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Henry Bugalho

- Série The Family: democracia ameaçada (relação entre o discurso religioso e a construção de
políticos).

- Escolhas éticas não partem do instinto, partem de uma decisão ética que foi construída. Ter
empatia não se confunde com ética. A empatia, assim como a compaixão, é sentir a dor do
outro, é você se emocionar, sofrer, se alegrar com o outro. Já a ética, por vezes, tem relação
com a negação dos nossos instintos. Por exemplo, é um comportamento ético não se alegrar
com a morte de alguém, ainda que você não goste daquela pessoa.

- A civilização, em grande parte, segundo Freud, é o controle ou a repressão dos nossos


instintos. Por exemplo, em uma discussão com alguém, a vontade pode ser de bater na
pessoa, às vezes até de matar, mas as regras sociais e as imposições morais dizem que você
não pode fazer isso, do contrário você poderá ser processado, preso, etc.

- Portanto, viver em sociedade é viver com limites aos nossos impulsos e aos nossos instintos
primitivos e a ética também tem a ver com isso. Quando nos comportamos de forma ética,
muitas vezes vamos contra os nossos instintos e fazemos isso porque é o que parece mais
correto a ser feito para manter a harmonia social.

- Exemplo do envelope que cai com dinheiro da bolsa de uma pessoa e você opta por devolver:
porque você resolve devolver o dinheiro pra uma pessoa desconhecida? Não é algo instinto e
próprio seu, isso vem de códigos de conduta, códigos morais de comportamento que dizem
que, nessa situação, o correto é devolver o dinheiro. O instinto, por sua vez, seria pegar o
dinheiro.

- Existem várias correntes de pensamentos éticos na Filosofia, um deles é chamado de ética da


virtude, em Aristóteles ou Nietzsche, que parte da noção de que o comportamento virtuoso, o
comportamento ético é uma prática, você não nasce sendo ético, você aprende a ser ético
diariamente, e quanto mais você pratica mais natural se torna. Mas, a princípio, pode ser
contra os nossos instintos.

- Os códigos de conduta vão mudando ao longo do tempo, o que se considera certo e justo
hoje, pode ser diferente daquilo que se considerava há anos atrás.
   

Uma das alterações provocadas pela Lei 14.XX é no art. 1º, §3º, que fala que o mero exercício
da função, sem comprovação de ato doloso com fim ilícito, afasta a responsabilidade por ato
de improbidade administrativa.

Então, a gente teria que comprovar esse ato doloso com fim ilícito cometido pelo réu.

Esse caso trata de um desaparecimento de fuzil na delegacia de um policial federal, e o MPF


afirma que ele teria infringido um dever de cuidado objetivo de guarda dessa arma, em
manifesta negligencia. E ai o MPF alega que ele teria concorrido para a subtração dolosa do
fuzil, por pessoa que não foi identificada pela investigação.

Houve quebra de sigilo, interceptação, identificaram algumas conversas, mas nada exatamente
claro que ele teria concorrido para a subtração dolosa. Foi feita perícia na delegacia, atestando
que não teria ocorrido qualquer arrombamento na data dos fatos, verificou-se a última pessoa
que teve contato com a arma. Então se concluiu que provavelmente alguém de dentro que
teria sumido com a arma.

Posteriormente, esse fuzil reapareceu em uma operação da polícia militar, na posse de um


traficante. E ai o MPF imputa essa responsabilidade do réu na ausência de cuidado na guarda
dessa arma.

O juiz intimou a gente para adequar a denúncia à nova lei que alterou a lei de improbidade, ele
pediu que a gente individualizasse a conduta do réu, apontando os elementos de prova, aptos
a demonstrar a prática dolosa da conduta ímproba , indicando objetivamente o tipo
de improbidade, que nesse caso seria o art. 10, inciso I.

O MPF pediu o compartilhamento de provas de outro processo, mas não sei até que ponto elas
comprovam esse dolo do agente, porque a pessoa que teria subtraído o fuzil não foi
identificada, a conclusão que se chega de que teria sido o réu é por uma dedução, de que ele
teria vendido e posteriormente a arma teria reaparecido com uma organização criminosa.

Mas não está claro essa conexão entre o sumiço da arma, ela reaparecer e ser imputado esse
crime a ele. E não sei até que ponto as alterações trazidas pela nova lei irão dificultar o
estabelecimento dessa imputação na peça acusatória. Me parece que o caso é de ato culposo,
e a conduta ficaria atípica pra fins de improbidade.

Acredito que o sr. vá querer prosseguir com a ação penal.

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