Você está na página 1de 9

FACULDADE DE DIREITO DE SOROCABA – FADI

Ciência Política e Teoria Geral do Estado – 2021


Professor Jorge Marum
Resumo 3 – Sociedade – elementos e espécies

“De fato, os homens vivem na sociedade e em sociedades. Vivem na


sociedade global e vivem nos grupos sociais de que a sociedade global
1
é constituída” (Goffredo Telles Jr.).

Introdução. Vimos no capítulo anterior que o ser humano, em regra, vive em


sociedade, e que a vida humana isolada é uma exceção. No entanto, embora existam
milhões de agrupamentos sociais no planeta, chegando-se mesmo a falar em uma
sociedade global, nem toda reunião de pessoas constitui uma sociedade propriamente
dita. Numa partida oficial de futebol, por exemplo, os times que estão jogando são
sociedades; no entanto, a multidão desorganizada presente no estádio não o é. Isso
porque, para que exista uma verdadeira sociedade, é preciso mais do que uma simples
reunião de pessoas: é preciso que estejam presentes os elementos característicos de
uma sociedade.2

Exemplo de uma sociedade

Definição de sociedade. Lembrando que estamos falando em sentido sociológico e


político, e não no sentido estritamente jurídico,3 podemos, conforme lição de Celso
Bastos, definir sociedade como “toda forma de coordenação das atividades humanas
objetivando um determinado fim e regulada por um conjunto de normas”.4

Elementos da sociedade. Sociedade, portanto, é uma união de pessoas, voltada a


uma finalidade, que age de forma coordenada, é dirigida por um poder e regulada por
normas. Dessa definição se extraem os elementos característicos de toda sociedade.
Com efeito, segundo Dallari, para que um grupo de seres humanos constitua uma

1
; O povo e o poder, p. 18.
2
Cf. Michel Temer, Elementos de Direito Constitucional, 20ª ed., p. 16.
3
Em Direito Civil, os artigos 40 e seguintes do Código Civil brasileiro trazem uma classificação das pessoas
jurídicas, sendo “sociedade” uma das espécies de pessoa jurídica de direito privado (art. 44, inciso II). Em
nossa matéria, como já assinalado, falaremos de sociedade num sentido amplo, abrangendo todas as pessoas
jurídicas e até mesmo sociedades que não estão formalmente constituídas como pessoas jurídicas, como, por
exemplo, o MST.
4
Definição de Celso Bastos, em Curso de Teoria do Estado e Ciência Política, p. 24.
sociedade, esse grupo deve possuir os seguintes elementos: finalidade, ordem e
poder.5

Finalidade. Aristóteles considerava que “todas as ações dos homens têm por fim
aquilo que consideram um bem”. Dessa forma, a sociedade é, nas palavras do mesmo
filósofo, “a esperança de um bem, que é seu princípio, assim como o de toda
associação”.6 Portanto, segundo essa doutrina, toda sociedade é caracterizada por
uma finalidade, isto é, um objetivo, que é definido por seus membros, com base naquilo
que estes entendem como um bem (valor social). Essa linha de pensamento é
denominada de finalista. Conforme Dallari, o finalismo não é incompatível com a teoria
da origem natural da sociedade, porque o ser humano, sentindo necessidade de buscar
a vida em sociedade, age livremente na formulação das finalidades sociais.7

Finalidade e Liberdade. A possibilidade de escolha da finalidade social pressupõe


logicamente a liberdade do ser humano, porquanto somente o ser livre pode escolher
objetivos com base em valores. Cabe, então, questionar: o ser humano é realmente
livre, ou, ao contrário, a liberdade humana seria apenas uma ilusão? Um dos filósofos
que procurou responder a essa questão foi o grande mestre da Faculdade de Direito do
Largo São Francisco (USP), Goffredo da Silva Telles Junior. Segundo ele, embora o
corpo humano seja composto de matéria, que funciona conforme as leis físicas e
biológicas, o ser humano também possui um elemento imaterial, que não se sujeita ao
determinismo das leis da natureza e do qual decorrem a sua consciência e a sua
inteligência. É esse elemento, denominado mente ou espírito, que propicia a liberdade
do ser humano.

Goffredo Telles Jr e a Liberdade. Em seu livro de memórias denominado A folha dobrada,


Goffredo Telles Junior (1915-2009) afirma que a liberdade é a questão mais importante da Ciência do
Direito. Isto porque, sendo a disciplina da convivência humana para a garantia da liberdade, o
Direito nem sequer teria sentido se o ser humano não fosse verdadeiramente livre. De fato, de que
serviria disciplinar a convivência humana para garantir uma liberdade que, no fundo, não existe?8

Utilizando conceitos da filosofia aristotélico-tomista, Goffredo define liberdade como a possibilidade


de agir segundo a vontade (livre-arbítrio). Portanto, ela é uma potência, ou seja, é anterior ao ato e

5
Elementos de Teoria Geral do Estado, cap. I, 11 a 20.
6
A Política, introdução.
7
Ob. cit., p. 23.
8
A folha dobrada, p. 283.
até mesmo à opção por agir, que já são manifestações da liberdade (ato). No entanto, para que possua
livre-arbítrio o ser humano deve ser algo mais do que simples matéria, pois a matéria segue as leis
fixas e imutáveis da natureza, portanto não é livre.

Para tentar comprovar que o ser humano é livre, Goffredo analisa diversas correntes filosóficas.
Começa por refutar o monismo materialista de filósofos como Tobias Barreto (1839-1889). Segundo
essa doutrina, tudo é composto somente de matéria, inclusive o ser humano. Para os monistas
materialistas, “o cérebro secreta o pensamento como o fígado secreta a bile”. Goffredo rejeita
também panteísmo de Spinoza, segundo o qual Deus estaria em tudo e, portanto, controlaria tudo.
Essas duas linhas de pensamento, embora afirmem a existência da liberdade humana, são, no fundo,
contraditórias e incompatíveis com a liberdade, porque, se o ser humano obedece apenas a leis físicas
e biológicas, ou segue somente decretos divinos, não poderia usar o livre-arbítrio.

Segundo Goffredo, posto que a matéria está sujeita ao determinismo das leis físicas e biológicas,
somente aceitando-se que há no ser humano algo além da matéria é que se pode afirmar que ele é
livre. Esse elemento imaterial é chamado de mente ou espírito. O ser humano, portanto, é dual.
Goffredo lembra, então, que a dualidade espírito-matéria foi afirmada por filósofos de relevo como
Descartes e Kant, os quais, no entanto, não chegaram ao ponto de tentar comprovar essa dualidade,
cuja existência eles apenas pressupõem. Portanto, com eles ainda não foi possível chegar à prova da
liberdade humana.

Quem de fato comprovou a existência do espírito foi o filósofo francês, ganhador do prêmio Nobel,
Henri Bergson (1859-1941), que, por meio de experiências científicas, demonstrou a existência de
um componente espiritual no ser humano, distinto da matéria, e que lhe proporciona a liberdade.

Diante disso, conclui Goffredo:

“a ciência chegou a duas conclusões que parecem definitivas e que


podem ser resumidas nos seguintes termos: é impossível reduzir toda
vida psíquica do homem a atividades físicas, o que implica reconhecer
que algo há no homem que não é matéria e que, portanto, não se acha
sujeito às leis físicas”.9

Provada a existência da mente ou espírito, Goffredo pôde, enfim, concluir que o ser humano é livre.
Assim, mesmo uma pessoa que esteja presa ou impossibilitada de agir, ela continua livre, porque sua
vontade é infinita e não pode ser tolhida. O mestre alerta, porém, que livre não é aquele que faz tudo
o que deseja, mas sim aquele que conhece a si mesmo, sabe o que convém para si e age de acordo
com esse conhecimento, buscando, dessa forma, o seu verdadeiro bem. Aquele que age movido pelas
paixões não é verdadeiramente livre, mas escravo dessas paixões; portanto, não é feliz, mas apenas
padece.10

Determinismo. Opostas ao pensamento finalista existem as teorias deterministas, que


acreditam que a vida social é regida por fatores externos e incontroláveis, como, por
exemplo, a divindade ou as imposições da natureza. Conforme Dallari, tais teorias
são, no fundo, incompatíveis com a liberdade humana, pois negam a possibilidade de
escolha das finalidades sociais.11

Exemplo de pensamento determinista é o materialismo científico marxista, porque crê


numa marcha inexorável da história determinada pelas relações materiais (“modos de

9
Idem, p. 390.
10
Idem, p. 639 .
11
Ob. cit., cap. I, item 12.
produção”) rumo ao socialismo e, em seguida, ao comunismo.12 O máximo que as
pessoas e grupos organizados da sociedade poderiam fazer seria tentar atrasar ou
impedir esse processo, como fazem os conservadores e reacionários, ou acelerá-lo,
como, segundo Marx, devem fazer os revolucionários. Dessa forma, seria inútil, por
exemplo, uma sociedade escolher o capitalismo liberal como sua finalidade, uma vez
que esse modo de produção seria inevitavelmente suprimido pelas fases seguintes
(socialismo e comunismo).

Karl Marx

Karl Marx (1818-1883), filósofo alemão, fundador do chamado socialismo científico, escreveu obras
que até hoje exercem enorme influência na política e na economia, como o Manifesto Comunista,
escrito em parceria com Engels, e O Capital.

“O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu de fio
condutor aos meus estudos, pode resumir-se assim: na produção social
da sua vida, os homens contraem determinadas relações necessárias e
independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a
uma determinada fase de desenvolvimento das suas forças produtivas
materiais. O conjunto dessas relações de produção forma a estrutura
econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta a
superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas
formas de consciência social. O modo de produção da vida material
condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral. Não
é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, pelo contrário,
o seu ser social é que determina a sua consciência.”

“Quando uma sociedade descobriu a lei natural que determina o seu


próprio movimento (...) mesmo então não pode saltar sobre as fases
naturais de sua evolução, nem riscá-las do mundo com uma penada.
Pode, porém, fazer bastante; pode diminuir-lhe e minorar-lhe as dores
do parto” (Marx, O Capital).

Em seu recente best seller Sapiens – uma breve história da humanidade, Yuval Noah Harari parece
também adotar a perspectiva determinista ou, pelo menos, materialista, escrevendo:

“Nossos sistemas jurídicos e políticos liberais se baseiam na crença de


que todo indivíduo tem uma natureza interna sagrada, indivisível e
imutável, que dá significado ao mundo e que é a fonte de toda autoridade
ética e política. Essa é uma reencarnação da crença cristã tradicional

12
Nesse sentido, cf. Karl Popper, A sociedade aberta e seus inimigos, passim.
em uma alma livre e eterna que reside em cada indivíduo, mas, nos
últimos 200 anos, as ciências da vida minaram totalmente essa crença.
Os cientistas que estudam o funcionamento interno do organismo
humano não encontraram ali nenhuma alma. Eles argumentam cada vez
mais que o comportamento humano é determinado por hormônios, genes
e sinapses, e não pelo livre-arbítrio – as mesmas forças que determinam
o comportamento de chimpanzés, lobos e formigas. Nossos sistemas
jurídicos e políticos tentam varrer tais descobertas inconvenientes para
debaixo do tapete. Mas, com toda franqueza, por quanto tempo
poderemos manter o muro que separa o departamento de biologia dos
departamentos de direito e ciência política?” 13

O próprio Harari, no entanto, admite que a história, sendo um “sistema caótico nível 2” (do tipo que
reage a previsões), “não pode ser explicada de forma determinista”, porque:

“Tantas forças estão em ação, e suas interações são tão complexas, que
variações extremamente pequenas na intensidade dessas forças e na
maneira com que interagem produzem diferenças gigantescas no
resultado.” 14

Prevalece a Liberdade. Não obstante as opiniões contrárias, prevalece a ideia de que


a finalidade é um elemento essencial de toda sociedade e de que o ser humano é livre
e dotado de razão para escolher as finalidades sociais, inclusive das sociedades
políticas.

Ordem. Para que exista uma sociedade não basta apenas haver uma finalidade: é
preciso também que a sociedade atue na busca da realização dessa finalidade. E essa
atuação deve ser ordenada e adequada para que a sociedade atinja suas finalidades.
Segundo Dallari, é preciso que as sociedades tenham manifestações de conjunto
ordenadas, ou seja, é necessário que as atividades do grupo se desenvolvam com
reiteração e adequação e segundo uma ordem, que é um conjunto de regras de
comportamento. A essas regras de comportamento podemos chamar genericamente
de leis ou normas sociais. São essas regras que organizam a sociedade e regulam o
comportamento das pessoas.

Leis naturais e leis sociais. Goffredo Telles Jr. define ordem como a disposição conveniente das
coisas segundo uma lei.15 Essa definição serve tanto para a ordem derivada das leis da natureza (as
chamadas leis físicas e biológicas – que não se confundem com o Direito Natural) como também para
a ordem social, que diz respeito aos atos humanos e é estabelecida da maneira que convém às
sociedades humanas. As sociedades, portanto, são organizadas por esse segundo tipo de normas.

Segundo Montesquieu, “lei é a relação necessária que deriva da natureza das coisas”.16 Lei,
portanto, é aquilo que relaciona ou liga um fato à sua consequência, conforme a natureza das coisas.
Esse fato ligado pela lei à sua consequência pode ser um fato natural ou um ato humano. A lei,
portanto, pode ser natural (física, biológica etc.) ou social, isto é, estabelecida pelas pessoas para a
vida em sociedade.

13
Págs. 244-245.
14
Idem, p. 249.
15
A folha dobrada, p. 546 e segs.
16
O espírito das leis, Livro Primeiro, Capítulo I.
Hans Kelsen

O grande filósofo do Direito Hans Kelsen (1881-1973), em sua Teoria Pura do Direito, faz a
diferenciação entre as leis naturais, que são as leis do “ser”, ou seja, descrevem aquilo que “é”, o que
de fato existe, e as leis ou normas sociais, que se expressam através de um “dever ser”, pois são
normas de comportamento. 17 Além disso, se uma lei natural é violada, ela é inválida, como aconteceu
com a crença, sustentada por séculos, de que corpos com peso diferente cairiam em velocidades
diferentes. Essa suposta lei da física foi invalidada pela célebre experiência feita por Galileu Galilei
na Torre de Pisa, de cujo andar mais alto deixou cair duas pedras com pesos diferentes, tendo ambas
caído com a mesma velocidade. Já uma norma social, quando violada, não se torna inválida,
ensejando apenas a aplicação da respectiva sanção, que é a penalidade ou consequência pelo
descumprimento da regra.

Moral e Direito. Ainda segundo Kelsen, as normas sociais são impostas pela Moral e pelo Direito.
Ambos são imperativos, no sentido de que pretendem impor comportamentos, porém há uma
diferença básica entre os dois conceitos. A Moral é imperativa, pois procura impor comportamentos,
mas é unilateral, porque não estabelece um vínculo de obrigatoriedade (embora possa gerar
consequências, como a reprovação social). Já as normas jurídicas, que também são de natureza
imperativa (determinam comportamentos), diferenciam-se das normas morais por serem bilaterais
(estabelecem relação) e atributivas (dotadas de sanção). Essas normas são regidas pelo princípio da
imputação: se um fato ocorre, a consequência deve acontecer. São dessa segunda espécie as normas
que regem as sociedades.

Poder. A maioria dos teóricos da política entende que, para que exista uma sociedade,
também é necessário que esta seja dotada de um poder que a dirija e a mantenha
funcionando de forma permanente, ordenada e adequada, em direção à finalidade. Um
dos conceitos mais importantes da Ciência Política e da Teoria do Estado, o poder é
definido por Max Weber como “toda probabilidade de impor a própria vontade numa
relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessa
probabilidade”.18 Todas as sociedades são dotadas de poder, mas o poder político é o
mais importante, pois o Estado detém, na expressão de Max Weber, o monopólio do
uso legítimo da força (coerção).

17
Hans Kelsen, Teoria Pura do Direito, cap. III.
18
Max Weber, Economia e Sociedade, vol. 1.
Diógenes, o cínico

Anarquismo. O termo anarquia vem do grego e significa ausência (an) de governo (arkê). Em
linguagem científica, não se confunde com bagunça, baderna etc. Basicamente, as teorias anarquistas
negam a necessidade e a legitimidade do poder político. Um dos precursores dessa visão de mundo foi
o filósofo grego Diógenes de Sinope, conhecido como “o cínico” (404-323 a.C.). Os cínicos
pregavam o desapego dos bens materiais e desprezavam a ideia de pessoas exercerem poder sobre
outras pessoas. Já o anarquismo moderno teve certo destaque no século XIX, quando pensadores e
ativistas como Proudhon, Bakunin e Kropotkin polemizaram com o marxismo no campo da esquerda
e seus adeptos chegaram praticar atentados terroristas de grande repercussão, como os assassinatos
dos reis da Rússia (1881) e da Itália (1900). Destacou-se também na primeira greve geral ocorrida no
Brasil (1917), e na Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Contudo, já na primeira metade do século
XX, o movimento anarquista perdeu prestígio e hoje já não tem relevância.

No campo da direita liberal, surgiu, na segunda metade do século XX, o Anarcocapitalismo, ou


anarquismo de livre mercado, defendido, entre outros, por Murray Rothbard, que também prega a
abolição do Estado, mas para garantir a autonomia plena dos indivíduos.

Entretanto, a maioria dos estudiosos entende que o poder sempre existiu e é necessário para manter a
ordem e a coesão na sociedade, bem como para dirigi-la na busca das suas finalidades.19

Sociedades humanas. Segundo Goffredo Telles Jr., ao contrário do que ocorre com
os demais animais gregários como as abelhas e as formigas, no ser humano a
sociedade é natureza e ao mesmo tempo é contrato. O ser humano tem a necessidade
natural de viver em sociedade, mas decide racionalmente como vai fazer isso. Para os
animais irracionais, ao contrário, a sociedade é um fim em si mesmo, e por isso nunca
evolui.20 Já para o ser humano a sociedade é um meio para satisfazer suas
necessidades e atingir seus objetivos (finalidade), por isso está sempre em evolução.

19
Para mais detalhes sobre o Anarquismo, vide Dalmo Dallari, ob. cit., págs. 35 e segs.
20
O povo e o poder, p. 16. No mesmo sentido, escreve Yuval Noah Harari, na obra acima citada: “As
grandes sociedades encontradas em algumas outras espécies, como formigas e abelhas, são estáveis e
resilientes porque a maior parte das informações de que necessitam para se sustentar está codificada no
Processo de integração social. Conforme o mesmo autor, as sociedades humanas
primitivas eram muito simples e homogêneas. Com a evolução, veio a divisão de
tarefas e a formação de grupos, num processo de diferenciação dentro de uma
mesma sociedade, que vai se tornando mais complexa. Os grupos, no entanto, são
interdependentes, daí surgindo a necessidade de uma coordenação entre eles,
estimulando a solidariedade, na busca do bem comum.21

Espécies de sociedades. A chamada sociedade global é integrada por inúmeras


sociedades, que têm por fim satisfazer as necessidades e realizar os objetivos dos
seres humanos. Resumindo as diversas teorias sobre os tipos de sociedade, Dallari
divide as sociedades em duas espécies:

a) sociedades de fins particulares ou específicos (escolas, igrejas, clubes,


empresas etc.)
b) sociedades de fins gerais, ou sociedades políticas, cujo objetivo é criar
condições para a consecução dos fins particulares (família, tribo, cidade,
Estado etc.) 22

Estado. O Estado, portanto, é uma sociedade política. Da mesma forma que as


outras sociedades, ele é dotado de finalidade, ordem e poder. Além disso, ele possui
outras características específicas, como a territorialidade e a soberania. O Estado é a
sociedade mais importante e mais poderosa no mundo atual, por isso ele será objeto
de estudos mais aprofundados nos capítulos seguintes.

Para pensar: O que você pensa sobre a liberdade humana? Você acredita que a
vida social é determinada por fatores externos ou as pessoas podem interferir nos
rumos da sociedade?

Bibliografia

Leitura essencial:

DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado, Capítulo I, itens 12


a 22.

Leituras complementares:

genoma (...) As abelhas não precisam de advogados porque não existe o risco de elas esquecerem ou
tentarem violar a constituição da colmeia (...) Mas os seres humanos fazem coisas desse tipo o tempo todo.
Uma vez que a ordem social dos sapiens é imaginada, os humanos não conseguem preservar as informações
cruciais para administrá-la simplesmente fazendo cópias de seu DNA e transmitindo estas a seus
descendentes. É preciso fazer um esforço consciente para sustentar leis, costumes, procedimentos e maneiras,
do contrário, a ordem social rapidamente entraria em colapso” (ob. cit., págs. 127-128).
21
Idem, p. 17. Como escreve Yuval N. Harari, a evolução “favoreceu aqueles capazes de formar fortes
laços sociais” e a “cooperação foi uma das marcas importantes do Homo sapiens e lhe deu uma vantagem
crucial sobre outras espécies humanas” (ob. cit., págs. 18 e 56).
22
Elementos de Teoria Geral do Estado, cap. I.
TELLES JUNIOR, Goffredo da Silva. O povo e o poder; Cap. I.
________. A folha dobrada, passim.
TEMER, Michel. Elementos de Direito Constitucional, Cap. I.

Você também pode gostar