS et ai. (2003).
....................................................................................................................................................... 31
Tabela 10: Classificação de águas de acordo com o IQA calculado. .......................................... 39

V
1. Introdução
O presente trabalho de investigação insere-se no âmbito da cadeira de Sistema de Abastecimento
e Tratamento de Água (SATA), que visa abordar conteúdos relacionados sobre a qualidade da água
para o consumo humano e outros aspectos que são importantes quando se trata de qualidade da
água, principalmente para o consumo humano.

A água é essencial para os seres humanos, animais e plantas, sendo usada para saciar a sede,
preparar alimentos e higiene pessoal (escovar os dentes, lavar as mãos, tomar banho). Dessa forma,
a água para consumo humano deve ser potável, ou seja, deve atender ao padrão de potabilidade
estabelecido em norma pelo Ministério da Saúde, e não oferecer riscos à saúde.

A água própria para consumo humano não pode conter microrganismos patogênicos nem
substâncias que representem risco à saúde em níveis superiores aos máximos permitidos, além de
não poder apresentar características que causem rejeição por parte da população (como gosto, odor
ou cor que deixem a água com um aspectos desagradável).

O conceito de qualidade apresenta, simultaneamente, uma grande ambiguidade e uma grande


diversidade. Qualidade não é, portanto, uma palavra cujo significado seja objectivo e unívoco. Este
conceito de qualidade é relativo, uma vez que se baseia na objetividade do utilizador, ou do fim a
que a água se destina. Uma água com qualidade para ser bebida pode não servir para outros fins
(agricultura, indústria, etc.), e vice-versa

A qualidade da água tem sido comprometida desde o manancial, pelo lançamento de efluentes e
resíduos, o que exige investimento nas estações de tratamento e alterações na dosagem de produtos
para se garantir a qualidade da água na saída das estações. No entanto, tem-se verificado que a
qualidade da água decai no sistema de distribuição pela intermitência do serviço, pela baixa
cobertura da população com sistema público de esgotamento sanitário, pela obsolescência da rede
de distribuição e pela manutenção deficiente, entre outros. Nos domicílios, os níveis de
contaminação elevam-se pela precariedade das instalações hidráulico-sanitárias, pela falta de
manutenção dos reservatórios e pelo manuseio inadequado da água [1].

1
1.1. Objectivos
1.1.1. Objectivo Geral
O objectivo geral do presente trabalho centraliza-se em abordar conteúdos sobre a qualidade de
água, factores influentes e aspectos de saúde pública.

1.1.2. Objectivos Específicos


➢ Caracterizar a água (propriedades da água e características das águas naturais);
➢ Identificar os tipos de enfermidades de origem hídrica;
➢ Caracterizar as enfermidades causadas pela água;
➢ Conhecer os parâmetros de qualidade de água;
➢ Conhecer as normas aplicáveis na atribuição de qualidade de água;
➢ Identificar as fontes de contaminação de água;
➢ Caracterizar os contaminantes principais;
➢ Identificar os instrumentos utilizados na testagem de água;
➢ Caracterizar os instrumentos de testagem de água;
➢ Descrever os procedimentos de testagem de água;

2
2. Metodologia de Pesquisa
Para a elaboração do presente trabalho, foram consultadas algumas fontes bibliográficas dos
materiais didáticos, PDF relacionados com o tema do trabalho, os trabalhos dos anos anteriores e
alguns sites disponíveis na internet que abordavam sobre o tema.

3. Relevância do tema
Garantir a qualidade da água é essencial para a saúde das pessoas e para a segurança de processos
produtivos. É fundamental o monitoramento periódico de parâmetros por meio de análises físico-
químicas e microbiológicas.

Garantir a qualidade de água, além de trazer mais saúde, a água limpa em todos os pontos da casa
protege os aparelhos domésticos, diminui a necessidade de trocas, manutenções e limpeza (da
caixa de água principalmente), previne entupimento de orifícios e incrustações que danificam
precocemente os equipamentos.

4. Resultados esperados
Para o efeito do trabalho é esperado encontrar os conteúdos mencionado no inicio do trabalho,
para obter-mos bons resultados e contribuirmos para o conhecimento dos vírus, bactérias, factores
que influenciam na má qualidade de água, entre outros. Facilitando assim a prevenção da
contaminação da agua para a população Moçambicana e garantir a melhoria da qualidade de agua
e o seu tratamento.

3
5. Qualidade da água para o consumo humano
5.1. A água
As características físicas, químicas e biológicas da água estão associadas a uma serie de processos
que ocorrem no corpo hídrico e em sua bacia de drenagem. Ao se abordar a questão da qualidade
da água, e fundamental ter em mente que o meio líquido apresenta duas características marcantes,
que condicionam de maneira absoluta a conformação desta qualidade:
➢ Capacidade de dissolução;
➢ Capacidade de transporte.
Constata-se assim que a água, além de ser formada pelos elementos hidrogênio e oxigênio na
proporção de dois para um, também pode dissolver uma ampla variedade de substâncias, as quais
conferem à água suas características peculiares. Além disso, as substâncias dissolvidas e as
partículas presentes no seio da massa líquida são transportadas pelos cursos d’água, mudando
continuamente de posição e estabelecendo um caráter fortemente dinâmico para a questão da
qualidade da água. É de conhecimento geral que a estrutura química de uma molécula de água é
formada por dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio: H2O. No entanto, deve ser
lembrado que esses dois elementos apresentam formas isotópicas, a saber:

➢ Hidrogênio: H1 (protón), H2 (deutério), H3 (trítio)


➢ Oxigênio: O16, O17, O18.

Na atmosfera de nosso planeta, os átomos de oxigênio estão distribuídos na seguinte proporção:

10 átomos O17: 55 átomos O18: 26.000 átomos O16.

A combinação dos diversos isótopos de hidrogênio e oxigênio fornece uma variedade de 48 formas
de água, das quais 39 são radioativas e apenas nove são estáveis:

H2O16, H2O17, H2O18, HDO16 (D = deutério), HDO17, HDO18, D2O16, D2O17, D2O18

Esta última forma (D2O18) é conhecida como água pesada, sendo utilizada em reatores nucleares
para moderação da velocidade dos neutrões [1].

4
5.1.1. Propriedades das águas naturais
Conhecer as propriedades da água, quer ela esteja em repouso ou em movimento, é fundamental
para a solução correcta dos vários problemas do dia-a-dia dos Engenheiros Hidráulicos. Estes
problemas envolvem princípios, métodos de armazenamento, conservação, controle, condução,
utilização, entre outros.

a) Massa específica

A massa específica ou densidade absoluta indica a relação entre a massa e o volume de uma
determinada substância. Ao contrário de todos os outros líquidos, que apresentam a densidade
máxima na temperatura de congelamento, no caso da água ela ocorre a 4°C, quando atinge o valor
unitário. Isso significa que a água nessa temperatura, por ser mais densa, ocupa as camadas
profundas de rios e lagos [1].

b) Viscosidade
A viscosidade de um líquido caracteriza a sua resistência ao escoamento. Essa grandeza é
inversamente proporcional à temperatura, o que significa que uma água quente é menos viscosa
que uma água fria. Tal facto traz naturalmente consequências para a vida aquática: os pequenos
organismos, que não possuem movimentação própria, tendem a ir mais rapidamente para o fundo
do corpo d’água em períodos mais quentes do ano, quando a viscosidade é menor. O mesmo ocorre
com partículas em suspensão, que se sedimentam mais intensamente no caso de ambientes
aquáticos tropicais. Para muitos organismos, o facto de atingirem o fundo significa a sua morte,
em razão da pouca disponibilidade de oxigênio e luz. Por essa razão, muitos deles desenvolvem
mecanismos para retardar sua precipitação, o que pode ser observado principalmente com as
microalgas. Tais mecanismos estão relacionados à produção de bolhas de gás, excreção de reservas
de óleo e até mesmo alterações morfológicas, assumindo às vezes formas semelhantes a guarda-
chuvas ou para-quedas, tudo isso com o intuito de retardar ao máximo sua sedimentação. No caso
das alterações morfológicas, elas podem ocorrer de forma cíclica, sempre que a temperatura da
água aumentar (períodos de verão, por exemplo), sendo esse fenômeno conhecido por
ciclomorfose [1].

5
c) Tensão superficial

Na interface que separa o meio líquido e o meio atmosférico, ou seja, na camada superficial
micrométrica de um corpo d’água, há uma forte coesão entre as moléculas, fenômeno este
denominado tensão superficial. Às vezes, essa coesão é tão forte que pode ser observada a olho nu
em um recipiente de água, ao se tocar levemente sua superfície com o dedo. Essa fina camada de
aparência gelatinosa serve de substrato para a vida de pequenos organismos, que podem habitar
tanto a parte superior quanto a inferior da película. A coesão molecular na superfície é afetada por
alguns fatores físicos e químicos, como, por exemplo, a temperatura e a presença de substâncias
orgânicas dissolvidas. Quanto maior a temperatura, menor é a tensão superficial [1].

d) Calor específico

Define-se calor específico como a quantidade de energia requerida, por unidade de massa, para
elevar a temperatura de um determinado material. A energia necessária para elevar em 1 °C (de
14,5 a 15,5 °C) a temperatura de um grama de água foi definida como sendo uma caloria (1 cal),
ficando, pois, estabelecido o calor específico da água pura como igual a 1,0 cal/g oC. O calor
específico da água é elevadíssimo, superado, dentre os líquidos, apenas pelo amoníaco e pelo
hidrogênio líquido. Isso significa que são necessárias grandes quantidades de energia para
promover alterações de temperatura na água ou, de outra forma, que a água pode absorver grandes
quantidades de calor sem apresentar fortes mudanças de temperatura. Em razão do alto calor
específico da água, ambientes aquáticos são bastante estáveis com relação à temperatura. Isso fica
evidente no caso de pequenas ilhas situadas nos oceanos, as quais apresentam temperaturas médias
uniformes durante todo o ano, em função da estabilidade térmica da água que as circunda [1].

e) Condutividade térmica

Ao contrário do calor específico, a condutividade térmica da água é extremamente baixa. Se um


corpo d’água permanecesse imóvel, sem turbulência, a difusão do calor seria tão lenta que seu
fundo só seria aquecido após vários séculos. Na prática, isso não ocorre porque o transporte de
calor também se dá por convecção, ou seja, por movimentos que ocorrem em razão de gradientes
de densidade na água.

6
f) Dissolução de gases

A água apresenta a capacidade de dissolução de gases, alguns dos quais bastante importantes para
a ecologia do ambiente hídrico. O gás de maior relevância para o meio aquático é, sem dúvida
alguma, o oxigênio, já que dele dependem todos os organismos aeróbios que habitam o corpo
d’água. Sabe-se que a biota (conjunto de seres vivos) aquática pode ser formada por organismos
aeróbios e/ou anaeróbios. Enquanto os primeiros utilizam o oxigênio dissolvido para sua
respiração, os últimos respiram utilizando o oxigênio contido em moléculas de diversos
compostos, como nitratos (NO-3), sulfatos (SO42-) e outros.

A concentração dos gases na água depende da chamada pressão parcial do gás e da temperatura.
Sabe-se que, na atmosfera terrestre, os principais gases estão distribuídos aproximadamente na
seguinte proporção:

➢ Nitrogênio (N2): 78%;


➢ Oxigênio (O2): 21%; e
➢ Gás carbônico (CO2): 0,03%

A solubilidade química absoluta dos gases na água, à temperatura de 20 °C, é a seguinte:

➢ CO2 : 1.700 mg/l;


➢ O2 : 43 mg/l;
➢ N2 : 18 mg/l.
g) Dissolução de substâncias

Além de gases, a água tem a capacidade de dissolver outras substâncias químicas, as quais
apresentam relevância na determinação de sua qualidade. A solubilidade dessas substâncias está
vinculada ao pH do meio, havendo geralmente um acréscimo da solubilidade com a redução do
pH. O aumento da temperatura também favorece a solubilidade das diversas substâncias químicas.

A influência do pH e da temperatura pode ser observada na distribuição de substâncias dissolvidas


em rios e lagos. Principalmente nestes últimos, ocorre um gradiente acentuado de pH, com a
obtenção de valores elevados na superfície como decorrência da atividade fotossintética (absorção
de ácido carbônico → aumento de pH), e teores mais baixos no fundo, em função do predomínio
de processos respiratórios (liberação de gás carbônico → diminuição de pH).

7
h) Pressão de vapor

Como qualquer outro líquido, a água também tem a propriedade de vaporizar-se em determinadas
condições de temperatura e pressão. E assim sendo temos que ela entra em ebulição sob a pressão
atmosférica local a uma determinada temperatura. Por exemplo, no nível do mar (pressão
atmosférica normal) a ebulição acontece a 100℃. A medida que a pressão diminui a temperatura
de ebulição também se reduz. Assim, quanto maior a altitude do local menor será a temperatura
de ebulição. Pressão de vapor é, pois, a pressão exercida pelo vapor em determinado espaço.
Geralmente é simbolizada por h_v. Em condições de cálculos expeditos podemos adotar o valor
de 0,024 kgf/cm².

5.1.2. Principais características físicas, químicas e biológicas das águas naturais

Após a apresentação feita anteriormente, descrevendo a estrutura da água e do ambiente aquático


do ponto de vista ecológico, parte-se agora para o conhecimento das principais características
físicas, químicas e biológicas da água, as quais, em seu conjunto, permitem a avaliação da sua
qualidade. Como tais características podem ser expressas por meio de concentrações ou outros
valores numéricos, elas passarão a ser designadas como parâmetros, alguns destes referenciados
como propriedades organoléticas no padrão de potabilidade vigente.

Segundo (Matsinhe & Rietveld, 2005, p. 81), a caracterização bem como a identificação das
características e propriedades inerentes á qualidade da água pode ser feita de várias formas. No
entanto, a maioria dos estudos de caracterização da qualidade da água, obedece à um critério de
agrupamento dessas características em: Características físicas, químicas e biológicas da água.

5.1.2.1. Características Físicas


Porém, quando se pretende usar uma determinada fonte de água para fins específicos, a primeira
análise que um ser humano faz é a análise das suas características físicas, visto que essas se podem
avaliar mesmo ao olho nu. E preocupação geral que a água a usar seja limpa, inodora e incolor.
No entanto, a maioria das fontes de água (principalmente as fontes superficiais) não obedece a este
critério apresentando na maioria dos casos colorações (provenientes de taninos ou outros materiais
orgânicos), maus cheiros (característicos por exemplo de águas de pântanos) ou então, apresentam-
se turvas (turvação proveniente de sólidos em suspensão). As características físicas mais
comummente são a temperatura, a cor, o gosto, o odor, e a turbidez.

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a) Temperatura

A temperatura expressa a energia cinética das moléculas de um corpo, sendo seu gradiente o
fenômeno responsável pela transferência de calor em um meio. A alteração da temperatura da água
pode ser causada por fontes naturais (principalmente energia solar) ou antropogénicas (despejos
industriais e águas de resfriamento de máquinas). A temperatura exerce influência marcante na
velocidade das reações químicas, nas atividades metabólicas dos organismos e na solubilidade de
substâncias. Em relação às águas para consumo humano, temperaturas elevadas aumentam as
perspectivas de rejeição ao uso. Águas subterrâneas captadas a grandes profundidades
frequentemente necessitam de unidades de resfriamento a fim de adequá-las ao abastecimento [1].

b) Sabor e Odor

A conceituação de sabor envolve uma interação de gosto (salgado, doce, azedo e amargo) com o
odor. No entanto, genericamente usa-se a expressão conjunta: sabor e odor. Sua origem está
associada tanto à presença de substâncias químicas ou gases dissolvidos, quanto à atuação de
alguns microrganismos, notadamente algas. Neste último caso são obtidos odores que podem até
mesmo ser agradáveis (odor de gerânio e de terra molhada, etc.), além daqueles considerados
repulsivos (odor de ovo podre, por exemplo). Despejos industriais que contêm fenol, mesmo em
pequenas concentrações, apresentam odores bem característicos. Vale destacar que substâncias
altamente deletérias aos organismos aquáticos, como metais pesados e alguns compostos
organossintéticos, não conferem nenhum sabor ou odor à água. Para consumo humano e usos mais
nobres, o padrão de potabilidade exige que a água seja completamente inodora.

c) Cor

A cor da água é produzida pela reflexão da luz em partículas minúsculas de dimensões inferiores
a 1 μm – denominadas colóides – finamente dispersas, de origem orgânica (ácidos húmicos e
fúlvidos) ou mineral (resíduos industriais, compostos de ferro e manganês). Corpos de água de
cores naturalmente escuras são encontrados em regiões ricas em vegetação, em decorrência da
maior produção de ácidos húmicos.

A determinação da intensidade da cor da água é feita comparando-se a amostra com um padrão de


cobalto-platina, sendo o resultado fornecido em unidades de cor, também chamadas uH (unidade
Hazen). As águas naturais apresentam, em geral, intensidades de cor variando de 0 a 200 unidades.

9
Valores inferiores a 10 unidades são dificilmente percetíveis. A cloração de águas coloridas com
a finalidade de abastecimento doméstico pode gerar produtos potencialmente cancerígenos
(trihalometanos), derivados da complexação do cloro com a matéria orgânica em solução.

Para efeito de caracterização de águas para abastecimento, distingue-se a cor aparente, na qual se
consideram as partículas suspensas, da cor verdadeira [1].

d) Turbidez

A turbidez pode ser definida como uma medida do grau de interferência à passagem da luz através
do líquido. A alteração à penetração da luz na água decorre da presença de material em suspensão,
sendo expressa por meio de unidades de turbidez (também denominadas unidades de Jackson ou
nefelométricas).

A turbidez dos corpos de água é particularmente alta em regiões com solos erodíveis, onde a
precipitação pluviométrica pode carrear partículas de argila, silte, areia, fragmentos de rocha e
óxidos metálicos do solo. Ao contrário da cor, que é causada por substâncias dissolvidas, a turbidez
é provocada por partículas em suspensão, sendo, portanto, reduzida por sedimentação. Em lagos e
represas, onde a velocidade de escoamento da água é menor, a turbidez pode ser bastante baixa.
Além da ocorrência de origem natural, a turbidez da água pode também ser causada por
lançamentos de esgotos domésticos ou industriais.

e) Sólidos

Os sólidos presentes na água podem estar distribuídos da seguinte forma: em suspensão e


dissolvidos.

Sólidos em suspensão podem ser definidos como as partículas passíveis de retenção por processos
de filtração. Sólidos dissolvidos são constituídos por partículas de diâmetro inferior a 10-3 μm e
que permanecem em solução mesmo após a filtração. A entrada de sólidos na água pode ocorrer

10
de forma natural (processos erosivos, organismos e detritos orgânicos) ou antropogénica
(lançamento de lixo e esgotos).

f) Condutividade elétrica

A condutividade elétrica da água indica sua capacidade de transmitir a corrente elétrica em função
da presença de substâncias dissolvidas que se dissociam em ânions e cátions. Quanto maior a
concentração iônica da solução, maior é a oportunidade para a ação eletrolítica e, portanto, maior
a capacidade em conduzir corrente elétrica. A condutividade elétrica da água deve ser expressa em
unidades de resistência (mho ou S) por unidade de comprimento (geralmente cm ou m). Até algum
tempo atrás, a unidade mais usual para expressão da resistência elétrica da água era o mho (inverso
de ohm), mas atualmente é recomendável a utilização da unidade “S” (Siemens). Enquanto as
águas naturais apresentam teores de condutividade na faixa de 10 a 100 μS/cm, em ambientes
poluídos por esgotos domésticos ou industriais os valores podem chegar até 1.000 μS/cm.

5.1.2.2. Características químicas


a) pH

O potencial hidrogeniónico (pH) representa a intensidade das condições ácidas ou alcalinas do


meio líquido por meio da medição da presença de íon hidrogênio (H+). É calculado em escala anti
logarítmica, abrangendo a faixa de 0 a 14 (inferior a 7: condições ácidas; superior a 7: condições
alcalinas).

O valor do pH influi na distribuição das formas livre e ionizada de diversos compostos químicos,
além de contribuir para um maior ou menor grau de solubilidade das substâncias e de definir o
potencial de toxicidade de vários elementos. As alterações de pH podem ter origem natural
(dissolução de rochas, fotossíntese) ou antropogénica (despejos domésticos e industriais). Em
águas de abastecimento, baixos valores de pH podem contribuir para sua corrosividade e
agressividade, enquanto valores elevados aumentam a possibilidade de incrustações. Para a
adequada manutenção da vida aquática, o pH deve situar-se geralmente na faixa de 6 a 9.

O intervalo de pH para águas de abastecimento é estabelecido pela Portaria no 1469/2000 entre


6,5 e 9,5. Esse parâmetro objetivo minimizar os problemas de incrustação e corrosão das redes de
distribuição.

11
b) Alcalinidade

A alcalinidade indica a quantidade de íons na água que reagem para neutralizar os íons hidrogênio.
Constitui, portanto, uma medição da capacidade da água de neutralizar os ácidos, servindo assim
para expressar a capacidade de tamponamento da água, isto é, sua condição de resistir a mudanças
do pH. Ambientes aquáticos com altos valores de alcalinidade podem, destarte, manter
aproximadamente os mesmos teores de pH, mesmo com o recebimento de contribuições
fortemente ácidas ou alcalinas. Os principais constituintes da alcalinidade são os bicarbonatos
(HCO-3), carbonatos (CO32-) e hidróxidos (OH-). Outros ânions, como cloretos, nitratos e sulfatos,
não contribuem para a alcalinidade. A distribuição entre as três formas de alcalinidade na água
(bicarbonatos, carbonatos, hidróxidos) é função do seu pH: pH > 9,4 (hidróxidos e carbonatos);
pH entre 8,3 e 9,4 (carbonatos e bicarbonatos); pH entre 4,4 e 8,3 (apenas bicarbonatos). A maioria
das águas naturais apresenta valores de alcalinidade na faixa de 30 a 500 mg/L de CaCO3.

c) Acidez

A acidez, em contraposição à alcalinidade, mede a capacidade da água em resistir às mudanças de


pH causadas pelas bases. Ela decorre, fundamentalmente, da presença de gás carbônico livre na
água. A origem da acidez tanto pode ser natural (CO2 absorvido da atmosfera ou resultante da
decomposição de matéria orgânica, presença de H2S – gás sulfídrico) ou antropogénica (despejos
industriais, passagem da água por minas abandonadas). De maneira semelhante à alcalinidade, a
distribuição das formas de acidez também é função do pH da água: pH > 8.2 – CO2 livre ausente;
pH entre 4,5 e 8,2 → acidez carbônica; pH < 4,5 → acidez por ácidos minerais fortes, geralmente
resultantes de despejos industriais. Águas com acidez mineral são desagradáveis ao paladar, sendo,
portanto, desaconselhadas para abastecimento doméstico.

d) Dureza

A dureza indica a concentração de cátions multivalentes em solução na água. Os cátions mais


frequentemente associados à dureza são os de cálcio e magnésio (Ca2+, Mg2+) e, em menor escala,
ferro (Fe2+), manganês (Mn2+), estrôncio (Sr2+) e alumínio (Al3+).

A dureza pode ser classificada como dureza carbonato ou dureza não carbonato, dependendo do
aníon com o qual ela está associada. A primeira corresponde à alcalinidade, estando, portanto, em
condições de indicar a capacidade de tamponamento de uma amostra de água. A dureza não

12
carbonato refere-se à associação com os demais ânions, à exceção do cálcio e do magnésio. A
origem da dureza das águas pode ser natural (por exemplo, dissolução de rochas calcárias, ricas
em cálcio e magnésio) ou antropogénica (lançamento de efluentes industriais).

A dureza da água é expressa em mg/L de equivalente em carbonato de cálcio (CaCO3) e pode ser
classificada em:

➢ Mole ou branda: < 50 mg/L de CaCO3;


➢ Dureza moderada: entre 50 mg/L e 150 mg/L de CaCO3;
➢ Dura: entre 150 mg/L e 300 mg/L de CaCO3; e
➢ Muito dura: > 300 mg/L de CaCO.

Para águas de abastecimento, o padrão de potabilidade estabelece o limite de 500 mg/L CaCO3.

e) Demandas química e Bioquímica de oxigênio


Os parâmetros DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) e DQO (Demanda Química de Oxigênio)
são utilizados para indicar a presença de matéria orgânica na água. Sabe-se que a matéria orgânica
é responsável pelo principal problema de poluição das águas, que é a redução na concentração de
oxigênio dissolvido. Isso ocorre como consequência da atividade respiratória das bactérias para a
estabilização da matéria orgânica. Portanto, a avaliação da presença de matéria orgânica na água
pode ser feita pela medição do consumo de oxigênio. Os referidos parâmetros DBO e DQO
indicam o consumo ou a demanda de oxigênio necessária para estabilizar a matéria orgânica
contida na amostra de água. Essa demanda é referida convencionalmente a um período de cinco
dias, já que a estabilização completa da matéria orgânica exige um tempo maior, e a uma
temperatura de 20 °C.

f) Micropoluentes

Existem determinados elementos e compostos químicos que, mesmo em baixas concentrações,


conferem à água características de toxicidade, tornando-a assim imprópria para grande parte dos
usos. Tais substâncias são denominadas Micropoluentes. O maior destaque nesse caso é dado aos
metais pesados (por exemplo, arsênio, cádmio, cromo, cobre, chumbo, mercúrio, níquel, prata,
zinco), frequentemente encontrados em águas residuárias industriais. Além de ser tóxicos, esses
metais ainda se acumulam no ambiente aquático, aumentando sua concentração na biomassa de
organismos à medida que se evolui na cadeia alimentar (fenômeno de bio magnificação). Outros

13
Micropoluentes inorgânicos que apresentam riscos à saúde pública, conforme sua concentração,
são os cianetos e o flúor. Entre os compostos orgânicos tóxicos destacam-se os defensivos
agrícolas, alguns detergentes e uma ampla gama de novos produtos químicos elaborados
artificialmente para uso industrial (compostos organossintéticos).

g) Ferro e Manganês

Os elementos ferro e manganês, por apresentarem comportamento químico semelhante, podem ter
seus efeitos na qualidade da água abordados conjuntamente. Muito embora esses elementos não
apresentem inconvenientes à saúde nas concentrações normalmente encontradas nas águas
naturais, eles podem provocar problemas de ordem estética (manchas em roupas ou em vasos
sanitários) ou prejudicar determinados usos industriais da água.

i) Fósforo

O fósforo é, em razão da sua baixa disponibilidade em regiões de clima tropical, o nutriente mais
importante para o crescimento de plantas aquáticas. Quando esse crescimento ocorre em excesso,
prejudicando os usos da água, caracteriza-se o fenômeno conhecido como eutrofização. Em águas
naturais não poluídas, as concentrações de fósforo situam-se na faixa de 0,01 mg/L a 0,05 mg/L.

5.1.2.3. Características biológicas


a) Microrganismos de importância sanitária

O papel dos microrganismos no ambiente aquático está fundamentalmente vinculado à


transformação da matéria dentro do ciclo dos diversos elementos. Tais processos são realizados
com o objetivo de fornecimento de energia para a sobrevivência dos microrganismos. Um dos
processos mais significativos é a decomposição da matéria orgânica, realizada principalmente por
bactérias. Esse processo é vital para o ambiente aquático, na medida em que a matéria orgânica
que ali chega é decomposta em substâncias mais simples pela ação das bactérias. Como produto
final, obtêm-se compostos minerais inorgânicos, como, por exemplo, nitratos, fosfatos e sulfatos
que, por sua vez, são reassimilados por outros organismos aquáticos.

O processo de decomposição, também designado como estabilização ou mineralização, é um


exemplo do papel benéfico cumprido pelos microrganismos. O problema de transmissão de

14
enfermidades é particularmente importante no caso de águas de abastecimento, as quais devem
passar por um tratamento adequado, incluindo desinfeção.

b) Bactérias coliformes

As bactérias do grupo coliforme habitam normalmente o intestino de homens e de animais,


servindo, portanto, como indicadoras da contaminação de uma amostra de água por fezes. Como
a maior parte das doenças associadas com a água é transmitida por via fecal, isto é, os organismos
patogênicos, ao serem eliminados pelas fezes, atingem o ambiente aquático, podendo vir a
contaminar as pessoas que se abasteçam de forma inadequada dessa água, conclui-se que as
bactérias coliformes podem ser usadas como indicadoras dessa contaminação. Quanto maior a
população de coliformes em uma amostra de água, maior é a chance de que haja contaminação por
organismos patogênicos.

Uma grande vantagem no uso de bactérias coliformes como indicadoras de contaminação fecal é
sua presença em grandes quantidades nos esgotos domésticos, já que cada pessoa elimina bilhões
dessas bactérias diariamente. Dessa forma, havendo contaminação da água por esgotos
domésticos, é muito grande a chance de se encontrar coliformes em qualquer parte e em qualquer
amostra de água, o que não acontece, por exemplo, no caso de metais pesados, que se diluem
bastante na massa líquida e muitas vezes não são detetados nas análises de laboratório.

c) Comunidades hidrobiológicas

As principais comunidades que habitam o ambiente aquático são:

➢ Plâncton: organismos sem movimentação própria, que vivem em suspensão na água,


podendo ser agrupados em fitoplâncton (algas, bactérias) e zooplâncton (protozoários,
rotíferos, crustáceos);
➢ Bentos: é a comunidade que habita o fundo de rios e lagos, sendo constituída
principalmente por larvas de insetos e por organismos anelídeos, semelhantes às minhocas.
Pelo fato de serem muito sensíveis e apresentarem reduzida locomoção e fácil visualização,
os organismos bentónicos são considerados excelentes indicadores da qualidade da água;
➢ Nécton: é a comunidade de organismos que apresenta movimentação própria, sendo
representada principalmente pelos peixes. Além do seu significado ecológico, situando-se

15
no topo da cadeia alimentar, os peixes servem como fonte de proteínas para a população e
podem atuar como indicadores da qualidade da água.

d) Algas
As algas desempenham um importante papel no ambiente aquático, sendo responsáveis pela
produção de grande parte do oxigênio dissolvido do meio; em grandes quantidades, como resultado
do excesso de nutrientes (eutrofização), trazem alguns inconvenientes: sabor e odor; toxidez;
turbidez e cor; formação de massas de matéria orgânica que, ao serem decompostas, provocam a
redução do oxigênio dissolvido; corrosão; interferência nos processos de tratamento da água;
aspecto estético desagradável.

5.2. Microbiologia da água


Estudo dos microrganismos de água doce, A água pode servir como habitat para muitos
microrganismos, mais de modo geral, os vírus, os cistos e os oocistos de protozoários e ovos de
helmintos não se reproduzem na água. Entretanto, algumas bactérias e mesmo algumas amebas
podem se multiplicar, ainda que temporariamente, em condições favoráveis, como elevadas
temperaturas e baixos teores de cloro residual. A facilidade de transmissão de doenças estará
associada a maior sobrevivência na água e resistência aos processos de tratamento.
Microrganismos patogénicos presentes na água: Bactérias, Fungos, Protozoários e Vírus.

5.2.1. Enfermidades de transmissão hídrica (Causas)


Segundo o Boletim da República de Moçambique (art.º 1) água potável é aquela que é própria para
o consumo humano, pelas suas qualidades químicas, físicas e biológicas, e que não periga a saúde
pública. Os perigos são definidos como agentes físicos, biológicos, químicos, radiológicos ou
restrição ou interrupção do abastecimento que podem causar danos na saúde pública. Os eventos
perigosos são definidos como eventos que introduzem perigos (ou impedem a sua remoção) no
sistema de abastecimento de água para consumo humano. Por exemplo, chuvadas intensas (evento
perigoso) podem promover a introdução de agentes patogénicos microbianos (perigos) na água da
Origem. (CRA, 2015).

Essas doenças transmitem-se principalmente por meio de excretas de origem humana ou animal,
por sua introdução nas fontes de água, tornando-a imprópria para o consumo humano. A

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transmissão dessas doenças pode ocorrer de forma directa ou indirecta: na ingestão directa da água,
no preparo dos alimentos, na higiene pessoal, na agricultura, na indústria e lazer.

Tabela 1: Enfermidades de transmissão hídrica (Causas)

Enfermidades Causas (Agentes Causador)


Origem Bacteriana
Febres tifóide, Salmoneloses e paratifóide Salmonella typhi/ Salmonella paratyphi
Meningites, infecções no trato urinário, Escherichia Coli
bacteriémica e doenças diarreicas
Legionella Pneumophila, febre de pontiac e L. Pneumophila
legionelose
Infecções humanas e de animais dos pulmões, Macrófagos preenchidos com Mycrobacterium
nódulos linfáticos, pele, ossos e tratos Avium Comolex (MAC)
gastrointestinais e geniturinário
Fibrose cística, doenças brandas em indivíduos Pseudomonas aeruginosas
saudáveis infecções secundarias em ferimentos
ou cirurgia
Shigelose Shigella spp
Yersinose Yersinia enterocolitica
Enfermidades de febres, diarreias infecciosas e Campylobacter jejuni
dor abdominal
Origem Viral
Gastroenterite, Conjuntivite, Faringite Adenovírus (∅=70𝑛𝑚), Norovírus
Gastroenterite aguda Calicivírus (vírus do tipo Norwaik) (∅=32𝑛𝑚)
Febre branda, miocardites, meningoencefalites, Enterovírus (∅=30𝑛𝑚), Poliovírus
poliomielite falha múltipla de órgãos em
neonatos
Gastroenterite viral aguda, diarreia aguda Rotavírus (∅=40𝑛𝑚)
Hepatite A Vírus da Hepatite A (∅=27−32𝑛𝑚)
Hepatite E Vírus da Hepatite E (∅=32−34𝑛𝑚)

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Origem parasitária protozoário
Giardíase e criptosporidíase, Severa diarreia, Cryptosporidium parvum (∅=4−6𝜇𝑚
diarreia branda
Dracunculíase Dracunculus medinensis
Disenteria, abcesso amebiano do fígado Entamoeba histolytica, Entamoeba coli
(amebíase)
Enfermidades nutricionais (síndrome de ma Giardia intestinales (syn. G. lamblia)
absorҫão)
Origem Verminosa
Esquistossomose (xistosa) Schistosoma mansoni
Ascaridíase (lombrigas ou bichas) Ascaris lumbricoide
Taeníase (solitária) Enterobius
Oxiuríase Enterobius vermiculares ou Oxiures vermiculare
Ancilostomíase (amarelão) Ancylostoma duodenale/ Necatur americanos
Doenças transmitidas por vectores que se relacionam com a água
Malária Parasita Plasmodium, seu vector: anofelino
(Anopheles)
Dengue Flavivirus. A, seu vector: Aedes aegypti
Febre-amarela Vírus chamado Flavivirus, seu vector: Aedes
aegypti

5.2.2. Bactérias indicadoras de contaminação


De acordo com OMS (1995), as bactérias indicadoras de contaminação são assim mencionadas:

A presença de microrganismo indicador é sinal potencial da presença de microrganismo que causa


doenças gastrointestinais e tem sido utilizado com sucesso ao longo do tempo. As bactérias
indicadoras de contaminação fecal mais utilizadas actualmente são: coliformes termotolerantes,
Escherichia coli e enterococo ou estreptococo fecal.

Escherichia coli: bactéria pertencente à família Enterobacteriaceae, caracterizada pela presença


das enzimas B-galactosidase e B-glicuronidase. Cresce em meio complexo a 44-45ºC, fermenta a

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lactose e manitol com produção de ácido e gás e produzindo a partir do aminoácido triptofano. É
abundante em fezes humanas e de animais, tendo somente, sido encontrada em esgotos, efluentes,
águas naturais e solos que tenham recebido contaminação fecal recente (Resolução CONAMA
274/00).

Enterococos: bactérias do grupo dos estreptococos fecais, pertencente ao género Enterococcus


(previamente considerado estreptococos do grupo D) o qual se caracteriza pela alta tolerância às
condições adversas de crescimento, tais como: capacidade de crescer na presença de 6,5% de
cloreto de sódio, a pH 9,6 e nas temperaturas de 10º e 45ºC. A maioria das espécies de
Enterococcus é de origem fecal humana, embora possam ser isoladas de fezes de animais
(Resolução CONAMA 274/00).

5.3. Parâmetros da qualidade da água


Parâmetros de qualidade de água podem ser entendidos como sendo os limites de tolerância das
substâncias presentes na água de modo a garantir-lhe as características de água potável. A água
pura, no sentido rigoroso do termo, não existe na natureza. Por ser um óptimo solvente, ele nunca
é encontrado em estado de absoluta pureza.

A água contém, diversos componentes, os quais provêm do próprio ambiente natural ou foram
introduzidos a partir de actividades humanas.
São indicadores da qualidade da água e constituem impurezas quando alcançam valores superiores
aos estabelecidos para determinado uso.

As impurezas presentes na água é que vão determinar suas características físicas, químicas e
biológicas. As características das águas naturais, bem como as que devem ter água ao consumidor,
determinam o grau de tratamento e parâmetros necessário para cada uso. Os paramentos para
definir a qualidade das águas de domínio pública, serão aferidas em função da sua categoria, tendo
em consideração o objectivo último do seu uso, quer este seja, comum ou privativo.

São estabelecidas as seguintes categorias de qualidade das águas:

1. Água para fins de consumo humano;


2. Água para fins agropecuários;
3. Água para fins de piscicultura;
4. Água para fins recreativos (natação, esqui aquático e mergulho).

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Os parâmetros essenciais que devem caracterizar a qualidade da água, em função da sua categoria,
para averiguar a conformidade das águas com os padrões de qualidade e para permitir a
determinação de esquemas de tratamento adequados, as águas serão classificadas qualitativamente
observando se os parâmetros fixados abaixam:

1. Água para fins de consumo humano:

Deve se ter conta, os parâmetros de qualidade da água param consumo humano e os parâmetros
fixados na regulamentação específica sobre a matéria.

2. Água para fins agropecuários:

Deve se ter conta, os intervalos recomendados e classificação da água para fins de rega.

a) Pecuária:

Deve se ter em conta, as bactérias (<40⁄100 ml) e baixas concentrações de substâncias tóxicas.

b) Irrigação:

Deve se ter em conta:

➢ Total de sólidos dissolvidos < 500 𝑚𝑔/𝑙;


➢ Total de bactérias <ou = 100000/100 𝑚𝑙;
➢ Salinidade: média através de condutividade elétrica da água (CE água, Ms/Cm);
➢ Níveis de absorção de sódio (SAR) da água de rega.

3. Água para fins de piscicultura

Deve se ter em conta:

➢ PH com um intervalo de 6.5 − 8.5. ;


➢ Oxigénio dissolvido 6-7 mg/l (15OC); 4-5 ml/l (20º C).

4. Água para fins recreativos (Natação, esqui aquático e mergulho)

Deve se ter em conta:


20
➢ Nulo de cloro, cheiro, gosto e turvação;
100
➢ Bactérias totais < 100 𝑚𝑙;

➢ Coliformes < 100/100 𝑚𝑙.


5. Água para fins de processamento de alimentos, bebidas alcoólicas e nas alcoólicas

Deve se ter em conta, água para fins de consumo humano.

5.3.1. Índices dos parâmetros da qualidade de água – OMS


Tabela 2: Índices dos parâmetros da qualidade de água – OMS

Parâmetro Unidade OMS


Microbiológicos
Coliformes fecais UFC/100 ml 0
Coliformes totais UFC/100 ml 0
Bactérias Heterotróficos UFC/ml -
Químicos De Importância
Inorgânicos
Antimónio mg/L 0.005
Arsénio mg/L 0.01
Bário mg/L 0.7
Boro mg/L 0.3
Cádmio mg/L 0.003
Cianuro mg/L 0.07
Cobre mg/L 2
Cromo mg/L 0.05
Fluoruro mg/L 1.5
Manganésico mg/L 0.5
Mercúrio mg/L 0.001
Molibdeno mg/L 0.07
Níquel mg/L 0.02
Nitrato mg/L 50

21
Nitrito mg/L 3
Chumbo mg/L 0.01
Selénio mg/L 0.01
Orgânicos
Tetracloruro de carbono μg/L 2
Diclorometano μg/L 20
1,1 dicloroetano μg/L NDS
1,2 dicloroetano μg/L 30
1,1,1 tricloroetano μg/L 2
Cloruro de vinilo μg/L 5
1,1 dicloroeteno μg/L 30
1,2 dicloroeteno μg/L 50
Tricloroeteno μg/L 70
Tetracloroeteno μg/L 40
Benceno μg/L 10
Tolueno μg/L 700
Xilenos μg/L 500
Etilbenceno μg/L 300
Estireno μg/L 20
Benzopireno μg/L 0.7
Monoclorobenceno μg/L 300
1,2 diclorobenceno μg/L 1
1,3 Diclorobenceno μg/L NDS
1,4 Diclorobenceno μg/L 300
Triclorobencenos μg/L 20
Adipato de di (2etilhexilo) μg/L 80
Ftalato de di (2etilhexilo) μg/L 8
Acrilamida μg/L 0.5
Epiclorhidrina μg/L 0.4
Hexaclorobutadieno μg/L 0.6

22
EDTA μg/L 200
Ac. Nitrilotriacético μg/L 200
μg/L 2

5.3.2. Índices dos parâmetros da qualidade de água – SNS


Parâmetros da qualidade de água são indicadores de qualidade de águas e constituem impurezas
quando alcançarem valores superiores aos estabelecidos para determinado uso, os seguintes
parâmetros: Físicos, Químico e Biológico.

Os padrões de qualidade de água usados nos países individualmente são influenciados pelas
autoridades nacionais e factores económicos. Mas as políticas e conveniências ameaçam por um
perigo a saúde pública (OMS,1984). No caso de Moçambique, o LNHAA (Laboratório Nacional
de Higiene de Águas e Alimentos) a FIPAG e MISAU, são as instituições de tutela na elaboração
das normas próprias para qualidade de água.

5.3.2.1. Parâmetro de qualidade de água destinada ao consumo humano e seus riscos para a
saúde pública (Fonte: MISAU (2004))
Deve se ter em conta:

1. Parâmetros microbiológicos

Tabela 3: Parâmetros microbiológicos. Fonte: MISAU (2004).

Limite máximo Risco para a saúde


Unidades
Parâmetro admissível pública
Coliformes MNP/100 𝑚𝑙
Doenças
totais Ausente No de colónias/
gastrointestinais
100𝑚𝑙
Coliformes MNP/100 ml
Doenças
fecais Ausente No de colónias/
gastrointestinais
100𝑚𝑙
Vibrio Doenças
Ausente 1000 𝑚𝑙
cholerae gastrointestinais

23
2. Parâmetros físicos e organolépticos

Tabela 4: Tabela: Parâmetros físicos e organolépticos. Fonte: MISAU (2004)

Parâmetro Limite máximo Unidades Risco para a saúde


admissível pública
Cor 15 TCU Aparência
Cheiro Inodor Sabor
Condutividade 50-2000 𝜇ℎ𝑚/𝑐𝑚 -
Ph 6,5-8,5 Sabor, corrosão, irritação
da pele
Sabor Insípido -
Sólidos 100 𝑚𝑔/l Sabor, corrosão
Turvação 5 NTU Aparência, dificulta a
desinfeção

3. Parâmetros químicos

Tabela 5: Parâmetros químicos. Fonte: MISAU (2004)

Limite máximo
Parâmetro admissível Unidades Risco para a saúde pública
Amoníaco 1,5 mg/l Sabor e cheiro desagradável
Afecta o sistema locomotor e causa anemia
Alumínio 0,2 mg/l
Arsénico 0,01 mg/l Cancro da pele
Antimónio 0,005 mg/l Cancro no sangue
Bário 0,7 mg/l Vasoconstrição e doenças cardiovasculares
Boro 0,3 mg/l Gastroenterites e eritremas
Cademio 0,003 mg/l Vasoconstrição urinária
Cálcio 50 mg/l Aumenta a dureza da água
Chumbo 0,01 mg/l Intoxicação aguda
Cianeto 0,07 mg/l Bócio e paralisia
Cloretos 250 mg/l Sabor desagradável corrosão
Cloro residual 0,2-0,5 mg/l Sabor e cheiro desagradável
total
Cobre 1,0 mg/l Irritação intestinal
mg/l Gastroenterites, hemorragia e convulsões
Crómio 0,05

24
Dureza total 500 mg/l Depósitos, corrosão e espumas
mg/l Aumenta proliferação dos
Fósforo 0,1 microorganismos
Ferro total 0,3 mg/l Necrose hemorrágica
Fluoreto 1.5 mg/l Afecta o tecido esquelético
mg/l Aumenta proliferação dos
Matéria 2.5 microorganismos
orgânica
Magnésio 50 mg/l Sabor desagradável
mg/l Anemia, afecta o sistema nervoso
Manganês 0,1
Mercúrio 0,001 mg/l Distúrbios renais
Molibdénio 0,07 mg/l Distúrbios urinários
Nitrito 0,3 mg/l Reduz oxigénio no sangue
Nitrato 50 mg/l Reduz oxigénio no sangue
Níquel 0,02 mg/l Eczemas e intoxicações
Sódio 200 mg/l Sabor desagradável
Sulfato 250 mg/l Sabor e corrosão
Selénio 0,01 mg/l Doenças cardiovasculares
Sólidos totais 1000 mg/l Sabor desagradável
dissolvidos
Zinco 3 mg/l Aparência e sabor desagradável
mg/l Intoxicação e distúrbios de várias ordens
Pesticidas 0,0005
totais
Hidrocarbonetos 0,0001 mg/l Sabor desagradável e Intoxicação e
aromáticos distúrbios de varia ordem
policiclicos

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5.3.2.2. Para a água destinada ao consumo humano fornecida por fontes de abastecimento
público sem tratamento
1. Parâmetros microbiológicos

Tabela 6: Parâmetros microbiológicos. Fonte: MISAU (2004)

Parâmetro Limite máximo Unidades


admissível
Coliformes - MNP/100 ml
totais No de colónias/
100ml
Coliformes 0-10 MNP/100 ml
fecais No de colónias/
100ml
Vibrio Ausente 1000 ml
cholerae

2. Parâmetros físicos e organolépticos

Tabela 7: Parâmetros físicos e organolépticos. Fonte: MISAU (2004).

Parâmetro Limite máximo Unidades


admissível
Cor 15 TCU
Cheiro Inodor
Condutividade 50-2000 𝜇ℎ𝑚/𝑐𝑚
Ph 6,5-8,5
Sabor Insípido
Sólidos 100 𝑚𝑔/l
Turvação 5 NTU

3. Parâmetros químicos

Tabela 8: Parâmetros químicos. Fonte: MISAU (2004)


Parâmetro Limite máximo Unidades
admissível
Amoníaco 1,5 𝑚𝑔/𝑙
Arsénico 0,01 𝑚𝑔/𝑙
Antimónio 0,005 𝑚𝑔/𝑙
Bário 0,7 𝑚𝑔/𝑙
Boro 0,3 𝑚𝑔/𝑙
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Cademio 0,003 𝑚𝑔/𝑙
Cálcio 50 𝑚𝑔/𝑙
Chumbo 0,01 𝑚𝑔/𝑙
Cianeto 0,07 𝑚𝑔/𝑙
Cloretos 250 𝑚𝑔/𝑙
Cobre 1,0 𝑚𝑔/𝑙
Crómio 0,05 𝑚𝑔/𝑙
Dureza total 500 𝑚𝑔/𝑙
Fósforo 0,1 𝑚𝑔/𝑙
Ferro total 0,3 𝑚𝑔/𝑙
Fluoreto 1.5 𝑚𝑔/𝑙
Matéria orgânica 2.5 𝑚𝑔/𝑙
Magnésio 50 𝑚𝑔/𝑙
Manganês 0,1 𝑚𝑔/𝑙
Mercúrio 0,001 𝑚𝑔/𝑙
Molibdénio 0,07 𝑚𝑔/𝑙
Nitrito 0,3 𝑚𝑔/𝑙
Nitrato 50 𝑚𝑔/𝑙
Níquel 0,02 𝑚𝑔/𝑙
Sódio 200 𝑚𝑔/𝑙
Sulfato 250 𝑚𝑔/𝑙
Selénio 0,01 𝑚𝑔/𝑙
Sólidos totais 1000 𝑚𝑔/𝑙
Zinco 3 𝑚𝑔/𝑙
Pesticidas totais 0,0005 𝑚𝑔/𝑙

5.4. Fenómeno de eutrofização das águas


5.4.1. Conceitualização
O termo vem do grego “eu”, que significa bom, verdadeiro, e “trophien” que significa nutrir.
Assim eutrófico significa bem nutrido. Chama-se Eutrofização ao processo de adução e aumento
da concentração de nutrientes. Para Dezotti (2008 apud Oenema e Roest, 1998), a eutrofização é
um processo lento que ocorre na natureza, relacionado ao envelhecimento dos corpos receptores,
que pode ser acelerado com o lançamento de macronutrientes, advindos das actividades humanas.
Assim, a eutrofização leva a maiores problemas em corpos receptores estagnados (lagos,
reservatórios, albufeiras, etc.) podendo também ocorrer em ambiente marinho (estuário) e até
mesmo em cursos d’água, particularmente naqueles de baixo fluxo. (Ibid.).

27
O florescimento aquático excessivo causa a deteorização do corpo receptor, odor pronunciado
decorrente da decomposição anaeróbica, altera a cor e a turbidez da água, reduz o teor de oxigénio
dissolvido, causa assoreamento de canais e de vias de navegáveis, podendo, até mesmo, levar a
uma maior perda de água por evapotranspiração.

As algas são organismos autógrafos capazes de produzir matéria orgânica e oxigénio a partir de
matéria inorgânica e por acção de energia solar (fotossíntese). Para o seu metabolismo as algas
também precisam de energia que é obtida por oxidação de matéria orgânica (o mesmo processo
ocorre quando as algas morrem ou são consumidas). Para o seu metabolismo as algas precisam,
para além dos elementos mencionados (𝐻2 0, 𝐶02 , Energia), outros elementos como o enxofre,
nitrogénio e fósforo (chamados nutrientes).

5.4.2. Classificação
Considerando a evolução trófica dos corpos receptores, esses podem ser classificados como:

1. Oligotróficos – águas limpas não-fertilizadas;


2. Mesotróficos – águas moderadamente fertilizadas;
3. Eutróficos – águas em pleno processo de eutrofização, isto é, excessivamente fertilizadas;
4. Hipertróficos – águas em estágio avançado de eutrofização.

Além dos inconvenientes do crescimento de algas, ocorre ainda, no meio eutrófico, o


desenvolvimento de macrófitas que ocupam grandes extensões do corpo receptor e são de difícil
remoção.

5.4.3. Processo do Fenómeno de eutrofização

Para Dezotti (2008), o processo de eutrofização ocorre quando uma determinada massa de água
pobre em nutrientes (Oligotróficos) os adquire, há toda uma série de alterações que ocorrerão:

➢ O aumento da concentração de nutrientes favorece o crescimento e a multiplicação do


fitoplâncton, o que provoca o aumento da turbidez da água;
➢ Devido a tal, a luz solar não chega às plantas que se encontram submersas, não ocorrendo
a fotossíntese;
➢ O desaparecimento da vegetação aquática submersa acarreta a perda de alimento, habitats
e oxigénio dissolvido;

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➢ Embora os lagos eutróficos possuam elevada quantidade de fitoplâncton, que produz
oxigénio através da fotossíntese, a sua distribuição superficial provoca nesse sector uma
saturação em oxigénio, que se escapa para a atmosfera, pelo que não restabelece o oxigénio
dissolvido ao nível das águas profundas;
➢ O fitoplâncton tem taxas de crescimento e reprodução muito elevadas, formando tapetes
verdes à superfície dos cursos de água, principalmente nos sectores com correntes fracas.
Quando estes organismos morrem, depositam-se no fundo, formando espessos depósitos;
➢ O aumento de detritos leva a um aumento de decompositores (essencialmente bactérias),
cujo crescimento exponencial provoca uma diminuição do oxigénio dissolvido (consumido
na respiração);
➢ O esgotamento do oxigénio leva à morte por asfixia de peixes e crustáceos, mas não de
bactérias, que recorrem à fermentação e respiração anaeróbia;
➢ As bactérias proliferam e aproveitam o oxigénio, cada vez que este está disponível,
mantendo a água com permanente carência em oxigénio;
➢ Pode ainda ocorrer oxidação da matéria orgânica e de outros compostos, contribuindo
também para a diminuição do oxigénio dissolvido e agravamento da eutrofização.

5.4.4. Subdivisão da Eutrofização (Tipos)


São compreendidos em:
1. Eutrofização natural: Ocorre ao longo de grandes períodos de tempo, como parte do
processo de sucessão ecológica que se verifica durante a evolução dos ecossistemas;
2. Eutrofização Cultural: Resulta de actividades humanas (origem antrópica) e verifica-se
junto a zonas urbanas ou agrícolas. Os nutrientes que atingem o lago são principalmente
nitratos e fosfatos com origem na agricultura e na pecuária, na erosão do solo e nos efluentes
das estações de tratamento.

5.4.5. Combate a Eutrofização


A eutrofização pode ser combatida essencialmente em:

1. Evitar a entrada nos cursos de água de elevadas quantidades de nutrientes e sedimentos


(longo prazo);
2. Identificar as principais fontes de eutrofização, com destaque para as do dia-a-dia;

29
3. Proibir o uso de detergentes fosfatados, pois o fosfato é um dos principais nutrientes
responsáveis pelo desenvolvimento do fitoplâncton;
4. Modernizar os processos de tratamento das águas residuais, que permitam recolher a
maioria dos nutrientes, evitando a eutrofização a jusante do ponto de descarga;
5. Controlar as águas de escorrência das explorações agrícolas e pecuárias, pois apresentam
elevadas concentrações de nutrientes;
6. Controlar os sedimentos das áreas de construção e extração mineira que contribuem para o
aumento da turbidez dos cursos de água;
7. Controlar a erosão das ribeiras, com reposição da vegetação ribeirinha, e controlo da erosão
nos vales, para reduzir o transporte de sedimentos em suspensão;
8. Implementar medidas de recuperação de lagos e cursos de água eutrofizados:
8.1. Arejamento artificial – introdução de oxigénio, através de uma rede de tubos plásticos
numa massa de água que se pretende tratar. Tal permite obter uma decomposição mais
rápida dos detritos acumulados, melhorando a qualidade da água e fomentando o regresso
das plantas aquáticas e das algas. Contudo é um sistema dispendioso e de difícil
funcionamento.
8.2. Remoção das plantas arrancadas devido ao rolamento dos sedimentos ao longo do leito do
rio, e que ficaram à superfície. É necessário retirá-las, com o auxílio de redes, para não
obstruírem a passagem da luz solar. No que respeita ao plâncton não é possível recorrer a
tal método, uma vez que rapidamente obstrui as redes e os filtros, impedindo a passagem
de água;
8.3. Dragagens dos sedimentos – remoção dos depósitos que cobrem as plantas aquáticas.
Poderá aumentar a eutrofização, uma vez que, ao mexer-se nos sedimentos, aumenta-se a
turbação da água.

Um crescimento reduzido de algas não traz problemas (podendo até servir de alimento para os
organismos na água) no entanto, caso existam concentrações elevadas de nutrientes e ao mesmo
tempo suficiente luz pode-se verificar um crescimento em excessivo de algas. Este crescimento
forte pode turvar a água e lhe atribuir uma certa coloração (verde, castanha ou vermelha). Muitas
algas na água podem, portanto, prejudicar a utilização da água para a recreação e aumentar o custo
do respetivo tratamento.

30
Num determinado manancial de água superficial, não é possível evitar o crescimento de algas, no
entanto, pode-se diminuir a velocidade de crescimento destas por diminuição das concentrações
de nutrientes na água (por exemplo eliminar a adição artificial de nutrientes). Importa notar que o
fósforo, mesmo quando presente em menores concentrações (comparado com o azoto), já é capaz
de provocar a eutrofização. Uma vez que a descarga do azoto em águas superficiais é difícil de
controlar, na prática o combate a eutrofização em águas superficiais é feito por meio da redução
das descargas de fósforo (pela remoção deste nutriente das águas residuais).

5.5. Contaminantes da água. Fontes e implicações a saúde humana


Tabela 9: Contaminantes da água Fontes e implicações a saúde humana. BASTOS et ai. (2003).

MCL 0,03mg/l

Riscos e Efeitos Possíveis efeitos carcinogénicos no fígado e problemas no sistema


Metoxicloro

reprodutivo.

Agrícola: Frutas hortaliças

Doméstico/residencial: Pulgas, mosquitos, baratas e outros insectos.


Origem
Industrial: Criação de aves.

Substância: Inseticida

MCL 20 μg/l

Risco e Efeitos Evidência reduzida de toxicidade e carcinogenicidade.


Propanil

Agrícola: Elevada mobilidade no solo e afinidade pela água.

Origem Doméstico/residencial: Controle de ervas daninhas no cultivo do arroz.

Substância: Tóxicos, Herbicida.


En

En

ulf

0.33 mg/l
an
do

do

MCL
ss

31
Riscos e Efeitos Os rins são o órgão-alvo sua toxicidade, Pode perturbar os sistemas
endócrinos receptores por liga – se a receptores para estrogénio.

Agrícola: Utlizados em diversas culturas para controlar pragas.

Doméstico/residencial: Insectos, controle das moscas tse – tsé.


Origem

Substância: Inseticida.

MCL 0,05mg/l

Riscos e Efeitos Contaminação da água devido a efluentes de indústrias de aço e celulose,


Cromo

erosão de depósitos naturais e no ponto de vista nutricional - não-tóxico


e pobremente absorvido no organismo.

Origem Substância: Química muito resistente à corrosão.

MCL 0,2 mg/l


(isómeros)
Clordano

Riscos e Efeitos Problemas no fígado e no sistema Nervoso, Toxicidade problemas de


agudo fígado e moderada, rins.

Origem Substância: Pesticida.

MCL 0,02mg/l

Risco e Efeitos Intoxicações leves que causaram sintomas como dores, febre, insónia e
náuseas.
Niquel

Industrial: Empregado na fabricação de aço inoxidável, moedas,


revestimentos metálicos.

Substância: Metal de transição


lina

6 μg/l
Mo

MCL
to

32
Riscos e Efeitos Evidência reduzida de toxicidade e carcinogenicidade.

Agrícola: pouco persistente na água e no solo, eliminação de ervas


daninhas em arrozais

Substância: Herbicida (arroz)


Origem

MCL
0,01 mg/l
Tetracloroeteno

Riscos e Efeitos Problemas no fígado e rins.

Industrial: Efluentes industriam, lavagem a seco, produtos de limpeza e


de borracha laminada
Origem
Substância: Líquido incolor e volátil a temperatura ambiente.

MCL 0,2 mg/l

Riscos e Efeito Baixa toxicidade.


Permetrina

Agrícola: protecção de cultivas, elevada afinidade com o solo e reduzida


afinidade com a água.

Origem Doméstico/residencial: saúde pública (combate a mosquitos e em


depósitos de água).

Substância: Inseticida.

33
5.6. Procedimento para testagem da água
Os procedimentos a seguir para a testagem de água envolvem análises laboratoriais em amostras
coletadas de um vasto sistema de instalações de água potável. De acordo com a seguinte sequência
de passo a seguir:
1° 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑜 − Definicão de objectivos;
2° 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑜 − Colecta de amostras;

3° 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑜 − Validação de amostras;

4° 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑜 − Preservação de amostras;

5° 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑜 − Controle de qualidade;

6° 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑜 − Processamento de resultados obtidos.

5.6.1. Definição de Objectivos


A definição dos parâmetros a serem monitorados depende dos objetivos do trabalho a ser realizado,
esses objetivos podem ser, por exemplo: monitorar a qualidade da água para programas de
despoluição ou preservação de mananciais, planear o uso dos recursos hídricos, fornecer
informações sobre a variação sazonal da qualidade da água, para dar subsídios à escola da técnica
de tratamento a ser utilizada visando ao abastecimento.

Público, verificar o atendimento aos padrões de qualidade de água para usos diversos, avaliar a
eficiência dos diferentes processos de tratamento de água, obter pesquisas científicas.

A definição clara e precisa dos objetivos facilitara a realização de todas actividades, dependendo
da finalidade do trabalho, selecionam-se os tipos de exames a serem realizados (bacteriológicos,
físicos, químicos) e os respetivos parâmetros mais adequados para caracterizar a água.

5.6.2. Colecta de amostras


Para serem representativas, as amostras precisam ser réplicas, as mais exactas possíveis, do
ambiente físico, químico e biológico de onde foram colectadas, ou seja, água colectada deve
representar a qualidade da água amostrada, em termos de concentração de componentes
examinados.

34
Para assegurar a representatividade das amostras dois aspectos principais devem ser observados:

1. A escolha dos pontos de amostragem;


2. Frequência das amostras.

No caso da avaliação da qualidade da água bruta em um rio ou represa, por exemplo, deve-se levar
em conta que a qualidade da água pode variar temporal e espacialmente, quando afectada por
fontes de poluição ou de diluição difusa ou pontual, tais como a mistura com um afluente, que
apresenta água com qualidade diferente.

5.6.2.1. Requisitos básicos param a colecta de amostras


Obedece os seguintes procedimentos:
1. Planeamento da amostragem com a determinação prévia dos pontos de colecta e respectivo
mapeamento em mapas cartográficos;
2. As amostras colectadas para análises bacteriológicas devem ser feitas antes de qualquer
colecta para outro tipo de análise, considerando o risco de contaminação do local de
amostragem, devendo ser acondicionadas e transportadas em frascos devidamente
esterilizados e identificados;
3. Não devem ser colectadas amostras compostas para análises bacteriológicas, devido às
variações no fluxo e composição de efluentes lançados no corpo de água ou contaminação
do mesmo por substância tóxica ou nutritiva;
4. As amostras destinadas às análises físico-químicas devem ser acondicionadas em frascos
de polietileno, devidamente limpos, secos e identificadas a fim de se evitar erros;
5. As colectas de amostras devem ser registadas em fichas próprias com as seguintes
informações: local do ponto de colecta, tipo de manancial, ocorrência de fenómenos que
possam interferir na qualidade da água, data e horário da colecta, volume colectado,
determinações efetuadas no momento da colecta (temperatura, condutividade, pH, e cloro
residual livre) e nome do responsável pela amostragem;
6. A amostragem deve ser realizada directamente do sistema de distribuição e não de caixas,
reservatórios, cisternas etc.;
7. As amostras colectadas para análise bacteriológica devem ser transportadas em caixas
térmicas, em temperatura em torno de 10ºC e o período de transporte deve ser de 6 (seis)

35
horas, sendo que o tempo para a realização das análises não deve exceder as 24 (vinte e
quatro) horas;
8. A colecta de água bruta deve ser realizada em ponto estratégica do manancial de captação
ou, quando não é possível, na chegada da água bruta na Estação de Tratamento de Água –
ETA;
9. A colecta de água tratada deve ser realizada directamente da torneira, fazendo-se a
desinfeção com hipoclorito de sódio a 10%;
10. Sempre desprezar os 15 (quinze) primeiros segundos de vazão da água da torneira ou
bomba escolhida como ponto de colecta.

5.6.2.2. Técnicas de colectas de amostras


As técnicas de amostragem variam de acordo com o tipo do corpo de água a ser analisado e a
finalidade das análises:

1. Colectas para análises físico-químicas

As colectas para a realização de análises físico-químicas devem ser realizadas em frascos de


polietileno, limpos e secos, com capacidade mínima de um litro, devidamente vedados e
identificados, tendo-se o cuidado de enxaguá-lo duas a três vezes com a água a ser colectada e
completar o volume da amostra.

2. Colecta para análises bacteriológicas

A amostragem deve ser feita utilizando-se frascos de vidro neutro ou plástico autolavável, não
tóxico, boca larga e tampa a prova de vazamento. O período entre a colecta da amostra e o início
das análises bacteriológicas não devem ultrapassar o período de 24 horas e a sua conservação é
feita em refrigeração a uma temperatura de 4 a 10º C. Antes da esterilização do frasco de colecta
para amostras tratadas, recomenda-se adicionar ao mesmo 0,1 ml de uma solução de tiossulfato de
sódio a 1,8% (agente neutralizador de cloro residual).

36
5.6.2.3. Classificação do Tipo colecta
1. Colecta em águas superficiais
Nesse tipo de colecta, procura-se seleccionar pontos que sejam representativos do corpo de água,
evitando-se a colecta de amostras próximo às margens, em águas paradas ou da superfície. Deve
se colher, de preferência, mais de uma amostra em pontos diversos.
1.1.Colecta manual
Obedece os seguintes procedimentos:
1. Retirar a tampa do frasco com o papel protector;
2. Segurar o frasco pela base, mergulhando-o rapidamente com a boca para baixo, de forma
a atingir uma profundidade de 15 a 30 cm;
3. Direccionar o frasco em sentido contrário à corrente ou fluxo da água;
4. Inclinar o frasco lentamente para cima, a fim de permitir a saída do ar e o enchimento do
mesmo;
5. Ao retirar o frasco do corpo de água, desprezar uma pequena porção da amostra deixando
um espaço vazio para permitir a sua perfeita homogeneização antes do início da análise;
6. Fechar o frasco imediatamente, fixando o papel protector ao redor do gargalo.
1.2.Colecta com auxílio de equipamentos

Obedece os seguintes procedimentos:

1. Colocar o frasco na estrutura de metal, removendo sua tampa com o papel protector;
2. Descer o conjunto no corpo de água a uma profundidade de 15 a 30 cm por meio de um
cordel (constituído de material resistente impermeável à água) preso à estrutura metálica;
3. Movimentar o cordel, voltando a boca do frasco contra a correnteza;
4. Após enchimento do frasco, retirá-lo do corpo de água, puxando o cordel rapidamente;
5. Retirar o frasco da estrutura metálica, desprezando uma pequena porção da amostra;
6. Fechar o frasco rapidamente, fixando o papel protector ao redor do gargalo;
7. O frasco e a ficha de colecta devem estar previamente identificados.
2. Colecta em poços freáticos
2.1.Poços Com bomba
Obedece os seguintes procedimentos:
1. Bombear a água durante aproximadamente cinco minutos;

37
2. Fazer a desinfeção da saída da bomba com solução de hipoclorito de sódio a 10%,
deixando escorrer a água por mais ou menos cinco minutos;
3. Proceder a colecta da amostra, segurando o frasco verticalmente próximo da base e
efetuando o seu enchimento;
4. Deixar um espaço vazio para possibilitar a homogeneização da amostra;
5. Fechar o frasco imediatamente após a colecta. O frasco e a ficha de colecta devem Estar
previamente identificados.
2.2.Poços sem bomba
A amostra deve ser colectada directamente do poço, com frasco esterilizado, evitando-se retirar
amostras da camada superficial e junto às paredes.
3. Colecta em sistemas de abastecimento de água para consumo humano

Obedece os seguintes procedimentos:


1. Limpar a torneira;
2. Deixar escorrer por dois a três minutos;
3. Colectar a amostra;
4. Deixar pequeno espaço vazio;
5. Colocar a tampa, homogeneizar e identificar.

Nota. Que:
Recomenda-se não efectuar a desinfecção por flambagem pois, além de causar danos às torneiras
e válvulas, há evidências de que este procedimento não tem efeito letal sobre as bactérias.
5.6.2. Validação de amostras
Para que as amostras tenham validade, devem ser observadas rigorosamente as recomenda -se
técnicas aplicáveis as etapas de colecta e preservação das mesmas. Os cuidados devem ser tomados
desde a colocação das etiquetas de identificação até o transporte das amostras ao laboratório.

5.6.3. Preservação de amostras


As técnicas de preservação em geral restringem-se a retardar a actividade biológica e a hidrólise
de compostos, ou de reduzir a volatilidade dos constituintes que serão analisados. Sempre que
possível, recomenda-se efectuar as análises no próprio local de colecta, mas a complexidade de
algumas determinações inviabiliza este procedimento. Os dados obtidos em laboratório e em
campo devem ser processados adequadamente e verificados quanto a sua consistência.

38
Nesta etapa podem ser realizados tratamentos estatísticos, determinações de tendências,
correlações etc., e a apresentação dos resultados em formas apropriadas (gráficos, mapas temáticos
etc.), organizando-se um banco de dados.

5.6.4. Controle de qualidade


Existem diversas técnicas analíticas que podem ser utilizadas para quantificar um determinado
parâmetro, a escolha das técnicas de análise deve ser baseada na avaliação da sensibilidade e
especificidade requeridas para o tipo de amostra (água bruta, tratada ou distribuída). Por exemplo,
se eh desejada a informação sobre os níveis de chumbo que podem causar problemas a saúde, nos
sistemas públicos de água, haverá, evidentemente, pouco valor se for usado um método analítico
incapaz de medir concentrações menores que 1 mg/L, pois eh sabido que o chumbo pode causar
efeitos danosos ah saúde em concentrações muito, inferiores a essa. Algumas análises podem ser
facilmente implementadas em pequenos laboratórios de saneamento, tais como análises de rotina
(turbidez, pH, cor, cloro residual), realizadas nas próprias estacões de tratamento de água, mas
todas análises precisam ser realizadas com máximo rigor técnico e científico, para que haja
confiabilidade nos resultados.

5.6.5. Processamento de resultados obtidos.


Os índices de Qualidade da Água (IOA) são bastante úteis para dar uma ideia da tendência de
evolução da qualidade da água ao longo do tempo, além de permitir a comparação entre diferentes
mananciais. O IOA varia normalmente entre 0 á 100, sendo que, quanto maior o seu valor, melhor
é a qualidade da água. Este IOA é determinado pelo produto ponderado dos seguintes parâmetros
de caracterização das águas: Oxigénio Dissolvido (OD), Demanda Bioquímica de Oxigénio
(DBO), Coliformes Fecais, Temperatura, pH, Nitrogénio Total, Fósforo Total, Turbidez e sólidos
Totais. (SEAMA, 2004)

Tabela 10: Classificação de águas de acordo com o IQA calculado.

IOA (80 a 100) (52 á 79) (37 á 51) (20 á 36) (0 á 19)
Qualidade da
Óptima Boa Aceitável Ruim Péssima
água

39
5.7. Instrumentos utilizados param a avaliação dos parâmetros de qualidade da água
Garantir a qualidade da água que consumimos é fundamental para nossa sobrevivência e os
instrumentos para análise de água são os responsáveis para que tudo esteja dentro das normas
necessárias.
5.7.1. pH
O pH (potencial hidrogeniónico) da água é a medida da actividade dos íons hidrogénio e expressa
a intensidade de condições ácidas (𝑝𝐻 < 7,0) ou alcalinas (𝑝𝐻 > 7,0). Águas naturais tendem a
apresentar pH próximo da neutralidade, devido à sua capacidade de tamponamento. Entretanto, as
próprias características do solo, a presença de ácidos húmicos (cor intensa) ou uma actividade
fotossintética intensa podem contribuir para a elevação ou redução natural do pH. O valor do pH
influi na solubilidade de diversas substâncias, na forma em que estas se apresentam na água e em
sua toxicidade. Além disso, o pH é um parâmetro chave no processo de coagulação durante o
tratamento da água. O condicionamento final da água após o tratamento pode exigir também a
correcção do pH, para evitar problemas de corrosão ou incrustação. Mais importante, o pH é um
parâmetro fundamental de controlo da desinfecção, sendo que a cloração perde eficiência em pH
elevado.

5.7.2. Coliformes termotolerantes


O crescimento da população mundial e o aumento do uso da água para diversas actividades, tem
aumentado os níveis de contaminação. Essa contaminação está relacionada a descargas domésticas
e industriais em corpos de água. No caso dos resíduos domésticos, a carga contaminante é
representada por altos percentuais de matéria orgânica e microrganismos de origem fecal.

Dentro dos microrganismos patogénicos está o grupo de bactérias coliformes que é formado por
dois subgrupos: os coliformes totais e os termotolerantes. Estes últimos eram anteriormente
chamados de coliformes fecais. A mudança de nome deve-se ao fato de ter sido demonstrado que
no grupo de coliformes que foram detectados em culturas incubadas a temperaturas de 44,5ºC e
em meios de cultura específicos, apenas parte do grupo eram bactérias de origem fecal e o resto
eram bactérias ambientais. (Delgado, 2015) .

Os coliformes termotolerantes pertencem a um subgrupo de microrganismos e são exclusivamente


do trato intestinal. A presença de coliformes termotolerantes determina a origem fecal da
contaminação, indicando risco da presença de outros microrganismos patogénicos.

40
A contagem dos coliformes termotolerantes indica a quantidade dos microrganismos oriundos de
excretas humanos. A intermitência na distribuição de água torna os reservatórios de
armazenamento ambientes propícios a contaminação microbiológica, além da formação de
biofilmes, promove pressão negativa colaborando para proliferação de microrganismos e
manutenção da sujidade.

Os guias da Organização Mundial da Saúde apontam para a importância do monitoramento e


controle da qualidade da água. A poluição das águas pode indicar a sua contaminação, ocasionando
doenças chamadas de veiculação hídrica, sendo as mais comuns, a febre tifoide, disenterias, cólera,
hepatites infecciosas, leptospirose, entre outras e, ou doenças de origem hídrica como a escabiose,
e outros (VON SPERLING, 1996, p: 243)

5.7.3. Acidez
A acidez da água é devido à presença de ácidos minerais fortes, ácidos fracos, como o ácido
carbónico, ácidos fúlvicos e húmicos, e sais de metais hidrolisados como ácidos fortes. Embora de
pouco significado sanitário, é de interesse se conhecer a acidez, pois o acondicionamento final da
água em uma ETA pode exigir a adição de alcalinizante para manter a estabilidade do carbonato
de cálcio (evitandas incrustações nas tubulações) e evitar problemas relacionados à corrosão no
sistema de abastecimento de água.

41
6. Conclusão
Ao longo do desenvolvimento do presente trabalho pode concluir-se que, água para consumo
humano tem como requisitos de qualidade, não pôr em risco a saúde, não causar danos nos sistemas
de distribuição e possuir características organoléticas que não afectem negativamente a sua
aceitação por parte do consumidor. É necessário proteger e melhorar a qualidade das águas que
sejam utilizadas ou estejam destinadas a serem utilizadas, após tratamento adequado, para a
produção de água para consumo humano. A qualidade da água é representada através de
parâmetros que indicam suas principais características, sendo estas: Físicas, Químicas e
Biológicas.

Para a verificação da qualidade da água é necessário fazer a coleta de amostra, em um frasco


adequado e recomendado para o parâmetro a ser avaliado, para que não se percam as características
e quantidade de substâncias presentes. Esta amostra deve estar sujeita a análises físicas, químicas
e microbiológicas.

42
7. Referencia bibliográfica
1. M. da Saúde, Vigilância e Controle da qualidade da água para consumo humano. Brasília-DF:
Editora Ms. 2006.

2. HELLER, L.; PÁDUA, V. Abastecimento de água para consumo humano. 2ª Ed. Vol. 1. Belo
Horizonte: Editora UFMG. 2010.

3. MATSINHE, N.; RIETVELD, R. Abastecimento de Água. Maputo: TUDelft. 2005. Pág. 81-
100.

4. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos da Água. [S.l]:
ONU, 1992.

5.http://www.splabor.com.br/blog/equipamentos-para-analise-de-agua/equipamentos-para-
laboratorio-qualidade-da-agua/.

6. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria Nacional de Programas Especiais de Saúde. Divi- são


Nacional de Saúde Bucal. Levantamento Epidemiológico em Saúde Bucal: Brasil, zona urbana,
1986. Brasília, 1988.

7. DEZOTTI, Márcia. Processos e Técnicas para oo Controle Ambiental de Efluentes Líquidos.


Volume 5. Rio de Janeiro. 2008.

43

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